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PROJETO “APOIO À APRENDIZAGEM NOS ANOS INICIAIS”

Emilia Santos Caniné1

Resumo: O presente texto tem por objetivos contextualizar e apresentar o projeto intitulado
“Apoio à Aprendizagem nos Anos Iniciais”. Esse projeto, desenvolvido por professores do
Departamento de Primeiro Segmento do Ensino Fundamental do Colégio Pedro II2,
configura-se como um projeto pedagógico, pois pressupõe um conjunto de ações
educativas articuladas, voltadas para o acompanhamento dos estudantes que apresentam
lacunas de conhecimento e/ou cujo desempenho não é satisfatório. O público-alvo do
projeto diferencia-se daquele atendido pela Recuperação prevista em lei, que se restringe
aos alunos que apresentam médias numéricas abaixo do esperado ou resultados
insatisfatórios em avaliações formais institucionais. Além do caráter pedagógico, o projeto
caracteriza-se também como pesquisa, pois busca investigar as dificuldades de
aprendizagem apresentadas pelos alunos e propor/executar novas maneiras de intervir
pedagogicamente junto aos mesmos.

Palavras-chave: Anos Iniciais do Ensino Fundamental, Apoio Pedagógico, Dificuldades de


Aprendizagem.

1. INTRODUÇÃO

O Colégio Pedro II é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação


(MEC). Foi fundado em 1837 e, desde então, tem permanecido em lugar de destaque no
cenário da Educação Nacional. Sua vocação para formar cidadãos críticos, que buscam
soluções para os seus problemas, bem como para os que afetam a comunidade, se manteve
mesmo nos períodos mais difíceis da história política, econômica e social do Brasil. Vale

1
Departamento do Primeiro Segmento do Ensino Fundamental - Campus Engenho Novo I
emiliacanine@yahoo.com.br
2
Em 2016, além das direções dos campi I, das coordenadoras e das orientadoras pedagógicas, o projeto foi
desenvolvido pelas seguintes docentes: Amanda Barcellos Taranto, Adriana Simões Sobral, Amanda Ferreira
Marcicano, Ana Maria Duarte da Silva Campos, Ana Paula de Castro Cordeiro, Claudia Regina Machado dos
Santos, Danielle Azevedo Pereira de Almeida, Denise de Medeiros Frias, Emília Santos Caniné, Erika Tadeu
de Freitas, Fabiana Ribeiro Araújo de Souza, Gabriela dos Santos Herculano, Joycimar Lemos Barcellos,
Juliana Rodrigues Terra, Laura Cristina Fernandes de Oliveira, Luciana Mello da Silva, Luzia de Fatima
Vieira dos Santos, Maíra Cavalcanti, Mariana Cardoso Meireles da Costa, Natalia Sobral Capasso, Paula
Gomes dos Santos, Raquel Oliveira do Nascimento, Renata Monique Ferraz Carreiro, Sandra Rosa Freire,
Simone Marques Costa, Thais da Rocha Bulcão, e Vera Lucia Moraes de Oliveira.
ressaltar que o Colégio sempre buscou a excelência no ensino e, nesse sentido, sempre que
necessário, adaptou-se para atender às demandas da sociedade (COLÉGIO PEDRO II,
2002).
Em 1984, o Colégio abriu suas portas para alunos dos Anos Iniciais. Tendo em
vista que o ingresso desses alunos ocorria, e ainda ocorre, por meio de sorteio público e
não por concurso de provas de conhecimentos teóricos específicos, a possibilidade de
entrada de alunos com dificuldades de aprendizagem aumentou. Essas necessidades
demandaram intervenções pedagógicas e acompanhamentos específicos.
Com um olhar atento, observou-se que o trabalho realizado em sala de aula, embora
adequado para a maioria, nem sempre era suficiente para garantir que todos os alunos
apresentassem um desempenho considerado satisfatório para a faixa etária e para o ano
letivo que frequentavam. Alguns tinham dificuldades para acompanhar, com autonomia, as
atividades propostas ou apresentavam resultados que destoavam dos padrões esperados
para a etapa de ensino a que correspondiam. Esse fato instigava os professores a buscarem
alternativas que ajudassem seus alunos a ultrapassarem suas dificuldades que, em geral,
eram impostas por questões afetivas, sócio-culturais, cognitivas e/ou físicas.
Nessa perspectiva, em 1997, o Departamento de Primeiro Segmento organizou
atividades de apoio pedagógico para alunos que apresentavam dificuldades quanto ao
rendimento escolar, implementando o Projeto “Investigando as Dificuldades de
Aprendizagem”. A investigação das dificuldades pedagógicas e o desenvolvimento de
estratégias específicas norteavam os atendimentos que deviam ser realizados em pequenos
grupos. Assim, pretendia-se oportunizar a todos uma aprendizagem satisfatória.
Até 2009, as aulas de apoio foram oferecidas para os alunos das cinco séries dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental, contando-se, para tal, com dois tempos da carga
horária dos professores em regime de Dedicação Exclusiva (D.E.), além dos professores
cujo cartão de horário se definia, integralmente, com aulas de apoio.
Em 2010, o projeto passou por algumas alterações, principalmente em função da
redefinição do quantitativo de professores lotados nos Campi I, que atendiam aos grupos
de apoio; da determinação do quantitativo de alunos encaminhados para as atividades de
apoio; da obrigatoriedade legal de oferta de acompanhamento para os alunos com
problemas de rendimento; da postura inclusiva da instituição, que vem recebendo alunos
com as mais variadas necessidades; e das reflexões acerca das atividades de apoio.
Assim, em 2010, o projeto passou a ser denominado “Dificuldades de
Aprendizagem nos Anos Iniciais”.
Cabe ressaltar que o referido projeto se diferencia, aqui, do atendimento prestado
aos alunos com notas/avaliações abaixo da média; que deve ser oferecido pelo professor de
recuperação, atendendo-se às questões legais. Os critérios utilizados para encaminhamento
de alunos às aulas de recuperação são:
• no primeiro trimestre – alunos que foram aprovados no ano anterior em
decisão tomada pelo Conselho de Classe;
• no segundo e no terceiro trimestres – alunos de 4º e 5º anos com rendimento
abaixo da média prevista, ou seja, 5,0 (cinco) e alunos do 1º, 2º e 3º anos
que obtiveram indicador NA (Não Alcançado) nos descritores que indicam
competências mínimas determinadas pelo Departamento.
Em 2014, o Projeto foi novamente apresentado, com o título de “Apoio à
Aprendizagem nos Anos Iniciais”. Apesar da nova nomenclatura, foi mantido o princípio
básico de respeito à diversidade de características, de necessidades e de ritmos de
aprendizagem de cada indivíduo. Cabe ressaltar que, nesse momento, consolidou-se a
proposta de apresentação de projetos de pesquisa e de extensão, também, na instituição.
Contudo, ainda que houvesse a possibilidade de engajamento em outras iniciativas, um
grupo de professores do Departamento permaneceu vinculado ao Projeto de Apoio,
mantendo as atividades previstas.
Sendo assim, os objetivos gerais desse projeto são: garantir oportunidades de
aprendizagem a todos os alunos promovendo continuamente avanços escolares e propor
novas possibilidades de intervenção pedagógica, de modo a criar oportunidades
diferenciadas de aprendizagem.
Para tal, são necessários os seguintes objetivos específicos:
• acompanhar o desempenho dos alunos, identificando possíveis problemas
no processo ensino-aprendizagem;
• assegurar condições que favoreçam a realização de atividades significativas
e diversificadas que atendam à pluralidade das demandas existentes em cada
caso;
• estimular, elaborar e realizar atividades que favoreçam o processo ensino-
aprendizagem, no sentido de gerar avanços na aquisição de novos
conhecimentos.
Ressalta-se, por fim, que as atividades desenvolvidas com os alunos são,
prioritariamente, relacionadas à aprendizagem de Língua Portuguesa e de Matemática.
Como desdobramento, o projeto pretende sistematizar o registro do desempenho
dos alunos e divulgar as intervenções pedagógicas utilizadas para a superação das
dificuldades analisadas e acompanhadas.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Marco Teórico


Conforme os estudos de Melchior (2004), no lugar de procurar culpados pelo
insucesso, é necessário encontrar alternativas que possibilitem a todos os alunos avançarem
no processo ensino-aprendizagem. Dessa maneira, entender os motivos do fracasso escolar
é perceber a reprovação na escola como exceção e não como regra, pois a regra é aprender
e progredir, já que a escola existe para que o aluno aprenda.
De fato, para desenvolver efetivamente propostas de trabalho que viabilizem a
construção de uma escola realmente inclusiva, é necessário que existam espaços de
reflexão, de estudo e de troca de experiências, onde os professores possam aprofundar-se
teoricamente nas diferentes concepções de educação, base da prática pedagógica; na
gênese dos conhecimentos das diversas áreas; no desenvolvimento da linguagem oral e
escrita; na afetividade, nas contribuições recentes da neurociência; nas intervenções de
sucesso; nos conhecimentos prévios dos alunos, entre tantos outros.
A investigação e a valorização dos conhecimentos prévios, muitas vezes
desprezados, encontram eco no conceito de aprendizagem significativa, segundo o qual o
novo conhecimento interage com o conhecimento relevante já existente, resultando uma
modificação em ambos. Assim, a aprendizagem é dinâmica e tem ênfase no processo
(CARRETERO, 2002; MOREIRA, 1997, 2010).
Nesse sentido, segundo Rogers (1997), o professor é um facilitador da
aprendizagem que estimula o interesse do aluno em aprender. Ele precisa respeitar, aceitar
e acreditar na potencialidade do aluno.
O papel do professor como mediador e facilitador também pode ser identificado em
Ronca (1994, p. 92),
[...] a aprendizagem significativa é um processo cognitivo no qual o conceito de
mediação está plenamente presente, pois para que haja aprendizagem significativa
é necessário que se estabeleça uma relação entre o conteúdo que vai ser aprendido
e aquilo que o aluno já sabe.
Para Freire (2002), o processo ensino-aprendizagem está baseado no diálogo. Daí, a
importância da escuta por parte dos professores e o estímulo à curiosidade e ao
protagonismo, que conduzem à autonomia. Nesse tipo de educação, professores e alunos
ensinam e aprendem, em uma troca constante de saberes.
Diante do exposto, verifica-se e entende-se a importância de grupos de apoio com
número reduzido de alunos.
No que se refere ao currículo, que tem como premissa atender a todos, deve-se
caminhar no sentido de promover uma prática em que as ações sejam efetivamente
coletivas e colaborativas (BOOTH, AINSCOW e KINGSTON, 2006). Assim, planejar
junto, aprender em grupo, rever as estratégias de ensino, envolver todos os componentes do
processo ensino-aprendizagem e compartilhar experiências são os pilares do projeto de
“Apoio à Aprendizagem”, refletindo a busca constante pela qualidade da educação.

2.2. Metodologia

O projeto “Apoio à Aprendizagem nos Anos Iniciais” caracteriza-se,


principalmente, pela investigação das dificuldades de aprendizagem dos alunos dos Anos
Iniciais, pela elaboração de estratégias pedagógicas que minimizem tais dificuldades, pela
implementação de tais estratégias, pela avaliação e divulgação do impacto das intervenções
nos avanços dos alunos.
Participam do projeto “Apoio à Aprendizagem nos Anos Iniciais” os professores
em regime de Dedicação Exclusiva, de vários Campi, que optaram pelo referido projeto; a
Chefia de Departamento do Primeiro Segmento do Ensino Fundamental; a Coordenação
Pedagógica; a Orientação Pedagógica e a Direção dos Campi I.
Vale ressaltar que cabe à Chefia de Departamento a coordenação do trabalho, a
promoção de encontros periódicos entre os professores vinculados ao projeto e a
divulgação dos resultados obtidos. A cargo da Direção dos campi fica a supervisão do
trabalho desenvolvido e a promoção das condições para que o projeto aconteça de maneira
satisfatória. A Coordenação Pedagógica é responsável por subsidiar, quando necessário, a
elaboração das atividades a serem desenvolvidas pelos professores envolvidos no projeto.
A Orientação Pedagógica supervisiona e planeja atividades junto com os professores,
acompanha o desempenho dos alunos e encaminha aos grupos de apoio os que apresentam
dificuldades. Por fim, os professores vinculados ao projeto pesquisam e elaboram as
atividades pedagógicas; dinamizam as oficinas oferecidas aos alunos que apresentam
dificuldades de aprendizagem; registram e avaliam as intervenções realizadas e divulgam
os resultados obtidos, na busca pela superação das dificuldades de aprendizagem.
Em geral, para o atendimento aos alunos, os Campi I oferecem dois tempos de
oficinas semanais a cada um dos grupos (de, no máximo oito alunos), do 1º ao 5ºanos,
prioritariamente, em Língua Portuguesa e Matemática. Entretanto, sempre que há
demanda, são realizadas intervenções para sanar as dificuldades apresentadas nas
disciplinas de Ciências e de Estudos Sociais. A opção por grupos com número reduzido de
alunos visa tornar o atendimento mais direcionado às dificuldades individuais investigadas,
por meio de uma relação professor-aluno mais personalizada.
Normalmente, o atendimento ocorre em dois tempos, fora do turno do aluno.
Preferencialmente, os horários são organizados procurando não deixar “tempos vagos”
para os estudantes, fato avaliado como prejudicial, tendo em vista a faixa etária atendida.
Portanto, as oficinas dos alunos do primeiro turno são, em geral, nos dois primeiros tempos
do turno da tarde e as oficinas dos alunos do segundo turno acontecem nos dois últimos
tempos do turno da manhã. Excepcionalmente, ocorrem oficinas no mesmo turno em que
os alunos estão matriculados. Os grupos podem ser formados por alunos da mesma turma
ou de diferentes turmas, agrupados pelo tipo e grau de dificuldades.
O encaminhamento dos alunos para as oficinas acontece da seguinte maneira:
• 1º trimestre – análise dos encaminhamentos do ano letivo anterior e da
sondagem do desempenho dos alunos
• 2º e 3º trimestres – indicação dos professores, em Conselhos de Classe,
mediante observação de dificuldades de aprendizagem, independentemente
da média numérica obtida ou da avaliação formal institucional (por
descritores).
Os professores que participam do projeto contam com dois tempos previstos
semanalmente, no próprio campus, para aprofundamento teórico, planejamento e avaliação
das intervenções pedagógicas realizadas. Nesses tempos, também são feitos os registros do
desempenho dos alunos. Além disso, ao longo do ano letivo, sempre que possível, são
realizados encontros de professores de diferentes campi, para compartilhar experiências
exitosas.
O referido projeto possui, portanto, um caráter investigativo (pesquisa) e outro
pedagógico (prático). Observa-se, então, que o professor pesquisador é também o docente
que atua pedagogicamente junto aos alunos. Esse trabalho possibilita a compreensão do
problema e o desenvolvimento do conhecimento como parte da prática.

3. Resultados

Como resultados, podemos apontar o acúmulo de materiais pedagógicos elaborados


e o desenvolvimento de estratégias de ensino destinadas aos alunos que apresentaram
dificuldades de aprendizagem.
Além disso, os registros do desempenho dos alunos atendidos nas oficinas
relataram, na maioria dos casos, os avanços alcançados pelos mesmos, justificando,
portanto, a continuidade do projeto. Verifica-se que alguns alunos que não seriam
encaminhados à recuperação por não se enquadrarem nos critérios estabelecidos para tal,
são atendidos no projeto “Apoio às Dificuldades de Aprendizagem” e, dessa maneira,
conseguem eliminar as lacunas de conhecimento que, futuramente poderiam impedir ou
dificultar seus avanços pedagógicos.
Sabe-se que nenhuma iniciativa ou intervenção pedagógica, por si só, pode ser
considerada responsável pelo bom ou mau desempenho escolar. Entretanto, pode-se
observar que, aliada à recuperação legal e a outras iniciativas desenvolvidas no Colégio,
esse projeto tem contribuído para os baixos índices de reprovação nos Anos Iniciais do
Ensino Fundamental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto “Apoio às Dificuldades de Aprendizagem” tem sido desenvolvido ao


longo de duas décadas e apesar das modificações sofridas, permaneceu fiel aos seus
princípios originais, ou seja, privilegiar um agir pedagógico que respeite as necessidades
individuais e que busque alternativas para atender a essas necessidades.
Esse projeto busca desenvolver ações que valorizem também o processo e não
somente os resultados. Procura criar ambientes propícios à aprendizagem e estratégias que
promovam a construção do conhecimento por meio do diálogo, do respeito e do
protagonismo dos estudantes. Nesse sentido, o desenvolvimento da autonomia deve ser
uma meta a ser perseguida pelos professores que mediam a aprendizagem.
Finalmente, percebe-se que a divulgação de experiências exitosas e de resultados
obtidos ainda são metas que precisam ser atingidas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOOTH, T; AINSCOW, M; KINGSTON, D. Index for inclusion: developing play


learning and participation in early years and childcare, Bristol, CSIE, 2006.

CARRETERO, M. Construtivismo e educação. 2. ed. Porto Alegre: Artmed Editora S.


A., 2002.

COLÉGIO PEDRO II. Colégio Pedro II: Projeto Político Pedagógico. Brasília:
INEP/MEC, 2002.

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. 23. ed.


Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.

MELCHIOR, M. C. O sucesso escolar através da avaliação e da recuperação. 2. ed.


Porto Alegre: Premier, 2004

MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa: da visão clássica à visão crítica. Porto


Alegre: UFRGS, p. 1-15, 2010. Disponível em: <http://moreira.if.ufrgs.br/ > Acesso em
06/05/2011.

MOREIRA, M. A. Aprendizagem significativa: um conceito subjacente. In: MOREIRA,


M. A., CABALLERO, M. C. e RODRÍGUEZ, M. L. (Orgs.). Actas del Encuentro
Internacional sobre el Aprendizaje Significativo. Burgos, Espanha, 1997, p. 19-44.

ROGERS, C. Tornar-se pessoa. 5 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

RONCA, A. C. C. Teorias de ensino: a contribuição de David Ausubel. Temas em


Psicologia, São Paulo, n. 3, p. 92-95, 1994.

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