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P GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

o SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA SOCIAL


POLICIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO

l CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DA POLÍCIA MILITAR – CFAPM


CURSO DE FORMAÇÃO DE SARGENTOS

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e Gestão Integrada e Comunitária
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2019

a
Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária

Janildo da Silva Arante1

Sistema de Segurança Pública e


Gestão Integrada e Comunitária
(3ª Edição)

Conteúdo apresentado ao CFAPM para a disciplina de Sistema


de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária (15
horas/aula) junto ao Curso de Formação de Sargentos, como
material complementar/embasador às aulas expositivo-
dialogadas.

Natal/RN
2019

1
Janildo da Silva Arante, 2º Sargento PM-RN, é formado em Matemática Licenciatura Plena pela UFRN e possui diversos cursos na área de Segurança Pública. Já
ministrou, junto ao CFAPM, além dessa disciplina, as disciplinas de Estatística Aplicada à segurança Pública, Polícia Comunitária (junto ao CAS), Sistema e Gestão de
Segurança Pública (junto ao CAS), Fundamentos da Gestão Pública Aplicados à Segurança Pública e Didática Aplicada à segurança Pública.

PMRN - Curso de Formação de Sargentos 2019.1. Instrutor: 2º Sgt Janildo da Silva Arante 2
M
Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária

GOVERNO DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE


SECRETARIA DE ESTADO DA SEGURANÇA PÚBLICA E DA DEFESA SOCIAL
POLICIA MILITAR
DIRETORIA DE ENSINO

O
CENTRO DE FORMAÇÃO E APERFEIÇOAMENTO DA POLÍCIA MILITAR – CFAPM
CURSO DE FORMAÇÃO DE SARGENTOS

Unidade Curricular: Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária


Cód: CFS01 Carga Horária: 15h/a
EMENTA
I- CONTEÚDO PROGRAMÁTICO
MÓDULO 1 – SISTEMA E GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA:

B
1.1. Políticas Públicas
1.1.1. Políticas públicas: formulação, implantação, avaliação e acompanhamento;
1.1.2. Planos de segurança pública (instâncias: federal, distrital e estadual);
1.1.3. Análise de cenários e perspectivas da segurança global e local;
1.1.4. Relação entre o sistema de segurança pública e o sistema de justiça criminal;
1.2. Sistema e Gestão em Segurança Pública
1.2.1. Sistemas de segurança pública nas sociedades democráticas;
1.2.2. Atribuições das instituições de segurança pública;
1.2.3. Abordagem sistêmica da segurança pública;
1.2.4. Conceitos de circunscrição, região e área de abrangência de outras instituições;
MÓDULO 2 – GESTÃO INTEGRADA E COMUNITÁRIA

I
2.1. Polícia Comunitária
2.1.1. Breve histórico da polícia comunitária;
2.1.2. A polícia comunitária como filosofia de um trabalho integrado;
2.2. Policiamento Comunitário
2.2.1. A comunidade como “Locus Privilegiado”;
2.2.2. As redes sociais com foco nas ações comunitárias;
2.3. ~Mobilização Comunitária
2.3.1. Fundamentos e princípios da gestão integrada e comunitária;
2.3.2. Mecanismos do Estado que favorecem a implantação da gestão integrada e comunitária no
âmbito da segurança pública;

L
2.3.3. Policiamento orientado por problema;
2.3.4. Estratégias que favoreçam a participação e mobilização da comunidade.

II – OBJETIVOS

Geral:
* Criar condições para que o profissional da área de segurança pública possa ampliar conhecimentos para ter uma visão geral de
como funciona o Sistema de Segurança Pública, e também como atuar de forma colaborativa e cooperativa no planejamento de
ações integradas e comunitárias.
Específicos:
* Ampliar conhecimentos para compreender a visão sistêmica da segurança pública, os órgãos, as instituições, os profissionais e as

I
políticas e ações voltadas para a sociedade e o cidadão, mediante o estudo dos seus antecedentes históricos e da análise de cenários
e perspectivas;
* Desenvolver e exercitar habilidades para reconhecer a importância da formulação de políticas públicas e da elaboração de
planejamento na área de segurança pública;
* Ampliar conhecimentos para identificar os fundamentos de gestão integrada e comunitária e as diversas formas existentes dessa
gestão no sistema de segurança pública;
* Identificar o processo do “triângulo do crime” ou “triângulo para análise de problema – TAP”;
* Atuar de forma colaborativa e cooperativa no planejamento de ações integradas e comunitárias;
* Reconhecer a importância de atuar como facilitador (protagonista) do processo orientado para o problema.

III - ESTRATÉGIAS DE ENSINO

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Os temas abordados poderão ser desenvolvidos através de aulas expositivas, debates, atividades em grupo e
individuais, utilizando os recursos didáticos disponíveis para auxiliar na fundamentação do ensino-aprendizagem.

IV- PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃO

A avaliação deverá ser fundamentada em todo conteúdo ministrado, podendo ser composta por questões objetivas
e/ou subjetivas, valendo 100% da nota, pois se trata de uma única avaliação.

V- REFERÊNCIAS
BAYLEY, David H. Criando uma teoria de policiamento: padrões de policiamento.
Coleção Polícia e Sociedade 1. São Paulo: EDUSP, 2001.
BAYLEY, David H. Padrões de policiamento: uma análise internacionalmente comparativa. São Paulo: EDUSP, 2001.
BECK, Ulrich, Sociedade de risco: rumo a uma outra modernidade. Editora 34, 2010, 1ª edição.
BERTALANFFY, Ludwig Vo. Teoria geral dos sistemas. BERTALANFFY, Ludwig Von; Ed. Vozes; 1975.
CERQUEIRA, C. M. N. A polícia em uma sociedade democrática. In: Polícia, violência e direitos humanos. CEDOP, [S.l.]. Série
Cadernos de Polícia, n. 20, 1994.
PINHEIRO, Paulo Sérgio. Violência, crime e sistemas policiais em países de novas democracias. Tempo Social: Revista de
Sociologia da USP, vol. 9, n. 1, 1997.
ROCHA, Luiz Carlos. Organização policial brasileira: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária, Polícias
Civis, Polícias Militares, Corpos de Bombeiros Militares, Guardas Municipais. São Paulo: Saraiva, 1991.
SAPORI, Luís Flávio. Segurança Pública no Brasil: desafios e perspectivas. Rio de Janeiro: FGV Editora, 2007.
ANDRADE, Sebastião Carlos de O. Mudanças e oportunidade na gestão pública: o novo cidadão. Rio de Janeiro, 2001.
DE OLIVEIRA, Fatima Bayma. (Org.) Política de gestão pública integrada. Rio de Janeiro, RJ: Editora FGV, 2008.
DI PIETRO, Marial Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 24. Ed. São Paulo: Editora Atlas, 2011.
FARAH Marta Ferreira S. et al. Novas experiências de gestão pública e cidadania. Rio de Janeiro: FGV, 2000.
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. São Paulo: Malheiros Editores, 1999.
PAULA, Ana Paula Paes de. Por uma nova gestão pública. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2005.
PEREIRA, Luiz Carlos Bresser; SPINK, Peter. Reforma do Estado e Administração Pública Gerencial. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1998.
SANTIN, V. F. Controle judicial da segurança pública: eficiência do serviço na prevenção e repressão ao crime. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2004.
TROSA, Sylvie. Gestão Pública por resultados. Brasília: ENAP/Editora Revan, 2001.
Fonte: Plano de Curso – CFS 2017.1 (com adaptações conforme reunião pedagógica datada de 16 de
maio de 2019 – 2º Sgt PM Janildo e S Ten RR Vantuil)

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Epígrafe
DIGNIDADE COM CARÊNCIAS: É POSSÍVEL?
Ricardo Brisolla Balestreri 2
Assim mesmo, nessas condições, com esses salários, com essa carência de recursos, com eventuais humilhações internas,
como é possível falar em dignidade?
É possível e é necessário, porque não podemos esperar por melhores salários e melhores condições para ter dignidade, assim
como não é correto dizer que os criminosos são criminosos porque são pobres, coisa que enxovalha a pobreza. A maioria dos cidadãos
brasileiros é pobre e, no entanto, é digna e honesta. Alguns colegas meus de direitos humanos às vezes cometem essa sandice de dizer,
de forma bem-intencionada mas simplista: “A causa da criminalidade é a miséria”. Não é verdade. É parcial. É claro que a miséria
agrava, mas 99% das pessoas que vivem em situação de miséria são cidadãos dignos, honestos, trabalhadores.
Da mesma maneira, não é possível desculpar comportamentos indignos da polícia por causa dos salários e das condições de
vida. Vamos lutar para melhorar os salários e as condições de vida, mas isso não é pretexto para agir de forma indigna e de forma
brutal — como não é pretexto para o professor, numa analogia, entrar numa sala de aula e dizer: “Dou uma aula relaxada porque
ganho mal”. Não é pretexto! O seu cliente, que é o aluno, não tem culpa se você ganha mal. Vá brigar com o governo para ganhar
melhor, mas não sacrifique o seu aluno. O cliente da polícia é o cidadão. Se você tem problemas com o Estado, vá lutar e resolver com
o Estado os seus problemas. Não sacrifique o seu cliente porque ele não tem culpa direta sobre isso. O dever de qualquer profissional
que atua com o público é ser digno e tratar bem.
A reflexão final que eu faço é esta: que, ao chegar em casa, ao deitar sua cabeça no travesseiro, o sujeito não seja obrigado à
frustração de admitir: “Ganho mal, não me deram condições de trabalho, tive que comprar bala para o meu próprio revolver — o que é
um absurdo — e, além de tudo, fiz um trabalho malfeito”. Pelo menos que ele possa ter o orgulho de pensar: “Apesar de não ganhar
um salário digno, apesar de não ter bala para o revólver, apesar de o carro não ter motor, apesar de todas as incompreensões e
dificuldades, me mantive superior, agi com dignidade e respeito, não me rebaixei à práticas criminosas. Fiz, por mim e pelos outros,
um trabalho que valeu a pena. Isso ninguém me tira.”
BALESTRERI, Ricardo Brisola. Direitos Humanos: Coisa de Polícia – Passo fundo-RS, CAPEC, Paster Editora, 1998

2
Ricardo Brisolla Balestreri, educador e consultor empresarial e governamental, é graduado em Estudos Sociais (PUCRS-1980) e em História (UNISINOS-1995),
possui especialização acadêmica em Psicopedagogia Clínica (Centro Educacional La Salle de Ensino Superior, março de 1997) e em Terapia Familiar (Universidade
Candido Mendes-UCAM, Rio de Janeiro, 30 de Julho de 2006) e Formação em Hipnologia Clínica Condicionativa (2011). É Presidente do Conselho de Administração
do Observatório do Uso Legítimo da Força e Tecnologias Afins, membro do Conselho Consultivo do Observatório de Segurança e Cidadania da Fundação Getúlio
Vargas e Diretor Presidente da BBalescon, Editoria e Assessoria de Projetos. (Informações coletadas do Lattes em 28/05/2018)

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Apresentação
Este trabalho é parte integrante do Plano de Curso de Sargentos da PMRN-2018.1. Nele temos a junção de duas disciplinas, a
saber Gestão Integrada e Comunitária e Sistema de Segurança Pública, ambas da ÁREA TEMÁTICA I (SISTEMAS,
INSTITUIÇÕES E GESTÃO INTEGRADA EM SEGURANÇA PÚBLICA).
De posse do conteúdo programático a seguir:
MÓDULO 1 – SISTEMA E GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA:
1.1. Políticas Públicas;
1.1.1. Políticas públicas: formulação, implantação, avaliação e acompanhamento;
1.1.2. Planos de segurança pública (instâncias: federal, distrital e estadual);
1.1.3. Análise de cenários e perspectivas da segurança global e local;
1.1.4. Relação entre o sistema de segurança pública e o sistema de justiça criminal;
1.2. Sistema e Gestão em Segurança Pública:
1.2.1. Sistemas de segurança pública nas sociedades democráticas;
1.2.2. Atribuições das instituições de segurança pública;
1.2.3. Abordagem sistêmica da segurança pública;
1.2.4. Conceitos de circunscrição, região e área de abrangência de outras instituições;
MÓDULO 2 – GESTÃO INTEGRADA E COMUNITÁRIA:
2.1. Polícia Comunitária; 2.1.1. Breve histórico da polícia comunitária; 2.1.2. A polícia comunitária como filosofia
de um trabalho integrado; 2.2. Policiamento Comunitário:
2.2.1. A comunidade como “Locus Privilegiado”;
2.2.2. As redes sociais com foco nas ações comunitárias;
2.3. Mobilização Comunitária;
2.3.1. Fundamentos e princípios da gestão integrada e comunitária;
2.3.2. Mecanismos do Estado que favorecem a implantação da gestão integrada e comunitária no âmbito da
segurança pública; 2.3.3. Policiamento orientado por problema;
2.3.4. Estratégias que favoreçam a participação e mobilização da comunidade; tivemos o cuidado de apresentar um
material o mais contextualizado, interdisciplinar e transversal possível.
Espero que o presente material didático-pedagógico seja de grande valia para vosso aprendizado.
Desde já torço por vocês.
Fica aqui o abraço desse humilde professor, instrutor e facilitador do conhecimento.

Janildo da Silva Arantes – 2º Sgt PM nº 2000.0248 – Matrícula funcional 163.916-1.

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Sumário.
item Página
Ementa 3
Apresentação 6
MÓDULO 1 – SISTEMA E GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA: 8
1.1. Políticas Públicas 8
1.1.1. Políticas públicas: formulação, implantação, avaliação e acompanhamento; 13
1.1.2. Planos de segurança pública (instâncias: federal, distrital e estadual); 16
1.1.3. Análise de cenários e perspectivas da segurança global e local; 17
1.1.4. Relação entre o sistema de segurança pública e o sistema de justiça criminal; 18
1.2. Sistema e Gestão em Segurança Pública 20
1.2.1. Sistemas de segurança pública nas sociedades democráticas; 20
1.2.2. Atribuições das instituições de segurança pública; 21
1.2.3. Abordagem sistêmica da segurança pública; 27
1.2.4. Conceitos de circunscrição, região e área de abrangência de outras instituições; 28
MÓDULO 2 – GESTÃO INTEGRADA E COMUNITÁRIA 28
2.1. Polícia Comunitária 28
2.1.1. Breve histórico da polícia comunitária; 29
2.1.2. A polícia comunitária como filosofia de um trabalho integrado; 29
2.2. Policiamento Comunitário 32
2.2.1. A comunidade como “Locus Privilegiado”; 33
2.2.2. As redes sociais com foco nas ações comunitárias; 35
2.3. Mobilização Comunitária 38
2.3.1. Fundamentos e princípios da gestão integrada e comunitária; 38
2.3.2. Mecanismos do Estado que favorecem a implantação da gestão integrada e 42
comunitária no âmbito da segurança pública;
2.3.3. Policiamento orientado por problema; 45
2.3.4. Estratégias que favoreçam a participação e mobilização da comunidade; tivemos o 57
cuidado de apresentar um material o mais contextualizado, interdisciplinar e transversal possível.
Referências 63
Glossário 63

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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária

MÓDULO 1 – SISTEMA E GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA


Nesse módulo apresentaremos os seguintes conteúdos:
1.1. Políticas Públicas;
1.1.1. Políticas públicas: formulação, implantação, avaliação e acompanhamento;
1.1.2. Planos de segurança pública (instâncias: federal, distrital e estadual);
1.1.3. Análise de cenários e perspectivas da segurança global e local;
1.1.4. Relação entre o sistema de segurança pública e o sistema de justiça criminal;
1.2. Sistema e Gestão em Segurança Pública:
1.2.1. Sistemas de segurança pública nas sociedades democráticas;
1.2.2. Atribuições das instituições de segurança pública;
1.2.3. Abordagem sistêmica da segurança pública; 1.2.4. Conceitos de circunscrição, região e área de
abrangência de outras instituições;

1.1. Políticas Públicas


Conceito de Políticas Públicas e Atores Sociais
Durante os séculos XVIII e XIX, as principais funções do Estado
eram a segurança pública e a defesa em caso de embate externo. Contudo,
com a expansão da democracia, houve muitas mudanças com relação às
responsabilidades do Estado perante a sociedade. Atualmente, pode-se dizer
que a sua principal função é proporcionar o bem-estar à mesma. 
Para tal, o Estado necessita desenvolver diversas ações e atuar em
diferentes campos, como educação, saúde, segurança, meios de
transporte público, meio ambiente etc. Para alcançar frutos em tais áreas, o
governo se utiliza das Políticas Públicas.
Conceito de Políticas Públicas
As Políticas Públicas são um conjunto de decisões, planos, metas e
ações governamentais (seja a nível nacional, estadual ou municipal)
voltados para a resolução de problemas de interesse público – que podem ser específicos, como a construção de uma ponte ou gerais,
como melhores condições na saúde pública.
Através de grupos organizados a sociedade faz seu apelo aos seus representantes - vereadores, deputados e senadores,
membros do poder legislativo, e estes mobilizam os componentes do poder executivo - prefeitos, governadores e até mesmo o
Presidente da República, para que atendam as solicitações da população.
É importante ressaltar que a existência dos grupos organizados e suas reivindicações não são garantia de que suas expectativas
serão atendidas, pois no processo das Políticas Públicas, é realizada uma seleção de prioridades que visa responder as demandas das
áreas mais vulneráveis da sociedade, o que certamente não abrangerá todas as questões. É preciso que tais reivindicações ganhem
força através de mobilizações sociais e chamem a atenção das autoridades.
Políticas Públicas e os Atores Sociais
São chamados de atores políticos ou atores sociais os membros dos grupos que integram o sistema político. Em todo o
procedimento das políticas públicas, desde o questionamento até a execução, há basicamente dois tipos de atores: os estatais
ou públicos – provenientes do Governo ou do Estado, aqueles que exercem funções públicas e mobilizam os recurs os associados a
estas funções, ou seja, os políticos, eleitos pela população para um determinado período, e os servidores públicos, que atuam no
segmento burocrático; e os privados – provenientes da sociedade civil, compostos por sindicatos dos trabalhadores, empresários,
grupos de pressão, centros de pesquisa, imprensa, associações da Sociedade Civil Organizada (SCO), entre outras entidades.
Os políticos são escolhidos pela sociedade com base em suas concepções e propostas durante o período eleitoral e, quando
eleitos, buscam executá-las. Os servidores públicos, componentes da burocracia, controlam recursos e informação e operam no
processo de efetivação das políticas públicas definidas. A princípio, a burocracia é neutra, mas por muitas vezes este princípio é
corrompido por interesses pessoais, o que implica na cooperação ou impedimento das ações governamentais. Além disso, os
burocratas também possuem projetos políticos, sejam eles pessoais ou organizacionais; por isso é comum ver disputas não somente
entre políticos e burocratas, mas também entre burocratas de diversos setores governamentais.
Já os atores privados são aqueles que não possuem vínculo direto com a administração do Estado. Dentre os principais grupos,
tem-se:
Trabalhadores
A força deste grupo resulta da ação organizada, pois atuam através de seus sindicatos, que geralmente são ligados a partidos,
ONGs e, às vezes, até mesmo igrejas. Dependendo da importância do setor no qual atuam, podem ter um maior poder de pressão;
Empresários

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Este grupo exerce uma enorme capacidade de influir nas políticas públicas, visto que podem afetar a economia do país. Os
empresários mobilizam seus lobbies (do termo lobby, que significa a atividade de pressão que tem como objetivo inferir diretamente
nas decisões do poder público em favor de interesses privados) para encaminhar suas demandas aos atores públicos. Podem se
manifestar como atores isolados ou coletivos;
Grupos de interesse e grupos de pressão
Os grupos de interesse são formados por pessoas que compartilham o mesmo desejo e trabalham para conquistar seus
objetivos. Já os grupos de pressão são formados por pessoas que possuem o objetivo de influenciar determinada decisão de caráter
público. Muitas vezes, esse tipo de pressão acontece de forma direcionada ao Legislativo, porém, pode incidir também sobre os
meios de comunicação, o Judiciário e o Executivo. Também é comum tais grupos apoiarem determinados partidos políticos e alguns
possuem recursos financeiros e organizacionais;
Organizações de Pesquisa
Podem ser formadas por universidades ou organizações especializadas em pesquisas relacionadas às políticas públicas. Com
essas pesquisas, eles propõem soluções práticas para problemas sociais e assim, influenciam no processo de políticas públicas;
Mídia
A mídia possui grande influência quando o assunto é a definição de empasses relacionados ao governo. São formadores de
opinião que possuem credibilidade na sociedade e por isso são capazes de mobilizar um grande número de pessoas. Além disso,
possuem certo domínio sobre as políticas públicas.
Portanto, as políticas públicas envolvem um processo complexo, constituído por um fluxo de decisões e ações praticadas por
diversos indivíduos e órgãos, que acarretará diretamente no equilíbrio - ou desequilíbrio, social.
Fases das Políticas Públicas
O Ciclo das Políticas Públicas apresenta vários estágios: 
Agenda, em que são selecionadas as prioridades;
Formulação, em que são apresentadas soluções ou alternativas;
Implementação, em que são executadas as políticas;
Avaliação, em que ocorre a análise das ações tomadas.
Na teoria, são estas as fases que correspondem às Políticas Públicas, mas, na prática, tais
etapas se misturam entre si e nem sempre seguem a sequência proposta, sendo tal segmentação
mais significativa para uma melhor compreensão do assunto.
FORMAÇÃO DE AGENDA
Dada a impossibilidade de que todos os problemas existentes na sociedade sejam atendidos, pois os recursos necessários para
tal ação são escassos em relação à quantidade de problemas, a primeira fase correspondente à formação de agenda é necessária para
que sejam estipuladas as questões a serem discutidas pelo governo. Portanto, este processo de se estabelecer uma listagem dos
principais problemas da sociedade envolve a emergência, o reconhecimento e a definição dos problemas em questão e,
consequentemente, os que não serão atendidos.
O que vai determinar a inserção ou não inserção de um problema público em uma agenda? Dentre uma série de fatores, pode-
se citar por exemplo, a existência de indicadores ou dados, que mostram as condições de uma determinada situação; e o resultado
obtido com ações governamentais anteriores que apresentaram falhas nas providências adotadas. Os desdobramentos políticos (como
por exemplo, as mudanças de governo) também são poderosos formadores de agenda, pois isso está relacionado à visão dos políticos
eleitos sobre os temas que devem ou não receber prioridade.
Cabe ressaltar que, mesmo que uma questão seja listada na Agenda, isso não significa que terá prioridade em relação às outras,
pois tal prioridade ocorre com a junção de diversos fatores, como a própria vontade política, uma forte mobilização social e a
avaliação de custos para a resolução do problema em questão.
FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
A partir do momento em que os problemas são inseridos na agenda, é preciso planejar e organizar as alternativas que serão
colocadas em prática para a solução dos mesmos. É o instante em que se deve definir o objetivos das políticas públicas, as ações que
serão desenvolvidas e suas metas. Sendo assim, muitas propostas de ação são descartadas, o que provoca embates políticos, visto que
determinados grupos teriam tais ações – que foram deixadas de lado, favoráveis a eles.
Pode-se definir como necessários a uma boa formulação de políticas os seguintes passos: a transformação de estatísticas em
dados importantes para a solução dos problemas; identificação dos principais atores envolvidos e a avaliação das preferências dos
mesmos; e ação com base nas informações adquiridas.
A avaliação das alternativas deve acontecer de forma objetiva, levando-se em conta algumas questões, como viabilidade
financeira, legal e política, e também os riscos trazidos pelas alternativas em estudo. Desta forma, opta-se por aquelas que seriam
mais convenientes para o cumprimento do objetivo.
IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
É na implementação que os planos e escolhas são convertidos em ações, resultados. Durante este período, as políticas podem
sofrer diversas transformações dependendo da posição do corpo administrativo, que é o responsável pela execução da política.
Nesta fase, alguns elementos podem prejudicar o processo das políticas, como por exemplo: disputa pelo poder entre
organizações; contexto social, econômico e tecnológico das políticas; recursos políticos e econômicos; treinamento do setor
administrativo responsável pela execução e o apoio político à disposição. Embora seja mostrada uma carência de recursos frente às
necessidades públicas, por muitas vezes, os programas governamentais são falhos, havendo mais deficiência na gestão do que falta
de recursos propriamente dita. Dentre as disputas entre organizações, é interessante dizer que, quanto maior o número de

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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária

organizações estiverem envolvidas no processo de implementação das políticas – dependendo do nível de colaboração entre elas,
maior será o número de ordens a serem resolvidas, o que demanda maior tempo para a realização das tarefas.
Há dois modelos de implementação das Políticas Públicas: o de Cima para Baixo (modelo centralizado, aplicação do
governo para a sociedade) e o de Baixo para Cima (modelo decentralizado, aplicação da sociedade para o governo). No modelo de
Cima para Baixo, poucos funcionários participam das decisões e formas de implementação. Trata-se de uma concepção hierárquica
da administração pública, sendo tais decisões cumpridas sem indagações. No modelo de Baixo para Cima, os favorecidos pelas
políticas, atores públicos e privados, são chamados para participar do processo.
Para o desenvolvimento de um bom processo de implementação, é necessário que, dentre outros fatores: o programa disponha
de recursos suficientes; a política implementada tenha um embasamento teórico adequado em relação ao problema e a sua solução;
haja uma só agência implementadora ou baixo nível de dependência entre elas; exista completa compreensão dos objetivos a serem
atingidos, bem como das tarefas a serem realizadas; e ocorra aprimorada comunicação entre os elementos envolvidos no programa.
AVALIAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
Na avaliação ocorre o processo de coleta de dados e análise do programa adotado, o que permite a percepção dos erros e pode
levar ao aperfeiçoamento posteriormente. Portanto, esta fase: analisa os impactos, a eficiência, eficácia e sustentabilidade das ações
desenvolvidas; possibilita a correção, prevenção de erros e a criação de novas informações para futuras políticas públicas; permite
que a administração faça a devida prestação de contas das atitudes tomadas; responde se os resultados produzidos estão se saindo da
maneira esperada e identifica os obstáculos que dificultam o desenvolvimento do processo; além de fomentar a comunicação e a
cooperação entre os diversos atores.
Para se averiguar uma ação, a Avaliação deve responder se os resultados ocorreram em tempo viável, se os custos para a
produção foram adequados e se o produto corresponde aos objetivos da política, sendo estes requisitos relacionados à eficácia e
eficiência do desenvolvimento. Quanto ao impacto, deve-se analisar a relevância de tais modificações, as áreas afetadas e a
cooperação dos componentes políticos na obtenção de seus objetivos. Em relação à sustentabilidade, uma política deve manter seus
efeitos positivos após o fim das ações governamentais direcionadas a tal política.
Em relação aos responsáveis pela avaliação, pode-se dividir de duas formas: avaliação interna – feita pelos responsáveis pela
gestão do programa, e avaliação externa – feita por especialistas não participantes do programa. A avaliação interna é vantajosa no
sentido de que, por estarem incorporados ao programa, além de um maior conhecimento sobre tal, terão também acesso mais
facilitado às informações de que precisam. Já a avaliação externa conta com uma importante imparcialidade, o que gera uma maior
credibilidade em relação ao público externo, mas tem como desvantagem um gasto maior de tempo – e dinheiro, até que se habituem
com o objeto de estudo.
O fato da Avaliação ser colocada como a última fase, não quer dizer que ela deve ser utilizada apenas no fim da atuação
política. A avaliação pode/deve ser feita em todo o processo de Políticas Públicas, contribuindo para um bom desenvolvimento das
ações minimizando as chances de insucesso.
BUROCRACIA NO PROCESSO DE FORMULAÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO
Uma das definições de burocracia, é que trata-se de um grupo ou organização que, hierarquicamente, trabalha de maneira
usual, costumeira; entretanto, não pode ser vista como uma simples realizadora que está indiferente às resoluções políticas, pois é
composta por membros que possuem seus próprios interesses e que os mesmos fogem à neutralidade.
A burocracia possui um domínio da informação sobre o que ocorre nas ações públicas, tem uma fácil acessibilidade por meio
de contatos e consequente influência na estrutura administrativa (principalmente no processo de implementação), além de estar
disposta de uma forma permanente na organização da formulação e implementação das políticas públicas. Tais recursos
proporcionam à burocracia um papel de maior destaque do que é previsto nas avaliações tradicionais.
MODELOS DE TOMADA DE DECISÃO
Existem diversas maneiras de se considerar soluções em resposta aos problemas públicos. Destacam-se os
modelos: Racional(H. Simon), Incremental (Lindblom), Análise misturada (Etzioni) e Irracional (Cohen, March e Olsen).
Modelo Racional
Este modelo baseia-se no pensamento de que a racionalidade é imprescindível para a tomada de decisão. Considera as
informações perfeitas, as trata com objetividade e lógica e não considera as relações de poder. No modelo racional, primeiro se
estabelece um objetivo para solucionar o problema, depois se explora e define as estratégias para alcançar o objetivo, estimando-se
as probabilidades para tal, e por fim, a estratégia que parecer cabível é escolhida.
Modelo Incremental
O modo incremental situa-se na abordagem de racionalidade limitada, retratando as impossibilidades do racionalismo e
praticando o foco nas informações. É um modelo descritivo, reconhece que a seleção de objetivos depende dos valores e a
implementação estará sujeita a intervenções, visto que cada ator envolvido tem sua própria percepção do problema. Este modelo
considera que, por mais apropriado seja o fundamento de uma alternativa, a decisão envolverá relações de poder. Desta forma, a
decisão mais conveniente é formada a partir de um consenso e objetiva garantir o acordo entre as partes interessadas.
Modelo da Análise Misturada (mixed-scanning)
Este modelo combina características dos dois modelos anteriores. Dispõe uma racionalidade bidimensional e prevê dois níveis
de decisão: fundamentais, estratégicas e racionais em relação às decisões a seguir; e incremental, que consiste em uma comparação
das opções selecionadas de forma racional. Esta análise permite mais inovação do que o modo incremental, sem precisar impor o
processo radical do modo racional.
Modelo Irracional (lata de lixo)
Este modelo trata do processo de decisão em ambientes e objetivos ambíguos, que podem ser chamados de “anarquias
organizadas” e subverte a lógica solução-problema para problema-solução. Para os que defendem esta ideia, o processo de tomada

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de decisão é extremamente dúbio, imprevisível, e pouco se relaciona com a busca de meios para se alcançar os fins. Trata-se de uma
abordagem aberta, em que as decisões resultam dos seguintes elementos: problema, solução, participante e oportunidade; em que as
oportunidades são vistas como latas de lixo, em que problemas e soluções são jogados pelos participantes.
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL
Ainda na década de 20 o Brasil tinha grande parte de sua população vivendo no campo com uma
economia fortemente baseada na agricultura. Mas, em cerca de 70 anos, o país tornou-se um dos mais
importantes e influente país na área industrial e viu sua população migrar em massa para as cidades.
Em todos esses anos, os governos deram mais ênfase na industrialização e não acompanharam da mesma
forma as transformações na sociedade brasileira. O estado não desempenhava um papel regulador e
participativo, mas criava um governo autoritário que também refletia de maneira autoritária nas políticas
públicas brasileiras.
De caráter conservador, a política brasileira possui uma maneira peculiar para tratar as políticas sociais. O atendimento é
centralizado, ou seja, atendendo a interesses específicos. Mas o país possui necessidades diferentes em cada região e em alguns casos
elas acabam não sendo resolvidas da forma correta. São todas tratadas da mesma maneira e de forma massiva.
As políticas públicas deveriam ser criadas para distribuir de forma igualitária os recursos de caráter individual e social. Elas
seriam a garantia da qualidade de vida, uma vida desenvolvida de maneira agradável e digna. Entretanto, para ter essa qualidade de
vida é importante diversos fatores, como moradia, vestuário, educação, saúde, segurança e lazer.
A implementação de políticas públicas de qualidade no Brasil não costuma ser tão debatido pelos parlamentares do país. Além
disso, não é feito um estudo aprofundado do assunto e como esses processos podem ser implantados de maneira mais dinâmica e
eficiente. Muitas vezes as políticas públicas são confundidas como prestação de serviço do Poder Público aos cidadãos. Elas afetam
determinados grupos da sociedade fazendo com que o as atitudes governamentais realizadas ou não atinjam pessoas de diversos
grupos.
A partir da década de 30 o país modernizou-se e cresceu o número de direitos sociais. Em 1930 foi criado o Ministério do
Trabalho e anos mais tarde a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Ainda nessa década surgiram programas voltados aos
pagamentos de aposentadoria e pensões em diversas profissões.
Com a imposição da ditadura (intervenção militar) – grifo nosso - pelo governo militar, muitos direitos civis, sociais e
políticos foram retirados da população brasileira. Foram criados o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e o Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). Na década de 1970 foi criado o Ministério da Previdência que atuava na área de saúde e
na área social.
Apesar de muitas medidas criadas e programas sociais voltados a população, essas decisões eram baseadas no
assistencialismo, na corrupção e na ineficiência desses processos. Ou seja, havia muitos recursos para as políticas sociais, mas eles
eram desviados e por isso passou-se a investir mais no sistema privado (educação e saúde privada, por exemplo).
A partir da Constituição de 1988 o Brasil passou a investir menos nas políticas públicas com o aumento da dependência
internacional, o crescimento da desigualdade social, da pobreza e exclusão. As atuais políticas públicas brasileiras não conseguem
reverter a desigualdade e investem, em sua maioria, em pequenos grupos sociais. Para a população pobre são criadas políticas de
compensação no intuito de “distrair” para os verdadeiros problemas.
Com a abertura democrática brasileira, a descentralização teve apoio no intuito de aumentar os direitos sociais e a participação
da sociedade no processo decisório. Nesse período a população necessitava de mais recursos e mostrava sinais de crescimento, mas
era impedida pelos problemas econômicos em um país refém da inflação.
Apesar de ter sido implementada como uma forma de garantia dos direitos sociais dos brasileiros, a Constituição Federal de
1988, tem sido pouco eficaz quando se trata do bem-estar da população. Facilitou o acesso a diversos serviços essenciais, mas não se
preocuparam com a questão financeira. O objetivo era reduzir a desigualdade do Brasil.
Essa constituição é considerada redistributiva e instiga o Governo Federal a tornar as necessidades sociais e políticas públicas
eficazes. No início da década de 90 o Governo Federal deixou de ser o principal provedor e passou a fiscalizar entidades que
ofereciam determinados serviços para a sociedade. São diversos programas sociais de caráter municipal, estadual e federal e muitas
vezes eles não são compatíveis entre si. Essa incompatibilidade acaba virando uma desvantagem para a população que necessita
dessa ajuda.
Os gestores públicos ainda não conseguiram identificar as reais necessidades básicas dos cidadãos. Por mais que se ouça dos
políticos promessas relacionadas a erradicação de muitas mazelas, como a pobreza, os programas e atitudes relacionadas a isso ainda
são muito ineficientes. Muitas vezes as soluções são distribuídas entre a população, mas de forma desordenada.
O grande mistério, quando se observa a desigualdade no Brasil, é que o país possui uma das maiores economias do mundo.
Tal situação pode ser explicada pelo atraso político da população brasileira que muitas vezes teve seu voto influenciado por
militares, coronéis e políticos mal intencionados.
Nas últimas décadas o Brasil tem desempenhado novas atividades relacionadas ao caráter público. É necessária uma
articulação e engajamento da sociedade para debater as propostas de políticas públicas em todo o país. O Estado desempenha um
papel importante para o desenvolvimento social e estrutural do Brasil e é para ele que devem ser direcionadas as cobranças
dos setores sociais do país.
Características das políticas públicas no Brasil
Uma das características relevantes nas políticas públicas brasileiras é a fragmentação. Muitas vezes essa fragmentação causa
problemas pois há muitas divergências entre determinadas agências de controle quando o assunto é burocrático. Outra característica
das políticas públicas brasileiras é a descontinuidade administrativa, em que as agências responsáveis pelas políticas públicas

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muitas vezes pensam nas políticas públicas de acordo com o interesse de seus gestores. Levando isso em consideração, a cada
mudança de cargo, muda-se as políticas implantadas.
Outra característica está ligada principalmente as políticas sociais e dão preferência para o que é ofertado sem considerar as
necessidades dos beneficiados. Essa situação resulta em problemas ligados a credibilidade governamental, frustração dos cidadãos,
desperdícios, etc. Um outro ponto relevante é a separação de política econômica e política social. Nesse caso a política social assume
um papel secundário. Um outro aspecto importante é a focalização e a seletividade, baseados nos direitos universais.
Novos Arranjos para as Políticas Públicas
A partir da década de 1990 foram realizadas tentativas para criar políticas públicas universais e estáveis. Surgiram leis como
a Lei Maria da Penha, Estatuto da Criança e do Adolescente e o Estatuto do Idoso. Além disso, foram introduzidos benefícios
sociais como o bolsa família e bolsa escola. Muitas dessas conquistas são resultados de organizações montadas pelos civis através de
referendos, protestos e manifestos. Seria importante que as políticas públicas fossem integradas para um único propósito. No entanto,
o que se vê atualmente é um processo fragmentado.
Apesar dessa situação, nos últimos tempos a administração das políticas públicas se tornaram mais democráticas, com o
Estado desenvolvendo um papel mais próximo da sociedade. Começa a ser trabalhada uma política menos centralizada em que a
população participa com mais empenho e importância nas políticas públicas brasileiras. Os políticos tentam agora desenvolver
métodos para decisões compartilhadas.
Intersetorialidade
A intersetorialidade busca ultrapassar os resultados das políticas sociais e os problemas enfrentados pela população para ter
acesso aos serviços públicos. Esse caso atribui a ideia de associação e igualdade dos direitos sociais dos cidadãos.
Descentralização
A descentralização é um dos processos que podem ser identificados após a Constituição Federal de 1988. Nos âmbitos
governamentais (União, Estados e Municípios) possuem habilidades e recursos para instituir novas políticas públicas para a garantia
dos direitos dos cidadãos. Ou seja, muitas vezes, os estados e municípios deliberam decisões através de necessidades próprias.
Tipos de Políticas Públicas
As políticas públicas podem ter vários objetivos e particularidades distintas. São muitos tipos de Políticas
Públicas e apresentaremos os principais modelos que auxiliam na compreensão dos conceitos relacionados as
Políticas Públicas. A princípio, política pública são as atitudes tomadas ou não pelo governo e os impactos dessas
ações e omissões.
Nesse tipo de política, busca-se compreender o que se quer fazer e o que deixou de ser feito. Além disso,
podem explanar regras para ação e solução de possíveis problemas.  Sendo assim, as políticas públicas podem ser divididas, pelo
menos, em três tipos:
➢ Políticas Públicas Distributivas;
➢ Políticas Públicas Redistributivas;
➢ Políticas Públicas Regulatórias.
Políticas Públicas Distributivas
As políticas públicas distributivas possuem objetivos pontuais relacionados ao oferecimento de serviços do estado e
equipamentos. Esse caso é financiado pela sociedade por meio de um orçamento público que beneficia grupos pequenos ou
indivíduos de distintas camadas sociais. Esse tipo de política possui pouca oposição na sociedade, mas não é dada universalmente a
todos.
É muito comum no Brasil o uso desse tipo de política e é bastante desenvolvido pelo  Poder Legislativo. Primeiramente
porque a camada mais pobre da população brasileira apresenta necessidades individuais e pertinentes devido a falta de recurso para
todos e também porque elas representam a força daquele político que troca esse assistencialismo por votos.
Exemplos:
- A doação de cadeiras de rodas para deficientes físicos;
- Oferta serviço para pavimentação de ruas.
Entretanto, nem toda política distributiva pode ser considerada assistencialista, mas no Brasil é muitas vezes usado em época
eleitoral. Casos de enchentes, por exemplo, são denominadas distributivas, mas não podem ser chamadas de assistencialista ou
clientelistas.
Passaram a aplicar essas políticas de uma maneira mais igualitária após a criação das LOAS – Lei Orgânica de Assistência
Social, criada em 1988, que dá sustentação legal a assistência social. Após a criação das LOAS os programas de assistência social
devem ser contínuos, os cidadãos devem ter acesso aos serviços, os cidadãos devem exigir os direitos reservados por lei e dá
autonomia para os usuários.
Políticas Públicas Redistributivas
Esse tipo de política pública visa redistribuir a renda em forma de financiamento em serviços e equipamentos e na forma de
recursos. Nesse caso, as camadas mais altas da sociedade são as responsáveis por financiar as pessoas rendas menores, os chamados
beneficiários.
Exemplos:
- Isenção do IPTU para determinados cidadãos em detrimento ao aumento desse imposto para pessoas com maior poder
aquisitivo;
- Programas habitacionais para população de baixa renda.
As políticas redistributivas atingem uma grande parte da população e são vistas como direitos sociais. Nesses casos as
chances de discordância são maiores, pois a parte da população que é “penalizada”, costuma ser mais organizada politicamente.

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Muitos governos realizam a redistribuição desses valores não só na forma financeira, mas também como serviços disponibilizados pelo
governo como forma de reduzir a resistência dessas camadas da sociedade.
Políticas Públicas Regulatórias
As políticas regulatórias são criadas para avaliar alguns setores no intuito de criar normas ou implementar serviços e
equipamentos. É essa política a responsável pela normatização das políticas distributivas e redistributivas, ou seja, está mais
relacionada à legislação. Esses casos atingem pequenos grupos da sociedade é não exatamente um grande grupo social. Ou seja, elas
incidem de maneira diferente em cada segmento social. Grande parte da sociedade não tem ciência do que são as  políticas
regulatórias e muitas vezes só reclamam quando são prejudicados de alguma forma.
Exemplo:
-Limitação das vendas de determinados produtos.
Política e Políticas Públicas
A política é exercida há muitos anos pelos homens e em poucos países no mundo existe uma desigualdade tão grande como a
encontrada no Brasil. Onde as pessoas não conseguem exercer sua cidadania e são diariamente confrontadas com a falta de dinheiro,
saúde, moradia e educação. A princípio grande parte do governo brasileiro surge com soluções gerais e emergenciais para sanar
alguns desses problemas em vez de implantar políticas públicas no intuito de reduzi-los.
As políticas públicas atualmente não são feitas para cuidar dos problemas e necessidades mais urgentes da população. São
usadas como ações imediatas para conquistar o eleitor que não consegue opinar na divisão orçamentária. Os políticos não pensam
em ações que mudam uma sociedade para sempre e optam pelo caminho mais fácil ao prometer, ainda em campanha, milhares de
resoluções que muitas vezes nem são capazes de cumprir.
A forma despreocupada com que o país é administrado causa descrença na população, pois ela não vê o orçamento sendo
investido no que realmente é necessário. Para a esfera pública, o que é realizado hoje para as áreas de saúde, educação e moradia é
o necessário para o crescimento da população. Entretanto, muitos municípios sofrem diariamente com a falta de oferta das
necessidades básicas garantidas pela Constituição Federal. A implantação de melhorias nas políticas públicas é essencial para
aumentar a qualidade de vida dos brasileiros e índices como o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
Disponível em:<http://www.okconcursos.com.br/apostilas/apostila-gratis/134-politicas-publicas/1156-
tipos-de-politicas-publicas#.XN4hv25Kg2w >. Acesso em 17 maio 2019.
1.1.1. Políticas públicas: formulação, implantação, avaliação e acompanhamento
POLÍTICAS PÚBLICAS NA ÁREA DE SEGURANÇA
Nas duas últimas décadas, o Brasil presenciou uma crescente preocupação com as questões relativas à segurança pública e à
justiça criminal. Uma verdadeira obsessão securitária refletiu-se num nível jamais visto de debates públicos, de propostas legislativas
e de produção acadêmica.
Esta última se debruçou sobre as práticas de segurança e de justiça, ao menos no contexto da redemocratização do país.
Não obstante, pouco tem sido feito, no âmbito político, para que se tornasse tangível uma efetiva reforma dessas instituições,
tendo como preâmbulo pesquisas e conhecimentos provenientes tanto da maior participação coletiva na formulação, implantação e
acompanhamento de políticas públicas, quanto da disponibilidade sem precedentes de pesquisadores aptos a discutir com o universo
da política e das instituições criminais as alternativas de reforma, dentro de um contexto de aumento do quantum de cidadania e
participação democrática.
Em outros termos, como bem lembrou Paulo Sérgio Pinheiro, a redemocratização política do Brasil não foi ainda capaz de
lançar suas luzes sobre as práticas de nossas instituições criminais – estas, ao contrário, parecem resistir à democratização, formando
um enclave autoritário no cerne mesmo do Estado democrático.
A violência letal, a superlotação dos presídios, rebeliões e mortes, os horrores vividos pelos jovens em instituições como a
Febem, o virtual abandono das instituições manicomiais sem a contrapartida de um atendimento ambulatorial, o desalento e a
descrença nas medidas de recuperação dos presos e de cura dos esquecidos dos manicômios judiciários, a tortura em delegacias de
polícia e a eterna lentidão e alheamento das autoridades judiciárias são faces terríveis que apontam para uma crise de longa data em
nosso sistema criminal.
Neste momento, estamos nos perguntamos sobre as razões para todas estas dificuldades e vendo, por toda parte, a expansão
da segurança privada, a disseminação de dispositivos eletrônicos de segurança, o aumento do sentimento de insegurança e a
constituição de verdadeiros enclaves fortificados em que a tolerância em relação às violações das liberdades civis corre de par com a
aceitação das hierarquias e das múltiplas faces da exclusão social.
Disponível em: <http://www.observatoriodeseguranca.org/seguranca/politica> . Acesso em 07 de ago de 2018.
Definição de Políticas Públicas
É muito difícil responder a esta pergunta simples, porque Política Pública é um conceito abstrato, que se materializa por meio
de instrumentos diversos. Esses instrumentos podem ser programas, projetos, leis, rotinas administrativas, etc.
No caso das Políticas Públicas de Segurança, a instalação de uma unidade policial, a construção e gestão de uma unidade
prisional e o desenvolvimento de oficinas culturais podem ser percebidas como formas de operacionalização de uma Política Pública.
Mas ainda na tentativa de definir melhor o que seria uma Política Pública, é possível perceber que, de uma maneira geral, as
Políticas Públicas são decisões, ou processos decisórios, que envolvem questões de ordem pública, ou seja, que envolvem um
problema público.
Esses processos decisórios buscam atender ao interesse de uma coletividade, ou seja, de um grupo. Em tese, espera-se que
esse grupo seja toda a sociedade, mas sabe-se que muitas vezes, no interior da sociedade, há interesses diferentes, algumas vezes
divergentes.
No contexto de um Estado Democrático de Direito, esses processos decisórios buscariam atender ao interesse de uma

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coletividade, orientando-se pela legalidade e pela mediação de interesses entre os diversos grupos presentes em uma sociedade.
O processo decisório envolvido na definição e implementação de uma política pública é altamente complexo, e por isso, é
difícil estabelecer uma sequência linear e racional entre suas etapas. Entender as Políticas Públicas como um processo decisório é
também muito importante: muitas vezes ouvimos pessoas simplificando o processo de criação de uma Política Pública. É comum
ouvir pessoas dizendo: “ah, resolver os problemas da criminalidade e violência é fácil. E só prender os criminosos! E só
contratar mais policiais!”
Quando se entende Políticas Públicas como processo fica claro que a solução para um problema público não é dada por uma
única decisão. Ou seja, para se prender criminosos é necessário:
• construir presídios;
• ter leis que determinem uma conduta como crime;
• estruturar um Sistema de Justiça capaz de garantir um julgamento justo;
• pensar se o fato social que se está criminalizando deve mesmo ser penalizado.
Isto é, deve-se pensar se a prisão de pessoas que comentem este tipo de conduta implicará, de fato, na redução do problema
da criminalidade e violência, etc.
Tipos de Políticas Públicas
Com o intuito de contribuir com a análise das políticas públicas, foram desenvolvidas tipologias, que nada mais são do que
formas de classificar os conteúdos, os atores, os estilos e as instituições - dentro de um processo de política pública.
Dentre as várias tipologias de conteúdo das políticas públicas apresentadas por Secchi (2013), merece destaque àquela
formulada por Theodore J. Lowi. A tipologia de Lowi baseia-se no critério de “impacto esperado na sociedade”. Segundo esse
critério, as políticas públicas podem ser classificadas em quatro tipos, saiba mais sobre elas:
Políticas regulatórias: Estabelecem padrões de comportamento, serviço ou produto, para atores públicos e privados. Exemplos desse tipo
de políticas são: os códigos de trânsito, as regras de tráfego aéreo, a proibição de fumo em locais fechados, a proibição de venda e consumo de
bebidas alcoólicas, e as regras para publicidade de certos produtos.
Políticas distributivas: Geram benefícios concentrados para alguns grupos de atores e custos difusos para toda a
coletividade/contribuintes. Exemplos desse tipo de política pública são: os subsídios, a gratuidade de taxa para certos usuários de serviços públicos,
incentivos ou renúncias fiscais, etc.
Políticas redistributivas: Concedem benefícios concentrados a algumas categorias de atores e implicam custos concentrados sobre outras
categorias de atores. Exemplos clássicos são: as cotas raciais para universidade, políticas de benefícios sociais ao trabalhador e os programas de
reforma agrária.
Políticas constitutivas: São “regras sobre os poderes” e “regras sobre as regras”, ou seja, são aque las políticas que definem as
competências, jurisdições, regras de disputa política e da própria elaboração de políticas públicas. Podemos citar como exemplos: as regras do
sistema político-eleitoral; a distribuição de competências entre poderes, esferas e instituições; as regras das relações intergovernamentais e as regras
da participação da sociedade civil em decisões públicas.
Sechi (2013) chama a atenção para o fato de que o analista de políticas públicas pode realizar sua análise utilizando uma das
tipologias já consolidadas na literatura (aplicação dedutiva) ou então pode construir sua própria tipologia (desenvolvimento indutivo).
O desenvolvimento indutivo de tipologias se baseia na capacidade do pesquisador em estabelecer um critério diferente para a
verificação de uma variável ou estabelecer novas categorias analíticas para classificação dos fenômenos.
Especificamente no campo de análise das políticas de segurança pública, merece destaque o sistema de classificação proposto
por Filocre (2010) que distingue as políticas nas categorias descritas no quadro a seguir:
Maximalista: É aquela política que enfatiza a adoção de combinações de tipos de ações estatais. Nela, a ação policial é importante, mas
não suficiente, e deve estar conjugada com outras atividades.
Minimalista: Nesse tipo de política, a atuação estatal é fortemente focada em um ou poucos tipos de ações estatais de controle da
criminalidade. Exemplo dessa política é a que enfatiza exclusivamente a ação policial.
Geral (Abrangente): Esse tipo de política prevê uma mesa estratégia sobre todo um território.
Local: Esse tipo de política estabelece ações particularizadas de acordo com as necessidades específicas do território.
Distributiva: Esse tipo de política compreende intervenções estatais de baixo grau de conflito, uma vez que um grande número de
indivíduos se beneficia das ações.
Redistributiva: Esse tipo de política foca o deslocamento de recursos para beneficiar certas cama das ou grupos sociais, gerando
descontentamento e conflito em relação àqueles que arcam com seus custos.
Reguladora: Esse tipo de política é baseada em ordens e proibições. Frequentemente, seus objetivos são evitar comportamentos
considerados negativos.
Constitutiva (Estruturadora): Esse tipo de político refere-se à criação e modelação de instituição, bom como à determinação e
configuração dos processos de negociação, de cooperação e de consulta entre os atores políticos.
Estrutural: É aquela política que visa impactar a ordem pública mediante ações sobre macroes truturas econômicas. Normalmente
demanda longo prazo para operar efeitos e estes efeitos tendem a ser duradouros.
Tópica (Superficial): É aquela política que visa impactar a ordem pública mediante ações sobre condições imediatas. Serve especialmente
a ocasiões de pronta resposta a variação indesejada da criminalidade. Os resultados são colhidos no curto prazo, mas seus efeitos, normalmente não
perduram além do tempo necessário ao reequilíbrio da criminalidade.
Emergencial: É uma política para implementação em curto espaço de tempo e com efeitos imediatos.
Contínua: É uma política que prevê atuação ao longo do tempo, ou seja, considera que a ordem pública seja alcançada e mantida ao longo
de um processo.
Multissetorial: Esse tipo de política compreende ações distribuídas por diversos segmentos, públicos ou privados, seja quanto a órgãos
estatais ou outros agentes envolvidos, seja no que diz respeito a áreas de atuação - educação, família, sistema prisional, etc.
Específica: Esse tipo de política compreende ações acentuadas num único setor ou se vale da atuação destacada de um único órgão.

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A redemocratização e novos arranjos institucionais de gestão de políticas públicas


A Constituição Federal de 1988 colaborou para uma relativa descentralização da gestão de algumas políticas públicas,
refletindo o argumento segundo o qual governos municipais são percebidos como polos de virtuosidade democrática e eficiência de
gestão. Este argumento foi desenvolvido em oposição ao autoritarismo centralizador vivenciado durante o Regime Militar.
A redemocratização do país marcou um novo momento do arranjo federativo brasileiro. A valorização dos municípios pode
ser percebida pelo reconhecimento desta instância, pela primeira vez na história, como um ente federativo. Se de um lado o
fortalecimento de governos estaduais e municipais era um aspecto deste argumento que correlacionava descentralização e
modernização, de outro, elementos como instrumentos de gestão nacional e coordenação federativa ficaram em segundo plano na
construção do novo arranjo federativo brasileiro (ABRUCIO, 2005, p.46).
Ou seja, muito embora tenha ocorrido uma valorização dos governos estaduais e municipais, se compararmos o papel que
estes atores passaram a desempenhar com o que desempenhavam durante o Regime Militar, não houve a criação de mecanismos que
garantissem uma coordenação da ação destes atores, que passaram a compartilhar responsabilidades na execução de políticas
públicas.
A divisão de competências, a definição do papel de cada ente federado (União, estado e município) não ocorre de forma clara
em grande parte das políticas públicas. Em alguns casos, verifica-se a concorrência entre competências (NEVES; JUNQUEIRA E
VECCHIA, 2006).
Importante!
Segundo Arretche (2004) “Os constituintes de 1988 optaram pelo formato de competências concorrentes para a maior parte
das políticas sociais brasileiras (...). Assim, qualquer ente federativo estava constitucionalmente autorizado a implementar programas
nas áreas de saúde, educação, assistência social, habitação e saneamento. Simetricamente, nenhum ente federativo estava
constitucionalmente obrigado a implementar programas nestas áreas (...).
Esta distribuição de competências é propiciada para produzir os efeitos esperados pela literatura sobre federalismo e políticas
públicas: superposição de ações; desigualdades territoriais na provisão de serviços; e mínimos denominadores comuns nas políticas
nacionais.” (ARRETCHE, 2004, p. 22).
1.1.1.2 – A participação da União na gestão das Políticas Públicas de Segurança no Brasil
No caso das Políticas Públicas de Segurança, nos primeiros anos que se seguiram à promulgação da Constituição Federal de
1988, observa-se um protagonismo dos governos estaduais, atuantes principalmente por meio de suas forças policiais, em contraste
com certo distanciamento dos governos municipais e federal.
A participação do Governo Federal em questões relativas à Segurança Pública após a Constituição Federal de 1988 era
indireta, com maior destaque para o estabelecimento de normas e dinâmicas de funcionamento destas políticas.
Soares (2007), destaca a importância do primeiro governo FHC (1995-1998) na ruptura deste silêncio, por meio da
consolidação de princípios democráticos e da modernização das políticas de Segurança Pública. Essa participação do Governo Federal
ganha contornos mais claros com a criação da Secretaria de Planejamento de Ações Nacionais de Segurança Pública (SEPLANSEG)
em 1995. Essa Secretaria era vinculada ao Ministério da Justiça e contribuiu para uma primeira tentativa de articulação dos governos
estaduais e federal na condução das políticas estaduais de Segurança Pública.
A SEPLANSEG foi reformulada em 1997 dando origem à Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) que, dentre
outras atribuições, assumia a responsabilidade de definição e implementação de uma política nacional de Segurança Pública,
acompanhando as atividades desenvolvidas pelos atores institucionais envolvidos nesta política (Freire, 2009:105).
A SENASP buscou estabelecer condições para cooperação entre instituições de Segurança Pública, apoiando iniciativas de
qualificação profissional e fomentando o desenvolvimento de planos estaduais de Segurança Pública, dentre outras ações.
As intervenções desenvolvidas durante o segundo Governo FHC (1999-2002) foram orientadas pela criação, em 2001, do primeiro
Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP) e do Fundo Nacional de Segurança Pública (FNSP), que tinha o objetivo de desenvolver
e financiar políticas públicas. Essas ações foram uma resposta à comoção social gerada pelo sequestro do ônibus 174, acontecido em
junho de 2000, no Rio de Janeiro, conforme ressaltado por Sapori (2006).
A partir da instituição do Fundo Nacional, os governos estaduais passaram a receber recursos para o financiamento de
projetos específicos submetidos à SENASP, dentro das diretrizes previamente formuladas no Plano Nacional. Apesar desta tentativa
de atuação mais expressiva do Governo Federal, autores como Soares (2007) apontam que a ausência de diretrizes claras e
sistematizadas colaborou para que o FNSP financiasse intervenções tradicionais, ou seja, orientadas por ações repressivas e
militarizadas.
O primeiro Governo Lula (2003-2006) desenvolveu sua própria versão do Plano Nacional de Segurança Pública (PNSP),
denominado “Projeto de Segurança Pública para o Brasil”, incorporando novos elementos, como: a consolidação de mecanismos de
controle externo das forças policiais, a tentativa de inserção do poder público municipal em ações de caráter preventivo, fomento às
guardas municipais, dentre outras ações.
O Plano Nacional de 2003 enfatizava uma postura proativa por parte da SENASP, na medida em que o governo federal
deixava claro que tinha diretrizes e objetivos próprios no âmbito da segurança pública, e que os recursos do FNSP passariam a ser
distribuídos mediante o atendimento desses critérios. Isso se traduz numa cobrança mais rígida junto aos estados no sentido da
construção de políticas assentadas nas diretrizes do Plano Nacional (SAPORI, 2006).
Além disto, esta nova versão do PNSP inovou ao assumir a gestão de arranjos institucionais existentes como principal desafio para
implementação de políticas de Segurança Pública (SAPORI e ANDRADE, 200, p. 205). A normatização do Sistema Único de

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Segurança Pública (SUSP) se apresentava como o fio condutor dessa nova versão do PNSP. A criação do SUSP em 2003 buscou
intensificar a articulação e cooperação de atores institucionais envolvidos na arena de política de Segurança Pública, inspirando-se na
experiência do Sistema Único de Saúde (SUS).
Apesar da tentativa de avanço, o SUSP não desenvolveu uma estratégia de redefinição institucional de modo a viabilizar a
execução de suas ações, restringindo-se à defesa de uma maior integração entre as organizações policiais estaduais e dessas com as
instituições federais, além dos órgãos do sistema de justiça criminal, como Ministério Público e Poder Judiciário.
Entre as ações propostas, destacam-se a criação de:
- academias policiais unificadas
- órgãos de informação e inteligência unificados
- corregedorias de polícia únicas
- ouvidorias de polícia autônomas e independentes
No que se refere à integração das demais instituições do sistema de justiça criminal, o modelo apre sentava a diretriz de
formação de Gabinetes de Gestão Integrada (GGI) (SAPORI e ANDRADE, 2005, p. 207).
Conforme observa Sapori (2006), o sistema de segurança pública proposto pelo SUSP acabou se mostrando bastante modesto
se comparado ao SUS, e não resolveu um dos problemas centrais da área: a inexistência de recursos orçamentários vinculados.
Assim, frustrou-se a expectativa de que o Plano Nacional se constituiria numa grande inovação institucional. Como consequência,
enquanto a política nacional avançou na concepção programática, o mesmo não se deu quanto à liberação de recursos do Fundo Na -
cional. O ritmo do repasse financeiro para os estados diminui progressivamente, revelando uma desconexão entre o proposto e o
executado (SAPORI, 2006, p.112).
Apesar das críticas mencionadas anteriormente, inúmeros avanços foram propiciados pela gestão da SENASP nesse período,
conforme você estudará a seguir:
a) a instituição e reformulação da Matriz Curricular Nacional: desenvolvida em 2003, a Matriz se constitui em referencial
teórico-metodológico para orientar as atividades formativas dos profissionais no âmbito do SUSP – Polícia Militar, Polícia Civil,
ITEP e Bombeiros Militares – independentemente da instituição, nível ou modalidade de ensino.
Em 2005, a matriz sofreu sua primeira revisão, quando foram agregados ao trabalho realizado pela SENASP outros dois
documentos: as diretrizes pedagógicas para as atividades formativas dos profissionais da área de segurança pública - um conjunto de
orientações para o planejamento, acompanhamento e avaliação das atividades formativas - e a malha curricular - um núcleo comum
composto por disciplinas que congregam conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais. Em 2009, foi feita mais uma revisão.
Em 2010, após uma avaliação, foram realizadas mudanças no texto da Matriz Curricular Nacional.
Saiba mais:
• Além de nem sempre ser eficaz na tarefa de promover a convivência pacífica, muitas vezes o Estado é um promotor da
violência da sensação de insegurança.
• O Sistema Único de Segurança Pública (SUSP) preconiza que “ações concretas para a prevenção e redução da violência nos
estados serão prioritárias”. Com estratégia para alcançar este objetivo o SUSP propõe a consolidação da Polícia Comunitária
nas instituições policiais
• Administração pública é o conjunto de órgãos e seus agentes que exercem a função administrativa.
• Administração pública é um conceito da área do direito que descreve o conjunto de agentes, serviços e órgãos instituídos pelo
Estado com o objetivo de fazer a gestão de certas áreas de uma sociedade, como Educação, Saúde, Cultura, etc.
1.1.1.3. Planos de segurança pública (instâncias: federal, distrital e estadual);
Federal:
Texto fixa duração de dez anos para Plano Nacional de Segurança Pública e Defesa Social
O Projeto de Lei 3734/12, aprovado nesta quarta-feira (11) pelo Plenário da Câmara dos Deputados, prevê a criação do Plano
Nacional de Segurança Pública e Defesa Social para promover a melhora da qualidade da gestão das políticas do setor e priorizar
ações preventivas e fiscalizatórias de segurança interna, nas divisas, fronteiras, portos e aeroportos.
O plano terá ainda de assegurar a produção de conhecimento no tema e a avaliação dos resultados das políticas de segurança
pública, contribuindo para a organização dos conselhos de Segurança Pública e Defesa Social.
De acordo com o substitutivo do deputado Alberto Fraga (DEM-DF), o plano nacional terá duração de dez anos. As ações de
prevenção à criminalidade serão prioritárias, e as políticas públicas de segurança não serão restritas aos integrantes do Sistema
Único de Segurança Pública (Susp), devendo considerar um contexto social amplo e abranger outras áreas do serviço público, como
educação, saúde, lazer e cultura.
No caso dos estados, do Distrito Federal e dos municípios, eles terão até dois anos para elaborar seus planos correspondentes,
sob pena de não poderem receber recursos da União para a execução de programas ou ações no setor.
Avaliações
A União, em articulação com os outros entes federados, fará avaliações anuais periódicas sobre a implementação do plano
nacional com o objetivo de verificar o cumprimento das metas e elaborar recomendações aos gestores.
A primeira avaliação será feita no segundo ano de vigência da futura lei, com acompanhamento do Legislativo federal.
Diretrizes dos planos
O texto define ainda as diretrizes para a elaboração e execução dos planos, como adoção de estratégias de articulação entre
os órgãos públicos, entidades privadas, corporações policiais e organismos internacionais.
Os planos terão de integrar programas, ações, atividades e projetos de várias áreas de atuação dos governos, além de
viabilizar a ampla participação social na formulação, implementação e avaliação das políticas de segurança.

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Poderão ser previstos programas articulados com as escolas, a sociedade e a família para a prevenção da criminalidade. Uma
das possibilidades é incentivar a inclusão da disciplina de prevenção da violência nos conteúdos curriculares dos diversos níveis de
ensino.
Conselhos
No âmbito de todos os entes federados, poderão ser criados conselhos permanentes de Segurança Pública e Defesa Social.
O Conselho Nacional de Segurança Pública e Defesa Social terá a participação de representantes da União, dos estados, do
Distrito Federal e dos municípios.
No caso dos conselhos municipais, eles poderão ser descentralizados ou congregados por região para melhor atuação e
intercâmbio comunitário, mas, em todo caso, contarão com representantes da sociedade civil organizada e dos trabalhadores.
Os conselhos terão de levar em consideração aspectos como as condições de trabalho, o atingimento de metas, o resultado
célere na apuração de denúncias pelas corregedorias e o grau de aceitabilidade e confiabilidade do órgão pela população por ele
atendida.
Fraga definiu também no texto que, além de representantes governamentais dos órgãos integrantes dos conselhos terão
integrantes do Judiciário, do Ministério Público, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), da Defensoria Pública, de entidades e
organizações da sociedade ligadas ao tema e de entidades de profissionais de segurança pública.
Os membros terão mandato de dois anos, permitida uma recondução.
Princípios
Entre os princípios listados pelo texto para a atuação dos órgãos integrados ao SUSP3 destacam-se a proteção dos direitos
humanos; o respeito aos direitos fundamentais e promoção da cidadania e da dignidade do ser humano; a resolução pacífica de
conflitos; o uso proporcional da força; a participação e o controle sociais; e a proteção, valorização e reconhecimento dos
profissionais de segurança pública.
Quanto às diretrizes, podem ser citadas o atendimento imediato ao cidadão; o uso de sistema integrado de informações e
dados eletrônicos; o incentivo a programas com foco na promoção da cultura da paz; e o fomento a políticas públicas de reinserção
social de ex-presos.
Disponível em: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SEGURANCA/555815-TEXTO-FIXA-DURACAO-DE-DEZ-
ANOS-PARA-PLANO-NACIONAL-DE-SEGURANCA-PUBLICA-E-DEFESA-SOCIAL.html Acesso em 10 de ago de 2018.
Estadual
Plano Estratégico de Segurança Pública do RN 2017-2020
Visando melhorar cada vez mais a atuação das forças de segurança do rio grande do norte, foi lançado pelo governo do
estado, por meio da secretaria de estado de segurança pública e da defesa social (sesed), o plano estratégico da segurança do RN
(PLANESP) - que pode ser conferido neste link - para o biênio 2017 a 2020. O investimento será de aproximadamente R$
255.000.000,00 divididos entre recursos da União e do tesouro estadual.
O plano foi norteado a partir do diagnóstico feito pelo sociólogo José Luiz Ratton, da Universidade Federal de Pernambuco
(UFPE) e é resultado do projeto Governança Inovadora que tem como meta reduzir os índices de criminalidade e ampliar a sensação
de segurança no estado e de uma comissão composta por representantes de órgãos que compõe a segurança pública do estado.
Objetivos do Plano
- Reduzir os índices de criminalidade com iniciativas como: fortalecimento da DHPP, programa de redução de homicídios,
criação de programas de prevenção da violência voltada à juventude, reformar e qualificar delegacias especializadas no atendimento à
mulher, ampliar e fortalecer o programa Ronda cidadã.
- Fomentar a cidadania, a responsabilidade e a participação social, por meio de iniciativas como: ampliar o Programa Ronda
Escolar por Batalhão da PM, reestruturar o PROERD Elaborar e implementar o Programa Policial Educador.
- Promover o reconhecimento e o desenvolvimento de competências gerenciais e técnicas com iniciativas como: estabelecer
convênios com instituições de ensino visando cursos de formação, capacitação e aperfeiçoamento de policiais civis e militares, peritos
oficiais criminais e bombeiros militares; construir o Centro Integrado de Formação dos profissionais de Segurança Pública, criar e
implantar uma política de reconhecimento com incentivos e protocolos pelo cumprimento das metas.
Disponível em:<http://www.defesasocial.rn.gov.br/Conteudo.asp?TRAN=ITEM&TARG=166-
187&ACT=&PAGE=0&PARM=&LBL=Programas>. Acesso em 10 de ago de 2018.
Veja os links:
http://justica.gov.br/news/politica-nacional-de-seguranca-publica/minuta_pnasp.pdf
http://www.justica.gov.br/news/plano-nacional-de-seguranca-preve-integracao-entre-poder-publico-e-sociedade/pnsp-06jan17.pdf
http://www.justica.gov.br/news/plano-nacional-de-seguranca-preve-integracao-entre-poder-publico-e-sociedade
1.1.3. Análise de cenários e perspectivas da segurança global e local;
Esta aula criará condições para que você possa compreender por que a magnitude da violência urbana no Brasil é uma das
mais elevadas no mundo. Além disso, é importante que o aluno tenha em mente que não há tendência global de crescimento da
violência. O mundo como um todo não está sofrendo com o crescimento das taxas de homicídios. Em diversos países importantes,
ao contrário, o que se verifica é a redução da violência urbana.
1.1.3.1. - Entre os países mais violentos do mundo.
Referenciando-se em parâmetros internacionais, pode-se afirmar que a taxa de homicídios no Brasil é bastante elevada.
Cerca de 40% dos países no mundo têm taxas inferiores a 3 homicídios por 100 mil habitantes, ao passo que 17% dos países

3
SUSP http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13675.htm

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manifestam taxas superiores a 20 homicídios por 100 mil habitantes, identificando-se alguns que alcançam taxas acima de 50 por
100 mil habitantes.
As regiões mais violentas do planeta são a África, excetuando os países do norte, e as Américas, excetuando os países da
América do Norte, com taxas médias superiores a 15 homicídios por 100 mil habitantes. Os países da Europa, Ásia e Oceania
apresentam taxas médias de homicídios abaixo de 3 por 100 mil habitantes.
Importante!
O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) é uma entidade da ONU que sistema tiza as estatísticas
internacionais sobre homicídios. Periodicamente publicam o Estudo global sobre homicídios (Global Study on Homicide).
1.1.3.2. - Violência em queda
É equivocado afirmar que há uma onda de violência assolando as diversas sociedades ocidentais. A incidência de homicídios
nos países da Europa ocidental, por exemplo, está em queda. Nos seis principais países da Europa ocidental, o número absoluto de
homicídios está se reduzindo desde 2003, com destaque para a Inglaterra, França e Alemanha.
O caso da sociedade norte-americana é mais instigante, pois, entre 1995 e 2011, as principais cidades daquele país
apresentaram redução bastante significativa de homicídios, próximo a 30%.
Não há também na América Latina um processo generalizado de recrudescimento da violência. A Venezuela é o país latino-
americano que apresentou o crescimento mais expressivo dos homicídios, patamar superior a 100% entre 1995 e 2010. No México,
a violência inicia trajetória ascendente a partir de 2008, prolongando-se até 2011.
Na Argentina, por sua vez, tem prevalecido a estabilidade da taxa de homicídios e a Colômbia é o país que experimentou
nítida redução da violência, saindo do patamar de 70 homicídios por 100 mil habitantes em 1995 para menos de 40 por 100 mil
habitantes em 2011.
1.1.3.3 - Incidência de roubos
A violência urbana no Brasil não se limita aos homicídios. Os crimes contra o patrimônio, em especial os roubos, também
devem ser considerados na análise. Nesse quesito, nosso país revela números preocupantes.
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil registrou em 2011 aproximadamente um milhão de roubos, o
que equivale à taxa de 552 roubos por 100 mil habitantes. E o latrocínio o acompanha de perto, pois representa o roubo seguido de
morte. É um tipo de crime que sempre provoca grande clamor popular. O país registrou oficialmente 1.636 latrocínios em 2011 e
1.803 em 2012.
Esse patamar de incidência dos roubos nos coloca em posição de destaque negativo no âmbito internacional.
(Brasil, SENASP, ?)
1.1.4. Relação entre o sistema de segurança pública e o sistema de justiça criminal;
OBSERVATÓRIO CONSTITUCIONAL
Segurança Pública e Justiça Criminal - Por Gilmar Ferreira Mendes4 (04 de abril de 2015)
Vivenciamos no Brasil, em matéria de segurança pública, um trágico paradoxo. De um lado, os elevados índices de
criminalidade e o sentimento generalizado de impunidade têm levado a população a um descrédito cada vez maior nas leis e nas
instituições. De outra parte, nunca se prendeu tanto como nos últimos tempos, sem que isso tenha refletido em mais segurança no dia
a dia.
De acordo com a última edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 5, em 2013, registramos 53.000 (cinquenta e três
mil) mortes violentas, incluindo homicídios dolosos, latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. No mesmo ano, foram
notificados 50.000 (cinquenta mil) estupros, cabendo considerar que nem todas as vítimas desse tipo de crime relatam o caso às
autoridades policiais. Isso sem contar os assaltos à mão armada, os sequestros, a corrupção, o narcotráfico, entre tantos outros crimes
igualmente graves.
Diante de cobranças da mídia e da opinião pública por soluções imediatas, a resposta das instituições tem se concentrado, em
regra, no agravamento de penas e de seu regime de cumprimento, Não é incomum, aqui e em outros países, a chamada legislação
simbólica. Em face do clamor público atiçado por algum crime grave, lança-se mão da fórmula mágica: “vamos aumentar a pena
desse crime”; “vamos transformar a corrupção em crime hediondo” e assim por diante, sem se atentar para o fato, cada vez mais
evidente, de que medidas dessa natureza pouco ou nada contribuem para a superação desse quadro.
Temos hoje, no país, 574 mil pessoas encarceradas em penitenciárias e cadeias públicas, em condições sub-humanas, sem
nenhuma perspectiva de recuperação. Isso, contudo, não quer dizer que o sistema punitivo esteja funcionando a contento, já que
cerca de 40% da população carcerária é de presos provisórios aguardando julgamento, muitos por longo tempo, às vezes anos, sem
sequer condenação em primeira instância.
A questão prática que se coloca são indagações acerca de quantos inquéritos são transformados em denúncia, quantas
denúncias resultam efetivamente em condenação e se as penas fixadas estão sendo adequadamente cumpridas. São indagações que
dizem respeito, em grande parte, ao funcionamento do sistema de Justiça. Seria mais interessante, portanto, aproveitar momentos
assim para um completo diagnóstico sobre a Justiça Criminal, que tem graves problemas de funcionalidade, para que se possa
identificar e corrigir distorções.
Tenho sustentado que a falência crônica do sistema prisional é tema prioritário de segurança pública. Trata-se de assunto,
todavia, indissociável de outros temas que também exigem especial atenção, como, por exemplo, a prevalência de prisões provisórias

4
Gilmar Ferreira Mendes (Diamantino, 30 de dezembro de 1955) é um jurista, magistrado e professor brasileiro. É ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) desde
20 de junho de 2002, tendo presidido a corte entre 2008 e 2010. Foi indicado pelo presidente da República Fernando Henrique Cardoso, em cujo governo exercera o
cargo de advogado-geral da União desde janeiro de 2000.
5
Anuário Brasileiro de Segurança Pública, publicado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ano 8, 2014. 

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em detrimento de outras medidas, a excessiva demora nos julgamentos, a aplicação de penas privativas de liberdade a crimes de
menor gravidade, enfim, a temas que, em última análise, dizem respeito à eficiência e racionalidade da Justiça Criminal e que,
também, estão relacionados à questão da segurança pública.
Nesse sentido, podemos iniciar com algumas considerações sobre a cultura da prisão como remédio à impunidade e os
efeitos adversos que se tem constatado. Cabe observar, desde logo, que a contrariedade à lei e à Constituição escancara-se diante das
péssimas condições dos presídios, em situações que vão desde instalações inadequadas até maus-tratos, agressões sexuais,
promiscuidade, corrupção e inúmeros abusos de autoridade, verdadeiras escolas do crime controladas por facções criminosas. Não é
de se estranhar, portanto, que muitas dessas pessoas, quando soltas, voltam a praticar novos crimes, às vezes bem mais graves do que
o cometido pela primeira vez.
Agregue-se a isso que a progressão de regime no cumprimento de penas no Brasil, concebida como modelo de reintegração
do preso à sociedade, não passa de pura ilusão. Em razão da absoluta escassez de estabelecimentos prisionais apropriados para os
regimes aberto e semiaberto, as penas acabam sendo cumpridas, na prática, em regime fechado, não raro em estabelecimentos sob o
comando dos próprios presos, ou em prisão domiciliar sem nenhum tipo de fiscalização, como se constatou em recente audiência
pública no Supremo Tribunal Federal.
Na outra ponta do problema, a evidenciar ainda mais a iniquidade do sistema, convivemos com o fato de que os denunciados
que respondem a processo em liberdade acabam, muitas vezes, em razão da prioridade conferida a processos de denunciados presos,
não sofrendo punição alguma. Com a excessiva demora no julgamento desses processos, em todas as instâncias, muitos crimes
acabam atingidos pela prescrição. A extinção da punibilidade representa, nesses casos, uma grande derrota para o sistema e uma
irreparável erosão na credibilidade da Justiça.
Sobre o modelo de prisão provisória, travamos uma luta intensa no Conselho Nacional de Justiça, concebendo, inclusive, o
projeto de lei que resultou na Lei 12.403/2011, para que aprovássemos as medidas cautelares alternativas à prisão provisória. Até
hoje, contudo, não se identificam os reflexos dessa alteração.
A toda hora deparamos, no STF, com situações de prisão provisória que poderia ter sido substituída por alguma medida
alternativa. Há uma série de medidas cautelares previstas na referida Lei, entre elas, o monitoramento eletrônico, medida, contudo,
ainda pouco utilizada e que, se adequadamente implantada, poderia reduzir, significativamente, a superlotação carcerária.
Ainda sobre o tema, tenho insistido, também, na apresentação do preso em flagrante ao juiz, em curto prazo, para que o
magistrado possa avaliar, de forma mais eficaz, as condições em que foi realizada a prisão e se é de fato imprescindível a sua
conversão em prisão preventiva. Trata-se de medida prevista em tratados internacionais já incorporados ao direito interno, mas que
ainda encontra alguma resistência em sua aplicação, por razões atinentes, sobretudo, a dificuldades operacionais. Pensamos, todavia,
que objeções dessa natureza poderiam ser superadas, por exemplo, com a dispensa da apresentação nos casos em que o juiz, quando
da comunicação do flagrante, já puder aplicar, desde logo, alguma cautelar alternativa à prisão.
Há inúmeros casos de prisões provisórias com excesso de prazo, sem conclusão da instrução e sem sentença de primeiro
grau. Muitos desses presos, quando sentenciados, acabam absolvidos ou condenados a penas alternativas, o que denota que o
encarceramento no decorrer do processo, devido à demora no julgamento, acaba por se mostrar, nesses casos, muito mais grave que a
própria pena, em clara dissonância com o princípio da proporcionalidade.
Por outro lado, a demora no julgamento reflete, substancialmente, na própria pauta dos Tribunais Superiores, como revela o
elevado número de habeas corpus em tramitação no Superior Tribunal de Justiça, aproximadamente 200 mil. Como grande parte
desse acervo tem por objeto a concessão de liberdade provisória por excesso de prazo, mostra-se clara, de novo, a necessidade de se
repensar não só o atual modelo de prisão cautelar, como, também, todo o sistema de Justiça Criminal.
A Justiça Criminal é pressuposto imanente a qualquer política de segurança pública. Nenhum programa de redução da
criminalidade terá eficácia se não levar em conta a efetividade de seu funcionamento. Partindo-se dessa premissa, é possível avançar
no entendimento de que o aprimoramento da Justiça Criminal não é tema isolado de responsabilidade exclusiva do Poder Judiciário
desta ou daquela unidade federativa. Um eficaz plano de melhorias do sistema deve englobar o trabalho harmônico de todos os entes
estatais responsáveis pela segurança pública.
Há na, Constituição Federal, diversos dispositivos sobre segurança pública que indicam essa responsabilidade compartilhada,
como a previsão de que a segurança pública é dever do Estado e direito e responsabilidade de todos (art. 144), exercida por
intermédio da Polícia Federal, da Polícia Rodoviária Federal, da Polícia Ferroviária Federal, das polícias civis e militares e dos
corpos de bombeiros militares, a partir de lei que discipline sua organização e funcionamento de maneira a garantir a eficiência de
suas atividades (art. 144, §7º). Prevê a Constituição, ainda, a criação, pelos Municípios, de guardas municipais destinadas à proteção
de seus bens, serviços e instalações (art. 144, §8º).
Além disso, cumpre à União legislar privativamente sobre direito penal e processo penal (art. 22, I), sobre requisições civis e
militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra (art. 22, III), sobre convocação e mobilização das polícias militares e
corpos de bombeiros militares (art. 22, XXI), sobre competência da polícia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais
(art. 22, XXII).
União, Estados e Municípios detêm, portanto, nesse campo, atribuições próprias e conexas que podem e devem ser exercidas
de forma coordenada com indispensável senso de cooperação. No caso dos Municípios, podemos citar, por exemplo, a possibilidade
de atuação conjunta entre suas guardas municipais e as demais forças de segurança pública. Nesse contexto, um sistema integrado de
segurança pública e Justiça Criminal poderia ser pensado, por exemplo, em termos de um federalismo cooperativo, cabendo a União
assumir, em razão do seu vasto leque de responsabilidades nessa matéria, a responsabilidade de coordenar e organizar esse novo
enfoque de atuação.

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Todo esse quadro legitima o que aqui se propõe: é preciso uma estratégia global de segurança pública que contemple, com
especial prioridade, o inadiável aprimoramento da Justiça Criminal. É preciso pensar, com urgência, em soluções que imprimam
maior celeridade no julgamento das ações penais e uma completa reestruturação do sistema prisional.
Esse seria o caminho. O CNJ já vem fazendo isso, por exemplo, nas ações relativas a atos de improbidade, dando prioridade
ao acompanhamento desses processos. É preciso verificar qual a estrutura adequada para as varas criminais, as condições de trabalho
de juízes e servidores, os recursos matérias disponíveis, entre outros temas relevantes para um melhor funcionamento da Justiça
Criminal. Os próprios juízes, a partir de suas experiências e das dificuldades enfrentadas no exercício da jurisdição criminal, muito
poderiam contribuir com sugestões para melhoria do sistema.
Quando estávamos à frente do CNJ, firmamos, em 2010, com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) e o
Ministério da Justiça, a Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (ENASP), que teve como foco, inicialmente, os crimes
de homicídio. Após a análise de 135 mil inquéritos que investigam homicídios dolosos instaurados no Brasil até o final de 2007,
descobriu-se que apenas 43 mil foram concluídos. Dos concluídos, pouco mais de oito mil se transformaram em denúncia. Ou seja,
mais de 80% dos inquéritos de homicídios foram arquivados. Com o conhecimento dessa realidade, foi possível estabelecer metas
que hoje podem ser acompanhadas, em tempo real, nos sites do CNJ e do CMMP.
A partir dessa experiência, poderíamos pensar, em relação ao tema deste artigo, na ampliação do foco de atuação da
SENASP, de forma a incluir em seu programa de trabalho, como meta prioritária, o mapeamento dos principais gargalos enfrentados
pela Justiça Criminal, com a indicação de ações concretas que possam reduzir a morosidade nos julgamentos, bem como uma
profunda reavaliação da cultura de prisões provisórias e dos regimes de cumprimento de penas. O CNJ e o CNMP muito poderão
contribuir para as esperadas melhorias nessa área por meio de monitoramento conjunto e mais efetivo em relação a certos gargalos,
coordenando, inclusive, o aporte de recursos.
É claro que ações dessa natureza, em âmbito nacional, devem contar com alguma fonte de recursos específicos. Nesse
sentido, poderíamos, pensar, também, em algum fundo de segurança pública que pudesse atender prontamente, por exemplo, há
situações mais sensíveis em Estados com notória carência de recursos.
Nessa linha, poderíamos pensar, ainda, em uma possível reformulação do Fundo Penitenciário (FUNPEN), gerido pelo
Ministério da Justiça, com a sua transformação em fundo de segurança pública, com alguma forma de incremento em suas fontes de
custeio, redefinição de suas finalidades e proibição de contingenciamento dos recursos disponíveis. É incompreensível que diante da
falta de vagas no sistema prisional, os recursos FUNPEN ainda sejam passíveis de contingenciamentos, como infelizmente tem
ocorrido. Dados recentes do Ministério da Justiça indicam que esse Fundo dispõe de cerca de R$ 1,065 bilhão e recebe, em média,
R$ 300 milhões por ano. Em 2013, o FUNPEN foi autorizado a investir R$ 384,2 milhões, mas apenas 10,6% desse valor foi
efetivamente empregado.
Enfim, a modernização do sistema de Justiça e uma completa reestruturação do sistema prisional são temas prioritários na
busca de soluções que possam reverter, em grande parte, o atual quadro de insegurança pública. Nesse contexto, afigura-se
fundamental que se proceda, sem mais tardar, a uma profunda reavaliação da estrutura e funcionamento da Justiça Criminal para que
possamos ter, também nessa área, um Judiciário bem mais moderno e eficiente.
Esta coluna é produzida pelos membros do Conselho Editorial do Observatório da Jurisdição Constitucional (OJC), do
Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP). Acesse o portal do OJC (www.idp.edu.br/observatorio).
Disponível em: <https://www.conjur.com.br/2015-abr-04/observatorio-constuticional-seguranca-publica-justica-criminal>.
Acesso em 07 de ago de 2018.
1.2. SISTEMA E GESTÃO EM SEGURANÇA PÚBLICA
1.2.1. Sistemas de segurança pública nas sociedades democráticas
O surgimento da Polícia
A estruturação dos sistemas policiais modernos, baseados no profissionalismo, na administração burocrática e sob o controle
do Estado, é a expressão mais marcante do processo histórico de institucionalização da noção de segurança pública.
FRANÇA
A França tornou-se a principal referência de formação de sistema policial profissionalizado, conforme análise de MONET
(2001). Ela tinha dois pilares: a Maréchaussée (O marechaussee é o antepassado da gendarmeria francesa. Cavaleiro da
Marechaussee em 1786 Em 1720, o marechal foi colocado simbolicamente sob a autoridade administrativa da gendarmeria da
França, o que explica por que em 1791 foi renomeado como "Gendarmerie nationale". Disponível em:
<https://educalingo.com/pt/dic-fr/marechaussee>. Acesso em 28 dez 2018), nas áreas rurais e a Tenência de polícia, em Paris. A
primeira é intrinsecamente militarizada, sendo um regimento de elite do Exército, e tem sua estrutura territorializada a partir do século
XVI. Ela vigia as populações itinerantes, prende bandidos, assegura regras concernentes ao comércio. Ela é rebatizada de
Gendarmerie (Uma gendarmaria, gendarmeria ou simplesmente guarda (em francês: gendarmerie) é uma força militar, encarregada da
realização de funções de polícia no âmbito da população civil. Os seus membros são designados "gendarmes". Disponível em:
<https://pt.wikipedia.org/wiki/Gendarmaria>. Acesso em 28 dez 2018) em 1791, perdendo gradualmente suas vinculações com o
Exército.
Já a Tenência é criada em 1667, com atribuição de zelar pela repressão da criminalidade bem como deve tomar as medidas
necessárias para evitar incêndios e epidemias além de inundações. Paris é dividida em setores e bairros à frente dos quais atuam
comissários assistidos por inspetores. Todo um sistema de patrulhas a pé e a cavalo funciona durante todo o dia. A montagem de uma
estrutura de informantes foi a característica mais marcante desta polícia parisiense, preconizando a formação de policiais
exclusivamente destinados à investigação. Os tenentes gerais de polícia acabaram sendo nomeados em todas as grandes cidades
francesas.

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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária

Fator comum às duas formas de polícia na França é a direção do governo central. O monarca absoluto comandava tanto a
Gendarmerie quanto definia as indicações dos tenentes de polícia, sendo concebidos como oficiais da realeza. Outros países europeus
em fins do século XVIII e início do século XIX implantam suas gendarmeries, todas vinculadas à autoridade central, orientadas para
o policiamento de estradas e campos.
Saiba mais: https://jus.com.br/artigos/25343/a-gendarmerie-nationale-francesa-aspectos-estruturais-e-operacionais
BRASIL
O sistema policial brasileiro, por sua vez, se estruturou no século XIX. E a matriz foi a dualidade policial francesa. Com a
chegada da Coroa Portuguesa em 1808 no Rio de Janeiro, foi criada a Intendência Geral de Polícia, com atribuições de controle do
crime, de urbanização, saneamento, saúde pública e iluminação pública seguindo o modelo policial que vigorava em Portugal desde o
século XVIII.
A vigilância cotidiana das ruas, por sua vez, coube a forças militarizadas. No Rio de Janeiro, por exemplo, existia a Guarda
Real de Polícia (GRP).
Mesmo na segunda metade do século XVIII já existiam forças militarizadas que realizavam a vigilância ostensiva das vias
públicas. É o caso de Minas Gerais com o Regimento Regular de Cavalaria de Minas, criada em 1775, que posteriormente veio a ser
o fundamento da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais.
Saiba mais:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Intend%C3%AAncia_Geral_de_Pol%C3%ADcia_da_Corte_e_do_Estado_do_Brasil
INGLATERRA
A Inglaterra, a despeito de sua tradição de gestão descentralizada, também assistiu a intervenção do governo central na
questão policial. Em 1829 o Parlamento assume a responsabilidade pelo policiamento de Londres. É criada uma organização policial
profissionalizada, trabalhando full-time e concebida em termos civis, diferenciando-se do modelo francês da gendarmerie. É criada a
Polícia Metropolitana de Londres.
A disseminação pelo restante do país deste modelo de policiamento eminentemente comunitário, conforme propugnado por
Robert Peel, ocorreu lentamente ao longo da segunda metade do século XIX, abolindo os sistemas paroquiais até então
prevalecentes.
1.1.2.2. Atribuições das instituições de segurança pública
Segundo a nossa constituição (Brasil, 1988) a segurança pública é direito e responsabilidade de todos e deve ser exercida nas
esferas federal, estadual e municipal.

 Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, é exercida para a
preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
        I -  polícia federal;
        II -  polícia rodoviária federal;
        III -  polícia ferroviária federal;
        IV -  polícias civis;
        V -  polícias militares e corpos de bombeiros militares.
    § 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se a:
        I -  apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas
entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e
exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
        II -  prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação
fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência;
        III -  exercer as funções de polícia marítima, aérea e de fronteiras;
        IV -  exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.
    § 2º A polícia rodoviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo
das rodovias federais.
    § 3º A polícia ferroviária federal, órgão permanente, estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento
ostensivo das ferrovias federais.
    § 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de
polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.
    § 5º Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública; aos corpos de bombeiros militares, além
das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.
    § 6º As polícias militares e corpos de bombeiros militares, forças auxiliares e reserva do Exército, subordinam-se, juntamente com
as polícias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.
    § 7º A lei disciplinará a organização e o funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a garantir a
eficiência de suas atividades.
    § 8º Os Municípios poderão constituir guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações, conforme
dispuser a lei.
(Brasil, 1988).

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Pacto Federativo.
Um dos principais desafios brasileiros é a segurança pública. As autoridades estão mais atentas aos problemas e elegem o
combate à violência como uma das prioridades em seus programas. A segurança pública caminha cada vez mais para a integração e
articulação entre as forças diversas presentes no território.
O tema tem tratamento específico na Constituição Federal de 1988 no artigo 144. O texto dispõe que a segurança pública é
“dever do Estado” e deve ser exercida pelas Polícias Federal, Rodoviária Federal, civis, militares e Corpos de Bombeiros
militares. Qualquer lei precisa respeitar as estruturas previstas na Constituição.
O Supremo Tribunal Federal afirma que a segurança pública trata de “organização administrativa”. Por isso, a gestão em cada
ente da federação fica por conta do chefe do executivo. No caso dos estados, fica sob a chefia do governador de Estado, a quem
estão subordinados as polícias militares e civis. Já o chefe do Poder Executivo Federal tem a competência de organizar as polícias
federais, dentre outros da administração federal.
No entanto, com o aumento da violência, o governo federal passou a repassar recursos para a modernização das instituições de
segurança pública dos estados e do Distrito Federal. A articulação entre as administrações nesse quesito é crucial.
Além desses quesitos, a segurança pública deixou de se pautar unicamente pela de repressão e passou a ser vista sob a ótica da
prevenção e capacitação dos agentes com enfoque na cidadania. Com o governo da presidente Dilma Vana Rousseff, o papel da
União na Política Nacional de Segurança Pública passou a ser maior, com maior integração institucional e as instituições do
sistema de justiça criminal e enfatizando o planejamento, a gestão e o monitoramento.
União
Compete à União a defesa dos seus interesses e dos seus órgãos, o policiamento da faixa de fronteira e o combate ao tráfico
internacional e interestadual de drogas, prevenir e reprimir o contrabando e o descaminho, bem como realizar o patrulhamento das
rodovias federais.
A União assumiu ainda a função de articular a integração entre os órgãos de segurança pública e de justiça criminal, que teve seu
ponto alto na Copa do Mundo 2014, e deixou como principal legado a atuação integrada entre os órgãos de segurança pública
nacionais e internacionais e as Forças Armadas nos 12 (doze) Centros Integrados de Comando e Controle Regionais.
Os locais foram equipados pelo governo federal em todas as cidades-sede da Copa. O governo tem realizado ações como o Brasil
Integrado, operação que já atuou no Nordeste e recentemente transferiu presos entre presídios federais.
Estados
Os governos estaduais e do Distrito Federal realizam a segurança pública direta, organizando e mantendo o policiamento
ostensivo, que é realizado pela Polícia Militar, formada por policiais uniformizados, facilmente identificados, de modo a criar na
população uma percepção de segurança. É de competência dos estados ainda manter e organizar a Polícia Civil e os órgãos técnicos de
investigação dos crimes comuns.
Municípios
Já os municípios têm a competência para desenvolver ações de prevenção à violência, por meio da instalação dos
equipamentos públicos, como iluminação e câmeras. Os municípios também podem criar guardas municipais para a proteção de bens,
serviços e instalações.
Neste ano, a lei nº 13.022 regulamentou as atribuições das Guardas Municipais na prevenção à violência, proteção dos
direitos humanos fundamentais, exercício da cidadania e das liberdades públicas, preservação da vida e patrulhamento preventivo,
dentre outros.
Distrito Federal
O DF possui as mesmas competências dos estados na gestão da segurança pública.
Fonte:
Blog do Planalto: http://www2.planalto.gov.br/
Saiba mais:
http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/REPORTAGEM-ESPECIAL/503138-PACTO-FEDERATIVO-O-
QUE-E-E-COMO-FUNCIONA-BLOCO-1.html e http://www.portalfederativo.gov.br/noticias/destaques/pacto-federativo-conheca-os-
papeis-da-uniao-estados-e-municipios-na-seguranca-publica

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Figura 1- Pacto Federativo.


Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/governo/2014/10/seguranca-publica-e-dever-de-estado>. Acesso em 07 de ago de 2018.
A provisão da segurança pública no Brasil, até a década de 1990, era compreendida como uma responsabilidade quase
que exclusiva dos governos estaduais, sobretudo dos órgãos policiais (COSTA E GROSSI, 2007).
O artigo 144 da Constituição Federal de 1988 contribuiu para embasar a falta de comprometimento da União e dos
municípios na adoção de políticas para a preservação da ordem pública, uma vez que atribui ao governo estadual o encargo pelas
polícias civis e militares.
Nessa interpretação restrita de segurança pública, não haveria muito espaço para a atuação dos governos federal e
municipal, uma vez que a política de gestão policial, de execução penal e a administração da justiça criminal são majoritariamente
desenvolvidas pelos poderes estaduais.
A UNIÃO, OS ESTADOS, MUNICÍPIOS E AS COMUNIDADES NA CONSTRUÇÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA
No âmbito federal, o envolvimento com as questões de segurança pública se limitava às ações das polícias federais, ao
controle de armas e empresas de segurança privada, assim como a atividades legislativas e regulatórias na esfera criminal e penal. No
âmbito municipal, restringia ao trabalho de proteção do patrimônio público local, realizado pelas poucas Guardas Civis mantidas
pelas prefeituras, além do apoio às polícias estaduais, por meio de cessão de imóveis, doação de equipamentos e pagamento de
combustível para viaturas. (KAHN e ZANETIC, 2009).
No final da década de 1990, contudo, ocorreu uma ampliação da questão de segurança pública, com a assunção de
responsabilidades, tanto por parte do governo federal quanto por parte dos municípios. Esse processo foi desencadeado através da
percepção política da violência como problema público relevante, em virtude do crescimento dos índices de criminalidade,
reconhecendo a relevância do tema para a população.
Entre 1980 e 2000, a taxa de homicídios do Brasil passou de 11,4 para 27,8 ocorrências por 100 mil habitantes.
Concomitantemente, houve um crescimento da sensação de insegurança, de modo que o crime passou a figurar como uma das
principais preocupações dos cidadãos brasileiros, ao lado do desemprego. Somado a isso, a população responsabiliza todos os entes
federativos pelo problema, e não apenas o governo estadual, detentor das polícias civil e militar (KAHN e ZANETIC, 2009).
Nas próximas aulas, você estudará as competências e as possibilidades de cada ente federativo na promoção da ordem
pública, no contexto de agravamento dos problemas de violência e do crescimento da sensação de insegurança, que impulsionou a
União e os municípios a participarem mais ativamente da gestão da segurança pública, independentemente de suas obrigações
oficiais.
Esse contexto, conforme analisa Cano (2006), também englobou uma mudança de paradigma na segurança pública, em
que o fracasso das políticas tradicionais de controle do crime cedeu espaço para reformas e iniciativas inovadoras, que abordam a
questão sob a ótica dos princípios democráticos e dos direitos humanos, com o aperfeiçoamento dos órgãos do sistema de justiça
criminal, com a articulação de ações de repressão e prevenção à criminalidade, com a integração sistêmica das instituições de
segurança pública, com o investimento em tecnologia, com o surgimento de novos atores e com a participação social.
1.1.2.1 - A gestão federal da segurança pública
Conforme define o artigo 144 da Constituição Federal de 1988, a polícia federal, a polícia rodoviária federal e a polícia
ferroviária federal são os órgãos de segurança pública com que conta o governo federal.
§ 1º A polícia federal [...] destina-se a:
I - apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de
suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou
internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei;
II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho [...];
III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras;
IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União. (BRASIL, 1988)
A polícia de fronteiras implica o exercício do controle do fluxo de pessoas, bens e mercadorias no território nacional. A
polícia marítima e a polícia aeroportuária envolvem a mesma função, porém operam em espaços específicos – marítimos e aéreos,
respectivamente, sobretudo, na prevenção e repressão do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas, contrabando e descaminho.
A polícia rodoviária federal é responsável pelo patrulhamento ostensivo das rodovias federais. Atua através da presença
policial ostensiva nas estradas federais e repressão imediata dos delitos cometidos nesses espaços.
A polícia ferroviária federal é responsável pelo patrulhamento ostensivo das ferrovias federais. Contudo, Souza Neto (2008)
observa que, o que há na prática, é a segurança patrimonial desempenhada pelas próprias empresas concessionárias de serviço
ferroviário, e que apesar da previsão constitucional, a polícia ferroviária federal, de fato, nunca existiu.
1.1.2.2 – A gestão estadual da segurança pública
O governo estadual é o principal ente federativo responsável pela preservação da ordem pública, pois nele se concentra a
administração das polícias civil e militar.
A Polícia Militar apresenta como atribuições a função de polícia ostensiva e de preservação da ordem pública, além da
responsabilidade de investigar e julgar os crimes militares (BRASIL, 1988). De acordo com Souza Neto (2008), o policiamento
ostensivo consiste na atividade de prevenção e repressão imediata da ação criminal, realizado por policiais fardados, de forma que
esses profissionais possam ser facilmente identificados, através do uniforme, equipamento, ou viatura, no intuito de preservar a paz
social e de restituí-la sempre que necessário.
O objetivo de tornar aparente a presença do patrulhamento policial nas vias públicas consiste em intimidar a prática de
ações ilícitas, por meio da construção da sensação de repressão imediata ao cometimento de delitos, o que ocasionaria efeito de
prevenção situacional do crime.

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Compete à Polícia Civil o encargo de polícia judiciária e de apuração de infrações penais, exceto a investigação de crimes
militares e daqueles de jurisdição da União (BRASIL, 1988). Apurar a prática de delitos, segundo Melim Júnior (2002), consiste no
trabalho policial investigativo, desenvolvido em função de evidenciar o crime sucedido – através da realização de perícias,
interceptação de comunicações telefônicas, reunião de provas, da escuta do relato das testemunhas, dentre outras medidas – no intuito
de identificar a maneira com que o delito ocorreu, suas causas e, sobretudo, descobrir a sua autoria, para que o Estado tenha condições
de desempenhar o seu direito de punição – “jus puniendi”.
Vale lembrar que a efetivação de grande parte dos procedimentos que ocorrem na atividade investigatória depende de
autorização judicial, conforme adverte Souza Neto (2008). É denominada função de polícia judiciária a incumbência de amparo
conferida pela Polícia Civil ao Poder Judiciário, no subsídio da materialidade necessária para o processo e o julgamento dos
autores de infrações penais.
Conforme Lazzarini (1987), a Polícia Militar é classificada como Polícia Administrativa, por ser regida pelos preceitos
jurídicos do Direito Administrativo, enquanto a Polícia Civil é definida como Polícia Judiciária, uma vez que é auxiliar da Justiça
Criminal, regida pelos códigos do Direito Processual Penal. Além do mais, a Polícia Administrativa é preventiva, dado que o
trabalho por ela desenvolvido visa evitar a prática de delito, ao passo que a Polícia Judiciária é repressiva, devido a sua atuação
suceder o cometimento de crime, operando como auxiliar do Poder Judiciário na aplicação da lei penal. Entretanto, esta classificação
merece ser relativizada, segundo pondera Lazzarini (1987).
A atividade policial desenvolvida na prática, ou seja, o modo de atuação da autoridade no exercício do poder de polícia é o
que efetivamente a qualificará como preventiva ou repressiva. Visto que, em sua rotina de trabalho, o policial pode se deparar com os
dois tipos de funções.
Portanto, a polícia desempenha função administrativa quando age em prol da preservação da ordem pública e da prevenção
da eclosão de delitos, ao passo que quando atua após a prática do crime – elaborando o inquérito, em atividade investigatória de
caráter criminalístico – a polícia exerce função judiciária, o que, apesar do nome, também consiste em exteriorização de atividade
administrativa, e não pode ser confundida com a atividade jurisdicional, exclusiva do Poder Judiciário, de modo que o profissional
público legitimado para efetuar o poder de polícia é uma autoridade administrativa, e não judiciária.
É a eclosão ou não da ação criminal que realmente delimita a diferença entre a prática preventiva ou repressiva. Um agente
que regula o trânsito, uma vez que lavra um auto de infração, passa do exercício da atividade policial administrativa para a
judiciária, assim como acontece na verificação de um acidente automobilístico. Nesse caso, a ação preventiva ostensiva, que estava
desempenhando, passa a se configurar como repressiva, dado que a ação preventiva não logrou sucesso em evitar a ocorrência do
delito.
Se um órgão estiver no exercício da atividade policial preventiva (polícia administrativa) e ocorrer a infração penal, nada
justifica que ele não passe, imediatamente, a desenvolver a atividade policial repressiva (polícia judiciária) fazendo, então, atuar as
normas de Direito Processual Penal, com vistas ao sucesso da persecução criminal. (LAZZARINI, 1987, pp. 36 - 37)
A divisão da execução das fases da atividade policial em duas organizações distintas, no ente federativo estadual, de forma
que é atribuída à Polícia Militar o trabalho de preservação da ordem pública, enquanto compete à Polícia Civil a realização da
investigação e da apuração dos crimes, caracteriza a estrutura das polícias estaduais brasileiras como bipartida, dado que ambas
apresentam o ciclo policial incompleto.
O ciclo de polícia, que inicia o ciclo de persecução criminal, é composto por:
1ª fase: Situação normal de paz social. Refere-se ao trabalho ostensivo realizado pela polícia, de caráter preventivo, em prol da preservação da ordem
pública. Quando ocorre a quebra da ordem pública, são efetuadas as demais fases do ciclo policial.
2ª fase: Restauração da paz social. Consiste no primeiro contato da polícia com a prática criminal, competindo-lhe exercer as primeiras providências de
polícia administrativa e judiciária, como realizar prisão em flagrante, identificar testemunhas, levantar informações sobre o modo como o crime ocorreu, socorrer
vítimas, dentre outras verificações possíveis que se apresentarem necessárias de imediato.
3ª fase: Investigativa. É exercida pela polícia judiciária, através da escuta do relato das testemunhas arroladas, realização de perícias, cumprimento de
prisões processuais, exercidas por meio da instauração do Inquérito Policial.
4ª fase: Processual. A partir dessa sequência de procedimentos ocorre a fase processual, que é de competência do Ministério Público e Poder Judiciário,
sendo a última etapa do ciclo de persecução criminal a fase de aplicação das penas, responsabilidade do Poder Judiciário e do Sistema Prisional (LAZZARINI, 1996).
A frouxa articulação do sistema policial brasileiro é um grave problema estrutural de segurança pública.
A disjunção do trabalho policial, em duas organizações distintas, tem sido apontada por diversos estudiosos como um grave
problema estrutural de segurança pública brasileira, uma vez que compromete a eficiência do serviço prestado por essas
corporações.
Ademais, a existência de polícias de ciclo incompleto, conforme ocorre em âmbito estadual, é uma característica exclusiva
do Brasil, pois independentemente da forma com que as polícias são organizadas em outros países, as mesmas instituições realizam
todas as etapas do ciclo policial.
Uma análise sociológica acerca do sistema de justiça criminal brasileiro é efetuada por Sapori (2006), que considera
fragmentada a articulação entre as organizações que o constitui, característica essa, que inviabiliza a eficiência do mesmo.
A frouxa articulação na justiça criminal pode se expressar nos níveis de conflito e disjunção existentes nas relações entre as
organizações do network. Os diferentes segmentos organizacionais tendem a agir segundo lógicas distintas e muitas vezes
conflitantes, contrariando a divisão de trabalho harmoniosa inicialmente prevista. Disputas por espaços de poder são recorrentes,
além da competição por recursos escassos. Críticas recíprocas entre os diversos segmentos organizacionais são comuns, atribuindo-se
mutuamente responsabilidades por eventuais fracassos do sistema. Além disso, a intensidade dos conflitos pode se constituir em foco
crônico de ineficiência do sistema, afetando o desempenho institucional. (SAPORI, 2006, p. 769)

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Um dos principais focos crônicos dessa desarticulação, apontado por Sapori (2006), característica singular do desenho
institucional do sistema de justiça criminal brasileiro, consiste na secção do trabalho policial, na esfera estadual, em duas
organizações distintas, de forma que compete à Polícia Militar realizar o patrulhamento ostensivo, enquanto cabe à Polícia Civil a
responsabilidade pelo trabalho investigativo. Diversos problemas decorrentes da disjunção do trabalho policial têm sido atribuídos
a essa peculiaridade do subsistema policial brasileiro.
É o caso, por exemplo, da ausência de mecanismos integrados e articulados de planejamento das intervenções públicas na
área. A divisão de trabalho prevalecente entre as polícias faz com que as tarefas envolvidas no combate à criminalidade sejam
concentradas no âmbito ostensivo, resumindo-se a planos de distribuição dos recursos humanos e materiais das Polícias Militares. A
investigação policial e eventual identificação e detenção de criminosos ocorre em momento distinto e obedece somente à lógica de
elaboração de documento a ser entregue às instâncias judiciais.
Ressalte-se ainda o fato de que cada uma dessas organizações policiais dispõe de um sistema próprio de comunicações e
informações que não dialogam entre si. O registro oficial da incidência criminal, nesse sentido, tem duas fontes distintas,
caracterizadas pela duplicidade e incoerência dos dados. O diagnóstico espaço-temporal da criminalidade na sociedade brasileira não
dispõe, assim, de uma base de dados consensualmente estabelecida, o que suscita frequentes divergências e conflitos quanto ao
provimento da segurança pública, enquanto bem coletivo.
O desenho institucional da segurança pública no Brasil, em suma, provocou a emergência e consolidação de organizações
policiais que, a despeito do caráter complementar de suas atividades, são dotadas de culturas distintas, com definições muito
particulares do interesse coletivo e, além disso, têm suas inter-relações pautadas pelo conflito e competição intermitentes. Como
consequência inevitável dessa realidade, temos a baixa capacidade do subsistema policial brasileiro de produzir resultados
consistentes, em termos de redução dos índices de criminalidade. (SAPORI, 2006, p. 769 - 770)
Além dos problemas relacionados à divisão do ciclo policial, há outras deficiências comuns a ambas as polícias. O Projeto
Segurança Pública para o Brasil (BRASIL, 2003) destaca as seguintes:
1) coleta, registro, produção, distribuição e processamento precários das informações, gerando dados inconsistentes e pouco confiáveis, e inviabilizando
diagnósticos, análises prospectivas e definição de orientações estratégicas;
2) ausência de planejamento, de avaliação sistemática e de práticas corretivas;
3) atendimento, serviços e produtos de má qualidade; recrutamento deficiente e formação precária;
4) abandono dos cuidados preparatórios, necessários ao trabalho pericial: ausência da cultura técnico-policial nas esferas não envolvidas diretamente com
os setores policiais especializados;
5) correição (correição - substantivo feminino. 1. ato, processo ou efeito de corrigir; correção. 2. conserto, emenda de erro, imperfeição, defeito etc.)
quase inexistente, em decorrência de inércia burocrática, restrições normativas, inoperância administrativa e, em alguns casos, comprometimento corporativista;
6) controle externo deficiente, em razão dos obstáculos à intervenção investigativa das ouvidorias e dos entraves à afirmação de direção interna;
7) dissociação conflitiva da outra instituição policial e dos demais profissionais do sistema de justiça criminal (inclusive da Secretaria de Segurança), dada
a autonomização dispersante das unidades (em particular, das delegacias distritais);
8) delimitação irracional (e dissociada das circunscrições da outra instituição policial) dos territórios jurisdicionais;
9) despreparo no enfrentamento de questões específicas, como: a violência contra as mulheres, as crianças, as minorias sexuais e os negros - o que
determina alguns aspectos lacunares na atuação das Delegacias Especializadas de Atendimento às Mulheres, por exemplo;
10) despreparo na aplicação do Estatuto da Criança e do Adolescente;
11) formação mais voltada à repressão do que à prevenção (o que caracteriza o conjunto das instituições da segurança pública);
12) grande quantidade dos policiais exerce função extra (bico), para complemento salarial em razão dos baixos salários. (BRASIL, 2003, p. 29)
A corrupção, o desrespeito aos direitos humanos, a herança autoritária e a “insistência no modelo da guerra como metáfora
e como referência para as operações de segurança pública” (CANO, 2006, p. 141), também são alguns outros exemplos comuns
de deficiências relacionadas às polícias estaduais.
A despeito do panorama de deficiências das polícias estaduais, verificam-se iniciativas recentes de modernização das
instituições policiais que apontam em direção à mudança de paradigma na gestão da segurança pública.
Nesse contexto, pode-se citar algumas experiências relevantes, tais como:
• Tentativas de integração das polícias civil e militar;
• Compatibilização do trabalho policial em áreas geográficas coincidentes;
• Unificação e informatização dos boletins de ocorrências criminais;
• Investimentos em tecnologia, em georeferenciamento e nos sistemas de informações policiais;
• Criação de ouvidorias de polícia.
1.1.2.3 – A gestão municipal da segurança pública
Na década de 1990, os municípios iniciam o processo de assunção de responsabilidades na área da segurança pública, através
da formulação e execução de políticas públicas locais e da criação ou ampliação de estruturas municipais dedicadas a essa questão,
como secretarias municipais, conselhos comunitários e guardas municipais.
É possível a formulação e a implementação de uma política municipal de segurança pública?
É necessário, em primeiro lugar, que o processo abranja a realização de um diagnóstico das dinâmicas criminais, pois
para construir eficientes estratégias de redução da criminalidade, é imprescindível compreender os fatores relacionados à incidência de
crime e violência. Uma vez concluído o diagnóstico, a análise das informações nele contidas deve servir de fundamento para a
elaboração de um Plano Municipal de Segurança Pública, cujas ações podem ser operacionalizadas pelo órgão municipal
responsável pela gestão da segurança pública local, além da guarda municipal, quando houver. Geralmente, a criação do arcabouço
institucional municipal na área da segurança pública objetiva viabilizar o planejamento, implementação, gestão, monitoramento e
avaliação de ações, projetos e programas realizados com o propósito de prevenir a criminalidade e diminuir o sentimento de
insegurança da população.
Os municípios podem instituir Gabinetes de Gestão Integrada Municipal (GGIM). O GGIM é um instrumento que integra e
articula todas as instituições públicas, dos três níveis federativos, responsáveis por prover a segurança pública no âmbito do

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município.
Por meio das reuniões do GGIM, as instituições que compõem o sistema municipal de segurança pública, em conjunto,
discutem sobre a dinâmica da criminalidade local, definem prioridades, formulam estratégias, distribuem a responsabilidade de cada
uma das organizações no gerenciamento da segurança pública, monitoram e avaliam os planos de ação implementados, reformulando
estratégias e definindo novas intervenções.
Com a finalidade de integrar a sociedade nas ações de segurança pública, promover o conceito de polícia comunitária,
fomentar a participação e o controle social, conselhos comunitários de segurança pública podem ser criados, no âmbito das
subdivisões territoriais adotadas em cada município.
A Constituição de 1988, no âmbito da segurança pública, confere aos municípios apenas a competência para constituírem
guardas municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações. Entretanto, isso não impede que os municípios
extrapolem as ações de proteção patrimonial e adotem atividades suplementares de prevenção à violência e à criminalidade.
Outra possibilidade de atuação dos municípios na segurança pública, segundo aponta Souza Neto (2008), diz respeito às ações
de regulamentação, como a adoção de leis de controle de bebidas alcoólicas. Restrições de caráter administrativo podem exercer
importante impacto na prevenção de crimes, às vezes mais significativos do que medidas de caráter penal ou policial. Alguns
municípios que delimitaram o horário de funcionamento de bares e restaurantes tiveram a redução do número de homicídios em 60%,
como é o caso de Diadema, e a redução de acidentes de trânsito em 70%, como é o caso de Barueri.
É importante destacar os investimentos municipais em políticas de âmbito preventivo, de tipo situacional e social,
focalizados especificamente na redução da criminalidade e da violência.
1. Os programas de prevenção situacional, de acordo com Cano (2006), visam atenuar as oportunidades de ocorrência de
crimes ou atos de violência em determinados espaços, através da intervenção direta no ambiente social, especialmente nos fatores que
favorecem a dinâmica criminal. São alguns exemplos de prevenção situacional: o investimento na melhoria da iluminação urbana, a
recuperação de espaços públicos degradados e o videomonitoramento em locais estratégicos.
2. Os programas de prevenção social, conforme esclarece Cano (2006), são intervenções direcionadas para reduzir os
elementos que estruturam a vulnerabilidade, ou seja, os fatores de risco que aumentam a probabilidade de incidência de crimes,
violências, e de suas consequências negativas. São exemplos de fatores de risco: a desigualdade social, a cultura do narcotráfico, a
violência doméstica, a violação de direitos fundamentais, a fragilização dos vínculos familiares e sociais, a defasagem escolar, a
pobreza, o desemprego, dentre outros.
O Bolsa Família pode ser considerado um exemplo de programa de prevenção social, uma vez que atua para atenuar
determinados fatores de risco e promover a proteção social. Por meio da transferência direta de renda, promove o alívio imediato da
pobreza; as condicionalidades reforçam o acesso a direitos sociais básicos nas áreas de educação, saúde e assistência social; e as ações
e programas complementares objetivam o desenvolvimento das famílias, de modo que os beneficiários consigam superar a situação de
vulnerabilidade.
Cano (2006) analisa que, normalmente, os programas de prevenção social apresentam resultados em médio e longo prazo,
pois se fundamentam na transformação das condições de vida ou das relações interpessoais. Entretanto, quando conseguem alcançar o
alvo desejado, seu impacto pode ser mais intenso e mais duradouro do que o impacto dos programas de prevenção situacional, que
obtém resultados em curto prazo, quando bem desenvolvidos. Portanto, é indicado que ambos os programas preventivos – situ acional
e social – sejam adotados simultaneamente, de forma complementar. Nesse sentido, importantes linhas de atuação para o
desenvolvimento de políticas de prevenção à violência e criminalidade, que podem ser incorporados pelos municípios, são sugeridas
por Guindani (2004), a saber:
• Programas de acesso à justiça e a mecanismos de resolução pacífica de conflitos, reinserção social de egressos do sistema
penitenciário e do programa de medidas socioeducativas, policiamento comunitário, orientação jurídica e assistência judiciária, oferta
descentralizada de serviços de justiça e cidadania, centros de mediação formal e informal de conflitos, núcleos de atendimento a
vítimas de violência, apoio à reinserção profissional, comunitária e familiar de egressos, etc.
• Programas para a adolescência, a juventude e suas famílias (programas de acesso a atividades culturais e esportivas,
educação e qualificação profissional, geração de trabalho, emprego e renda, saúde).
• Mobilização social, associativismo e promoção de cultura da paz urbana (apoio à formação e fortalecimento de lideranças,
organizações e redes comunitárias, campanhas de comunicação social, programas de educação para a cidadania, promoção de
eventos públicos, etc).
• Planejamento urbano e qualificação de espaços públicos (ordenação de áreas de grande circulação de pessoas,
planejamento e controle do trânsito, iluminação pública, criação e requalificação de espaços públicos de convivência e lazer,
qualificação do entorno das escolas e parques públicos, regularização fundiária, adoção de estratégias que previnam a formação de
guetos em zonas urbanas e que evitem conflitos entre grupos vizinhos, etc).
• Enfrentamento de fatores de risco (abuso de álcool e outras drogas, disponibilidade de armas de fogo e outros fatores
identificados em cada local) e aumento dos fatores de proteção (GUINDANI, 2004, pp. 82 – 83).
Diversos gestores municipais, a partir da década de 1990, começaram a investir em segurança pública, com a adoção de
diferentes formatos institucionais, apresentando multiplicidade tanto na estruturação da arquitetura organizacional quanto nas
estratégias de intervenções adotadas.
O atual contexto da gestão municipal da segurança pública revela, segundo Guindani (2004, p. 75), “baixa
institucionalidade, descontinuidade frequente, ausência de trabalhos avaliativos e de sistematização das experiências existentes”.
Além disso, diversos gestores municipais hesitam em assumir responsabilidades nessa área específica, sobretudo porque não
constitui uma obrigação legal do governo municipal.
A assunção de atribuições em qualquer área de políticas públicas, na ausência de imposições cons titucionais, está

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diretamente associada à estrutura de incentivos oferecida pelo nível de governo interessado e, vale ressaltar, que os incentivos para a
gestão municipal da segurança pública são restritos, ao menos os financeiros. O repasse de recursos financeiros do governo federal
ocorre mediante o lançamento de editais anuais, em que os municípios interessados submetem propostas.
Os projetos que apresentam maior consonância com os requisitos delineados pela SENASP são financiados pelo governo
federal, com contrapartida financeira dos municípios. Apesar disso, a participação dos municípios na gestão da segurança pública
vem crescendo progressivamente, assim como a relevância desse ente federativo na redução da violência e criminalidade,
sobretudo quando se entende que a promoção da paz e da ordem social demanda não apenas ações de cunho repressivo, mas também
ações de cunho preventivo.
Saiba mais:
✔ A redemocratização do país marcou um novo momento do arranjo federativo brasileiro.
✔ A valorização dos municípios pode ser percebida pelo reconhecimento desta instância, pela primeira vez na história,
como um ente federativo.
• Tipos de prevenção:
◦ Prevenção primária: A prevenção não é percebida como de competência exclusiva das agências de segurança pública,
mas também de famílias, escolas e sociedade civil.
◦ Prevenção secundária: Esse tipo de prevenção está fundamentado na noção de risco e proteção.
◦ Prevenção terciária: Atua quando já houve vitimização, procurando evitar a reincidência do autor e promover a
reabilitação individual e social da vítima.
• Um município que desejar aderir ao PRONASCI deve obrigatoriamente criar um Gabinete de Gestão integrada
1.2.3. Abordagem sistêmica da segurança pública
Alberto Afonso Landa Camargo 6
Toda vez que se fala em polícia no Brasil idealiza-se a instituição. Tratam-na como se, de repente, vivêssemos num país onde
tudo é maravilhoso e apenas a polícia destoa desta regra. Age-se como se o policial seja um alienígena brutalizado e incapaz que
acabou de cair em um mundo perfeito onde ninguém comete erros. Só ele os cometem. Caídos neste mundo perfeito, os policiais e
suas atitudes passam a ser questionados pelos idealistas do sistema, que não entendem que razões levam a polícia a, em alguns casos,
tratar com violência determinada pessoa. É como se a violência não existisse e a polícia fosse a responsável por trazê-la ao mundo,
fosse causa dela e não sua consequência.
Pretende-se, desta forma, que a polícia brasileira seja diferente de qualquer outra e não trate o criminoso como tal, mas como
alguém que precise unicamente de educação e seja ela o ente preparado exatamente para transmitir esta educação. Vê-se a polícia
como uma instituição destoante da realidade, uma polícia violenta em uma sociedade que não é violenta, uma polícia corrupta em
uma sociedade que não é corrupta, uma polícia despreparada em uma sociedade cujo preparo é exemplo para o mundo. Queres uma
polícia educada e prestativa como se ela não fizesse parte da mesma sociedade que nada tem de educada e de prestativa.
A polícia não só é um organismo mal conhecido quanto ao seu desempenho, como as pessoas ignoram as suas missões e a sua
capacidade de desempenhá-las em razão dos diversos entraves que existem, sejam de condições materiais, intelectuais ou humanas.
Toda vez que a polícia é procurada por alguém, pretende esta pessoa que ela seja capaz de resolver todos os seus problemas e não quer
saber o interessado se isto está dentro da sua competência ou não. Por não ser uma instituição conhecida, a sociedade acaba
mitificando a polícia e acreditando que ela é aquela instituição retratada em filmes que dão notícia de uma incomum competência e
capacidade em tudo resolver. Não compreendem que a realidade não é aquela dos filmes em que tudo se resolve em cerca de duas
horas, terminando a história com um longo beijo entre o casal de mocinhos. Diante disto, proliferam as cobranças como se o crime
fosse uma atividade a ser combatida unicamente pela polícia. É como se isto não dependesse de um sistema judiciário ágil e eficiente,
de um acompanhamento do preso que lhe permita ser recuperado para a volta ao convívio social e de medidas preventivas em todos os
setores. Nem tudo, portanto, que diz respeito ao crime é problema que deve ser enfrentado unicamente pela polícia.
O fato é que não existem fórmulas prontas para que se tenha no Brasil uma polícia que atenda os reclamos da sociedade.
Aliás, mesmo nas sociedades mais desenvolvidas temos visto que polícia nenhuma os atende na totalidade.
Esta idealização, a crença de que uma polícia deve ser capaz de resolver tudo sem, em algum momento, usar a violência e que
deva ser imune a erros e a desvios de conduta, tem feito com que proliferem fórmulas que, sem qualquer estudo, são apresentadas
como milagrosas para que se crie uma polícia ideal.
Como modelo de polícia democrática já se apresentou até a ideia de desmilitarização das polícias militares. Desconhece-se
que a mera adjetivação, seja ela de militar ou civil, não é responsável pela maior ou menor competência policial. O que importa é a
sua destinação. Se ela, apesar de a adjetivação militar não for destinada ou empregada nas atividades que pressuponham combates e
tratos com pessoas vistas como inimigas, mas preparada e empregada efetivamente como polícia e voltada ao bem das comunidades,
pouco importa que a sua estrutura seja militar ou civil. Chega-se a tal contradição que, ao mesmo tempo em que se invoca a
necessidade de desmilitarização das polícias, clama-se pelo emprego das forças armadas, que são militares por excelência.
A formação dos seus efetivos e a visão de que a sociedade deve sempre ser vista como amiga, mesmo naqueles casos em que
precisam ser coibidos crimes ou simples desvios de conduta, é que vão determinar a sua maior ou menor eficiência e não a mera
adjetivação que unicamente define a sua estrutura como corpo.
Trata-se o Brasil como se o país fosse o único no mundo a ter uma polícia adjetivada de militar. Desconhece-se que na Itália
ainda existem os Carabinieri, a Espanha ainda conte com a sua Guardia Civil (que apesar da adjetivação, é militar), a França ainda

6
*Alberto Afonso Landa Camargo é Coronel da reserva remunerada da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Professor graduado em Letras e em
Filosofia, escritor com vários trabalhos publicados, e pesquisa

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disponha da Gendarmerie, o Chile possua uma das polícias mais respeitadas da América Latina, os Carabineros, e a Holanda
mantenha a Rijkspolitie, todas elas organizações militares voltadas à atividade policial como o é a Polícia Militar brasileira.
Uma polícia democrática, independente da adjetivação de civil ou de militar, precisa deixar de ser conservadora, de
centralizar-se em conceitos e comandos apegados a tradições que fundamentaram sua criação e abdicar de manter-se destoante das
necessidades sociais como se a polícia não fizesse parte da mesma sociedade que jura defender.
O estudo e a adequação de comportamentos policiais às necessidades e interesses da comunidade tendem a fazer da polícia
uma instituição democrática. Ela assim será à medida que atenda as necessidades individuais e de grupos que requerem seus serviços
da mesma forma que atende os interesses dos governos, desde que estes sejam voltados aos interesses da população, orientando suas
atividades conforme requeira o cidadão. Um policial amigo, prestativo, capaz de resolver conflitos e consciente de que faz parte da
sociedade e não é alijado dos seus interesses, com certeza fará uma polícia democrática.
Não é preciso, portanto, macromudanças nas instituições policiais para que elas sejam democráticas. Basta que se mudem
alguns comportamentos relacionados com o trabalho e que o policial interprete que o crime e o criminoso são coisas excepcionais e
não a regra com que devem ser tratados os cidadãos.
CAMARGO, Alberto Afonso Landa. Uma visão sistêmica da segurança pública.
1.2.4. Conceitos de circunscrição, região e área de abrangência de outras instituições;
Circunscrição. Substantivo feminino
O que limita a extensão de um corpo. Divisão administrativa, militar ou religiosa de um território: circunscrição eleitoral.
Matemática Ação de circunscrever uma figura a outra.
Região. Substantivo feminino. Vasta extensão de terreno. Grande extensão do território de um país, de um continente etc.,
que se distingue das demais por suas características físicas, administrativas, econômicas, políticas.
Abrangência. Substantivo feminino. Característica do que é abrangente; próprio do que abarca, compreende, inclui ou
incorpora: empresa vai aumentar a abrangência do uso do celular. Capaz de abranger, de conter em si: relator quer ampliar a
abrangência do processo.
MÓDULO 2 – GESTÃO INTEGRADA E COMUNITÁRIA
2.1. Polícia Comunitária
2.1.1. Breve histórico da polícia comunitária;
2.1.2. A polícia comunitária como filosofia de um trabalho integrado;
2.2. Policiamento Comunitário
2.2.1. A comunidade como “Locus Privilegiado”;
2.2.2. As redes sociais com foco nas ações comunitárias;
2.3. Mobilização Comunitária
2.3.1. Fundamentos e princípios da gestão integrada e comunitária;
2.3.2. Mecanismos do Estado que favorecem a implantação da gestão integrada e comunitária no âmbito
da segurança pública;
2.3.3. Policiamento orientado por problema;
As estratégias de policiamento ou de prestação de serviço, que funcionaram no passado, não são mais eficazes. A meta
pretendida, um aumento na sensação de segurança e bem-estar, não foi alcançada. A sociedade e o cidadão estão mais exigentes.
Tanto o grau e a natureza do crime e o caráter dinâmico das comunidades fazem com que a polícia busque métodos mais
eficazes para prestar o seu serviço. Muitas comunidades urbanas enfrentam graves problemas, como: drogas ilegais (e legais, como: o
cigarro, o álcool, dentre outras), violência de gangues, assassinatos, roubos e furtos.
Nesse ambiente em rápida mudança, em que a polícia lida com problemas epidêmicos de droga, atividade de gangues e níveis
cada vez mais altos de violência, a Polícia Comunitária tem se firmado, como a alternativa mais eficiente e eficaz.
• As organizações policiais devem auxiliar na construção de comunidades mais fortes e autossuficientes, comunidades nas
quais o crime e a desordem não podem atingir padrões intoleráveis. A implementação da Polícia Comunitária e do policiamento
comunitário pressupõe alterações fundamentais na estrutura e na administração das organizações policiais.
• As comunidades devem tomar uma posição unificada contra o crime, a violência e o desrespeito à lei, e devem se
comprometer a aumentar a prevenção contra o crime e as atividades de intervenção.
• O policiamento comunitário difere do tradicional com relação à forma como a comunidade é percebida, e com relação às
suas metas de expansão do policiamento.
• Embora o controle e a prevenção do crime permaneçam sendo as prioridades centrais, as estratégias de policiamento
comunitário utilizam uma ampla variedade de métodos para alcançar essas metas.
A polícia e a comunidade se tornam parceiras no tratamento dos problemas de desordem e descuido (atividade de gangues,
abandono de automóveis e janelas quebradas) que, talvez ainda não sejam necessariamente criminais, mas podem levar ao
cometimento de crimes graves. Na medida em que o laço entre a polícia e a comunidade se fortalece, com o tempo, a nova parceria se
torna mais capaz de apontar e abrandar as causas subjacentes ao crime.
2.1. POLÍCIA COMUNITÁRIA
Polícia comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma parceria entre a população e
a polícia, baseada na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver
problemas contemporâneos, como crimes, drogas, medos, desordens físicas, morais e até mesmo a decadência dos bairros, com o
objetivo de melhorar a qualidade geral de vida na área. O policiamento comunitário baseia-se na crença de que os problemas sociais
terão soluções cada vez mais efetivas, na medida em que haja a participação de todos na sua identificação, análise e discussão.

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Como pressupostos básicos do policiamento comunitário, ressaltam-se:


Ação pró-ativa. O policiamento pró-ativo age preventivamente para evitar que os delitos aconteçam. Para isso é essencial
serem identificados os locais, horários, pessoas ou circunstâncias propícias à ocorrência delituosa.
Ação preventiva. A presença ostensiva, correta e vigilante do policial estabelece um clima de confiança no seio da
comunidade, e inibe a ação da delinquência.
Integração dos sistemas de defesa pública e defesa social
A parceria e a cooperação entre a polícia e a comunidade potencializam os efeitos positivos. A busca compartilhada de soluções conjuntas evita a dispersão dos
esforços, e auxilia a identificação dos problemas que afetam a todos:
Transparência. A promoção de reuniões para a exposição das atividades desempenhadas pela polícia, e a troca de
informações com a comunidade para a análise dos seus efeitos; estimulando a participação e o envolvimento do cidadão na busca
conjunta da melhoria da qualidade da segurança.
Cidadania. O policial deve ser propagador da noção de cidadania; solicitando a participação de todos nos problemas que
atingem a comunidade.
Ação Educativa. A orientação, o aconselhamento e a advertência devem sempre anteceder as ações repressivas. As
ações educativas não podem ocorrer apenas no momento das infrações, mas através dos organismos comunitários encarregados de
promoverem a defesa social da comunidade, principalmente junto às escolas e associações; promovendo-se palestras, campanhas e
outras formas de divulgação e orientação
Robert C. Trajanowicz and Bonnie Bucqueroux (1990). Community Policing: A Contemporary Perspective. [S.l.]: Anderson
Publishing Company
2.1.1. Breve histórico da polícia comunitária
Surgimento do policiamento comunitário
O policiamento comunitário surgiu da necessidade de uma aproximação entre a polícia e a comunidade e “cresceu a partir da
concepção de que a polícia poderia responder de modo sensível e apropriado aos cidadãos e às comunidades” (SKOLNICK,
2003:57). Esse pensamento surgiu entre 1914 e 1919, em Nova Iorque, com o objetivo de mostrar às camadas mais baixas do
policiamento “uma percepção de importância social, da dignidade e do valor do trabalho do policial (SKOLNICK, 2003). O
pensamento inicial era o de que um público esclarecido beneficia a polícia de duas maneiras: se o público entendesse a complexidade
do trabalho policial passaria a respeitá-lo e se entendesse as dificuldades e o significado dos deveres do policial, ele poderia promover
recompensas pelo desempenho policial consciente e eficaz.
O primeiro passo foi atrair os jovens, que eram “presenteados” com distintivos de policial júnior, treinados e convidados a
ajudar a polícia relatando violações da ordem em seus bairros, policiais “mais fluentes” visitavam escolas e explicavam aos alunos que
“o verdadeiro trabalho policial era mais do que apenas prender pessoas, que também significava melhorar o bairro, torná-lo mais
seguro, melhor e um lugar onde se pudesse viver mais feliz”. (SKOLNICK, 2003). Nessa mesma época, a polícia criou “ruas de
lazer” onde colocavam barreiras durante várias horas do dia, em cada quarteirão, barrando o tráfego. Os jovens então podiam brincar
fora de casa sem o perigo do trânsito. Os locais escolhidos normalmente eram aqueles onde as mães trabalhavam fora e não tinham
tempo para cuidar dos filhos. Cada policial era responsável pelas condições sociais de uma rua ou de um bairro. Devido à alta taxa de
desemprego nessa época e a possibilidade dos desempregados entrarem para o crime, as delegacias eram utilizadas como lugares para
distribuir informações sobre vagas industriais e sociais e os moradores desempregados podiam pedir ajuda a polícia para conseguir
emprego.
Em uma segunda fase, a filosofia do policiamento comunitário ganha força, o que ocorreu nas décadas de 70 e 80. Isso se deu
quando as organizações policiais em diversos países da América do Norte e da Europa Ocidental começaram a promover uma série de
inovações na sua estrutura e funcionamento, principalmente na forma de lidar com o problema da criminalidade. As polícias, em
vários países, promoveram alterações significativas, cada uma com suas características. Para alguns estudiosos, as experiências e
inovações são geralmente reconhecidas como a base de um “novo modelo de polícia”, orientado para uma nova visão de policiamento,
mais voltado para a comunidade. Esse tipo de policiamento difere-se dos demais, pois seu objetivo principal é a aproximação entre a
polícia e a comunidade. Uma polícia mais humana e mais legítima que busca uma ligação entre anseios e objetivos por meio de ações
práticas e efetivas que possam amenizar os problemas causados pela criminalidade. Disponível em:
<https://aderivaldo23.wordpress.com/tag/historia-do-policiamento-comunitario-no-brasil/> Acesso em 04 de agosto de 2018.
2.1.2. A polícia comunitária como filosofia de um trabalho integrado;
Conceito de Polícia Comunitária
Autor: Cap. PM Luciano Quemello Borges (PMESP).
Para implantar a Polícia Comunitária é preciso, antes de tudo, entender seu conceito.
“Polícia Comunitária é uma filosofia e uma estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e
a polícia. Tal parceria se baseia na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar,
priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e em geral a
decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral de vida da área.” (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 1994, p.
4-5, grifo nosso)

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É possível abstrair do conceito anterior (TROJANOWICZ; BUCQUEROUX, 1994) que a Polícia Comunitária é uma
filosofia (do modo que se relaciona à maneira de pensar) e uma estratégia (portanto, conecta-se ao modo de agir) organizacional (de
toda a organização).
A Polícia Comunitária provoca uma mudança tanto no campo da abstração (nos pensamentos) quanto na concretude das ações
de todos os membros e da própria organização, no sentido de que polícia e comunidade devem “trabalhar juntas” (unidas) na
identificação, priorização e resolução dos problemas (de crime, medo e desordem), com o objetivo final de melhorar a qualidade de
vida na área.
Ainda de acordo com Trojanowicz e Bucqueroux (1994), a Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), por meio da sua atual
diretriz de Polícia Comunitária – DPSSP 3.01.06/2011 (2011, p. 20-21) –, subdivide esse conceito em seis partes fulcrais (clique nos
itens abaixo e conheça cada uma delas):
Filosofia - Pode ser definida como o estudo geral sobre a natureza das coisas e suas relações entre si, ou ainda, como uma
forma de compreender e pensar sobre determinado assunto.
Estratégia - É a arte de usar os meios disponíveis ou as condições que se apresentam para atingir determinados objetivos –
ou, também, a forma de fazer e de utilizar recursos para atingir certa finalidade.
Organizacional - Da organização, no caso específico, da Polícia Militar. No entanto, como vimos anteriormente, pode-se
aplicar a qualquer estrutura que possua uma função policial, de fiscalização ou de atendimento à comunidade.
Parceria - É a reunião de uma ou mais pessoas para um fim de interesse comum ou ação de mais de um ator para alcançar um
objetivo comum a todos os atores sociais.
Problema - Definido basicamente como uma questão levantada para consideração, discussão, decisão ou busca de solução.
Qualidade de vida - Conjunto de condições ou situações que delineiam o viver e o conviver do cidadão na comunidade.
Observe que o conceito se encerra reafirmando a lógica comunitária, quando fala do objetivo de melhorar a qualidade de vida
geral da área. Isto é, atender às peculiaridades do espaço territorial específico de uma dada comunidade. Assim, a Polícia Comunitária
sai de um modelo fixo-societário (delineado para atender toda uma sociedade, como se essa fosse homogênea), para assumir um
modelo customizado (descentralizado/personalizado) às demandas e aos anseios de cada comunidade em particular.
Dentro dessa perspectiva dialética* de construção do conhecimento, é necessária a apresentação de um novo conceito que
agrega uma compreensão síntese da nossa discussão:
Polícia Comunitária é a cultura de união entre comunidade e polícia, objetivando o desenvolvimento de ações eficientes para
a redução de fatores ofensivos à segurança pública. (Brasil, 2017)
Na prática, Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do policiamento comunitário (ação de policiar junto à
comunidade). Polícia Comunitária deve ser interpretada como:
Filosofia organizacional, indistinta a todos os órgãos de polícia, pertinente às ações efetivas com a comunidade.
A ideia central da Polícia Comunitária é propiciar uma aproximação dos profissionais de segurança junto à comunidade onde
atua, como um médico, um advogado local ou um comerciante da esquina, ou seja, criar condições para que a polícia possa ser vista
não apenas como um número de telefone ou uma instalação física referencial. Para isto é isto necessário um amplo trabalho
sistemático, planejado e detalhado.
A Polícia e a mobilização da Comunidade
No âmbito da Polícia Comunitária a mobilização não é tarefa fácil, pois exigirá que polícia e comunidade possam trabalhar
integradas.
Quais são os aspectos que colaboram para que esta integração aconteça? O que deverá ser observado? Qualquer tentativa de
trabalho ou programa de Polícia Comunitária deve incluir, necessariamente, a comunidade, pois a sua participação é um fator
importante na democratização das questões de Segurança Pública, na implementação de programas comunitários que proporcionam a
melhoria de qualidade de vida e na divisão de responsabilidades.
A compreensão da dinâmica da comunidade é essencial para a prevenção e controle do crime e da desordem, bem como o
medo do crime, porque o controle e a participação social informal (do coletivo, do grupo) são mais eficazes.
COMUNIDADE E POLÍCIA
Todas as vezes, que grupos de cidadãos ou moradores se reúnem para encaminhar soluções para problemas comuns, o
resultado é bastante positivo. Na Polícia Comunitária não poderá ser diferente.
Grupo de cidadãos → discutem problemas →Resultado positivo
O problema é interpretar as possibilidades da comunidade e da polícia, por isso, é importante que reflita sobre as questões a
seguir levantadas por ambas:
COMUNIDADE
- Qual o papel da comunidade?
- A participação é total ?
- A comunidade participa apenas consertando viaturas ou reformando prédios?
- Apenas aqueles com recursos da comunidade participam privilegiando o serviço na porta de estabelecimentos comerciais?
- A nossa participação será apenas para endossar as ações da polícia no bairro ou para participar das discussões ou decisões na
melhoria do serviço policial?
- Podemos envolver outros órgãos públicos na questão?
- Podemos elogiar ou criticar a polícia local em seus erros e acertos ?
- Teremos autonomia de ação para exigir ações dos poderes públicos locais?
- Seremos apoiados pela polícia nessas iniciativas?
- Enfim, a polícia quer ser mesmo comunitária ou é uma “fachada” política?

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POLÍCIA
- Qual o papel da polícia ?
- É realizar ações democráticas que otimizem o envolvimento e comprometimento da comunidade?
- A exigência para a participação da comunidade será apenas para consertar viaturas ou reformar prédios?
- Ou melhor, servir de informante ou escudo às ações equivocadas de policiais, ou fonte de receitas para comerciantes em
serviços privilegiados de segurança?
- A polícia estará preparada para ouvir a comunidade (elogios aos seus integrantes, críticas ou sugestões)?
- A polícia admite a participação de outros órgãos públicos na questão?
- A polícia apoia as iniciativas da comunidade em melhorar a qualidade de vida ou é um instrumento apenas de “caça
bandido”?
- A polícia está preparada para conceder o seu “poder” à comunidade (entenda poder não o de polícia, mas o nome e as
possibilidades que a força policial tem no sentido do controle social informal, sem ser repressivo ou fiscalizatório)?
- Enfim, a polícia quer ser mesmo comunitária ou é uma “fachada” política?
Muitas vezes as comunidades não se mostram capazes de integrar os recursos sociais com os recursos do governo. Existem
tantos problemas sociais, políticos e econômicos envolvidos na mobilização comunitária que muitas comunidades se conformam com
soluções parciais, isoladas ou momentâneas (de caráter paliativo), evitando mexer com aspectos mais amplos e promover um esforço
mais unificado com resultados duradouros e melhores. A participação do cidadão, muitas vezes, limita-se às responsabilidades de ser
informado das questões públicas (ações da polícia), de votar pelos representantes em conselhos ou entidades representativas e seguir
as normas institucionais ou legais sem dar sugestões de melhoria do serviço.
Outro problema é o desconhecimento das características da comunidade local, pois as comunidades possuem
comportamentos e anseios diferentes. Independente de serem ricas ou pobres, agrícolas ou industriais, é importante descobrir os
anseios, o desejo de participação no processo e a motivação da comunidade para se integrar com a polícia.
A participação social no âmbito da segurança pública.
Conforme analisa Souza Neto (2008), a Constituição Federal de 1988, ao abordar a segurança pública como “direito e
responsabilidade de todos”, institui o fundamento jurídico dos arranjos institucionais que admitem a participação social na concepção
e no controle da gestão das políticas públicas nessa área.
A participação social, no âmbito da segurança pública, adquire relevância no contexto em que a preservação da ordem pública
democrática pressupõe uma ampliação dos atores sociais responsáveis pela área de segurança pública, para além das organizações
policiais.
No Brasil, esse novo paradigma de segurança cidadã emerge a partir da década de 1990, sobretudo através da constituição de
conselhos comunitários de segurança, redes de vigilância, políticas de prevenção ao crime, policiamento comunitário e da realização
da 1ª Conferência Nacional de Segurança Pública.
De acordo com Godinho (2014), no âmbito da segurança pública, os arranjos institucionais classificados como participativos
devem cumprir os seguintes requisitos:
1. O fato de preverem a ocorrência de fóruns ou momentos deliberativos;
2. com o objetivo de impulsionar discussões públicas e a resolução coletiva de problemas;
3. reunindo, para tanto, atores estatais e sociais, incluindo profissionais da segurança pública;
4. em estruturas paritárias. (GODINHO, 2014, p. 547)
A mobilização e a participação social, na área da segurança pública, geralmente apresentam efeitos benéficos, segundo
analisa Cano (2006), a saber:
• efeitos sobre a concepção, gestão e acompanhamento dos programas, quanto à sua descentralização, democratização etc;
• o impacto preventivo que o crescimento das redes sociais e a melhora nas relações comunitárias podem implicar com
relação ao temor e à violência, seja de forma indireta, ao reduzir o temor e estimular a ocupação dos espaços públicos, ou de forma
direta, ao promover a resolução pacífica dos conflitos cotidianos;
• uma mudança na percepção social da violência, que interiorize o novo paradigma da prevenção; (CANO, 2006, p.149)
Apesar das vantagens da participação social na segurança pública, há diversos obstáculos para a sua efetiva concretização,
tais como:
• falta de continuidade das iniciativas;
• imprevisibilidade dos resultados;
• restrição da participação apenas na esfera da retórica, nos discursos ou nos documentos oficiais, mas sem aplicação prática.
• dificuldade de mobilização popular, sobretudo em comunidades com capital social deteriorado;
• problemas relacionados à representatividade - dificuldade de composição equilibrada das instituições e de seus respectivos
membros que efetivamente representam a sociedade e os interesses coletivos. (CANO, 2006).
Os conselhos comunitários de segurança pública
Os conselhos comunitários de segurança pública representam mais um exemplo de esforço governamental na direção da
democratização das políticas públicas dessa área. Configura um arranjo institucional que proporciona aproximar as instituições
policiais da sociedade, restaurando a credibilidade da polícia perante a população e transmitindo o sentimento de confiança e a
sensação de segurança e proteção.
Os Conselhos Comunitários de Segurança Pública são instâncias constituídas para que os gestores das organizações policiais
possam ouvir a população no que diz respeito às suas demandas por segurança ou por ordem pública. Os gestores policiais, por sua
vez, devem encaminhar as demandas apresentadas pela população a quem possui competência para a sua resolução. A população

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deve cobrar dos gestores policiais o encaminhamento das providências e ainda os resultados das ações. (RIBEIRO e CORTES,
2009, p. 13)
Segundo analisa Souza Neto (2008), a busca de soluções comunitárias para os problemas de (in) segurança pode contribuir
tanto para a democratização do setor, quanto para aprimorar o controle do crime e melhorar a eficiência da atuação policial, a
despeito de problemas relacionados à descontinuidade, à baixa institucionalidade e à representatividade.
O policiamento comunitário
O policiamento tradicional, de maneira geral, consiste na resposta imediata a ocorrências criminais e incidentes
emergenciais. Apesar da relevância desse tipo de policiamento para minimizar os danos causados pela violência e criminalidade, essa
atividade isolada é ineficiente para a solução duradoura dos problemas de segurança pública. Para escapar desse ciclo, ao invés da
polícia atuar de forma pontual, exclusivamente quando o problema já eclodiu, a polícia pode ampliar o seu escopo e direcionar
esforços para encontrar soluções duradouras e prevenir os problemas de criminalidade.
O policiamento comunitário é uma alternativa de resolução de problemas geradores de crime e desordem que engloba a
participação social. O policiamento comunitário se orienta na direção da modernização das polícias. É um modelo de policiamento
em que a comunidade é o fundamento da organização da atividade policial. Pressupõe um relacionamento cooperativo entre a
instituição policial e a sociedade, através da efetiva integração entre policiais e cidadãos, seja para compartilhar informações, seja
para identificar problemas, prioridades e estratégias de resolução.
A comunidade é mobilizada e orientada para realizar medidas de autoproteção e para participar da resolução de problemas
que geram crimes, como, por exemplo, contribuir para a incorporação de iniciativas que visam diminuir os fatores de risco
relacionados à vulnerabilidade social. Ao invés do emprego da força e da prestação de serviços policiais emergenciais, privilegia-se a
mediação de conflitos, a prevenção do crime e o policiamento orientado para a solução de problemas.
O policial se converte em referência para a comunidade, participa das reuniões comunitárias, reivindica providências para os
problemas identificados e presta contas sobre o trabalho realizado, de modo que é necessário conferir ao policial de ponta maior
autonomia e poder decisório.
O Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (2009) destaca quatro características comuns ao
policiamento comunitário, a saber:
1ª característica: relação de confiança: O policiamento comunitário só ocorre onde há uma relação de proximidade e
confiança recíproca entre polícia e população. Isso permite a realização de um trabalho conjunto no qual ambos compartilham as
tarefas e responsabilidades. Em locais onde essa relação encontra-se deteriorada ou não existe, o primeiro esforço deve ser para
desenvolver estratégias que favoreçam a aproximação e a confiança entre ambos.
2ª característica: descentralização da atividade policial: Para que o policial contribua para o bem-estar da comunidade, é
necessário que ele esteja integrado às pessoas que nela vivem, conheça o seu cotidiano e tenha alguma autonomia para tomar
iniciativas nas atividades de segurança local. Essa interação com a comunidade permite que o policial conheça as lideranças locais e
levante informações fundamentais para o seu trabalho.
3ª característica: ênfase nos serviços não emergenciais: No policiamento comunitário, as atividades são orientadas,
prioritariamente, para a prevenção do crime e resolução de conflitos na sua origem, tendo como base a comunidade. Através do
trabalho preventivo, tanto a comunidade assume um papel mais ativo em relação à segurança como a polícia assume funções que não
se limitam apenas à repressão ou aos atendimentos emergenciais. O trabalho preventivo é fundamental, porque, quando bem
realizado, suas ações possuem grande poder para minimizar ou, até mesmo, evitar que problemas se desdobrem em situações mais
complexas e de maior perigo. Isso, consequentemente, diminui, inclusive, a demanda da polícia por atendimentos emergenciais.
4ª característica: ação integrada entre diferentes órgãos e atores: No policiamento comunitário, as ações não são realizadas
apenas pela polícia. [...] Além da participação da comunidade é necessário também buscar a colaboração de outros representantes
públicos, como prefeitura, hospitais, escolas, concessionárias de energia e saneamento, Ministério Público, Ouvidorias de Polícia,
entre outros. Essa coordenação de diversas instituições é fundamental, porque muitos problemas de segurança exigem providências
que não dizem respeito apenas à polícia, mas também a outros serviços públicos. O resultado desse esforço conjunto acaba sendo um
novo olhar e uma nova atitude diante dos problemas de segurança e do próprio trabalho policial. (NÚCLEO DE ESTUDOS DA
VIOLÊNCIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO, 2009, p. 15 - 16) .
2.2. Policiamento Comunitário
O policiamento comunitário e suas atribuições dentro da sociedade
O policiamento militar comunitário surgiu nos anos 70, no Canadá e em Londres, com a proposta de fazer com que toda a
população participasse das políticas de segurança pública da comunidade. Esse projeto chegou ao Brasil tendo como princípios,
políticas de prevenção e integração entre os órgãos policiais e os cidadãos.
O trabalho policial fica mais viável quando a comunidade contribui para fornecer informações relevantes sobre os casos,
como denunciar suspeitos de um crime ou apontar lugares de riscos. 
Podemos concluir que a cidadania não é plena sem a participação da sociedade. Na polícia canadense, os conselhos
consultivos são responsáveis por dar suporte à polícia daquele país, já que são os membros da sociedade que apontam os problemas e
buscam soluções.
Neste contexto, há uma grande necessidade de que novas políticas de segurança pública sejam colocadas em práticas, tendo
como foco a integração comunitária, com a reestruturação da polícia na democracia participativa, no investimento de programas de
prevenção e na qualidade do serviço policial. 

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Os programas de policiamento comunitário estão voltados para a aproximação entre a sociedade e órgãos públicos, em uma
ação conjunta entre o cidadão e o Estado.
A polícia comunitária é definida também como “uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria
entre a população e a polícia, baseando-se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para
identificar, priorizar e resolver problemas contemporâneos tais como o crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e em
geral a decadência do bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área”.
O fundamento da polícia comunitária é a integração entre policiais e a comunidade, sendo dever da polícia, nesse caso, agir
preventivamente com os cidadãos para identificar e solucionar os problemas. Essa integração entre a polícia e a comunidade envolve a
participação do policiamento ostensivo e investigativo, cujas políticas são amparadas pela sociedade de maneira democrática. Em que
tanto as responsabilidades quanto a manutenção da paz social e da ordem pública não cabem somente à polícia, mas também a todos
os cidadãos.
Dessa maneira, as funções são basicamente prestar serviço à sociedade com o auxílio da mesma. Tomamos como exemplo o
policiamento comunitário de Minas Gerais, norteado por:
➢ Visão moderna de gestão da segurança pública;
➢ Mudança da cultura organizacional;
➢ Administração baseada em valores prévia e claramente estabelecidos, com base na responsabilidade social do
Estado;
➢ Descentralização da estrutura dos órgãos de segurança pública;
➢ Processo decisório baseado em estreita parceria com a comunidade (CONSEPs);
➢ Poder decisório aos policiais de linha de frente.
O policiamento comunitário e suas atribuições dentro da sociedade. Disponível em:
<https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/direito/o-policiamento-comunitario-e-suas-atribuicoes-dentro-da-sociedade/
62919 >. Acesso em 18 maio 2019.

2.2.1. A comunidade como “Locus Privilegiado”;


A complexidade e a fragmentação da realidade social são traços da contemporaneidade impressos nas esferas mundial e local.
Em toda sociedade, porém, há agrupamentos humanos unidos por diversas identidades, dentre elas a territorial, que confere à
comunidade o status de locus privilegiado para o desenvolvimento de programas de transformação social.
Essa identidade territorial, segundo Kisil, é vivenciada onde os indivíduos ou grupos sociais mais facilmente reconhecem
como pertencentes a uma mesma comunidade (...). A fonte mais imediata de autorreconhecimento e organização autônoma é o
território. As pessoas identificam-se com os locais onde nascem, crescem, vão à escola, têm seus laços familiares, enfim se socializam
e interagem em seu ambiente local, formando redes sociais com seus parentes, amigos, vizinhos, organizações da sociedade civil e
autoridades do governo.7
No mesmo sentido, o Programa Justiça Comunitária adota a comunidade como esfera privilegiada de atuação, porque
concebe a democracia como um processo que, quando exercido em nível comunitário, por agentes e canais locais, promove inclusão
social e cidadania ativa, a partir do conhecimento local. É na instância da comunidade que os indivíduos edificam suas relações sociais
e podem participar de forma mais ativa das decisões políticas. É nesse cenário que se estimula a capacidade de autodeterminação do
cidadão e de apropriação do protagonismo de sua própria história.
O conceito de comunidade Em meio à vasta literatura sociológica dedicada a conceituar comunidade, a definição talhada por
Lycia e Rogério Neumann revela-se bastante útil para este trabalho, considerando a sua objetividade: Comunidade significa um
grupo de pessoas que compartilham de uma característica comum, uma <comum unidade> que as aproxima e pela qual são
identificadas.8
Conforme os próprios autores alertam, em geral, a unidade comum é a região onde as pessoas vivem, mas nada impede que
uma comunidade seja constituída a partir de interesses e/ou causas partilhados. De qualquer sorte, no núcleo do conceito está
localizada a ideia de identidade compartilhada. Neste trabalho, a denominação comunidade será atribuída aos agrupamentos humanos
que vivem na mesma localização geográfica e que, nessa condição, tendem a partilhar dos mesmos serviços (ou da ausência deles),
problemas, códigos de conduta, linguagem e valores.
A partilha territorial, entretanto, não leva necessariamente à construção de uma comunidade coesa socialmente. Essa
característica vai depender do grau de conexão entre seus membros e de sua capacidade de promover desenvolvimento local, ou seja,
de seu capital social.
O CAPITAL SOCIAL se verifica de acordo com o grau de coesão social que existe nas comunidades e que é demonstrado nas relações entre as pessoas ao
estabelecerem redes, normas e confiança social, facilitando a coordenação e a cooperação para o benefício mútuo. 9
Segundo Robert C. Chaskin10 , a aferição da coesão social de uma comunidade se dá a partir da análise de quatro elementos, a saber:

7
KISIL, Marcos. Comunidade: foco de filantropia e investimento social privado. São Paulo: Global; Instituto para o Desenvolvimento Social (IDIS),
2005. p. 38.
8
NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns. Repensando o investimento social: a importância do protagonismo
comunitário. São Paulo: Global; Instituto para o Desenvolvimento Social (IDIS), 2004. p. 20-21. (Coleção Investimento Social).
9
AUSTRALIAN BUREAU OF STATISTICS, Social capital and social wellbeing, apud NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN,
Rogério Arns, Repensando o investimento social: a importância do protagonismo comunitário, cit., p. 47.

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1) senso de comunidade ou grau de conectividade e reconhecimento recíproco;


2) comprometimento e responsabilidade de seus membros pelos assuntos comunitários;
3) mecanismos próprios de resolução de conflitos;
4) acesso aos recursos humanos, físicos, econômicos e políticos, sejam locais ou não.
Onde há coesão social, há identidade compartilhada, cuja criação depende da mobilização social e do envolvimento com os
problemas e soluções locais. Há, portanto, segundo Putman 11 , um ciclo virtuoso entre capital social e desenvolvimento local
sustentável. Nesse sentido, desenvolver comunidade é um processo que agrega valores éticos à democracia e constrói laços de
solidariedade.12
Conhecendo o locus. O mapeamento social
Primeiramente, é preciso definir o que se pretende com o mapeamento social, a fim de que os formulários de identificação e
cadastramento dos dados sejam elaborados de maneira a veicular as perguntas adequadas. Nesse sentido, é importante ressaltar que o
mapa a ser confeccionado não se resume a uma fotografia momentânea dos elementos identificados, mas deve ser um guia para
subsidiar o diálogo entre essas informações, para servir de base a uma permanente animação de redes sociais.
Para o Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal, a identificação das organizações sociais é fundamental para servir
de referência para:
a) o processo de seleção de novos agentes comunitários;
b) o encaminhamento dos participantes para a rede social, quando a solução do conflito assim o demandar;
c) o conhecimento das circunstâncias que envolvem os problemas comunitários; e,
d) a constituição de novas redes sociais ou o fortalecimento e a animação das já existentes, quando a demanda ostentar
potencial para tanto.
No decorrer da execução do Programa Justiça Comunitária do Distrito Federal, as dificuldades enfrentadas na confecção
desse mapeamento foram inúmeras, desde a carência de recursos humanos em especial na fase inicial até a dificuldade de se traçar
uma estratégia de animação de redes sociais, quando toda a prioridade do Programa estava voltada para a capacitação dos agentes
comunitários nas técnicas de mediação.13
Apesar das dificuldades, o Programa conseguiu reunir, com a colaboração de alguns agentes comunitários, informações
relevantes para a confecção do mapa, sem contudo estabelecer uma conexão entre elas. Na ausência de um planejamento prévio aliado
a uma clara estratégia metodológica de conexão entre essas informações, os dados coletados não se comunicaram.
Com o propósito de suprir essa lacuna, o Programa está desenvolvendo um passo a passo 14 como estratégia para a confecção
permanente do mapeamento social das duas cidades-satélites, o qual contém as seguintes fases:
a) definir a área geográfica a ser mapeada com limites claros;
b) definir as fontes de informação e a metodologia adequada (documentos de órgãos oficiais, visitas às instituições,
entrevistas pessoais ou por telefone, entre outras);
c) recrutar os agentes comunitários para a coleta dos dados e estimular que o façam com o auxílio de alguns moradores; 15
d) criar um formulário para a identificação e o cadastramento; 16
e) organizar um banco de dados apto a promover o cruzamento dessas informações.
A fim de adotar uma metodologia coerente com a estrutura do Programa, a equipe interdisciplinar reduziu a área e as suas
expectativas objeto do mapeamento, transformando essa tarefa de difícil execução em algo viável, envolvente e eficiente. A partir
dessa redução e da consciência de que a cartografia social é uma atividade em permanente construção, adequaram-se as etapas desse
processo à capacidade estrutural, para não gerar novas frustrações.
A definição territorial da área mapeada e de suas limitações obedeceu ao critério de local de moradia de cada agente
comunitário, o que possibilitou, inclusive, maior inserção dos agentes em sua comunidade. Optou-se por localizar deficiências e
necessidades, mas também talentos, habilidades e recursos disponíveis. Essa estratégia possibilita que o mapeamento sirva de espelho
para a comunidade que, ao se olhar, tenha consciência de seus problemas, mas também conheça as suas potencialidades, o que é
essencial para a construção de uma identidade comunitária.
Esse método também torna possível investigar em que medida as soluções para os problemas comunitários já existem ali
mesmo, exatamente naquela comunidade que, por razões histórico-estruturais de exclusão social, não enxerga nenhuma solução para

10
CHASKIN, Robert J. Defining community capacity: a framework and implications from a comprehensive community initiative, apud NEUMANN,
Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Repensando o investimento social: a importância do protagonismo comu nitário, cit., p.
24.
11
PUTNAM, Robert D. Comunidade e democracia: a experiência da Itália moderna. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2005.
p. 186.
12
KISIL, Marcos, Comunidade: foco de filantropia e investimento social privado, cit., p. 51.
13
Hoje, a avaliação é a de que o fato de o Programa ostentar três pilares não significa necessariamente que eles devam ser construídos um a um.
Havendo uma estrutura mínima, o ideal é que os três sustentáculos de um programa de justiça comunitária sejam desenvolvidos em conjunto, uma vez
que há íntima relação entre eles. A título de exemplo, é a partir de uma programação eficiente das atividades voltadas à animação de redes sociais que
se podem atrair demandas para a mediação efetivamente comunitária, com largo impacto social.
14
A formulação desse passo-a-passo foi uma adaptação da experiência desenvolvida pela equipe psicossocial do Programa Justiça Comunitária da
sistematização sugerida por Lycia Tramujas Vasconcellos Neumann e Rogério Arns Neumann (Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e
recursos locais ABCD. São Paulo: Global; Instituto para o Desenvolvimento Social (IDIS), 2004). 20. O Programa Justiça Comunitária conta
15
O Programa Justiça Comunitária conta com alguns amigos do Programa. Em geral, são ex-agentes comunitários que, por alguma razão,
desligaram-se do Programa sem, contudo, deixarem de contribuir para a realização de atividades pontuais.
16
Ver Anexo I.

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os seus problemas, senão por meio do patrocínio de uma instituição externa àquele habitat. Essa conexão entre problemas e soluções
promove um senso de responsabilidade pela comunidade como um todo, o que cria uma espiral positiva de transformação social. 17
Para que essa conexão efetivamente aconteça, é indispensável que o processo de mapeamento não tenha por objetivo tão-
somente a confecção de um banco de dados, repleto de informações úteis, porém sem ligação entre si. A construção permanente do
banco de dados é, sobretudo, um meio de fortalecer relações e criar novas parcerias.
Segundo Lycia e Rogério Neumann, ao identificar os recursos locais, os moradores passam a conhecer o potencial de sua
comunidade e começam a estabelecer novas conexões, ou fortalecer as já existentes, entre os indivíduos, seus grupos e as instituições
locais, assim como entre esses atores, e as causas que são importantes para o desenvolvimento daquela comunidade. 18
Nesse sentido, apresenta-se a seguir as informações a serem coletadas para o mapeamento social do Programa Justiça
Comunitária. Esse processo, sob essa nova formatação, teve início em 25 de agosto de 2006. 19.
RECURSOS DISPONÍVEIS 20
Associação de Moradores
Estas organizações são fundamentais por sua capilaridade e pelo potencial de produzir capital social e protagonismo
comunitário, ou seja, por sua capacidade de mobilização em torno de interesses e valores comuns. É um contraponto à cultura de
dependência de apoio institucional externo. É interessante que a identificação das associações inclua a informação sobre seu
funcionamento (local, periodicidade de reuniões, dentre outros) bem assim as suas realizações.
Instituições em geral
Entidades públicas = escolas, hospitais, postos de saúde, parques, bibliotecas, etc.; Associações e instituições = igrejas,
clubes, cooperativas, centros comunitários, etc. O elenco destas instituições deve ser acompanhado de um levantamento quanto ao
acervo de recursos que cada uma delas pode oferecer. Por exemplo, é importante registrar se uma escola pública possui e/ou está
disposta a oferecer salas para reuniões abertas aos finais de semana, computadores, cursos de alfabetização de adultos, quadras de
esportes, educadores voluntários, conselhos de pais e mestres, sinergia entre a escola e a comunidade, organização estudantil, etc. 21
Habilidades pessoais
Em toda comunidade, é possível identificar líderes, voluntários, bordadeiras, cozinheiras, artistas, educadores, mediadores
natos de conflitos, etc. Essas pessoas, entretanto, muitas vezes estão soltas e poderiam potencializar seus talentos se firmassem
parcerias ou simplesmente se tivessem maiores oportunidades de expressar as suas habilidades. O mapeamento pode auxiliar no
desencadeamento desse processo.
DIFICULDADES
É indispensável que o formulário de informações coletadas para a confecção do mapa tenha um espaço destinado ao registro
dos problemas da comunidade, segundo a perspectiva da própria comunidade. Além disso, é interessante classificar o problema de
acordo com a sua natureza: estrutural, social, pessoal 22. Essa classificação, quando efetuada pelo próprio agente comunitário, em
comunhão com as pessoas entrevistadas, pode provocar uma reflexão importante sobre o contexto nos quais repousam os conflitos
individuais ou coletivos daquela comunidade. Assim, problemas como desemprego, analfabetismo, ausência de saneamento, falta de
hospitais e escolas, violência doméstica, crianças de rua, crime organizado, gangues de jovens, alcoolismo, evasão escolar, crimes,
abuso infantil, problemas psicológicos, dentre outros, comporão um mosaico útil para impulsionar uma reflexão coletiva acerca de
suas circunstâncias.
Embora não haja um momento de conclusão do mapeamento social, eis que se trata de um processo permanente na mesma
medida da dinâmica social, é fundamental que os resultados parciais sejam objeto de partilha e debate na comunidade. Além disso, é
importante que, periodicamente, sempre que possível, haja uma análise dos resultados alcançados a partir da confecção do mapa, tais
como parcerias, empreendimentos ou eventos desencadeados a partir desse processo.
2.2.2. As redes sociais com foco nas ações comunitárias;
Animação de redes sociais
As redes sociais
As redes sociais são a expressão dos contornos da contemporaneidade. Para Manuel Castells, redes constituem a nova
morfologia social de nossas sociedades, e a difusão da lógica de redes modifica de forma substancial a operação e os resultados dos
processos produtivos e de experiência, poder e cultura 23. O padrão de organização em rede caracteriza-se pela multiplicidade dos
elementos interligados de maneira horizontal. Os elos de uma rede se comunicam voluntariamente, sob um acordo intrínseco que
revela os traços de seu modus operandi: o trabalho cooperativo, o respeito à autonomia de cada um dos elementos, a ação coordenada,
o compartilhamento de valores e objetivos, a multiliderança, a democracia e, especialmente, a desconcentração do poder. 24

17
NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais
ABCD, cit., p. 26.
18
.Ibidem, p. 23
19
. Nessa data teve início o semestre letivo de 2006 da Escola de Justiça e Cidadania, oportunidade em que se apresentou a nova
metodologia de captação das informações relativas à comunidade, a fim de que os agentes comunitários possam contribuir de maneira
mais efetiva para a confecção do mapeamento social.
20
NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcelos; NEUMANN, Rogério Arns, Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais ABCD,
cit., p. 53-61.
21
Ibidem, p. 64
22
. Ibidem, p. 24.
23
CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. Tradução de Roneide Venâncio Mayer com a colaboração de Klauss Brandini Gerhardt. 3. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2000. p. 497 (A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, v. 1).

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Há um processo simbiótico25 entre participação política, exercício da autonomia e solidariedade entre os membros de uma
comunidade organizada em rede. As redes permitem maximizar as oportunidades para a participação de todos, para o respeito à
diferença e para a autoajuda em um contexto de mútua assistência. Participação traz mais oportunidade para o exercício dos direitos
políticos e das responsabilidades. Para se ter acesso aos recursos comunitários, o nível de atividade e de compromissos dos grupos
sociais aumenta e a autoestima cresce, após a conquista de mais direitos e recursos. Há uma reciprocidade entre os vários
componentes dessa cadeia ecológica, na medida que implica retroalimentação. 26
Castells declara que o principal agente da mudança atual é um padrão de organização e intervenção descentralizada e
integrada em rede, característica dos novos movimentos sociais. 27
A leitura de que as redes revelam novas formas de relações sociais também é compartilhada por Roberto Armando Ramos de
Aguiar, para quem as redes vão possibilitando a combinação de projetos, o enfraquecimento dos controles burocráticos, a
descentralização dos poderes, o compartilhamento de saberes e uma oportunidade para o cultivo de relações horizontais entre
elementos autônomos. 28
Essa nova estrutura que vai se consolidando como alternativa ao sistema oficial está associada à prática da mediação: Como a
verticalidade e as estruturas piramidais vão sendo confrontadas pelas redes, a solução dos conflitos tende a abandonar as formas
clássicas e judicializadas para admitir novas formas de composição de conflitos como a mediação, que consiste na possibilidade de
discussão mediada dos problemas para se chegar a um acordo final 29. Essas experiências permitem que a lógica da rígida estrutura da
linguagem judicial ceda lugar à retórica, à arte do convencimento, ao envolvimento. É o que ele denomina direito dialogal, que
respeita as diferenças e radicaliza a democracia. 30
Mas, afinal, diante da centralidade do mercado e da retração estatal que marcam os tempos atuais, em que malhas sociais
essas redes são construídas? Quais são os espaços possíveis para a reinvenção da emancipação? Para Sousa Santos, as sociedades
capitalistas são constituídas de seis estruturas, seis esferas de relações sociais, as quais produzem seis formas de poder, de direito e de
conhecimento de senso comum. São espaços centrais para a produção e reprodução das relações de poder, mas são também
suscetíveis de se converterem em lugares centrais de relações emancipatórias 31, a partir de práticas sociais transformadoras. Apesar de
cada esfera guardar autonomia em relação às demais, posto que apresentam dinâmicas próprias, a ação transformadora em cada uma
delas só pode ser colocada em movimento em combinação com as demais. 32
Em cada espaço dessa estrutura multifacetada, a ação transformadora destina-se a construir condições para que os
paradigmas emergentes possam ser experimentados em oposição à reprodução dos velhos padrões de dominação. Esses
espaços são os seguintes:
a) a esfera doméstica, cujo paradigma dominante é organização pautadas na exclusão das diferenças, possa dar
constituído pela família patriarcal, em contraposição à espaço à identidade múltipla, inacabada, valorizando o senso
emergência da democratização do direito doméstico, baseado na comum emancipatório orientado para uma ação multicultural e
autoridade partilhada, na prestação mútua de cuidados, dentre democrática;
outros; e) a esfera da cidadania, constituída pelas relações entre o
b) o espaço da produção, no qual reina o expansionismo Estado e a sociedade e entre os membros da sociedade; nesse
capitalista a ser transformado em um novo padrão pautado em espaço, o paradigma emergente é voltado à democracia radical,
unidades de produção baseadas em cooperativas autogeridas; à realização dos direitos humanos, transformando as relações de
c) o mercado, no qual o consumo voltado para as poder em autoridades partilhadas;
satisfações individualistas possa ser direcionado para as f) o espaço mundial, no qual o paradigma do
necessidades humanas, por meio do estímulo a um consumo desenvolvimento desigual e da soberania exclusiva seja
solidário; transformado em soberania recíproca e democraticamente
d) o espaço comunitário propriamente dito, em que a permeável.
sociedade colonial , representada por antigas formas de

24
MARTINHO, Cássio. O projeto das redes: horizontalidade e insubordinação. Aminoácidos, Brasília, Agência de Educação para o Desenvolvimento
(AED), n. 2, p. 101, 2002.
25
Simbiose – Ecologia: interação entre duas espécies que vivem juntas.
26
FOLEY, Gláucia Falsarella, Justiça comunitária: por uma justiça da emancipação, cit., p. 123-127.
27
Pelo fato de que nossa visão histórica de mudança social esteve sempre condicionada a batalhões bem ordenados, estandartes coloridos e
proclamações calculadas, ficamos perdidos ao nos confrontarmos com a penetração bastante sutil de mudanças simbólicas de dimensões cada vez
maiores, processadas por redes multiformes, distantes das cúpulas de poder. São nesses recônditos da sociedade, seja em redes eletrônicas alternativas
seja em redes populares de resistência comunitária, que tenho notado a presença dos embriões de uma nova sociedade, germinados nos campos da
história pelo poder da identidade. E conclui: o caráter sutil e descentralizado das redes de mudança social impede-nos de perceber uma espécie de
revolução silenciosa que vem sendo gestada na atualidade (CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. Tradução de Klauss Brandini Gerhardt. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1999. p. 426-427. A Era da Informação: Economia, Sociedade e Cultura, v. 2).
28
E acrescenta: Isso enseja uma profunda revisão tanto no momento da gênese normativa, nas formas de sua construção, como também aponta para
novas formas de aplicação, manutenção e controle dos que vivem no interior dessas relações, onde não há lugar para a lentidão, nem espaço para
assimetrias acentuadas, nem oportunidades de acumulação de poder pelos velhos detentores da máquina burocrática. É uma outra dimensão da
democracia emergindo (AGUIAR, Roberto Armando Ramos de. Procurando superar o ontem: um direito para hoje e amanhã. Notícia do Direito
Brasileiro, Nova série, Brasília, Universidade de Brasília, Faculdade de Direito, n. 9, p. 71, 2002).
29
Ibidem, p. 76.
30
Ibidem, mesma página
31
SOUSA SANTOS, Boaventura de Sousa. A crítica da razão indolente: contra o desperdício da experiência. São Paulo: Cortez, 2000. p. 271.
32
Ibidem, p. 334-342.

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Nesses espaços estruturais, a construção do paradigma emergente pressupõe uma tripla transformação: do poder em
autoridade partilhada; do direito despótico em direito democrático; e do conhecimento-regulação em conhecimento-emancipação.
Os espaços privilegiados para a formação dessas redes solidárias, na perspectiva do Programa Justiça Comunitária, são três
das seis esferas indicadas por Sousa Santos: o espaço doméstico, o comunitário e o da cidadania. Nesses espaços, é possível
reinterpretar os conflitos, instrumentalizando-os para o exercício da autonomia, sob uma perspectiva solidária.
A autonomia é a capacidade de autodeterminação de um ser humano ou de uma coletividade. Segundo Franco, é o poder de se
administrar por si mesmo, criando as normas nomos, para si mesmo auto. Mas, conforme adverte esse autor, o exercício da autonomia
pressupõe uma relação de poder, de vez que cada um, em sua autossuficiência, não se volta à realização da humanização. Assim, para
romper com a lógica do poder, a autonomia deve se universalizar, por meio da construção de um mundo unificado por comum
humanização. 33
O conceito de autonomia com o qual opera o Programa Justiça Comunitária tem, portanto, essa dimensão da alteridade. O seu
desenvolvimento ocorre nos locais em que as pessoas erigem suas vidas e enfrentam as dificuldades, em comunhão com as outras. É
nessas arenas locais doméstica, comunitária e da cidadania que os cidadãos podem desenvolver a capacidade de refletir, dialogar e
decidir em comunhão os seus conflitos, dando ensejo à realização da autonomia política, no sentido de resgate do auto nomos e da
radicalização da democracia 34. Essa requer mais participação popular, menos exclusão social e, consequentemente, mais justiça
social. São nessas esferas que o cidadão comum sente que é possível intervir na vida política, exercitando a cidadania. São nesses
espaços que as pessoas constroem suas relações e fazem escolhas ao longo da vida. São esses os espaços em que se tece a teia da vida.
35

As redes sociais em movimento


Conforme já assinalado, o mapeamento social permite a descoberta das vocações, talentos e potencialidades da comunidade e
de seus membros. No decorrer da permanente sistematização e análise dos dados coletados, é importante que haja um movimento que
conecte as iniciativas e organizações comunitárias, colocando-as em permanente contato e diálogo.
A animação de redes sociais tem por objetivo promover capital social, cujo grau, embora não possa ser mensurado 36, pode ser
avaliado a partir da presença dos seguintes elementos na comunidade: sentimento de pertença, reciprocidade, identidade na diferença,
cooperação, confiança mútua, elaboração de respostas locais, emergência de um projeto comum, repertório compartilhado de
símbolos, ações, conceitos, rotinas, ferramentas, estórias e gestos, relacionamento, comunicação, realização de coisas em conjunto.
Mas, como promover esses encontros em face de uma realidade que estimula o ceticismo na comunidade e até mesmo um
certo grau de resignação de seus membros em relação aos temas afetos à vida política? Conforme Neumann assevera, nas
comunidades de baixa renda, a alta migração de moradores, a violência, a insegurança e a desconfiança de tudo e de todos tendem a
quebrar as relações sociais e a isolar as pessoas em suas casas e espaços. Não permitindo que compartilhem anseios, dúvidas e medos.
Um trabalho de desenvolvimento de uma comunidade de dentro para fora deve começar por aproximar as pessoas e ajudá-las a
construir ou fortalecer as relações e confiança mútua. 37
Nesse sentido, é fundamental que os agentes comunitários e a equipe interdisciplinar mantenham em suas agendas
permanentes contatos com a comunidade, por meio de reuniões previamente organizadas.
Para preparar as reuniões, deve-se: 38
✔ verificar se há infraestrutura no local (se o espaço comporta o número de pessoas, se há barulho, etc.);
✔ levantar as necessidades de material;
✔ definir o facilitador;
✔ elaborar a pauta da reunião a ser divulgada com antecedência;
✔ elaborar um acolhimento inicial;
✔ elaborar uma dinâmica na qual todos possam participar; 39
✔ fechar a reunião, amarrando o que foi deliberado;
✔ confirmar eventuais tarefas assumidas individualmente ou em grupo;
✔ divulgar a data de uma próxima reunião
A reunião também deve propiciar que o tema que a ensejou seja objeto de reflexão, abordagem e troca de saberes
diferenciados, incluídos o dos técnicos que eventualmente participem e daquele produzido localmente. Também deve haver um espaço
para falar do futuro, que é sempre um norteador dos esforços comunitários.
Ao proporcionar esses encontros e promover esses diálogos, os agentes comunitários agem como tecelões, contribuindo para
que essa teia social se revele coesa o suficiente, indicando que aquele aglomerado humano se lançou na aventura de construir a sua
comunidade.
33
FRANCO, Augusto. Ação local: a nova política da contemporaneidade. Brasília: Agora; Instituto de Política; Fase, 1995. p. 61 e 80 .
34
MOUFFE, Chantal. Deliberative democracy or agonistic pluralism? Social Research, v. 66, n. 3, p. 745-758, 1999. Disponível em: . Acesso em: nov. 2002.
35
CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. Tradução de Newton Roberval Eichemberg. São Paulo:
Cultrix, 1997.
36
FRANCO, Augusto de. Capital social. Brasília: Instituto de Política; Millennium, 2001. p. 62.
37
NEUMANN, Lycia Tramujas Vasconcellos; NEUMANN, Rogério Arns, Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais
ABCD, cit., p. 32.
38
Ibidem, p. 30
39
A experiência do Programa Justiça Comunitária revelou que, quando realizadas em pequenos grupos, as reuniões tendem a ser mais eficientes,
porque propiciam um ambiente mais acolhedor e possibilitam maior conexão. As dinâmicas envolvendo grandes grupos tendem a privilegiar somente
os mais extrovertidos, o que facilita que as decisões sejam do tipo assembleísticas, ou seja, prevalecem o argumento e a perspectiva daquele que levar
mais aliados e, por consequência, tiver maior número de adesões.

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2. 3. Mobilização Comunitária
Em meio a uma comunidade verificam-se dois termos de importância fundamental para que a sociedade venha atingir os seus
objetivos em prol da ordem pública e de uma convivência pacífica entre os seres humanos: a comunidade geográfica e a comunidade
de interesse.
Esses conceitos se confundiam no passado quando ambas as comunidades se misturavam para abranger a mesma população.
Este fato é extremamente relevante para o uso de “comunidade” no policiamento comunitário porque o crime, a desordem e o
medo do crime podem criar uma comunidade de interesse dentro da comunidade geográfica.
Incentivar e enfatizar esta comunidade de interesse dentro de uma área geográfica pode contribuir para que os residentes
trabalhem acompanhado do policial comunitário para criar um sentimento positivo na comunidade. (TROJANOWICZ e
BOUCQUEROUX, 1994).
Nesta óptica a mobilização social procura então alertar as autoridades policiais da necessidade dessa aproximação.
A mobilização social é muitas vezes confundida com manifestações públicas, com a presença das pessoas em uma praça,
passeata, concentração. Mas isso não caracteriza uma mobilização. A mobilização ocorre quando um grupo de pessoas, uma
comunidade ou uma sociedade decide e age com um objetivo comum, buscando, quotidianamente, resultados decididos e desejados
por todos.
2.3.1 Fundamentos e princípios da gestão integrada e comunitária;
GESTÃO PELA QUALIDADE NA SEGURANÇA PÚBLICA.
É possível até se discutir o que é qualidade, mas não se pode negar que os princípios da gestão pela qualidade, utilizados com
êxito na administração de empresas públicas e privadas, auxiliam muito no planejamento, no acompanhamento e na avaliação de
produtos e serviços. Estes princípios aplicados à Segurança Pública, principalmente na Polícia Comunitária, contribuirão para a
melhoria da prestação do serviço à comunidade.
Estratégias Institucionais para o Policiamento
Discutindo estratégia
De forma simples, uma estratégia define:
 as metas que se quer atingir;
 os principais produtos (ou serviços);
 as tecnologias; e
 os processos de produção que serão utilizados.
Por isso, é de fundamental importância elaborar metas é quantificar cada objetivo, atribuir valores (custos), estabelecer
prazos (tempo) e definir responsabilidades. A estratégia também orienta a maneira como a instituição irá se relacionar com seus
funcionários, seus parceiros e seus clientes. Uma estratégia é definida quando um executivo descobre a melhor forma de usar sua
instituição para enfrentar os desafios ou para explorar as oportunidades do meio.
Como observa FREITAS (2003), gerenciar a rotina é garantir meios para que o nível operacional atinja resultados,
esperados, de produtividade e qualidade pelo nível institucional. Geralmente, as empresas modernas (ou pós-modernas), utilizam o
sistema de gestão para atingir metas. Este processo de gerência envolve os três níveis de uma instituição/organização:
- Nível Institucional – Responsável pela formulação de estratégias e metas anuais para a instituição ou empresa;
- Nível Tático – Responsável por desdobrar estas metas em diretrizes e normas; e
- Nível Operacional – Responsável por atingir as metas.
Observe o diagrama a seguir para compreender melhor:

Figura 2. O Sistema de Gestão


para atingir metas.
Principais estratégias de policiamento
De acordo com MOREIRA (2005), os policiais brasileiros que ocupam cargos executivos não costumam considerar as
diferentes estratégias institucionais para o policiamento. Uma grande parcela prefere repetir aquilo que aprendeu nas academias, com
seus professores policiais, sem considerar outros modelos policiais. Entretanto, na tentativa de atingir os objetivos organizacionais,
alcançar uma legitimação e apoio das comunidades acumulou–se, nos últimos 50 anos, diversas experiências policiais.
Estas experiências podem ser divididas em quatro grandes grupos:
- Combate profissional do crime ou policiamento tradicional;
- Policiamento estratégico;
- Policiamento Orientado para o Problema; e
- Polícia Comunitária.

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Uma estratégia de policiamento orienta, dentre outras coisas, os objetivos da polícia, seu foco de atuação, como se relaciona
com a comunidade e as suas principais táticas.
Exemplos de estratégias:
Combate profissional do crime e policiamento estratégico têm como objetivo principal o controle do crime, pelo
esforço em baixar as taxas de crime;
Policiamento Orientado para o Problema e a “Polícia Comunitária” enfatizam a manutenção da ordem e a redução do medo
dentro de um enfoque mais preventivo.
Enquanto o policiamento tradicional mantém certo distanciamento da comunidade (os policiais é que são especialistas), a
Polícia Comunitária defende um relacionamento mais estreito com a comunidade como uma maneira de controlar o crime, reduzir o
medo e garantir uma melhor qualidade de vida.
As características das quatro estratégias de Policiamento
Combate Profissional do Crime ou Policiamento Tradicional
A estratégia administrativa que orientou preferência com automóveis, suplementadas com rádio, atuando
mundialmente o policiamento a partir de 1950 e, no Brasil, de modo a criar uma sensação de onipresença e respondendo
ainda orienta a maioria das polícias, de todas as unidades rapidamente aos chamados, principalmente aqueles originados
federativas, é sintetizada pela frase, que nomeia esta estratégia: pelo telefone 190 ou 911 – no exterior.
"combate profissional do crime". - Os valores que dirigem o combate ao crime
Ela tem como principais características: englobam o controle do crime como objetivo importante,
- Foco direto sobre o controle do crime como sendo a investimentos no treinamento policial, aumento do status e da
missão central da polícia , e só da polícia; autonomia da polícia e a eliminação da truculência policial.
- Unidades centralizadas e definidas mais pela função A limitação deste modelo em controlar a
(valorização das atividades especializadas), do que criminalidade é um dos seus pontos fracos; um outro é o caráter
geograficamente (definição de um território de atuação para reativo da ação da polícia, que só atua quando é chamada,
cada um dos policiais); e acionada.
- Altos investimentos (orçamentários e de pessoal) em As táticas utilizadas normalmente falham na
tecnologia e em treinamento. prevenção dos crimes, ou seja, não os impedem de acontecer.
O objetivo da estratégia de combate profissional do Praticamente não há análise das causas do crime e
crime é criar uma força de combate do tipo militar, disciplinada existe um grande distanciamento entre a polícia e a
e tecnicamente sofisticada. Os principais objetivos desta comunidade. Na verdade, o distanciamento é incentivado, pois
estratégia é o controle da criminalidade e a resolução de crimes. “quem entende de policiamento é a polícia”. O isolamento é
- As principais tecnologias operacionais dessa uma tentativa institucional de evitar a corrupção.
estratégia incluem a utilização de patrulhas motorizadas, de

− Policiamento Estratégico
O conceito de policiamento estratégico tenta resolver A comunidade é vista como meio auxiliar importante
os pontos fracos do policiamento profissional de combate ao para a polícia, mas a iniciativa de agir continua centralizada na
crime, acrescentando reflexão e energia à missão básica de polícia, que é quem entende de Segurança Pública.
controle do crime. Os crimes cometidos por delinquentes individuais
O objetivo básico da polícia permanece o mesmo que sofisticados (crimes em série, por exemplo) e os delitos
é o controle efetivo do crime. O estilo administrativo continua praticados por associações criminosas (crime organizado, redes
centralizado e, através de pesquisas e estudos, a patrulha nas de distribuição de drogas (narcotráfico), crimes virtuais de
ruas é direcionada, melhorando a forma de emprego. pedofilia, gangues, xenofobia, torcedores de futebol violentos –
O policiamento estratégico reconhece que a como os hooligans, etc.) recebem ênfase especial.
comunidade pode ser um importante instrumento de auxílio O policiamento estratégico carece de uma alta
para a polícia e enfatiza uma maior capacidade para lidar com capacidade investigativa. Para esse fim são incrementadas
os crimes que não estão bem controlados pelo modelo unidades especializadas de investigação.
tradicional.
− Policiamento orientado para o problema (Era de resolução de problemas com a comunidade)
O policiamento para (re)solução de problemas, também emumprograma, com sugestões sobre o que a polícia precisa
conhecido com o policiamento orientado para o problema fazer”, segundo Skolnik; Bayley (2002, p.39).
(POP),é uma estratégia que tem como objetivo principal O POP pressupõe que os crimes podem estar sendo
melhorar o policiamento profissional, acrescentando reflexão causados por problemas específicos e talvez contínuos na
e prevenção criminal. mesma localidade. Conclui-se que o crime pode ser
Para diversos autores “[...] o policiamento orientado para minimizado (ou até mesmo extinto) através de ações
a solução de problemas conota mais do que uma orientação e preventivas, para evitar que seja rompida a ordem pública.
o empenho em uma tarefa particular. Ele implica Essa estratégia determina o aumento das tarefas da polícia ao
reagir contra o crime na sua causa, muito além do
patrulhamento preventivo, investigação ou ações repressivas.
− Policiamento Comunitário (Era de resolução de problemas com a comunidade)
A estratégia de policiamento comunitário vai, ainda, O policiamento comunitário, que é a atividade prática da
mais longe nos esforços para melhorar a capacidade da polícia.

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filosofia de trabalho da polícia comunitária, enfatiza a criação de a comunidade. O objetivo finalístico é para além do combate ao
uma parceria eficaz e eficiente entre a comunidade e a polícia. crime, pois permite a inclusão da redução do medo do crime, da
O policiamento comunitário tem a necessidade de deixar manutenção da ordem e de alguns tipos de serviços sociais de
a comunidade nomear seus problemas e buscar solucioná-los em
emergência.
parceria com a polícia. As instituições, como a família, a escola,
a igreja, as associações de bairro e os grupos de comerciantes, Os meios englobam toda a sabedoria acumulada pela
são considerados parceiros imprescindíveis da polícia para a resolução de problemas (método IARA). O estilo administrativo
criação de um grupo coeso de colaboradores. O êxito da polícia muda de concentrado para desconcentrado, de policiais
está não somente em sua capacidade de combater o crime, mas especialistas para generalistas. O papel da comunidade evolui de
na habilidade de criar e desenvolver comunidades competentes meramente informar ou alertar a polícia, para participante do
para solucionar os seus próprios problemas. controle do crime e na criação de comunidades ordeiras.
A polícia comunitária como filosofia muda os fins, os
meios, o estilo administrativo e o relacionamento da polícia com

Figura 3: Fonte: MOREIRA, Cícero Nunes. Apostila da disciplina de Polícia Comunitária para o curso de Formação
deOficiais. Mimeo. Academia de Polícia Militar, Polícia Militar de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.
CICLO PDCA
40
UNISUL

40
PACHECO. Giovanni Cardoso e Marcineiro, Nazareno Polícia Comunitária e Segurança Pública. Tópicos Emergentes em Segurança Pública
III. UnisulVirtual. Palhoça, 2013

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Figura 4. O Ciclo PDCA. Disponível em: <http://pergamum.unisul.br/pergamum/pdf/restrito/000003/0000032.3.4. pdf>


Acesso em 12 de ago de 2018.
O Ciclo PDCA
Entendendo a sigla: o nome PDCA é composto pelas primeiras letras dos verbos em inglês Plan (que significa planejar), Do
(que significa fazer, executar), Check (que significa checar, conferir) e Act - Action (que significa agir, no caso, agir
corretivamente). Esses verbos são a sequência do método PDCA. O ciclo PDCA é um método gerencial de tomada de decisões para
garantir o alcance das metas necessárias à sobrevivência de uma organização. Pelo ciclo PDCA consegue-se estabelecer uma
estratégia de melhoria contínua, que ao longo do tempo trará vantagens substanciais para a organização. Esse método visa a controlar
e atingir resultados eficazes e confiáveis nas atividades de uma organização.

As etapas que compõem o ciclo PDCA Check – Controle


Plan – Planejamento Etapa onde se compara o resultado alcançado com a meta
Consiste no estabelecimento de metas e do método para planejada, considerando-se os pontos a seguir:
alcançar essas metas. Três pontos importantes devem ser • Verificar se o trabalho está sendo realizado conforme o
considerados: padrão;
• Estabelecer os objetivos sobre os itens de controle • Verificar se os resultados medidos variam e comparar
• Definir o caminho para atingi-los com o padrão;
• Decidir quais os métodos a serem usados para atingir os • Verificar se os itens de controle correspondem com as
objetivos metas.
Do - Execução Action - Atuação Corretiva
Compreende a execução das tarefas previstas na etapa Consiste em atuar no processo de função dos resultados
anterior e na coleta dos dados a serem utilizados na próxima obtidos, verificando os três passos a seguir:
etapa. • Se o trabalho desviar do padrão, tomar ações para
Deve-se considerar também três pontos importantes: corrigi-lo;
• Treinar no trabalho o método a ser empregado; • Se um resultado estiver fora do padrão, investigar as
• Executar o método; causas e tomar ações para prevenir e corrigi-lo;
• Coletar os dados para verificação do processo. • Melhorar o sistema de trabalho e método.

MASP (QC STORY)


O Método de Análise e Solução de Problemas (MASP), também chamado pelos japoneses de QC STORY, é peça
fundamental para a melhoria na produção de bens ou prestação de serviços. A vasta maioria das decisões que são tomadas nas
empresas, sejam elas de cunho estratégico, tático ou operacional, são baseadas no bom-senso, experiência, feeling etc. Vale ressaltar
que qualquer decisão gerencial, em qualquer nível, deve ser conduzida para solucionar um problema (resultado indesejável de uma
atividade). Se isso for entendido, fica claro que qualquer decisão gerencial deve ser precedida de uma análise da atividade, conduzida
de maneira sistemática e sequencial pelo Método de Análise e Solução de Problemas.

As empresas possuem problemas que as privam de obter melhor produtividade e qualidade de seus
produtos, além de prejudicar sua posição competitiva. Nós temos a tendência de achar que sabemos a
solução desses problemas somente baseados na experiência ou naquilo que julgamos ser o conhecimento
certo. No entanto, o verdadeiro expert é aquele que alimenta seu conhecimento e experiência com fatos e
dados, dessa maneira, assegura-se de usar esse conhecimento, experiência e, principalmente, o seu tempo
na direção correta. (CAMPOS, 1992, p.208).

O MASP é uma sequência de procedimentos lógicos, baseada em fatos e dados, que objetiva:
1. localizar a causa fundamental dos problemas;
2. mapear as soluções possíveis;
3. implantar as soluções;
4. avaliar os resultados das mudanças ocorridas com a implantação;
5. padronização (no caso da mudança ter sido efetiva) ou a revisão das ações (caso a mudança não tenha surtido o efeito
desejado).

Saiba mais:
A primeira etapa do PDCA exige o estabelecimento de metas e procedimentos técnicos aptos a alcançar os resultados
propostos.

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A fase de execução do planejado também implica a formação e o treinamento dos funcionários para a correta realização das
metas estipuladas.
O ciclo PDCA visa a melhoria contínua dos processos e a normalização dos procedimentos mais eficientes.

2.3.2. Mecanismos do Estado que favorecem a implantação da gestão integrada e comunitária no âmbito da
segurança pública;
POLICIA COMUNITÁRIA
A polícia é o publico e o publico é a polícia: os policiais são aqueles membros da população que são pagos para dar atenção
em tempo integral as obrigações dos cidadãos;
Na relação com as demais instituições de serviço publico, a polícia e apenas uma das instituições governamentais responsáveis
pela qualidade de vida da comunidade;
• O papel da polícia e dar um enfoque mais amplo visando a resolução de problemas, principalmente por meio da prevenção;
• A eficacia da polícia e medida pela ausência de crime e de desordem;
• As prioridades são quaisquer problemas que estejam afligindo a comunidade;
• A polícia se ocupa mais com os problemas e com as preocupações dos cidadãos;
• O que determina a eficacia da polícia são o apoio e a cooperação do publico;
• O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito relacionamento com a comunidade;
• A função do comando e incutir valores institucionais;
• As informações mais importantes são aquelas relacionadas com as atividades delituosas de indivíduos ou grupos;
• O policial trabalha voltado para os 98% da população de sua área, que são pessoas de bem e trabalhadoras;
• O policial emprega a energia e a eficiência, dentro da lei, na solução dos problemas com a marginalidade que, no máximo,
chega a 2% dos moradores de sua localidade de trabalho;
• Os 98% da comunidade devem ser tratados como cidadãos e clientes da organização policial;
• O policial “presta contas” de seu trabalho ao superior e a comunidade;
• As patrulhas são distribuídas conforme a necessidade de segurança da comunidade, ou seja, 24 horas por dia; e
• -O policial e da área.
Tenha-o apenas como um referencial para análise e reflexão, pois, no cotidiano, será comum encontrar muitas instituições que
apesar de se pautarem no modelo de Policia Tradicional utilizam algumas orientações apresentadas pela
• Polícia Comunitária, mas isto não a legitima como tal.

Os 10 princípios da Polícia Comunitária


Para uma implantação do sistema de Polícia Comunitária e necessário que todos na instituição conheçam os seus princípios,
praticando-os permanentemente e com total honestidade de propósitos. São eles:
1) Filosofia e Estratégia Organizacional – A base desta filosofia e a comunidade. Para direcionar seus esforços, a policia
deve buscar, junto as comunidades, os anseios e as preocupações das mesmas, a fim de traduzi-los em procedimentos de segurança;
2) Comprometimento da Organização com a concessão de poder à Comunidade - Dentro da comunidade, os cidadãos
devem participar, como plenos parceiros da policia, dos direitos e das responsabilidades envolvidas na identificação, priorização e
solução dos problemas;
3) Policiamento Descentralizado e Personalizado – E necessário um policial plenamente envolvido com a comunidade,
conhecido pela mesma e conhecedor de suas realidades;
4) Resolução Preventiva de Problemas a curto e a longo prazos – A ideia e que o policial não seja acionado pelo rádio, mas
que se antecipe a ocorrência. Com isso, o numero de chamadas do COPOM deve diminuir;
5) Ética, Legalidade, Responsabilidade e Confiança – O policiamento comunitário implica num novo contrato entre a
polícia e os cidadãos aos quais ela atende, com base no respeito a ética policial, da legalidade dos procedimentos, da
responsabilidade e da confiança mutua que devem existir;
6) Extensão do Mandato Policial – Cada policial passa a atuar como um chefe de policia local, com autonomia e liberdade
para tomar iniciativa, dentro de parâmetros rígidos e responsabilidade. O propósito, para que o policial comunitário possua o poder, e
perguntar-se:
- Isto está correto para a comunidade?
- Isto está correto para a segurança da minha região?
- Isto é ético e legal?
- Isto é algo que estou disposto a me responsabilizar?
- Isto é condizente com os valores da Corporação?
Se a resposta for SIM a todas essas perguntas, não peça permissão. Faça-o!
7) Ajuda às pessoas com Necessidades Específicas – Valorizar a vida de pessoas mais vulneráveis: jovens, idosos, minorias,
pobres, deficientes, sem teto, etc. Isso deve ser um compromisso do policial comunitário;
8) Criatividade e Apoio Básico – Ter confiança nas pessoas que estao na linha de frente da atuação policial, confiar no seu
discernimento, sabedoria, experiencia e, sobretudo,na formação que recebeu. Isso propiciara abordagens mais criativas para os
problemas contemporâneos da comunidade;
9) Mudança interna – O policiamento comunitário exige uma abordagem plenamente integrada, envolvendo toda a
organização. E fundamental a reciclagem de seus cursos e respectivos currículos, bem como de todos os seus quadros de pessoal. E

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uma mudança que se projeta para 10 ou 15 anos; e


10) Construção do Futuro – Deve-se oferecer a comunidade um servico policial descentralizado e personalizado, com
endereço certo. A ordem não deve ser imposta de fora para dentro, mas as pessoas devem ser encorajadas a pensar na policia como
um recurso a ser utilizado para ajudá-las a resolver problemas atuais de sua comunidade.
Além dos princípios, deve-se estar atento também a certas condi coes que favorecem a implantacao da Policia
Comunitária. Como você estudara a seguir.
Implantação do modelo de Policia Comunitária – Tarefas Básicas
Antes de analisar as tarefas básicas necessárias para implantação do modelo de Policia Comunitária e importante refletir sobre
o que e destacado por SILVA:

A cultura brasileira ressente do espirito comunitário. Somos individualistas e paternalistas, o que dificulta qualquer esforço de
participação da comunidade na solução de problemas. No caso da Segurança Pública, bem essencial a todos os cidadãos, esperar do
Poder Publico todas as providências para obtê-la e atitude que só tem contribuído para agravar o problema, pois e preciso situar os
limites da atuação governamental. (...) Se admitirmos como verdadeira a premissa de que a participação do
cidadão na sua própria segurança aumenta a segurança do mesmo e contribui para diminuir o medo do crime. (...) Compete ao Poder
Publico (Federal, Estadual e Municipal) incentivar e promover os modos de esta articulação se fazer de forma produtiva, posto que,
agindo autonomamente, essas comunidades poderão sucumbir a tentação de querer substituir o Estado no uso da forca, acarretando o
surgimento de grupos de justiçamentos clandestinos e a proliferação de calunia, da difamação e da delação. (SILVA, 1990, p. 17)

Os princípios da Polícia Comunitária chamam a atenção para a integração e a participação de cada uma das partes envolvidas,
por isso, as tarefas para a sua implantação devem ser de responsabilidade de todos, mesmo que para cada grupo caibam atividades
específicas como você estudara a seguir. Observe que, além de mudanças organizacionais, implantação de um modelo de Policia
Comunitária exigira também mudanças comportamentais que, como destacou Silva (1990), estão atreladas a mudanças culturais.
Mudanças organizacionais + Mudanças comportamentais = Implantação da Policia Comunitária
As principais tarefas na implantação do modelo de Policia Comunitária são divididas em 3 grupos:
- Organizacional;
- Comunitária; e
- Policiais.
As características de cada grupo serão apresentadas nas paginas seguintes.
Quanto a organização policial:
A polícia deve reconhecer que e parte integrante do conjunto do sistema penal e aceitar as consequências de tal princípio. Isso
supõe:
a) A existência de uma filosofia geral mínima, aceita e aplicada pelo conjunto do sistema penal; e
b) A cooperação efetiva entre os policiais e os demais membros desse sistema penal em relação ao problema do tratamento
judicial da delinquência. A polícia deve estar a serviço da comunidade, sendo a sua razão de existir garantir ao cidadão o exercício
livre e pacífico dos direitos que a lei lhe reconhece.
Isso implica:
a) Uma adaptação dos serviços policiais as necessidades reais da comunidade;
b) A ausência de qualquer tipo de ingerência politica indevida nas atuações policiais; e
c) A colaboração do publico no cumprimento de certas funções policiais.
A policia deve ser, nas suas estruturas básicas e em seu funcionamento, um serviço democrático. Isso pressupõe:
a) A civilidade no atendimento ao serviço;
b) Um respeito total aos direitos fundamentais dos cidadãos;
c) A participação de todos os integrantes do serviço e do conjunto da população na elaboração das politicas policiais; e
d) A aceitação da obrigação de prestar contas, periodicamente, das suas atividades.
A polícia deve ser um serviço profissional. São critérios necessários para um verdadeiro profissionalismo policial:
a) A limitação da ação da polícia a funções específicas;
b) A formação especializada de seu pessoal;
c) A aceitação de profissionais civis;
d) A criação e implantação de um plano de carreira;
e) A prioridade dada a competência na atribuição de promoções, critério que deve prevalecer sobre o da antiguidade na escala;
e
f) A existência de um código de ética profissional.
A polícia deve reconhecer a necessidade do planejamento, da coordenação e da avaliação de suas atividades, assim como da
pesquisa, e colocá-los em prática, considerando que:
a) O planejamento administrativo e operacional da policia, a coordenação e avaliação das suas atividades, assim como a
pesquisa, devem ser funções permanentes do serviço;
b) As principais etapas do processo de planejamento policial devem ser: identificação de necessidades, analise e pesquisa,
determinação de objetivos a curto, médio e longo prazos, elaboração de uma estratégia para a sua implantação, consulta regular dentro
e fora do serviço e avaliação periódica de tais objetivos e estratégias;
c) Os objetivos da polícia devem corresponder as necessidades da comunidade, ser flexíveis, realizáveis e mensuráveis; e

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d) A polícia deve participar de um planejamento conjunto com os demais ser vicos policiais do pais e com as instituições
governamentais envolvidas ou interessadas nos problemas relacionados com as atividades das forcas da ordem
Quanto a comunidade:
- A Polícia Comunitária transfere o poder a comunidade para auxiliar o planejamento com o objetivo de melhorar a qualidade
de vida e as acoes policiais;
- A Polícia Comunitária requer que a comunidade forneça insumos para as gestões que afetam a sua finalidade de vida;
- A comunidade, com poder, compartilha a responsabilidade de melhorar;
- O senso de parceria com a polícia e criado e fortalecido; e
- Uma comunidade com mais poder, trabalhando em conjunto com uma policia com mais poder, resulta numa situação em que
o todo e maior do que a soma das partes.
Quanto aos policiais
- Permitir ao policial “resolver” os problemas, em vez de simplesmente se “desvencilhar” deles;
- Dar o poder de analisar os problemas e arquitetar soluções, delegando responsabilidade e autoridade reais;
- Os recursos da instituição devem ter como foco de atenção auxiliar este policial; e
- Os executivos de polícia devem entender que seu papel e dar assistência aos policiais na resolução de problemas.
A mudança comportamental tanto da polícia quanto da comunidade tende a criar bons frutos, porque aproxima lados que
vivem, de certa forma longe, mas que se encontram nos momentos de ocorrências. Também cria condições para que aumente a
sensação de segurança que tanto anseia a população. Por outro lado, o policial verifica que seu trabalho se torna mais sólido no que diz
respeito a prevenção e tem sua satisfação profissional elevada.
A polícia não deixa de realizar o seu trabalho rotineiro, mas com as medidas de Polícia Comunitária consegue reduzir a médio
e longo prazo, os índices de atendimento de urgência.
O trabalho de Polícia Comunitária deve:
- Ser apartidário e apolítico;
- Envolver a Polícia Militar direcionando a prevenção e, quando necessário, a intensificação do ostensivo;
- Envolver a Polícia Civil para aproximação e familiarização com a comunidade, esclarecendo questões pertinentes ao bom
atendimento do cidadão no Distrito Policial, bem como dar o caráter social e preventivo a investigação criminal;
- Sensibilizar e manter contatos com as autoridades de vários organismos públicos para a garantia do desenvolvimento do
projeto;
- Ser desvinculado de qualquer interesse particular, religioso e ideológico;
- Ter objetivos claros e definidos, sempre prestando contas a comunidade;
- Ser voltado a reeducação da comunidade;
- Evitar confrontos, mostrando sempre o lado educativo em qualquer situação;
- Estar sempre preocupado com a integridade física e moral dos participantes; - Esquematizar formas de proteção aos
participantes do projeto;
- Providenciar apoio as autoridades competentes, a qualquer indicio de exposicao de um dos participantes;
- Ser desenvolvido priorizando o respeito a dignidade humana;
- Priorizar os mais carentes e necessitados; e
- Ser flexível e constantemente reavaliado.
RESUMO
• “Policia Comunitária” não tem o sentido preventiva com os cidadãos, para 8)Criatividade e Apoio Básico,
de ASSISTÊNCIA POLICIAL, mas sim, o identificar e resolver problemas. 9) Mudança interna,
de PARTICIPAÇÃO SOCIAL. • Filosofia e Estrategia 10) Construção do Futuro, são os
•Na prática, Polícia Comunitária Organizacional, 10 princípios que orientam a filosofia e
(como filosofia de trabalho) difere do 1)Comprometimento da a implantação da Polícia Comunitária.
policiamento comunitário (ação de Organização com a concessão de poder • As tarefas para implantação da
policiar junto a comunidade). Polícia a Comunidade, Policia Comunitária devem ser de
Comunitária deve ser interpretada como 2) Policiamento Descentralizado responsabilidade de todos , mesmo que
uma filosofia organizacional , indistinta e Personalizado, para cada grupo caibam atividades
a todos os órgãos de polícia, pertinente 3) Resolução Preventiva de específicas. Observe que além de
as acoes efetivas com a comunidade. Problemas a curto e a longo prazo, mudanças organizacionais, a
• O policiamento comunitário e 4) Ética, implantação de um modelo de Polícia
uma filosofia de patrulhamento 5) Legalidade, Comunitária exigira também mudanças
personalizado de serviço completo, onde 6) Responsabilidade e Confiança, comportamentais que, como destacou
um policial trabalha sempre numa 7) Extensão do Mandato Policial, Silva (1990), estão atreladas a mudanças
mesma área, agindo em parceria 8) Ajuda as pessoas com culturais.
Necessidades Especificas,

Saiba mais:
• Os Gabinetes de Gestão Integrada, de forma geral, se fundamentam em três eixos:
◦ I - atuação em rede
◦ II - gestão integrada.
◦ III - perspectiva sistêmica.

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2.3.3. Policiamento orientado por problema


Policiamento Orientado para o Problema – POP
O policiamento para resolução de problemas é também chamado de Policiamento Orientado para o Problema – POP. Seu
objetivo inicial é melhorar a antiga estratégia de policiamento profissional, acrescentando reflexão e prevenção.
O POP, como geralmente é chamado na literatura internacional, pressupõe que os crimes podem ser causados por problemas
específicos e, talvez, contínuos na comunidade, tais como: relacionamento frustrante, grupo de desordeiros, narcotráfico, dentre
outras causas. Para esse tipo de policiamento, o crime pode ser controlado e até mesmo evitado por ações diferentes das meras prisões
de determinados delinquentes. A polícia pode, por exemplo, resolver problemas ao simplesmente restaurar a ordem em um local. Essa
estratégia determina o aumento das opções da polícia para reagir contra o crime (muito além da patrulha, investigação e detenções).
Características
- As chamadas repetidas geram uma forma de agir diferenciada. Entre o repertório de ações preventivas incluem alertar bares
quanto ao excesso de ruído, incentivar os comerciantes a cumprirem regras de trânsito, proibir a permanência de menores em
determinados locais, etc.
- A comunidade é encorajada a lidar com problemas específicos. Pode, por exemplo, providenciar iluminação em
determinados locais, limpar praças e outros locais, acompanhar velhos e outras pessoas vulneráveis. De igual modo, outras
instituições governamentais e não-governamentais podem ser incentivadas a lidar com situações que levem aos delitos.
- Essa estratégia de policiamento implica mudanças estruturais da polícia, aumentando a capacidade de decisão, de resolução
de problemas e a iniciativa do policial.
- O POP desafia a polícia a lidar com a desordem e situações que causem medo, visando um maior controle do crime. Os
meios utilizados são diferentes dos anteriores, incluem um diagnóstico das causas do crime, a mobilização da comunidade e de
instituições governamentais e não-governamentais. Eles encorajam uma descentralização geográfica e a existência de policiais
generalistas e capacitados. Mais à frente você verá o método I.A.R.A. utilizado neste tipo de policiamento.

Método Iara (Igor Araújo Barros de Morais41 e Thiago Augusto Vieira42)


Na resolução de problemas repetitivos de segurança, com base no Posp 43, a polícia deve utilizar a seguinte metodologia:
identificar e especificar os problemas, analisar para descobrir as causas desses problemas, responder baseada nos dados analisados
para eliminar as causas geradoras dos problemas e avaliar o sucesso de todo esse processo (CLARKE; ECK, 2013).
As mencionadas etapas de identificar, analisar, responder e avaliar foram sintetizadas na sigla Iara, traduzida da sigla inglesa
SARA, criada por John Eck e Bill Spelman para descrever as quatro fases de solução de problemas correspondentes no inglês:
scanning, analysis, response e assessment (CLARKE; ECK, 2013).
Este método foi desenvolvido por policiais e pesquisadores no projeto Newport News, na década de 1970 nos EUA, modelo
de solução de problemas que pode ser utilizado para lidar com o problema do crime e da desordem. Como resultado desse projeto
surgiu o método SARA, que traduzido para a língua portuguesa é denominado IARA.
Etapa Português Ingles
1ª FASE IDENTIFICAÇÃO    SCANNING
2ª FASE ANÁLISE     ANALYSIS
3ª FASE RESPOSTA  RESPONSE
 4ª FASE AVALIAÇÃO ASSESSMENT
                   -                                       

Figura 5 – Método IARA


41
Bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. Especialista em Gestão da Segurança Pública pela Faculdade
Barddal. Aspirante a oficial da Polícia Militar de Santa Catarina.
igor4444@gmail.com
42
Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC. Bacharel em Segurança Pública pela Universidade do Vale do Itajaí.
Especialista em Ciências Penais pela Universidade Anhanguera. Capitão da Polícia Militar de Santa Catarina. thiagoaugusto.vieira@gmail.com
43
Policiamento Orientado para a Solução de Problemas

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É importante ressaltar que existem diversas variações desta metodologia, detalhando ainda mais cada uma das fases. O
método IARA é de simples compreensão para os líderes comunitários e para os policiais que atuam na atividade-fim, e não
compromete a eficiência e eficácia do serviço apresentada pelo POP, assim como não contradiz outros métodos, por isso, neste texto
resolvemos adotá-la como referência. Observe como que o processo PDCA (muito utilizado na administração de empresas),
assemelha-se com o próprio método IARA, utilizado no policiamento orientado para o problema (POP).Como primeiro passo, o
policial deve identificar os problemas em sua área e procurar por um padrão ou ocorrência persistente e repetitiva. A questão que
pode ser formulada é: O QUE É O PROBLEMA?
Para GOLDSTEIN (2001) um problema no policiamento comunitário pode ser definido como “um grupo de duas ou mais
ocorrências (cluster de incidentes) que são similares em um ou mais aspectos (procedimentos, localização, pessoas e tempo), que
causa danos e, além disso, é uma preocupação para a polícia e principalmente para a comunidade.”
CERQUEIRA (2001), conceitua que problema (no contexto de Polícia Comunitária), é qualquer situação que cause alarme,
dano ameaça ou medo, ou que possa evoluir para um distúrbio na comunidade”
Fonte: SENASP

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Para iniciar o método Iara, é necessário definir o que é um problema. No contexto do POSP, um problema corresponde a um
grupo de incidentes similares em tempo, modo, lugar e pessoas, relacionados à segurança pública. Além disso, um problema deve ser
uma preocupação substancial tanto para a comunidade quanto para a polícia. Assim, tanto polícia como comunidade devem participar
juntos e ter paridade no processo de identificação do problema (TASCA, 2010). É importante também nesta etapa a participação da
comunidade. Segundo Marcineiro (2009, p. 119), dar qualidade ao serviço policial significa torná-lo mais próximo e acessível ao
cidadão respeitando-lhe as necessidades e desejo e considerando as díspares peculiaridade de cada comunidade no planejamento oferta
do serviço policial
Além disso, segundo o autor,

Outro aspecto que deve ser levado em conta na identificação do problema é a necessidade de se eliminar o ‘achismo’, ou seja, deve-se
trabalhar com atos concretos e dados coletados em fontes de informações confiáveis. A experiência pessoal de cada um que participa
na identificação do problema é importante, porém, para se evitar desperdício de tempo e recursos na busca de soluções por um
problema erroneamente identificado ou pouco importante no contexto geral, deve-se procurar, sempre que possível, comprovar a
experiência pessoal através de dados estatísticos (Marcineiro, 2009, p. 180).

No tocante à contribuição da polícia, destaca-se o papel da inteligência de segurança pública como condição primordial à
identificação dos problemas e suas respectivas causas. Por isso, a inteligência de segurança pública deve ser desenvolvida e
aperfeiçoada constantemente com a integração de diversas bases de dados e não apenas com dados de instituições de segurança
pública, uma vez que órgãos, como secretarias de saúde e educação, podem fornecer informações bastante valiosas à polícia. Nesse
cenário, é interessante a utilização de tecnologias cada vez mais avançadas de análise criminal no auxílio à inteligência de segurança
pública (SANTA CATARINA, 2011).
Entretanto, segundo Rolim (2009, p. 41), infelizmente, muitas vezes só se obtêm: dados compilados partir dos registros de
ocorrência, o que assimila, inequivocamente, uma maneira ultrapassada de se lidar com indicadores de criminalidade e violência.
Não por outra razão, o rol de indicadores de problemas deve ser amplo e diversificado. Do lado policial devem ser
considerados os órgãos da segurança pública no geral (policiais militares, policiais civis e bombeiros); do lado da comunidade
devem participar, além de moradores, empresários e lideranças locais representantes de outras instituições públicas e privadas. Todos
devem participar e conjunto para dar legitimidade ao processo (BRASIL, 2009).
Cabe salientar que, ao se isolar um determinado tipo de problema, há maior facilidade de resolvê-lo, e é necessário considerar
ainda que um pequeno grupo de problemas se mostra responsável por um número considerável de ocorrências policiais. Segundo
dados trazidos por Rolim (2009, p. 139) de pesquisa realizada no Estados Unidos cerca de 10% das vítimas estão envolvidas em 40%
dos crimes; 10% dos agressores estão envolvidos em 50% dos crimes; e 10% dos lugares formam o ambiente para cerca de 60% das
ocorrências infracionais.
Acredita-se que a realidade seja semelhante no Brasil, seguindo o que se chama de Princípio de Pareto, de acordo com o qual,
geralmente, um pequeno número de causas (20%) é responsável por uma grande proporção de resultados (80%) (TASCA, 2010).
ANÁLISE DO PROBLEMA
A fase de análise do problema corresponde ao coração do método IARA. Nesta fase, buscam-se as raízes dos problemas para,
assim, conseguir atacar suas causas e não apena combater os efeitos dos problemas (HIPÓLITO, TASCA, 2012).
Tentando analisar a gênese do crime, as teorias de criminologia se concentram em fatores sociais. Simulam causas em
fatores longínquos, como as práticas de educação de crianças, componentes genéticos e processos psicológicos ou
sociais. Essas constituem teorias difíceis de validação prática e focam em políticas públicas incertas que estão fora do alcance da polícia
(CLARKE; ECK, 2013).
Ao contrário da criminologia tradicional, as teorias e os conceitos da ciência do crime são muito mais úteis no trabalho diário
da polícia, pois segundo Clarke e Eck (2013, p. 38), “lidam com as causas situacionais imediatas dos eventos criminais, incluindo
tentações e oportunidades e proteção insuficiente dos alvos”.
Para esta fase é importante o conhecimento do triângulo de análise de problema (também conhecido como o triangulo do
crime), originado da teoria da atividade rotineira. Essa teoria, formulada por Lawrence Cohen e Marcus Felson, diz que o crime ocorre
quando um potencial infrator encontra-se com um potencial alvo (para aquele tipo de infrator) no mesmo tempo e lugar, sem a presença

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de um guardião eficaz. Essa formulação forma o tripé da análise de problema representada por infrator, alvo e local ( CLARKE; ECK,
2013).

TEORIA DO CRIME
Triangulo do crime –Dinâmica no cenário shopping center
Por André Vicente dos Anjos
O primeiro centro de compras do país foi inaugurado em 1966 e, num primeiro momento, causou desconfiança em empresários
e investidores pelo formato fechado, conflitando com o badalado e luxuoso comércio de rua que predominava na época. Com o
tempo a disputa pelos melhores espaços provou que os visionários empreendedores estavam certos em sua aposta, pois logo o
empreendimento se transformou num importante ponto de encontro da cidade de São Paulo. Mais de cinquenta anos se passaram e
este modelo de centro de compras sofreu grandes mudanças conceituais ao longo de todos estes anos, se transformando nos grandes
locais de entretenimento que vemos hoje.
Os shopping centers são estruturas pensadas e construídas para receber grandes quantidades de pessoas que buscam, em sua
grande maioria, um ambiente confortável, climatizado, limpo, seguro, com ótimo atendimento desde sua entrada e que ali possam
resolver tudo com total segurança. Segundo dados da ABRASCE –Associação Brasileira de Shopping Centers –temos hoje no
Brasil 571 empreendimentos e outros tantos em construção que recebem mensalmente mais de 400 milhões de clientes passando
pelos corredores destes espaços confiantes que estão sendo muito bem cuidados. Essa é a percepção dos clientes.
Por ser considerado um local seguro muitos empresários do segmento joias e relojoarias que possuíam lojas de rua optaram em
locar espaços dentro destes grandes empreendimentos onde podiam atender um público muito exigente de forma diferenciada,
discreta e segura. Este era o cenário …
Ocorre que, os shoppings passaram a ser alvo de constantes ataques de quadrilhas bem organizadas e articuladas cujo foco
principal são produtos de fácil negociação como relógios, joias e aparelhos telefônicos, situação que mudou completamente o
cenário anterior. As ações criminosas, cada vez mais ousadas, têm se mostrado recorrentes em alguns empreendimentos, deixando
algumas dúvidas, a saber:
1) Por que as ações criminosas se voltaram para os shoppings?
2) Quais os critérios adotados pelos criminosos para escolher um alvo específico?
3) Por que não se consegue dar uma resposta assertiva de modo a inibir atos criminosos?
4) Por que determinado empreendimento sofre com mais ataques que outro, situado no mesmo bairro?
Essas perguntas só podem ser respondidas se deixarmos de lado o modelo mental ultrapassado que tipifica um criminoso como
alguém sem estudo, com baixo nível intelectual e cultural e que seja incapaz de articular com outros elementos em prol de um
objetivo delituoso que gere benefícios para todos os envolvidos.
Isso mesmo. Esse modelo dominante nos fez imaginar que o shopping fosse algo intransponível enquanto deixamos de
considerar ainda outro importante fato. A sazonalidade das ações criminosas. Exatamente isso. Basta analisar os dados estatísticos
dos últimos anos e podemos observar claramente que existe uma mudança no foco das ações nos diferentes períodos da história
recente.
Sem a necessidade de ser específico com datas, pois a temática abordada no estudo é o cenário shopping center, observamos
que, ao longo dos últimos vinte e cinco anos, as ações criminosas de grande vulto contemplaram as seguintes modalidades:
 Assalto a agências bancárias;
 Sequestro e sequestro relâmpago;
 Assaltos a casas lotéricas;
 Explosões de caixas eletrônicos;
 Assaltos a shoppings e
 Roubo de cargas.
Não consideramos nesta lista o tráfico de drogas pelo simples fato que este apresenta uma característica atemporal, ou seja,
sempre existiu neste período independente das outras ocorrências e dos impactos causados por tipo criminal.
Comprovadamente os tipos criminais mudaram ao longo dos anos assim como os objetivos e isto exigiu por parte dos
infratores certa perspicácia e um nível de inteligência capaz de identificar as VULNERABILIDADES em cada alvo potencial.
As percepções deste breve estudo foram compartilhadas com cinco gestores de grandes administradoras do varejo Brasileiro
e, excetuando-se pequenas divergências sobre os fatores externos e de localização do empreendimento, as conclusões uníssonas
serviram de base para as respostas das perguntas feitas na introdução do estudo.
1) Por que as ações criminosas se voltaram para os shoppings?
Os produtos de fácil repasse como celulares, joias, relógios e dinheiro (Casa de câmbio e lotéricas) dentro de um ambiente
vulnerável que não possibilita reação em razão dos impactos que esta pode causar. Algumas administradoras optam em ter agentes
desarmados.
2) Quais os critérios adotados pelos criminosos para escolher um alvo específico?
Os criminosos planejam muito bem suas ações e, durante as várias visitas a diferentes empreendimentos, escolhem aquele
que apresentar maior vulnerabilidade, facilidade de acesso e saída. Este será fatalmente um alvo potencial. Rotas de fuga difíceis e
proximidade de órgão públicos podem ser inibidores de ações em locais bem específicos.
3) Por que não se consegue dar uma resposta assertiva de modo a inibir atos criminosos?
Para que uma resposta seja assertiva uma combinação de protocolos operacionais e técnicos devem ser implantados, para
isso é necessário que o empreendimento disponha de um aparato tecnológico (meios técnicos ativos) que permita a rápida
identificação de suspeitos, ou seja, um sistema de monitoramento capaz de apoiar a confirmação de um rosto ou comportamento

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que denote ação iminente. As equipes de segurança devem passar por treinamentos que ainda não são considerados em sua forma
ampla nos cursos técnicos. Avaliar comportamentos, por exemplo, deve ser uma das matérias obrigatórias para quem atua na área,
afinal um shopping é aberto ao público durante todo o dia e como identificar que uma ação está em curso? Alguns
empreendimentos recebem milhares de pessoas e como saber quais vão cometer um ato ilícito?
4) Por que determinado empreendimento sofre com mais ataques que outro, situado no mesmo bairro?
Simples. Se os criminosos estudam, sistematicamente os ambientes, é lógico que optarão pelo que se encontrar mais
vulnerável. Temos casos em que existem dois shoppings muito próximos, mas apenas um vira alvo recorrente de ações, justamente
pelo fato de ser encontrado em maior estado de vulnerabilidade que o outro.
Aprofundado a questão das
vulnerabilidades, adaptamos o triângulo
do crime para o cenário shopping center
de modo a criar uma interface entre os
critérios observados para consumação de
um fato criminal e as variáveis do
ambiente interno de um empreendimento.
Basta um olhar mais técnico e criterioso
sobre as nuances do cenário e a relação
sistêmica da teoria do crime, de certo
teremos corroboradas todas as assertivas
dos colegas gestores na figura ilustrativa.
Vejamos.
Figura 6 – Triângulo do Crime.
A teoria do TRIANGULO DO
CRIME pressupõe a prevalência de três
variáveis para que um ato criminoso
ocorra:
a) O indivíduo motivado
A obtenção de algo que despertou desejo.
Dentro de um shopping temos ótimos atrativos de fácil negociação e ainda dinheiro em espécie, nas casas lotéricas, casas de
câmbio e agências bancárias. Tudo num único lugar.
b) O emprego de técnica
O elemento precisa dominar conhecimento suficiente para ter êxito no seu intento.
O que se confirma após a investigação interna pós crime é que os autores empreenderam várias “visitas técnicas” a fim de
estudar o local, planejar a ação para poder executar o objetivo, ou seja, todas as vulnerabilidades foram consideradas antes da
decisão final dos criminosos.
c) A oportunidade
O momento (cenário) mais favorável para a consumação do ato.
Após estudar todas as possibilidades dentro de um empreendimento os elementos ainda necessitam de um cenário bem
específico. Trata-se de uma combinação de fatores de risco que podem ocorrer em diferentes momentos ou em um único momento,
proporcionando uma “janela” facilitadora da concretização da prática criminosa.
A consumação de um fato criminoso, em mais 70% dos casos, se concretiza por falha ocorrida dentro do sistema preventivo de
segurança, ou seja, o criminoso explorou alguma das vulnerabilidades observadas no empreendimento e o escolheu como alvo para
realizar seu objetivo.
Segundo BRASILIANO (2010, p. 42) a identificação dos perigos e de seus fatores significa a compreensão das origens de
cada perigo. Deve-se buscar responder por que o perigo existe na empresa. Quais são as condições que potencializam a
concretização do evento estudado.
A compreensão da origem do perigo é imperiosa para a eficácia no tratamento, na priorização que a empresa vai poder dedicar
para mitigar aquela situação. Somente após o entendimento do porquê da existência de cada perigo, é que se poderá sugerir medidas
eficazes para reduzir riscos.
O DIAGRAMA DE ISHIKAWA (causa e
efeito) é a ferramenta que permite a organização
identificar, dentro do contexto da GESTÃO DE
RISCOS, quais são os facilitadores na materialização
dos riscos e preparar suas defesas, através de um
plano de ação.

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Figura 7 – Diagrama 6M ou Ishikawa.


Dentro do cenário shopping center, no que tange as variáveis contempladas no DIAGRAMA, cabem algumas considerações:
1) Um empreendimento que foi projetado para receber milhares de pessoas por dia deve possuir um sistema de gerenciamento
de riscos bem consolidado e atualizado conforme cenários;
2) No planejamento de segurança a aplicação dos investimentos deve observar o equilíbrio entre recursos humanos e toda a
gama de treinamentos e tecnológicos (segurança física e segurança eletrônica). Ambos são complementares e, neste cenário, um não
vive sem o outro;
3) A questão do recrutamento das equipes deve ser vista com muita seriedade, pois esses profissionais devem possuir
competências bem específicas que permitam boa capacidade analítica e rápida tomada de decisão em um ambiente aberto ao público
e acessado por milhares de pessoas diariamente;
4) O investimento em treinamento deve ser massivo e constante com foco na antecipação de fatos típicos, através de análise
comportamental e nas respostas, treinando, mediante a aplicação de exercícios simulados, os protocolos pós ocorrência.
Atualmente o segmento conta com legislação própria, normas, instruções e vasto conteúdo acadêmico específico para prover
o gestor de riscos de informações suficientes para que não deixe seu empreendimento desguarnecido de um bom programa de
gerenciamento de riscos. Não obstante, Bem antes do cenário atual, Henry Fayol, já defendia em seu legado literário, o importante
“papel da segurança em proteger vidas e patrimônio de problemas”.
Ainda nesta linha o engenheiro apregoava (1990, p. 65) que prever é planejar, investigar profundamente o futuro e traçar um
plano de ação a médio e longo prazo a fim de preparar a empresa ante as adversidades, ou seja, mesmo se tratando do aludido
modelo de administração é possível identificar compatibilidades, principalmente quando pensamos em cenários prospectivos na
segurança corporativa.
Para segurança empresarial, “O objetivo de elaborar cenários, específicos para a área de riscos corporativos, é o de poder
antecipar as variáveis que, por ventura, possam interferir nas metas da empresa”. (BRASILIANO, 2003 p. 47).
Para BRASILIANO (2003, p. 51) a dinâmica das vaiáveis observadas dentro da gestão de riscos delimita a modelagem de
cenários para apenas um ano.
Nesse mesmo diapasão, um dos grandes expoentes da segurança corporativa, o especialista e professor Claudio Moretti em: <
http://www.administradores.com.br/artigos/cotidiano/cenarios-em-seguranca-visao prospectiva/106652/>. Acesso em: 22 março
2018. expõe justa e douta crítica ao empirismo dos empresários e profissionais da área que ainda acreditam em uma implantação e
gestão de segurança sem aplicação de metodologia e respaldo cientifico, empregando seus recursos da mesma forma que vinte anos
atrás.
É fato que tudo está em constante mudança, assim como os cenários e, se existe mudança, é salutar que hajam novos estudos,
diagnósticos e análises por parte dos profissionais que cuidam destes grandes centros de entretenimento e laser, caso contrário,
continuaremos a ver alguns shoppings sofrendo com ataques recorrentes e outros, cujos profissionais entenderam a necessidade de
mudança, mantendo seus empreendimentos resguardados das ações criminosas.
Por isso, nosso QAP total, full time e real time nos estudos da ciência segurança.
BIBLIOGRAFIA:
FAYOL, H. Administração Industrial e Geral: previsão, organização, comando, coordenação e controle. São Paulo: Atlas,
1990.
DAMODARAN, Aswatah, gestão estratégica do risco, São Paulo: Bookman, 2009
BRASILIANO, Antonio Celso Ribeiro, gestão e análise de riscos corporativos, São Paulo: Sicurezza, 2010
MORETTI, Claudio dos Santos, (www.administradores.com.br) Site da internet, acesso 22/03/2018. Artigo cenários em
segurança: visão prospectiva.
AGRADECIMENTOS
Nelson Junior: Gerente de segurança – São Paulo
Marcelo Cabral: Gestor de Segurança – Rio de Janeiro
Tiago Miranda: Gestor de Segurança – Rio de Janeiro
Djalma Santos: Coordenador de Segurança – Rio de Janeiro
Ubiratan Gomes: Coordenador de Segurança – Rio Grande

AUTOR
André Anjos C.P.S.I / C.I.G.R / M.B.R / C.I.S.I
Gestor de Segurança no segmento varejo
Graduado e Pós-Graduado em Segurança Privada e Ordem Públicas
Especialista em riscos corporativos com ênfase em grandes empreendimentos
Especialista em Administração de Segurança
Certificado Profesional em Seguridad Internacional-C.P.S.I.
Certificado Internacional en Gestion de Riesgos-C.I.G.R.
Master Business In Risk-MBR
Certificado Internacional em Segurança Integral e Prevenção de perdas-C.I.S.I.
RESPOSTAS ÀS CAUSAS DO PROBLEMA
Após a identificação clara e análise detalhada do problema, a polícia enfrenta o desafio de procurar o meio mais efetivo de
lidar com ele, desenvolver ações adequadas com baixo custo e o máximo de benefício. Para isso, a polícia deve evitar a tentação de
respostas prematuras não fundamentadas nas fases anteriores do método Iara (BRASIL, 2009).

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Deve haver um equilíbrio nas respostas com a utilização de táticas tradicionais e não tradicionais. Normalmente as primeiras
estão relacionadas às atividades básicas de policiamento e sozinhas dificilmente proporcionam soluções duradouras para os problemas
(por exemplo, prisões, intimações e policiamento fixo no local), ao passo que as táticas não tradicionais ligam-se às ações
comunitárias (como organização da comunidade, educação da população, alteração do contexto físico, mudanças no contexto social e
da sequência de eventos, alteração do comportamento das vítimas) (BRASIL, 2009; HIPÓLITO; TASCA, 2012).
Frisa-se que essas respostas não são limitadas aos esforços para identificar, prender e oficialmente acusar e julgar infratores.
Expande- se, sem abandonar o uso do direito penal. O policiamento orientado à solução de problemas procura descobrir outras
respostas potencialmente efetivas (que podem exigir parcerias), dando grande prioridade à prevenção (CLARKE; ECK, 2013).
AVALIAÇÃO DO PROCESSO
Nesta etapa, os policiais avaliam a efetividade das respostas aplicadas na fase anterior. A avaliação é chave para o método
Iara, pois se as respostas implementadas não são efetivas, as informações reunidas durante a etapa de análise devem ser revisitadas e
novas hipóteses de respostas devem ser formuladas (BRASIL, 2009).
Esta fase serve também para exportar programas que funcionaram em determinados locais para serem aplicados em outras
localidades cujos resultados de identificação e análise do problema sejam semelhantes. Nesse sentido, em 1977, o Tesouro britânico
iniciou uma política de controle e eficiência nos gastos em segurança pública condicionando o repasse de verbas à
demonstração de capacidade de reduzir o crime. Por isso, investiu-se em uma grande revisão dos estudos disponíveis nos EUA, no
Reino Unido e na Holanda. Assim, foi possível identificar programas que, de fato, funcionavam. Demonstrou-se que os projetos mais
eficazes na redução do crime, sem aumentar o efetivo policial, utilizavam-se da abordagem de Posp e firmavam fortes parcerias com
as comunidades (ROLIM, 2009).

As comunidades e as polícias devem compartilha as experiências bem-sucedidas de prevenção ao crime; aquelas que geram efetiva
segurança a curto e a longo prazo. Devem compartilhar as ideias específicas de como resolver problemas de vizinhança. Ao destacar
os programas que foram desenvolvidos, espera-se que esta informação sirva como um catalisador para desenvolver maneiras eficazes
de impedir o crime e aumentar a participação das comunidades nestes esforços (DALMARCO, 2004, p. 22).

Segundo Skonieczny (2009), outro fator importante nesta fase é conhecer o impacto das medidas policiais sobre a população
Estratégias que favoreçam a participação e mobilização da comunidade.
A gestão e as estratégias de Polícia Comunitária
Com a adoção da Polícia Comunitária, a polícia tem saído do isolamento e entendido que a comunidade deve executar um
importante papel na solução dos problemas de segurança e no combate ao crime. Como enfatizou Robert Peel, em 1829, ao estabelecer
os princípios da polícia moderna, “os policiais são pessoas públicas que são remunerados para dar atenção integral ao cidadão no
interesse do bem-estar da comunidade”.
A polícia tem percebido que não é possível mais fingir que sozinha consegue dar conta de todos os problemas de segurança. A
comunidade precisa policiar a si mesma e a polícia pode (ou deve) ajudar e orientar esta tarefa.
A percepção de que juntas, polícia e comunidade podem somar esforços na luta contra a violência e a criminalidade tem
possibilitado o fortalecimento de algumas estratégias utilizadas no âmbito da Polícia Comunitária:
- Mobilização das Lideranças Comunitárias
- Policiamento Comunitário
- Gestão de Serviços
- Comparando a gestão de serviço na Polícia Comunitária e na Polícia tradicional
Estas estratégias serão descritas nas páginas seguintes
Mobilização das Lideranças Comunitárias
Na década de 80, nos Estados Unidos, cresceu o entendimento de que os meios formais e informais de controlar o crime e
manter a ordem eram complementares e que a polícia e a comunidade deveriam trabalhar juntas para definir estratégias de prevenção
do crime. De acordo com MOREIRA (2005), várias são as teorias sociológicas que comprovam esta abordagem. E, por acreditar que o
medo do crime favorece o aumento das taxas de crime e a decadência dos bairros, inúmeros programas de redução do medo foram
desenvolvidos através da parceria polícia-comunidade.
Estratégias para organizar a comunidade e prover uma resposta coletiva ao crime têm se tornado o alicerce da prevenção do
crime nos Estados Unidos nos últimos anos. A polícia não pode lidar sozinha com o problema do crime.
- Para construção de uma estratégia de Polícia Comunitária devem ser apontados como objetivos: a parceria, o fortalecimento,
a solução de problemas, a prestação de contas e a orientação para o cliente.
- A polícia deve trabalhar em parceria com a comunidade, com o governo, outras agências de serviço e com o sistema de
justiça criminal. A palavra de ordem deve ser “como podemos trabalhar juntos para resolver este problema?” Os membros da
comunidade devem estar envolvidos em todas as fases do planejamento do policiamento comunitário.
Policiamento Comunitário
Fortalecimento da comunidade
Basicamente, existem dois tipos de fortalecimento:
- dos policiais : poder de decisão, criatividade e inovação são encorajados em todos os níveis da polícia.
- da própria comunidade : a Polícia Comunitária capacita e dá competência aos cidadãos para participar das decisões sobre o
policiamento e de outras agências de serviço, visando prover maior impacto nos problemas de segurança.

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Sistema de Segurança Pública e Gestão Integrada e Comunitária

No âmbito da Polícia Comunitária, o policiamento representa um renascimento da abordagem policial pela solução de
problemas. A meta da solução de problemas é realçar a participação da comunidade através de abordagens para reduzir as taxas de
ocorrências e o medo do crime, através de planejamentos a curto, médio e longo prazos.
O policiamento comunitário encoraja a prestação de contas, as pesquisas e estratégias entre as lideranças e os executores, a
comunidade e outras agências públicas e privadas.
Uma orientação para o cliente é fundamental para que a polícia preste serviço à comunidade. Isso requer técnicas inovadoras
de solução de problemas de modo a lidar com as variadas necessidades do cidadão. Estabelecer e manter confiança mútua é o núcleo
da parceria com a comunidade. A polícia necessita da cooperação das pessoas na luta contra o crime; os cidadãos necessitam
comunicar com a polícia para transmitir informações relevantes. O processo de parceria comunitária possui três lados: a
CONFIANÇA facilita um maior CONTATO COM A COMUNIDADE que, por sua vez, facilita a COMUNICAÇÃO que leva a
uma maior CONFIANÇA e assim por diante.

Figura 8. Confiança mútua.


As instituições policiais precisam identificar os atores sociais que atuam nas lideranças comunitárias, como representantes
das pessoas que estão enfrentando ou “sofrendo” com o(s) problema(s). Organizações públicas e privadas, grupos de idosos,
proprietários de imoveis, comerciantes, etc. São pessoas importantes para iniciar um processo de mobilização social e,
principalmente, para manter os públicos envolvidos coesos, em torno da causa social, durante as demais fases que buscam a sua
solução.
Gestão de Serviços na Polícia Comunitária e Polícia Tradicional
“Policiamento comunitário e uma filosofia e não uma tática específica; uma abordagem pró-ativa e descentralizada,
designada para reduzir o crime, a desordem e o medo do crime através do envolvimento do mesmo policial em uma mesma
comunidade em um período prolongado de tempo”. MOREIRA Apud PEAK (1999, p.78).
É fato que não existe um programa único para descrever o policiamento comunitário, ele tem sido tentado em várias polícias
ao redor do mundo. O policiamento comunitário vai muito além que simplesmente implementar policiamento a pé, ciclopatrulha ou
postos de policiamento comunitário. Ele redefine o papel do policial na rua de “combatente” (combate ao crime), para solucionador
de problemas e ombudsman 44do bairro. Obriga uma transformação cultural da polícia, incluindo descentralização da estrutura
organizacional e mudanças na seleção, recrutamento, formação, treinamento, sistemas de recompensas, promoção e muito mais.
Além do mais, essa filosofia pede para que os policiais escapem da lógica do policiamento dirigido para ocorrências (rádio
atendimento) e busquem uma solução proativa e criativa para equacionar o crime e a desordem.
POLÍCIA COMUNITÁRIA E POLICIAMENTO COMUNITÁRIO:
CONCEITOS E INTERPRETAÇÕES BÁSICAS
A primeira ideia que se tem a respeito do tema Polícia Comunitária é que ela, por si só, é particularizada, pertinente a uma ou
outra organização policial que a adota, dentro de critérios peculiares de mera aproximação com a sociedade sem, contudo, obedecer a
critérios técnicos e científicos que objetivem a melhoria da qualidade de vida da população.
Qualidade de vida da população em um país de complexas carências e um tema bastante difícil de ser abordado, mas possível
de ser discutido quando a polícia busca assumir o papel de interlocutor dos anseios sociais.
É preciso deixar claro que “Polícia Comunitária” não tem o sentido de ASSISTÊNCIA POLICIAL, mas sim o de
PARTICIPAÇÃO SOCIAL.
Nessa condição entendemos que todas as forças vivas da comunidade devem assumir um papel relevante na sua própria
segurança e nos serviços ligados ao bem comum. Acreditamos ser necessária esta ressalva, para evitar a interpretação de que
estejamos pretendendo criar uma polícia ou de que pretendamos credenciar pessoas extras aos quadros da polícia como policiais
comunitários.
O policial é uma referência muito cedo internalizada entre os componentes da comunidade. A noção de medo da polícia,
erroneamente transmitida na educação e às vezes na mídia, será revertida desde que, o policial se faça perceber por sua ação protetora
e amiga.
O espírito de Polícia Comunitária que apregoamos se expressa de acordo com as seguintes ideias:
 A primeira imagem da POLÍCIA é formada na  A POLÍCIA protetora e amiga transmitirá na família,
família; imagem favorável que será transferida às crianças

44
substantivo de dois gêneros (sueco) 1. pessoa encarregada pelo Estado de defender os direitos dos cidadãos, recebendo e investigando queixas e
denúncias de abuso de poder ou de mau serviço por parte de funcionários ou instituições públicas. 2. POR EXTENSÃO em empresas públicas ou
privadas, indivíduo encarregado do estabelecimento de um canal de comunicação entre consumidores, empregados e diretores.

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desenvolvendo-se um traço na cultura da comunidade que ambiente, no socorro em calamidades públicas, nas ações de
aproximará as pessoas da organização policial; defesa civil, na proteção e orientação do trânsito, no transporte
 O POLICIAL, junto à comunidade, além de garantir de feridos em acidentes ou vítimas de delitos, nos salvamentos
segurança, deverá exercer função didático-pedagógica, visando e combates a incêndios;
a orientar na educação e no sentido da solidariedade social;  A participação do cidadão se dá de forma permanente,
 A orientação educacional do policial deverá objetivar constante e motivadora, buscando melhorar a qualidade de
o respeito à “Ordem Jurídica” e aos direitos fundamentais vida. Antes, porém, de ser apresentadas definições de Polícia
estabelecidos na Constituição Federal; Comunitária e Policiamento Comunitário vale a pena verificar
 A expectativa da comunidade de ter no policial o os aspectos que auxiliam caracterizar comunidade e segurança.
cidadão íntegro, homem interessado na preservação do
a) Comunidade
Para não correr o risco de definições ou conceitos unilaterais, preferimos apresentar alguns traços que caracterizam uma
comunidade:
 Forte solidariedade social;
 Aproximação dos homens e mulheres em frequentes relacionamentos interpessoais;
 Discussão e soluções de problemas comuns;
 Sentido de organização possibilitando uma vida social durável.
b) Segurança
Jorge Wilheim, diz que a segurança do indivíduo envolve:
 Reconhecimento do seu papel na sociedade;
 A autoestima e a autossustentação;
 A clareza dos valores morais que lhe permitam distinguir o bem do mal;
 O sentimento de que não será perseguido por preconceito racial, religioso ou de outra natureza;
 A expectativa de que não será vítima de agressão física, moral ou de seu patrimônio:
 A possibilidade de viver num clima de solidariedade e de esperança.
Trojanowicz (1994)17 faz uma definição clara do que é Polícia Comunitária:
“É uma filosofia e estratégia organizacional que proporciona uma nova parceria entre a população e a polícia. Baseia-
se na premissa de que tanto a polícia quanto a comunidade devem trabalhar juntas para identificar, priorizar e resolver
problemas contemporâneos tais como crime, drogas, medo do crime, desordens físicas e morais, e em geral a decadência do
bairro, com o objetivo de melhorar a qualidade geral da vida na área.”
Na prática Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do Policiamento Comunitário (ação de policiar junto à
comunidade). Aquela deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de Polícia, esta pertinente às
ações efetivas com a comunidade.
A ideia central da Polícia Comunitária reside na possibilidade de propiciar uma aproximação dos profissionais de segurança
junto à comunidade onde atua, como um médico, um advogado local; ou um comerciante da esquina; enfim, dar característica
humana ao profissional de polícia, e não apenas um número de telefone ou uma instalação física referencial. Para isto realiza um
amplo trabalho sistemático, planejado e detalhado.
Já o Policiamento Comunitário, segundo Wadman (1994)18, é uma maneira inovadora e mais poderosa de concentrar as
energias e os talentos do departamento policial na direção das condições que frequentemente dão origem ao crime e a repetidas
chamadas por auxílio local.
A Polícia Comunitária resgata a essência da arte de rápida, imediata e efetiva aos crimes individuais e as
polícia, pois apoia e é apoiada por toda a comunidade, emergências, com o objetivo de explorar novas iniciativas
acolhendo expectativas de uma sociedade democrática e preventivas, visando à resolução de problemas antes que eles
pluralista, onde a responsabilidade pela mais estreita ocorram ou se tornem graves.
observância das leis e da manutenção da paz não incumbem O Policiamento Comunitário, portanto, é uma filosofia
apenas à polícia, mas, também a todos os cidadãos. de patrulhamento personalizado de serviço completo, onde o
À medida que se abrem para a sociedade, congregando mesmo policial trabalha na mesma área, agindo numa parceria
lideres locais, negociantes, residentes e todos quanto puderem preventiva com os cidadãos, para identificar e resolver
participar da segurança local, a polícia deixa de ser uma problemas.
instituição fechada e que, estando aberta às sugestões, permite Quando não se conhece ou não se prática Polícia
que a própria comunidade faça parte de suas deliberações. Comunitária é comum se afirmar que esta nova forma ou
Em relação ao Policiamento Comunitário é possível filosofia de atuação é de uma “polícia light”, ou uma “polícia
dizer que conforme Trojanowicz (1994), o Policiamento frouxa” ou mesmo uma “polícia que não pode mais agir”.
Comunitário exige um comprometimento de cada um dos Na verdade Polícia Comunitária é uma forma técnica e
policiais e funcionários civis do departamento policial com profissional de atuação perante a sociedade numa época em
sua filosofia. Ele também desafia todo o pessoal a encontrar que a tecnologia, qualidade no serviço e o adequado preparo
meios de expressar esta nova filosofia nos seus trabalhos, são exigidos em qualquer profissão. Mas no nosso caso existe
compensando assim a necessidade de manter uma resposta ainda muita confusão.
Robert Trojanowicz no livro "Policiamento Comunitário: Como Começar "procura mostrar as interpretações errôneas sobre
o que não é Policiamento Comunitário:
a. Policiamento Comunitário não é uma tática, nem um programa e nem uma técnica

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- não é um esforço limitado para ser tentado e depois abandonado, e sim um novo modo de oferecer o serviço policial à
comunidade;
b. Policiamento Comunitário não é apenas relações públicas - na melhoria das relações com a comunidade é necessária
porém não é o objetivo principal, pois apenas o "QSA" não é suficiente para demonstrar a comunidade seriedade, técnica e
profissionalismo. Com o tempo os interesseiros ou os "QSA 5" são desmascarados e passam a ser criticados fortemente pela
sociedade. É preciso, portanto, ser honesto, transparente e sincero nos seus atos;
c. Policiamento Comunitário não é anti-tecnologia – o Policiamento Comunitário pode se beneficiar de novas tecnologias
que podem auxiliar a melhora do serviço e a segurança dos policiais. Computadores, celulares, sistemas de monitoramento, veículos
com computadores, além de armamento moderno (inclusive não letal) e coletes protetores fazem parte da relação de equipamentos
disponíveis e utilizáveis pelo policial comunitário. Aquela ideia do policial comunitário "desarmado" é pura mentira, pois até no
Japão e Canadá os policiais andam armados com equipamentos de ponta. No caso brasileiro a nossa tecnologia muitas vezes é
adaptada, ou seja, trabalhos muito mais com criatividade do que com tecnologia. Isto com certeza favorece o reconhecimento da
comunidade local;
d. Policiamento Comunitário não é condescendente com o Crime - os policiais comunitários respondem às chamadas e
fazem prisões como quaisquer outros policiais: são enérgicos e agem dentro da lei com os marginais e os agressores da sociedade.
Contudo atuam próximos a sociedade orientando o cidadão de bem, os jovens e buscam estabelecer ações preventivas que busquem
melhorar a qualidade de vida no local onde trabalham. Parece utópico, mas inúmeros policiais já vem adotando o comportamento
preventivo com resultados excepcionais. Outro ponto importante é que como está próximo da comunidade, o policial comunitário
também é uma fonte de informações para a polícia de investigação (Polícia Civil) e para as forças táticas, quando forem necessárias
ações repressivas ou de estabelecimento da ordem pública;
e. Policiamento Comunitário não é espalhafatoso e nem camisa "10" - as ações dramáticas narradas na mídia não podem
fazer parte do dia a dia do policial comunitário. Ele deve ser humilde e sincero nos seus propósitos. Nada pode ser feito para
aparecer ou se sobressair sobre seus colegas de profissão. Ao contrário, ele deve contribuir com o trabalho de seus companheiros,
seja ele do motorizado, a pá, trânsito, bombeiro, civil, etc. O Policiamento Comunitário deve ser uma referência a todos, polícia ou
comunidade. Afinal, ninguém gosta de ser tratado por um médico desconhecido, ou levar seu carro em um mecânico estranho;
f. Policiamento Comunitário não é paternalista
- não privilegia os mais ricos ou os "mais amigos da polícia", mas procura dar um senso de justiça e transparência à ação
policial. Nas situações impróprias deverá estar sempre ao lado da justiça, da lei e dos interesses da comunidade. Deve sempre
priorizar o coletivo em detrimento dos interesses pessoais de alguns membros da comunidade local;
g. Policiamento Comunitário não é uma modalidade ou uma ação especializada isolada dentro da Instituição
- os policiais comunitários não devem ser exceção dentro da organização policial, mas integrados e participantes de todos os
processos desenvolvidos na unidade. São parte sim de uma grande estratégia organizacional, sendo uma importante referência para
todas as ações desenvolvidas pela Polícia Militar. O perfil desse profissional é também o de aproximação e paciência, com
capacidade de ouvir, orientar e participar das decisões comunitárias, sem perder a qualidade de policial militar forjado para servir e
proteger a sociedade;
h. Policiamento Comunitário não é uma Perfumaria
- o policial comunitário lida com os principais problemas locais: drogas, roubos e crimes graves que afetam diretamente a
sensação de segurança. Portanto seu principal papel, além de melhorar a imagem da polícia, é o de ser um interlocutor da solução de
problemas, inclusive participando do encaminhamento de problemas que podem interferir diretamente na melhoria do serviço
policial (uma rua mal iluminada, horário de saída de estudantes diferenciado, etc.);
i. Policiamento Comunitário não pode ser um enfoque de cima para baixo
– as iniciativas do Policiamento Comunitário começam com o policial de serviço. Assim admite-se compartilhar poder e
autoridade com o subordinado, pois no seu ambiente de trabalho ele deve ser respeitado pela sua competência e conhecimento.
Contudo o policial comunitário também adquire mais responsabilidade já que seus atos serão prestigiados ou cobrados pela
comunidade e seus superiores;
j. Policiamento Comunitário não é uma fórmula mágica ou panacéia
- o Policiamento Comunitário não pode ser visto como a solução para os problemas de insegurança pública, mas uma forma de
facilitar a aproximação da comunidade favorecendo a participação e demonstrando a sociedade que grande parte da solução dos
problemas de insegurança dependem da própria sociedade.
Sabemos que a filosofia de Polícia Comunitária não pode ser imediatista, pois depende da reeducação da polícia e dos próprios
cidadãos que devem ver a polícia como uma instituição que participa do dia a dia coletivo e não simples guardas patrimoniais ou
"cães de guarda";
k. O Policiamento Comunitário não deve favorecer ricos e poderosos
– a participação social da polícia deve ser em qualquer nível social: os mais carentes, os mais humildes, que residem em
periferia ou em áreas menos nobres.
Talvez nestas localidades é que está o grande desafio da Polícia Comunitária. Com certeza os mais ricos e poderosos tem mais
facilidade em ter segurança particular;
I. Policiamento Comunitário não é uma simples edificação
- construir ou reformar prédios da Polícia não significa implantação de Polícia Comunitária. A Polícia Comunitária depende
diretamente do profissional que acredita e pratica esta filosofia muitas vezes com recursos mínimos e em comunidades carentes;
m. Policiamento Comunitário não pode ser interpretado como um instrumento político-partidário mas uma estratégia

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da Corporação
- muitos acham que acabou o Governo "acabou a moda", pois vem outro governante e cria outra coisa.
Talvez isto seja próprio de organizações não tradicionais ou temporárias. A Polícia Comunitária além de filosofia é também
um tipo de ideologia policial aplicada em todo o mundo, inclusive em países pobres com características semelhantes às do Brasil.
Portanto, talvez seja uma roupagem para práticas positivas antigas. Afinal, o que foi que esquecemos?
n. A natureza do policial sempre foi comunitária. Nascida ao início do século XX com o objetivo de proteger o cidadão de
bem dos malfeitores, anos depois, ao final deste mesmo século, se busca este retorno às origens.
Referência Bibliográfica: TROJANOWICZ, Robert e BUCQUEROUX, Bonnie. Policiamento Comunitário: como
começar . Trad. Mina Seinfeld de Carakushansky. Rio de Janeiro: Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, Editora
Parma, 1994.
Diferenças básicas entre a Polícia Tradicional e a Polícia Comunitária
O que muda na Polícia Comunitária em relação ao que muitos autores denominam de Polícia Tradicional, por não utilizar a
mesma filosofia?
No quadro a seguir é feita comparação entre as atitudes que relacionadas ao modelo de Polícia Tradicional e o modelo de
Polícia Comunitária.
POLÍCIA TRADICIONAL
- A polícia é uma agência governamental responsável, principalmente, pelo cumprimento da lei; - Na relação entre a polícia e
as demais instituições de serviço público, as prioridades são muitas vezes conflitantes;
– O papel da polícia é preocupar-se com a resolução do crime;
– As prioridades são, por exemplo, roubo a banco, homicídios e todos aqueles envolvendo violência;
– A polícia se ocupa mais com os incidentes;
– O que determina a eficiência da polícia é o tempo de resposta;
– O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas rápidas aos crimes sérios;
– A função do comando é prover os regulamentos e as determinações que devam ser cumpridas pelos policiais;
– As informações mais importantes são aquelas relacionadas a certos crimes em particular;
– O policial trabalha voltado para a marginalidade de sua área, que representa, no máximo, 2% da população residente
no local onde “todos são inimigos, marginais ou paisanos folgados, até que se prove o contrário”;
– O policial é o do serviço;
– Emprego da força como técnica de resolução de problemas;
– Presta contas somente ao seu superior; e
– As patrulhas são distribuídas conforme o pico de ocorrências

Tabela 1. Polícia Comunitária vs Polícia Tradicional.


Gestão de Serviços
A Polícia Comunitária pede para que os policiais escapem da lógica do
policiamento dirigido para ocorrências (radio atendimento) e busquem uma solução pró-ativa e criativa para equacionar o crime e a
desordem. O diagrama 5W2H pode ajudar na gerencia do serviço policial. Esta metodologia, também conhecida nos países de língua
portuguesa como 4Q1POC (após a tradução), e muito utilizada na administração de empresas para gerenciar um plano de ação para
elaborar um serviço ou produto.

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Este diagrama e composto por 7 perguntas que procuram orientar a gerência de um plano de ação.

Figura 9. As sete perguntas essenciais


As sete perguntas essenciais.
Pergunta
Característica
Inglês - 5W2H Português - 4Q1POC
What? O que será feito? Etapa a cumprir
Who? Quem vai fazer Definição de Responsável
When? Quando será feito? Cronograma
How much? Quanto custará? Investimento
Why? Por quê? Razoes para a sua realização
Where? Onde será? Local de realização
How? Como será? Como atuar (operacionalizar)
Tabela 2. As sete perguntas essenciais (notas do autor)
O 4Q1POC é um método para a definição clara de um problema, causa ou solução, por meio de perguntas simples e objetivas.
Deve ser usado quando necessitar descrever de maneira completa um problema ou um plano de ação, assegurando que as informações
básicas e fundamentais sejam definidas, funcionando como uma lista de verificação.
As informações devem ser extraídas por meio das seguintes questões:
•O quê ? (What) – É o assunto tratado?
•Quem? (Who) – Quem está envolvido?
•Quando? (When) – Em que momento, duração e frequência?
•Quanto? ( How much) – Custos?
•Por quê? (Why) – Objetivo?
•Onde? (Where) – Onde atuar?
•Como? (How) – Como atuar?
As respostas para perguntas devem ser anotadas em uma tabela, resultando um plano com as informações coletadas.
Comparando a gestão de serviço na Polícia Comunitária e na Polícia Tradicional
Em oposição ao trabalho de um policial tradicional, que faz patrulhamento e prende bandidos, em um dia de trabalho de um
policial comunitário, além das tarefas do policial tradicional, abrange:
- trabalhar em postos comunitários,
- participar de encontros com grupos da comunidade,
- analisar e resolver problemas do bairro,
- realizar pesquisas e entrevistas pessoais,
- encontrar com lideranças locais,
- verificar a segurança das residências e comércios locais,
- lidar com desordeiros, dentre outras.
Veja a seguir o diagrama, adaptado de MOREIRA Apud PEAK (1999, p.80), para compreender e comparar com o modelo de
Polícia Tradicional e a Polícia Comunitária.
Diferenças entre a polícia tradicional e a polícia comunitária - Maurício Futryk Bohn, 45
POLÍCIA TRADICIONAL POLÍCIA COMUNITÁRIA

45
Maurício Futryk Bohn, Mestrando em Ciências Criminais pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
Graduado em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

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A polícia é uma agência governamental responsável, A polícia é o publico e publico é a polícia: os policiais são
principalmente, pelo cumprimento da lei aqueles membros da população que são pagos para dar atenção
em tempo integral às obrigações dos cidadãos;
Na relação entre polícia e as demais instituições de Na relação com as demais instituições de serviço publico,
serviço público, as prioridades são muitas vezes conflitantes; a polícia é apenas uma das instituições governamentais
responsáveis pela qualidade de vida da comunidade;
O papel da polícia é preocupar-se com a resolução do O papel da polícia é dar um enfoque mais amplo visando
crime; a resolução de problemas, principalmente por meio da prevenção
As prioridades são, por exemplo, roubo a banco, A eficácia da política é medida pela ausência de crime e
homicídios e todos aqueles envolvendo violências; de desordem;
A polícia se ocupa mais com os incidentes; As prioridades são quaisquer problemas que estejam
afligindo a comunidade;
O que determina a eficiência da polícia é o tempo de A polícia se ocupa mais com os problemas e as
resposta; preocupações dos cidadãos
O profissionalismo policial se caracteriza pelas respostas O que determina a eficácia da polícia é o apoio e a
rápidas aos crimes sérios; cooperação do publico;
A função do comando é prover os regulamentos e as O profissionalismo policial se caracteriza pelo estreito
determinações que devam ser cumpridas pelos policiais; relacionamento com a comunidade
As informações mais importantes são aquelas A função do comando é incutir valores institucionais;
relacionadas a certos crimes em particular;
O policial trabalha voltado unicamente para a As informações mais importantes são aquelas
marginalidade de sua área, que representa, no máximo 2% da relacionadas com as atividades delituosas de indivíduos ou
população residente ali onde “todos são inimigos, marginais grupos;
ou paisano folgado, até prova um contrário”;
O policial é do serviço; O policial trabalha voltado para os 98% da população de
sua área, que são pessoas de bem e trabalhadoras;
Emprego da força como técnica de resolução de O policial emprega a energia e eficiência, dentro da lei, na
problemas; solução dos problemas com a marginalidade, que no máximo
chega a 2% dos moradores de sua localidade de trabalho;
Presta contas somente ao seu superior; Os 98% da comunidade devem ser tratados como
cidadãos e clientes da organização policial;
As patrulhas são distribuídas conforme o pico de O policial presta contas de seu trabalho ao superior e à
ocorrência. comunidade;
Tabela 3. Diferenças entre a polícia tradicional e a polícia comunitária - Maurício Futryk Bohn
Disponível em: <http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/anais/cienciascriminais/IV/54.pdf>. Acesso em 07 de ago de 2018.

Saiba mais:
• A popularização da polícia comunitária pode representar um risco à sua implementação, em que pese a ocorrência de
desvios em relação ao que a filosofia pressupõe.
• O contexto de surgimento da polícia comunitária foi marcado por críticas ao sistema policial, em que reformas institucionais
que aproximassem a polícia e a sociedade eram reivindicadas.
• O modelo tradicional ou profissional de policiamento é caracterizado pela organização burocrático-legal voltada para a
aplicação da lei.
• O processo de socialização se confunde com as características biológicas, pois os comportamentos são determinados de
forma inata.
• O ingresso numa OSP pode ser considerado um processo de socialização secundária, em que hábitos, práticas e formas de
pensar próprios da instituição passam a influenciar o indivíduo em sua vida.
• A polícia comunitária estabelece formas de relacionamento com a comunidade que se encontram baseadas em pressupostos
novos, como a coprodução da segurança pública. Por isso, a polícia e a comunidade devem reaprender a se relacionar sob diferentes
formas.
• A aproximação do policial comunitário deve ser antecedida pela confirmação das intenções do interlocutor nas relações com
a comunidade, devendo ser utilizados os recursos de inteligência policial a todo momento.
• A realização de visitas e reuniões na comunidade representa uma etapa importante na implantação do policiamento
comunitário, pois possibilita compreender as formas como as pessoas interagem entre si e com o espaço geográfico.

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• No processo de aproximação com a comunidade, as diferenças ideológicas entre as pessoas da vizinhança devem ser
consideradas de forma imparcial e objetiva, à luz da legislação, apesar de que rquase sempre se transformam em conflitos.
• Ao buscar conhecer as realidades locais, o policial comunitário deve estar preparado para observar os direitos dos diversos
grupos que compõem a comunidade, independentemente de preferência religiosa, orientação sexual ou classe social dos possíveis
envolvidos em um conflito.
• Sobre os grupos em situação de vulnerabilidade social, julgue os itens abaixo, marcando (V) para verdadeiro e (F) e para
falsos:
◦ É considerada idosa a pessoa com idade superior a 60 anos de idade, sendo reservado a essa população o direito de não
ser alvo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão.
◦ Os idosos são frágeis e indefesos, mesmo assim, a polícia não deve priorizar o atendimento de seus chamados em
detrimento do restante da população.
◦ Apesar de ser contravenção, morar na rua não deve ser objeto de ações das OSPs como forma de melhorar a qualidade
de vida das pessoas.
◦ As pessoas em situação de rua são marcadas pela pobreza extrema, vínculos familiares interrompidos ou fragilizados e a
inexistência de moradia convencional regular.
• É importante que os PSPs identifiquem as características e as necessidades dos diferentes grupos da comunidade em que
trabalham.
• Por buscar reconhecer desigualdades, a polícia comunitária representa uma reorientação das OSP para minimizar injustiças.
• A noção de equidade diz respeito ao estabelecimento de mecanismos que diminuam desigualdades de oportunidades ou de
acesso a recursos ou direitos no convívio entre as pessoas em sociedade.
• O policiamento comunitário tem o potencial de melhorar a imagem das organizações justamente por se basear em novas
formas de perceber como deve ser o trabalho policial e como se relacionar com a comunidade, em um mesmo nível de interação.
• Em termos práticos, a Polícia Comunitária (como filosofia de trabalho) difere do Policiamento Comunitário (ação de
policiar junto à comunidade). Aquela deve ser interpretada como filosofia organizacional indistinta a todos os órgãos de segurança
pública, esta permite as ações efetivas com a comunidade.
• A proposta de Polícia Comunitária oferece uma resposta tão simples que parece irreal: personalize a polícia, faça dela uma
presença também comum.
• Polícia Comunitária é uma atitude na qual o policial aparece a serviço da comunidade e não como uma força. É um serviço
público, antes de ser uma força pública.
• A Polícia Comunitária não é caracterizada pelo uniforme distinto, o que possibilitaria uma maior receptividade pela
comunidade.
• A consolidação de um projeto político que tenha como objetivo a promoção de uma sociedade igualitária e justa não pode
desconsiderar a segurança de cada cidadão e, ao mesmo tempo, a segurança da coletividade.
• No que tange à Polícia Comunitária:
◦ I - a participação social da polícia deve ser em qualquer nível social.
◦ II - construir ou reformar prédios da Polícia não significa implantação de Polícia Comunitária.
◦ III - Em relação ao Policiamento Comunitário é possível dizer que conforme Trojanowicz (1994), o Policiamento
Comunitário exige um comprometimento de cada um dos policiais e funcionários civis do departamento policial com sua filosofia.
• Algumas centenas de municípios, ao aderirem ao processo da conferências preparatórias da 1ª Conferência Nacional de
Segurança Pública (CONSEG) , constituíram as Comissões Organizadoras Municipais (COM). Quanto a essas comissões
podemos afirmar que:
◦ I - As 27 unidades da Federação instituíram suas Comissões Organizadoras Estaduais (COE) .
◦ II - Estes grupos receberam a orientação de manter o formato tripartite, ou seja, reservar cadeiras igualitariamente para
a sociedade, os trabalhadores e os gestores.
◦ III - A principal atribuição destas comissões foi mobilizar e auxiliar nos preparativos das etapas municipais estaduais e
distrital.
• "Para que possamos dizer que existe mobilização social de fato, é preciso que pessoas, comunidades ou sociedades se
aglutinem para decidir e agir em direção a um OBJETIVO COMUM"
2.3.4. ESTRATÉGIAS QUE FAVOREÇAM A PARTICIPAÇÃO E MOBILIZAÇÃO DA COMUNIDADE.
MOBILIZAÇÃO SOCIAL
2.3.4. 1 COMPREENSÃO DA COMUNIDADE
"Se não houver uma disposição da polícia de pelo menos tolerar a influência do público sobre suas operações, a Polícia
Comunitária será percebido como 'relações públicas' e a distância entre a polícia e o público será cada vez maior."
Theodomiro Dias Neto do livro Policiamento Comunitário e o Controle Social
Qualquer tentativa de trabalho ou programa de Polícia Comunitária deve incluir necessariamente a comunidade. Embora a
primeira vista possa parecer simples, a participação da comunidade é um fator importante na democratização das questões de
segurança pública e da implementação de programas comunitários que proporcionam a melhoria de qualidade de vida e a definição de
responsabilidades.
A compreensão dinâmica de comunidade é essencial para a prevenção e controle do crime e da desordem, assim como o
medo do crime, pois o controle e a participação social informal (do coletivo, do grupo) é mais eficaz. A consciência é a chave, pois ela
impede que as pessoas cometam erros nocivos a vida coletiva, mesmo quando ninguém está vendo.

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2.3.4. 1.1. Envolvimento dos Cidadãos


Todas as vezes que grupos de cidadãos, ou moradores, se reúnem para encaminhar soluções para problemas comuns, o
resultado é bastante positivo. Na polícia comunitária não poderá ser diferente. O problema é interpretar as possibilidades da
comunidade e da Polícia. Assim, é importante refletirmos sobre questões levantadas por ambas:
a) A participação do cidadão, muitas vezes, tem-se limitado às responsabilidades de ser informado das questões públicas
(ações da polícia), votar pelos representantes em conselhos ou entidades representativas, seguir as normas institucionais ou legais sem
dar sugestões de melhoria do serviço.
b) Outro Problema é o desconhecimento das características da comunidade local, pois uma comunidade rica tem
comportamento e anseios diferentes de uma comunidade pobre e comunidades de grandes centros urbanos são diferentes de
comunidades de pequenas cidades do interior, independente de serem ricas ou pobres, agrícolas ou industriais. O que importa é
descobrir seus anseios, seu desejo de participação no processo, sua motivação para se integrar com a polícia.
2.3.4. 2. ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA
Espera-se que a intensificação do contato entre a polícia, a comunidade e os diversos segmentos favoreça uma melhor
integração e participação da comunidade, o reconhecimento social da atividade policial, o desenvolvimento da cidadania aos
cidadãos e a melhoria da qualidade de vida. A comunicação intensa e constante propicia a melhora das relações, amplia a
percepção policial e da comunidade no que tange as questões sociais e possibilita diminuir áreas de conflito que exigem ações de
caráter repressivo das instituições policiais.
Há, contudo, uma série de fatores a serem pesados quando se avalia o potencial democrático das diversas experiências de
organização comunitária na área de prevenção do crime e da desordem social, por isto importante conhecer os níveis de organização
comunitária.
2.3.4. 2.1. Aspectos Importantes sobre os Níveis de Organização Comunitária
O maior desafio enfrentado pela polícia no modelo comunitário é motivar e sustentar a participação do público. A prática
ensina que o êxito de uma iniciativa policial de organização comunitária passa pelo envolvimento e comprometimento dos cidadãos na
busca de soluções para problemas locais. Um ponto crítico é que as chances de êxito dessas iniciativas tendem a ser menores nas áreas
onde se mostram mais necessárias, ou seja, os problemas são mais graves e abundantes. O contato direto e permanente com a
adversidade e a insegurança social costuma ter um efeito negativo nos esforços de organização e mobilização social.
Importante!
Em vez de unir as pessoas em torno de sentimentos de indignação e finalidade comum, o crime parece minar a capacidade de
organização comunitária. Por outro lado, a polícia parece mais bombeiro, combatendo emergências (ocorrências criminais) a
qualquer custo, não interessando integração com a comunidade.
Nesses contextos problemáticos, a organização comunitária envolve um árduo e duradouro esforço de superação de
resistência de indivíduos, céticos em relação às possibilidades de melhorias em suas condições de vida, ainda mais quando
dependentes de ações governamentais. Mesmo aquelas iniciativas que contam com investimentos e apoio governamental (recursos
financeiros, implemento de recursos humanos e materiais, treinamento de agentes públicos, informações e até mesmo o
engajamento social) costumam ser prejudicadas pelo desinteresse ou apatia do público, muitas vezes até pela abordagem equivocada
do que seria um programa comunitário de segurança pública.
Confrontada com tais dificuldades, a polícia tende a tomar decisões baseadas em suas próprias percepções: os problemas são
tão latentes e os recursos tão escassos, que as consultas à comunidade podem parecer ineficazes e excessivamente demoradas, sem
nenhum resultado prático.
Em áreas onde haja alguma base de organização comunitária, a polícia tem procurado superar essas dificuldades
estabelecendo contatos com organizações locais, tais como igrejas, associações de comerciantes e de moradores. Esta relação se
transforma na única alternativa possível e tende a viciar o processo, pois organizações locais podem tender para interesses ou
privilégios específicos (interesses comerciais, eleitorais, religiosos, etc) fugindo ao anseio de toda a coletividade.
Importante!
O desafio, portanto, não está apenas em promover trabalhos com grupos organizados da comunidade, de interesses
específicos, mas trabalhar na organização de trabalhos comunitários, de forma constante e permanente.
Pare e Reflita!
O jovem infrator que comete um ato infracional em um bairro rico, com sólida organização comunitária, reside em bairros
carentes, sem nenhuma infraestrutura e organização social. Será que a associação comercial de um bairro rico, realizando trabalhos
de parceria em bairros pobres, não pode conter a violência no seu bairro?
2.3.4. 3. A AUTONOMIA DAS ORGANIZAÇÕES EM RELAÇÃO À POLÍCIA
Em regra, os grupos comunitários, assumem uma Em áreas nobres, os grupos costumam estar mais
postura passiva e acrítica em relação às ações de governo e da preocupados com a resposta aos crimes, ações da polícia mais
polícia, respaldando apenas as suas práticas, mesmo quando repressivas, até investem para isso: compras de viaturas,
claramente impróprias ou ilegais. É preciso respaldar as boas reforma de prédios, aquisição de sistemas de comunicação.
ações da polícia, de interesse coletivo, de respeito aos direitos Mas não querem desenvolver ações mais preventivas não
humanos, dentro da legalidade e dos valores morais e éticos. querem se envolver. Por outro lado, buscam desenvolver ações
Mas deve-se criticar e vilipendiar ações violentas, ilegítimas, “caridosas e filantrópicas” como sopas aos moradores de rua
que desrespeitam a dignidade humana e que fogem ao interesse em dias de frio, cestas alimentares em igrejas, mas o morador
coletivo, responsabilizando o mau profissional e não a de rua continua na rua.
instituição como um todo. Em áreas carentes, a experiência cotidiana pode tornar
os cidadãos mais vigilantes. Em vez de simplesmente

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pressionarem por mais presença policial, se mostram mais administrativos, restringindo a sua discricionariedade; no
preocupados com os mecanismos de controle de abusos e pensamento social amplia o controle da polícia; na filosofia de
corrupção policial. polícia comunitária amplia e aprimora as ações conjuntas, tanto
Os representantes comunitários frequentemente temem da polícia como da sociedade.
a polícia e se ressentem da forma como esta exerce sua Observa-se, contudo, que com grande frequência, as
autoridade. As ações comunitárias focam mais para o controle organizações autônomas do ponto de vista econômico são
da polícia do que para o controle do crime, pois o medo é aquelas representativas dos setores de maior poder aquisitivo,
predominante. Acredita-se que a polícia não sabe os problemas que tendem a ser aliados "naturais" da polícia. As organizações
do bairro, pois só existe para “caçar bandidos”. oriundas de segmentos marginalizados, em geral mais
Organizações que não dependem da polícia para a sua antagônicas à polícia, não possuem autonomia econômica,
existência podem trazer significativos desafios para a polícia. sendo, muitas vezes, levadas a fazer concessões em troca de
No pensamento institucional pode significar entraves apoio e de recursos.
2.3.4. 4. ESTRATÉGIAS DE ORGANIZAÇÃO COMUNITÁRIA: MEIO DE CONTROLE SOCIAL, DE
AUTOAJUDA OU DE PARCERIA DECISÓRIA?
Organização ou mobilização comunitária significa unir Para muitas organizações comunitárias, organizar
questões diferentes, pessoas diferentes em objetivos comuns. significa um processo contínuo de capacitação de residentes
Para muitas polícias que querem adotar a Polícia Comunitária, locais, especialmente o incentivo à participação de cidadãos
organizar significa chamar residentes locais para assistir a uma em decisões relacionadas à qualidade de vida do bairro. A
reunião de lideres locais. Isto, com certeza, não é Polícia Polícia Comunitária se baseia neste princípio.
Comunitária.
Assim, identificamos três tipos de programas que demonstram como a interpretação errônea sobre Polícia Comunitária pode
prejudicar a implementação desta filosofia, como veremos a seguir:
PROGRAMA 1: organização comunitária como meio de controle social
Diversos programas associados à Polícia Comunitária revelam tão-somente o interesse da polícia em ampliar e legitimar o seu
controle sobre o território. O contato com as organizações comunitárias é visto como estratégia para obtenção de apoio popular,
neutralização de críticas e não como forma de engajamento dos cidadãos nos processos de estímulo e participação.

Os perigos (O QUE NÃO SE DEVE FAZER):


 Policiamento privilegiado com base nas opiniões dos  Policiamento privilegiado baseado no "bico" dos
“parceiros da polícia” (a famosa contrapartida) - apoia as policiais (locais de policiamento = locais onde atuo na hora de
decisões da polícia, terá policiamento na porta; folga);
 Surgimento de lideranças contraditórias que almejem  Surgimento de candidatos políticos com o apoio
cargos políticos prometendo combater as ações da polícia no governamental por terem "apoiado as iniciativas da polícia no
bairro; bairro".
O que é correto (O QUE DEVE FAZER):
 Ouvir a todos indistintamente (principalmente o mais todos é importante no processo porque promove confiança e
crítico); respeito;
 Neutralizar grupos específicos que querem se aproveitar  Demonstrar e discutir os erros com a comunidade pode
ou privilégios da ação policial; demonstrar evolução e interesse na integração;
 Compartilhar informações com a comunidade,  Ao cobrar ações e fornecer informações a polícia, a
transformando-as em ações preventivas e educativas. Quando o comunidade, seus lideres e os conselhos representativos devem
assunto exigir sigilo explicar o motivo, demonstrando a sua observar o bem comum (o coletivo);
importância para a segurança da própria comunidade;  Interesses eleitoreiros ou político-partidário não
 “os parceiros da polícia” não são apenas as pessoas com combinam com Polícia Comunitária que deve ser apolítica,
posse ou ascendência na comunidade, mas todos: do mais apartidária e não ideológica.
humilde ao mais culto. Portanto, estimular a participação de
PROGRAMA 2: organização comunitária como meio e autoajuda
Um segundo tipo de programa enfatiza os aspectos cooperativos da Polícia Comunitária: a polícia utiliza-se dos “olhos e dos
ouvidos” dos residentes e usuários do bairro com a finalidade de potencializar sua capacidade de prevenir crimes e manter a ordem.
Em regra, contudo, nesse tipo de programa, o envolvimento dos cidadãos limita-se a realização de tarefas, não havendo uma
dinâmica de planejamento comum. Enfatiza-se a cooperação do público na realização de tarefas policiais, mas subestima-se a sua
participação nos processos de integração.
Vende-se um pacote aos cidadãos: e a sua cooperação está direcionada a tarefas do tipo identificação de propriedades,
notificação de crimes, identificação de áreas de risco, campanhas comunitárias, jornais locais, etc.
O surgimento de supostos grupos ou entidades com o objetivo de encaminhar soluções a polícia, promover ações sem a
participação da polícia, estimulando ações coletivas independentes de programas de polícia comunitária atrapalham e confundem o
processo.

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Os Perigos (O QUE NÃO SE DEVE FAZER):


 O planejamento equivocado e sem orientação  Como o apoio governamental é pouco, apenas pequenas
culminando no surgimento de alternativas econômicas: ações fazem surgir lideranças com perfil político e eleitoral,
segurança privada, sistema de comunicações entre cidadãos de deturpando o processo;
posse (paralelo a polícia);  A instrumentalização de pequenas tarefas pode causar
 Membros da comunidade expostos a marginalidade, apatia da comunidade, favorecendo os marginais da área e
colocando em risco suas vidas porque são interlocutores dos grupos de interesse que desejam o insucesso de ações coletivas
problemas locais; no bairro;
 A polícia determina tarefas para dissuadir ações  A polícia não consegue mais atuar na área sem críticas
participativas sem nenhum resultado prático; da comunidade.
 As campanhas têm um forte conteúdo político em
detrimento da prevenção porque é apoiado por um político ou
comerciante;
O que é correto (O QUE DEVEMOS FAZER):
 Promover uma ampla participação da comunidade, da polícia ou demonstrando eventualmente que eles são
discutindo e sugerindo soluções dos problemas; informantes;
 Demonstrar a participação da comunidade nas questões,  As ações de autoajuda são acompanhadas por policiais.
determinando o que é da polícia e o que é da sociedade; As iniciativas locais são apoiadas. Trabalhos preventivos, não
 Proteger os reais parceiros da polícia, não os utilizando apenas campanhas devem ser estimulados.
para ações de risco de vida (não expondo) com ações que são
PROGRAMA 3: organização comunitária como meio de parceria decisória
(O QUE DEVEMOS ADOTAR E FAZER)
A terceira categoria, com certeza a mais importante, sociais, principalmente os mais hostis, também. Mas essas
caracteriza-se pela participação ativa do público em todos os ações devem ser estimuladas.
processos: planejamento local, ações preventivas e de A participação da comunidade é fundamentada em
orientação da comunidade, avaliação dos processos e normas técnicas de caráter científico, aprimorado ao longo do
participação nas decisões de interesse coletivo. A comunidade tempo. Contudo, a participação da comunidade no
participa ativamente do planejamento local e atua na planejamento e nas decisões melhora este perfil tecnológico e
reeducação de suas ações, na reconstrução social do bairro, ou profissional da polícia, pois o aprimoramento estará vinculado
seja, ações de caráter essencialmente preventivo. O pensamento aos níveis de satisfação, sensação de segurança, qualidade de
nesta abordagem é entender que quando a polícia se relaciona vida e a diminuição do crime e da desordem. É possível realizar
com grupos de prevenção ou mobilização comunitária, está tudo isso em termos de Polícia Comunitária? É o que veremos a
lidando com parceiros e não auxiliares ou subordinados. seguir.
A parceria que se deseja, viabiliza a adequação das Usar a polícia como instrumento de repressão social ou
estratégias de prevenção às características locais. Transferir política não é um mecanismo eficaz de combate ao crime. Da
decisões aos escalões inferiores e a parceria com representantes mesma forma manipular comunidades com objetivos políticos
da comunidade ainda é um paradigma nas organizações ou institucionais também não apresentarão resultados
policiais brasileiras. A dificuldade na relação com segmentos satisfatórios.
2.3.4. 5. PROJETO LOCAL DE POLÍCIA COMUNITÁRIA
O que é Polícia Comunitária ?
Como iniciar um trabalho de Polícia Comunitária?
Quem envolver no trabalho de Polícia Comunitária?
Polícia Comunitária -» parceria com -> comunidade (entidades, associações,minorias) polícia (Civil e Militar) outras
instituições (federal, estadual, municipal) empresários e comerciantes imprensa (escrita, falada e televisada) políticos (deputados,
prefeitos e vereadores.
Polícia Comunitária -> resolução de problemas locais e complexos com criatividade e participação de todos acima,
respeitando as suas competências, mas exigindo parcelas de responsabilidades dentro de suas respectivas competências.
Policiamento Comunitário -> ação operacional da polícia que prioriza o relacionamento adequado com a comunidade no dia a
dia. É realizado dentro de características próprias da ação policial, porém deve ser talhado segundo as necessidades e recursos locais -
> não existe maneira de fornecer regras rígidas e rápidas que possam cobrir todas as circunstâncias.
Numa visão simplista, Polícia Comunitária se restringe a aproximação do policial junto a comunidade envolvido num trabalho
de policiamento comunitário, mas ao analisarmos de fato, podemos perceber a sua abrangência, uma vez atingindo o que é
preceituado no artigo 144 da Constituição Brasileira, de que segurança pública é direito e responsabilidade de todos, cabendo também
a qualquer cidadão uma parcela de responsabilidade nas questões de segurança pública.
A sociedade como um todo, deve atuar de uma forma participante em todos os momentos que impliquem ou não em uma
situação geradora de conflitos que levem às consequências extremas de violência.
Sabemos que muitas das causas da violência decorrem da ausência de uma política pública séria que cerceie o cidadão a uma
vida com dignidade, respeitando a si mesmo e ao seu semelhante. Cada vez mais o cidadão se isola esquecendo que os problemas
inerentes à sua comunidade, também lhe pertence para que tenha qualidade de vida.
Baseado nisso é que se norteia este trabalho de Polícia Comunitária em que as pessoas passem a se conhecer e manter uma
relação de amizade, confiança e respeito, buscando, juntos, soluções criativas para os problemas que afligem a sua comunidade,
cobrando dos órgãos competentes ações mais diretas como uma forma preventiva às causas da violência.

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Somente assim tiraremos a imagem de que a polícia (instituição) resolve tudo, como se a ela destinassem todos os problemas
como uma obrigação a ser cumprida. Nos dias atuais quando se comenta sobre segurança pública, a polícia aparece como
corresponsável pelo alto índice de criminalidade que enfrentamos, a ela é imputada toda a responsabilidade para garantir a segurança
do cidadão. Para que se crie uma sensação de segurança, o cidadão precisa perceber a necessidade de se atacar as causas geradoras da
violência, tratando-as de uma forma preventiva.
Objetivos gerais:
 Integrar a comunidade às várias instâncias governamentais e não governamentais sensibilizando os moradores do bairro no sentido de resgatar valores
morais e sociais para a convivência harmoniosa buscando a melhoria da qualidade de vida local e melhora da sensação de segurança;
 Sensibilizar a comunidade para que saiba buscar soluções criativas para os problemas do seu bairro;
 Motivar a participação comunitária almejando uma intensa integração social para que todos participem na melhoria da qualidade de vida;
 Identificar as lideranças naturais para que elas perenizem a proposta.
Objetivos específicos
 Buscar soluções para os fatores criminógenos nas áreas de: educação, saúde, habitação, saneamento básico, transporte, segurança pública, justiça e
cidadania;
 Envolver os representantes dos serviços públicos, nas suas respectivas esferas de responsabilidade no programa;
 Envolver a iniciativa privada nas suas diversas atividades motivando uma participação entre o poder público e o econômico do bairro;
 Envolver o poder político local (prefeitos, vereadores, deputados e representantes de partidos políticos, de forma indistinta e imparcial) mostrando os
problemas locais;
 Mostrar ao cidadão comum a importância de sua participação, bem como propiciar para que ele identifique os problemas locais.

2.3.4. 6. PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PARA POLÍCIA COMUNITÁRIA


1ª etapa: Identificação das lideranças locais direitos e garantias individuais e coletivas e o grau de
 Verificação da existência de Sociedade Amigos de segurança;
Bairro, Entidades  Registrar e analisar os resultados que implicam as
Religiosas, Conselhos Escolares, outras Entidades dificuldades de se ter uma qualidade de vida melhor;
governamentais e não governamentais, dentre outras;  Identificar os órgãos envolvidos nas questões;
 Através de contato com a Polícia ( Militar e Civil ) da  Desenvolver um plano inicial (esboço) contemplando os
área e Administração Regional; problemas locais, os pontos de participação de cada órgão e da
 Anotações de todos os endereços e telefones para comunidade.
contato e agendamento e visita (LEVANTAMENTO 7ª etapa: Fixação de metas
ESTRATÉGICO).  Após a avaliação das necessidades deverão ser fixadas
2ª etapa: Contato com as lideranças locais as metas;
 Convite para posterior reunião;  Para quem? Onde? Quando? Como? E Para Quê? Fixar-
 Palestra sobre Polícia Comunitária. se-ão essas metas? Não basta fixar metas apenas para serem
3ª etapa: Palestra sobre Polícia Comunitária cumpridas;
 Esclarecimento sobre o que é a Polícia Comunitária;  As metas deverão ter significados e que sejam
 Divulgação de material sobre Polícia Comunitária; interessantes à comunidade;
 Apresentação da proposta de trabalho junto à  Identificação das áreas de aceitação comum (criação ou
comunidade. melhoria de áreas de lazer, programas de requalificação
4ª etapa: Identificação dos problemas do bairro profissional etc );
 Reunião com representantes da comunidade para  Fechamento do projeto, com a participação de todos os
identificar os problemas do bairro; segmentos, estabelecendo responsabilidades, cronogramas e
 Priorização de problemas do bairro; metas.
 Indicação de representantes que formarão um comitê  Eventos que consolidem a sistematização do trabalho de
(ou conselho) de implantação dos trabalhos de Polícia Polícia Comunitária e que uma vez compreendido não será mais
Comunitária; esquecido.
 Discutir estas questões com as polícias do bairro. 8ª etapa: Estratégia de Implantação
5ª etapa: Coleta de informações (características sócio-  Identificação de responsáveis capazes de auxiliar na
econômicas, características geográficas ambientais) resolução dos problemas apontados, possibilitando que se
 Informações: perfil da área (mapa preciso, número de atinjam as metas fixadas.
residências, número e tipo de comércio, escolas igrejas, 9ª etapa: Controle de qualidade, desenvolvimento
associações, postos de saúde, área de lazer etc ); contínuo e atualização dos trabalhos
 perfil dos habitantes (idade, sexo, grau de instrução,  O comitê de implantação se reunirá no mínimo uma vez
profissão, estado civil, se empregado etc); por mês ou sempre que necessário e será responsável pelo
 Verificação de responsáveis pela coleta e locais a serem controle de qualidade, desenvolvimento contínuo e atualização.
coletadas as informações. Estas informações podem ser  A avaliação poderá ser realizada através de:
fornecidas pela própria polícia, órgãos públicos locais e  um indicador (um fato que indique se o projeto atingiu
entidades existentes no bairro; ou não o objetivo );
 Tabulação e análise das informações. Sociabilizar as  dados estatísticos - acompanhamento da diminuição
informações com a comunidade. ou aumento da criminalidade, referente as ocorrências na
6ª etapa: Indicativos dos problemas locais comunidade;
 Após traçado o perfil da comunidade local, verificar  pesquisas com levantamentos (registros de
quais as dificuldades que se enfrentam para o exercício dos ocorrências) e questionários sobre o grau de satisfação da
comunidade e se continua temerosa.

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 contato pessoal com a comunidade.  O grupo revelou progressos ?


 forma de verificação ( atividade que permita a Se almejarmos um desenvolvimento contínuo,
demonstração do que foi feito em relação ao indicador); necessitamos tomar certos cuidados como acompanhar as
 momento de verificação (o momento da verificação do atividades analisando os avanços e dificuldades, buscando
aprendizado, no início, no meio, ou ao final das atividades). meios para facilitar a superação dos obstáculos, incentivando o
É preciso observar se : grupo a caminhar, uns ajudando os outros, sabendo que é
 O projeto atingiu os objetivos dentro do prazo previsto? preciso de tempo para exercitar e incorporar uma nova filosofia
 Se não atingiu, quais foram os entraves que surgiram de trabalho para interagir com o meio e desse modo os
para o conhecimentos adquiridos se tornarem definitivos.
 impedimento do avanço do projeto? Os desafios da vida são constantes e isso requer uma
 Quais foram as atividades realizadas? atualização permanente para a elaboração de novas informações
 Quais foram as tentativas para a realização dessas adequando às situações de momento que surjam durante o
atividades? transcorrer do processo.
 Quais as dúvidas que se manifestaram? A eficiência e eficácia de um trabalho de Polícia
 Quais foram as interferências necessárias par a Comunitária pode ser mensurada pela ausência de crime e de
realização das atividades? desordem, pelo apoio da comunidade nas questões de
 Houve demonstração de independência do grupo em segurança.
relação às atividades?
2.3.4. 7. ATIVIDADES QUE PODERÃO SER DESENVOLVIDAS NA COMUNIDADE, COMO FORMA DE
PARTICIPAÇÃO SOCIAL NA PREVENÇÃO E PREPARAÇÃO DA COMUNIDADE
 Palestras sobre variados temas conforme as  Ser apartidário, apolítico;
necessidades locais;  Envolver a Polícia Militar direcionando à prevenção e
 Cursos de preparação de lideranças comunitárias, quando necessário,
Debates em Escolas envolvendo o corpo docente,  intensificação do ostensivo;
administrativo e operacional (Participação da Escola na  Envolver a Polícia Civil, para aproximação e
melhoria da segurança no bairro, Relacionamento comunitário, familiarização com a comunidade, esclarecendo questões
Participação da comunidade na Escola etc ); pertinentes e bom atendimento do cidadão no Distrito Policial,
 Eventos com apresentações de música, dança e grupos bem como dar o caráter social e preventivo a investigação
locais; criminal;
 Encontros de moradores de uma rua para atividades  Sensibilizar e manter contatos com autoridades de
comuns e sociais (um chá da tarde, um bingo, etc); vários organismos públicos para a garantia do desenvolvimento
 Educação para o trânsito nas Escolas ( Polícia de do projeto;
Trânsito);  Ser desvinculado de qualquer interesse particular,
 Campanhas de prevenção e orientação ao pedestre e religioso e ideológico;
ao motorista;  Ter objetivos claros e definidos, sempre prestando
 Semana de prevenção à saúde (Secretaria da Saúde ); contas à comunidade;
 Semanas cívicas, de meio ambiente e de mutirões no  Ser voltado à reeducação da comunidade;
bairro;  Evitar confrontos, mostrando sempre o lado educativo
 Finais de semana de lazer e recreação (Escolas ou em qualquer situação;
outros espaços disponíveis, públicos ou privados);  Estar sempre preocupado com a integridade física e
 Reuniões de trabalho com as lideranças locais, com os moral dos participantes;
poderes públicos locais e com a iniciativa privada;  Esquematizar a viabilização de formas de proteção
 Orientação com relação à medida que devem ser aos participantes do projeto;
adotadas quanto a:  Providenciar apoio às autoridades competentes, a
 Segurança pessoal de seus bens; qualquer indício de exposição de qualquer um dos
 Segurança residencial; participantes;
 Segurança em relação as crianças;  Ser desenvolvido priorizando o respeito a dignidade
 Segurança escolar etc. humana;
 Programa de restauração do bairro (ruas limpas,  Priorizar os mais carentes e necessitados;
árvores cortadas, calçadas arrumadas, muros pintados, etc).  Ser flexível e constantemente reavaliado.
O trabalho de Polícia Comunitária deve:
Saiba mais: Câmaras técnicas. As Câmaras Técnicas são espaços permanentes de discussão sobre os assuntos mais importantes
para a segurança pública do município.

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Glossário.

Adjetivação. substantivo feminino. Ação ou efeito de adjetivar, de modificar um substantivo com um ou mais adjetivos, esp.
qualificativos. Transformação ou uso de uma palavra como adjetivo.
Alheamento. Substantivo masculino. 1. ato ou efeito de alhear(-se); alienação, alheação. manter(-se) afastado; desviar(-se),
apartar(-se). "a. o pensamento"
Alhear. Verbo. 1. transitivo direto. Passar para outrem o domínio ou o direito de; ceder, alienar. "alheou todos os seus bens" 2.
transitivo direto e bitransitivo e pronominal
Brigada Militar. A Brigada Militar do Rio Grande do Sul (BMRS), ou simplesmente Brigada Militar (BM), é a força de
segurança pública que têm por função o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública no âmbito do Estado do Rio
Grande do Sul.
Câmaras técnicas. As Câmaras Técnicas são espaços permanentes de discussão sobre os assuntos mais importantes para a
segurança pública do município.
Carabineros. Carabineros: nome de várias forças policiais em diferentes países do mundo: a) Carabineros de Chile, atual
instituição policial uniformizada do Chile desde 1927. O grau de policial carabinero, o grau mais baixo dentro da instituição
Carabineros do Chile, e pertencente à hierarquia hierárquica; b) Carabineros de España, força policial espanhola, criada no século

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XIX e abolida em 1940. c) Carabineros de Colômbia, grupo operacional de polícia montada da ordem nacional, pertencente à
Direção de Carabineros e Seguridad Rural (DICAR) da Polícia Nacional de Colômbia. d) Carabinieri, atual instituição de ordem e
polícia militar da Itália. Além disso, a palavra carabinero pode se referir a: O soldado carabinieri, armado com uma carabina. Vários
crustáceos semelhantes a camarão e camarão. Plesiopenaeus edwardsianus, um crustáceo conhecido como carabinero, Aristeus
antennatus, um crustáceo conhecido como carabineiro, camarão rosa ou camarão rosa. Aristeomorpha foliacea, um crustáceo
conhecido como carabinero, camarão moruno, chouriço ou chorizo.
Carabiniere. Atual instituição de ordem e polícia militar da Itália
Ciclo Policial Completo. Ciclo Completo de Polícia consiste na atuação plena das instituições policiais, isto é atuar na
prevenção, na repressão e na investigação. Esse é o modelo adotado na Europa, América do Norte e América do Sul, enfim, com
exceção de três Países no mundo: Brasil, República de Cabo Verde e República Guiné-Bissau, todos os outros adotam o ciclo
completo para as suas polícias.
Ciclo Policial Incompleto. No Brasil é a Constituição Federal, que nos parágrafos 4º e 5° do inciso IV, do artigo 144, dispõe
sobre duas corporações policiais estaduais de ciclo incompleto, prevendo o exercício da polícia judiciária pelas polícias civis e a
função de polícia ostensiva e preservação da ordem pública para as polícias militares. Nessas condições, ambas atuam de forma
isolada tendo como único contato o momento da apresentação, pelos policiais militares, dos presos em flagrante nas  delegacias da
Polícia Civil para as providências de polícia judiciária cabíveis.
Ciclo Virtuoso. É uma expressão que vem sendo bastante utilizada para designar um círculo de acontecimentos positivos. É o
oposto do círculo vicioso.
CONSEG. A definição de CONSEG (Conselho Comunitário de Segurança), se encaixa perfeitamente à orientação do art. 144
da Constituição Federal do Brasil, quando diz que a preservação da ordem pública é dever do Estado, porém, direito e
responsabilidade de todos. Contudo, a ideia do Conselho Comunitário de Segurança surgiu para criar um espaço onde todos
poderiam se reunir e pensar estratégias de enfrentamento dos problemas de segurança, tranquilidade e insalubridade da comunidade,
orientados pela FILOSOFIA DE POLÍCIA COMUNITÁRIA. O Conselho Comunitário de Segurança é uma entidade de apoio às
polícias estadual. Em outras palavras, são grupos de pessoas de uma mesma comunidade que se reúnem para discutir, planejar,
analisar, e acompanhar as soluções de seus problemas, o qual se reflete na segurança pública. São meios de estreitar a relação entre
comunidade e polícia, e fazer com que estas cooperem entre si. Cada CONSEG realiza reuniões ordinárias mensais, normalmente no
período noturno, em imóveis de uso comunitário, segundo uma agenda definida por período anual. A Secretaria da Segurança
Pública tem como representantes, em cada CONSEG, o Comandante da Polícia Militar da área e o Delegado de Polícia Titular do
Distrito Policial. Sua legitimidade tem sido reconhecida pelas várias esferas de Governo e por institutos independentes, o que
permite afirmar que os CONSEGs representam hoje, a mais ampla, sólida, duradoura e bem-sucedida iniciativa de Polícia orientada
para a comunidade em curso no Brasil.
CRISP. Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública
Crônica. Doença crônica é uma doença que persiste por períodos superiores a seis meses e não se resolve em um curto
espaço de tempo.
Delineados. Delineado. Adjetivo. 1. Desenhado de forma imprecisa e esquemática; esboçado. 2. por extensão Descrito de
maneira sucinta e objetiva.
Desenho Institucional. Desenhos institucionais de partilha do poder e são constituídos pelo próprio Estado, com representação
mista de atores da sociedade civil e atores estatais. E, por fim, os planos diretores municipais, através da obrigatoriedade das
audiências públicas, constituem um terceiro tipo que denominamos desenho institucional de ratificação. É importante perceber que
estes desenhos variam em pelo menos três aspectos: na maneira como a participação se organiza; na maneira como o Estado se
relaciona com a participação e na maneira como a legislação exige do governo a implementação ou não da participação. O objetivo
deste artigo é comparar estes desenhos nestas três dimensões; ele está dividido em quatro partes: na primeira delas fazemos breves
considerações sobre desenho institucional e participação e nas três seções seguintes abordamos cada um dos tipos de desenho
institucional mostrando a sua variação em diferentes contextos. Nas conclusões, mostramos o contexto no qual o processo
participativo instaurado se torna mais efetivo.
Desmilitarizaçao.des·mi·li·ta·ri·za·ção.Substantivofeminino.Medida de segurança prevista por um tratado, que interdita toda 
a presença ou .atividade militar numa zona determinada.
Desmilitarizar. des·mi·li·ta·ri·zar - verbo transitivo1. Tirar o .caráter militar a. 2. Retirar (as tropas) de.
"desmilitarização", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-
2013, https://www.priberam.pt/dlpo/desmilitariza%C3%A7%C3%A3o [consultado em 12-08-2018].
Destoante. adjetivo de dois gêneros. 1. por extensão que discorda; divergente. 2. figurado (sentido)figuradamente que não
condiz; impróprio, inconveniente.Origem. ⊙ ETIM destoar + -nte
DHPP. Sigla para Departamento de Homicídio e Proteção a Pessoa.
Diretrizes. Diretriz. Substantivo feminino. 1. linha básica que determina o traçado de uma estrada. 2. figurado
(sentido)figuradamente. Esboço, em linhas gerais, de um plano, projeto etc.; diretiva."o presidente eleito traçou a d. do seu governo"
ECA. O Estatuto da Criança e do Adolescente é a lei que cria condições de exigibilidade para os direitos da criança e do
adolescente, que estão definidos no artigo 227 da Constituição Federal. 
Emancipatórias. Adjetivo Emancipador; que tem capacidade de emancipar, de tornar livre e independente: documento
emancipatório. Etimologia (origem da palavra emancipatório). Emancipar + ório.
ENASP. Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública para o Poder Judiciário.

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Fomentar. Verbo. 1. transitivo direto e intransitivo. Friccionar a pele com líquido aquecido para fins curativos; fazer
compressa quente e úmida. "essa dor passa rápido fomentando o local". 2. transitivo direto. figurado (sentido)figuradamente. Cercar
de cuidados para criar ou fazer crescer; estimular.
FUNPEN. Fundo Penitenciário Nacional.
Gendarmerie. Uma gendarmaria, gendarmeria ou simplesmente guarda (em francês: gendarmerie) é uma força militar,
encarregada da realização de funções de polícia no âmbito da população civil. Os seus membros são designados "gendarmes".
Ocasionalmente, as gendarmarias podem também exercer funções de preboste ou polícia militar no âmbito das forças armadas,
sobretudo nos teatros de operações do estrangeiro.
GEPAR. Grupo Especializado e Policiamento Em Áreas De Risco. O GEPAR, implantado em Uberlândia, no final de
fevereiro, atua com o intuito de garantir a segurança aos moradores, promovendo a prevenção e repressão qualificada aos crimes
violentos, com o objetivo de reduzir os índices criminais desses locais e ainda traçar estratégias para reduzir a mão-de-obra
disponível para a prática de crimes. A atuação do grupo está baseada na filosofia de trabalhar o contexto social das áreas de risco,
visando resgatar a credibilidade da comunidade local para com a polícia militar, através da áreas socias de polícia preventiva e
repressiva. Os policiais militares pertencentes ao GEPAR executam suas atividades dentro de três pilares: a prevenção, a repressão
qualificada e a promoção social.
Guardia Civil. A Guarda Civil é um instituto espanhol armado de natureza militar, dependente do Ministério do Interior e
da Defesa , nota 2 que cumpre, entre outras, funções de segurança. Foi fundado por Francisco Javier Girón e Ezpeleta , II Duque de
Ahumada , em 13 de maio de 1844, sendo este o primeiro diretor geral .Nasceu devido à necessidade de ter um órgão de segurança
pública de implantação territorial nacional, forte, profissional e ampla, que respondesse de forma eficiente às necessidades de
segurança da Espanha na primeira metade do século XIX, o que leva com grande sucesso.  Seus mais de 173 anos de história
contínua, sem alterar seu nome, lhe conferem o status de força policial mais antiga da Espanha, independentemente de seu alcance
(nacional ou regional). Popularmente também conhecida como Benemérita , ela faz parte das forças e órgãos de segurança do
Estado , combinado à Força Policial Nacional .  Como tal, a Constituição , em seu artigo 104, estabelece a missão primordial de
proteger o livre exercício dos direitos e liberdades dos espanhóis e garantir a segurança dos cidadãos , sob a dependência
do governo da Espanha . Dada a sua natureza militar, seus componentes são considerados de carreira militar, e o corpo também é
encarregado de missões de natureza militar, descritas no Real Decreto 1438/2010.
Hooligans. A palavra hooligan tem sua origem no sobrenome inventado Hooligan, que designava uma família arruaceira
irlandesa fictícia, cujo nome era usado na letra de uma música cantada no teatro de variedades por volta de 1890. Hoje usa-
se hooligan para qualquer pessoa barulhenta e violenta em lugares públicos, que normalmente anda com um grupo. Football
hooligans se refere aos torcedores de futebol desordeiros e violentos, que ficaram famosos, principalmente na Inglaterra, por sua
conduta vergonhosa e típica de vândalos, chamada de hooliganism, em inglês.
Idealistas. Idealista. Adjetivo de dois gêneros. 1. relativo ao ou próprio do idealismo. 2. adjetivo e substantivo de dois gêneros.
Partidário do idealismo (teoria filosófica).
Implementaçao. Substantivo feminino. ato ou efeito de implementar.
Implementar. Verbo. 1. transitivo direto. Suprir de implementos. 2. transitivo direto. Pôr em execução, pôr em prática (plano,
programa ou projeto); realizar.
Implemento. substantivo masculino. 1. O que é necessário para a execução de algo; complemento, petrecho, apresto (mais us.
no pl.). 2. figurado (sentido)figuradamente. Obrigação de pagar ou cumprir (algo firmado em contrato); cumprimento.
Intendência Geral de Polícia. A Intendência Geral de Polícia da Corte e do Estado do Brasil, foi o órgão instituído
em 1808 para implantar e dirigir a nova estrutura de polícia e segurança pública da Corte do Rio de Janeiro e de todo o território
do Brasil. Este órgão seguia, quase exatamente, o modelo da Intendência-Geral da Polícia da Corte e do Reino, criada em 1760, com
sede em Lisboa. Essa Polícia Real criada pelo Príncipe-Regente Dom João, dois meses após a chegada da Família Real
Portuguesa ao Rio (em 7 de março de 1808), através do Alvará (com força de lei) de 10 de maio, reproduziu a instituição existente
em Lisboa, fundamentando-se nos Alvarás de 25 de junho de 1760 e de 15 de janeiro de 1780.
Intermitente. Intermitente é um adjetivo de dois gêneros proveniente do latim intermittente. Dizer que algo é intermitente
significa dizer que essa coisa cessa e recomeça por intervalos, que se manifesta com intermitências, que não é contínua, que
tem interrupções.
Jurisdicionários. Jurisdicionado. substantivo masculino. aquele sobre quem se exerce jurisdição.
Jus puniendi. [Jurídico] Trata-se de uma expressão de origem latina que tem o significado de "direito de punir do Estado".
Faz referência à autoridade estatal perante os cidadãos.
Kaingang. Os caingangues, Kainguangs, kaingang, kanhgág, guainás, coroados, bugres, botocudos, camés ou xoclengues são
um povo indígena do Brasil. Sua língua, a língua caingangue, pertence à família linguística jê, a qual, por sua vez, pertence ao
tronco linguístico macro-jê.
Lei 12.043/2011. Lei que altera dispositivos do Decreto-Lei n o 3.689, de 3 de outubro de 1941 - Código de Processo Penal,
relativos à prisão processual, fiança, liberdade provisória, demais medidas cautelares, e dá outras providências.
Locus. Locus é uma palavra do latim, que significa literalmente “lugar”, “posição” ou “local”.
Macromudanças. Significado de macro. O que é macro: Termo de composição que exprime a ideia de grande. Entra na
formação de muitas palavras.
Mapeamento social.  A cartografia social permite às populações desenhar, com ajuda de profissionais, mapas dos territórios
que ocupam. No Brasil, as primeiras iniciativas foram desenvolvidas em territórios da Amazônia Legal, e depois se estenderam para
outras regiões brasileiras, especialmente na área rural. No entanto, já há experiências envolvendo comunidades urbanas. O
mapeamento social geralmente envolve populações tradicionais extrativistas, ribeirinhos, agricultores familiares e indígenas, e é um

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instrumentos utilizado para fazer valer os direitos desses grupos frente a grandes empreendimentos econômicos – como construção de
usinas hidrelétricas e implantação de projetos de mineração -; problemas relacionados à grilagem de terras, ao não cumprimento de
normatizações referentes às delimitações de terras indígenas e a áreas de preservação/ proteção ambiental.
Maréchausee. (Polícia) nome feminino 1. tribunal de marechais da França, antigamente 2. ex-cavaleiros encarregados de
garantir a segurança pública substituída pela gendarmaria nacional 3. a gendarmaria, os gendarmes.
MJ. MJ é a sigla para Ministério da Justiça. Trata-se de um organização administrativa responsável pelos assuntos
relacionados com a ordem jurídica, garantias pessoais e cidadania.
Multifacetada. Multifacetado. Adjetivo 1. m.q. MULTIFACE. 2. figurado (sentido)figuradamente relativo a ou que possui
características variadas e peculiares. "caráter m."
Multiliderança. Não há chefes na rede, mas sim muitos líderes.
Network. Networking é uma palavra em inglês que indica a capacidade de estabelecer uma rede de contatos ou uma conexão
com algo ou com alguém.
Nomos. Os Nomos são as divisões administrativas do Antigo Egito, ao número de quarenta e dois durante o período
ptolomaico.
Norteador. /ô/adjetivo substantivo masculino. que ou o que norteia.
Notória. Notório. Adjetivo. Conhecido por um grande número de pessoas; sabido: é notório seu talento para ensinar. Que não
se pode contestar, duvidar, refutar; evidente: parlamentar com notório respeito público. Notório Saber.
Onipresença. substantivo feminino. Qualidade ou condição do que é onipresente; presença em todos os lugares. "a o. de Deus".
Ostensivo.Sinônimos de ostensivo manifesto, franco, evidente, escancarado, claro, aberto, expresso, descoberto, aparente, con
hecido, oficial, ostensível, ostensório, ostentativo, ostentoso, patente, proclamado, sabido, visível.
Paradigma. substantivo masculino. um exemplo que serve como modelo; padrão. 2. GRAMÁTICA . Conjunto de formas
vocabulares que servem de modelo para um sistema de flexão ou de derivação (p.ex.: na declinação, na conjugação etc.); padrão.
Penal. Penal1. adjetivo de dois gêneros. 1. que se refere a penas judiciais. "sanções p.". 2. relativo à legislação que aplica penas
judiciais. "código p."
Pertinente. adjetivo de dois gêneros. 1. que se refere (a alguma coisa); concernente, respeitante. "era um assunto p. ao prefácio
do livro" 2. que vem a propósito; apropriado à finalidade a que se destina. "além de sagazes, eram observações p."
PLANESP-RN. Plano Estratégico de Segurança Pública do RN 2017-2020
Polícia Metropolitana de Londres. A Polícia Metropolitana de Londres (em inglês, Metropolitan Police Service, MPS),
também conhecido como Met é a força responsável pelo policiamento de toda a Grande Londres, com exceção da "Square Mile" - a
área da City, que possui sua própria força policial, a City of London Police.
Polícia Militar. A polícia militar PM - segundo o conceito usado internacionalmente - é a corporação que exerce o poder
de polícia no âmbito interno das forças armadas, garantindo a segurança, a ordem e a lei no seu seio. Geralmente, a sua ação limita-se
apenas às instalações e aos membros das forças armadas.
Potencialidades. Potencialidade. Substantivo feminino.1. Característica ou condição do que é potencial. 2.
m.q. POTENCIAL ('conjunto de qualidades', 'capacidade de realização').Societário. adjetivo substantivo masculin. 1.
obsoleta/oobsolescente Que ou quem faz parte de qualquer sociedade científica ou literária; sócio.2. que ou aquele que faz parte de
uma sociedade comercial; sócio.
Pró-ativo. Adjetivo. 1. Que visa antecipar futuros problemas, necessidades ou mudanças; antecipatório. "medidas p."
PROERD. O Programa Educacional de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD) tem como base o DARE. (Drug Abuse
Resistance Education), e foi criado pela Professora Rutty Hellen em conjunto com o Departamento de Polícia da cidade de Los
Angeles, EUA, em 1983.
Propiciar. Verbo. 1. transitivo direto. Tentar obter de (alguém) sua boa vontade, torná-lo favorável, aplacar a sua ira. "na
Antiguidade faziam-se sacrifícios para p. os deuses". 2. transitivo direto e bitransitivo. Proporcionar as condições para a realização
de (algo); assegurar, permitir. "a competência propiciou bons resultados"
Repressiva. Repressivo. Adjetivo. 1. Que reprime, que tem a finalidade de reprimir.
Retroalimentação. substantivo feminino. 1. ELETRICIDADE ELETRÔNICA INFORMÁTICA
m.q. REALIMENTAÇÃO. 2. Qualquer processo por intermédio do qual uma ação é controlada pelo conhecimento do efeito de suas
respostas. Feedback.
Rijkspolitie. Polícia estadual holandesa
Securitária. Securitário. Adjetivo. 1. relativo a seguros (jur). 2. adjetivo substantivo masculino. Que ou quem trabalha para
companhia de seguros.
Senasp. A Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP) é um órgão público superior de nível federal, vinculado
ao Ministério da Justiça. Ela é responsável pela política de segurança pública no país
Tangível. adjetivo de dois gêneros. 1. Que se pode tanger, tocar; sensível, tocável. 2. Que se percebe pelo tato; corpóreo,
palpável. "bens t."
UNODC. O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) implementa medidas que refletem as três
convenções internacionais de controle de drogas e as convenções contra o crime organizado transnacional e contra a corrupção. O
trabalho do UNODC está baseado em três grandes áreas: saúde, justiça e segurança pública. Dessa base tripla, desdobram-se temas
como drogas, crime organizado, tráfico de seres humanos, corrupção, lavagem de dinheiro e terrorismo, além de desenvolvimento
alternativo e de prevenção ao HIV entre usuários de drogas e pessoas em privação de liberdade.

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Vigência. substantivo feminino. 1. Caráter ou estado do que é vigente. "discutir a v. de uma lei". 2. Fato de estar em vigor, de já
surtir efeitos ou não ter sido revogado (decreto, regulamento, lei etc.). "tudo ocorreu apesar da v. da lei".

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