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Acórdão do Tribunal da Relação de Évora

Proc. 201/09.6JELSB.E2
Relator: MARTINHO CARDOSO
06/11/2018

(…) Proferiu esta Relação o acórdão de 21-6-2011 (…) Determinar, nos termos do
disposto no art.° 426.°, n.° 1, do Código de Processo Penal, o reenvio do processo para
novo julgamento apenas na parte necessária a apurar se entre os vários arguidos detidos
no âmbito da acção encoberta identificada no ponto 58 dos factos provados se contam os
arguidos destes autos; se for esse o caso, averiguar o desempenho do(s) agente(s)
infiltrado(s) em relação aos arguidos destes autos por forma a ser possível aferir, à luz
dos art.° 125.° e 126.° do Código de Processo Penal, da validade da prova assim
produzida, julgamento a efectuar pelo tribunal competente, nos termos do art.° 426.°-A
do CPP. — devendo o tribunal "a quo" para o efeito, no uso das faculdades conferidas
pelos art.° 3.°, n.° 6, e 4.°, n.° 1 e 4, da Lei n.° 101/2001, de 25-8, fazer juntar aos autos
o relatório confidencial da mencionada acção encoberta, bem como, se o achar
conveniente, inquirir o(s) agente(s) infiltrado (s) nos termos e com as cautelas previstas
no mencionado art.° 4.°, n.° 4 – ficando assim prejudicado o conhecimento das demais
questões suscitadas nos recursos.

Regressados os autos à 1.ª Instância e após algumas diligências que agora não interessa
ao caso especificar, foi a audiência adequadamente reaberta perante um colectivo de
juízas diferente do que compusera o tribunal anterior, finda a qual, foi elaborada a
seguinte peça processual: (…) Como determinado pelo Tribunal Superior, colheu-se nos
autos informação relativa à acção encoberta que teve lugar e cuja existência já se tinha
apurado no âmbito do julgamento anterior, incluindo o respectivo relatório final, tudo
constante de fls. 2806 a 2813 e 2855 a 2857. (…)

"(..) Passemos agora à análise da questão que atravessa verticalmente todos os recursos
interpostos nos presentes autos ( ..) a de o tribunal "a quo" ter prescindido da junção aos
autos do relato da intervenção do agente encoberto a que aludem os art.° 3. °, n.° 6 e 4.°
n.° 1, da Lei n.° 101/2001, de 25-8, insistente e reiteradamente solicitada pelos arguidos
desde a instrução. (...)
Assim e no caso dos autos, há, desde logo, que apurar se entre os vários arguidos detidos
no âmbito da acção encoberta identificada no ponto 58 dos factos provados se contam os
arguidos destes autos. Se não for esse o caso, o assunto morre aí. Se for, então terão que
ser averiguados os factos que permitam apreender a quem se ficou realmente a dever o
despoletar do início da situação, se foi por autodeterminação do arguido CA, como consta
do ponto 2 dos factos provados, ou se foi por sugestão de algum agente encoberto, como
aquele arguido e mais o CC alvitraram nas suas contestações e depois em audiência todos
defenderam.

Isto só será possível através da discussão em julgamento do relatório confidencial a que


alude o art. ° 3. ° n.° 6 e permitida pelo art.° 4. 0, n.° 1, e da inquirição do(s) agente(s)
encoberto(s) pela forma e com as cautelas referidas no art.° 4. 0, n.° 4, todos da Lei n.°
101/2001. (...)

(...) não havia para o tribunal "a quo" outro remédio senão o de mandar vir mesmo o
relatório confidencial da AE (...)

Não o tendo feito (..) essa omissão impossibilita este tribunal de recurso de apreciar se os
factos ocorridos em Espanha e que determinaram os arguidos à prática do ilícito se
integram ou não nos limites da acção encoberta mencionada no ponto 58 dos factos
provados, ou se constituem antes um meio proibido de fazer prova e se há arguidos que
deviam ser inocentados e outros com penas despropositadas (...)

O esclarecimento e conhecimento desses factos e situações tornaram-se fundamentais e


imprescindíveis. Esta patologia consubstancia o vício de insuficiência para a decisão da
matéria de facto provada a que alude o art. ° 410. 0, n.° 2 al. a), que é de conhecimento
oficioso. (--) (…)

Termos em que se decide anular, por omissão de pronúncia (art.º 379.º, n.º1, al.ª c) do
Código de Processo Penal) acórdão recorrido, proferido em 22-6-2017, o qual deve ser
substituído por outro, elaborado pelo mesmo colectivo que o produziu, no qual se
reformule o primeiro acórdão produzido pela 1.ª Instância, por forma a nele acrescentar
ao rol da matéria de facto assente como provada os factos como tal apurados neste
julgamento parcial agora realizado por força do reenvio (e fazendo referência a que tal
acrescento se deve ao resultado do reenvio), retocar a fundamentação da decisão da
matéria de facto em termos de justificar ter sido ou não a acção do agente encoberto uma
provocação para o cometimento do crime por banda dos arguidos e, de acordo com as
conclusões daí resultantes, desenvolver a argumentação jurídica adequada (a qual poderá
até ser a que já consta do acórdão primitivo) a absolver ou a manter ou a alterar, no todo
ou em parte, as condenações já proferidas.

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