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RESUMO
IX Colóquio Luso-Brasileiro de História da Arte em homenagem aos 200 anos da morte de Antônio Francisco Lisboa - o Aleijadinho
De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG
curvaturas ou inflexões é o mundo, e o mundo inteiro está incluído na alma sob um
ponto de vista (Deleuze, 1991, p. 48).
Não se trata de analisar a obra de Deleuze, mas de utilizar a sua metodologia para
delinear um estudo sobre Aleijadinho e sobre o Barroco Brasileiro.
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De 02 a 05 de Novembro em Belo Horizonte/MG
A multiplicidade da dobra barroca portuguesa empreendida em Congonhas do Campo
pelo empreiteiro português Feliciano Mendes se perpetuou no projeto arquitetônico
como conjunto. Entretanto, Antônio Francisco e seus auxiliares, que não foram,
tiveram contato direto com o projeto lusitano, produziram obras que se distanciam
muito de Braga em uma inflexão que pode ser observada nas imagens em
comparação com a disposição dos adros e das esculturas (figuras 1 e 2).
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Figura 2. Santuário Bom Jesus dos Matosinhos, Congonhas do Campo, Minas Gerais.
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devido ao maneirismo peculiar do genial escultor: cabeça do tipo morfológico hebreu;
cabelos cacheados; rosto magro; região malar saliente; nariz aquilino, contudo, de
modo antagônico, o autor adverte que tais características não são infalíveis. Às vezes,
coincidem nas obras de discípulos seus e demais escultores do barroco mineiro. Ainda
há que se fazer alusão à inflexão do identitário das obras, à plástica mais contundente
para a singularização das esculturas como as mãos e pés disformes, anatomicamente
imperfeitos, máxime os defeitos estéticos na feitura dos polegares, mais pronunciados
nos metacarpos, resultantes de projeção morfopsicológica (Moraes, 1977, p. 19-20).
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O conjunto de Congonhas do Campo é o exemplo mais encarnado dos sentidos de
forças vetoriais entre espaços internos e externos na obra de Antônio Francisco Lisboa
e os conflitos de alto a baixo, entre as condições de submissão da matéria ao trabalho
artístico. Sobretudo, porque foi realizado em um período de maturidade artística com o
domínio das técnicas de talha e do apogeu na elaboração visual da arte sacra,
tensionado pelo avanço da doença que tanta dor e deformidade impôs ao artista,
conferindo-lhe o apelido de Aleijadinho.
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As temáticas emblemáticas dos profetas de Congonhas comungam das leis proféticas
do Antigo Testamento Bíblico com trechos inscritos sob uma cartela portada em cada
uma das figuras; de Isaías a Habacuc pode-se prever tempos dramáticos em que
apenas alguns homens e algumas terras seriam os escolhidos e outros padeceriam
com o mesmo destino das moléstias e dos gafanhotos, em geral, códigos de acesso
para a salvação da alma. John Bury, por exemplo, acreditava que a escolha dos
profetas no lugar usual reservado para a representação dos apóstolos e, quais
profetas Aleijadinho representaria, fora uma questão de afinidade.
Sobre as obras realizadas de, 1770 a 1794, no perímetro das igrejas de Ouro Preto,
São João del Rei e Sabará a abrangência é infinita, pois que as referências históricas
aumentam no sentido da pesquisa, reclassificação de obras sacras do período e
confirmação de novas obras de Aleijadinho, descritas por Myriam Ribeiro de Oliveira e
Adalgisa Campos, em 2010. Apesar da efervescência de seus trabalhos nos anos
indicados, data de 1756, a sua primeira colaboração, em talha, realizada com o grande
escultor português, oriundo de Braga, Francisco de Lima Cerqueira. Aleijadinho foi seu
auxiliar em parte das obras da Igreja de Nossa Senhora do Carmo, no exuberante
frontispício, no coro e no lavabo da sacristia (de 1776). Anterior a este interior imenso
foi o auxílio prestado ao tio Antônio Francisco Pombal na execução da decoração e da
carpintaria da Igreja Matriz Nossa Senhora del Pilar que hoje abriga a imagem de
Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia, de autoria de Aleijadinho; há muito
desaparecida, reinserida na Igreja e protegida dentro do Museu del Pilar que fica no
subsolo da igreja.
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Figura 3. Nossa Senhora das Mercês e Misericórdia. Aleijadinho, primeira fase. Exposta na Matriz Nossa Senhora
del Pilar, Ouro Preto.
Aleijadinho teve sua infância condecorada pelas edificações realizadas por seu pai e
por uma arte sacra de altíssima qualidade escultórica, podendo ser lembradas além
das realizações de Francisco Xavier de Brito, as de José Coelho de Noronha, Felipe
Vieira, Jerônimo Félix e Francisco de Lima Cerqueira.
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dobrarem, ou se transporem em curvas simétricas, da esquerda para a direita, se
repetem sem realizar a esperada rotação e sim uma translação. Uma desdobra fica
clara pela ausência de uma dobra literal no planejamento das vestes da virgem e
finalmente, as dobras das nuvens que rodeiam as cabeças de três anjos fazem o
movimento contrário ao dos cabelos, o de rotação. Pontos de vistas diferentes são o
que o artista apreendeu e exprime em sua talha, a matéria orgânica já esboça uma
interiorização, mas relativa, sempre em curso e não acabada. Desse modo, uma dobra
passa pelo vivente, mas para repartir a interioridade absoluta da mônada, como
princípio metafísico de vida, e a exterioridade infinita da matéria, como lei física de
fenômeno. Em uma única imagem pode-se notar as variações das curvaturas na obra
de Aleijadinho, tendência que foi uma constante no barroco brasileiro, pelo uso de
assimetrias ou desdobras de 1750 a 1760 (Deleuze, 1991, p. 55).
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Figura 4. Interior da Igreja de São Francisco de Assis, Ouro Preto.
Os púlpitos de São Francisco de Assis são tão vicejantes que fazem parte do
planejamento descritivo de diversas narrativas que contemplam o arco que se
aproxima de robustos pedestais ornamentados com iguais listéis, formando quadrados
de ângulos mistos. A mistura de cada púlpito, de três faces, começa abaixo por uma
voluta conchoide, em cujas bordas flexuosas se embutiam rosáceas abertas
(PEDROSA, 1940, p. 30).
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essas dobras de matéria de acordo com os quais os viventes são vistos ao
microscópio. (Deleuze, 1991, p. 59-60).
A frente de busca por uma identidade brasileira, digna de contos fantásticos, foi
reaberta pelo modernismo brasileiro que não vacilou em vasculhar a obra de Antônio
Francisco Lisboa e de lhe conclamar uma herança barroca como marco fundamental
de renovação e redescoberta do Brasil para os modernistas paulistas. As curvaturas e
algumas tessituras da dobra barroca foram adotadas, portanto, como bandeira
paradigmática da febre modernista (KHOURI, 2005, p. 250).
Aleijadinho por ter sido um vivente de extraordinária sensibilidade artística e por ter
descoberto que o Barroco poderia se dobrar a pormenores quase microscópicos,
compôs o drama do espírito barroco nas artes sacras brasileiras do século XVIII de
maneira generosa e multiplicadora, pois suas dobras têm sido imitadas, colecionadas,
desejadas, reproduzidas, “redescobertas” pelos modernistas, catalogadas e estudadas
há 200 anos.
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Referências
Livros
BAETA, Rodrigo Espinha. Teoria do Barroco. Salvador: EDUFBA, 2012.
BAZIN, Germain. Barroco e Rococó. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
BURY, John. Arquitetura e Arte no Brasil Colonial. São Paulo: Nobel, 1991.
COELHO, Beatriz (org.); OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. Devoção e arte: imaginária
religiosa em Minas Gerais. São Paulo: EDUSP, 2005.
DELEUZE, Gilles. A dobra. Leibniz e o Barroco. Campinas: Papirus, 1991.
MORAES, Geraldo Dutra de. O Aleijadinho de Vila Rica. São Paulo: CRF-8, 1977.
OLIVEIRA, Myriam Andrade Ribeiro de. CAMPOS, Adalgisa Arantes. Barroco e Rococó nas
igrejas de Ouro Preto e Mariana. Brasília: IPHAN, 2010.
PASSOS, Zoroastro Vianna. Aleijadinho, pintor? Belo Horizonte: Gráfica Queiroz Breyner,
1941.
PEDROSA, Heitor. O Aleijadinho. A vida intensa e a desventura. São Paulo: Editora São
Paulo, 1940.
TIRAPELI, Percival (org.); KHOURI, Omar. Arte sacra: barroco memória viva. São Paulo:
UNESP, 2005.
TOLEDO, Benedito Lima de. Esplendor Barroco Luso-Brasileiro. Cotia: Ateliê Editorial, 2012.
Internet
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