Você está na página 1de 21

1.

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL NO ANTIGO ORIENTE MÉDIO


Por Wesley de Oliveira Silva1

As grandes civilizações da Antiguidade, e também outros povos não tão grandes que
viveram entre esses períodos, foram os grandes contribuidores para a formação do mundo atual,
principalmente pelo seu legado deixado, como o desenvolvimento de diversas áreas como a
ciência, invenções, vínculos sociais como o comércio e vários outros aspectos.
Toda a sociedade é formada por grupos sociais, ou seja, existe uma estratificação que
separa a população, formando uma hierarquia social. A presente monografia busca explicar a
estratificação social evidente na sociedade do Antigo Egito e também entre do Antigo Israel,
nome dado a civilização dos hebreus, um povo que vivia numa região do Oriente Médio,
chamada de Corredor Siro-Palestino, sempre, quando possível, relacionando ao trabalho.
Dividida em vários grupos, a hierarquização social desses povos é bastante diversificada
e complexa, ou seja, a cada camada que se passa, existe uma separação, principalmente entre
aqueles que tem mais poder, prestígio e riqueza e aqueles que tem menos. Dessa forma, cada
grupo tem características próprias e exercem profundamente uma relação com a sociedade em
que vivem, é aí onde entra o trabalho, pois é através dele que cada classe vai mostrar a sua
importância para a sociedade. Então, a estratificação social e o trabalho estão muito ligados.
As sociedades que serão abordadas neste texto, que são a do antigo Egito e do antigo
Israel, têm algumas diferenças na estratificação social e também no relacionamento com o
trabalho, o que será abordado e discutido.

1.1 No Antigo Egito

A antiga civilização egípcia, foi sem dúvida uma das maiores que já existiu na história da
humanidade. Exercendo influências em diversas áreas (tal como a religiosa por exemplo) aos
seus vizinhos contemporâneos como a Mesopotâmia, por milênios, manteve uma sociedade
bem estruturada, organizada e estabilizada, onde assim, pode permanecer próspero.
Chegando a ser o maior império do mundo em alguns períodos da história (como foi visto
em aula, por exemplo, no Novo Império, 1400-1085 AEC), logo a estruturação e organização
da sociedade egípcia era esplêndida e também bem variada. Ao longo de sua trajetória, houve
algumas mudanças (como toda civilização) na sua estrutura social, mas geralmente estava

1
Acadêmico em História, licenciatura plena, pela Universidade de Pernambuco- Campus Mata Norte.
dividida nestas classes apresentadas na imagem abaixo. Essas classes sociais se diferenciava
principalmente por alguns aspectos como o prestígio, a riqueza e o poder.2 Se estratificarmos a
sociedade do antigo Egito em cinco grupos (considerando a maior parte da sua história),
certamente ficaria desta forma:

Imagem 1: Pirâmide social do Antigo Egito.


Fonte: Imagem criada por Wesley de Oliveira Silva.

Esse gráfico que representa uma pirâmide dividida em cinco grupos, mostra uma hipótese
de estratificação social baseada na antiga civilização egípcia e que vai ser abordada ao decorrer
do texto. Outras formas de apresentar essa hierarquização, pode ser feita da seguinte forma: no
topo está o faraó e sua família, que pode ser bastante numerosa pois, como foi também visto
em aula, o faraó poderia ter várias esposas.3
Nos escalões inferiores estão os camponeses, trabalhadores dos campos, e os artificies,
que são aqueles trabalhadores mais simples, ou seja, aqueles mais pobres como padeiros,
marceneiros, pedreiros e outros. E por fim, na base do escalão estão os escravos.4 Essa
hierarquia apresentada, não será abordada nesse texto, apenas a da imagem acima.
A estratificação presente no antigo Egito, é fácil de ser identificada, pois em uma
sociedade que em alguns momentos da sua história5 adoravam o seu rei como um deus vivo e
que, como visto em aula, várias outras pessoas viviam em condições precárias de vida como os

2
Rosalie David aborda esta questão da nobreza no seu livro Religião e Magia no Antigo Egito (2011), onde ela
traz alguns exemplos de como isto era evidente, como a busca por cargos sacerdotais ou nos templos.
3
Esse tipo de estratificação social com o Faraó e sua família no topo, é apresentado por Leveque. LEVEQUE,
Pierre. As primeiras civilizações. Vols. I e II. Lisboa: Edições 70, 2001, p. 130.
4
Ibidem, p. 130-1.
5
Como foi visto em aula, após o período Pré-Dinástico (3500 – 3150 AEC) até o Médio Império (2040 – 1782
AEC), os reis do Egito, eram considerados deuses vivos, ou seja, acreditava-se que o rei era a encarnação de Hórus,
deus falcão, filho de Osíris e Ísis, sendo assim chamado também de “Hórus vivo”.
camponeses, consequentemente, fica evidente que existe sem dúvida uma estratificação muito
forte e ligada ao poder.6
Todas esses grupos são muito importantes para o sustento e o equilíbrio da sociedade,
pois cada um tinha o seu valor e obviamente exerciam trabalhos essenciais para a progressão
do Estado. À vista disso, avaliar-nos-emos cada grupo imposto na imagem acima (Imagem 1)
que mostra uma pirâmide hierárquica com base na sociedade do antigo Egito.
Como já foi falado, no topo da pirâmide social, está o Faraó que era o rei do Egito. Antes
da formação do Egito, os povos viviam em tribos e clãs separadas nas margens do rio Nilo,
onde a parte equivalente ao Delta do rio era conhecido como Baixo Egito, e a parte sul do Delta
e que também fazia fronteira com a Núbia, foi conhecido como Alto Egito. Esse período é
conhecido como o Pré- Dinástico (3500 – 3150 AEC), onde quem governava o Egito eram os
líderes das tribos e clãs (que muitas vezes eram os patriarcas).
Depois de alguns conflitos entre essas tribos e clãs, houve uma unificação das duas terras
(Alto e Baixo Egito) onde se formou assim a Dinastia Egípcia, e ao longo dos séculos, o Império
Egípcio.7 Inicialmente (como foi visto em aula, desde os períodos dinásticos), o faraó era
adorado como um Deus vivo. Isso perdurou até o Médio Império (2040 – 1782 AEC), onde a
deificação do rei foi encerada. Levando em consideração algumas exceções nos períodos da
história do Egito, geralmente o poder rei era tremendo. Por exemplo:
Monarca de direito divino, o rei tem todos os poderes: administrativo, judicial,
militar e religioso; em princípio, ele é o único ser sobre a Terra que pode
prestar culto aos deuses. Como lhe é impossível exercer pessoalmente todos
estes poderes sobre o conjunto do país, procura ajuda nos seus colaboradores.8
Nessa citação, Leveque explica a dimensão do poder real no Antigo Império (2686 – 2181
AEC) onde a deificação do rei era presente. Scarpi concorda, onde diz que os poderes do rei
nesse tempo eram absolutos e só sumiam com a sua morte, onde assim ele perderia o título de
“Hórus Vivo”.9 Entretanto, mesmo com o passar dos anos e portanto mudanças profundas na
sua estrutura não apenas social, mas política, religiosa, o rei no Novo Império tinha grandes
poderes, equivalentes a estes evidenciados por Leveque ao regente no Antigo Império.

6
Scarpi também aborda esta questão, onde ele afirma que que o rei era o mediador entre o mundo humano e o
mundo divino, e que o culto a Hórus. SCARPI, Paolo. Politeísmo: as religiões do mundo antigo/ Paolo Scarpi;
tradução de Camila Kintzel; organização da edição brasileira Adone Agnolin. – São Paulo: Hedra, 2004.
7
DAVID, Ann Rosalie, 1946- Religião e magia no Antigo Egito/Rosalie David; tradução Angela Machado. – Rio
de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011. p. 30-40.
8
LEVEQUE, Pierre. As primeiras civilizações. Vols. I e II. Lisboa: Edições 70, 2001, p. 130.
9
SCARPI, Paolo. Politeísmo: as religiões do mundo antigo, op. cit. 2004, p. 64-5.
Ramsés II, por exemplo, tinha excessivos poderes em todas as áreas e, como visto em
aula, foi o mais famoso faraó da história, conhecido como “o monarca”, por ordenar construir
(entre outras coisas) templos magníficos e que até hoje se mostram significativamente
complexos para a tecnologia de construção atual, como o templo de “Abu Simbel”.10
Mas essa (construções faraônicas) não é a questão a ser abordada no texto. Voltando ao
trabalho do rei, é importante apresentar também que para facilitar a administração sobre todas
as terras do Egito, obviamente outras pessoas responsáveis por delegarem seu poder, facilitaria
muito seu trabalho. Isso é evidente desde o período do Antigo Império, quando se vê presente
o “vizir” (ou chanceler), como também foi visto em aula, era uma espécie de governador pôr
qual lhe é concedido a delegação dos poderes do rei. Segundo Leveque, o vizir muitas vezes
eram escolhidos entre os membros da família do rei e dentre as suas atribuições, principalmente
estão a justiça, a administração, fiscalização das obras, agricultura, serviços da corte e vários
outros.11
Desta forma, vamos agora abordar a nobreza, o segundo escalão da pirâmide apresentada
na imagem 1. Como já foi sendo abordado, abaixo do faraó existem cargos muito importantes,
como o vizir. A nobreza egípcia, é composta apenas por pessoas de exímio prestígio social e,
portanto, de excelentes condições financeiras. É nessa classe que se enquadra a família do
regente, os altos funcionários e servidores, os sacerdotes e outras pessoas que progrediram até
obter um considerável renome, como os grandes comerciantes. Como já foi sendo falado, a
família do faraó poderia ser muito grande:
Ramsés II tinha pelo menos seis rainhas principais e várias concubinas
[algumas dessas rainhas eram dadas por reinos vizinhos como forma de
aliança como, por exemplo, uma de suas rainhas era uma princesa hitita, onde
foi feito uma aliança desse tipo para celebrar o tratado de paz dos dois reinos]
e seus filhos, cujo número ultrapassava a casa dos cem, estão representados
nas paredes de seu templo.12
Nessa citação vemos que a família do faraó era extensa. Levando em consideração
também que alguns dos altos cargos, como o vizir, eram preenchidos por pessoas de sua família,
e, possivelmente, também muitos dos altos funcionários e servidores reais, eram pertencentes a
família do mesmo. Portanto, uma separação no escalão do faraó e da sua família, desta forma,

10
Rosalie David também aborda essa questão do poder do rei, onde ela mostra que ele foi o responsável por
construir vários monumentos mais importantes do que qualquer outro regente já visto. Para mais informações, ler
o capítulo 7 do seu livro: Religião e magia no Antigo Egito/Rosalie David; tradução Angela Machado. op. cit. p.
327-331.
11
A delegação da justiça era uma função muito importante para o vizir, muitos até recebiam o título de “Sacerdote
de Maat”, deusa da justiça e da ordem universal. LEVEQUE, Pierre. As primeiras civilizações. op. cit. p. 130.
12
DAVID, Ann Rosalie, 1946- Religião e magia no Antigo Egito, op. cit. 2011, p. 330.
é justificada se formos estratificar a pirâmide social em cinco classes. Outra forma para justifica
isso, é que provavelmente nem todos da família do faraó tinha “status” iguais, ou seja, uns eram
mais importantes do que outros como, por exemplo, os filhos da rainha preferida.
Na nobreza, também faziam parte os sacerdotes: homens no sentido geral, devotos aos
deuses e encarregados de fazer os trabalhos religiosos como as práticas médicas, rituais, a
realização de festivais, os cuidados com os templos, o uso da magia e várias outras atividades.
O clero egípcio era uma classe importantíssima na sociedade egípcia, o sumo-sacerdote só
ficava abaixo hierarquicamente do rei. Existiam vários tios de sacerdotes, e portanto, dentro
dessa classe dos também chamados “servo de deus”, havia uma notória hierarquia.13
Desde o período Pré-Dinástico, quando os líderes das aldeias faziam oferendas as suas
deidades locais com o objetivo de proteger e também “assegurar o bem-estar da comunidade”,
já havia registros de sacerdotes. O trabalho principal do sacerdote eram os religiosos, mas
também nos seus períodos de folga, muitos trabalhavam na burocracia do Estado ou
administrando seus bens como possivelmente, além de serem sacerdotes, poderiam ser também
comerciantes, ou escribas, ou tinham outras funções dentro do palácio ou templo.14
O ofício sacerdotal poderia ser conseguido pela população (obviamente os mais altos
cargos não eram fáceis de serem obtidos, já que representavam poder, prestígio), mas também
poderia ser de forma hereditária.15 Nessa mesma época, mulheres de famílias ricas, também
participavam de alguns rituais, principalmente das deusas Harthor e Neith16.
Como já foi falado, a vida dos sacerdotes trazia muito prestígio, poder e riqueza, por isso
muitos eram atraídos por esses cargos, principalmente por sonhar em um futuro de sucesso na
sua vida. Segundo Rosalie David:
O sacerdócio era geralmente realizado por homens como uma profissão
secundária. Em muitos casos era hereditário, com o filho seguindo a profissão
do pai, e alguns sacerdócios continuaram na mesma família por até 17
gerações. [...] No Antigo e Médio Impérios quase todos os homens em posição
de destaque agiam como sacerdotes leigos. Realizavam suas obrigações do
templo por vários meses a cada ano e serviam em outro local dentro da
estrutura do estado pelo restante do tempo. Médicos, advogados e escribas,
por exemplo, mantinham o sacerdócio associado às suas profissões. (DAVID,
Ann Rosalie, 1946- Religião e magia no Antigo Egito, op. cit. 2011, p. 330).

13
Não apenas “servos de deus”, inúmeras outras denominações eram dadas aos sacerdotes. Ibidem. p. 236.
14
Muitos sacerdotes eram escribas, pois para a realização de alguns trabalhos religiosos como os rituais, era preciso
saber ler os escrever. Ibidem. p. 265.
15
SCARPI, Politeísmo: as religiões do Mundo Antigo. op. cit. 2004, p.77.
16
Em ordem a deusa da fertilidade, beleza, amor e terras estrangeiras que tinha a cara de vaca e a deusa mãe,
também deusa da caça e das operações militares. Informações tiradas do livro: DAVID, Ann Rosalie, 1946-
Religião e magia no Antigo Egito, op. cit. 2011, p. 529 e 533.
Para se tornar sacerdote, além de algumas coisas já citadas, era preciso fazer não só
algumas exigências religiosas, mas também está habilitado de uma gama de saberes pelo qual
o sacerdote iria utilizar em sua carreira. Por isso, antes de exercer sua profissão, os sacerdotes
eram instruídos, ou seja, recebiam um treinamento especial para assumir as responsabilidades
exigidas na profissão.17
Como a religião no antigo Egito estava muito interligada à todas as áreas da sociedade,
existiam muitos cargos sacerdotais, e que não se restringiam apenas a homens, mas também a
mulheres onde, como já foi falado, muitas (de alta classe principalmente) se faziam presentes
em rituais, outras como servas, por exemplo, faziam trabalhos nos templos, o que isso (o
trabalho dos servos) será abordado mais à frente. Entretanto, o trabalho dos sacerdotes, eram
realizados geralmente por homens, provavelmente porque mesmo com uma evidente igualdade
social (comparado à os seus vizinhos contemporâneos como Mesopotâmia, por exemplo) ainda
existia uma presente desigualdade, porém não tão ampla.18
Dentre esses grupos de sacerdotes que existiam, havia quatro principais grupos: os
sacerdotes-noviço, que eram aqueles que realizavam as cerimônias, os cultos, os rituais, sendo
assim, o principal grupo de sacerdotes. Fazia parte deste grupo os sumo-sacerdotes e os. Era
também o mais importante e rico grupo de sacerdotes. O segundo grupo era composto por
sacerdotes menores, onde principalmente aqueles sacerdotes que auxiliavam o trabalho
religioso, mas não entravam no santuário sagrado do deus, estavam presentes. O terceiro grupo
era composto por leigos, onde principalmente arquitetos, sacerdotes, arquivistas, funcionários
do estado, padeiros. O quarto grupo era uma categoria especial de sacerdotes, onde estavam
presentes os sacerdotes-leitores, onde portavam e os livros com os rituais e encantamentos
mágicos, recitava-os e também faziam divinações e outros trabalhos mágicos. Nesse grupo
estavam também os sacerdotes-sem e os oráculos.19
É essencial mostra que dentro que nem todo grupo de sacerdote faziam parte da nobreza,
estando apenas o primeiro grupo, o quarto grupo e, possivelmente, o segundo grupo, pois nos
demais, a riqueza e o prestígio social não era tão presente, e isto está evidente quando formas
avaliar o seu trabalho, por exemplo, um sacerdote que realizasse um serviço de padeiro, não
estaria de forma alguma na nobreza.
Portanto, os nobres são aquelas pessoas com grande riqueza e prestígio social, que
giravam em torno de altos funcionários e sacerdotes à grandes comerciantes. Vamos então

17
Ibidem, p. 267-270.
18
Ibidem, p.265.
19
Ibidem, p. 270-1.
abordar agora o escalão intermediário da pirâmide social apresentada no gráfico 1: a classe que
fica entre a população rica e pobre.
Nessa classe, estão (em sua maioria) os escribas, os funcionários, os soldados e os
comerciantes. Como já foi visto, a arte da escrita não poderia apenas está disposta ao
aprendizado dos que se formariam escribas, pois sacerdotes, altos funcionários, enfim, pessoas
de grande prestígio social e também aquelas em que sua profissão exigisse saber e escrever,
dominavam a escrita.
Os escribas eram muito importantes para a sociedade egípcia porque, como visto em aula,
o seu dever era de anotar deste a vida cotidiana ao comércio. O trabalho do escriba consistia
realizar trabalhos voltados à anotações e a cálculos20, e como isso é muito importante, por
exemplo, no comércio, eles certamente eram muito contratados por aqueles que tinham grandes
propriedades privadas, como comerciantes, ou por altos funcionários, comandantes do exército,
enfim, aqueles que tinham bens para administrar.
Como foi visto em aula, aqueles que iriam seguir o ofício de escriba, aprendiam desde
criança a escrita em uma espécie de “escola”. Até hoje a escrita é muito famosa por ser muito
desenhada e bonita. Muitos escribas eram funcionários reais, onde possivelmente uma parcela
desses eram bem sucedidos pois, por exemplo, eram mais hábeis, consequentemente, mais
famosos. Contudo, a maioria fazia parte da massa mais comum, ou seja, eram financeiramente
inferiores. Desta forma, não pertencendo a nobreza que foi apresentada.
Um exemplo das atividades feitas por escribas, era as administrativas, ou seja, mesmo
que algumas pessoas (de cargos importantes, como já foi falado) soubessem a arte da escrita,
caberia ao escriba resolver esses problemas mais complexos, ou seja, a sua profissão estava
centrada nisso, e mesmo que outros (que não são escribas) soubessem escrever e calcular,
provavelmente não teriam disponibilidade para fazê-la ou até mesmo conhecimento:
É ele [o escriba] que, à escala provincial, redige as listas e vigia os ingressos;
reúne a documentação vinda das províncias que serve de base à administração
central do vizir e dos seus ajudantes. Após a 1ª dinastia pelo menos, o escriba
egípcio dispões de um instrumento incomparável para o seu trabalho: o papiro.
[...] Permitem aos escribas efetuar facilmente todas as operações
administrativas: listas do pessoal e do material, contabilidade, registro de
actas, extratos do cadastro, e sobretudo, correspondência oficial.21
Nesta citação vemos, nas suas primeiras linhas, o trabalho do escriba em relação ao
trabalho do vizir, que como já foi falado, precisaria de registros das províncias e outros

20
Leveque afirma que essas eram as únicas exigências necessárias para que o escriba desempenhasse suas funções.
LEVEQUE, Pierre. As primeiras civilizações. op. cit. p. 135.
21
Ibidem, p. 130.
trabalhos administrativos, onde assim vemos que estes trabalhos eram passados aos escribas,
pois eles já eram capacitados para isto. Ao longo da citação vemos o papiro22, que foi muito
importante para o trabalho do escriba e também algumas atividades de natureza administrativas
efetuadas pelos mesmos.
Na área dos cálculos, os escribas também tinham, certamente, empregos relacionados à
construções, como por exemplo, das pirâmides, túmulos, dos templos, casas, estátuas, entre
outros, mas também, como foi visto em aula, a contagem de grãos e cálculos acerca de
produção. A escrita era tão importante que os escribas eram uma das únicas profissões, que não
tinha chefe, pois o ofício do escriba era muito importante.23
Nessa classe também eram presentes os soldados. Os mesmos, em sua maioria, pois os
comandantes, os generais, provavelmente tinham mais prestígio do que os soldados comuns
(que eram a maioria), faziam parte de uma classe intermediária da sociedade, pois não eram tão
pobres quantos os camponeses, e certamente não tão ricos como os sacerdotes. No antigo
império a organização social dos soldados era a seguinte:
O exército, comandado em princípio pelo rei, não parece ter tido organização
permanente no Império Antigo. Em caso de necessidade, as províncias
forneciam recrutas escolhidos entre jovens de uma certa idade. Os chefes de
missão encarregados de comandá-los eram seguidamente designados pelo
faraó e, nessa altura, assumiam um título militar.24
Na citação acima, vemos que o ofício militar no Antigo Império era incerto, pois em casos
de necessidade a população mais jovem (e certamente masculina) era recrutada. Entretanto,
vale ressaltar que, evidentemente, em períodos posteriores como no Médio Império, já haveria
a instauração do serviço militar pois, como visto em aula, com a invasão dos Povos do mar, os
egípcios conseguiram vencer, diferentemente de vizinhos muito poderosos, como os hititas.
Desta maneira, para que se possa vencer uma batalha tão dura e rápida, certamente um
recrutamento (que na citação, pode ser entendido também como um recrutamento inesperado)
não iria resolver uma batalha desta magnitude, pois os Povos do Mar tinham uma marinha forte
e mesmo que leve-se em conta a hipótese de que os egípcios poderiam ter uma população bem
maior, por exemplo, ainda assim seria muito difícil vencer uma batalha dessa magnitude.
Então, possivelmente os egípcios possuíam um exército preparado. Voltando a falar nas
condições financeiras dos soldados, diferentemente das classes mais pobres, os soldados

22
Uma espécie de papel, obtido através das fibras internas do Cyperus Papyrus, e eram moles e bem flexíveis,
onde eram muito importantes para o sociedade egípcia para diversos fins, como a produção de embarcações, por
exemplo.
23
ARAÚJO, Emanuel (org). Escrito para a Eternidade: a literatura no Egito Faraônico. Brasília: Editora da
Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa oficial do Estado, 2000, p. 222.
24
LEVEQUE, Pierre. As primeiras civilizações. op. cit. p. 130.
recebiam algum tipo de pagamento, que nesse caso certamente era melhor que o pagamento de
um simples funcionário ou de um camponês, por exemplo.
Esses pagamentos consistiam em géneros25, ou seja, comidas, roupas, porém,
dependendo da posição social (nesse caso a dos soldados) recebiam algo mais, como por
exemplo, peças ou objetos de ouro, prata, ou qualquer outra coisa que o seu valor, mas dentro
de um limite, ou seja, que não ultrapassasse o salário que deveria receber um soldado.
Dentro desta classe também estão os comerciantes: aqueles que têm propriedades
privadas e que vendem produtos. Como visto em aula, o comércio era muito importante para as
sociedades da antiguidade, e que o Egito mantinha vínculos comerciais com várias civilizações
do antigo Oriente Médio, como os fenícios, os hititas, os mesopotâmicos e aqueles povos que
viviam no corredor siro-palestino.
Dentre os vários produtos importados e comercializados no Egito, um dos principais eram
o ouro, a prata, que era conhecida como “ouro branco” e que era importada da Ásia, o cobre e
outros tipos de minerais.26 Como foi visto em aula, o corredor Siro-palestino era um importante
centro comercial onde, por exemplo, Israel matinha contatos com os árabes, que eram
produtores de incenso. Outros produtos muito comercializados eram as pedras preciosas:
As pedras preciosas mais utilizadas, incluíam a cornalina, a turquesa e o lápis-
lazúli; haviam também peças em que usaram granadas, jaspe, feldspato verde,
ametista, cristal de rocha, obsidiana e calcitas […] algumas vezes as pedras
preciosas eram substituídas por uma substância artificial como o cristal de
rocha fixado contra massa colorida [...] outros materiais encontrados nas joias
incluem conchas, seixos, sementes, ossos, dentes, restos de plantas e vastas
quantidades de contas, que eram manufaturadas no Egito.27
Muitas dessas pedras preciosas apresentadas na citação acima, algumas eram muito raras,
consequentemente, caras. O lápis-lazúli, por exemplo, era importado do Afeganistão. Usadas
principalmente para fins religiosos, vemos que o comércio era muito forte no Egito, portanto,
os comerciantes (em sua maioria) faziam parte de uma classe não tão privilegiada como a
nobreza, mas tinham condições favoráveis. Existiam vários tipos de comerciantes, como os que
comercializavam pedras preciosas, minerais e outros produtos de mais valor, por exemplo,
sendo esses provavelmente os mais ricos e que faziam parte da nobreza e os mais simples, como
vendedores de alimentos ou de objetos, como adornos (mais simples), vasos e vários outros.
Entretanto, vale ressaltar que este comércio que foi sendo abordado, é de responsabilidade
principalmente do estado, ou seja, as expedições comerciais eram de responsabilidade do rei,

25
Ibidem, p. 128.
26
DAVID, Ann Rosalie, 1946- Religião e magia no Antigo Egito, op. cit. 2011, p. 336.
27
Ibidem.
sendo assim, a maior gama de produtos importados (principalmente os mais valiosos) eram
feitos pelo Estado. Porém isso não quer dizer que um comércio de menor escala não existisse,
sendo este responsável pela população egípcia.28 É por este motivo que os comerciantes fazem
parte desta classe, pois para haver um grande comércio, é necessário muita riqueza, o que não
era acessível pela maioria dos comerciantes.
Como já foi falado, a moeda só foi existir tempos depois29, então a principal forma de
pagamento era através de trocas, que poderia ser alimentos, objetos e dependendo do produto
que era comercializado, poderiam até ser casas e móveis.30 Ainda dentro desta classe, também
estão certamente presentes alguns funcionários reais como os cobradores de impostos e também
poderiam ser boa parte do terceiro grupo de sacerdotes, como os arquivistas, arquitetos.31
Abaixo desse escalão está o grupo dos camponeses e dos artificies, aqueles que fazem a
maioria da população e são os mais pobres. Os camponeses eram trabalhadores do campo, e os
artificies, que eram os marceneiros, funcionários (em sua maioria), pedreiros, padeiros, os
artistas, ceramistas, e vários outros.
Como a maioria da população no Egito Antigo era camponesa, os homens poderiam
trabalhar com sua família, ou com várias outras pessoas em grupo, a fim de plantar vários
produtos para pagar os impostos do governo e para sobreviver.32

Imagem 2: Casa de um camponês.


Fonte: Egito: Arte e Sociedade.33

Na imagem acima, vemos a simples casa de um camponês, onde tinha o térreo e o


primeiro andar, onde os habitantes dormiam, pois eles não aguentavam o calor que fazia no

28
LEVEQUE, Pierre. As primeiras civilizações. op. cit. p. 133.
29
Onde Leveque afirma que só surgiu no final da história do Egito. Ibidem, p. 128.
30
Ibidem, p. 134.
31
Cobradores de impostos, arquitetos, arquivistas, certamente saberiam a arte da escrita, entretanto, podem ou não
serem apenas escribas, apenas se dedicando e trabalhado nesta área. DAVID, Ann Rosalie, 1946- Religião e magia
no Antigo Egito, op. cit. 2011, 270-1.
32
DAVID, Ann Rosalie, 1946- Religião e magia no Antigo Egito, op. cit. 2011, p. 33.
33
Obtido no slide apresentado em sala.
térreo. A casa era toda feita de barro, onde eles molhavam e depois esperavam secar, para
modelar e fazer toda esta estrutura. Como visto em aula, na cidade residiam aqueles que tinham
melhores condições, e os camponeses, por exemplo, moravam principalmente no campo. Mas,
como a maior parte da população se encontra nesta classe, muitos desses moravam na cidade,
certamente longe da parte mais luxuosa da cidade e em casas simples, como esta da imagem.
A economia egípcia era baseada principalmente na agricultura, na pesca e na criação de
gado. Os camponeses, como visto em aula, eram a maioria da população e faziam diversos
trabalhos agrícolas, como a joeirarem, plantação principalmente do trigo e da cevada, mas
também de outros produtos importantes:
O linho serve naturalmente para a confecção de roupas, parecendo que a lã
nunca foi usada com essa finalidade. Uma vez os campos semeados, o trabalho
do camponês limitava-se a cultura de legumes nas terras próximas do rio ou
dos canais. Essas culturas incluem cebola, o pepino, o alho, a alface, o alho-
poro.34
Essas atividades não eram apenas feitas por camponeses, pois em uma sociedade que a
economia era baseada principalmente na agricultura e pecuária, existiam vários funcionários do
Estado que tinham seus trabalhos referentes a estes, como visto em aula, os pescadores,
marceneiros, pedreiros, padeiros e diversas outros trabalhadores, todos esses, fazendo parte
desta classe pobre e mais abundante (em questão populacional) da sociedade. Os camponeses
trabalhavam muito, eram muito pobres, e também não eram chamados de humanos, levantando
assim a hipótese de preconceito com aqueles mais pobres.35
Todas as pessoas dessa classe, fazem serviços muito exaustivos. Os pedreiros fazem
trabalhos ao ar livre, criando tijolos, por exemplo, e trabalhando muito, onde isso cria sérias
dores nos quadris e seus braços esgotam-se pelo seu esforço estremo. O marceneiro trabalha de
dia e de noite, fazendo sempre mais do que podem. O tecelão, por exemplo, faz trabalhos de
joelhos contra o ventre, assim não pode respirar direito, e se deixar de tecer, é punido à várias
chicotadas, mostrando assim, como era precária a vida dos mais pobres no antigo Egito. O
lavrador, o hortelão, o oleiro, o carpinteiro, o tecelão, os joalheiros, o barbeiro, todos estes
fazem parte dessa classe pobre, onde trabalham tanto que, provavelmente, as condições de vidas
desses, é muito ruim e muitos morriam ainda muito jovens.36
O escalão inferior da sociedade egípcia estava os servos e os escravos. Primeiramente
vamos abordar os servos, mostrando as suas diferenças dos escravos. Ambos, são muito

34
LEVEQUE, Pierre. As primeiras civilizações. op. cit. p. 131.
35
ARAÚJO, Emanuel (org). Escrito para a Eternidade: a literatura no Egito Faraônico. Brasília: Editora da
Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa oficial do Estado, 2000, p. 222.
36
Ibidem, p. 220-1.
importantes para a prosperidade econômica do Egito, pois cabe a eles, e principalmente aos
escravos, o trabalhos manual, ou seja, aqueles trabalhos que precisam muito da mão-de-obra
como, por exemplo, a construção de monumentos, o trabalho no campo, e outros. Os servos se
diferenciam dos escravos principalmente por essa questão:
A maioria da população consistia em camponeses e servos que, embora não
pudessem ser realmente chamados de escravos, porque não eram propriedades
exclusivas de seus senhores, tinham contudo pouca liberdade de movimento
ou de ação. Cultivavam a terra e produziam alimentos para toda a população,
assim como os suprimentos que eram oferecidos nos rituais funerários
perpétuos nas pirâmides e nas tumbas.37
Nessa citação, vemos que as principais diferenças entre os escravos e os servos
equivaliam a posse: os escravos eram propriedades de seus donos, os servos não. Como foi
visto em aula, as pessoas poderiam se tornar servos por algumas questões como dívidas não
pagas e, possivelmente, por infringir alguma lei da sociedade.
Ainda podemos ver também uma parte do trabalho do servo, onde era bem próximo ao
trabalho do camponês e levanta a hipótese de que eles eram propriedade do Estado, já que eles
produziam alimento para toda a população, e também alguns trabalhos no templo, onde levanta
a hipótese de que alguns sacerdotes (de maior prestígio), tivessem aos seus serviços, servos.
O servo na sociedade egípcia, poderia certamente também ser protegido por leis e os seus
trabalhos não consistiam só nesses destacados na citação acima, mas também poderiam fazer
trabalhos bem mais pesados como a construção das pirâmides ou de outros monumentos,
porém, se os mesmos fossem propriedades do Estado.
Rosalie David afirma que nos templos do Egito no período do Segundo Período
Intermediário (1786-1400 a.C), muitas servas trabalhavam cantando, tocando e dançando em
cerimônias, festivais, rituais, e que estes eram os seus deveres. 38 Portanto, os servos tinham
várias e diferentes obrigações, dependendo onde e quem lhe davam as ordens.
Com os escravos a situação era diferente: os escravos eram propriedade dos seus donos,
e eram considerados, muitas vezes, animais. Os escravos eram muito importantes para a
sociedade egípcia, em diversas áreas, como nas construções, pois os trabalhos manuais mais
difíceis e desumanos (em sua maioria) eram feitos por eles. Muitas vezes os escravos sofriam
duras torturas, assim, dificultando ainda mais a sua vida.39

37
DAVID, Ann Rosalie, 1946- Religião e magia no Antigo Egito, op. cit. p. 33.
38
Ibidem, p. 265.
39
MELLO, José Guimarães. Negros e escravos na Antiguidade/ José Guimarães Mello. –São Paulo: Arte &
Ciência, SP: 2003, p. 86.
Existiam várias maneiras de se conseguir escravos, como prisioneiros de guerra, em
campanhas militares para se conseguir escravos e em compras em uma espécie de mercado de
escravos. Estes poderiam ser públicos (que eram a maioria), que pertenciam ao Estado, ou
privados, que pertenciam a alguém.40
As principais diferenças entre esses dois tipos de escravos, estava ligado principalmente
ao trabalho e a algumas leis, pois os escravos públicos não eram protegidos por leis como a
obrigação da alimentação e ao reconhecimento de seus filhos, caso seu dono engravidasse uma
escrava, como ocorria com os escravos privados e também os seus trabalhos eram muito mais
duros e eram frequentemente maltratados, diferente dos privados, onde não eram sujeitos a
trabalhos tão duros, e geralmente não recebiam maltrato tão severos.41
Joyce Tyldesley afirma que muitos daqueles que faziam os trabalhos mais difíceis das
pirâmides, como o levantamento e a locomoção das grandes pedras que eram utilizadas para a
constrição, eram feitos principalmente pelos escravos.42 Dentre esses trabalhos manuais, pode-
se incluir também os feitos de Ramsés II:
O faraó Ramsés II se vangloriava de ter construído o país sem fatigar nenhum
cidadão egípcio. Construiu ruas, calçadas, canais de irrigação e drenagem do
Nilo; construiu planaltos artificiais para abrigar a população das inundações;
edificou fortalezas, templos aos deuses venerados em cada região, etc. Em
cada uma dessas obras colocava uma placa com os seguintes dizeres: Nessa
construção não se fatigou nenhum cidadão egípcio.43
Nessa citação vemos vários trabalhos feitos por escravos no período do Novo Império,
em que governou o faraó Ramsés II, onde levanta a hipótese de que os escravos eram muito
bem explorados, já que ele se vangloriava de que não usava a mão-de-obra egípcia em
construções como essas citadas.
É importante mostrar também que nem todos os escravos se conformavam com a situação
em que viviam, onde nesse mesmo período (o de Ramsés II), muitos escravos trazidos da
Babilônia se revoltaram por não aguentarem a dureza dos trabalhos e se revoltaram, devastando
a vizinhança e criando uma fortaleza, onde chamaram de Neo-Babilônia.44
Pode-se considerar também que uma dessas formas de tortura era a falta de alimento,
onde pioravam seu estado e muitos morreriam pouco tempo depois de virarem escravos (sem
contar o caso de que ele eram passados a escravidão era hereditária). Então, vemos que as

40
Ibidem, p. 83-9.
41
Ibidem, p. 89.
42
TYLDESLEY, Joyce. Pirâmides: a verdadeira história por trás dos mais antigos monumentos do Egito/ Joyce
Tyldesley; tradução Cid Knipel; revisão técnica Antônio Brancaglion Jr. –São Paulo: Globo, 2005, p. 192-6.
43
MELLO, José Guimarães. Negros e escravos na Antiguidade. op. cit. p. 84.
44
Ibidem, p. 87.
condições de vida de um escravo eram muito ruins, e que certamente a única forma de
pagamento pelos seus trabalhos, era de ainda possuir vida, mesmo nas condições precárias.

1.2 No Antigo Israel

O povo hebreu constituiu uma das mais fascinantes e importantes sociedades da


Antiguidade, que ainda hoje existe e conquista muitos por sua apaixonante e interessante
história, religião, cultura e vários outros aspectos.
Sendo uma sociedade que, ao longo da sua trajetória, passou por várias mudanças sociais
e políticas, prender-me-ei a explicar a hierarquia social desse povo a partir da sua origem até a
consolidação da monarquia, ou seja, a divisão das classes sociais, desde quanto os hebreus se
organizavam em famílias até a formação e fixação da monarquia, com o primeiro monarca da
sua história (apresentado pela Bíblia), o rei Saul45 até o governo de Salomão.
A sociedade hebraica é um pouco complexa: sempre houve várias mudanças na sua
estrutura social e política ao longo do tempo. A Bíblia, principal livro que conta a história do
povo hebreu, assim também como (principalmente) sua religião, nos dá várias evidências de
como os mesmos se organizavam: primeiramente em clãs, onde o patriarca era a maior
autoridade, depois o sistema de juízes, chefes militares que governavam as tribos, e por fim o
sistema monárquico, onde o rei governava todo o povo.
Em todas as fases da sua história, geralmente a população se organizava socialmente desta
forma: governante, nobres e aqueles mais pobres, que eram a maioria da população, onde é bem
parecido com a hierarquia social do Egito. É importante salientar que para o entendimento da
hierarquia social dos hebreus, algumas vezes será preciso contextualizar cada fase que será
falada, para que assim, se tenha um maior entendimento.
Vale ressaltar também que o objetivo desse texto não é discutir a veracidade da bíblia,
mas avaliar a hierarquia social dos hebreus e, como a bíblia é um livro que conta a história desse
povo, utilizarei a mesma para o embasamento histórico e social, independente da mesma
apresentar um conteúdo (historicamente) verídico ou não. Várias coisas que são retratadas na
bíblia podem ser mito, como foi visto em aula, por exemplo, o êxodo, pode ser considerado um
mito, pela falta de fontes e de vários outros fatores. Com essas considerações iniciais, veremos
como era a hierarquia social dos hebreus, começando do início.

45
BÍBLIA, O primeiro livro de Samuel. Bíblia Sagrada. Traduzida para o português por João Ferreira de Almeida:
Revista e Corrigida. Várzea paulista –SP: Casa publicadora Paulista, 2006. 1 Samuel: 12, 1-2.
No período inicial da história dos hebreus, eles eram organizados em famílias, lideradas
por patriarcas, onde ao passar dos anos, com o aumento dessas famílias, foram surgindo clãs,
depois tribos e por fim, um reino. O primeiro patriarca, e assim líder, dos hebreus citado na
bíblia no livro de Gênesis, foi Abraão (seu nome original era Abrão), onde:
[...] Pensa-se que Abraão seria um pastor da zona de Ur, na antiga
Suméria, que viajou, em primeiro lugar, para a Síria e posteriormente
para Canaã, atual palestina, onde veio a se estabelecer. A Bíblia cita que
ele viveu 175 anos, tento Ismael e Isaac entre seus filhos. Ainda assim
é Jacob, seu neto, pai de 12 crianças, que vem a suceder-lhe em termos
mediáticos, visto que o mito consubstancia a criação das 12 tribos de
Israel por cada um de seus filhos. Terá, então, sido Jacob a levar os
hebreus em segurança para o Egito de onde apenas viriam a sair quando
Moisés da tribo de Levi, foi escolhido para libertar seu povo. 46
Na citação acima, observa-se um pouco da formação do povo hebreu, onde Abraão, o
primeiro patriarca, vai gerando seus filhos Isaque e Ismael 47. E de forma sucessiva, a sua
descendência vai formando uma população considerável, primeiramente famílias, como a de
Jacó, por exemplo, depois clãs, tribos, onde essas são conhecidas como as doze tribos de Israel,
ou seja, são as descendência dos doze filhos de Jacó (que também tinha como nome Israel),
compostas por famílias e clãs.
Assim, depois que Jacó levou os hebreus (sua descendência) ao Egito, permanecendo ali
até a libertação por Moisés, começou a caminhada para a “terra prometida”, narrada pelos livros
de Êxodo (que pode significar “saída”), Levítico, Números e Deuteronômio. Nessa jornada que
durou quarenta anos48, vários fatores aconteceram dentro da cultura hebraica, onde esses livros
(que passam mensagens principalmente religiosas), vão explicar algumas leis básicas da sua
religião, como: Os Dez Mandamentos e várias outras leis acerca da adoração, práticas
ritualísticas, modo de vida e várias outras, onde com a chegada dos hebreus na terra prometida,
por questões principalmente de segurança, foi instaurada a monarquia, pois o sistema de
liderança atual (o de juízes), estava tendo dificuldades na união e liderança do povo.
Voltando a falar das origens dos hebreus e apresentado a estratificação social, nas famílias
não existia muita divisão de classes, pois a quantidade de pessoas eram pequenas, comparadas
a população de cidades ou reinos. Na estrutura hierárquica da família de Abraão, por exemplo,
ele é o patriarca, ou seja, o líder da família, por qual fazia os trabalhos mais importantes como
as decisões, o comércio, os trabalhos no campo (provavelmente o pastorei de animais) e outras

46
SILVA, Pedro. As Maiores Civilizações da História/ Pedro Silva. –São Paulo: Universo dos Livros, 2008, p. 52.
47
Ismael, filho de Abraão e Agar, escrava egípcia de Sara, mulher de Abraão, onde depois que partiram e formaram
depois, um povo, onde a Bíblia cita que os Ismaelitas, eram descendentes de Ismael, filho de Abraão.
48
BÍBLIA, Êxodo. Bíblia Sagrada. op. cit. Êxodo: 16, 35.
atividades; logo depois vem sua esposa Sara, submissa ao seu marido, fazia os trabalhos
domésticos como cozinhar, limpar; depois os escravos: Agar, era serva de Sara, onde
provavelmente fazia todos os trabalhos impostos e recebia só o sustento para manter a vida, ou
seja, comida e água obviamente.49
Já avaliando a hierarquia do tempo de Jacó, vemos que não mudou muito a sua estrutura,
apenas houve um aumento na população, principalmente porque o número de pessoas da família
cresceu. Jacó era o filho de Isaque, que esse último era filho de Abraão.50 Jacó teve doze filhos
homens e uma mulher, onde a bíblia deixa claro que era a descendência de Jacó que iria ser a
futura nação de Israel. A família de Jacó era grande, não apenas porque teve vários filhos e
esses esposas, mas porque um episódio narrado pela bíblia mostra a seguinte situação, Diná foi
estuprada e os filhos de Jacó, depois de um pacto, devastou a cidade de Siquém em vingança:
E aconteceu que, ao terceiro dia, quando estavam com a mais violenta dor, os
dois filhos de Jacó, Simeão e Levi, irmãos de Diná, tomaram cada um à sua
espada, e entraram afoitamente na cidade, e mataram todos os homens.
Mataram também ao fio da espada a Hamor, e a seu filho Siquém; e tomaram
a Diná da casa de Siquém, e saíram. Vieram os filhos de Jacó aos mortos e
saquearam a cidade; porquanto violaram a sua irmã. As suas ovelhas, e as suas
vacas, e os seus jumentos, e o que havia na cidade e no campo, tomaram. E
todos os seus bens, e todos os seus meninos, e as suas mulheres, levaram
presos, e saquearam tudo o que havia em casa.51
Esse pacto que os filhos de Jacó propuseram a Siquém e seu pai Hamor, era a
circuncisão52, uma prática ritualística praticada também pelos hebreus. Quando os siquemitas
concordaram nessa acordo, vemos o que a citação acima explica. Uma questão muito
importante é que as mulheres e as crianças não foram mortas, mas foram levadas presas,
possivelmente foram transformadas em escravas ou em mulheres para os filhos de Jacó.
Assim, vemos que pode-se entender a hierarquia social do período inicial da história dos
hebreus (quando eles se organizavam em famílias) era a seguinte: Patriarca- Filhos (homens)-
Mulheres (filhas ou esposas) - servos. Essa hierarquia pode ser vista nas famílias de Abraão,
provavelmente na família de Isaque (pois não foi mostrado as relações com os escravos na
bíblia) e Jacó, onde fica mais evidente.
Passando-se vários anos, a bíblia narra o êxodo dos hebreus em alguns livros (já citados):
Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Como visto em aula, não se sabe se o êxodo dos

49
BÍBLIA, Gênesis. Bíblia Sagrada. op. cit. Genesis: 15 (ler todo o capítulo). Jacó não só tinha um escravo, no
capítulo 24 de Gênesis, é mostrado que ele tinha mais.
50
BÍBLIA, Gênesis. Bíblia Sagrada. op. cit. Genesis: 25, 19-23.
51
BÍBLIA, Gênesis. Bíblia Sagrada. op. cit. Genesis: 34, 25-29.
52
Essa prática usada em algumas civilizações da Antiguidade como no Egito, consiste em retirar o prepúcio do
pênis.
hebreus (que saíram do Egito, onde foram escravizados, segundo o que é retratado na bíblia)
realmente existiu, principalmente por falta de fontes que comprovam isso. Porém, cabe a este
texto, como já foi falado, avaliar a hierarquia social dos hebreus e não a veracidade da bíblia.
Voltando ao êxodo dos hebreus, depois que eles chegaram a terra prometida e ali se
fixaram, vários questões são narradas na bíblia: como principalmente conflitos com outros
povos vizinhos. É de extrema importância mostrar que me meio a essa longa caminhada, várias
questões políticas foram apresentadas no livro de Êxodo, como os Dez Mandamentos e
principalmente no livro de Levítico, onde foram feitas várias leis acerca do modo de vida e
cultura do povo. André Lemaire chama esse conjunto de leis de “A Confederação Israelita”,
pois de algum modo, trazia para o povo não só uma obrigação religiosa a ser cumprida, mas
também obrigações civis, ou seja, era uma espécie de código.53
No tempo do êxodo, pode-se perceber uma hierarquia social. O povo estava organizado
em famílias, que pertenciam a clãs e que pertenciam a tribos (todas com os nomes dos filhos de
Jacó). A hierarquia se vê presente desta forma: Anciãos- Patriarcas- Homens- Mulheres. Os
anciões eram aquelas pessoas mais velhas das tribos que, segundo André Lemaire, eram
encarregadas de que as regras e leis fossem cumpridas e respeitadas. 54 Os patriarcas (das
famílias ou dos clãs) faziam, certamente, o mesmo que os antigos patriarcas (como Abraão,
Jacó) faziam, o que já foi falado. Os homens faziam, possivelmente, os trabalhos agrícolas,
pastoreio, em batalhas, eram os soldados, ou sacerdotes55, enfim, os trabalhos para o sustento e
defesa do povo, e as mulheres os trabalhos de natureza doméstica. Os servos, ficam como a
classe mais baixa, faziam tudo o que lhes ordenara.
Com a chegada a terra prometida e a fixação na terra, várias questões fizeram esse quadro
mudar, principalmente como conflitos com outros povos, por exemplo. Com isso, foi preciso
fazer um tipo de liderança onde unisse todas as tribos para combater esses inimigos, assim
nasceu o sistema dos Juízes:
Diante de um período externo ou interno, muitos grupos clãs ou tribos, podiam
se organizar sob a direção de um chefe único, encarregado de conduzir os
homens armados. O livro dos Juízes [na bíblia] apresenta muitos desses chefes
chamados juízes (shôphetîm), desempenhando um papel importante à frente
da tribos, diante de um perigo externo.56

53
LEMAIRE, André, 1942- História do povo hebreu/ André Lemaire; tradução de Cândida Leite Georgopoulos.
– Rio de Janeiro: José Olympio, 2011, p.20.
54
Ibidem.
55
No tempo do êxodo, existiam sacerdotes, que eram aqueles responsáveis por realizar atividades religiosas.
BÍBLIA, Levítico. Bíblia Sagrada. op. cit. Levítico: 21 (ler todo o capítulo).
56
LEMAIRE, André, 1942- História do povo hebreu. op. cit., 2011, p. 21.
Na citação acima, fica evidente como surgiu o sistema de Juízes. Os juízes, segundo a
bíblia, eram profetas do Deus de Israel. A bíblia cita vários juízes, como Gideão, que venceu
os midianitas, Sansão, que lutou contra os filisteus, e inclusive uma mulher, Débora, como uma
juíza e profetiza57. A hierarquia social presente durante esse tempo, é igual ao tempo do êxodo,
com anciãos, patriarcas, as diferenças entre os trabalhos dos homens e mulheres, e os escravos.
Os clãs, as tribos, viviam separados nos tempos dos juízes, assim, certamente era muito
difícil reunir o povo para lutar, fazer estratégias, organizar, entre outras coisas. Sendo assim, o
último juiz, o profeta Samuel, atendeu ao pedido do povo:
E juntando-se todos os anciãos de Israel, foram ter com Samuel, em Ramata,
e disseram-lhe: Bem vês que estás velho e que teus filhos seguem as tuas
pisadas; constitui-nos, pois, um rei que nos julgue, como têm todas as nações.
[...] E Samuel tomou um pequeno vaso de óleo, e derramando-o sobre a cabeça
de Saul e o beijou, e disse: Eis que o Senhor, te ungiu por príncipe sobre a sua
herança, e tu livrarás o seu povo das mãos dos inimigos que o cercam. E este
será para ti o sinal de que deus te ungiu príncipe.58
Assim, com Saul rei, se iniciou a monarquia em Israel, nome da nação dos hebreus. O
primeiro rei, Saul, governou Israel por vários anos, sucedido por Davi e depois Salomão. A
hierarquia social presente nesse período, pode ser representada da seguinte forma:

Imagem 3: Pirâmide social da sociedade hebraica.


Fonte: Feito por Wesley de Oliveira Silva.

Na imagem acima, vemos uma pirâmide social da sociedade hebraica, baseada


principalmente no período monárquico (do Rei Saul à Salomão) e referente principalmente a
hierarquia social e econômica, ou seja, está fundamentada nas diferenças econômicas e sociais
de cada classe da sociedade.

57
BÍBLIA, Juízes. Bíblia Sagrada. op. cit. Juízes: 4, 2-10
58
100 textos de história antiga/ Seleção, organização e introdução de Jaime Pinsky. 9.ed. – 1ª reimpressão – São
Paulo: Contexto, 2009, p. 67-8.
No topo da pirâmide está o rei, aquele que governa todo Israel. O rei está acima de todos
hierarquicamente, mas tendo um grande respeito pelos profetas (como Saul tinha por Samuel,
por exemplo). O seu poder está muito difundido na bíblia. Como foi visto em aula, era papel do
rei ter conquistas militares: vencer os inimigos, anexar terras. Davi, por exemplo, anexou várias
terras ao seu reino, como a dos moabitas e dos filisteus.59
Não só conquistas militares, mas grandes construções como fez Salomão, que durante o
seu governo, construiu um o Tempo de Salomão, o palácio real, uma muralha.60 André Lemaire,
afirma que Salomão foi um grande rei, onde desenvolveu o comércio, o exército, mesmo sendo
um governo pacífico, a estrutura (em questão da administração) da cidade, criando prefeituras
e várias outras medidas importantes.61
Vemos assim que o poder real era muito grande. No segundo escalão, estão os sacerdotes,
os nobres e os comerciantes. Os sacerdotes eram aqueles que ficavam responsáveis por
atividades religiosas e os templos sagrados. Os sacerdotes, provavelmente seguindo as regras
mostradas em Levítico, tinham várias obrigações a serem seguidas como não raspar a cabeça e
não raspar os cantos das barbas. Ainda dentro desta classe, se tinha uma hierarquia presente, o
sumo sacerdote, que também deveria seguir algumas regras como não descobrir a cabeça, não
chegar perto de cadáveres (seja ele qual for), não sair do templo sagrado, apenas casar com
virgens e outras regras.62
Certamente os templos eram luxuosos, cheio de alimentos, desta forma, os sacerdotes são
pessoas de bom prestígio social e riqueza. Os nobres são aqueles que fazem parte da família do
rei, como os príncipes, os chefes da guarda dos exércitos, os prefeitos, o chanceler, os
comerciantes.63 Todos esses citados, tinham um prestigio social evidente e também uma riqueza
considerável dentro da sociedade. Os comerciantes, por exemplo, eram provavelmente bem
sucedidos já que, como visto em aula, o corredor siro-palestino, onde habitavam se localizava
Israel e Judá (onde no governo de Davi, foram unidas novamente), era um local de ascendente
comércio com várias civilizações da Antiguidade, como os egípcios, os fenícios, os
mesopotâmicos e outros. Porém, é importante lembrar que tinham suas exceções.
No escalão abaixo, se encontram aqueles mais pobres: os pastores e os artificies. Os
pastores eram aqueles que viviam no campo, muitas vezes levando uma vida seminômade

59
BÍBLIA, 2 Samuel. Bíblia Sagrada. op. cit. 2 Samuel: 8, 1-2.
60
BÍBLIA, 1 Reis. Bíblia Sagrada. op. cit. 1 Reis: 9,15.
61
LEMAIRE, André, 1942- História do povo hebreu. op. cit., 2011, p. 36-8.
62 62
No tempo do êxodo, existiam sacerdotes, que eram aqueles responsáveis por realizar atividades religiosas.
BÍBLIA, Levítico. Bíblia Sagrada. op. cit. Levítico: 21 (ler todo o capítulo).
63
Várias dessas profissões são mostradas em 2 Samuel (cap. 8) e em 1 Reis (cap. 4).
(como Abraão), certamente eram muito pobres, onde do pastoreio tiravam seu sustento, assim
podendo comercializar. Os artificies, no qual estão incluídos os carpinteiros, os escrivães,
funcionários dos templos e do palácio real, camponeses, joalheiros, soldados, músicos, se vários
outras profissões se enquadram dentro dessa classe.64
Certamente eram mais pobres e representavam a maioria da população, sendo assim,
sustentando a sociedade na questão principalmente da economia. Por fim, vem os escravos. Os
hebreus não tinham a prática de escravização entre eles, porém existiam:
Quando comprares um escravo hebreu, ele servirá seis anos; no sétimo
sairá livre sem pagar nada. Quando um teu irmão hebreu, homem ou
mulher, se tiver vendido a ti, ele te servirá seis anos, mas no sétimo ano
deixa-lo-ás ir livre de tua casa.65
Nessa citação vemos que existiu escravidão entre os hebreus. Outra forma de se conseguir
escravos eram prisioneiros de guerras ou de ataques a cidade (como na cidade de Siquém, pelos
filhos de Jacó). Segundo José Guimarães Melo, os hebreus tinham uma fama não muito
diferente dos povos vizinhos, pois empreendiam guerras e tratavam seus prisioneiros, como os
sus vizinhos tratavam: a submissão de trabalhos forçados, como fez Davi depois de se apoderar
de Rabá dos Amonitas.66 Os hebreus, como já foi visto, praticavam a escravidão desde o tempo
de Abraão, onde o mesmo tinha um servo. Os filhos de Jacó também fizeram das habitantes de
Siquém escravas ou mulheres, já que em Deuteronômio fala o seguinte:
Quando te aproximares de alguma cidade para pelejar contra ela, oferecer-lhe-
ás a paz. Se a sua resposta é de paz, e te abrir as portas, todo o povo que nela
se achar será sujeito a trabalhos forçados e te servirá. Porém, se ela não fizer
paz contigo, mas te fizer guerra, então, a sitiarás. E o SENHOR, teu Deus, a
dará na tua mão; e todos os do sexo masculino que houver nela passarás a fio
de espada; mas as mulheres, e as crianças, e os animais, e tudo o que houver
na cidade, todo o seu despojo, tomarás para ti; e desfrutarás o despojo dos
inimigos que o SENHOR, teu Deus, te deu. Assim farás a todas as cidades que
estiverem mui longe de ti, que não forem das cidades destes povos.67
Nessa citação, vê-se claramente que a escravidão existia, e que geralmente, as pessoas
transformadas em escravos eram as mulheres e crianças (que virariam adultas e se tornariam
escravas também, possivelmente). Seja de forma voluntária (onde José Guimarães Melo mostra
um exemplo de uma mulher de um servo de Elizeu que estava oferecendo seus dois filhos para
se tornarem escravos),68 cativos de guerra, a escravidão esteve muito presente entre os hebreus.

64
Ibidem.
65
BÍBLIA, Deuteronômio. Bíblia Sagrada. op. cit. Deuteronômio: 15, 12.
66
MELLO, José Guimarães. Negros e escravos na Antiguidade. op. cit. p. 58.
67
BÍBLIA, Deuteronômio. Bíblia Sagrada. op. cit. Deuteronômio: 20, 10-15.
68
MELLO, José Guimarães. Negros e escravos na Antiguidade. op. cit. p. 62.
1.3 Referências

100 textos de história antiga/ Seleção, organização e introdução de Jaime Pinsky. 9.ed. – 1ª
reimpressão – São Paulo: Contexto, 2009.

ARAÚJO, Emanuel (org). Escrito para a Eternidade: a literatura no Egito Faraônico.


Brasília: Editora da Universidade de Brasília; São Paulo: Imprensa oficial do Estado, 2000.

BÍBLIA, Bíblia Sagrada. Traduzida para o português por João Ferreira de Almeida: Revista e
Corrigida. Várzea paulista –SP: Casa publicadora Paulista, 2006.

DAVID, Ann Rosalie, 1946- Religião e Magia no Antigo Egito/Rosalie David; tradução
Angela Machado. – Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.

LEMAIRE, André, 1942- História do povo hebreu/ André Lemaire; tradução de Cândida
Leite Georgopoulos. – Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.

LEVEQUE, Pierre. As primeiras civilizações. Vols. I e II. Lisboa: Edições 70, 2001.

MELLO, José Guimarães. Negros e escravos na Antiguidade/ José Guimarães Mello. –São
Paulo: Arte & Ciência, SP: 2003.

SCARPI, Paolo. Politeísmo: as religiões do mundo antigo/ Paolo Scarpi; tradução de Camila
Kintzel; organização da edição brasileira Adone Agnolin. – São Paulo: Hedra, 2004.

SILVA, Pedro. As Maiores Civilizações da História/ Pedro Silva. –São Paulo: Universo dos
Livros, 2008.

TYLDESLEY, Joyce. Pirâmides: a verdadeira história por trás dos mais antigos monumentos
do Egito/ Joyce Tyldesley; tradução Cid Knipel; revisão técnica Antônio Brancaglion Jr. –São
Paulo: Globo, 2005.

Você também pode gostar