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estudo de caso

programa cultivando água boa


atualização , institucionalização e replicação

Norman de Paula Arruda Filho


Rui Wagner Ribeiro Sedor
Fabiana Crivano Lopes
Líria Faisca Rodrigues
Cristina Pschera
SUMÁRIO
© ISAE, 2018 APRESENTAÇÃO DA SEGUNDA EDIÇÃO ––––––––––––––––––––––––––––––––––– 7
Todos os direitos reservados - Instituto Superior de Administração e Economia do Mercosul – Estrutura do Livro –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9
ISAE. É proibida a reprodução total ou parcial de qualquer forma ou por qualquer meio.
RESUMO DA PRIMEIRA EDIÇÃO –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9
Modelo de Gestão Participativa–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 9
Autores: O Processo de Construção do Alinhamento –––––––––––––––––––––––––––––––––––– 10
Norman de Paula Arruda Filho
Programas Apresentados na Primeira Edição –––––––––––––––––––––––––––––––––––– 12
Rui Wagner Ribeiro Sedor
Fabiana Crivano Lopes
Líria Faisca Rodrigues UM NOVO PROGRAMA, SURGIDO DE UMA NOVA VISÃO ––––––––––––––––––– 15
Cristina Pschera Atuação Local com Expertise Global –––––––––––––––––––––––––––––––––––– 15
Editoração: Portfólio de Programas –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 18
Cristina Pschera Alinhamento com Programas e Iniciativas Globais–––––––––––––––––––––––––––– 20
Equipe Técnica:
Líria Rodrigues VISÃO ATUALIZADA DO CAB ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 22
Kathleen Sanders Modelo de Gestão Participativa ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 23
Rebecca Giese O Papel das Múltiplas Lideranças –––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 23
Gabriella Pita Lauth
Gestão Matricial Multidimensional ––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 23
Projeto gráfico:
Adriana Miranda OS PROGRAMAS COMPONENTES DO CAB –––––––––––––––––––––––––––––––– 27
Fotos: Programa Educação Ambiental ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 27
Acervo da Itaipu Binacional Ações Permanentes de Educação Ambiental––––––––––––––––––––––––––––– 28
Desafios do Programa Educação Ambiental ––––––––––––––––––––––––––––– 29
ARRUDA FILHO, Norman de Paula; et al. (2018) Programa Gestão por Bacias ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 30
Lições da Gestão por Bacias –––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 31
ARRUDA FILHO, Norman de Paula; SEDOR, Rui Wagner Ribeiro; LOPES, Fabiana Resultados Alcançados –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 33
Crivano; RODRIGUES; Líria Faisca; PSCHERA, Cristina. Estudo de Caso: Programa Programa Desenvolvimento Rural Sustentável ––––––––––––––––––––––––––––––––– 38
Cultivando Água Boa: Atualização, Institucionalização e Replicação. Curitiba, Paraná.
A Família Arruda e a Força do Desenvolvimento Rural Sustentável –––––––––––––– 40
2018.
Apoio Técnico e Espírito Empreendedor––––––––––––––––––––––––––––––– 42
ISBN: 978-85-61105-09-9 Programa Sustentabilidade de Segmentos Vulneráveis ––––––––––––––––––––––––––– 44
Sustentabilidade de Comunidades Indígenas––––––––––––––––––––––––––––– 45
Apoio à Implantação da Coleta Solidária com Catadores––––––––––––––––––––– 49
Programa Produção de Peixes em Nossas Águas ––––––––––––––––––––––––––––––– 50
Superando Barreiras–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 54
Programa Biodiversidade, Nosso Patrimônio –––––––––––––––––––––––––––––––––– 54
Avanços Científicos de Relevância Mundial –––––––––––––––––––––––––––––– 56
Reconhecimento–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 58
Programa Cidades Sustentáveis ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 58
Reconhecimento Regional e Nacional––––––––––––––––––––––––––––––––– 59
Consolidando o Cidades Sustentáveis na Região –––––––––––––––––––––––––– 59
Cidades Sustentáveis – Um Passo Adiante Regional––––––––––––––––––––––––– 59

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ISAE | estudo de caso cultivando água boa
APRESENTAÇÃO
INSTITUCIONALIZAÇÃO DO CAB:
um novo paradigma : cultivando água boa
CONSOLIDANDO A CULTURA DE CULTIVAR ÁGUA BOA–––––––––––––––––––––– 61
Institucionalizando um Modelo Participativo ––––––––––––––––––––––––––––––– 61 No dia 28 de julho de 2010 a ONU aprovou, apesar da abstenção dos grandes países, que
“a água potável e sã e o saneamento básico constituem um direito humano essencial”.
Governança da Institucionalização–––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 63
Institucionalização do Modelo de Gestão CAB ––––––––––––––––––––––––––––– 64 Cabe enfatizar que a água pertence ao Bem Comum da Terra e da Humanidade. Ela é um bem
natural, vital e insubstituível. Não pode haver vida nem energia limpa sem água. Ela existe de
A REPLICABILIDADE DO CAB ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 67 forma estável já há 500 milhões de anos. Mas a doce (apenas 3% e acessível aos humanos só
Conceituando a Replicabilidade no Contexto do CAB––––––––––––––––––––––––– 67 0,3%) está se tornando cada vez mais escassa. As causas principais são o acelerado desmata-
mento das florestas úmidas como a amazônica, as grandes queimadas e a crescente desertifi-
I. Contextualização e Organização Inicial–––––––––––––––––––––––––––––– 69 cação dos solos.
II. Definição dos Programas de Base e Instrumentos de Apoio –––––––––––––––– 70
III. Técnicas de Gestão ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 70 A grande questão que se coloca mundialmente é esta: a água é fonte de lucro ou fonte de vida?
IV. Tecnologias Sociais –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 71 Se é verdade que ela é um direito humano essencial, não pode entrar no jogo do mercado para
lucrar, mas deve ser garantida a todos para viver.
V. Suporte Técnico e Acompanhamento –––––––––––––––––––––––––––––– 72
VI. Credibilidade –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 72 O Programa Cultivando Água Boa, da grande hidrelétrica Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu-PR,
VII. Certificação ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 73 transformou-se numa referência mundial de como a água, além de produzir energia elétrica,
produz também energia humana e civilizatória. O Pacto das Águas, que envolveu os 29 mu-
EXPERIÊNCIAS ATUAIS DE REPLICAÇÃO DO CAB –––––––––––––––––––––––––– 74 nicípios ao redor do grande lago, fez com que todos aprendessem a cuidar da água e, por meio
Cultivando Água Porã ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 75 dela, organizar uma forma diferente de produção: orgânica, cooperativa e ecológica.
Replicação em Hernandarias –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 76 Tudo começou com uma profunda sensibilização, seguida com cursos de aprofundamento à
Yacyretá ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 76 luz da ética do cuidado, dos princípios da Carta da Terra e da responsabilidade assumida co-
Minas Gerais––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 77 letivamente. Assim, garante-se o bem-estar de todos e, por fim, o futuro da vida e de nossa
República Dominicana––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 78 civilização. Em razão dos bons resultados, o Programa Cultivando Água Boa recebeu vários
Guatemala –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 78 prêmios internacionais e o reconhecimento da ONU como exemplo e paradigma para os
demais países. A participação das comunidades e a relação orgânica com os coordenadores do
Comunidade de Madri (Espanha)–––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 79
Programa constituem a garantia do sucesso e do futuro dessa extraordinária experiência.
São Paulo––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 79
Bacia do Prata–––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 80 Leonardo Boff,
Ecologista e escritor
RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES –––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 83
Replicabilidade ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 85
Resultados Globais Demandam Institucionalização––––––––––––––––––––––––––– 86
O CAB e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável –––––––––––––––––––––– 87

CONTRIBUIÇÕES DO CAB E SEU PAPEL COMO REFERÊNCIA –––––––––––––––– 89

O PAPEL DESTE NOVO ESTUDO E A SUA CONTRIBUIÇÃO –––––––––––––––––– 93

PRÊMIOS RECEBIDOS PELO CAB ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 94

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ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
PREFÁCIO
Este é um livro muito aguardado. Precisávamos de uma atualização do que aconteceu no apresentação da segunda edição
Programa Cultivando Água Boa de 2012 a 2016. E muitas coisas aconteceram. Um livro que
reforça a evolução do que é Água Boa como um único programa e que o é, pelo menos por três Entre 2011 e 2012 o Instituto Superior de Administração e Economia (ISAE) realizou um
razões. Uma delas é a sua complexidade, outra é o seu impacto e, finalmente, o seu dinamismo. amplo estudo sobre o Programa Cultivando Água Boa (CAB), desenvolvido pela Itaipu Bina-
cional desde 2003. Ao longo de 18 meses foram analisados, de forma qualitativa e quantitativa,
O Programa Cultivando Água Boa inclui, como poucos, a mensagem importante do nexo da aspectos como a origem do programa, seu modelo de gestão e desafios superados e a superar.
água com energia, comida, saúde, educação. A importância de pensar e conceber, mas acima Presente em uma região que abrange três países - Brasil, Paraguai e Argentina - e a cultura
de tudo agir de forma integrada, pois é na atuação, se prestarmos atenção, onde vemos opor- de várias comunidades locais, o Programa representa importante referência para intervenções
tunidades que surgem para que, por meio de água e energia, possamos gerar riqueza e cultivar multidisciplinares complexas visando a múltiplos objetivos. Ele representa, devido a várias ca-
a boa vida para as pessoas que vivem no entorno de grandes projetos. É difícil encontrar um racterísticas descritas ao longo do estudo, um caminho viável para alcançar objetivos globais
projeto como Água Boa que seja capaz de ilustrar tão claramente a mensagem da Assembleia de desenvolvimento sustentável preconizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) e
Geral das Nações Unidas, quando aprovou a Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável instituições afins, no Brasil, América Latina ou qualquer outro lugar do mundo.
sobre a importância de sinergias e inter-relações entre diferentes objetivos para alcançar um
desenvolvimento sustentável, equilibrado e duradouro. Os especialistas do ISAE retornaram do final de 2014 até o final de 2016 para realizar um
estudo complementar sobre o Programa Cultivando Água Boa. Essa segunda investigação
Mas, talvez, o que é mais especial no Programa Cultivando Água Boa é o seu impacto. Como envolveu objetivos mais amplos e desafiantes:
ele transformou a vida das pessoas e não só ajudou a encontrar um meio de vida, mas também a
dar-lhes significado. O compromisso de tantas pessoas com Água Boa é louvável, e isso só pode
ser alcançado mostrando resultados.O Água Boa teve de romper moldes, por meio de pequenos I. Estudar os avanços do CAB estabelecidos após o primeiro estudo de caso;
passos e cumplicidade de pessoas entregues e competentes. Tive a oportunidade durante uma II. Avaliar a influência de atores relevantes e agentes multiplicadores (benefi-
viagem de campo para aprender sobre o uso de plantas medicinais na medicina convencional ciários, observadores-chave externos, gestores e especialistas) para os desdobramentos,
e como ela estava me­lhorando e crescendo graças à congruência de esforços combinados e a replicação e o avanço do Programa;
meticulosos de médicos, laboratórios, autoridades e os pequenos produtores/agricultores, em
comunicação contínua para o benefício dos pacientes. Cada vez mais, não só um impacto local, III. Avaliar e propor as etapas necessárias para a replicação do Programa em
mas de escala para o Brasil. outros cenários, dentro das cinco frentes apontadas no primeiro estudo de caso:
a) fronteiras atualmente definidas, a Bacia Paraná 3 (BP3);
O dinamismo e a energia do Água Boa mostram como manter o desenvolvimento de um proje- b) Bacia do Rio Paraná e tríplice fronteira (região de Brasil, Paraguai e Argentina
to para que ele possa permanecer vivo. Mostram um projeto que está vivo e que está constan- próxima à Itaipu);
temente abrindo oportunidades, sempre se lembrando das pessoas, principalmente as mais c) no território brasileiro;
vulneráveis, e não esquecendo o seu caráter participativo – dois elementos que caracterizaram d) na América Latina; e
o Programa Cultivando Água Boa, dois elementos que ajudam a compreender seu caráter e) em nível global.
transformador e que conferem essa força e dinamismo que o tornam tão especial. Eu pude
IV. Compreender e avaliar o estágio atual do Programa e sua maturidade, sob
conhecer pessoalmente como a incorporação de catadores informais e como locais de sepa-
o aspecto das transformações causadas no seu ambiente de origem e como referência uni-
ração de resíduos sólidos urbanos haviam mudado suas vidas para sempre e se enchido de or-
versal, a partir de um olhar sistêmico e também dos conceitos globais de sustentabilidade.
gulho. Nosso eterno agradecimento àquelas pessoas que têm conduzido o Água Boa, aos que
têm apoiado e promovido e aos que dedicam suas vidas para que isso aconteça.

De 2009 a 2015, eu fui chefe do escritório da Organização das Nações Unidas de apoio à Os objetivos acima tornam-se decorrências naturais das recomendações estabelecidas no
Década Internacional para a ação “Água Fonte de Vida 2005-2015”. Durante esse período, primeiro livro CAB como um possível modelo de gestão para o alcance dos Objetivos de
vários projetos foram agraciados com o prêmio de melhores práticas de água da ONU. O Água Desenvolvimento Sustentável, na construção da Agenda 2030, do Pacto Global e da Carta da
Boa se destacou pela sua dimensão e impacto e, sobretudo, pela forma como se fez conhecido, Terra. A capacidade de promover o desenvolvimento regional, a fixação do homem no campo
além do esforço especial para ser replicado em diferentes partes do mundo e por aprender com e a sustentabilidade de um grande empreendimento, seja na área de geração de energia, seja
base em projetos de outros países que receberam o prêmio da água das Nações Unidas e que em outros segmentos econômicos (ARRUDA FILHO; SEDOR, 2012) tornam o Programa
têm uma rede de projetos participativos. Assim, podemos dizer que há uma longa vida para o e sua replicabilidade um assunto de crescente interesse nos meios acadêmicos, empresariais
Programa Cultivando Água Boa como projeto participativo e inovador e como projeto global. e governamentais. Este novo estudo, por sua vez, traz valiosas análises para atender a estes
públicos. Encontra-se alinhado com os seis princípios da Educação Executiva Responsável
Josefina Maestu, estabelecidos pelos Principles for Responsible Management Education (PRME), pois traz uma
Ex-diretora da Oficina das Nações Unidas de Apoio à Década Internacional
para a ação “Água Fonte de Vida 2005-2015”
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visão de longo prazo de um programa referência na área de sustentabilidade e constrói uma estrutura do livro
sólida base sobre a qual podem-se criar novos programas no modelo do CAB.
Esta atualização do Estudo de Caso do Programa Cultivando Água Boa está organizada nos
O objetivo deste estudo é também investigar as transformações e a rede ampliada de inter- seis capítulos descritos a seguir:
conexões que o CAB vem construindo, pois, mais do que um conjunto isolado de programas
e ações, ele é um sistema que transcende a soma de suas partes, visto que promove transfor-
mação do meio ambiente, das pessoas, da economia de uma forma integrada e progressiva Oferece uma concepção atualizada e complementada do modelo de gestão do CAB e de seus
desenvolvendo uma cultura de/para a sustentabilidade. Cada resultado alcançado multiplica-se Capítulo I programas componentes, levando em conta as visões atuais dos diversos atores envolvidos no
em uma miríade de novas iniciativas, engajamento ampliado, novos resultados e autonomia, Programa. Apoia o leitor na compreensão de aspectos relevantes do CAB e seu momento atual.
promovendo a sustentabilidade geral do Programa e a ampliação dos resultados a partir de uma
composição cada vez mais rica.
Mostra uma visão geral do processo de institucionalização necessário para que o CAB possa ser
Capítulo II consistentemente replicado.
evolução
da pesquisa:
Exibe uma leitura atualizada da interconexão e as contribuições que o CAB e o seu modelo de gestão
podem proporcionar com base em diversos referenciais globais de sustentabilidade. Proporciona
Capítulo III
Livro 1 Livro 2 uma compreensão geral sobre aspectos relevantes à replicação do CAB e as primeiras experiências
onde isso já acontece.
Contexto do Programa Contexto atual do Programa
Expõe as conclusões alcançadas a partir da realização deste estudo de caso e as recomendações
Visão atualizada do CAB Capítulo IV para os próximos passos do CAB, sua institucionalização e suas futuras replicações.
O CAB e seus programas
e seus programas
Institucionalização Capítulo V Apresenta as contribuições do CAB e o seu papel como referência.
O futuro do Programa
Replicabilidade Capítulo VI Explicita o papel deste Estudo de Caso e a sua contribuição como material de estudo.
BP3 Exemplos de replicação
Tríplice
Fronteira resumo da primeira edição
BP3
Mundo O primeiro Estudo de Caso do CAB realizou a análise detalhada do Programa, sua origem,
Brasil Tríplice modelo de gestão, desafios e oportunidades. Conjugando ações centradas na qualidade e quan-
Fronteira
América tidade das águas e na melhoria da qualidade de vida dos moradores do entorno da BP3, o
Latina Programa Cultivando Água Boa era composto, na ocasião do primeiro estudo, de 20 programas
Mundo Brasil desdobrados em 65 projetos interconectados. Esse universo de ações envolvia a sociedade
América de forma altamente participativa, incluindo universidades, órgãos públicos e 29 prefeituras,
Latina em um processo de integração de conhecimentos técnicos e científicos, saberes populares e
Replicação ações integradas.

modelo de gestão participativa

Mudanças perenes, nos indivíduos ou em sociedade, só são realizadas de fora para dentro.
Tendo isso em vista, o modelo de gestão do Programa Cultivando Água Boa é baseado em
A quantidade de programas varia de acordo com a evolução do Plano Estratégico da Itaipu arranjos sistêmicos e matriciais que incentivam a participação ativa de múltiplos atores. Todas

*
e do próprio CAB, provocando uma reorganização da estrutura dos programas.
Portanto, o leitor perceberá essa variação nos números de programas ao longo do texto.

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as ações são desenvolvidas em parceria com a comunidade atendida. Cada participante é, ao Essa estratégia produziu resultados mais amplos, rápidos e efetivos, e em uma área
mesmo tempo, gestor, membro da equipe e beneficiário direto do Programa. Todos participam geográfica maior, do que métodos clássicos de gestão de programas adotados até
de forma ativa na definição das metas e na execução do trabalho, dentro do conceito de aporte então pela Itaipu. Essa forma de atuação transforma a gigante na geração de ener-
de contrapartidas aos investimentos da Itaipu e demais órgãos públicos. gia em referência também no cultivo das águas, na relação com a comunidade
do entorno e na implementação de uma gestão participativa sistêmica e
o processo de construção do alinhamento eficaz, que vem trazendo resultados concretos.
A complexidade dos objetivos norteadores do CAB exige uma forma de ação inovadora, su-
portada por uma ampla rede de atuação. A construção dessa rede, por sua vez, pressupõe um
complexo processo de alinhamento dos atores envolvidos, dividido em diversas etapas.

etapas
de implementação do cab

1 2 3 4 5 6 7
SELEÇÃO CONVÊNIOS, AJUSTES FUTURO
DA MICROBACIA SENSIBILIZAÇÃO COMITÊS GESTORES OFICINAS DO FUTURO ACORDOS, TERMO DE PARCERIAS NO PRESENTE
DE COMPROMISSO
A partir de um diálogo com Encontros com as comunidades São criados comitês gestores Com base na metodologia do 3. Caminho adiante: definem-se Consolidam a participação e a Após o Pacto das Águas, Ação que se realiza durante e
a comunidade, autoridades e lideranças para sensibi- com representantes dos Instituto Ecoar para a Cidadania, as ações corretivas dos problemas integração efetiva de cada a Itaipu, a prefeitura e o após a solução dos passivos
e lideranças locais sobre os con- lizá-las sobre os problemas diversos programas e projetos a comunidade é reunida em suas identificados, comprometendo-se integrante das ações que serão demais parceiros e membros ambientais, para sensibilizar
ceitos e fundamentos da conser- existentes, quais serão as ações socioambientais da Itaipu, sedes/clubes e convidada a uma com uma nova conduta, com base conduzidas na região atendida. da comunidade assinam os sobre a importância do cuidado
vação dos recursos hídricos, corretivas necessárias, práticas órgãos municipais, estaduais e reflexão socioambiental no na ética do cuidado e na convivên- convênios pactuados e outros com o que está sendo construí-
é definida a microbacia a ser ambientalmente corretas e federais, cooperativas, empre- processo, que é realizado em cia solidária; instrumentos que estabelecem do ou recuperado. O propósito
trabalhada em cada município, sobre o que é o Programa CAB. sas, sindicatos, entidades quatro momentos: 4. Pacto das águas: celebração do as condições e as contraparti- dessa etapa é garantir que os
geralmente dando ênfase aos sociais, universidades, escolas compromisso pelo cuidado com as das das partes para viabilizar resultados alcançados sejam
mananciais que abastecem e agricultores. 1. Muro das lamentações: identifi- a execução das ações previstas. preservados e melhorados por
cação dos danos ao meio ambiente águas, em que a comunidade
a cidade. apresenta aos atores sociais meio de uma atuação conjunta
e reclamações da comunidade, que permanente.
avalia a sua conduta, em especial envolvidos uma síntese dos
em relação ao seu rio, apontando resultados das oficinas do futuro,
os problemas a serem resolvidos; mostrando o verdadeiro retrato
da comunidade, seus problemas,
2. Árvore da esperança: manifes- anseios, compromissos e
tam-se as aspirações de hoje e de prioridades.
amanhã (sonhos), respondendo à
pergunta: como gostariam que o
pedaço fosse?

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ISAE | estudo de caso cultivando água boa
programas apresentados
na primeira edição Preza pela perpetuação e a variabilidade
genética das espécies de flora e fauna da BP3.
Promove a mudança cultural nas comunidades, com novos valores,
atitudes e crenças, dentro da concepção da ética, cuidado e
11
respeito ao meio ambiente, por meio de quatro pilares: educação
ambiental, educação ambiental corporativa, educação nas
estruturas educadoras e educomunicação. 1 BIODIVERSIDADE,
NOSSO
Valoriza os pescadores,
EDUCAÇÃO promove inclusão social e
PATRIMÔNIO melhora a qualidade de vida das
AMBIENTAL
10 famílias que trabalham com as águas da BP3.
MAIS PEIXES
EM NOSSAS ÁGUAS
Defende o monitoramento da qualidade
como forma mais adequada para planejar o Busca democratizar direitos aos
GESTÃO
2
uso da terra, o manejo e a conservação do solo. setores excluídos da sociedade,
POR BACIAS dando-lhes oportunidades de
9 buscar um desenvolvimento
sustentável.
SUSTENTABILIDADE
PARA SEGMENTOS
Disponibiliza e atualiza informações cartográficas e geográficas VULNERÁVEIS
da região de influência da Itaipu a partir do cadastro técnico GESTÃO DA
multifinalitário, subsidiando a tomada de decisão para
adequada evolução da gestão territorial e ambiental. 3 INFORMAÇÃO
TERRITORIAL
Leva aos agricultores a possibilidade de revisão de sua
DESENVOLVIMENTO forma de produção, migrando para modelos sustentáveis.
RURAL SUSTENTÁVEL Oferece suporte e conhecimento técnico por meio de

PLATAFORMA ITAIPU
8 metodologias participativas e opções para desenvolvimento
da cadeia produtiva.

DE ENERGIAS
Promove a eficiência da região por meio RENOVÁVEIS
de fontes alternativas. Substitui combustíveis MONITORAMENTO E Coleta de dados para obtenção de
fósseis por fontes limpas e renováveis.
4 AVALIAÇÃO AMBIENTAL informações sobre uma característica e/ou

SANEAMENTO 7 comportamento de uma variável ambiental.

DA REGIÃO PLANTAS
MEDICINAIS
Propõe modelos e estratégias a serem incorporados
pelas administrações municipais da BP3 para tratamento
de questões de insalubridade e contaminação ambiental pelos efluentes.
5 Resgata o rico patrimônio de plantas
medicinais da região da BP3, propaga a
importância do uso de fitoterápicos e ainda oferece
6 alternativa de renda para agricultores orgânicos.
Capítulo 1
UM NOVO PROGRAMA,
SURGIDO DE UMA NOVA VISÃO

E
m 2003, a Itaipu Binacional ampliava sua missão corporativa. Em meio à efervescência
mundial em torno de temas como aquecimento global e uso consciente de recursos natu-
rais, a maior hidrelétrica do país em geração de energia toma para si o desafio de cuidar
do nosso recurso mais precioso - a água.

A nova missão da Itaipu passa a ser “Gerar energia elétrica de qualidade, com respon-
sabilidade social e ambiental, impulsionando o desenvolvimento econômico, turístico e tec-
nológico, sustentável, no Brasil e no Paraguai”. Uma formulação que, para o mercado, sina­
liza responsabilidade corporativa e comprometimento com resultados de longo prazo. Para
a sociedade, representa uma relação de confiança e reciprocidade. E, para a Itaipu e seus
colaboradores, a consolidação de uma cultura empresarial centrada na responsabilidade social
e na sustentabilidade.

É nesse ambiente que é criado o Programa Cultivando Água Boa, que viria a ser o mais
abrangente programa de cuidado com as águas do setor elétrico brasileiro. Confiando no po-
tencial humano e na atuação das pessoas quando conhecem o impacto de seus hábitos sobre
o meio ambiente, cultivar água boa significa reconhecer que ela é um bem precioso, porém
finito. Que assim como fazem com a terra, atuação já totalmente compreendida em uma região
predominantemente agrícola, todos devem prezar pela qualidade da água e seu bom uso.

atuação local com expertise global


Capitúlo 1

O Sistema CAB conjuga uma série de programas componentes, desdobrados em ações cen-
tradas na melhoria da condição de vida das pessoas e na sustentabilidade territorial a partir da
água como elemento de conexão e interconexão entre as pessoas e destas para com o seu meio
ambiente no entorno da BP3, à margem esquerda do reservatório da usina hidroelétrica de
Itaipu, no Brasil, onde estão presentes 29 municípios.

A estrutura do CAB foi concebida de forma alinhada com documentos reconhecidos global-
mente como referência nas áreas de sustentabilidade e de responsabilidade socioambiental

14 15
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Altônia
Salto del Guairá
Mundo Novo
Ype Jhu
Corpus Cristi
Terra Roxa
Guaíra
bacia La Paloma
brasil Palotina
paraguai Katuete
Maripá
Mercedes
Marechal
Nueva Esperança Cândido Rondon
n
Toledo
Mingapora
Itaquyry San Alberto

Santa Helena
Mbaracayu Vera Cruz Cascavel
Missal Ramilândia do Oeste

Itaipulândia
Hernandarias
Medianeira Céu Azul

Matelândia

Minga Guazu São Miguel


Capitúlo 1

do Iguaçu
Foz do Iguaçú

Los Cedrales

como Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade


Global, Agenda 21, Declaração do Milênio, Pacto Global, UN Water e, sobretudo, a Carta da
Terra. Além disso, tirou proveito de sólida base histórica de conhecimento da região e expertise
técnica, estabelecidas progressivamente pela Itaipu desde 1975, quando se iniciou a construção
da Usina. Ou seja, a forma de atuação do CAB constitui uma aplicação local e contextualizada
de um conhecimento científico global, seguindo as melhores práticas das grandes iniciativas
internacionais de desenvolvimento local e sustentabilidade. Provoca, assim, uma transformação
das comunidades envolvidas a partir de um processo contínuo de engajamento, que se multipli-
ca local e globalmente de forma autossustentável.

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portfólio de programas
7. Coleta solidária:
O CAB é constituído de um portfólio de programas e ações interconectadas e estruturadas
Garantir a cidadania aos catadores de materiais recicláveis, por meio
de maneira conjunta. Sua condução é realizada com a sociedade de forma participativa: seus
da inclusão social e produtiva a fim de promover o desenvolvimento
atores se integram aos objetivos do CAB, defendendo-os com pertença e dedicação.
territorial sustentável da área de influência - alinhamento com a
missão empresarial.

1. Produção de peixes em nossas águas:


Pesquisas em aquicultura e espécies ícticas nativas, implantação da
estação de hidrobiologia e apoio à aquicultura regional. 8. Sustentabilidade de comunidades indígenas:
Possibilitar condições para a sustentabilidade do modo de vida
Ava-Guarani, com respeito à diversidade e à valorização da alteridade.

2. Educação ambiental:
Capacitação em educação ambiental corporativa, educação ambien- 9. Monitoramento e avaliação ambiental:
tal nas estruturas educadoras da Itaipu e formação em educação Operação do laboratório ambiental; Monitoramento da qualidade
ambiental na área de influência da Itaipu. da água do reservatório e dos afluentes; Monitoramento de ma-
crófitas aquáticas; Monitoramento de sedimentos; Levantamentos
batimétricos e hidráulicos no reservatório de Itaipu e afluentes; e Quan-
tificação e avaliação das emissões e sequestros de gases de efeito estufa
3. Biodiversidade, nosso patrimônio: (GEES) da Itaipu.
Conservação e manejo de animais silvestres, elaboração do plano de
contingências do reservatório e das áreas protegidas, monitoramento
da ictiofauna, consolidação do corredor de biodiversidade trinacional, 10. Valorização do patrimônio institucional e regional:
conservação e recuperação de áreas protegidas da Itaipu, formação Gestão museológica e conservação do acervo; Resgate e socia-
de bancos de germoplasma e operação do hospital veterinário. lização da memória e cultura institucional e regional; e Apoio ao desen-
volvimento cultural na área de influência da Itaipu.
Capitúlo 1

4. Gestão por bacias hidrográficas - Cultivando Água Porã:


Práticas conservacionistas de água e solo, saneamento rural,
diagnóstico dos recursos naturais renováveis das propriedades exis- 11. Desenvolvimento rural sustentável:
tentes nas microbacias da Itaipu e encontro cultivando água boa. Incentivo à produção e ao consumo de alimentos orgânicos; Incenti-
vo aos sistemas agropecuários de produção e consumo sustentáveis;
Desenvolvimento da agricultura familiar; e Incentivo ao uso de plantas
medicinais e fitoterápicos nos municípios.

5. Infraestrutura eficiente:
Manutenção do sistema viário de Itaipu, manutenção do sistema de 12. Plantas medicinais:
alta e baixa tensão, manutenção da infraestrutura mecânica, hidráuli- Manutenção e conservação de espécies medicinais; desenvolvimento da
ca e de combate a incêndio, manutenção de áreas verdes e paisagismo produção de plantas medicinais; promoção do estabelecimento de parce-
e manutenção de infraestrutura civil. rias entre os agentes de toda a cadeia produtiva; organização de estratégias
para viabilizar o beneficiamento, a industrialização e a comercialização;
estímulo à implantação de programas de fitoterapia no serviço público de
saúde; promoção da articulação entre políticas públicas intersetoriais e
6. Gestão da informação territorial:
transversais ao Programa Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos;
Sistematização das informações territoriais e históricas, operação
apoio e incentivo a pesquisas e ao desenvolvimento tecnológico.
da unidade de geoprocessamento, levantamentos topográficos na
área de influência ou de interesse da Itaipu e operação da unidade de 19
cartografia.
alinhamento com programas e iniciativas globais resultados mensuráveis e transformação cultural de uma forma integrada e holística. Dentro
dessa perspectiva, o CAB, ao colaborar para o avanço das iniciativas globais, também poderá
Gerar resultados mensuráveis para o avanço de iniciativas globais a partir de suas ações é o fazê-lo com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), que envolvem prioridades
grande desafio atual das maiores iniciativas internacionais para sustentabilidade. Também nesse globais para o desenvolvimento sustentável.
aspecto, o Programa Cultivando Água Boa encontra-se em um estágio muito avançado de
materialização de seus princípios estratégicos, conseguindo transformá-los em ação concreta,

Esse é um plano de ação a ser seguido por grupos (locais, nacionais e


Conjunto de princípios relacionados à educação para a sustentabilidade globais) para promover a justiça social, o desenvolvimento sustentável
no processo de aprendizagem, respeito, transformação social e e a proteção ambiental. As ações realizadas pelo CAB contemplam o
ambiental. Os programas do CAB têm relação com esse movimento plano de ações proposto em todas as dimensões, inclusive quanto às
na medida em que incentivam a formação de sociedades justas e questões de replicabilidade. O foco no desenvolvimento sustentável
ambientalmente equilibradas. Além disso, a aplicação e multiplicação abrangendo os contextos local, nacional e global são totalmente
das questões que constituem esse Tratado de Educação Ambiental na convergentes com as seções da Agenda 21.
sociedade são reforçadas pela replicabilidade da metodologia do CAB. AGENDA 21

TRATADO DE Iniciativa em que a ONU convida empresas a integrar um movimento


Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável compõem a nova agenda
EDUCAÇÃO AMBIENTAL empresarial socialmente responsável voltado às questões de direitos
mundial de desafios globais para todas as nações até o ano de 2030. humanos, trabalhistas, meio ambiente e anticorrupção em prol do
A agenda consiste em uma declaração, composta de 17 objetivos PARA SOCIEDADES PACTO GLOBAL
SUSTENTÁVEIS E desenvolvimento de mercados mais inclusivos e estáveis. Mesmo sem
divididos em 169 metas com atenção especial a parcerias globais e ter um relatório de sustentabilidade individualizado, o Cultivando
meios de implementação. Os ODS foram desenvolvidos a partir da RESPONSABILIDADE GLOBAL Água Boa toma como base os princípios desse movimento, inclusive
Declaração do Milênio (ODM) e trabalham o tripé da sustentabilidade na difusão de seu modelo de replicabilidade.
(econômico, social e ambiental). Eles foram aprovados na Cúpula das
Nações Unidas em setembro de 2015. Participam governos, sociedade
Capitúlo 1

civil, universidades, organizações públicas e privadas, entidades de


Documento aderido por mais de 4 mil organizações que estabelece
classe, entre outros, dialogando com as políticas e ações nos âmbitos
a integração de questões éticas, desenvolvimento humano e futuro
regionais e locais, sendo todos são protagonistas da mobilização e
sustentável. As atividades do CAB contribuem para o avanço nas

C A B
multiplicação da agenda.
OBJETIVOS questões de erradicação da pobreza, proteção ecológica, respeito aos
DE DESENVOLVIMENTO CARTA DA TERRA
direitos humanos, desenvolvimento econômico e democracia. Além
SUSTENTÁVEL disso, a replicabilidade do programa converge com os objetivos da
Programa que desenvolve um trabalho entre as agências da ONU e
Carta da Terra, trabalhando em prol do desenvolvimento humano e
parceiros para gerenciar a sustentabilidade da água doce e marinha.
sustentável da região atendida.
Essa iniciativa se relaciona às questões de fontes, saneamento, desastres
associados à água, quantidade e qualidade para consumo, geração
de energia, produção de alimentos e necessidades das indústrias. As
ações do Programa Cultivando Água Boa convergem com os objetivos Documento estabelecido no ano 2000 por um conjunto de 191 países.
do UN Water, pois dissemina informações sobre a importância da Composto de oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM)
água para o público envolvido, promove o monitoramento da água para fomentar ações em prol da erradicação da fome, educação de
e compartilha as informações coletadas e proporciona discussões OBJETIVOS
qualidade, equidade, saúde e meio ambiente a fim de beneficiar
sobre os desafios do gerenciamento da água. A replicação está UN WATER DE DESENVOLVIMENTO gerações futuras. Por meio de seus programas, o CAB atende os ODM,
associada ao gerenciamento sistêmico e integrado da água que DO MILÊNIO promovendo a redução da pobreza, fornecimento de água potável,
o Programa Cultivando Água Boa promove, pois pode servir de educação e combate à fome. A replicação também opera na preparação
20 referência para práticas relacionadas à água em diferentes realidades de uma população autônoma para o desenvolvimento sustentável. 21
eISAE
culturas.
| estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
visão atualizada do cab modelo de gestão participativa

Um programa voltado a resultados sustentáveis de curto, médio e longo prazo, como o Cul- Um dos grandes desafios do Programa Cultivando Água Boa é garantir mudanças perenes nas
tivando Água Boa, deve estar aberto a melhorias, atualizações periódicas e uma eficiente comunidades participantes, pois disso depende a sustentabilidade dos resultados. Para isso, vem
estratégia de replicação. Neste capítulo, serão apresentados uma visão geral do estágio atual sendo de grande valia a aplicação de um modelo de gestão participativa, conduzida em conjun-
do Programa, sua estrutura de gestão e seus programas-chave. Será proporcionada ao leitor to por representantes da sociedade, autoridades locais, gestores e o corpo técnico da Itaipu,
uma compreensão atualizada do CAB e de seus desafios contemporâneos e futuros, além de representantes de órgãos e instituições públicas, de instituições privadas e de entidades sociais
apresentar alguns aspectos abordados no estudo anterior, revisitados de forma contextualizada, e ambientais. A gestão e a operação do programa são realizadas por meio de comitês gestores
atualizada e complementada. As principais fontes de referência empregadas são o Estudo de estabelecidos em cada microbacia-alvo, formados por representantes dos diversos segmentos
Caso anteriormente desenvolvido, atualizado com um novo ciclo de observações e análises de envolvidos. Esses participantes assumem a posição de protagonistas, gestores e beneficiários,
campo e entrevistas com os protagonistas do Programa (beneficiários, observadores externos, participando ativamente tanto na definição dos objetivos e metas quanto na execução do pro-
gestores e especialistas do CAB). grama propriamente dito. As ações demandadas são realizadas dentro do conceito de aporte de
contrapartidas aos investimentos da Itaipu.
São apresentados sete programas componentes que receberam atualizações decorrentes de
avanços alcançados ou de alterações relevantes no cenário de atuação. Esses programas são: Esse modelo, em resumo, aplica uma gestão matricial com múltiplos objetivos; a utilização
de espaços compartilhados de negociação, gestão e de organização do trabalho; e a busca do
• Educação Ambiental envolvimento e comprometimento de atores diversos, integrada a estratégias de multiplicação e
• Gestão por Bacias propagação do conhecimento, em um ambiente de permanente experimentação.
• Desenvolvimento Rural Sustentável
• Sustentabilidade de Segmentos Vulneráveis o papel das múltiplas lideranças
• Produção de Peixes em Nossas Águas
A adoção de um modelo de gestão tão sofisticado demanda cuidados permanentes para que
• Biodiversidade, Nosso Patrimônio
não ocorram sobreposições, ingerências e conflitos entre os participantes. É necessário garantir
• Cidades Sustentáveis
o convívio harmônico das diversas equipes de trabalho, aumentando, assim, suas chances de
Para os demais programas que não foram foco deste trabalho, recomenda-se ao leitor que com- sucesso. Nesse contexto, o papel das múltiplas lideranças é fundamental para a manutenção de
plemente a leitura deste capítulo com o primeiro Estudo de Caso, compreendendo com mais um ambiente adequado ao florescimento de ideias, superação de obstáculos e, principalmente,
clareza uma visão sistêmica dos avanços alcançados pelo CAB desde 2012. de suporte às iniciativas e rumos definidos.

gestão matricial multidimensional

Em cada microbacia onde o programa é iniciado, é definido um comitê gestor com represen-
tantes da Itaipu, dos programas integrantes, das universidades envolvidas, de organizações não
governamentais (ONGs), prefeitura envolvida, órgãos governamentais, cooperativas, asso-
ciações de classe, produtores rurais e sociedade civil organizada, entre outros atores. Os diver-
sos grupos representados não possuem relações hierárquicas entre si, mas uma administração
horizontalizada que interage harmonicamente. Eles serão os responsáveis por definir, gerenciar
e implementar os programas de desenvolvimento sustentável e recuperação dos passivos am­
bientais detectados na microbacia-alvo.

Portanto, em cada microbacia, o comitê gestor seleciona os programas do CAB adequados aos
seus passivos ambientais, características culturais e desejos de desenvolvimento.

Primeiro Estudo de Caso


Programa Cultivando Água Boa.
22 23
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Cada um desses comitês é responsável pela gestão do CAB em uma microbacia. E todos eles, Além dessa organização por microbacia, os comitês gestores são também organizados em
juntos, compõem um arranjo de múltiplos comitês. torno de programas específicos. Esses grupos aplicam seus saberes e práticas, especializados
em um dado programa, nas diversas microbacias participantes do CAB.

Modelo de gestão do CAB Modelo de gestão do CAB


em cada microbacia em cada programa componente

Universidades Prefeitura Universidades Prefeitura

Comitê
Gestor Comitê
Gestor

ONGs Representantes
da sociedade ONGs Representantes
da sociedade

Orgãos
governamentais Orgãos
Capitúlo 1

governamentais

Programa 1 Programa 2 Programa 3


Microbacia 1 Microbacia 2 Microbacia 3
Adaptado de Arruda Filho e Sedor (2012). Adaptado de Arruda Filho e Sedor (2012).
24 25
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
A conjunção de equipes de gestão, de especialistas em cada microbacia com especialistas de A integração harmônica das estruturas participantes assume, portanto, um papel fundamental
cada programa, cria um arranjo multidimensional que representa a estrutura de gestão global para o funcionamento do arranjo. Assim, um dos grandes desafios do CAB para atender os
do Programa Cultivando Água Boa na BP3. Assim estão representadas as diversas microbacias objetivos definidos em cada microbacia, e do Programa como um todo, é o alinhamento dos
atendidas ao longo dos 29 municípios abrangidos pelo Programa, alguns programas componen- atores e o controle efetivo das múltiplas iniciativas que acontecem, em paralelo, ao longo dos
tes, além da estrutura de cada um dos órgãos, universidades e entidades envolvidos. 29 municípios da BP3 e dos 12 programas integrantes. Os resultados alcançados até agora são,
em boa medida, fruto do acerto na escolha do modelo de gestão empregado.
gestão matricial
os programas componentes do cab
multidimensional
O Programa Cultivando Água Boa consiste em um amplo portfólio de 12 programas desdo­
Dimensão 1: Microbacias Atendidas brados em 48 ações específicas que foram aplicados na margem esquerda da BP3, ao longo de
29 municípios.
Dimensões
complementares Esta seção apresenta uma visão geral atualizada e contextualizada dos programas de base do
CAB ou os que sofreram ajustes ou avanços significativos desde 2012. Sendo assim, são apre-
sentados 7 programas a partir da situação atual, desafios e a percepção atualizada dos autores
Estruturas de gestão e de seus atores principais, coletada em entrevistas de campo, visitas técnicas e pesquisas.
dos demais órgãos e
entidades envolvidas
programa educação ambiental

A complexidade das mudanças pelas


quais a sociedade passa remete a
uma atuação sistêmica, transversal,
participativa e transdisciplinar junto
Dimensão 2: Programas componentes (20)

às comunidades. É necessária uma


compreensão integrada do meio am-
biente e das múltiplas relações exis-
tentes, incluindo aspectos ecológicos,
Capitúlo 1

psicológicos, legais, políticos, sociais,


econômicos, científicos, culturais,
espirituais e éticos.

Tendo isso em vista, o Programa


Educação Ambiental, um dos pilares
da construção de princípios do CAB, Retirada de lixo da prainha.
estimula e fortalece permanentemente
o pensamento crítico, a reflexão e a
tomada de decisão consciente sobre a
problemática ambiental e social, local
e global. Por meio de ensino formal
e não formal, potencializa espaços
para a formação de valores, atitudes
e habilidades que proporcionam uma
atuação voltada para a melhoria da
qualidade de vida e o desenvolvimento
de uma cultura da sustentabilidade.

26 Adaptado de Arruda Filho e Sedor (2012).


ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Mutirão de limpeza.
Em última análise, o Programa Educação Ambiental é uma iniciativa para estabelecer conceitos, desafios do programa educação ambiental
valores e o sentimento de pertencimento ao território, promovendo a importância do cuidado
permanente com as pessoas e o meio ambiente. Desenvolve-se, assim, um estilo de vida mais Leila Alberton, gestora de Educação Ambiental da Itaipu, destaca que, além de manter diálogo
sustentável, construindo resultados de curto, médio e longo prazo. permanente com os educadores já formados, foi identificada a necessidade de atuar com outros
públicos - pescadores, pastorais e jovens. É preciso manter interação periódica entre eles, po-
A educação ambiental é essencial para os resultados do CAB, pois propicia a compreensão dos tencializando as ações e os resultados.
mais diversos aspectos de uma vida saudável e sustentável. Possibilita, assim, que a comunidade
compreenda o significado de ações sustentáveis nos territórios onde vivem e seus papéis no Outros desafios atuais do programa estão ligados a uma complexidade crescente, decorrente
sucesso dos demais programas componentes, a partir de quatro importantes pilares: ser, viver, da multiplicação dos envolvidos e das frentes de ação. É necessário articular conexões cada
produzir e consumir. vez mais elaboradas entre as diversas frentes de atuação: ajuste de demandas, compreensão da
sazonalidade de alimentos, promoção de diálogos múltiplos e mais ricos, alinhamento das redes
dos atores sociais e ampliação das fronteiras definidas inicialmente.
ações permanentes da educação ambiental
Para fazer face à complexidade e aos novos desafios, o Programa Educação Ambiental vem
depoimento abordando novos temas de forma transversal a cada uma de suas três ações permanentes.
Destaca-se nesse sentido a promoção da Saúde Integrativa, com ações conjuntas, por meio de


painéis e dinâmicas que trabalham o nexo entre a saúde e o ambiente, como a importância da
mudança de hábitos e atitudes que promovem a saúde, previnem doenças e evitam que fatores
O CAB veio como um diferencial para nossa É muito gostoso quando uma pessoa chega genéticos e de risco se transformem em doença. Nesse sentido “cultiva-se” a saúde ao invés de
região pelo fato de que trouxe o olhar focado e fala para você: ‘Eu consigo perceber em tratar de doenças.
para a questão do meio ambiente. No começo, você o sentimento em relação ao que você
o programa era mais voltado ao cuidado com fala, porque você fala com o coração, você O desafio atual é abordar a Saúde Integrativa na escola, fazendo com que jovens e crianças
a água. Com o passar dos anos, houve a neces- fala aquilo que você vive de verdade’. Isso é pratiquem no seu dia a dia hábitos da Saúde Integrativa, tornando-se também agentes multi-
sidade de envolvimento de mais pessoas, mais gostoso, porque é isso que a gente quer passar
plicadores, dando continuidade e sustentabilidade à ação. Pretende-se atender 369 escolas no
segmentos, e ele se tornou esse grande projeto realmente – que é algo que você vive, que você
sustentável, que não é de Itaipu, é nosso. se emociona porque é teu.” universo de 29 municípios, em três etapas, compreendendo uma oficina para os professores, um
encontro entre professores e alunos e, por fim, um encontro entre os alunos e a comunidade,
criando uma cadeia de valor com a cultura e a prática em torno da Saúde Integrativa para
contagiar positivamente pessoas, grupos e comunidades.
Carmem Romagna de Lima, gestora Educação Ambiental,
Capitúlo 1

Santa Terezinha de Itaipu. Esses novos desafios demandam circulação de novas formações e informações pela rede de
atores, potencialização de parcerias e realização de uma educação ambiental mais integrada
e transversalmente com os demais programas do CAB. A continuidade do sucesso implica o
compartilhamento de saberes e experiências cada vez mais elaborados em estruturas de Pesqui-
O programa é composto de três ações permanentes que visam manter contato periódico com sa-Ação-Participante, nas quais o cidadão aprende participando de uma “ética do cuidado no
todos que já participaram dos programas de educação (multiplicadores), realizando uma capa­ nosso pedaço”, conforme preconizado por Leonardo Boff.
citação continuada e envolvendo um número cada vez maior de públicos e indivíduos dentro da
BP3. As três ações são:

• Formação em Educação Ambiental na Área de Influência da Itaipu, com foco no desenvolvi-


mento de multiplicadores de saberes ambientais nas comunidades da BP3;

• Capacitação em Educação Ambiental Corporativa, com foco nos funcionários, terceirizados


e estagiários da Itaipu;

• Educação Ambiental nas Estruturas Educadoras da Itaipu, direcionada para as comunidades


no entorno da Usina.

Plantio
de árvores nativas.
28 29
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
programa gestão por bacias

O Programa Gestão por Bacias é um dos pilares mestres do CAB, pois estabelece con-
ceitos-chave para uma estruturação sustentável na BP3: conservação dos solos, melhoria do
sistema viário rural, saneamento rural e contribuição para a correção de passivos ambientais em
propriedades rurais. A saúde do lago de Itaipu é consequência direta das medidas de controle
do escoamento superficial, infiltração adequada de água no solo a montante* da barragem. Isso
previne a erosão do solo na bacia e a redução do aporte de sedimentos e nutrientes (ITAIPU
BINACIONAL, S/D). Além disso, o cuidado adequado de uma bacia auxilia a manter sua bio-
diversidade a partir da conexão entre suas diferentes microbacias, assegurando a variabilidade
genética da ictiofauna (ITAIPU BINACIONAL, S/D).

Montante: É o ponto referencial ou trecho que se situa antes de um

* ponto de referência de qualquer curso da água, ou seja, para este estudo


considera-se desde a nascente do Rio Paraná até o início da BP3.

Essas constatações reafirmam a importância da gestão por bacias, que no CAB segue um
processo detalhado composto de três etapas, descritas a seguir:

as etapas no cab Diagnóstico


Ambiental
A primeira fase realizada sobre a lições da gestão por bacias
microbacia definida como alvo é estabelecer
em linhas gerais as prioridades de ação. A partir A Gestão por Bacias trouxe, ao longo dos anos de condução do Programa, lições de valor ines-
dessa estruturação das prioridades é elaborado um timável para a replicabilidade. Uma delas é a importância de um detalhado acompanhamento
Capitúlo 1

Diagnóstico Ambiental da microbacia, definindo as técnico e científico das bacias que são recuperadas. Conforme indica Gilmar Eugênio Secco,
necessidades de intervenção. Essas necessidades podem coordenador executivo do CAB e gestor do Programa Gestão por Bacias, “dispor de uma fer-
ramenta informatizada como o Sig@livre vem permitindo ter uma rastreabilidade das ações e
ser em aspectos como conservação de solos, isolamento
demonstrar sua efetividade. Todas as obras e intervenções nas bacias trabalhadas puderam ser
das áreas de matas ciliares, medidas de saneamento
devidamente acompanhadas, permitindo transparência e otimização progressiva do trabalho”.
rural, correção de passivos ambientais em Aponta também a importância do acompanha­mento das intervenções: “O acompanhamento
propriedades rurais, entre outros. Convênios das equipes técnicas do CAB monitorando os efeitos das intervenções viabilizou demonstrar
e Plano de Trabalho os resultados obtidos com rigor científico, além de reforçar a validade do trabalho que vem
Planos de sendo feito. Tudo isso reforça a capacidade que a natureza da região tem de se recuperar. Basta
Controle Ambiental A partir dos diagnósticos são elaborados os
convênios para viabilizar os recursos para as que ela tenha uma chance”.
Em paralelo ao diagnóstico, são preparados intervenções demandadas e os documentos legais, Hudson Carlos Lissoni Leonardo, gestor de bacias da Itaipu Binacional, relata sobre a prática
Planos de Controle Ambiental, contendo as técnicos e orçamentários para as atividades definidas. de levar em conta o calendário da água e da terra e os ciclos definidos pela natureza, como os
informações necessárias para que os agricultores Esse planejamento detalhado estabelece o que de fato será períodos de safra e entressafra, chuvas, entre outros. Lissoni destaca que “foi necessário apren-
envolvidos possam obter o licenciamento ambiental realizado na microbacia-alvo, determinando a extensão der junto aos lavradores que muitas obras não eram possíveis de serem realizadas em épocas
de suas propriedades. das estradas a serem executadas, a área de terraços a de colheita, plantio ou quando havia uma movimentação natural nas áreas de intervenção”.
ser construída, a quantidade de abastecedores Essa integração representa um dos principais pilares de toda a metodologia do CAB - a correta
comunitários a ser instalada e o plano de aplicação do conhecimento universal respeitando as particularidades locais, que só podem ser
trabalho para tal. percebidas em uma gestão participativa.

30 31
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
resultados alcançados

Outro exemplo de aprendizado e evolução conjuntos foi o do agricultor Milton Dilman, do


município de Itaipulândia, situado na Microbacia do Buriti, que relata a sua vivência e demons­
tra os resultados alcançados: “No começo a ideia surgiu como uma bomba e a princípio o
pessoal questionou bastante. Agora dá para ver o que era antes e o que é hoje. Quase não
dá para acreditar: a própria natureza fez o que está fazendo. Então, hoje eu apoio [o CAB]
com coragem. Eu digo que, se tivessémos começado antes, estaríamos muito melhor hoje, a
natureza estaria muito melhor”.

microbacia sanga buriti Missal Adequação de cascalho, Ouro Verde do Oeste.


Itai
pul
ând
ia O estágio atual da Gestão por Bacias já traz inúmeros mo-
tivos de comemoração. Em meados de março de 2017, já
Sanga Buriti - Missal eram mais de 1.330 km de cercas de isolamento de mata
ciliar, 29.731 hectares de área de solo conservado e 247
unidades de distribuidores de dejetos. Segundo Newton
Luiz Kaminski, superintendente de obras da Itaipu,
“a BP3 já tem mais de 30% de suas microbacias aten-
didas”. Além disso, já estão prontas 175 unidades de
abastece­douros comunitários, 848 km de adequação e
Capitúlo 1

1.501 km de cascalhamento de estradas. Foram utilizadas


4.318 horas-máquina para recuperação de voçorocas, 87
Sanga Buriti - Itaipulândia km de poliedro irregular e oito unidades de terraceadores.
Poliedro,
Entre Rios do Oeste.

Hidrografia
Vias de acesso
Limites municipais
Sanga Buriti

Distribuidores Pato Bragado.


32 33
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
programa
1.334,9 km de cercas para isolamento de mata ciliar
gestão por bacia hidrográfica
29.731 ha de conservação de solos Uma visão complementar dos resultados alcançados com o Gestão por Bacias pode ser re-
tratada a partir da experiência no município de Ouro Verde do Oeste-PR.
247 un. de distribuidores de dejetos
Segundo apresentam Irineu Groeler, secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e
175 un. de abastecedouros comunitários
Meio Ambiente desse município; Dona Lúcia Maria Lernen Angst, agricultora na região da
1.018 km de adequação de estradas Microbacia Mandaguari; e Douglas Fernando Kunz, cooperado da Biolabore Cooperativa de
Trabalho e Assistência Técnica do Paraná, o Gestão por Bacias em Ouro Verde do Oeste foi
1.501 km de cascalhamento de estradas
iniciado em 2005 na Microbacia Mandaguari, que se encontrava degradada devido à poluição
4.318 horas-máquina / tanques escavados e destruição da terra, fruto das plantações de algodão e criação de gado ao longo do córrego.
87 km de poliedro irregular
depoimento
8 un. de terraceadores


Eu estou no programa desde 2005, sou coorde- resistência entre os produtores. Não houve, foi
nador do comitê gestor do município de Ouro excelente, teve uma aceitação muito boa dos
Verde do Oeste. A primeira bacia em que nós produtores.
trabalhamos – escolhemos ela por ser próxima
de uma escola e de vários produtores pequenos E os produtores procuram a prefeitura, a mim
– se chama Bacia do Mandaguari. e a Itaipu para fazer na propriedade deles, na
região deles, na bacia deles – para desenvol-
Nós começamos com adequação de estrada, ver o CAB pela Itaipu. Nosso município tem
conservação de solo, abastecedor comunitário, 85% dos passíveis ambientais já prontos,
distribuidores de dejetos líquidos e sólidos faltam 15%. Até o final do mandato dessa
naquela bacia... e cerca de mata ciliar – que gestão nós queremos deixar o passivo ambien-
eu achava que teria uma repercussão, uma tal zerado no município de Ouro Verde.”

Irineu Groeler, secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Meio Ambiente,


Ouro Verde do Oeste.
Capitúlo 1

O primeiro passo foi a formação de um comitê gestor e a definição das prioridades e das ações a
serem realizadas na microbacia e a pactuação dos compromissos do poder público, dos diversos
parceiros que compõem o comitê gestor e da comunidade no evento de abertura do CAB na
região (Pacto das Águas).

Dona Lúcia aponta que no início do programa ninguém queria participar, ou até mesmo acre­
ditava que haveria algum resultado, porém mais tarde, quando os resultados começaram a
aparecer, houve muita “ciumeira”, pois todos queriam ser beneficiados nas suas regiões. Logo
ao final do Pacto das Águas foi inaugurado um abastecedouro. Na sequência, foram recupera-
das estradas, que viabilizaram o transporte escolar com regularidade, o solo e as margens do rio.

Com o tempo, apontam que mais de 40 espécies nativas da região voltaram a aparecer, como
Reservatório da ITAIPU tamanduá-bandeira, jacú e várias espécies de cobras. Hoje, dos 294 km2 do município, cerca
de 85% já estão recuperados e os 15% restantes serão recuperados a partir de fevereiro de
Limite da BP3 2017. Todas as estradas já estão recuperadas e o saneamento rural está presente em 100%­
dos produtores.
Municípios
Bacias Conveniadas
34 35
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
microbacia sanga mandaguari
Além disso, segundo Dona Lúcia, agora há mais saúde, o rio conta com água de qualidade e
peixes. O plantel de gado leiteiro também tem mais saúde e a produtividade agrícola aumentou
Toledo e ficou mais fácil escoar a produção.

Essa evolução demonstra o processo de desenvolvimento e construção de resultados que foram


Ouro Verde sendo produzidos pelo CAB. Os números e os depoimentos dão indícios claros da soma dos
do Oeste
São Pedro
do Iguaçu esforços, da superação das resistências iniciais e da construção de resultados econômicos, am-
bientais e sociais que superam e transcendem os objetivos inicialmente traçados. As parcerias
estabelecidas, por exemplo, com o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão
Rural (EMATER), o Departamento de Estradas de Rodagem (DER), outros órgãos estaduais,
ONGs e cooperativas foram criando redes mais resilientes, com capilaridade crescente e possi-
bilidade de produzir resultados mais ricos, a partir de uma economia mais elaborada e complexa,
que colabora no empoderamento social, na geração e ampliação de receitas da cadeia agrícola
familiar, reduzindo as desigualdades sociais e o êxodo rural.

Os resultados alcançados na margem esquerda da BP3 já encorajam trabalhos equivalentes,


como o Programa Cultivando Água Porã na margem direita da BP3 (Paraguai). Além disso,
abrem-se portas para trabalhos integrados ainda mais ousados e desafiadores na Bacia do
Rio Paraná, que conta com cerca de 60,9% das hidroelétricas brasileiras em operação ou em
construção, e também de Programas Integrados Internacionais na Bacia do Rio da Prata.

Sanga Mandaguarí
Viveiro de plantas medicinais de Itaipu.
Capitúlo 1

Hidrografia
Vias de acesso
Limites municipais
Sanga Mandaguari

36 37
ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Para enfrentar esse desafio, o Programa Desenvolvimento Rural Sustentável do CAB tem
atuação em eixos de trabalho que cobrem os diversos elos da cadeia produtiva (ITAIPU
BINACIONAL, 2003):

• Pesquisa e Desenvolvimento: otimização dos sistemas de produção;

• Comunicação e Educação Ambiental: sensibilização dos agricultores sobre a importância


do respeito ao meio ambiente, compartilhando as informações geradas pela pesquisa;

• Comercialização e Marketing: incentivo aos produtores rurais para que estreitem relações
diretas com os consumidores, a partir do fortalecimento de feiras e lojas de produtos da agri-
cultura familiar;

• Transformação de Produtos e Controle de Qualidade: orientação para tornar os pro-


dutos oriundos da agricultura familiar competitivos a partir da qualificação de toda a cadeia
produtiva, com a transformação da matéria-prima e a certificação de produtos orgânicos;

• Agregação de Valor: aumento de margem a partir do processamento e/ou beneficiamento


dos produtos agrícolas; e

• Assistência Técnica e Extensão Rural: ação realizada com o apoio de assessores técnicos,
visando à otimização das ações de todos os outros eixos.

Além disso, a partir de 2015, o Programa Desenvolvimento Rural Sustentável está agrupado em
Horto de plantas medicinais da Itaipu quatro ações, integrando o que em 2012 eram dois programas distintos:

programa desenvolvimento
rural sustentável
Incentivo à Produção
Capitúlo 1

Busca apoiar e fortalecer a agricultura familiar, na região e ao Consumo de


da Bacia do Rio Paraná 3, incentivando a produção agro-
pecuária sustentável. Desenvolve ações de assistência Alimentos Orgânicos
técnica e extensão rural gratuita aos agricultores fa-
miliares promovendo a conversão de suas propriedades
para a agricultura orgânica certificada ou não, além de
incentivar a adoção de práticas agroecológicas aos que Incentivo aos
desejam produzir de forma sustentável. Incentiva a agre- Desenvolvimento da
Sistemas Agropecuários
gação e renda com a implantação de agroindústrias e de
circuitos curtos de comercialização, preferencialmente de Produção e Consumo Agricultura Familiar
de forma associativa. Promove o consumo responsável e Sustentáveis
uso de alimentos funcionais orgânicos, plantas medicinais
e condimentares como terapia na promoção da saúde.

Incentivo ao Uso de
Sítio Seu Arruda,
São Miguel do Iguaçu. Plantas Medicinais e
Fitoterápicos nos
Municípios
38 39
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
a família arruda e a força
do desenvolvimento rural sustentável

Um exemplo dos benefícios do Programa Desenvolvimento


Rural Sustentável ocorre na propriedade da família Arruda,
em São Miguel do Iguaçu. Trata-se de uma propriedade de
cinco hectares que utiliza um sistema de produção susten-
tável denominado Sistema Agroflorestal (SAF), uma forma
de uso e manejo da terra que integra árvores ou arbustos em
conjunto com a agricultura em uma mesma área, de maneira
simultânea, ou em uma sequência de tempo.

O SAF otimiza a utilização do espaço da propriedade, melhora


as características químicas, físicas e biológicas do solo, viabiliza uma
produção total frequentemente maior do que as monoculturas, dispensa
o uso de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos, reduz o risco de perda total
da cultura principal (a partir da distribuição do ataque de pragas e doenças entre
várias espécies de ­plantas) e permite o uso econômico da sombra (APREMAVI, s/d).

Sítio do Sr. Arruda,


Microbacia Córrego Solteiro.

Sítio do Sr. Arruda.


Sr. Arruda. Segundo Arruda: “Morávamos na cidade, onde eu fazia calçadas.
Então descobri esta propriedade que estava à venda. A partir de um
curso que realizei no SEBRAE, descobri o SAF e decidi que aplicaria
isso nesta propriedade. Hoje temos renda, vivemos em um local tranquilo e
fazemos o que gostamos”.

A família Arruda, desde o início da implantação do SAF, recebe assessoria técnica da


Biolabore, que é uma cooperativa de técnicos contratada pela Itaipu para prestar serviços de
assistência técnica e extensão rural (ATER) de forma gratuita aos agricultores familiares.

Além de otimizar a produção de orgânicos a partir do uso do SAF, a família Arruda atua no
turismo rural, demonstrando a visitantes e estudiosos sua propriedade e oferecendo refeições
preparadas com produtos orgânicos (APREMAVI, s/d).

O encadeamento de alcances e evoluções que ocorreram com a família Arruda reforça o


desenvolvimento social, técnico e humano que o CAB viabiliza. À semelhança do que acon-
teceu na Microbacia Mandaguari em Ouro Verde do Oeste, ele aparenta promover resultados
que superam e transcendem os objetivos inicialmente traçados, promovendo inclusive exemplos
e inspirações que vêm sendo seguidos localmente, como por exemplo pelas 166 famílias que
integram a Boreal Cooperativa da Agricultura Familiar, localizada no município de São Miguel
do Iguaçu-PR e também fora da BP3.

40 41
ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Assembleia de constituição,
Cooperativa Boreal.

apoio técnico e espírito empreendedor

Já existe na sociedade uma demanda crescente por consumo de produtos orgânicos, inclusive
a preços mais altos do que por não orgânicos. Também estão vigentes leis e programas de
amparo à agricultura familiar, notadamente o Programa de Aquisição de Alimentos e o Pro-
grama Nacional de Alimentação Escolar, que abrem demandas complementares, criam espaços Projeto em 3-D para o
para a aquisição de alimentos de forma direta ou por meio de suas associações/cooperativas, Centro de Comercialização
com dispensa de licitação. O Programa Desenvolvimento Rural Sustentável é fundamental da Agricultura Familiar.
no apoio técnico de qualidade, desenvolvimento de espírito empreendedor e desenvolvimento
consistente de toda a cadeia produtiva, de escoamento e de consumo, para que os produtores
da região possam aproveitar e inovar de forma sustentável essas e outras oportunidades que
se apresentam.
Capitúlo 1

Um exemplo concreto de empreendedorismo local pode ser constatado a partir do depoimen-


to de Kleverson Akihito Takarashi, um dos fundadores da Boreal Cooperativa da Agricultura
Familiar. Essa cooperativa iniciou a construção de um Centro de Comercialização da Agricul-
tura Familiar, que, além de ser um ponto de venda direta ao consumidor de produtos orgânicos
in natura e industrializados, trata-se de um complexo que combina a venda de produtos com
um centro de recebimento/processamento de alimentos e de apoio a projetos de produção
agrícola e agroindustrialização familiar. O Centro de Comercialização conta com o apoio da
Itaipu/FPTI e do BNDES, por meio dos quais foram aportados recursos financeiros e consul-
toria nos projetos, para a construção.

Aponta ainda Kleverson, que “Uma cooperação em rede produz resultados mais ricos, o que
significa mais possibilidades”.

43
ISAE | estudo de caso cultivando água boa
sustentabilidade
de comunidades indígenas

Essa ação visa ao fortalecimento do sentimento de iden-


tidade étnica, à valorização das tradições do povo guarani
e a um tipo de desenvolvimento sustentável que respeite
seus valores, seu modo de ser guarani. A partir de uma
estreita relação colaborativa e de confiança, o programa
apoia 290 famílias, com cerca de 1.460 pessoas das
aldeias Ocoy, com 250 hectares; Añetete, com 1.744
hectares; e Itamarã, com 242 hecta­res.

Plantação de
mandioca orgânica.
localização
das aldeias indígenas

programa sustentabilidade de segmentos vulneráveis

Não existe responsabilidade socioambiental se não houver ações de apoio a pessoas que estão Santa Helena Diamante D’Oeste
em situação precária e à margem da sociedade, viabilizando a construção de caminhos para
uma vida autônoma e sustentável. Baseado nessa premissa, o Programa Sustentabilidade
de Segmentos Vulneráveis busca promover práticas para a construção de cidadãos plenos e
Capitúlo 1

autônomos, respeitando as especificidades socioculturais dos segmentos atendidos. Esse pro-


grama é composto de duas ações: Vera Cruz do Oeste

Ramilândia
Missal
Sustentabilidade de Comunidades Apoio à Implantação da Coleta Solidária
Indígenas, com respeito ao modo de ser com Catadores, que visa dar apoio aos
guarani e a melhoria da qualidade catadores de materiais recicláveis para
de vida do povo guarani. que possam organizar-se com autonomia Céu Azul
e desenvolver-se pessoalmente, com Itaipulândia
autoestima e renda digna.

Hidrografia
Medianeira Vias de Acesso
Aldeia Indígena Tekohá Itamarã
Matelândia
Aldeia Indígena Tekohá Añetete
Aldeia Indígena Tekohá Ocoy
Faixa de proteção
44 45
ISAE | estudo de caso cultivando água boa São Miguel do Iguaçu ISAE | estudo Reservatório de Itaipu
de caso cultivando água boa
depoimento

“ Desde 2004, participamos do CAB a cada ano, trabalha a agricultura familiar, para trazer
[o CAB] juntamente com a Itaipu Binacional, alimentação para nossa família
vem apresentando nossa comunidade.
Nós, hoje, pensamos em valorizar e praticar
Para nossa comunidade é muito bom partici- nossa cultura e nossa língua, para no futuro,
par, ajudou bastante na melhoria da qualidade trazê-las para nossa comunidade pelo conheci-
de vida. Além disso, temos um projeto que mento e também pelo valor.” Fica claro nesse processo o aflorar de conceitos de sustentabilidade e au-
tonomia, a partir de uma cultura que respeita as tradições da comunidade,
mas também agrega novos saberes e tecnologias contemporâneas. A piscicul-
tura no sistema tanque-rede, antes inexistente entre a população local, em
João Jetavmiri Alves, cacique da aldeia Tekoha Añetete, conjunto com a agricultura familiar e coletiva, vem melhorando a qualidade
Diamante D’Oeste. da alimentação nas comunidades indígenas.

A partir de uma relação construída progressivamente entre os repre-


sentantes da Itaipu, da Prefeitura de São Miguel do Iguaçu e do trabalho desenvolvido pela
Diálogo para a Sustentabilidade própria comunidade indígena, fruto das diversas parcerias e das comunidades indígenas da
região, foram surgindo alguns eixos de atuação:
Se desde o início das ações as populações indígenas aprenderam novas técnicas, também os
não indígenas passaram por intenso processo de aprendizado. Esta parceria exige permanen-
temente um exercício de compreensão cultural, dos valores, crenças e do modo de vida do
guarani, com um diálogo constante para construção de um plano de trabalho que respeite o
tempo de cada ator e as exigências legais de um convênio.

Por outro lado, os indígenas também sentiram a necessidade de conhecer os processos dos não
indígenas e construir uma relação de confiança com os representantes da Itaipu, do município
Capitúlo 1

e dos demais parceiros, consolidando pontes até chegar ao ponto em que se encontram hoje.
“Tive que mudar a mentalidade de muitos da tribo e usar a experiência dos mais velhos. Não
precisa esperar de fora - temos que fazer”, conta o cacique Daniel Maraca Miri Lopes,
da comunidade Ocoy de São Miguel do Iguaçu. Ele explica que foi preciso
superar diferenças dentro da própria comunidade até chegarem a • Produção de agropecuária sustentável:
um consenso para um modelo adequado de parceria. Enquanto produção familiar (base de sustento,
alguns preferiam esperar coisas prontas, como cestas básicas milho, arroz, cebolinha) e produção
e moradia, outros queriam meios para trabalhar, plantar e coletiva (gado, peixe, mel, mandioca);
desenvolver a comunidade. • Infraestruturas de apoio: moradias;
centros de artesanato, de nutrição
Aponta Daniel Maraca Miri Lopes que, aos poucos, foi for-
e de apoio à piscicultura; casa de
talecendo uma visão de longo prazo, resultando em “plan- reza; cascalhamento de estradas;
tações mais bonitas”, fruto de dois a três anos de trabalho
integrado da comunidade. Foram plantadas frutas (manga,
banana), verduras e legumes (pepino e feijão). Além disso, Plantel de gado.
sementes vêm sendo guardadas para o plantio futuro.

46 47
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Trabalho em Conjunto e Parcerias

Como nos demais programas componentes do CAB, o trabalho conjunto a partir de parcerias
vem sendo fundamental para se construir resultados consistentes. Destacam-se as parcerias
com Ministério Público Estadual, Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de
Proteção às Comunidades Indígenas (CAOP), Biolabore, Centro de Apoio ao Pequeno Agricul-
tor (CAPA), Fundação Nacional da Saúde/Secretaria Especial de Saúde Indígena (FUNASA/
SESAI), Programa Ñandeva, Cooperativa de Artesanato da Região Oeste e Sudoeste do
Paraná (COART), Núcleo Regional de Educação de Foz do Iguaçu e Toledo, Fundação
Nacional do Índio (FUNAI), Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural
(EMATER), Instituto Ambiental do Paraná (IAP), Pastoral da Criança e as escolas indígenas.

apoio à implantação
da coleta solidária com catadores

A criação das associações, nas primeiras etapas de trabalho da coleta solidária, já rende muitos
frutos. “A renda de um catador autônomo é de R$ 450,00. Como associado, ela sobe para
R$ 1.000,00”, aponta Antonio Henrique Correia, presidente da Associação de Catadores de
Recicláveis de Santa Terezinha de Itaipu (ACARESTI).

Mas, com este novo cenário, surgem novos desafios e a oportunidade de otimizar as ações com
as lições aprendidas e de aprimorar as práticas, em um grande círculo virtuoso. Agora, com
o aumento da renda na comunidade, torna-se necessário dar atenção a novos temas, como a
contabilidade e o desenvolvimento de fórmulas de rateio da renda entre os associados.

Desafios de Curto, Médio e Longo Prazo

Desafios imediatos, segundo Antonio Henrique Correia, são o combate ao desperdício e o


aumento do número de associados. Segundo ele, cerca de 30% do lixo reciclável ainda conti-
Capitúlo 1

nua nas ruas. E, no médio e no longo prazo, o estudo atual reafirma uma constatação do
estudo anterior: o maior desafio de todos é a transformação progressiva das associações de
catadores em empresas estruturadas de coleta de lixo. Empresas que sejam remuneradas
• Cultura: artesanato, corais, fortalecimento das expressões culturais e apoio na confecção como qualquer provedor de serviço público e tenham estrutura capaz de administrar au-
de um novo CD Tradição Guarani; tonomamente a complexidade da prestação do serviço. Esse é um passo fundamental do
processo de evolução contínua desse programa.
• Formação das lideranças: compreensão da sustentabilidade e compromissos
da aldeia (visão própria); Os desafios de médio e longo prazo começam a se tornar realidade nos municípios Santa
Terezinha e Santa Helena. Em 2016 houve um outro avanço: a criação de uma métrica de
• Milho orgânico: privilegiar a alimentação sobre a comercialização; desempenho sistêmico da qualidade da coleta, denominado Reciclômetro, composta de indica-
dores sociais, educacionais, ambientais e de gestão em forma de planilha, gerando uma base de
• Condução própria + formação das lideranças + associação dados para melhoria contínua. Esses índices possibilitam uma pontuação diferenciada para cada
e cooperativismo / relacionamentos. associação e também orientam editais de contratações e financiamentos do BNDES. O apoio
da Itaipu fica vinculado a um desempenho mínimo.
Em longo prazo, todo esse conjunto de ações visa dar as condições necessárias para o forta-
lecimento de sua autonomia socioeconômica e cultural. As ações são viabilizadas por meio de Além disso, foi criada nos municípios de Quatro Pontes, Santa Terezinha e Santa Helena uma
convênios e de parcerias estabelecidas priorizando aqueles adaptados ao modo específico de classificação que identifica as particularidades de cada município, viabilizando um tra­tamento
produção indígena, de acordo com necessidades apontadas pela própria comunidade. particularizado.

48 49
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Atualmente, o Projeto Coleta Solidária estimula a elaboração e a revisão dos planos municipais
de gestão de resíduos com inclusão dos catadores, como determina a Lei n. 12.305/2010, que
institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e prioriza ações na área da gestão pro-
dutiva, do associativismo e na constituição de rede regional de organizações de catadores, obje-
tivando criar condições para que o catador avance na cadeia produtiva da reciclagem. Sabemos
que essa estratégia é de longo prazo, porém é a que efetivamente, garantirá aos catadores a
sustentabi­lidade socioeconômica de seus empreendimentos.

programa produção de peixes


em nossas águas

O programa de inclusão social chamado Produção de Peixes em Nossas Águas oferece a pes-
cadores, comunidades indígenas e população ribeirinha apoio, instrução e fo-
mento para o desenvolvimento de suas atividades econômicas ligadas à
aquicultura. Seu objetivo é proporcionar melhor qualidade de vida
a partir do cultivo sustentável pelo sistema de tanque-rede.

Para implantação do programa, todo o reservatório da


Itaipu foi estudado, sendo que nesse processo foram
implantados os três primeiros parques aquícolas do
Brasil: São Francisco Verdadeiro, São Francisco
Falso e Ocoy. Juntos esses espaços têm potencial
para produzir mais de 6.900 toneladas de Pacu por
ano - aproximadamente oito vezes a produção
atual do reservatório. Ou seja, apesar dos avanços
do programa, o potencial explorado hoje ainda é
apenas uma fração da capacidade existente.
Capitúlo 1

Tanques-rede.

50 51
ISAE | estudo de caso cultivando água boa
sub-bacias hidrografia principal sub-bacias hidrografia total
Capitúlo 1

Hidrografia Hidrografia
Faixa de proteção Faixa de proteção
Limite da BP3 Limite da BP3
Limites municipais Limites municipais
Reservatório de Itaipu Reservatório de Itaipu
Rio Ocoy Rio Ocoy
Rio São Francisco Falso Rio São Francisco Falso
Rio São Francisco Verdadeiro Rio São Francisco Verdadeiro

52 53
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
superando barreiras

Um dos motivos que contribuem para que o potencial local seja ainda pouco explorado é a ne-
cessidade de que a produção de peixes seja somente feita com espécies nativas, em decorrência
de acordos internacionais entre Brasil e Paraguai.

Em 22 de maio de 2015, o Ministério da Pesca e Aquicultura, o IBAMA e o IAP retiraram essa


restrição, decisão considerada histórica por Estevão Martins, presidente da Associação dos
Pescadores e Piscicultores de Foz do Iguaçu. Pelo entendimento do Ministério e dos órgãos
ambientais, a proibição permanece no corpo principal do reservatório, considerado área inter-
nacional, mas o licenciamento ambiental da aquicultura nos braços da margem esquerda do
Rio Paraná passa a ser de responsabilidade do IAP (ITAIPU BINACIONAL, 2015). Martins
destaca que a liberação do cultivo da tilápia em tanques-rede nos braços do reservatório da
Usina representa enorme ganho para os produtores locais: “Um pescador que normalmente
obteria cerca de R$ 1.200,00 por mês, com 60 tanques-rede, pode ganhar de quatro a cinco mil
reais por mês com a tilápia”. E complementa: “Essa renda pode ser ainda maior caso haja algum
tipo de agregação de valor”.

programa biodiversidade ,
nosso patrimônio

Em 1975 a Itaipu já iniciava o seu pioneirismo. Em uma ini- áreas protegidas e refúgios biológicos sejam utilizados
ciativa que iria se tornar referência no Brasil e no mundo, na manutenção e melhoria da variabilidade genética
uma usina hidroelétrica assumia zonas de proteção que da flora e da fauna regionais (ITAIPU BINACIO-
transcendiam a área do reservatório. Foram compradas, NAL, 2010). As ações englobam desde o acom-
além dos terrenos para a construção da Usina, áreas de panhamento da diversidade biológica, migração e
preservação permanente voltadas à conservação e à estoque pesqueiro do reservatório até a pesqui-
Capitúlo 1

proteção de fragmentos florestais significativos da cober- sa florestal e dos processos de reprodução e


tura originária da região. As áreas de reservatório corres­ criação de animais silvestres da região raros ou
pondem a apenas 57% das áreas de domínio da Usina de ameaçados de extinção.
Itaipu (aproximadamente 135 mil ha). Os 43% restantes
(cerca de 100 mil ha) correspondem a áreas protegidas,
compostas de reservas, refúgio e áreas de proteção per-
manente (APPs), que em Itaipu são denominadas faixas
de proteção do reservatório.

Em 2003 essas ações foram reunidas em um único pro-


grama, denominado “Biodiversidade, Nosso Patrimônio”,
que potencializava o que havia sido feito e viabilizava a
ampliação dos resultados já alcançados (ITAIPU BINA-
CIONAL, 2010). O objetivo desse Programa é garantir
que os investimentos feitos pela Itaipu na implantação das
Onça nascida em cativeiro.
Corredor
da biodiversidade.

54 55
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
avanços científicos de relevância mundial tornando os especialistas da Itaipu, seus parceiros técnicos, atores cada vez mais relevantes no
contexto científico nacional e internacional. A equipe vem participando de grupos de referên-
Capitúlo 1

Nesses 12 anos o Programa Biodiversidade, Nosso Patrimônio contribuiu com a condução cia, viabilizando formação de pessoal e ganhando acesso a informações de outros grupos de
de pesquisas de comportamento da natureza e de processos migratórios da fauna, flora, flora pesquisa, como as do renomado Smithsonian Institution*.
aquática e aves e com a continuidade do mapeamento genético. Novas técnicas de monitora-
mento e pesquisa da fauna da BP3 foram estabelecidas e diversos trabalhos científicos foram
possíveis. Além disso, em 2012, alcançou-se a consolidação do processo de reprodução da
harpia, uma ave de rapina da família Accipitridae com 50 a 90 cm de altura, envergadura de até Instituto Smithsonian: É uma instituição educacional e de
2,5 metros e um peso variando entre 4 e 9 kg. pesquisa associada a um complexo de museus, fundada e
administrada pelo governo dos Estados Unidos. Com grande
Outro avanço alcançado foi o desenvolvi- parte de seus prédios localizada em Washington, D.C., o insti-
mento de novas técnicas voltadas para
a reprodução de espécies, como partos
induzidos e o uso de laparoscopia*.
* tuto compreende 19 museus e sete centros de pesquisa e tem
142 milhões de itens em suas coleções.
Foi fundado para a promoção e disseminação de conhecimento
Os avanços alcançados resultaram pelo cientista britânico James Smithson.
em diversas publicações, que vêm

* Laparoscopia: Cirurgia pouco invasiva.

Tratamento de filhote de harpia.

56 57
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
reconhecimento reconhecimento regional e nacional

Como reconhecimento a todo esse trabalho, em 11 de março de 2015 o programa re- Em 2015, o Observatório CAB Cidades Sustentáveis premiou as cidades de Quatro Pontes,
cebeu a Certificação LIFE*, comprovando que integra a biodiversidade na sua gestão, Toledo e Ubiratã, que se destacaram nas diretrizes do programa no 1º Concurso Regional
compensando seus impactos me­ diante ações voluntárias de conservação da natureza de Boas Práticas. Os prêmios foram entregues em março de 2016 durante o encontro anual
(INS­TITUTO LIFE, 2015). do CAB.

As três cidades premiadas regionalmente também alcançaram, em 2016, reconhecimento no


certame nacional do Prêmio Cidades Sustentáveis, ocorrido em São Paulo.
A Certificação LIFE: É aplicável para organizações atentas aos riscos cada vez maiores de desastres ambientais globais,
e que em resposta visam implementar planos de ação robustos e mensuráveis para a biodiversidade. consolidando o cidades sustentáveis na região
O sistema de Certificação LIFE tem foco primário em ações de conservação da biodiversidade. Trata-se de um instru- Para incentivar as administrações municipais a seguir os 12 eixos do Programa Cidades Susten­
mento internacional aplicável a organizações de qualquer porte e setor, baseado em uma governança tripartite:
*
táveis, uma carta compromisso foi levada aos candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador das
academia, ONGs e empresas. 52 cidades da Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (AMOP). O objetivo é de que
Essa certificação avalia a efetividade de ações de conservação baseada em requisitos científicos e prioridades nacio- os candidatos debatam a agenda do Cidades Sustentáveis durante as eleições e ratifiquem os
nais e internacionais de conservação da biodiversidade, a partir de uma metodologia única que possibilita uma compromissos do programa quando eleitos.
ava­liação dos impactos da organização à biodiversidade ao mesmo tempo que avalia e pontua ações de conservação
implementadas pela organização. cidades sustentáveis – um passo adiante regional

O Cidades Sustentáveis demonstra que as iniciativas do CAB se consolidam também em um


cenário distinto de sua origem, o ambiente urbano. Além disso, essa iniciativa reforça que o CAB
programa cidades sustentáveis já transcende sua área de origem e começa a se ampliar para toda a região oeste do Paraná.

Estima-se que mais de 50% da população mundial reside em áreas urbanas e que esse percen-
tual tende a aumentar ainda mais. Tendo isso em conta, o CAB detectou a necessidade de
ampliar sua atuação nas cidades da BP3 e também nos municípios do oeste paranaense inte-
grantes da Associação dos Municípios do Oeste Paranaense (AMOP). Dessa oportunidade,
surge um novo programa no CAB: o Cidades Sustentáveis.
Capitúlo 1

O Programa Cidades Sustentáveis é uma iniciativa promovida pelo Instituto Ethos, a Rede
Nossa São Paulo e a Rede Social Brasileira por Cidades Justas e Sustentáveis, com o objetivo
de oferecer aos gestores públicos uma agenda completa de sustentabilidade urbana, um con-
junto de indicadores associados a essa agenda e um banco de práticas com casos exemplares
nacionais e internacionais de referência.

O Cidades Sustentáveis foi implantado em 2013 nos 52 municípios da região oeste do Paraná
e em Mundo Novo, no Mato Grosso do Sul, a partir do apoio da Itaipu Binacional, difundindo
suas diretrizes por meio do CAB.

Como parte dessa iniciativa, em 2014, foi implementado o Observatório CAB Cidades Susten­
táveis, que passou a registrar indicadores e boas práticas adotadas na região oeste do Paraná.

58 59
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Capítulo 2

INSTITUCIONALIZAÇÃO DO CAB:
CONSOLIDANDO A CULTURA
DE CULTIVAR ÁGUA BOA
“As grandes obras são realizadas, não pela força, mas pela perseverança.”

A
frase do pensador inglês Samuel Johnson retrata um dos conceitos centrais do CAB: o
de que a conservação das águas e de sua qualidade é um processo contínuo. A própria
origem do nome do Programa utiliza o verbo “cultivar” no gerúndio (Cultivando), de-
notando ação e processo contínuo. Realça a necessidade permanente de cultivo da água, para
mantê-la abundante, perene e com qualidade nas microbacias da BP3. Maximiliano Bertoni,
chefe da área de Gestão Ambiental do Complexo Hidroelétrico de Salto Grande, comenta que
“a institucionalização é uma referência mais sólida, que proporciona uma maior continuidade no
tempo para os princípios do CAB”.

Sendo assim, fica evidente a importância de institucionalizar o Programa, para que seja perma-
nente nos territórios em que é implantado. Sempre foi um objetivo do Programa a estruturação
adequada de suas práticas, operacionalizando ações imediatas, mas também a sensibilização
dos envolvidos, mudando a própria visão da comunidade sobre o tema sustentabilidade.

Ao ampliar a institucionalização do CAB sob o enfoque da replicação, tem-se em mente que


este seja elemento principal de condução do comportamento dos tomadores de decisão, das
pessoas responsáveis pela elaboração e formatação das políticas sociais ou daqueles que se
põem em posição estratégica para a concretização de todo o Programa. Por esse viés, Valentín
Leites, chefe de Engenharia e Planejamento da Comissão Técnica Mista de Salto Grande,
Capitúlo 1

defende a ideia de que, para se alcançar o sucesso, é necessário manter-se a essência da me­
todologia pertencente ao Programa, para que seus atores não se distanciem de seus preceitos.

Cabe mencionar que a condução e orientação dos comportamentos sociais já foram implemen-
tadas mesmo antes do início do processo de institucionalização, já que tem sido este o papel do
CAB desde a sua origem: operacionalizar mudanças nos 29 municípios abrangidos, principal-
mente quanto à visão de sustentabilidade e diminuição dos passivos ambientais existentes.
Portanto, a institucionalização visa garantir que não haja rompimento de preceitos consagrados,
mas sem inibir a inovação.

institucionalizando um modelo participativo

Para Silvana Vitorassi, gerente do Departamento de Proteção Ambiental e Coordenação das


Divisões de Ações e Educação Ambiental, a gestão participativa, praticada nos comitês gestores,
mostra que as decisões tomadas são uma parte essencial do Programa e reforça que cada decisão
é representativa do pensamento da maioria. Um dos grandes desafios do processo de replicação,
portanto, é preservar a essencial participação das pessoas em cada território em que o Programa
é implantado. Esse é um dos principais pontos norteadores na definição do modelo de institucio-
nalização do Programa.

60 61
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Segundo Jair Kotz, ex-superintendente de Meio Ambiente, o CAB é uma aplicação que atende governança da institucionalização
qualquer nível ou esfera, como um município que quer aplicar a metodologia e se desenvolver a
partir de um preceito, conceito e valores que o Programa traz ou ONG, universidades, estados, O termo governança corresponde a costumes, leis, regulamentos, políticas e processos que são
bem como as políticas nacionais. Para perpetuidade do programa, faz-se necessário transpor as utilizados na administração, direção e controle de uma entidade. Abrange também as relações
fronteiras da BP3, surgindo com isso naturalmente um processo de institucionalização. entre os diversos atores envolvidos e os objetivos para os quais a pessoa jurídica é impulsionada.
Nas organizações contemporâneas, os atores encontram-se em diversas escalas, compreen-
Para alcançar tal objetivo, Lupércio Ziroldo Antônio, presidente da Rede Internacional de dendo desde a alta administração até a comunidade geral. Abrange, dessa forma, o conselho de
Orga­nismos de Bacia e secretário técnico da Rede Latino-Americana de Organismos de Bacia, admi­nistração, funcionários, instituições reguladoras e clientes.
destaca a fundamental importância da credibilidade do projeto. “A institucionalização precisa ter
alguns pilares para se sustentar. E o primeiro ela já tem: credibilidade”, afirma. O modelo de governança adotado no CAB, conforme apresentado, é participativo, envolvendo
uma política de sensibilização e mobilização dos atores e a organização dos inúmeros programas
Definindo Governança delineados para concretizar os objetivos do Programa.
Conforme recomendado pela ONU (2009), uma governança é considerada boa e democrática Tecnologias Sociais e Inovadoras do CAB
se as instituições envolvidas e os processos forem transparentes, sendo o sucesso em alcançar
esse padrão uma medida-chave de credibilidade e respeito no mundo. A expressão “tecnologia social” constitui-se em um conceito contemporâneo composto de
técnicas e metodologias voltadas à interação com a sociedade a partir da criação de com-
Características de uma Boa Governança preensão coletiva, visando a uma transformação social. No Programa Cultivando Água Boa,
esse conceito é desenvolvido de forma inovadora.
A autodeterminação do CAB se dá por meio da observância de certos princípios no desenvolvi-
mento de suas atividades, como participação, estado de direito, transparência, responsabilidade,
equidade, efetividade, eficiência e prestação de contas, características de uma boa governança. tecnologias sociais do programa cab

Muro OFICINAS
das Lamentações: DO FUTURO
Identificar
e compreender Multiplicadores
Pacto Árvore EDUCAÇÃO e Comunidade
das Águas: da Esperança: AMBIENTAL
Compromissos Desejos
e celebração
Caminho
Adiante:
Estruturas Conhecimento
Definir ações Políticas Públicas
e melhorias Educadoras Formação Público Interno
Enraizamento

Educomunicação

Monitoramento ambiental
participativo.
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ISAE | estudo de caso cultivando água boa
O CAB pode ser visto como um encadeamento de tecnologias sociais que vêm demonstrando sucesso e a consecução frutífera do Programa, não havendo sobreposição de relevância entre
a sua eficácia, que podem ser usadas como base para outros territórios, respeitando-se suas os atores. Tais interconexões são muito ricas e ensejam a troca de informações entre diversos
características históricas e culturais. As tecnologias sociais adotadas permitem compreender setores sociais. Nelton Friedrich, ex-diretor de Coordenação da Itaipu e Coordenador do
e agir a partir da realização das Oficinas do Futuro, Muro das Lamentações, Árvore da Espe- CAB, garante que esse modo de gerenciar um programa trata-se de uma maneira inovadora
rança, Caminho Adiante e Pacto das Águas, criando um senso de pertencimento e busca de de trabalhar ações coletivas, uma vez que se debruça na proposta de realizar conexões e nexos
novos caminhos. Complementares a essas tecnologias, programas de formação continuada, à com as comunidades. E continua ao afirmar que “tudo que mostra as conexões e os nexos
semelhança do Programa de Educação Ambiental adotado pelo CAB, contribuem para a po- dá o sentido profundo de um modelo inovador de gestão, mas, ao mesmo tempo, de uma
tencialização dos grupos atuantes. governança inovadora”.

institucionalização do modelo de gestão cab Um processo de institucionalização do modelo de gestão aponta para as características inerentes
à gestão participativa. Deve ser mantido todo o engajamento da comunidade, além da promoção
O modelo de gestão participativa é aquele que se desenvolve gerando profundo engajamento do desenvolvimento sustentável e a conservação do meio ambiente, como objetivos sociais do
com o maior número possível de atores: no caso do CAB em grande parte da sociedade, por Programa. Esses objetivos serão alcançados por meio da propagação de uma nova governança
meio de parcerias entre órgãos públicos, instituições públicas e privadas e em entidades so­ pautada na responsabilidade compartilhada, na cooperação, na interação e na participação de
ciais. Nesse aspecto, Jorge Samek, diretor-geral da Hidroelétrica de Itaipu, afirma que o CAB todos os atores sociais.
“trata-se de um programa participativo, no qual a responsabilidade é compartilhada por todos
os atores sociais da bacia hidrográfica”. A gestão participativa encara os indivíduos como o
fator primordial para o sucesso do Programa, que tem seus objetivos alinhando-se aos objetivos
pessoais e culturais da população. O resultado é uma maior produção e satisfação pela respon­
sabilidade individual junto ao cerne do próprio Programa.

Leonardo Boff reconhece a importância da gestão participativa para a comunidade da BP3,


destacando que “é um complexo de iniciativas - são mais de cinquenta frentes - que transfor-
mou a realidade, gerou integração, transformou a mente das pessoas. Hoje, elas são cidadãos
participantes, críticos, com grande senso de responsabilidade coletiva, de cooperação, de ajuda
mútua. Uma troca de sementes e de experiências”. Esse sentimento compartilhado é o resulta-
do de intensa participação, incentivada em todo o processo do CAB - as pessoas são incluídas
no processo desde a execução do trabalho até a análise de dados, eleição e construção das
ações preventivas, corretivas e de maior eficácia. Elas estão sempre à frente das ações, pois
Capitúlo 2

sentem-se valorizadas e importantes para a execução satisfatória do Programa. Como afirma


Iñigo Bilbao, ex-diretor de Relações Internacionais da Prefeitura de Vitoria-Gasteiz (País Basco
- Espanha), “a questão da participação pública, em qualquer projeto ambiental, é garantia de
sucesso. Se os projetos não possuem os cidadãos, será muito difícil chegar à frente”.

Nesse contexto, cabe destacar que, ao mesmo tempo que a participação da sociedade é funda-
mental para o sucesso dos programas, compete ao CAB o papel de liderança. Ele compromete-se
com uma abordagem sistêmica. Ao sensibilizar todos os níveis sociais (ou a maioria) com relação
aos problemas ambientais existentes, faz com que estes desempe­nhem verdadeiro papel de
protagonistas, tomando para si a corresponsabilidade pelo sucesso das ações programáticas
empreendidas.

Gestão Horizontal-Sistêmica Múltipla

A mobilização de toda a sociedade concretiza-se no funcionamento conjunto do CAB com os


comitês gestores atuantes em cada município. Esse formato inerente ao modelo é a chamada
gestão horizontal-sistêmica múltipla, em que as várias interfaces são não hierarquizadas. Todos
os participantes são igualitariamente tidos como elementos fundamentais e essenciais para o

64 65
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Capítulo 3
A REPLICABILIDADE DO CAB

O
Programa Cultivando Água Boa vem despertando interesse nos cenários nacional e
internacional. Devido aos resultados alcançados e às premiações recebidas, dentro e
fora do país, grupos de empresas, munícipios, estados e países já pretendem adotar
seu modelo de trabalho para enfrentar desafios ligados à sustentabilidade, desenvolvimento
regio­nal, melhoria da qualidade de vida e ações de suporte a grandes projetos. Surge daí a de-
manda pela replicação do CAB em outros cenários, muitas vezes com características bastante
distintas da BP3. Faz-se necessário avaliar e propor caminhos que viabilizem um processo
efetivo de sua replicação.

conceituando a replicabilidade
no contexto do cab

depoimento

“ Somos testemunhas de que isso [replicabili-


dade] é possível. Começamos a visitar [o CAB],
formalmente falando, desde 2010. Foram
geradas algumas linhas de trabalho e vimos
uma possibilidade de futuro muito interes-
sante e importante. Começamos a ver a forma
de poder replicar esta atenção com ajuda
da Itaipu Brasil, porque sempre se necessita
um guia, e por isso conseguimos replicar, ao
menos as bases e linhas mestras. Quero ressal-
tar que o CAB, como linha filosófica e mística,
é replicável na realidade de cada projeto.”
DEPOIMENTO

Héctor Alberto Roncati, Entidad Binacional Yacyreta, coordenador de CAB, Medio Ambiente
Capitúlo 3

Argentina.

Podemos definir a replicabilidade do CAB como o processo da transposição dos seus conceitos
de base, valores, métodos de governança e tecnologias sociais para um novo ambiente geográ­
fico, levando em conta as particularidades e demandas de cada localidade-alvo.

O processo de replicabilidade tem como principal função prover meios consistentes para se
alcançar os objetivos de base do programa-alvo. Não trata-se de copiar o CAB, mas de contex-
tualizar seus princípios, valores e métodos para que colaborem para a obtenção dos resultados
desejados. Apontam-se a seguir os principais aspectos a serem considerados para o modelo
proposto de replicabilidade.

66 67
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Esses conceitos estão detalhados, apresentando assim elementos entendidos como essenciais i . contextualização
ao sucesso do processo de replicabilidade. e organização inicial

Avalia-se que a primeira etapa de um processo de repli-


cação do CAB em outros cenários é a compreensão da
Processo de secagem realidade local e o contexto em que se insere o programa
aspectos principais de plantas medicinais. alvo de replicação. Entende-se, com base no estudo
para o sucesso da efetuado da implantação do CAB na BP3, que não seja
replicabilidade do cab possível replicá-lo sem que se compreendam os passivos
ambientais existentes, o ambiente humano, o histórico
de ações socioambientais anteriores, as características
do meio ambiente, a cultura local, entre outros aspectos.
É necessário realizar ao menos três passos iniciais: o le-
vantamento e compreensão das demandas e objetivos; a
organização inicial das ações; e a aprovação.

Levantamento Organização
Unidade de Produção I. Maripá, limpeza do rio das
e Compreensão Inicial das Ações
Aprovação
de Extrato Seco. Araras e soltura de alevinos
Demandas e Objetivos
Contextualização
VII. e organização
inicial
II. Durante o Levantamento e Na fase de Organização Inicial das Na etapa de Aprovação é recomen-
Compreensão das Demandas e Obje- Ações deve-se sugerir a estruturação dada a aprovação do conceito inicial
Definição dos tivos os especialistas envolvidos de seus pilares centrais a partir da pelos atores envolvidos, criando um
Certificação programas de base devem inicialmente levantar e compreensão do cenário global e do consenso técnico e humano sobre o
e instrumentos
de apoio compreender os objetivos do contexto, demandas e objetivos do que é possível e recomendável
programa alvo de replicação, identi- programa alvo de replicação. Isso realizar.
Capitúlo 3

ficar sua situação atual, mapear as envolve uma percepção inicial das
demandas e necessidades gerais e prioridades de ação e dos pontos
decifrar os desafios existentes, tanto essenciais a serem considerados.
nos aspectos técnicos (desafios
VI. Credibilidade Técnicas de gestão III. técnicos com relação às ações a
serem executadas e suas dificuldades
inerentes), quanto sociais (deman-
das sociais, resistências, contexto
político, sucessos e fracassos em
experiências anteriores, entre outros
Suporte técnico e Tecnologias aspectos). Recomenda-se que sejam
acompanhamento sociais
levadas em conta as tecnologias
sociais do CAB, tendo em vista a
V. IV. experiência adquirida na BP3 para
tratar si­tuações semelhantes.

68 69
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Valorização
do patrimônio.

Resultados desta Fase

Ao final das três etapas propostas, os seguintes resultados devem


ser alcançados:

• compreensão geral das demandas, objetivos e desafios existentes;


• ações prioritárias e possíveis de serem realizadas e sua localização
geográfica; e
• aprovação do conceito geral do programa alvo
de replicação pelos atores envolvidos.
Comitê gestor, plantas medicinais, Feira de artesanato indígena.
ii . definição dos programas de base Itaipulândia.
e instrumentos de apoio de cada programa componente. Além disso, é
fundamental considerar os princípios de boa
Com base no conceito geral estruturado, é possível definir os programas e instrumentos que governança: consenso, responsabilidade, efi-
servirão de base e inspiração para o programa alvo de replicação. É essencial que, durante ciência, efetivi­
dade, prestação de contas e
a definição dos programas de base e instrumentos do CAB, leve-se em conta os contextos transparência.
e cenários locais, que muitas vezes demandarão adaptações nos programas originais
selecionados. Deve-se ainda analisar a eventual necessidade da criação de novos Para se atender os princípios da boa gover-
instrumentos ou programas componentes que não sejam parte do CAB. nança, recomenda-se o uso de práticas e
técnicas de monitoramento de avanço basea-
iii . técnicas de gestão das em sistemas georreferenciados. O Sig@
livre é um bom exemplo, já empregado pela
O CAB possui uma série de instrumentos de gestão participativa funda- Itaipu Binacional e pelo CAB para monitorar o
mentais para o seu sucesso - e, portanto, também o sucesso de sua re­ avanço de diversos programas componentes.
plicação. É essencial para o funcionamento efetivo da gestão participa- iv . tecnologias sociais
tiva que se encontrem lideranças adequadas e que representem os
Capitúlo 3

diversos grupos de atores envolvidos. Devem ser levadas em conta a O Programa CAB desenvolveu e utiliza uma série de tecnologias sociais que colaboram para
geografia, as parcerias técnicas necessárias, as particularidades locais e o o seu sucesso na BP3. Aplicar essas tecnologias com consistência e alinhadas ao contexto
contexto do programa alvo de replicação. A governança do programa do programa alvo de replicação é ponto fundamental para uma replicação bem-sucedida. As
Comitê gestor,
alvo de replicação deve ser amparada por indicadores consistentes, com Cascavel. tecnologias sociais estão divididas em dois eixos: o primeiro denominando Oficinas do Futuro e
metas que re­presentem claramente os objetivos gerais do programa-alvo e o segundo trata-se do programa componente Educação Ambiental.

70 71
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
As Oficinas do Futuro visam obter dos atores, em cada microbacia, um diagnóstico dos passivos Recomenda-se que cada novo projeto seja criteriosamente acompanhado e estudado pelas
ambientais existentes, a compreensão da situação e o comprometimento conjunto e integrado equipes do CAB, servindo também como um laboratório de novos saberes e multiplicando, a
com as ações de recuperação. Elas devem empregar linguagem e rituais compatíveis com a partir de novos resultados, a credibilidade do Programa. É necessário um extremo cuidado dos
cultura dos atores locais, selando um pacto consistente que dê suporte às ações necessárias de atores do CAB envolvidos nas replicações para que, em nenhum momento ou cenário, essa
cada programa componente que venha a ser definido. credibilidade seja abalada.

Essa contextualização local das Oficinas do Futuro aplica-se também ao Programa de Educação vii . certificação
Ambiental. Ele abrange a definição de conteúdos técnicos e sociais adequados ao contexto local
e a aplicação de materiais com linguagem compreensível para os atores envolvidos. Nesse caso, De uns tempos para cá, os consumidores passaram a traduzir sua sensibilização do poder de
é importante ainda a definição adequada dos diversos públicos-alvo (multiplicadores, público compra, optando por produtos, serviços e métodos que aplicam conceitos da sustentabilidade.
interno e população) e seus perfis sociais, para que seja escolhida a linguagem mais apropriada Desse modo, deu-se vazão a um novo movimento: o consumeirismo consciente ou social-
para cada um. mente responsável. A consequência dessa nova tendência reside no desenvolvimento de
rótulos que informem aos envolvidos as lógicas e especificações associadas a determinado
v . suporte técnico e acompanhamento comportamento.

Ao longo dos anos, a Itaipu Binacional construiu uma sólida base de conhecimento, tanto das Em inúmeros países, a identificação do uso de metodologias e processos sustentáveis tem
tecnologias sociais aplicadas quanto da Bacia Hidrográfica do Paraná 3, suas características e cada vez mais relevância aos produtos, por serem menos nocivos e por respeitarem os aspectos
comportamentos. Esse conhecimento vem sendo fundamental para o sucesso do CAB, na ambiental, social e econômico, além de integrar uma visão de curto, médio e longo prazo.
medida em que permite definir técnicas apropriadas para cada demanda, encontrar e esta-
belecer parcerias técnicas consistentes e realizar a recuperação efetiva e sustentável de pas- Nesse cenário, uma certificação CAB pautada na metodologia do Programa assegura a im-
sivos ambientais. Além disso, o conhecimento tácito resultante do uso das tecnologias sociais, plantação dos conceitos consagrados já praticados na BP3.
aprimorado ao longo dos anos, vem sendo essencial para o sucesso do Programa.
Em virtude das demandas de replicabilidade apresentadas pelo CAB, é recomendável a criação
Dessa forma, o conhecimento técnico e social da Itaipu e das equipes do CAB é de grande valia de um processo de certificação de toda a metodologia, garantindo a conformidade de toda a
para suportar um processo de replicação consistente, sobretudo em áreas com maior carência de lógica dos trabalhos envoltos no Programa e o alinhamento aos seus métodos de governança
estudos e de pessoal qualificado. Sugere-se que as iniciativas contem com o apoio dos especia- e tecnologias sociais.
listas e gestores do CAB, tanto antes do início do processo de replicação como durante os seus
Um dos fundamentos que justificam a criação de um certificado CAB está no fortalecimento e
primeiros passos. Além disso, recomenda-se que esse apoio continue ocorrendo periodicamente
na consolidação dos programas alvo de replicação no meio social em que estão inseridos. Desse
ao longo de toda a execução. Essa interação traz ganhos para o programa-alvo e, ao mesmo
Capitúlo 3

modo, o reflexo de tal solidez e sustentabilidade reside na possibilidade e no reconhecimento


tempo, permite aos especialistas do CAB alcançar novos conhecimentos e acessar novos am-
dos padrões adotados pelo CAB na BP3 em outras sociedades e contextos que pleiteiam o
bientes de pesquisa. O resultado é mais consistência para futuras replicações e para o próprio
recebimento de um selo de conformidade.
CAB. E, finalmente, é de grande valia que se estabeleçam parcerias e convênios que amparem,
técnica e juridicamente, as ações das equipes do Programa Cultivando Água Boa fora da BP3. Entretanto, não basta que as instituições e atores envolvidos se encantem pelas vantagens
apresentadas pela certificação CAB. Antes de tudo, devem ter em mente que somente
vi . credibilidade
aquelas que realmente assumirem e respeitarem os princípios, valores, ditames e objetivos do
Muitas vezes, as demandas de replicação acontecem em áreas que possuem grandes máculas Programa serão acolhidas para um processo de replicação orientada pelo Programa, sendo
sociais. Em função de desavenças, conflitos históricos ou as mais variadas situações de vul- que, a cada 24 meses, a certificação CAB passará por um período de revalidação, podendo
nerabilidade extrema, esses problemas demandam suporte externo de pessoas ou entidades sofrer renovação ou não.
com alta credibilidade.
Caberá aos representantes do CAB da BP3 acompanhar todo o processo anteriormente
O Programa Cultivando Água Boa pode ser essa ponte, devido aos resultados já alcançados mencionado, detendo condições para validar e averiguar a conformidade e o alinhamento aos
na BP3, ao reconhecimento nacional e internacional do Programa e à respeitabilidade da Itaipu preceitos do Programa.
Binacional. Assim, a replicação pode ser um caminho sólido para o alcance de resultados ex-
pressivos. Os especialistas do CAB podem construir pontes de ligação e de diálogo entre atores
com divergências expressivas e proporcionar a construção de programas tecnicamente sólidos
e que viabilizem o alcance dos objetivos globais, mesmo em cenários desafiadores como os
descritos anteriormente.

72 73
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
experiências atuais depoimento
de replicação do cab


É muito importante que todos os países que que o que poderia acontecer em uma região
estão envolvidos - principalmente o Brasil do Chile, Uruguai ou mesmo Guatemala, pois
como um promotor dessa ideia - contassem todas as nossas experiências contadas somam
todas as nossas experiências. É claro que o que e servem de exemplo.”
acontece em Madri e a região não é o mesmo

Enrique Ruiz Escudero, vice-conselheiro de Meio Ambiente da Comunidade de Madri,


Espanha.

cultivando água porã

A diretoria paraguaia da Itaipu Binacional já havia adotado, em caráter experi-


mental, algumas das experiências do CAB nas ações voltadas à proteção da Mi-
crobacia Carapá-Ypoti, principal afluente da margem direita do reservatório da Itaipu.
Em julho de 2014, o país vizi­nho lançou oficialmente o Cultivando Água Porã, com o início
dos trabalhos de sensibilização e formação dos comitês gestores nas Microbacias do Guayaki,
Orlando Cue e Poty-y, localizadas próximas a suas duas hidroelétricas binacionais (Itaipu e
Yacyretá). Para o governo paraguaio, a metodologia do CAB é uma prática positiva de gestão
comunitária da água. O país conta, hoje, com lideranças fortemente comprometidas com a
replicação do programa.
Capitúlo 3

Lançamento do Programa
Cultivando Y Porã.

74 75
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
depoimento


replicação em hernandarias
Para nós no Paraguai o CAB é Cultivando y Porã, Então para nós é claro que é uma grande opor-
O distrito de Hernandarias vem aplicando o Programa e é uma estratégia bem-sucedida na gestão de tunidade. Esperamos, dentro do processo que
CAB como um instrumento de desenvolvimento local bacias hidrográficas que realmente alcança as estamos levando adiante, com assessoramento
sustentável. O CAB começou a Bacia Primero de pessoas e gera um processo participativo. Isso das pessoas da Itaipu, encontrar uma maneira
Marzo e as comunidades ao longo do seu entorno, dá legitimidade a esse processo, que começou de ajustar a nossa cultura.
envolvendo os diversos atores da região: população, aqui no Brasil, e agora estamos no caminho
DEPOIMENTO
certo no Paraguai. Somos uma réplica que Assim a binacional deixa de ser um ator que
administração pública, empresas privadas, escolas e recebe pedidos. E se converte em um ator do
espaços religiosos. iniciou em 2011 com convênio bilateral entre
Itaipu e Yacyretá, em que se busca transferir a território, que ajuda a unir todos os setores
experiência. com um mesmo fim, que é a proteção do meio
Em Hernandarias o Programa CAB é aplicado como
ambiente e a proteção dos recursos hídricos.”
uma plataforma transversal que integra todas as ações
desse município voltadas para o alcance dos Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS) propostos Reunião Coletivo Jovem,
pela ONU. Hernandarias. Eduardo Dose, coordenador Plan Cultivando y Porã,
Paraguai.
O CAB vem sendo trabalhado em três subcomitês temáticos: sustentabilidade ambiental minas gerais
(pilar 1), sustentabilidade social (pilar 2) e sustentabilidade econômica (pilar 3).
Em 25 de março de 2015, durante o evento “Água
yacyretá Sustentável para Todos”, a Itaipu Binacional e o
governo de Minas Gerais firmaram um acordo de
Em agosto de 2010, a Itaipu Binacional e a Entidade Binacional Yacyretá (responsável pela usina cooperação técnica para implantar o CAB naquele
binacional paraguaio-argentina, localizada 400 quilômetros ao sul de Itaipu, no Rio Paraná) estado. Trata-se da primeira adoção do Programa
assinaram termo de cooperação para replicação do CAB. Assim, surgia o programa Cultivando como política pública de gestão dos recursos hídri-
Y Porã, inspirado na metodologia de participação comunitária do CAB. Desde então, as duas cos e o documento assinado relaciona o avanço da
binacionais, que já haviam cooperado anteriormente em um programa de monitoramento da degradação ambiental nas bacias hidrográficas do
ictiofauna, têm mantido intercâmbio constante entre seus técnicos para estado, o cenário de mudanças climáticas e a atual
troca de informações e experiências na gestão dos recursos hídricos, crise de escassez de água. Por meio de decreto foi
entre outras ações socioambientais. criado também um grupo de trabalho responsável
por estudar e incorporar ao estado as práticas e
experiências já implementadas pela Itaipu. Participantes do evento Água Sustentável para Todos.

Segundo Patrícia Rezende de Castro Pirauá, da Diretoria de Operação Sudoeste da Compa­


nhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA MG), a decisão de replicar o CAB em Minas
Lançamento do CAB. levou em conta a metodologia e os resultados obtidos pelo Programa.

Pacto das Águas. A parceria prevê o intercâmbio de experiências, desenvolvimento de estudos e ações para
melhorar a gestão dos recursos hídricos em território mineiro, aproveitando a experiência do
CAB na BP3. Segundo Maria Conceição Menezes, assessora técnica da Diretoria de Ope­
ração Sudoeste da COPASA MG, a iniciativa pretende envolver órgãos do governo, entidades
públicas, privadas e a comunidade em geral.

A Itaipu atuará também na orientação e capacitação dos gestores locais, estimulando o envolvi-
mento da sociedade e a recuperação ambiental, especialmente as nascentes dos rios. Inicial-
mente, o CAB será implantado na Microbacia do Rio de Pedras, na Região Metropolitana de
Belo Horizonte, que será o marco inicial do Programa. Depois, ele será expandido para outras
microbacias do estado, segundo aponta a analista de meio ambiente Andréa Cassia Pires de
Almeida, da Companhia Energética de Minas Gerais S.A. (CEMIG).

76 77
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
república dominicana comunitária nas Oficinas do Futuro foi de mais de 80%. No primeiro semestre de 2015, o Pro-
grama CAB na Guatemala consolidou a fase de sensibilização com a formação dos comitês
O CAB na República Dominicana é resultado gestores e seguiu firme com sua atuação para 2016.
de uma cooperação entre o Brasil e aquele país,
via Itamaraty e Agência Brasileira de Coope­ comunidade de madri (espanha)
ração (ABC), com apoio da Agência Nacional de
A Comunidade de Madri está adotando a metodologia de recuperação de microbacias hidro-
Águas (ANA) e da Itaipu Binacional. O interesse
gráficas do CAB nas áreas rurais próximas à capital espanhola. A proposta é dar mais susten­
pelo CAB teve início na 1ª Reunião Interministe­‑
Árvore da Esperança realizado na República Dominicana. tabilidade à agricultura e à pecuária que são praticadas no entorno de Madri. O principal interes-
rial Ibero-americana de Sustenta­bilidade, reali­zada
se dos espanhóis está em replicar a metodologia de participação comunitária, assim como os
no Parque Tecnológico Itaipu (PTI) em novembro
programas de agricultura orgânica e plantas medicinais.
de 2013. Já em 2014, o CAB foi implantado em
regime de projeto-piloto em três microbacias (Rio
Grande, Arrio Gurabo e Rio Maimón), todas depoimento
próximas a mi­neradoras. Em outubro do mesmo
ano foram realizadas as Oficinas do Futuro e


formados os comitês gestores das microbacias
trabalhadas.
Percebemos que utilizando a água como fio O principal objetivo do governo da comunidade
guatemala
condutor - com pessoas, governos e incluindo o de Madri é, sobretudo, tratar uma adaptação do
conhecimento das empresas -, Madri poderia ser Programa às necessidades que temos - quere-
A exemplo da República Dominicana, o programa uma região que também adotasse o Programa mos orientá-lo para a agricultura e pecuária,
é resultado de uma cooperação entre o Brasil e a CAB. Então, tem de haver uma adaptação para que é são os pontos mais importantes.
Guatemala, via Itamaraty e ABC, com apoio da Lançamento do CAB na Guatemala. as necessidades daquela região, que não é a
mesma da Bacia do Paraná. Está claro que as Nesse caso, o CAB é um exemplo, porque é um
ANA e Itaipu Binacional. Em 16 de fevereiro de necessidades de cada região do mundo não são programa que leva muitos anos, um programa
2015, o Ministério da Energia e Minas (MEM) da as mesmas. Assim, temos de, na comunidade de consolidado, e certamente será muito mais fácil
DEPOIMENTO implementá-lo em outras regiões do mundo.”
Guatemala lançou oficialmente o Programa Cul- Madri, buscar pontos de encontro com o CAB.
tivando Agua Buena.

O interesse da Guatemala pelo CAB teve início


Capitúlo 3

na 1ª Reunião Interministerial Ibero-americana de


Sustentabilidade, realizada no Parque Tecnológi- Enrique Ruiz Escudero, vice-conselheiro de Meio Ambiente da Comunidade de Madri,
co Itaipu (PTI) em novembro de 2013. Espanha.

Em 2014 começou o intercâmbio entre técnicos são paulo


da Itaipu e do governo guatemalteco, permitindo a
implantação da metodologia do CAB, em caráter Em fevereiro de 2015, o CAB foi apresentado a 18 prefeituras da região do Cantareira (em São
de projeto-piloto, em três microbacias hidrográfi- Paulo). Nessa região, além do enfrentamento imediato da crise hídrica com medidas emergen-
cas ligadas aos projetos hidrelétricos El Porvenir, Muro das Lamentações realizado na Guatemala. ciais, a proposta é a implantação de um amplo programa de conservação e produção de água.
do Instituto Nacional de Eletrificação (INDE), A apresentação da Itaipu a esses municípios, que contou também com a participação de insti-
Renace 4, do consórcio Multi Inversiones, e à tuições como a Fundação SOS Mata Atlântica, The Nature Conservancy, ANA e Instituto
mina El Escobal, da mi­neradora San Rafael. IPÊ, entre outras, despertou profundo interesse: as prefeituras querem conhecer a realidade
das microbacias afetadas antes e depois do CAB. Ao final do encontro, 18 delas assinaram uma
A avaliação do governo guatemalteco sobre a carta de compromisso que representa o primeiro passo para a elaboração de um plano de ação.
adoção do CAB vem sendo muito positiva e os
resultados já estão aparecendo. Na microba- Afetadas pela escassez hídrica no estado de São Paulo, essas prefeituras estão interessadas na
cia do rio El Dorado, por exemplo, na área de experiência da Itaipu na recuperação de microbacias hidrográficas, por meio do Programa Cul-
influência da mina El Escobal, a parti­
cipação tivando Água Boa. Representantes dos munícipios têm interagido com a Itaipu para conhecer os
resultados em mais de 200 microbacias já recuperadas com a proteção e recuperação de matas

78 79
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Participantes do CAB na Guatemala.
depoimento


ciliares, readequação de estradas rurais, implantação de abastecedouros comunitários, monito-
ramento participativo da qualidade da água e envolvimento das comunidades no planejamento,
gestão e execução das atividades. Em 2011 nos colocaram em contato com o grupo hidroelétricas binacionais da bacia hidrográfica.
do CAB da Itaipu e terminamos aportando em E isso, para nós, foi um elemento de integração
bacia do prata conjunto uma proposta à Itaipu Binacional - regional e um grande desafio. Afortunadamente,
dado que o Brasil é fundamentalmente a parte também as três hidroelétricas ocupam quatro
Por meio do Comitê Intergovernamental Coor­ brasileira, pois havia feito quase tudo o que países da bacia hidrográfica do Prata (ou seja,
denador da Bacia do Prata (CIC), o CAB está planejaram realizar nos dez anos do Programa Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai).”
sendo implantado em caráter experimental em CAB - para decidir sobre o projeto das três
microbacias da Argentina, Uruguai e Paraguai.

A educação ambiental e a integração entre os José Luis Genta,


países que compõem a Bacia do Prata estão entre secretário geral do Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata (CIC),
as prioridades do Comitê no momento. Dessa Uruguai.
forma, o CAB é apontado como um modelo para
atingir as comunidades das microbacias da região. Pacto das Águas na República Dominicana.
Na Argentina, de acordo com a Secretaria de
Meio Ambiente, a metodologia do CAB será
aplicada na área de confluência dos Rios Paraná Acervo da Itaipu Binacional.
e Paraguai, e também no projeto da usina de
Salto Grande, no Rio Uruguai. São áreas que guardam semelhanças com a BP3, com forte
presença de pescadores artesanais, pequenos agricultores e povos originários. Um dos princi-
pais problemas enfrentados são as enchentes e, por isso, a ideia é trabalhar de forma a prevenir
e minimizar os danos ambientais.

No Uruguai, o CAB também está sendo implantado na margem uruguaia de Salto Grande,
mais precisamente na Microbacia do Rio Santa Rosa, afluente do Rio Uruguai. É uma área de
proteção ambiental ameaçada por desmatamento, erosão, dejetos da agricultura e de comu-
Capitúlo 3

nidades vizinhas.

80 81
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Capítulo 4
RESULTADOS E RECOMENDAÇÕES

depoimento


O CAB é mais que um programa em si, é uma Fundamentalmente, creio que é poder voltar a
filosofia de vida que se adota. E tem de ir através colocar em valor questões culturais de apren-
de nosso coração e nossa mente, de modo que dizagem de nossos ancestrais, de ter uma
seja possível traduzir isso, é algo que se coloca convicção de que algo está por iniciar. Se isso
dentro para poder ser transmitido para outras não ocorre, não te alcança, não vai poder trans-
pessoas… a quem queremos sensibilizar. mitir, não vai poder levar adiante esse plano.
Creio que é muito mais que um Programa, é um
plano, é uma filosofia de vida.”

Alicia Mabel Karasawa, Entidad Binacional Yacyreta, Coord de CAB - Jefe Sector Reasentamiento,
Argentina.

O
Programa possui forte capilaridade por ter habilidade no envolvimento social e na união
de saberes populares com os conhecimentos técnicos e científicos. Isso evidencia e
facilita a replicabilidade em outros cenários, pois respeita as características históricas e
culturais onde se instaura e promove o desenvolvimento sustentável em larga escala.

A sustentabilidade apoia a posição de correlação das instituições organizacionais e a urgência


em reconsiderar o método de definição e escolha de estratégias, fundamentado na comunicação
entre todos os atores, criando-se uma rede de conhecimento e reconhecimento, independen-
Capitúlo 4

temente do posicionamento social, econômico e político que ocupam, como parte de todo o
processo e como legítimos agentes da mudança.

Para atender às demandas em replicabilidade, é necessário complementar o CAB formalizando


suas metodologias e processos de trabalho, por meio da institucionalização, criando sistemas de
multiplicação em outras realidades que, na maioria das vezes, são complexas, devido a diversos
fatores de sustentabilidade.

Esses fatores complexos provêm da diversidade e de estresses sociais, ambientais e econômicos,


que precisam ser desafiados em busca de melhorias, sendo o CAB um instrumento adequado
para enfrentar os desafios, tendo em vista que se traduz em um método motivado para traçar
soluções aos relevantes problemas da atualidade.

O Programa Cultivando Água Boa na BP3 é um laboratório privilegiado, pois conta com históri-
co, conhecimento técnico e nível de engajamento da comunidade, sem deixar de olhar o aspecto
global e agir sobre o local, o que gera uma permanente inovação e conhecimento ampliado.

No estudo anterior, recomendou-se a atuação dentro de suas próprias fronteiras atualmente


definidas, a BP3, na Tríplice Fronteira (região do Brasil, Paraguai e Argentina próxima à Itaipu),
no território brasileiro como um todo, na América Latina e em nível global.

82 83
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Coletivo Jovem COY.
Coofamel,
Cooperativa Agrofamiliar Solidária dos
Apicultores da Costa Oeste do Paraná,
Santa Helena.

Canal de Piracema.

Capacitação de merendeiras,
plantas medicinais,
Missal.

depoimento

Ao longo deste estudo, verificou-se que o CAB cresceu a sua atuação nas microbacias da BP3.
Sempre há espaço para crescimento em densidade, assim como a ampliação da área geográfica
até que atinja 100% das microbacias. Vale a reflexão de que, ao trabalhar 100%, esse trabalho
deve estar integrado com as demais bacias do Rio Paraná, ou seja, a montante da BP3.

Um foco para ampliação das ações deve contemplar a Tríplice Fronteira, a partir de uma política
“ A proposta aportada pela Bolívia consiste
em desenvolver um CAB na Bacia Pisco Mayo
- fundamentalmente, onde está estabelecida
uma mineradora. Um CAB em uma mineradora
não só em hidroelétricas vem ao encontro da
estratégia do Programa global, que tem focado
na sua realidade, ou seja, não ficar só ao redor
das microbacias ou pequenas bacias de lagos e
reservatórios, mas também em fontes de água
na mineração.”

progressiva com o foco de abranger toda a Bacia do Prata, iniciando as ações na cercania da
BP3 visando a um CAB expandido e unificado.
José Luis Genta,
A partir das experiências que estão em desenvolvimento no estado de Minas Gerais, o CAB secretário geral do Comitê Intergovernamental Coordenador dos Países da Bacia do Prata (CIC),
extrapola as ações da Bacia do Prata, onde tem influência direta, passando a colher experiências Uruguai.
em cenários mais diversos, comprovando que o modelo é adaptável, além de colecionar técnicas
abrangentes. Essa diversidade de saberes pode consolidar as técnicas do CAB em realidades
mais amplas e multiculturas que representam o Brasil, facilitando o processo de multiplicação replicabilidade
em todo o território nacional.
É o aprimoramento progressivo e permanente das técnicas, processo, modelos de replicabi­
Essa visão, da amplitude do Programa, já foi percebida por países da América Latina e em nível lidade. A BP3 deve se manter como ponto de partida no laboratório que é o CAB, definindo
global que buscam o CAB como um ponto de apoio técnico de referência para superar suas modelos, processos, novos programas, conhecimentos e estudos científicos para desenvolvi-
dificuldades e limitações sociais. mento sustentável.
A partir desse panorama, vale destacar que o Programa CAB é tão amplo que pode ser replicado Como um laboratório geral do CAB, recomenda-se que na BP3 devem também existir ações
não só no entorno de hidroelétricas, como Itaipu, mas em qualquer lugar que demande inter- para integrar e consolidar os conhecimentos gerados nas áreas de replicação, permitindo que
venções relacionadas à sustentabilidade e a novos desafios propostos por agendas internacionais, os conhecimentos provenientes de outras áreas gerem novos saberes a serem replicados em
como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). outros cenários. Assim, a BP3 deve ser um ponto de convergência e replicação desses novos
conhecimentos, formando uma rede e respeitando os nexos existentes entre programas e ações
Ao propor uma institucionalização para o Programa, deve-se ter em mente que a sustentação do
e as particularidades locais.
CAB depende de fatores como a replicabilidade com sustentabilidade financeira e certificação.

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Sendo que todas as ações do CAB poderão ser replicadas por meio de projetos, programas ou
planos de trabalho específicos em outras realidades, onde a parte interessada subsidia a atuação o cab e os objetivos de desenvolvimento sustentável
da equipe técnica, sendo possível desta forma é possível obter a sustentabilidade financeira.
O Programa Cultivando Água Boa reafirma a importância do desenvolvimento sustentável ao
Compreende-se que o CAB é um grande instrumento de tecnologia social, que preenche os estar aderente aos princípios de referências internacionais. Por meio de suas ações, o CAB
requisitos de simplicidade, aplicabilidade e fácil replicabilidade, com grande impacto social. Tra- melhora as condições socioambientais da região onde atua e exerce também um papel de lide-
duz-se, portanto, em um método originado para traçar soluções em qualquer cenário - seja na rança, ao compartilhar sua experiência com outras localidades, tornando-se referência em
BP3 ou qualquer região. gestão dos recursos hídricos.

resultados globais demandam institucionalização Nesse sentido, as ações do CAB estão diretamente relacionadas com os Objetivos de Desen-
volvimento Sustentável (ODS), pois vêm ao encontro da agenda pós 2015.
O CAB é um programa que vem demonstrando estar aberto a inovações e transformações.
Após uma sequência consagradora de prêmios nacionais e internacionais, poderia-se com- O CAB ainda pode se tornar um instrumento de aplicação para instituições e atores implanta-
preender que o Programa deve se estabilizar, permanecer como está. Porém, ao contrário, per- rem os ODS, visto que é um Programa completo, com forte capacidade de capilaridade, pois
cebe-se que o CAB e cada um dos programas e ações componentes vêm evoluindo, ampliando alcança 17 objetivos propostos nessa agenda. A contribuição do CAB para alcançar os ODS
seu espectro de atuação e se integrando mais fortemente, criando um sistema mais elaborado reforça seu papel e a importância da replicação do Programa nos mais diversos cenários.
e consistente.

Acredita-se que essa atitude e abertura à permanente mudança seja mais que uma característi-
ca de atuar, mas um de seus principais legados. O CAB conseguiu encontrar um modo prático e
concreto de construir um arranjo sistêmico consistente, que viabiliza uma permanente evolução
sem perder seus valores e sua resiliência diante dos desafios globais presentes.

Essa permanente evolução vem chamando a atenção de diversos organismos globais, como a
Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), que deu destaque
ao Programa no II Fórum Regional de Inovação para o Desenvolvimento Rural Sustentável,
em Santiago (Chile) em outubro de 2016, o que, em um segundo momento, resultará em um
curso de capacitação sobre a metodologia do CAB para líderes dos países da América Latina
e Caribe. “Essa capacitação irá estimular novas parcerias e acordos de cooperação na região”,
afirmou Nelton Friedrich.
Capitúlo 4

Conclui-se, assim, que o modelo de trabalho do CAB vem demonstrando resultados à agenda
global, convidando a um processo de institucionalização que mantenha seus princípios e valores
de base e garanta replicações consistentes em outros cenários.

O processo de institucionalização do CAB se justifica, também, por sua aptidão e oportuni-


dades para a replicabilidade, isto é, sua capacidade de ser inserido em outro contexto territorial,
cultural e social, respeitando as características inerentes, sem perder, contudo, a essência, os
princípios e os valores do Programa.

Ainda no plano da replicação, destaca-se a referência de Ban Ki-moon, ex-secretário da Or-


ganização das Nações Unidas (ONU), quanto ao mérito do Programa: “É uma iniciativa que
tem potencial para transformar a vida de milhões de pessoas, porque apresenta possibilidades
extraordinárias”.

Esse reconhecimento ocorreu na entrega do Prêmio Água para a Vida 2015, no qual o CAB
conquistou o primeiro lugar na categoria “Melhores Práticas em Gestão da Água”, concorren-
do com outras 40 iniciativas de todos os continentes.

86 Biodiversidade. 87
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Capítulo 5
CONTRIBUIÇÕES DO CAB
E SEU PAPEL COMO REFERÊNCIA

C
om base nesse novo estudo que conduziu análises e síntese do papel do CAB e de suas
possíveis contribuições de médio e longo prazo, caracteriza-se que o Programa CAB
como um Sistema Integrado sustentável é composto de três dimensões principais:

• Gestão integrada participativa;


• Consistência técnica com atuação continuada;
• Participação empreendedora dos atores.

A Gestão Integrada do CAB conseguiu reunir de forma participativa os mais diversos atores,
empoderando-os para que tomassem decisões conjuntas dentro dos seus territórios de atuação,
com implicações globais a todo o CAB. Esse modelo de gestão viabilizou reunir saberes das
mais diversas origens, além de promover representatividade e engajamento.

O CAB aproveitou toda a experiência técnica da Itaipu, fruto de décadas de estudos na BP3,
fazendo com que os programas componentes e propostas de trabalho tivessem consistência
técnica decorrentes de estudos científicos iniciados mesmo antes da formação do Lago da Itaipu.
Com o CAB, esses estudos foram multiplicados e aprofundados, dando margem a resultados
mais abrangentes e sustentáveis, que vêm sendo reconhecidos mundialmente a partir de certifi-
cações técnicas e premiações. Essa visão de longo prazo diferencia e sustenta o Programa.

Os beneficiados do Programa não se limitaram a aplicar as orientações técnicas


passadas pelos especialistas em suas áreas de atuação, eles foram além. Eles
complementaram técnicas, la­pidaram e integraram os saberes recebidos, com-
pondo-os com suas experiências. Construíram, assim, conhecimentos comple-
mentados e novas aplicações, ampliando as oportunidades proporcionadas pelo
Capitúlo 5

CAB e transformando-se em agentes de construção e multiplicação, a partir de


suas próprias atitudes e comportamentos. Essa participação empreendedora
dos atores do CAB pode ser comprovada em cada localidade estudada.

A partir de uma confluência sistêmica das três dimensões apontadas anterior-


mente, o CAB, de uma maneira mais simples possível, promove resultados em
um sistema de arranjo complexo por natureza. Mesmo diante desse desafio,
desde 2003, foram produzidos resultados ímpares, baseando-se em valores,
conceitos, metodologias e, sobretudo, na conjunção humana de relacionamen-
tos construtivos e empreendedores.

Conforme se demonstra a partir das informações quantitativas e qualitativas


levantadas e estudadas neste trabalho de pesquisa, ao longo de sua existência,
o CAB vem ampliando a área de conservação da água e do solo. Dessa forma,
ele provê instrumentos de longo alcance para promover sustentabilidade social,
ambiental e de recursos escassos para os anos vindouros, a partir da ética, do
cuidado e do respeito, integrados em uma construção humanizada do futuro
no presente.
Valorização do patrimônio.

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Cultivando saúde.

Conforme depoimentos e dados levantados O resultado de todo o trabalho desen-


ao longo de mais de mil horas de estudo, volvido no CAB pode ser sintetizado em
identificou-se uma rede de empreendedores um depoimento realizado por Nelton
sustentáveis materializando os preceitos Friedrich, na etapa final deste estudo:
preconizados nos Objetivos de Desenvolvi- “A complexidade atual demanda soluções
mento Sustentável (ODS). Entende-se simples e construídas de forma colabo-
dessa forma que o CAB tem um papel rativa, que viabilizem interconexões e a
importante na construção de um sistema criação de caminhos estabelecidos pelos
global sustentável. Por isso ele demanda próprios envolvidos, e não de forma ver-
uma institucionalização que torne possível tical e imperativa. A base de um programa
sua multiplicação consistente, contextua­ de sucesso deve ser seus valores, e não seus
lizada a cada ambiente de aplicação. resultados primários, retratados em métricas
rasas. Deve-se compreender o valor da criatividade
Espera-se que os laboratórios de multipli- e a reflexão permanente sobre as ações realizadas, en-
cação do CAB atualmente em curso possam volvendo diretamente todas as partes. Essa é a nossa vitamina
substanciar conceitos, processos, documen- permanente, que fez com que a cidadania florescesse e que, por fim, pudéssemos
tação administrativa e técnica e i­números construir tecnologias sociais consistentes e sustentáveis. Esse é o nosso modo de
outros conceitos físicos e culturais, baseados dialogar com os ODS”.
nos mesmos valores observados na BP3.
Valorização do patrimônio.
Atesta-se, a partir deste estudo de caso,
que construção de uma aldeia global sustentável, baseada na Agenda 2030, passa pelo estágio Conclui-se, desta forma, que a institucionalização do CAB é relevante e importante, pois viabi-
da construção gradual e progressiva de resultados a partir da aplicação concreta e realista de liza que a sua replicação seja feita de uma forma consistente e respeitosa aos valores dos locais
conceitos e filosofias aceitos. Conclui-se também, a partir das observações e estudos realizados em que venha a ser aplicada.
desde 2012, que os exemplos e modelos de trabalho proporcionados pelo CAB e detalhados
neste estudo podem colaborar para uma implementação realista da Agenda 2030, que neces-
sita concretizar-se no mundo real.

Reforça-se, dessa forma, a recomendação feita no estudo de caso anterior, de que o CAB
Capitúlo 5

Valorização do patrimônio.
seja utilizado como um possível modelo sistêmico para o alcance dos ODS, do Pacto Global,
PRME, da Carta da Terra e de outros objetivos globais, como o Acordo de Paris, aprovado em
12 de dezembro 2015 durante a 21ª sessão anual da Conferência das Partes (COP 21 - Confer-
ence of the Parties).

A partir das avaliações efetuadas, infere-se que o CAB pode ser um


modelo a ser reproduzido em empreendimentos sustentáveis,
se forem respeitadas as seguintes premissas: gerenciamen-
to sênior atuante de forma consonante com os princípios
e objetivos traçados; atuação integrada dos diversos
atores envolvidos; integração transdisciplinar dos
conhecimentos e saberes rele­ vantes; respeito à
equipe e aos atores envolvidos, para que se sintam
motivados a integrar genuinamente seus saberes;
e atitude ética.

90 4º Encontro Foz do Iguaçu. 91


ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
Capítulo 6
O PAPEL DESTE NOVO ESTUDO
E A SUA CONTRIBUIÇÃO

Por meio deste estudo, nós, pesquisadores-sênior do Instituto Superior de Administração e


Economia do Mercosul (ISAE), disponibilizamos um denso material, fruto de detalhado estudo
de longa duração, o qual acreditamos ser relevante à compreensão e ao encaminhamento de
temas críticos da atualidade, a partir de modelos que vêm se demonstrando eficazes para a
gestão de programas sustentáveis, conectados aos objetivos globais definidos nos ODS e no
Acordo de Paris, mesmo em cenários de grande complexidade.

Entendemos que este estudo, à semelhança do primeiro, está alinhado aos seis princípios do
PRME, promovendo Propósito (PRME Princípio 1); Valores (PRME Princípio 2); Metodologias
(PRME Princípio 3); Pesquisa que avança a compreensão de meios que promovam valores so-
ciais, ambientais e econômicos (PRME Princípio 4); material que viabiliza Parcerias e interação
entre gestores que estendem seus conhecimentos sobre os desafios ligados à sustentabilidade
e meios para superá-los (PRME Princípio 5) e a facilitação e o suporte ao Diálogo e ao debate
entre educadores, estudantes, administradores, governo, consumidores, mídia, organizações da
sociedade civil e outros grupos interessados em temas críticos relacionados à responsabilidade
social global e à sustentabilidade (PRME Princípio 6).

Alinhando este estudo aos seis princípios do PRME, compreendemos que ele provê uma
referência concreta para a gestão sustentável e a educação executiva responsável e que, so-
bretudo, contribui para o alcance dos objetivos globais estudados.

Dessa forma, reafirmamos nosso compromisso pessoal e institucional com a sustentabilidade


integrada e com a educação orientada por princípios e valores.
Capitúlo 6

Norman de Paula Arruda Filho


Rui Wagner Ribeiro Sedor
Fabiana Crivano
Cristina Pschera
Líria Rodrigues
Instituto Superior de Administração e Economia do Mercosul (ISAE)

92 93
ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
2010 2014
prêmios recebidos pelo cab
Prêmio ANA 7º Prêmio Ozires Silva de Empreendedorismo
Desde 2012, quando foi realizado o primeiro estudo de caso, o CAB seguiu uma trajetória de Concedente: Agência Nacional de Águas (ANA) Sustentável
reconhecimento obtendo uma série de prêmios. Este caminho de sucesso culminou em 2015 Concedente: Instituto Superior de Administração
com o prêmio UN Water for Life, concedido pela ONU na categoria “Melhores práticas em Clean Tech & New Energy e Economia (ISAE) e do Grupo Paranaense
gestão da água”. Concedente: Revista The New Economy de Comunicação (GRPCOM)
(Inglaterra)
Menção Honrosa pelo programa
2003 2007 Prêmio Chico Mendes Educação Ambiental
Concedente: Instituto Chico Mendes Categoria: Empreendedorismo Ambiental na
Troféu Dignidade Solidária Prêmio Benchmarking Ambiental Brasileiro
Concedente: REJUMA - Rede da Juventude pelo Educação (modalidade empresa de médio
Concedente: Centro Paranaense de Cidadania 2011 e grande porte)
(CEPAC) Meio Ambiente e Sustentabilidade
Americas Award 12º Benchmarking Ambiental Brasileiro
2004 Prêmio As Luzes da Água Concedente: Instituto das Nações Unidas para o
Concedente: Cannes Water Simposium Case “Coleta Solidária”
Treinamento e Pesquisa (UNITAR), em parceria Concedente: Programa Benchmarking Brasil
Prêmio FAE/FIEP de Responsabilidade Social (Cannes, França) com o Centro Internacional de Formação de Atores
Concedente: Faculdade Católica de Administração e Locais para a América Latina (CIFAL)
Economia (FAE) e pela Federação das Indústrias do 2008 2015
(Atlanta, Estados Unidos)
Estado do Paraná (FIEP) Cumbres de Guadarrama ed. 2014
Prêmio Destaque Nacional de
Prêmio Benchmarking Ambiental Brasileiro Concedente: Conselho de Meio Ambiente da
Prêmio Expressão de Ecologia Ambiental Responsabilidade Socioambiental Empresarial
Concedente: REJUMA - Rede da Juventude pelo Comunidade de Madri, Espanha.
Concedente: Editora Expressão Concedente: Instituto Ambiental Biosfera
Meio Ambiente e Sustentabilidade Categoria: Comportamento Ambiental Sustentável
2005 2009 (setor empresarial)
Prêmio 5 de Junho
Prêmio ECO Concedente: Instituto Negócios Públicos do Brasil Prêmio Water for Life 2015
Prêmio Carta da Terra (Earth Charter + 5)
Concedente: Earth Charter Iniciative Concedente: Câmara de Comércio Concedente: ONU Água.
Brasil-Estados Unidos (Amcham)
2012 Categoria: Melhores práticas em gestão da água
(Amsterdam - Holanda)
Prêmio Pintou Limpeza
Prêmio Zilda Arns de Responsabilidade Social Prêmio Von Martius de Sustentabilidade
Concedente: Grupo Estado
Concedente: Instituto Superior de Administração Concedente: Câmara de Comércio e Indústria
Categoria: Empresa cidadã
e Economia do Mercosul (ISAE/FGV) e ADVB-PR Brasil-Alemanha
Ranking Benchmarking Legítimos
Prêmio Expressão de Ecologia Ambiental Prêmio Benchmarking Ambiental Brasileiro
da Sustentabilidade
Concedente: Editora Expressão Concedente: REJUMA - Rede da Juventude pelo
Concedente: Mais Projetos Corporativos
Meio Ambiente e Sustentabilidade
e Instituto Mais
2006
Prêmio Brasil Meio Ambiente Categoria: Os melhores da década
Prêmio Fundação COGE Concedente: Companhia Brasileira de Multimídia
10º Benchmarking Ambiental Brasileiro
Concedente: Comitê de Gestão Empresarial (CBM)
1º lugar: case “Gestão por Bacias Hidrográficas”
Prêmio ABES e “Case da década”: Cultivando Água Boa
Concedente: Associação Brasileira de Engenharia Concedente: Programa Benchmarking Brasil
Sanitária e Ambiental
2013
11º Benchmarking Ambiental Brasileiro
2º lugar: case “Sustentabilidade Avá Guarani”
Concedente: Programa Benchmarking Brasil

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ISAE | estudo de caso cultivando água boa ISAE | estudo de caso cultivando água boa
material de subsídio

APREMAVI. (s/d). Sistemas Agroflorestais. Disponível em Apremavi, Associação de Preser-


vação do Meio Ambiente e da Vida:
http://www.apremavi.org.br/cartilha-planejando/como-fazer-sistemas-agroflorestais/

ARRUDA FILHO, N., & SEDOR, R. R. (2012). Estudo de Caso Cultivando Água Boa
Curitiba, PR, Brasil: ISAE/FGV.

INSTITUTO LIFE. (2015). Instituto Life. Disponível http://institutolife.org/2015.003/

ITAIPU BINACIONAL. (2003). Desenvolvimento Rural Sustentável. Disponível em


Itaipu Binacional: http://www.itaipu.gov.br/?q=node/2364

ITAIPU BINACIONAL. (2010). Biodiversidade: nosso patrimônio.


Disponível em http://www.itaipu.gov.br/index.php?q=node/295

ITAIPU BINACIONAL. (s/d.). Cultivo de tilápia aumentará em mais de três vezes renda de
pescadores. Disponível em Programa Cultivando Água Boa: http://www.cultivandoaguaboa.
com.br/noticias/cultivo-de-tilapia-aumentara-em-mais-de-tres-vezes-renda-de-pescadores

ITAIPU BINACIONAL. (s/d). GESTÃO POR BACIAS Territorialidade definida pela


própria natureza. Disponível em Cultivando Água Boa: http://www.
cultivandoaguaboa.com.br/acao/nivel-1/gestao-por-bacias

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. (s/d). PRONATEC. Disponível em Catálogo Nacional


de Cursos Técnicos - Eixo Tecnológico: Ambiente e Saúde: http://pronatec.
mec.gov.br/cnct/et_ambiente_saude_seguranca/t_reciclagem.php

SMITHSONIAN INSTITUTION. (2016). Disponível em: https://www.si.edu/

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