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Universidade de Brası́lia

Departamento de Matemática

Cálculo 2
Lista de Exercı́cios – Módulo 1 – Lista 1 – Solução

1) Nem tudo o que sobe desce. De fato, podemos imaginar que uma pedra seja lançada de um
estilingue com uma velocidade tão grande que acabe escapando da atração gravitacional
da Terra. Para ver que isso pode ocorrer e para se ter uma idéia dessa velocidade, denote
por v0 a velocidade inicial, por m a massa e por x(t) a distância da pedra até o centro
da terra no instante t. Desconsiderando a resistência do ar, o corpo está sujeito apenas
à força gravitacional F = −m M G/x2 , em que G é constante, M é a massa da Terra e
R seu raio. Pela segunda lei de Newton, temos que
mM G
(∗) mx00 (t) = − .
x(t)2

a) Cancelando a massa m e multiplicando a equação (∗) por x0 (t),


obtemos que x0 (t) x00 (t) = −M G x0 (t)/x(t)2 . Integre ambos
os lados dessa equação e use as condições iniciais x(0) = R
h(t)
e x0 (0) = v0 para obter uma equação diferencial de primeira
ordem para x(t).
r
2M G
b) Mostre que, se v0 ≥ ve = , então a velocidade x0 (t) é R
R
sempre positiva. A constante ve é denominada a velocidade de
escape da Terra.

c) Quando v0 = ve , mostre que x(t) satisfaz uma equação diferen-


cial separável. Resolva essa equação e determine x(t) usando
que a posição inicial é x(0) = R.

Solução
a) Com a substituição v = x0 (t) obtemos dv = x00 (t)dt e

v2 x0 (t)2
Z Z
0 00
x (t) x (t) dt = v dv = +A= +A
2 2

Com a substituição x = x(t) obtemos dx = x0 (t)dt e

−M G x0 (t) −1
Z Z
MG MG
2
dt = M G 2
dx = +B = +B
x(t) x x x(t)

Assim
2M G
x0 (t)2 = +C
x(t)
onde C = 2(B − A). Usando que x(0) = R e x0 (0) = v0 , temos que v02 = 2M G/R + C,
de modo que C = v02 − 2M G/R. Segue que x(t) satisfaz a equação diferencial de
primeira ordem
2M G 2M G
x0 (t)2 = + v02 −
x(t) R

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b) Se v0 ≥ ve , então v02 − 2M G/R ≥ 0. Usando o item anterior, segue que
 
0 2 2M G 2 2M G
x (t) = + v0 − >0
x(t) R

uma vez que x(t) > 0. Como x0 (t)2 nunca se anula, segue que x0 (t) não se anula e,
portanto, não muda de sinal. Uma vez que x0 (0) = v0 > 0, segue que x0 (t) é sempre
positiva.
c) Se v0 = ve , então x(t) satisfaz a equação

2M G
x0 (t)2 =
x(t)

que é separável, de modo que podemos aplicar os passos:


Equilı́brios: Procurando soluções constantes x(t) = xeq , substituindo na EDO ob-
temos
2M G
0 = (xeq )02 =
xeq
portanto, não existem soluções de equilı́brio.
Separar: Multiplicando a equação acima por x(t), obtemos que

x(t)x0 (t)2 = 2M G

Como x0 (t) > 0 e x(t) > 0, podemos extrair a raiz para obter que
p √
x(t)x0 (t) = 2M G

que é uma equação separada para x(t).


Integrar: Integrando os dois lados da equação separada, fazendo a substituição
x = x(t), dx = x0 (t)dt no lado esquerdo obtemos

Z p Z
0 2 2
x(t)x (t) dt = x dx = x3/2 + A = x(t)3/2 + A
3 3
e no lado direito temos Z √ √
2M G dt = 2M G t + B

de modo que
3√
x(t)3/2 = 2M G t + C
2
Fazendo t = 0 obtemos que C = R3/2 .
Isolar: Isolando x(t), obtemos que
2/3
3√

x(t) = 2M G t + R3/2
2

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2) Um dos primeiros desafios da fı́sica atômica foi explicar a longa vida do átomo mais
simples: o átomo de hidrogênio. Segundo experiências iniciais conduzidas por Rutherford
entre 1909 e 1911, o átomo de hidrogênio consiste de um életron de carga −q e massa
pequena orbitando por atração eletromagnética ao redor de um núcleo de carga q e massa
grande. De acordo com o eletromagnetismo clássico, uma carga acelerada irradia energia:
esse é o princı́pio do funcionamento de antenas. Desse modo, se o elétron orbitasse ao
redor do núcleo segundo as leis da fı́sica clássica, ele perderia energia à cada revolução e,
num movimento espiral, eventualmente colidiria com o núcleo.

q r −q

O átomo de hidrogênio poderia ser compreendido dessa maneira se esse tempo de colisão
fosse grande o suficiente para ser compatı́vel com a longa vida do átomo de hidrogênio
observada na natureza: a chamada estabilidade do átomo de hidrogênio. O propósito
desse exercı́cio é mostrar que esse tempo de colisão seria muito pequeno, mostrando que
a fı́sica clássica não explica o movimento do elétron ao redor do núcleo do átomo de
hidrogênio nem sua estabilidade.
Seja r(t) a distância entre o elétron e o núcleo, onde t é medido em segundos. Em
unidades adequadas, a energia mecânica do elétron é

1 q2
E(t) = mv(t)2 −
2 r(t)

onde m é a massa do elétron e −q 2 /r(t) é o potencial da força de Coulumb entre entre as


cargas −q e q. Aproximando cada revolução da órbita espiral do elétron por uma órbita
circular de raio r(t), temos que o elétron possui aceleração centrı́peta dada por

v(t)2
a(t) =
r(t)

Igualando a força centrı́peta ma(t) com a força de Coulumb entre as cargas −q e q


obtemos que
v(t)2 q2
(∗) ma(t) = m =
r(t) r(t)2

a) Substitua (∗) na energia E(t) e mostre que a energia mecânica do elétron é dada por
q2 1
E(t) = − . A partir disso, obtenha a taxa E 0 (t) em que o elétron perde energia.
2 r(t)
b) Uma carga q com aceleração a(t) irradia energia à taxa dada pela Lei de Lamour do
eletromagnetismo clássico
2 q2
P (t) = − 3 a(t)2
3c
onde c é a velocidade da luz. Substituindo (∗) em P (t) obtenha a taxa com que o
elétron perde energia em função do raio r(t) da órbita do elétron. Igualando isso com
E 0 (t) do item anterior obtenha uma EDO para r(t).

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c) Mostre que a EDO do item anterior é separável e obtenha a solução r(t) com condição
inicial s(0) = r0 .
d) Encontre o instante t tal que r(t) = 0, que é o tempo de colisão entre o elétron clássico
e o núcleo. Usando as ordens de grandeza das constantes nas unidades adotadas

m = 10−27 c = 1010 q = 10−10 r0 = 10−9

mostre que a ordem de grandeza de t é de 10−11 /4 segundos.

Solução
a) Multiplicando (∗) por r(t)/2 obtemos

v 2 (t) 1 q2
m =
2 2 r(t)

substituindo isso em E(t) obtemos

1 q2 q2 q2 1
E(t) = − =−
2 r(t) r(t) 2 r(t)
de modo que 0
q2 q 2 −1 0 q 2 r0 (t)

0 1
E (t) = − =− r (t) =
2 r(t) 2 r(t)2 2 r(t)2
b) Dividindo (*) por m obtemos

1 q2
(∗) a(t) =
m r(t)2

substituindo isso em P (t) obtemos


2
2 q2 1 q2 2 q6

1
P (t) = − 3 =−
3c m r(t)2 3 c3 m2 r(t)4

Igualando E 0 (t) do item anterior com isso obtemos

q 2 r0 (t) 2 q6 1
2
= −
2 r(t) 3 c m r(t)4
3 2

de modo que
4 q4 1
r0 (t) = −
3 c m r(t)2
3 2

que é uma EDO de primeira ordem para r(t).


c) A EDO
4 q4 1
r0 (t) = −
3 c m r(t)2
3 2

é separável, de modo que podemos aplicar os passos:


Equilı́brios: Procurando soluções constantes r(t) = req , substituindo na EDO obte-
mos
4 q4 1
0 = (req )0 = − 3 2 2
3 c m req
portanto, não existem soluções de equilı́brio.

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Separar: Multiplicando a equação acima por r2 (t), obtemos que

4 q4
r2 (t)r0 (t) = −
3 c3 m2
que é uma equação separada para r(t).
Integrar: Integrando os dois lados da equação separada, fazendo a substituição
r = r(t), dr = r0 (t)dt no lado esquerdo obtemos

r3 r(t)3
Z Z
2 0 2
r (t)r (t) dt = r dr = +A= +A
3 3
e no lado direito temos
4 q4 4 q4
Z
− dt = − t+B
3 c3 m2 3 c3 m2
de modo que
r3 (t) 4 q4
= − 3 2t + C
3 3c m
Isolar: Isolando r(t), obtemos que
r
3 q4
r(t) = −4 t+D
c3 m 2
é a solução geral. Fazendo t = 0 temos que

3
r0 = D =⇒ D = r03

e então r
3 q4
r(t) = r03 − 4 t
c3 m2
é a solução do PVI.
d) Pelo item anterior, temos que r(t) = 0 quando

q4 m2 c3 r03
r03 − 4 t=0 =⇒ t=
c3 m2 4q 4
Usando as ordens de grandezas dadas,

m = 10−27 c = 1010 q = 10−10 r0 = 10−9

temos que a ordem de grandeza de t é

10−54 × 1030 × 10−27 10−51 10−11


t= = =
4 × 10−40 4 × 10−40 4
segundos.

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3) Numa reação quı́mica do tipo X + Y → Z, a taxa de crescimento da concentração de Z
é proporcional ao produto das concentrações de X e Y . Como a massa total do sistema
se conserva, essas concentrações são proporcionais às respectivas quantidades, de modo
que a taxa de formação de Z é proporcional ao produto das quantidades remanescentes
de X e Y . Supondo que 1g de X combina com 3g de Y para formar 4g de Z e denotando
por q(t) a quantidade de Z no instante t, temos que q(t)/4 corresponde à quantidade
consumida de X e 3 q(t)/4 corresponde à quantidade consumida de Y . Supondo que
existem inicialmente 50 g de X e 33 g de Y , as quantidades remanescentes de X e Y após
t segundos são, respectivamente, 50 − q(t)/4 e 33 − 3 q(t)/4. Com essas considerações,
temos que a taxa de formação do composto Z é dada por
  
0 q(t) 3q(t)
q (t) = k 50 − 33 − = K(200 − q(t))(44 − q(t))
4 4

onde k e K são constantes positivas.

a) Determine q(t) usando que a quantidade inicial de Z é q(0) = 0.


b) Determine o que acontece com a quantidade q(t) após muito tempo decorrido, calcu-
lando o limite lim q(t). Sobrará algum reagente após muito tempo decorrido?
t→∞

Solução
a) A equação acima é separável, de modo que podemos aplicar os passos:
Equilı́brios: Procurando soluções constantes q(t) = qeq , substituindo na EDO obte-
mos
0 = (qeq )0 = K(200 − qeq )(44 − qeq )
portanto, existem duas soluções de equilı́brio

q1 (t) = 200 q2 (t) = 44

Separar: Essa EDO é separável, pois é equivalente à seguinte equação separada

q 0 (t)
=K
(200 − q(t))(44 − q(t))

Integrar: Integrando os dois lados, obtemos que

q 0 (t)
Z  Z Z
1
dq = dt = K dt
(200 − q)(44 − q) q=q(t) (200 − q(t))(44 − q(t))

onde na primeira igualdade usamos a substituição q = q(t), de modo que dq = q 0 (t)dt.


Para resolver a integral Z
1
dq
(200 − q)(44 − q)
vamos utilizar o método das frações parciais. Para isso, devemos escrever
1 A B
= +
(200 − q)(44 − q) 200 − q 44 − q

determinando as constantes A e B. Multiplicando os dois lado por (200 − q)(44 − q),


obtemos que
1 = A(44 − q) + B(200 − q)

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que pode ser escrita como uma igualdade dos polinômios
0q + 1 = (−A − B)q + 44A + 200B
de modo que que −A − B = 0 e que 44A + 200B = 1. Segue então que A = −1/156
e B = 1/156, de modo que
Z Z Z
1 1 1 1 1
dq = − dq + dq
(200 − q)(44 − q) 156 200 − q 156 44 − q
Integrando cada um dos termos dessa soma e utilizando a propriedades do logaritmo,
segue que
Z
1 1 1
dq = log(|200 − q|) − log(|44 − q|) + R
(200 − q)(44 − q) 156 156
 
1 200 − q
= log +R
156 44 − q
Substituindo esse resultado na equação
Z  Z
1
dq = K dt
(200 − q)(44 − q) q=q(t)

obtemos que  
1 200 − q(t)
log + R = Kt + S.
156 44 − q(t)
onde usamos que usando que 200 − q(t) > 0 e 44 − q(t) > 0.
Isolar: Passando R subtraindo para o lado direito da equação, multiplicando por 156
e aplicando a exponencial, segue que
200 − q(t)
= e156Kt+C = De156Kt
44 − q(t)
onde C = 156(S − R) e D = eC são constantes arbitrárias. Calculando a equação
acima em t = 0 e usando que q(0) = 0, obtemos que
200
D= ,
44
de modo que
200 − q(t) 200 156Kt
= e
44 − q(t) 44
Da equação acima, segue que
44(200 − q(t)) = 200(44 − q(t))e156Kt
de modo que, isolando q(t), obtemos que
8800e156Kt − 8800
q(t) =
200e156Kt − 44
é a solução com quantidade inicial q(0) = 0 da substância Z.
b) Como aparece uma indeterminação do tipo ∞/∞, podemos aplicar L’Hospital para
calcular o limite
8800(156Ke156Kt ) 8800
lim q(t) = lim 156Kt
= lim = 44
t→∞ t→∞ 200(156Ke ) t→∞ 200

A quantidade remanescente dos reagentes X e Y após muito tempo decorrido é dada,


respectivamente, pelos limites
lim 50 − q(t)/4 = 39, lim 33 − 3q(t)/4 = 0
t→∞ t→∞

mostrando que sobraram 39g de reagente X e 0g de reagente Y .

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4) Podemos modelar a produção de iogurte através do modelo logı́stico, onde uma população
p(t) de bactérias cresce transformando uma quantidade L(t) de leite em iogurte. Segundo
esse modelo, a taxa de reprodução da população por bactéria p0 (t)/p(t) é proporcional
à taxa de consumo de leite por bactéria −L0 (t)/p(t), que é proporcional à concentração
de leite, que por sua vez é proporcional a L(t), uma vez que a massa total do sistema se
conserva. Deste modo, existem constantes positivas a e b tais que

p0 (t) L0 (t)
(∗) = −a = bL(t)
p(t) p(t)

a) Utilizando a equação (∗), verifique que L0 (t) = − a1 p0 (t). Integrando essa equação e
utilizando as condições iniciais p(0) = p0 e L(0) = L0 , mostre que L(t) = a1 (c − p(t)),
onde c = aL0 + p0 .
b) Substituindo a expressão de L(t) obtida no item anterior na equação (∗), verifique
b
que p0 (t) = p(t)(c − p(t)), denominada equação logı́stica.
a
c) Determine p(t) usando que a população inicial é p(0) = p0 .
d) Determine o que acontece com a população p(t) após muito tempo decorrido, calcu-
lando o limite lim p(t).
t→∞

Solução
p0 (t) L0 (t)
a) Uma vez que, pela equação (∗), = −a , obtemos a expressão desejada
p(t) p(t)
cancelando p(t) e isolando L0 (t). Integrando a equação L0 (t) = − a1 p0 (t), obtemos que

1
L(t) = − p(t) + C
a
Utilizando as condições iniciais p(0) = p0 e L(0) = L0 , obtemos que C = L0 + p0 /a,
de modo que
1
L(t) = (c − p(t))
a
onde c = aL0 + p0 .
b) Pela equação (∗) e pelo item anterior, temos que

p0 (t) b
= bL(t) = (c − p(t))
p(t) a

de modo que
b
p0 (t) = p(t)(c − p(t))
a
c) A equação acima é separável, de modo que podemos aplicar os três passos:
Equilı́brios: Procurando soluções constantes p(t) = peq , substituindo na EDO obte-
mos
b
0 = (peq )0 = peq (c − peq )
a
portanto, existem duas soluções de equilı́brio

p1 (t) = 0 p2 (t) = c

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Separar: Essa EDO é equivalente à seguinte equação separada

p0 (t) b
=
p(t)(c − p(t)) a

Integrar: Integrando os dois lados, obtemos que

p0 (t)
Z  Z Z
1 b
dp = dt = dt
p(c − p) p=p(t) p(t)(c − p(t)) a

onde na primeira igualdade usamos a substituição p = p(t), de modo que dp = p0 (t)dt.


Para resolver a integral Z
1
dp
p(c − p)
vamos utilizar o método das frações parciais. Para isso, devemos escrever

1 A B
= +
p(c − p) p c−p

determinando as constantes A e B. Multiplicando os dois lado por p(c − p), obtemos


que
1 = A(c − p) + Bp
que pode ser escrita como uma igualdade dos polinômios

0p + 1 = (B − A)p + Ac

de modo que B − A = 0 e que Ac = 1. Segue então que A = B = 1/c, de modo que


Z Z Z
1 1 1 1 1
dp = dp + dp
p(c − p) c p c c−p

Integrando cada um dos termos dessa soma e utilizando a propriedades do logaritmo,


segue que
Z
1 1 1
dp = log(|p|) − log(|c − p|) + R
p(c − p) c c
 
1 p
= log +R
c c − p

Substituindo esse resultado na equação


Z  Z
1 b
dp = dt
p(c − p) p=p(t) a

obtemos que  
1 p(t) b
log +R= t+S
c c − p(t) a
onde usamos que p(t) > 0 e c − p(t) > 0.
Isolar: Passando R subtraindo para o lado direito da equação, multiplicando por c
e aplicando a exponencial, segue que

p(t) cb cb
= e a t+C = De a t
c − p(t)

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onde C = c(S − R) e D = eC são constantes arbitrárias. Calculando a equação acima
em t = 0 e usando a condição inicial p(0) = p0 , obtemos que
p0
D=
c − p0
de modo que
p(t) p0 cb
= eat
c − p(t) c − p0
Da equação acima, segue que
cb
p(t)(c − p0 ) = (c − p(t))p0 e a t

de modo que, isolando p(t), obtemos que a solução geral é


cb
cp0 e a t
p(t) = cb
c − p0 + p0 e a t

Se p0 = c obtemos a solução de equilı́brio p(t) = c e se p0 = 0 obtemos a solução de


equilı́brio p(t) = 0.
d) Como aparece uma indeterminação do tipo ∞/∞, podemos aplicar L’Hospital para
calcular o limite cb
cp0 cba e a t c
lim p(t) = lim cb = lim = c
t→∞ t→∞ p cb t t→∞ 1
0aea

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Cálculo 2
Lista de Exercı́cios – Módulo 1 – Lista 2 – Solução

1) Considere um circuito RC onde a força eletromotriz é uma constante E, a capacitância é


uma constante C e a resistência aumenta linearmente, de modo que R = R0 + at. Temos
que as quedas de tensão no capacitor e na resistência são dadas, respectivamente, por
Cq(t) e Rq 0 (t), onde q(t) é a carga no capacitor. A segunda Lei de Kirchoff diz que a
soma das quedas de tensão num circuito é igual à força eletromotriz.
a) Mostre que a carga q(t) satisfaz uma equação da forma
q 0 (t) + p(t)q(t) = g(t). Mostre também que a carga cons-
tante q(t) = E C
é uma solução, conhecida como carga esta-
cionária.
R
Para os próximos itens considere E = 12, C = 6, R0 = 1,
a = 2.

b) Encontre uma primitiva P (t) de p(t) e determine eP (t) e


E
também e−P (t) .
q(t)
c) Obtenha a solução geral q(t) da equação determinada no
primeiro item.
C
d) Determine a solução com carga inicial q(0) = q0 . Mostre
que, para qualquer carga inicial, após muito tempo decor-
rido a carga q(t) se aproxima da carga estacionária, isto é,
mostre que lim q(t) = E C
= 2.
t→∞

Solução
a) Pela segunda Lei de Kirchoff temos que

(R0 + at)q 0 (t) + Cq(t) = E

Dividindo essa equação por R0 + at, segue que


C E
q 0 (t) + q(t) =
R0 + at R0 + at
que é uma equação diferencial linear de primeira ordem da forma

q 0 (t) + p(t)q(t) = g(t),

onde
C E
p(t) = e g(t) =
R0 + at R0 + at
Se q(t) = E
C
então q 0 (t) = 0 e então
C E
q 0 (t) + p(t)q(t) = = g(t)
R0 + at C
E
mostrando que q(t) = C
é uma solução.

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b) Usando os valores adotados das constantes, temos que
6
p(t) =
1 + 2t
de modo que
Z Z 
6 6 1
dt = dx = 3 log(1 + 2t) + A
1 + 2t 2 x x=1+2t

onde usamos que a resistência R = 1 + 2t é sempre positiva. Podemos então escolher


P (t) = 3 log(1 + 2t) = log((1 + 2t)3 )
de modo que
3
eP (t) = elog((1+2t) ) = (1 + 2t)3
e que
e−P (t) = (eP (t) )−1 = (1 + 2t)−3
c) A solução geral é dada por
q(t) = c(t)e−P (t)
onde Z
c(t) = g(t)eP (t) dt
Temos
Z
12
c(t) = (1 + 2t)3 dt
1 + 2t
Z
= 12 (1 + 2t)2 dt
Z 
12 2
= x dx
2 x=1+2t
1
= 6 (1 + 2t)3 + B
3
= 2(1 + 2t)3 + B
Segue que a solução geral é dada por
q(t) = c(t)(1 + 2t)−3
de modo que
q(t) = 2 + B(1 + 2t)−3
d) Em t = 0 temos
q0 = q(0) = 2 + B
isolando B obtemos que
B = q0 − 2,
de modo que
q(t) = 2 + (q0 − 2)(1 + 2t)−3
é a solução com carga inicial q(0) = q0 . Uma vez que
lim (1 + 2t)−3 = 0
t→∞

pois é um limite do tipo limitado/infinito, segue que


lim q(t) = 2 + (q0 − 2) lim (1 + 2t)−3 = 2
t→∞ t→∞

mostrando que esse limite não depende da carga inicial q0 e coincide com a carga
estacionária 2.

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2) Considere um circuito RC onde a força eletromotriz é alternada, de modo que E =
E0 cos(t), a capacitância é uma constante C e a resistência aumenta linearmente, de
modo que R = R0 + at. Temos que as quedas de tensão no capacitor e na resistência
são dadas, respectivamente, por Cq(t) e Rq 0 (t), onde q(t) é a carga no capacitor. A
segunda Lei de Kirchoff diz que a soma das quedas de tensão num circuito é igual à força
eletromotriz.
a) Mostre que a carga q(t) satisfaz uma equação da forma
q 0 (t) + p(t)q(t) = g(t).
R
Para os próximos itens considere E0 = 220, C = 2, R0 = 1,
a = 2.

b) Encontre uma primitiva P (t) de p(t) e determine eP (t) e


também e−P (t) . E

c) Obtenha a solução geral q(t) da equação determinada no q(t)


primeiro item.

d) Determine a solução com carga inicial q(0) = q0 . Mostre C


que lim q(t) = 0, mostrando que esse limite não depende
t→∞
da carga inicial q0 .

Solução
a) Pela segunda Lei de Kirchoff temos que
(R0 + at)q 0 (t) + Cq(t) = E
Dividindo essa equação por R0 + at, segue que
C E0 cos(t)
q 0 (t) + q(t) =
R0 + at R0 + at
que é uma equação diferencial linear de primeira ordem da forma
q 0 (t) + p(t)q(t) = g(t)
onde
C E0 cos(t)
p(t) = e g(t) =
R0 + at R0 + at
b) Usando os valores adotados das constantes, temos que
2
p(t) =
1 + 2t
de modo que
Z Z 
2 2 1
dt = dx = log(1 + 2t) + A,
1 + 2t 2 x x=1+2t

onde usamos que a resistência R = 1 + 2t é sempre positiva. Podemos então escolher


P (t) = log(1 + 2t)
de modo que
eP (t) = elog(1+2t) = 1 + 2t
e que
1 1
e−P (t) = =
eP (t) 1 + 2t

Página 13 de 58
c) A solução geral é dada por
q(t) = c(t)e−P (t) ,
onde Z
c(t) = g(t)eP (t) dt

Temos
Z
220 cos(t)
c(t) = (1 + 2t) dt
1 + 2t
Z
= 220 cos(t) dt
= 220 sen(t) + B.

Segue que a solução geral é dada por


1
q(t) = c(t)
1 + 2t
de modo que
220 sen(t) + B
q(t) =
1 + 2t
d) Em t = 0 temos
q0 = q(0) = B
de modo que
220 sen(t) + q0
q(t) =
1 + 2t
é a solução com carga inicial q(0) = q0 . Segue então que

220 sen(t) + q0
lim q(t) = lim =0
t→∞ t→∞ 1 + 2t
pois é um limite do tipo limitado/infinito, mostrando que esse limite não depende da
carga inicial q0 .

Página 14 de 58
3) Considere um circuito RC onde a força eletromotriz é uma constante E = 12, a capa-
citância é dada por C = cos(t) + 2 e a resistência é dada por R = sen(t) + 2t + 1. Temos
que as quedas de tensão no capacitor e na resistência são dadas, respectivamente, por
Cq(t) e Rq 0 (t), onde q(t) é a carga no capacitor. A segunda Lei de Kirchoff diz que a
soma das quedas de tensão num circuito é igual à força eletromotriz.
a) Mostre que a carga q(t) satisfaz uma equação da forma
q 0 (t) + p(t)q(t) = g(t). R

b) Encontre uma primitiva P (t) de p(t) e determine eP (t) e


também e−P (t) .

c) Obtenha a solução geral q(t) da equação determinada no E


primeiro item. q(t)
d) Determine a solução com carga inicial q(0) = q0 . Mostre
que lim q(t) = 6, mostrando que esse limite não depende C
t→∞
da carga inicial q0 .

Solução
a) Pela segunda Lei de Kirchoff temos que

( sen(t) + 2t + 1)q 0 (t) + (cos(t) + 2)q(t) = 12

Dividindo essa equação por R0 + at, segue que


cos(t) + 2 12
q 0 (t) + q(t) =
sen(t) + 2t + 1 sen(t) + 2t + 1
que é uma equação diferencial linear de primeira ordem da forma

q 0 (t) + p(t)q(t) = g(t),

onde
cos(t) + 2 12
p(t) = e g(t) =
sen(t) + 2t + 1 sen(t) + 2t + 1
b) Usando os valores adotados das constantes, temos que

cos(t) + 2
p(t) = ,
sen(t) + 2t + 1
de modo que
Z Z 
cos(t) + 2 1
dt = dx = log( sen(t) + 2t + 1) + A
sen(t) + 2t + 1 x x= sen(t)+2t+1

onde usamos que a resistência R = sen(t) + 2t + 1 é sempre positiva. Podemos então


escolher
P (t) = log( sen(t) + 2t + 1)
de modo que
eP (t) = elog( sen(t)+2t+1) = sen(t) + 2t + 1
e que
1 1
e−P (t) = =
eP (t) sen(t) + 2t + 1

Página 15 de 58
c) A solução geral é dada por
q(t) = c(t)e−P (t)
onde Z
c(t) = g(t)eP (t) dt

Temos
Z
12
c(t) = ( sen(t) + 2t + 1) dt
sen(t) + 2t + 1
Z
= 12 dt
= 12t + B

Segue que a solução geral é dada por


1
q(t) = c(t)
sen(t) + 2t + 1

de modo que
12t + B
q(t) =
sen(t) + 2t + 1
d) Em t = 0 temos
q0 = q(0) = B
de modo que
12t + q0
q(t) =
sen(t) + 2t + 1
é a solução com carga inicial q(0) = q0 . Segue então que

12t + q0 12 + q0 /t 12
lim q(t) = lim = lim = =6
t→∞ t→∞ sen(t) + 2t + 1 t→∞ sen(t)/t + 2 + 1/t 2

mostrando que esse limite não depende da carga inicial q0 .

Página 16 de 58
4) Num foguete, se o empuxo é uma constante d, a taxa de variação de sua massa é constante,
de modo que m(t) = m0 −at. Se o foguete não atinge uma altura muito elevada, podemos
supor que gravidade é uma constante g e que a força de arraste do ar é dada por −bv(t),
proporcional à velocidade v(t) do foguete. Segue que a força que atua no foguete é dada
por
F = −m(t)g − bv(t) + d.
Neste caso, a segunda Lei de Newton é dada por (m(t)v(t))0 = F .
a) Mostre que v(t) satisfaz uma equação da forma v 0 (t)+p(t)v(t) = g(t). d
Para os próximos itens considere g = 10, b = 1, d = 100, m0 = 1,
a = 2.

b) Encontre uma primitiva P (t) de p(t) e determine eP (t) e também


e−P (t) .
−bv(t)
c) Obtenha a solução geral v(t) da equação determinada no primeiro −m(t)g
item.

d) Determine a solução v(t) com velocidade inicial v(0) = 0. Para que


valores de t ≥ 0 a velocidade v(t) está definida?

Solução

a) Temos que

(m(t)v(t))0 = m0 (t)v(t) + m(t)v 0 (t) = −av(t) + (m0 − at)v 0 (t)

e que a força resultante é dada por

F = −m(t)g − bv(t) + d = −(m0 − at)g − bv(t) + d.

Pela segunda Lei de Newton segue que v(t) satisfaz

−av(t) + (m0 − at)v 0 (t) = −(m0 − at)g − bv(t) + d

de modo que
(m0 − at)v 0 (t) + (b − a)v(t) = −(m0 − at)g + d.
Dividindo essa equação por m0 − at, segue que

b−a d
v 0 (t) + v(t) = −g + ,
m0 − at m0 − at

que é uma equação diferencial linear de primeira ordem da forma

v 0 (t) + p(t)v(t) = g(t),

onde
b−a d
p(t) = e g(t) = −g + .
m0 − at m0 − at
b) Usando os valores adotados das constantes, temos que

1
p(t) = − ,
1 − 2t

Página 17 de 58
de modo que
Z 
−1
Z
1 1 1
− dt = dx = log(1 − 2t) + A,
1 − 2t −2 x x=1−2t 2

onde estamos usando que a massa 1 − 2t é sempre positiva. Podemos então escolher
1
P (t) = log(1 − 2t) = log((1 − 2t)1/2 ),
2
de modo que
1/2 )
eP (t) = elog((1−2t) = (1 − 2t)1/2 .
e que
e−P (t) = (eP (t) )−1 = (1 − 2t)−1/2 .
c) A solução geral é dada por
v(t) = c(t)e−P (t) ,
onde Z
c(t) = g(t)eP (t) dt.

Temos
Z  
100
c(t) = −10 + (1 − 2t)1/2 dt
1 − 2t
Z Z
1/2 1
= −10 (1 − 2t) dt + 100 dt
(1 − 2t)1/2
Z  Z 
−10 1/2 100 −1/2
= x dx + x dx
−2 x=1−2t −2 x=1−2t
10 2 100
= (1 − 2t)3/2 − 2(1 − 2t)1/2 + B
2 3 2
10
= (1 − 2t)3/2 − 100(1 − 2t)1/2 + B.
3
Segue que a solução geral é dada por

v(t) = c(t)(1 − 2t)−1/2 ,

de modo que
10
v(t) = −100 + (1 − 2t) + B(1 − 2t)−1/2 .
3
d) Em t = 0 temos
10
0 = v(0) = −100 + + B,
3
isolando B obtemos que
10 290
B = 100 − = .
3 3
Segue que
10 290
v(t) = −100 + (1 − 2t) + (1 − 2t)−1/2 ,
3 3
é a solução que satisfaz v(0) = 0. Pela forma de v(t), para que ela esteja definida,
devemos ter 1−2t > 0. Assim v(t) está definida para t em [0, 1/2), que é precisamente
o intervalo onde a massa do foguete é positiva.

Página 18 de 58
5) Vamos investigar a dinâmica, num dado paı́s, da relação entre a renda Y (t) produzida
no tempo t e o capital K(t) acumulado até o tempo t através do famoso modelo de
Solow-Swan. Temos que a renda é dada por uma função Cobb-Douglas do capital e do
trabalho, de modo que
Y (t) = AK(t)a L(t)1−a
e que o capital se acumula por uma taxa de poupança contante positiva s e se deprecia
a uma taxa constante positiva d, de modo que

K 0 (t) = sY (t) − dK(t)

Denotando a renda e o capital per capita, respectivamente, por y(t) = Y (t)/L(t) e por
k(t) = K(t)/L(t), a taxa de crescimento do trabalho por l(t) = L0 (t)/L(t), a razão
riqueza pela renda no tempo t por β(t) = K(t)/Y (t) = k(t)/y(t) e o seu limite quando t
tende por infinito por β, responda os seguintes itens.

a) Mostre que k 0 (t) = K 0 (t)/L(t) − l(t)k(t).


b) Use o item anterior para mostrar que k 0 (t) = sy(t) − (l(t) + d)k(t).
c) Mostre que β(t) = k(t)1−a /A e conclua que β 0 (t) = (1 − a)k 0 (t)/y(t).
d) Use os itens anteriores para mostrar que β 0 (t)/(1 − a) = s − (l(t) + d)β(t).
e) Supondo que l(t) = g constante e que β(0) = β0 , mostre que
 
s s
β(t) = + β0 − e−(1−a)(g+d)t
g+d g+d

s
f ) Conclua que β = .
g+d

Solução

a) Pelas regras da derivada do produto e da cadeia, temos que


0
k 0 (t) = K(t)L(t)−1
= K 0 (t)L(t)−1 − L(t)−2 L0 (t)K(t)
K 0 (t) L0 (t) K(t)
= −
L(t) L(t) L(t)
0
K (t)
= − l(t)k(t)
L(t)

b) Dividindo a segunda equação do enunciado por L(t), temos que

K 0 (t)
= sy(t) − dk(t)
L(t)

Usando o item anterior, segue que

k 0 (t) + l(t)k(t) = sy(t) − dk(t)

que é equivalente a
k 0 (t) = sy(t) − (l(t) + d)k(t)

Página 19 de 58
c) Temos que

Y (t) AK(t)a L(t)1−a


y(t) = = = AK(t)a L(t)−a = Ak(t)a
L(t) L(t)

de modo que
k(t) k(t) k(t)1−a
β(t) = = =
y(t) Ak(t)a A
Derivando essa expressão, segue que

(1 − a)k(t)−a k 0 (t) k 0 (t) k 0 (t)


β 0 (t) = = (1 − a) = (1 − a)
A Ak(t)a y(t)

d) Dividindo a equção obtida no segundo item por y(t), obtemos que

k 0 (t)
= s − (l(t) + d)β(t)
y(t)

Usanso o item anterior, segue que

β 0 (t)
= s − (l(t) + d)β(t)
1−a

e) A equação do item anterior é equivalente à EDO linear

β 0 (t) + (1 − a)(l(t) + d)β(t) = (1 − a)s

onde
p(t) = (1 − a)(l(t) + d) e g(t) = (1 − a)s
Supondo que l(t) = g constante, temos que

P (t) = (1 − a)(g + d)t

e que
Z Z
P (t) s (1−a)(g+d)t
c(t) = g(t)e dt = (1 − a)se(1−a)(g+d)t dt = e +c
g+d
de modo que a solução geral é dada por
s
β(t) = c(t)e−P (t) = + ce−(1−a)(g+d)t
g+d

Supondo que β(0) = 0, obtemos que


s
β0 = +c
g+d
mostrando que  
s s
β(t) = + β0 − e−(1−a)(g+d)t
g+d g+d
s
f ) Evidentemente β = lim β(t) = .
t→∞ g+d

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Universidade de Brası́lia
Departamento de Matemática

Cálculo 2
Lista de Exercı́cios – Módulo 1 – Lista 3 – Solução

1) A temperatura de equilı́brio T (P ) em um ponto P y


de uma chapa circular feita com um material uni-
P
forme pode ser escrita em função das coordenadas r θ
polares (r, θ) de P , onde r é a distância entre o R
ponto P e a origem O e θ é o ângulo formado en-
O x
tre o eixo x e o segmento OP . Temos que θ varia
em [0, 2π] e que r varia em [0, R], onde R é o raio
da chapa. Note que o conjunto dos pontos tais que
r é constante formam uma circunferência.
Escrevendo a temperatura em P como produto de duas funções T (P ) = y(θ)z(r), é
possı́vel mostrar que as funções y(θ) e z(r) satisfazem as seguintes equações diferenciais

y 00 (θ) r2 z 00 (r) + rz 0 (r)


=ν= ,
−y(θ) z(r)
onde ν é uma constante positiva. O objetivo dessa questão é resolver essas duas equações
diferenciais e estudar suas soluções.

a) Mostre que y(θ) satisfaz a equação y 00 (θ) + νy(θ) = 0. Determine os valores de a > 0
tais que y1 (θ) = cos(aθ) e y2 (θ) = sen(aθ) são soluções fundamentais dessa equação.
b) Use o fato de que (r, 0) e (r, 2π) representam o mesmo ponto P na chapa, para concluir
que y(0) = y(2π). Use esse fato para concluir que ν = λ2 , para algum inteiro λ ≥ 0.
c) Mostre que z(r) satisfaz a equação r2 z 00 (r) + rz 0 (r) − λ2 z(r) = 0, r > 0, conhecida
como equação de Euler. Determine os valores de b tais que z(r) = rb é solução da
equação de Euler.
d) Use o item anterior para obter a solução geral da equação de Euler. Verifique que
qualquer solução que não é proporcional à solução rλ possui assı́ntota vertical em
r = 0.

Solução
a) Temos que y(θ) satisfaz
y 00 (θ)

−y(θ)
logo y 00 (θ) = −νy(θ) e, portanto,

y 00 (θ) + νy(θ) = 0 (1)

onde ν > 0.
Considerando primeiro y1 (θ) = cos(aθ), temos

y1 (θ) = cos(aθ)
y10 (θ) = −a sen(aθ)
y100 (θ) = −a2 cos(aθ)

Página 21 de 58
Segue que
y100 (θ) + νy1 (θ) = −a2 cos(aθ) + ν cos(aθ)
= (ν − a2 ) cos(aθ)
= 0 ⇐⇒ a2 = ν

logo se e só se a = ν, uma vez que a > 0. Isso mostra que

y1 (θ) = cos( νθ)
é solução da equação (1).
Considerando agora y2 (θ) = sen(aθ), temos
y2 (θ) = sen(aθ)
y20 (θ) = a cos(aθ)
y200 (θ) = −a2 sen(aθ)
Segue que
y200 (θ) + νy2 (θ) = −a2 sen(aθ) + ν sen(aθ)
= (ν − a2 ) sen(aθ)
= 0 ⇐⇒ a2 = ν

logo se e só se a = ν, uma vez que a > 0. Isso mostra que

y2 (θ) = sen( νθ)
é solução da equação (1).
Elas são soluções fundamentais pois seu Wronskiano é dado por
√ √

 
cos(
√ νθ)
√ √sen( νθ)

W (y1 (t), y2 (t)) = det = ν>0
− ν sen( νθ) ν cos( νθ)

b) Como (r, 0) e (r, 2π) representam o mesmo ponto P na chapa, segue que
y(0)z(r) = T (P ) = y(2π)z(r)
para todo r ∈ [0, R], de modo que
y(0) = y(2π)
Usando a solução geral temos que
y(0) = c1 cos(0) + c2 sen(0) = c1
e que √ √
y(2π) = c1 cos( ν2π) + c2 sen( ν2π),
de modo que √ √
c1 cos( ν2π) + c2 sen( ν2π) = c1
para todo c1 , c2 ∈ R. Escolhendo c1 = 1 e c2 = 0, obtemos que

cos( ν2π) = 1

de modo que ν2π é um múltiplo inteiro de de 2π, isto é,

ν2π = 2πλ,

onde λ ≥ 0 é um inteiro. Segue que ν = λ e então que ν = λ2 , onde λ ≥ 0 é um
inteiro, como querı́amos.

Página 22 de 58
c) Temos que ν = λ2 de modo que z(r) satisfaz

r2 z 00 (r) + rz 0 (r)
= λ2
z(r)

logo r2 z 00 (r) + rz 0 (r) = λ2 z(r) e, portanto,

r2 z 00 (r) + rz 0 (r) − λ2 z(r) = 0,

onde r > 0 pois é o raio.


Seja z(r) = rb , então

z(r) = rb
z 0 (r) = brb−1
z 00 (r) = b(b − 1)rb−2

de modo que

r2 z 00 (r) + rz 0 (r) − λ2 z(r) = r2 (b(b − 1)rb−2 ) + r(brb−1 ) − λ2 (rb )


= (b(b − 1) + b − λ2 )rb = 0

e portanto z(r) = rb é solução se e somente se

b(b − 1) + b − λ2 = b2 − λ2 = 0 ⇐⇒ b = ±λ,

Isso fornece soluções


z1 (r) = rλ e z2 (r) = r−λ
d) Elas são soluções fundamentais pois seu Wronskiano é dado por

r−λ
 λ 
r
W (z1 (r), z2 (r)) = det = −2λr−1 6= 0
λrλ−1 −λr−λ−1

Portanto a solução geral da equação de Euler é

z(r) = c1 rλ + c2 r−λ

Se z(r) não é proporcional à rλ então o coeficiente c2 não-se anula e

lim z(r) = c1 lim rλ + c2 lim r−λ


r→0 r→0 r→0
= c1 · 0 + c2 · +∞
= ±∞

que é ±∞ dependendo do sinal do coeficiente c2 . Isso mostra que qualquer solução


não-proporcional a rλ possui assı́ntota vertical em r = 0.

Página 23 de 58
2) Considere um elétron no estado fundamental do átomo de hidrogêneo, ou seja, no orbital
s do primeiro nı́vel de energia, onde λ = 0 e ν = 1. A probabilidade do elétron estar
na região de coordenadas esféricas (r, θ, φ) com r ∈ (r1 , r2 ), com θ ∈ (θ1 , θ2 ) e com
φ ∈ (φ1 , φ2 ) é proporcional a
Z r2 Z θ2 Z φ2
2 2
R(r) dr Θ(θ) dθ Φ(φ)2 dφ
r1 θ1 φ1 z
onde Θ(θ) está relacionada com a equação de Legendre

(1 − x2 )y 00 (x) − 2xy 0 (x) = 0


θ
e R(r) está relacionada com a equação de Laguerre

xy 00 (x) + (1 − x)y 0 (x) + y(x) = 0 r


y
φ
O objetivo desse exercı́cio é mostrar que as equações
acima sempre possuem uma solução polinomial e qual-
quer outra solução não proporcional a ela possui
assı́ntota vertical, de modo que, nesse problema, a
x
única solução que possui significado fı́sico é a solução
polinomial.

a) Verifique que, substituindo z(x) = y 0 (x) na equação de Legendre, obtemos uma


equação linear homogênea de primeira ordem. Determine a solução geral dessa
equação.

b) Integrando por frações parciais a solução geral obtida no item anterior, determine a
solução geral da equação de Legendre. Verifique que qualquer solução não constante
possui assı́ntotas verticais em x = 1 e também em x = −1.

c) Obtenha o Wronskiano da equação de Laguerre, utilizando a fórmula de Abel e veri-


fique que y2 (x) = 1 − x é solução da equação de Laguerre.

Solução

a) Substituindo z(x) = y 0 (x) na equação de Legendre, obtemos

(1 − x2 )z 0 (x) − 2xz(x) = 0

que é uma equação linear homogênea de primeira ordem. Dividindo por 1 − x2 ,


obtemos que
2x
z 0 (x) − z(x) = 0
1 − x2

de modo que
2x
p(x) = −
1 − x2

Página 24 de 58
Logo
Z Z
2x
p(x)dx = − dx
1 − x2
Z
2x
= 2
dx substituição y = 1 − x2 ⇒ dy = −2xdx
1−x
Z
1
= dy
y
= log(y) + C
= log(1 − x2 ) + C

de modo que
P (x) = log(1 − x2 )
Como a equação é homogênea, sua solução geral é dada

z(x) = Ae−P (x)


2
= Ae− log(1−x )
2 −1
= Aelog(1−x )
1
= A
1 − x2

b) Integrando a solução geral obtida no item anterior, temos que


Z
1
y(x) = A dx
1 − x2
Por frações parciais, temos que
1 1/2 1/2
= +
1 − x2 1+x 1−x
de modo que
Z Z Z
1 1/2 1/2
dx = dx + dx
1 − x2 1+x 1−x
1 1
= log |1 + x| − log |1 − x| + B
2 2
1 1 + x
= log +B
2 1 − x
Logo, a solução geral da equação de Legendre é dada por

1 + x
y(x) = c1 + c2 log
1 − x

onde c1 = AB e c2 = A/2. Segue que qualquer solução não constante é tal que c2 6= 0
e portanto possui assı́ntotas verticais em x = 1 e também em x = −1, pois

1 + x 1 + x
lim log =∞ e lim log = −∞
x→1 1 − x x→−1 1 − x

c) Colocando a equação de Laguerre na forma


1−x 0 1
y 00 (x) + y (x) + y(x) = 0
x x
Página 25 de 58
temos que
1−x 1
q(x) = = −1
x x
logo
Z Z
1
q(x)dx = − 1 dx
x
= log(x) − x + C

e podemos tomar
Q(x) = log(x) − x
Pela fórmula de Abel temos que

W (y1 (x), y2 (x)) = c1 e−Q(x)


= c1 e− log(x)+x
= c1 e− log(x) ex
−1
= c1 elog(x ) ex
= c1 x−1 ex
ex
= c1
x
para quaisquer duas soluções y1 (x), y2 (x) da equação de Laguerre.
Para y(x) = 1 − x temos que

y 0 (x) = −1 y 00 (x) = 0

de modo que

xy 00 (x) + (1 − x)y 0 (x) + y(x) = x · 0 − (1 − x) + (1 − x)


= 0

o que mostra que y(x) = 1 − x é solução.

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3) Considere um circuito RLC onde a força eletromotriz é E = 12e−2t , a resistência é R = 5,
a indutância é L = 1 e a capacitância é C = 4. Temos que a queda de tensão no indutor,
no capacitor e na resistência é dada, respectivamente, por Lq 00 (t), Rq 0 (t) e Cq(t), onde
q(t) é a carga no capacitor. A segunda Lei de Kirchoff afirma que a soma das quedas de
tensão num circuito é igual à força eletromotriz.
a) Mostre que a carga na capacitor satisfaz uma EDO linear R
de segunda ordem.

b) Verifique que q1 (t) = e−t e q2 (t) = e−4t são soluções fun-


damentais da equação homogênea.
E L
c) Obtenha a solução geral da equação não-homogênea. A
carga no capacitor tende a zero quando t cresce? q(t)

d) Determine a carga q(t) do capacitor se a carga inicial é


C
q(0) = 0 e a corrente inicial é q 0 (0) = 1.

Solução
a) Pela segunda Lei de Kirchoff temos que q(t) satisfaz a seguinte equação
Lq 00 + Rq 0 + Cq = E
Usando que E = 12e−2t , L = 1, R = 5 e C = 4, equação acima fica
q 00 + 5q 0 + 4q = 12e−2t

b) Consideramos primeiro q1 (t) = e−t , temos


q1 (t) = e−t
q10 (t) = −e−t
q100 (t) = e−t
Segue que
q100 + 5q10 + 4q1 = (e−t ) + 5(−e−t ) + 4(e−t )
= (1 − 5 + 4)e−t
= 0
Isso mostra que q1 (t) é solução da equação homogênea.
Consideramos agora q2 (t) = e−4t , temos
q2 (t) = e−4t
q20 (t) = −4e−4t
q200 (t) = 16e−4t
Segue que
q200 + 5q20 + 4q2 = (16e−4t ) + 5(−4e−4t ) + 4(e−4t ) (2)
= (16 − 20 + 4)e−4t (3)
= 0 (4)
Isso mostra que q2 (t) também é solução da equação homogênea.
Elas são soluções fundamentais pois seu Wronskiano é dado por
 −t
e−4t

e
W (q1 (t), q2 (t)) = det = −3e−5t
−e−t −4e−4t

Página 27 de 58
c) Pelo método da variação dos parâmetros, a solução geral é

q(t) = c1 (t)e−t + c2 (t)e−4t ,

onde
12e−2t e−4t
Z
c1 (t) = − dt
−3e−5t
Z
= 4e−t dt

= −4e−t + c1

e
12e−2t e−t
Z
c2 (t) = dt
−3e−5t
Z
= −4e2t dt

= −2e2t + c2

Segue que

q(t) = (−4e−t + c1 )e−t + (−2e2t + c2 )e−4t


= (−4e−t )e−t + (−2e2t )e−4t + c1 e−t + c2 e−4t
= −6e−2t + c1 e−t + c2 e−4t

de modo que a carga no capacitor tende a zero quando t cresce, uma vez que

lim q(t) = lim −6e−2t + c1 lim e−t + c2 lim e−4t = 0


t→∞ t→∞ t→∞ t→∞

d) Derivando
q(t) = −6e−2t + c1 e−t + c2 e−4t
temos
q 0 (t) = 12e−2t − c1 e−t − 4c2 e−4t
Usando as condições iniciais dadas

0 = q(0) = −6 + c1 + c2
1 = q 0 (0) = 12 − c1 − 4c2

concluı́mos que

c1 + c2 = 6
−c1 − 4c2 = −11

cuja única solução é c1 = 13/3 e c2 = 5/3.


Segue que a solução do PVI é
13 −t 5 −4t
q(t) = −6e−2t + e + e
3 3

Página 28 de 58
4) Considere um sistema MMA onde a força externa é F = 5e−t , a massa é m = 1, a
constante da mola é k = 2 e constante de amortecimento é b = 2. Temos que a força da
mola e do amortecedor é dada, respectivamente, por ky(t) e by 0 (t), onde y(t) é a posição
da massa em relação ao equilı́brio. A segunda Lei de Newton afirma que o produto da
massa pela aceleração é igual ao somatório das forças.
a) Mostre que a posição da massa satisfaz uma EDO linear de
segunda ordem.
y(t)
b) Verifique que y1 (t) = e−t cos(t) e y2 (t) = e−t sen(t) são
soluções fundamentais da equação homogênea.

c) Obtenha a solução geral da equação não-homogênea. A


posição da massa tende a zero quando t cresce?

d) Determine uma solução que satisfaz as condições iniciais


y(0) = 0 e y 0 (0) = 1.

Solução

a) Pela segunda Lei de Newton, temos que y(t) satisfaz a seguinte equação

my 00 (t) = −by 0 (t) − ky(t) + F,

Usando que F = 5e−t , m = 1, k = 2 e b = 2, a equação acima é equivalente a

y 00 (t) + 2y 0 (t) + 2y(t) = 5e−t

b) Consideramos primeiro y1 (t) = e−t cos(t). Usando as regras de derivação, obtemos


que
y10 (t) = −e−t cos(t) − e−t sen(t) e y100 (t) = 2e−t sen(t)
Segue então que
y100 (t) + 2y10 (t) + 2y1 (t) = 0
uma vez que

(2e−t sen(t)) + 2(−e−t cos(t) − e−t sen(t)) + 2(e−t cos(t)) = 0

Consideramos agora y2 (t) = e−t sen(t). Usando as regras de derivação, obtemos que

y20 (t) = −e−t sen(t) + e−t cos(t) e y200 (t) = −2e−t cos(t)

Segue então que


y200 (t) + 2y20 (t) + 2y2 (t) = 0
uma vez que

(−2e−t cos(t)) + 2(−e−t sen(t) + e−t cos(t)) + 2(e−t sen(t)) = 0

Essas duas soluções são fundamentais, pois seu Wronskiano é dado por

e−t cos(t) e−t sen(t)


 
W (y1 (t), y2 (t)) = det = e−2t
−e−t cos(t) − e−t sen(t) −e−t sen(t) + e−t cos(t)

Página 29 de 58
c) Pelo método da variação dos parâmetros, a solução geral é dada por

y(t) = c1 (t)e−t cos(t) + c2 (t)e−t sen(t)

onde
5e−t e−t sen(t)
Z
c1 (t) = − dt
e−2t
Z
= −5 sen(t) dt
= 5 cos(t) + c1

e
5e−t e−t cos(t)
Z
c2 (t) = dt
e−2t
Z
= 5 cos(t) dt
= 5 sen(t) + c2

Segue que

y(t) = (5 cos(t) + c1 )e−t cos(t) + (5 sen(t) + c2 )e−t sen(t)


= 5(cos2 (t) + sen2 (t))e−t + c1 e−t cos(t) + c2 e−t sen(t)
= 5e−t + c1 e−t cos(t) + c2 e−t sen(t)

de modo que a posição da massa tende a zero quando t cresce, uma vez que

lim y(t) = lim 5e−t + c1 lim e−t cos(t) + c2 lim e−t sen(t) = 0
t→∞ t→∞ t→∞ t→∞

d) Uma vez que


y(t) = 5e−t + c1 e−t cos(t) + c2 e−t sen(t)
segue que

y 0 (t) = −5e−t + c1 (−e−t cos(t) − e−t sen(t)) + c2 (−e−t sen(t) + e−t cos(t))

Calculado em t = 0 e usando as condições iniciais, obtemos que

0 = y(0) = 5 + c1

e que
1 = y 0 (0) = −5 − c1 + c2
de modo que c1 = −5, c2 = 1 e a solução do PVI é dada por

y(t) = 5e−t − 5e−t cos(t) + e−t sen(t)

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Departamento de Matemática
Cálculo 2
Lista de Exercı́cios – Módulo 1 – Lista 4 – Solução

1) Considere um circuito RLC onde a força eletromotriz é E(t) = cos(2t), a resistência é


R = 5, a indutância é L = 1 e a capacitância é C = 4. Pela segunda Lei de Kirchoff, a
carga q(t) no capacitor satisfaz
q 00 (t) + 5q 0 (t) + 4q(t) = cos(2t)
R
a) Determine a solução geral da homogênea.

b) Determine a solução geral da não-homogênea.


E L
c) A carga no circuito tende a zero quando t cresce?
q(t)
d) Determine a carga q(t) do capacitor se a carga inicial é
q(0) = 0 e a corrente inicial é q 0 (0) = 1.
C

Solução
a) A equação caracterı́stica da homogênea é
r2 + 5r + 4 = 0,
cujas raı́zes são r = −1 e r = −4. As duas soluções são fundamentais são dadas por
q1 (t) = e−t e q2 (t) = e−4t . Segue que a solução geral da homogênea é
q(t) = c1 e−t + c2 e−4t

b) Pelo método da variação dos parâmetros, a solução geral é dada por


q(t) = c1 (t)e−t + c2 (t)e−4t
onde
e−t e−4t
 
W (q1 (t), q2 (t)) = det −t = −3e−5t
−e −4e−4t

cos(2t)e−4t
Z
c1 (t) = − dt
−3e−5t
Z
1
= et cos(2t) dt
3
1 t 2
= e cos(2t) + et sen(2t) + c1
15 15
e
cos(2t)e−t
Z
c2 (t) = dt
−3e−5t
Z
1
= − e4t cos(2t) dt
3
1 1
= − e4t cos(2t) − e4t sen(2t) + c2
15 30
Página 31 de 58
Segue que
   
1 t 2 t 1 4t 1 4t
q(t) = e cos(2t) + e sen(2t) + c1 e + − e cos(2t) − e sen(2t) + c2 e−4t
−t
15 15 15 30
1 2 1 1
= cos(2t) + sen(2t) − cos(2t) − sen(2t) + c1 e−t + c2 e−4t
15 15 15 30
1
= sen(2t) + c1 e−t + c2 e−4t
10

c) Como
1
q(t) = sen(2t) + c1 e−t + c2 e−4t
10
segue que a carga não tende a zero quando t cresce, uma vez que

lim e−t = lim e−4t = 0,


t→∞ t→∞

mas, no entanto, limt→∞ sen(2t) não existe.


d) Derivando a solução geral da não-homogênea
1
q(t) = sen(2t) + c1 e−t + c2 e−4t .
10
temos
1
q 0 (t) = cos(2t) − c1 e−t − 4c2 e−4t .
5
Usando as condições iniciais
1
0 = q(0) = c1 + c2 1 = q 0 (0) = − c1 − 4c2
5
concluı́mos que
c1 + c2 = 0
c1 + 4c2 = − 54
de onde segue que c1 = −c2 , 3c2 = −4/5, logo c2 = −4/15 e c1 = 4/15. Assim
1 4 4
q(t) = sen(2t) + e−t − e−4t .
10 15 15

Página 32 de 58
2) Considere um sistema MMA onde a força externa é F (t) = e−t , a massa é m = 1, a
constante de amortecimento é b = 2 e a constante da mola é k = 1. Pela segunda Lei de
Newton, a posição y(t) da massa em relação ao equilı́brio satisfaz

y 00 (t) + 2y 0 (t) + y(t) = e−t .

a) Determine a solução geral da homogênea.


y(t)
b) Determine a solução geral da não-homogênea.

c) A posição da massa tende a zero quando t cresce?

d) Determine a posição y(t) da massa se a posição inicial é


y(0) = 1 e a velocidade inicial é y 0 (0) = 0.

Solução
a) A equação caracterı́stica da homogênea é

r2 + 2r + 1 = 0,

cuja raı́z é r = −1 com multiplicidade 2. As duas soluções fundamentais são portanto

y1 (t) = e−t e y2 (t) = te−t

e a solução geral da homogênea é

y(t) = c1 e−t + c2 te−t .

b) Pelo método da variação dos parâmetros, a solução geral é dada por

y(t) = c1 (t)e−t + c2 (t)te−t

onde
e−t te−t
 
−t −t
W (e , te ) = det
−e−t (1 − t)e−t
= (1 − t)e−2t + te−2t
= e−2t

e−t te−t
Z
c1 (t) = − −2t dt
e
Z
= − t dt
1
= − t2 + c1
2
e
e−t e−t
Z
c2 (t) = dt
e−2t
Z
= 1 dt
= t + c2

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Segue que
 
1 2
y(t) = − t + c1 e−t + (t + c2 ) te−t
2
 
1 2 −t
= − t e + (t) te−t + c1 e−t + c2 te−t
2
1 2 −t
= t e + c1 e−t + c2 te−t
2

c) A posição da massa é
1
y(t) = t2 e−t + c1 e−t + c2 te−t .
2
Temos que
t2 2t
lim t2 e−t = lim t
= lim t = 0
t→∞ t→∞ e t→∞ e

1
lim e−t = lim t = 0
t→∞ t→∞ e

t 1
lim te−t = lim t = lim t = 0
t→∞ t→∞ e t→∞ e

onde no primeiro e no último limite usamos a regra de L’Hospital, pois aparece uma
indeterminação do tipo ∞/∞. Segue que
1
lim y(t) = lim t2 e−t + c1 lim e−t + c2 lim te−t = 0,
t→∞ 2 t→∞ t→∞ t→∞

de modo que a posição da massa tende a zero quando t cresce.


d) Derivando
1
y(t) = t2 e−t + c1 e−t + c2 te−t .
2
temos
1
y 0 (t) = te−t − t2 e−t − c1 e−t + c2 e−t − c2 te−t .
2
Usando as condições iniciais dadas

1 = y(0) = c1
0 = y 0 (0) = −c1 + c2

concluı́mos que

c1 = 1
−c1 + c2 = 0

cuja única solução é c1 = c2 = 1.


Segue que a solução do PVI é
1
y(t) = t2 e−t + e−t + te−t .
2

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3) Considere um elétron no orbital p do segundo nı́vel de energia, onde λ = 1 e ν = 2. A
probabilidade do elétron estar na região de coordenadas esféricas (r, θ, φ) com r ∈ (r1 , r2 ),
com θ ∈ (θ1 , θ2 ) e com φ ∈ (φ1 , φ2 ) é proporcional a
Z r2 Z θ2 Z φ2
2 2
R(r) dr Θ(θ) dθ Φ(φ)2 dφ
r1 θ1 φ1 z
onde Θ(θ) está relacionada com a equação de Legendre

(1 − x2 )y 00 (x) − 2xy 0 (x) + 2y(x) = 0


θ
e R(r) está relacionada com a equação de Laguerre

xy 00 (x) + (1 − x)y 0 (x) + 3y(x) = 0 r


y
φ
O objetivo desse exercı́cio é mostrar que as equações
acima sempre possuem uma solução polinomial e qual-
quer outra solução não proporcional a ela possui
assı́ntota vertical, de modo que, nesse problema, a
x
única solução que possui significado fı́sico é a solução
polinomial.

a) Obtenha o Wronskiano da equação de Legendre, utilizando a fórmula de Abel.


b) Verifique que y2 (x) = x é solução da equação de Legendre e obtenha a solução geral
y(x) usando o item anterior. Na integração, use frações parciais.
c) Verifique que qualquer outra solução obtida no item anterior que não é proporcional
a y2 (x) possui assı́ntota vertical em x = 1 e também em x = −1.
d) Obtenha o Wronskiano da equação de Laguerre, utilizando a fórmula de Abel e veri-
fique que y(x) = 6 − 18x + 9x2 − x3 é solução da equação de Laguerre.

Solução
a) Colocando a equação de Legendre na forma
2x 0 2
y 00 (x) − y (x) + y(x) = 0
1 − x2 1 − x2
temos que
2x
q(x) = −
1 − x2
logo
Z Z
2x
q(x)dx = − dx
1 − x2
Z
2x
= dx substituição y = 1 − x2 ⇒ dy = −2xdx
1 − x2
Z
1
= dy
y
= log(y) + C
= log(1 − x2 ) + C

e podemos tomar
Q(x) = log(1 − x2 )

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Pela fórmula de Abel temos que
W (y1 (x), y2 (x)) = c1 e−Q(x)
2
= c1 e− log(1−x )
2 −1
= c1 elog(1−x )
1
= c1
1 − x2
para quaisquer duas soluções y1 (x), y2 (x) da equação de Legendre.
b) Para y2 (x) = x temos que
y20 = 1 y200 = 0
logo
(1 − x2 )y200 − 2xy20 + 2y2 = (1 − x2 ) · 0 − 2x · 1 + 2 · x
= −2x + 2x
= 0
o que mostra que y2 (x) = x é solução.
Para obter a solução geral y(x), pelo item anterior temos que
1
W (y2 (x), y(x)) = c1
1 − x2
por outro lado, considerando y(x)/y1 (x) sabemos que
 0  0
y(x) y(x) W (y2 (x), y(x)) 1
= = 2
= c1 2 (5)
x y2 (x) y1 (x) x (1 − x2 )
Uma vez que
x2 (1 − x2 ) = x2 (1 − x)(1 + x)
por frações parciais temos que
1 A B C D
= + 2+ +
x2 (1 2
−x ) x x 1−x 1+x
multiplicando pelo denominador obtemos
1 = Ax(1 − x2 ) + B(1 − x2 ) + Cx2 (1 + x) + Dx2 (1 − x)
= A(x − x3 ) + B(1 − x2 ) + C(x2 + x3 ) + D(x2 − x3 )
= (−A + C − D)x3 + (−B + C + D)x2 + Ax + B
portanto A = 0, B = 1, C = 1/2, D = 1/2.
Integrando ambos lados de (5), obtemos
Z Z 
y(x) 1 1 1/2 1/2
= c1 dx = c1 + + dx
x x2 (1 − x2 ) x2 1 − x 1 + x
 
1 1 1
= c1 − − log |1 − x| + log |1 + x| + c2
x 2 2
 
1 1 1 + x

= c1 − + log + c2 D
x 2 1 − x
Isolando y(x), obtemos a solução geral
 
1 1 + x
y(x) = c1 −1 + x log + c2 x
2 1 − x

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c) Observe que a solução obtida no item anterior é da forma
 
1 1 + x
y(x) = c1 −1 + x log +c2 x
2 1 − x |{z}
| {z } y2 (x)
y1 (x)

= c1 y1 (x) + c2 y2 (x)

Se y(x) não é proporcional a y2 (x), então o coeficiente c1 de y1 (x) não se anula.


Temos que

1 1 + x
lim y1 (x) = 1 e lim y2 (x) = lim −1 + x log = +∞
x→1 x→1 x→1 2 1 − x

pois limx→1 |(1 + x)/(1 − x)| = +∞ e limz→+∞ log(z) = +∞.



1 1 + x
lim y1 (x) = −1 e lim y2 (x) = lim −1 + x log = +∞
x→−1 x→−1 x→−1 2 1 − x

pois limx→−1 |(1 + x)/(1 − x)| = 0 e limz→0 log(z) = −∞.


Uma vez que c1 6= 0, temos

lim y(x) = c1 · −∞ + c2 · 1 = ±∞
x→1−

e
lim y(x) = c1 · −∞ + c2 · −1 = ±∞
x→−1+

que é ±∞ depedendo do sinal do coeficiente c1 . Isso mostra que qualquer solução


não-proporcional a y1 (x) possui assı́ntota vertical em x = 1 e também em x = −1.
d) Colocando a equação de Laguerre na forma
1−x 0 1
y 00 (x) + y (x) + y(x) = 0
x x
temos que
1−x 1
q(x) = = −1
x x
logo
Z Z
1
q(x)dx = − 1 dx
x
= log(x) − x + C

e podemos tomar
Q(x) = log(x) − x
Pela fórmula de Abel temos que

W (y1 (x), y2 (x)) = c1 e−Q(x)


= c1 e− log(x)+x
= c1 e− log(x) ex
−1
= c1 elog(x ) ex
= c1 x−1 ex
ex
= c1
x
Página 37 de 58
para quaisquer duas soluções y1 (x), y2 (x) da equação de Laguerre.
Para y(x) = 6 − 18x + 9x2 − x3 temos que

y 0 (x) = −18 + 18x − 3x2 y 00 (x) = 18 − 6x

de modo que

xy 00 (x) + (1 − x)y 0 (x) + 3y(x) =


= x(18 − 6x) + (1 − x)(−18 + 18x − 3x2 ) + 3(6 − 18x + 9x2 − x3 )
= 0

o que mostra que y(x) = 6 − 18x + 9x2 − x3 é solução.

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Cálculo 2
Lista de Exercı́cios – Módulo 1 – Lista 5 – Solução

1) A descrição quântica dos fenômenos subatômicos é probabilı́stica. Considere um oscilador


harmônico quântico unidimensional, onde partı́cula subatômica de massa m se movimenta
no eixo x sob a ação de um potencial da forma V (x) = mω 2 x2 /2, que é o potencial do
sistema massa-mola com frequência ω.

x1 x2 x

A probabilidade de encontrarmos a partı́cula no intervalo (x1 , x2 ) é proporcional à integral


Z x2
X(x)2 dx
x1

onde a função X(x) satisfaz a equação de Schrödinger


~2 00 mω 2 2
− X (x) + x X(x) = EX(x)
2m 2
onde ~ é a constante de Planck dividida por 2π e E é a energia do oscilador. Por
simplicidade, vamos supor que m = ~ = ω = 1 de modo que
X 00 (x) + (2E − x2 )X(x) = 0
2
a) Escrevendo X(x) = e−x /2 y(x), mostre que y(x) satisfaz y 00 (x) − 2xy 0 (x) + 2λy(x) = 0,
conhecida como equação de Hermite, onde λ = E − 1/2.
b) Escrevendo a solução como o polinômio y(x) = ∞ n
P
n=0 cn x ,Pdetermine, em função dos
coeficientes cn , os coeficientes pn do polinômio −2xy 0 (x) = ∞ n
n=0 pn x . Use a equação
de Hermite para obter a equação de recorrência satisfeita pelos cn .
c) Para λ = 6, determine os coeficientes das soluções canônicas y1 (t) e y2 (t) e decida
qual delas é polinômio. Essa solução é uma função par ou ı́mpar?
d) Para λ = 7, determine os coeficientes das soluções canônicas y1 (t) e y2 (t) e decida
qual delas é polinômio. Essa solução é uma função par ou ı́mpar?

Solução
2 /2
a) Escrevendo X(x) = e−x y(x), temos que
2 /2 2 /2
X 0 (x) = −xe−x y(x) + e−x y 0 (x)
2 /2
= e−x (y 0 (x) − xy(x))

2 /2
X 00 (x) = −xe−x (y 0 (x) − xy(x))
2 /2
+e−x (y 00 (x) − y(x) − xy 0 (x))
2 /2
= e−x (y 00 (x) − 2xy 0 (x) + (x2 − 1)y(x))

2 /2
(2E − x2 )X(x) = e−x (2E − x2 )y(x)

Página 39 de 58
Somando as duas últimas equações, segue que
2 /2
0 = e−x (y 00 (x) − 2xy 0 (x) + (2E − 1)y(x))

portanto y(x) satisfaz a equação

0 = y 00 (x) − 2xy 0 (x) + 2λy(x),

onde λ = E − 1/2 é uma constante.


b) Temos que

X
−2xy 0 (x) = −2x (n + 1)cn+1 xn
n=0

X
= −2(n + 1)cn+1 xn+1
n=0
X∞
= −2ncn xn
n=1

X
= −2ncn xn
n=0

onde usamos na última igualdade que que 0c0 = 0.


Sabemos que

X
y 00 (x) = (n + 2)(n + 1)cn+2 xn
n=0

Substituindo essas expressões na equação de Hermite, obtemos que



X ∞
X ∞
X
n n
(n + 2)(n + 1)cn+2 x + −2ncn x + 2λ cn x n = 0
n=0 n=0 n=0

de modo que

X
[(n + 2)(n + 1)cn+2 + 2(λ − n)cn ]xn = 0,
n=0

Segue então que


(n + 2)(n + 1)cn+2 + 2(λ − n)cn = 0,
de onde obtemos a seguinte equação de recorrência

2(n − λ)
cn+2 = cn .
(n + 2)(n + 1)

c) Para λ = 6 a recorrência é dada por

2(n − 6)
cn+2 = cn
(n + 2)(n + 1)

Temos que y1 (x) satisfaz as condições iniciais

c0 = y1 (0) = 1 c1 = y10 (0) = 0

Página 40 de 58
Os coeficientes pares são então dados por

c0 = 1
2(0 − 6)
c2 = c0 = −6
2·1
2(2 − 6)
c4 = c2 =4
4·3
2(4 − 6) 8
c6 = c4 =−
6·5 15
2(6 − 6)
c8 = c6 =0
8·7
e à partir daı́ temos c10 = c12 = · · · = 0. Os coeficientes ı́mpares são dados por
c1 = c3 = c5 = · · · = 0, uma vez que c1 = 0, e cada coeficiente ı́mpar é obtido à partir
de uma multiplicação pelo coeficiente ı́mpar anterior. Segue então que a solução y1 (x)
é o polinômio de grau 6 dado por
8 6
y1 (x) = 1 − 6x2 + 4x4 − x
15
que é uma função par, pois só aparecem potências pares.
Temos que y2 (x) satisfaz as condições iniciais

c0 = y2 (0) = 0 c1 = y20 (0) = 1

Os coeficientes pares são dados por c0 = c2 = c4 = · · · = 0, uma vez que c0 = 0, e cada


coeficiente par é obtido à partir de uma multiplicação pelo coeficiente par anterior.
Já os coeficientes ı́mpares nunca se anulam, uma vez que c1 = 1 e que cada coeficiente
ı́mpar é obtido multiplicando o coeficiente ı́mpar anterior pelo fator

2(n − 6)
6= 0 para n ı́mpar
(n + 2)(n + 1)

Segue então que y2 (x) não é um polinômio.


d) Para λ = 7 a recorrência é dada por

2(n − 7)
cn+2 = cn
(n + 2)(n + 1)

Temos que y1 (x) satisfaz as condições iniciais

c0 = y1 (0) = 1 c1 = y10 (0) = 0

Os coeficientes pares nunca se anulam, uma vez que c0 = 1 e que cada coeficiente par
é obtido multiplicando o coeficiente par anterior pelo fator

2(n − 7)
6= 0 para n par
(n + 2)(n + 1)

Segue então que y1 (x) não é um polinômio. Os coeficientes ı́mpares são dados por
c1 = c3 = c5 = · · · = 0, uma vez que c1 = 0, e cada coeficiente ı́mpar é obtido à partir
de uma multiplicação pelo coeficiente ı́mpar anterior.
Temos que y2 (x) satisfaz as condições iniciais

c0 = y2 (0) = 0 c1 = y20 (0) = 1

Página 41 de 58
Os coeficientes pares são dados por c0 = c2 = c4 = · · · = 0, uma vez que c0 = 0, e cada
coeficiente par é obtido à partir de uma multiplicação pelo coeficiente par anterior.
Já os coeficientes ı́mpares são dados por

c1 = 1
2(1 − 7)
c3 = c1 = −2
3·2
2(3 − 7) 4
c5 = c3 =
5·4 5
2(5 − 7) 8
c7 = c5 =−
7·6 105
2(7 − 7)
c9 = c7 =0
9·8
e à partir daı́ temos c11 = c13 = · · · = 0. Segue então que a solução y2 (x) é o polinômio
de grau 7 dado por
8 7
y2 (x) = x − 2x3 + x5 − x
105
que é uma função ı́mpar, pois só aparecem potências ı́mpares.

Página 42 de 58
2) Pelo Exercı́cio 5, para descrever a posição do elétron no átomo de hidrogênio, precisamos
resolver a equação de Laguerre

xy 00 (x) + (1 − x)y 0 (x) + (ν + λ)y(x) = 0

O objetivo desse exercı́cio é investigar as soluções dessa equação usando séries de potências.

a) Escrevendo a solução como o polinômio y(x) = ∞ n


P
n=0 cn x , determine, em Pfunção dos
0 ∞ n
coeficientes pn e qn dos polinômios (1 − x)y (x) =
coeficientes cn , os P n=0 pn x e
também xy 00 (x) = ∞ n
n=0 qn x .
b) Use o item anterior e a equação de Laguerre para obter a equação de recorrência
satisfeita pelos cn .
c) Verifique que, quando ν + λ é um inteiro, então y(x) é um polinômio de grau ν + λ.
d) Supondo y(0) = 1 e ν + λ = 1, determine y(x).
e) Supondo y(0) = 6 e ν + λ = 3, determine y(x).

Solução
a) Temos que

X
0
(1 − x)y (x) = (1 − x) cn+1 (n + 1)xn
n=0

X ∞
X
n
= cn+1 (n + 1)x + −cn+1 (n + 1)xn+1
n=0 n=0

X ∞
X
= cn+1 (n + 1)xn + −cn nxn
n=0 n=1
X∞ X∞
= cn+1 (n + 1)xn + −cn nxn
n=0 n=0

X
= (cn+1 (n + 1) − cn n)xn
n=0

onde usamos na penúltima igualdade que que −c0 0x0 = 0. Temos também que

X
xy 00 (x) = x cn+2 (n + 2)(n + 1)xn
n=0

X
= cn+2 (n + 2)(n + 1)xn+1
n=0
X∞
= cn+1 (n + 1)nxn
n=1

X
= cn+1 (n + 1)nxn
n=0

onde usamos na última igualdade que que c0+1 (0 + 1)0x0 = 0.


b) Substituindo as expressões do item anterior na equação de Laguerre, obtemos que

X ∞
X ∞
X
n n
cn+1 (n + 1)nx + (cn+1 (n + 1) − cn n)x + (ν + λ) cn x n = 0
n=0 n=0 n=0

Página 43 de 58
de modo que

X
[cn+1 (n + 1)n + cn+1 (n + 1) − cn n + (ν + λ)cn ]xn = 0
n=0

Segue então que

cn+1 (n + 1)n + cn+1 (n + 1) − cn n + (ν + λ)cn = 0

que é equivalente a
cn+1 (n + 1)2 = cn (n − (ν + λ))
Isolando cn+1 , obtemos a seguinte equação de recorrência
n − (ν + λ)
cn+1 = cn
(n + 1)2

c) Usando a equação de recorrência, quando ν + λ é inteiro, então


=0
z }| {
ν + λ − (ν + λ)
cν+λ+1 = cν+λ = 0,
(ν + λ + 1)2
de modo que
=0
z }| { ν + λ + 1 − (ν + λ)
cν+λ+2 = cν+λ+1 =0
(ν + λ + 2)2
=0
z }| { ν + λ + 2 − (ν + λ)
cν+λ+3 = cν+λ+2 =0
(ν + λ + 3)2
e assim por diante, de onde segue que

y(x) = 1 + c1 x + c2 x2 + c3 x3 + · · · + cν+λ xν+λ ,

conhecido como polinômio de Laguerre de grau ν + λ.


d) Quando ν + λ = 1, supondo que y(0) = 1, temos que

c0 = 1
0−1
c1 = c0 = −1
(0 + 1)2
de modo que
y(x) = 1 − x
e) Quando ν + λ = 3, supondo que y(0) = 6, temos que

c0 = 6
0−3
c1 = c0 = −18
(0 + 1)2
1−3
c2 = c1 =9
(1 + 1)2
2−3
c3 = c2 = −1
(2 + 1)2
de modo que
y(x) = 6 − 18x + 9x2 − x3

Página 44 de 58
3) Pelo Exercı́cio 6, para descrever a posição do elétron no átomo de hidrogênio, precisamos
resolver a equação de Legendre

(1 − x2 )y 00 (x) − 2xy 0 (x) + λ(λ + 1)y(x) = 0

O objetivo desse exercı́cio é investigar as soluções dessa equação usando séries de potências.

P∞ n
a) Escrevendo a solução como o polinômio y(x) = n=0 cn x , determine,Pem função
0 ∞ n
dos coeficientes cn , os coeficientes p n e q n dos polinômios −2xy (x) = n=0 n x e
p
também (1 − x2 )y 00 (x) = ∞ n
P
n=0 qn x .

b) Use o item anterior e a equação de Legendre para obter a equação de recorrência


satisfeita pelos cn .
c) Para λ = 6, determine os coeficientes das soluções canônicas y1 (t) e y2 (t) e decida
qual delas é polinômio. Essa solução é uma função par ou ı́mpar?
d) Para λ = 7, determine os coeficientes das soluções canônicas y1 (t) e y2 (t) e decida
qual delas é polinômio. Essa solução é uma função par ou ı́mpar?

Solução

a) Temos que

X
0
−2xy (x) = −2x cn+1 (n + 1)xn
n=0

X
= −2cn+1 (n + 1)xn+1
n=0

X
= −2cn nxn
n=1
X∞
= −2cn nxn
n=0

onde usamos na última igualdade que que −2c0 0x0 = 0. Temos também que

X
2 00 2
(1 − x )y (x) = (1 − x ) cn+2 (n + 2)(n + 1)xn
n=0

X ∞
X
n
= cn+2 (n + 2)(n + 1)x + −cn+2 (n + 2)(n + 1)xn+2
n=0 n=0

X ∞
X
= cn+2 (n + 2)(n + 1)xn + −cn n(n − 1)xn
n=0 n=2

X ∞
X
= cn+2 (n + 2)(n + 1)xn + −cn n(n − 1)xn
n=0 n=0
X∞
= (cn+2 (n + 2)(n + 1) − cn n(n − 1))xn
n=0

onde usamos na penúltima igualdade que que −c0 0(0 − 1)x0 = 0 = −c1 1(1 − 1)x1 .

Página 45 de 58
b) Substituindo as expressões do item anterior na equação de Legendre, obtemos que

X ∞
X ∞
X
(cn+2 (n + 2)(n + 1) − cn n(n − 1))xn + −2cn nxn + λ(λ + 1) cn x n = 0
n=0 n=0 n=0

de modo que

X
[cn+2 (n + 2)(n + 1) − cn n(n − 1) − 2cn n + λ(λ + 1)cn ]xn = 0,
n=0

Segue então que

cn+2 (n + 2)(n + 1) − cn n(n − 1) − 2cn n + λ(λ + 1)cn = 0,

que é equivalente a

cn+2 (n + 2)(n + 1) = cn n(n − 1) + 2cn n − λ(λ + 1)cn .

Colocando cn em evidência e isolando cn+2 , obtemos a seguinte equação de recorrência

n(n + 1) − λ(λ + 1)
cn+2 = cn
(n + 2)(n + 1)

c) Para λ = 6 a recorrência é dada por

n(n + 1) − 6 · 7
cn+2 = cn
(n + 2)(n + 1)

Temos que y1 (x) satisfaz as condições iniciais

c0 = y1 (0) = 1 c1 = y10 (0) = 0

Os coeficientes pares são então dados por

c0 = 1
0·1−6·7
c2 = c0 = −21
2·1
2·3−6·7
c4 = c2 = 63
4·3
4·5−6·7 231
c6 = c4 =−
6·5 5
6·7−6·7
c8 = c6 =0
8·7
e à partir daı́ temos c10 = c12 = · · · = 0. Os coeficientes ı́mpares são dados por
c1 = c3 = c5 = · · · = 0, uma vez que c1 = 0, e cada coeficiente ı́mpar é obtido à partir
de uma multiplicação pelo coeficiente ı́mpar anterior. Segue então que a solução y1 (x)
é o polinômio de grau 6 dado por
231 6
y1 (x) = 1 − 21x2 + 63x4 − x
5
que é uma função par, pois só aparecem potências pares.
Temos que y2 (x) satisfaz as condições iniciais

c0 = y2 (0) = 0 c1 = y20 (0) = 1

Página 46 de 58
Os coeficientes pares são dados por c0 = c2 = c4 = · · · = 0, uma vez que c0 = 0, e cada
coeficiente par é obtido à partir de uma multiplicação pelo coeficiente par anterior.
Já os coeficientes ı́mpares nunca se anulam, uma vez que c1 = 1 e que cada coeficiente
ı́mpar é obtido multiplicando o coeficiente ı́mpar anterior pelo fator
n(n + 1) − 6 · 7
6= 0 para n ı́mpar
(n + 2)(n + 1)
uma vez que o numerador pode ser escrito como
(n − 6)(n + 7) 6= 0 para n ı́mpar
Segue então que y2 (x) não é um polinômio.
d) Para λ = 7 a recorrência é dada por
n(n + 1) − 7 · 8
cn+2 = cn
(n + 2)(n + 1)
Temos que y1 (x) satisfaz as condições iniciais
c0 = y1 (0) = 1 c1 = y10 (0) = 0
Os coeficientes pares nunca se anulam, uma vez que c0 = 1 e que cada coeficiente par
é obtido multiplicando o coeficiente par anterior pelo fator
n(n + 1) − 7 · 8
6= 0 para n par
(n + 2)(n + 1)
uma vez que o numerador pode ser escrito como
(n − 7)(n + 8) 6= 0 para n par
Segue então que y1 (x) não é um polinômio. Os coeficientes ı́mpares são dados por
c1 = c3 = c5 = · · · = 0, uma vez que c1 = 0, e cada coeficiente ı́mpar é obtido à partir
de uma multiplicação pelo coeficiente ı́mpar anterior.
Temos que y2 (x) satisfaz as condições iniciais
c0 = y2 (0) = 0 c1 = y20 (0) = 1
Os coeficientes pares são dados por c0 = c2 = c4 = · · · = 0, uma vez que c0 = 0, e cada
coeficiente par é obtido à partir de uma multiplicação pelo coeficiente par anterior.
Já os coeficientes ı́mpares são dados por
c1 = 1
1·2−7·8
c3 = c1 = −9
3·2
3·4−7·8 33
c5 = c3 =
5·4 10
5·6−7·8 143
c7 = c5 =−
7·6 8400
7·8−7·8
c9 = c7 =0
9·8

e à partir daı́ temos c11 = c13 = · · · = 0. Segue então que a solução y2 (x) é o polinômio
de grau 7 dado por
33 143 7
y2 (x) = x − 9x3 + x5 − x
10 8400
que é uma função ı́mpar, pois só aparecem potências ı́mpares.

Página 47 de 58
4) A temperatura de equilı́brio T (P ) em um ponto P de uma chapa elı́ptica feita com um
material uniforme pode ser escrita em função das coordenadas elı́pticas confocais (x, t)
de P dadas por
dA − dB dA + dB
x= t= ,
d d
onde d é a distância entre os focos A e B da elipse, dA é a distância entre P e A e dB é
a distância entre P e B.

P
dA dB

A d B

Temos que x varia em [−1, 1] e que t varia em [1, 2R/d], onde R é o raio maior da elipse.
Note que o conjunto dos pontos tais que t é constante formam uma elipse. Escrevendo
a temperatura em P como produto de duas funções T (P ) = y(x)z(t), é possı́vel mostrar
que as funções y(x) e z(t) satisfazem as seguintes equações diferenciais
(1 − x2 )y 00 (x) − xy 0 (x) (1 − t2 )z 00 (t) − rz 0 (t)
= λ2 =
−y(x) −z(t)
onde λ é um inteiro positivo. Segue que y(x) satisfaz a equação Tchebychev
(1 − x2 )y 00 (x) − xy 0 (x) + λ2 y(x) = 0

a) Escrevendo a solução como o polinômio y(x) = ∞ n


P
n=0 cn x , determine,
P∞ emnfunção dos
0
coeficientes cn , osPcoeficientes pn e qn dos polinômios −xy (x) = n=0 pn x e também
(1 − x2 )y 00 (x) = ∞ n
n=0 qn x .
b) Use o item anterior e a equação de Tchebychev para obter a equação de recorrência
satisfeita pelos cn .
c) Para λ = 6, determine os coeficientes das soluções canônicas y1 (t) e y2 (t) e decida
qual delas é polinômio. Essa solução é uma função par ou ı́mpar?
d) Para λ = 7, determine os coeficientes das soluções canônicas y1 (t) e y2 (t) e decida
qual delas é polinômio. Essa solução é uma função par ou ı́mpar?

Solução
a) Temos que

X
−xy 0 (x) = −x cn+1 (n + 1)xn
n=0

X
= −cn+1 (n + 1)xn+1
n=0
X∞
= −cn nxn
n=1

X
= −cn nxn
n=0

Página 48 de 58
onde usamos na última igualdade que que −c0 0x0 = 0. Temos também que

X
2 00 2
(1 − x )y (x) = (1 − x ) cn+2 (n + 2)(n + 1)xn
n=0

X ∞
X
n
= cn+2 (n + 2)(n + 1)x + −cn+2 (n + 2)(n + 1)xn+2
n=0 n=0

X ∞
X
= cn+2 (n + 2)(n + 1)xn + −cn n(n − 1)xn
n=0 n=2

X ∞
X
= cn+2 (n + 2)(n + 1)xn + −cn n(n − 1)xn
n=0 n=0
X∞
= (cn+2 (n + 2)(n + 1) − cn n(n − 1))xn
n=0

onde usamos na penúltima igualdade que que −c0 0(0 − 1)x0 = 0 = −c1 1(1 − 1)x1 .
b) Substituindo as expressões do item anterior na equação de Tchebychev, obtemos que

X ∞
X ∞
X
n n 2
(cn+2 (n + 2)(n + 1) − cn n(n − 1))x + −cn nx + λ cn x n = 0
n=0 n=0 n=0

de modo que

X
[cn+2 (n + 2)(n + 1) − cn n(n − 1) − cn n + λ2 cn ]xn = 0,
n=0

Segue então que


cn+2 (n + 2)(n + 1) − cn n(n − 1) − cn n + λ2 cn = 0,
que é equivalente a
cn+2 (n + 2)(n + 1) = cn n(n − 1) + cn n − λ2 cn .
Colocando cn em evidência e isolando cn+2 , obtemos a seguinte equação de recorrência
n2 − λ2
cn+2 = cn
(n + 2)(n + 1)
c) Para λ = 6 a recorrência é dada por
n2 − 62
cn+2 = cn
(n + 2)(n + 1)
Temos que y1 (x) satisfaz as condições iniciais
c0 = y1 (0) = 1 c1 = y10 (0) = 0
Os coeficientes pares são então dados por
c0 = 1
02 − 62
c2 = c0 = −18
2·1
22 − 62
c4 = c2 = 48
4·3
42 − 62
c6 = c4 = −32
6·5
62 − 62
c8 = c6 =0
8·7
Página 49 de 58
e à partir daı́ temos c10 = c12 = · · · = 0. Os coeficientes ı́mpares são dados por
c1 = c3 = c5 = · · · = 0, uma vez que c1 = 0, e cada coeficiente ı́mpar é obtido à partir
de uma multiplicação pelo coeficiente ı́mpar anterior. Segue então que a solução y1 (x)
é o polinômio de grau 6 dado por

y1 (x) = 1 − 18x2 + 48x4 − 32x6

que é uma função par, pois só aparecem potências pares.


Temos que y2 (x) satisfaz as condições iniciais

c0 = y2 (0) = 0 c1 = y20 (0) = 1

Os coeficientes pares são dados por c0 = c2 = c4 = · · · = 0, uma vez que c0 = 0, e cada


coeficiente par é obtido à partir de uma multiplicação pelo coeficiente par anterior.
Já os coeficientes ı́mpares nunca se anulam, uma vez que c1 = 1 e que cada coeficiente
ı́mpar é obtido multiplicando o coeficiente ı́mpar anterior pelo fator

n2 − 62
6= 0 para n ı́mpar
(n + 2)(n + 1)

uma vez que o numerador pode ser escrito como

(n − 6)(n + 6) 6= 0 para n ı́mpar

Segue então que y2 (x) não é um polinômio.


d) Para λ = 7 a recorrência é dada por

n2 − 72
cn+2 = cn
(n + 2)(n + 1)

Temos que y1 (x) satisfaz as condições iniciais

c0 = y1 (0) = 1 c1 = y10 (0) = 0

Os coeficientes pares nunca se anulam, uma vez que c0 = 1 e que cada coeficiente par
é obtido multiplicando o coeficiente par anterior pelo fator

n2 − 72
6= 0 para n par
(n + 2)(n + 1)

uma vez que o numerador pode ser escrito como

(n − 7)(n + 7) 6= 0 para n par

Segue então que y1 (x) não é um polinômio. Os coeficientes ı́mpares são dados por
c1 = c3 = c5 = · · · = 0, uma vez que c1 = 0, e cada coeficiente ı́mpar é obtido à partir
de uma multiplicação pelo coeficiente ı́mpar anterior.
Temos que y2 (x) satisfaz as condições iniciais

c0 = y2 (0) = 0 c1 = y20 (0) = 1

Os coeficientes pares são dados por c0 = c2 = c4 = · · · = 0, uma vez que c0 = 0, e cada


coeficiente par é obtido à partir de uma multiplicação pelo coeficiente par anterior.

Página 50 de 58
Já os coeficientes ı́mpares são dados por

c1 = 1
12 − 72
c3 = c1 = −8
3·2
32 − 72
c5 = c3 = 16
5·4
52 − 72 128
c7 = c5 =−
7·6 7
72 − 72
c9 = c7 =0
9·8

e à partir daı́ temos c11 = c13 = · · · = 0. Segue então que a solução y2 (x) é o polinômio
de grau 7 dado por
128 7
y2 (x) = x − 8x3 + 16x5 − x
7
que é uma função ı́mpar, pois só aparecem potências ı́mpares.

Página 51 de 58
5) (Desafio) No átomo de hidrogênio, a posição do elétron é dada em coordenadas esféricas
por (r, θ, φ), onde r é a distância do elétron ao núcleo, θ é o ângulo polar e φ é o
an̂gulo azimutal. A probabilidade do elétron estar na região de coordenadas (r, θ, φ) com
r ∈ (r1 , r2 ), θ ∈ (θ1 , θ2 ) e φ ∈ (φ1 , φ2 ) é proporcional a
Z r2 Z θ2 Z φ2
2
R(r) dr 2
Θ(θ) dθ Φ(φ)2 dφ z
r1 θ1 φ1

onde R(r) satisfaz a equação

1 0 2mr2

e2 1
 θ
2 0
r R (r) − 2 − − E = λ(λ + 1)
R(r) ~ 4π0 r

onde m é a massa do elétron, ~ é a constante de Planck r


y
dividida por 2π, e é a carga elétrica do próton, 0 é a φ
permissividade no vácuo, E < 0 é a energia do elétron
e λ é um inteiro denominado número quântico orbital.
O objetivo desse exercı́cio é mostrar que R(r) é determi-
nada pela equação de Laguerre, que será resolvida por x
séries de potências no próximo exercı́cio.

a) Seja S(x) solução da equação

x2 S 00 (x) + 2xS 0 (x) + 2νx − x2 − λ(λ + 1) S(x) = 0




Mostre que R(r) = S(κr) é solução da equação do enunciado, onde



−2mE me2
κ= e ν=
~ 4π0 ~2 κ

b) Seja z(x) solução da equação de Laguerre associada

xz 00 (x) − 2(λ − x + 1)z 0 (x) + 2(ν − λ − 1)z(x) = 0

Mostre que S(x) = xλ e−x z(x) é solução da equação do item anterior.


c) Mostre que
(q)
(xy 00 + (1 − x)y 0 + py) = xy (q+2) + (1 − x + q)y (q+1) + (p − q)y (q)

onde p é uma constante, q é um inteiro positivo e y (q) é a derivada q-ésima de y(x).


d) Seja y(x) solução da equação de Laguerre

xy 00 (x) + (1 − x)y 0 (x) + (ν + λ)y(x) = 0

Use o item anterior com p = ν + λ e q = 2λ + 1, para mostrar que

z(x) = y (2λ+1) (2x)

é solução da equação de Laguerre associada.

Solução
a) Primeiro note que podemos escrever a equação do encunciado da seguinte forma

me2
 
2 00 0 2mE 2
r R (r) + 2rR (r) + 2 r + 2 r R(r) = λ(λ + 1)R(r)
4π0 ~2 ~

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Observando que
me2 −2mE
νκ = e κ2 =
4π0 ~2 ~2
a equação acima pode ser escrita como
r2 R00 (r) + 2rR0 (r) + 2νκr − κ2 r2 − λ(λ + 1) R(r) = 0


Como R(r) = S(x), com x = κr, pela regra da cadeia, segue que
R0 (r) = S 0 (x)κ e R00 (r) = S 00 (x)κ2
Substituindo essas expressões no lado direito da equação acima, obtemos que
x2 S 00 (x) + 2xS 0 (x) + 2νx − x2 − λ(λ + 1) S(x)


que é igual a zero pela escolha de S(x), mostrando que R(r) = S(κr) é solução da
equação do enunciado.
b) Como S(x) = xλ e−x z(x), temos que
S 0 = λxλ−1 e−x z − xλ e−x z + xλ e−x z 0
e também que
S 00 = λ(λ − 1)xλ−2 e−x z − λxλ−1 e−x z + λxλ−1 e−x z 0 −
−λxλ−1 e−x z + xλ e−x z − xλ e−x z 0 +
+λxλ−1 e−x z 0 − xλ e−x z 0 + xλ e−x z 00
Segue então que
2νx − x2 − λ(λ + 1) S = 2νxλ+1 e−x z − xλ+2 e−x z − λ(λ + 1)xλ e−x z


2xS 0 = 2λxλ e−x z − 2xλ+1 e−x z + 2xλ+1 e−x z 0

x2 S 00 = λ(λ − 1)xλ e−x z − λxλ+1 e−x z + λxλ+1 e−x z 0 −


−λxλ+1 e−x z + xλ+2 e−x z − xλ+2 e−x z 0 +
+λxλ+1 e−x z 0 − xλ+2 e−x z 0 + xλ+2 e−x z 00
Somando as três equações acima, obtemos, após cancelamentos, que
x2 S 00 +2xS 0 + 2νx − x2 − λ(λ + 1) S = e−x xλ+1 (xz 00 − 2(λ − x + 1)z 0 + 2(ν − λ − 1)z)


que é igual a zero pela escolha de z(x), mostrando que S(x) = xλ e−x z(x) é solução
da equação do item anterior.
c) Vamos provar a fórmula através de indução em q. Quando q = 0, temos que y (0) = y,
de modo que
(0)
(xy 00 + (1 − x)y 0 + py) = xy (0+2) + (1 − x + 0)y (0+1) + (p − 0)y (0)
Se a fórmula for verdadeira para q, vamos mostrar que ela também é verdadeira para
q + 1. De fato, derivando a equação
(q)
(xy 00 + (1 − x)y 0 + py) = xy (q+2) + (1 − x + q)y (q+1) + (p − q)y (q)
obtemos que
(q+1) 0
(xy 00 + (1 − x)y 0 + py) = xy (q+2) + (1 − x + q)y (q+1) + (p − q)y (q)
= y (q+2) + xy (q+3) − y (q+1) + (1 − x + q)y (q+2) + (p − q)y (q+1)
= xy (q+3) + (1 − x + q + 1)y (q+2) + (p − (q + 1))y (q+1)
mostrando que a fórmula também é verdadeira para q + 1.

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d) Derivando a equação de Laguerre

0 = xy 00 (x) + (1 − x)y 0 (x) + (ν + λ)y(x)

e usando o item anterior com p = ν + λ e q = 2λ + 1, obtemos que


(2λ+1)
0 = (xy 00 (x) + (1 − x)y 0 (x) + (ν + λ)y(x))
= xy (2λ+3) (x) + (1 − x + (2λ + 1))y (2λ+2) (x) + (ν + λ − (2λ + 1))y (2λ+1) (x)
= xy (2λ+3) (x) + (2 − x + 2λ)y (2λ+2) (x) + (ν − λ + 1)y (2λ+1) (x)

Multiplicando essa equação por 2 e susbtituindo x por 2x, obtemo que

x4y (2λ+3) (2x) + (2 − 2x + 2λ)2y (2λ+2) (2x) + 2(ν − λ + 1)y (2λ+1) (2x) = 0

de modo que

xz 00 (x) + 2(1 − x + λ)z 0 (x) + 2(ν − λ + 1)z(x) = 0

uma vez que, como z(x) = y (2λ+1) (2x), temos que

z 0 (x) = 2y (2λ+2) (2x) e z 00 (x) = 4y (2λ+3) (2x)

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6) (Desafio) No átomo de hidrogênio, a posição do elétron é dada em coordenadas esféricas
por (r, θ, φ), onde r é a distância do elétron ao núcleo, θ é o ângulo polar e φ é o
an̂gulo azimutal. A probabilidade do elétron estar na região de coordenadas (r, θ, φ) com
r ∈ (r1 , r2 ), θ ∈ (θ1 , θ2 ) e φ ∈ (φ1 , φ2 ) é proporcional a
Z r2 Z θ2 Z φ2
z
R(r)2 dr Θ(θ)2 dθ Φ(φ)2 dφ
r1 θ1 φ1

Temos que Θ(θ) satisfaz a equação θ


1 0
sen(θ) ( sen(θ)Θ0 (θ) ) + λ(λ + 1) sen2 (θ) = µ2

Θ(θ) r
y
onde λ e µ são inteiros denominados números quânticos, φ
respectivamente, orbital e magnético.
O objetivo desse exercı́cio é mostrar que Θ(θ) é determi-
nada pela equação de Legendre, que será resolvida por
séries de potências no próximo exercı́cio.
x

a) Desenvolva a equação do enunciado e obtenha que

µ2
 
00 cos(θ) 0
Θ (θ) + Θ (θ) + λ(λ + 1) − Θ(θ) = 0
sen(θ) sen2 (θ)

b) Seja z(x) solução da equação de Legendre associada

µ2
 
2 00 0
(1 − x )z (x) − 2xz (x) + λ(λ + 1) − z(x) = 0
1 − x2

Mostre que Θ(θ) = z(x), onde x = cos(θ), é solução da equação do item anterior.
c) Seja y(x) solução da equação de Legendre

(1 − x2 )y 00 − 2xy 0 + λ(λ + 1)y = 0

Mostre que

(1 − x2 )y (µ+2) − 2(µ + 1)xy (µ+1) + (λ(λ + 1) − µ(µ + 1))y (µ) = 0

d) Seja y(x) solução da equação de Legendre. Use o item anterior para mostrar que
µ
z(x) = (1 − x2 ) 2 y (µ) (x)

é solução da equação de Legendre associada.

Solução
a) Desenvolvendo
0
sen(θ) ( sen(θ)Θ0 (θ) ) = sen(θ) ( cos(θ)Θ0 (θ) + sen(θ)Θ00 (θ) )
= sen2 (θ)Θ00 (θ) + sen(θ) cos(θ)Θ0 (θ)

a equação do enunciado fica então


1
sen2 (θ)Θ00 (θ) + sen(θ) cos(θ)Θ0 (θ) + λ(λ + 1) sen2 (θ) − µ2 = 0

Θ(θ)

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Mutiplicando por Θ(θ) e dividindo por sen2 (θ) obtemos
µ2
 
00 cos(θ) 0
Θ (θ) + Θ (θ) + λ(λ + 1) − Θ(θ) = 0
sen(θ) sen2 (θ)
como querı́amos.
b) Se Θ(θ) = z(x) e x = cos(θ) então pela regra da cadeia
d
Θ0 (θ) = z(x)

d d
= z(x) x
dx dθ
0
= z (x)(− sen(θ))
de modo que
cos(θ) 0 x
Θ (θ) = (− sen(θ))z 0 (x) = −xz 0 (x) (6)
sen(θ) sen(θ)
e também, novamente pela regra da cadeia
d
Θ00 (θ) = (−z 0 (x) sen(θ))
dθ 
d 0 d
= − z (x) sen(θ) − z 0 (x) sen(θ)
dθ dθ
 
d 0 d
= − z (x) x sen(θ) − z 0 (x) cos(x)
dx dθ
= (z (x) sen(θ)) sen(θ) − z 0 (x)x
00

= (1 − x2 )z 00 (x) − xz 0 (x) (7)


onde usamos que
sen2 (θ) = 1 − cos2 (θ) = 1 − x2
Substituindo as equações (6) e (7) na equação do item anterior, obtemos
µ2
 
00 cos(θ) 0
Θ (θ) + Θ (θ) + λ(λ + 1) − Θ(θ)
sen(θ) sen2 (θ)
µ2
 
2 00 0
= (1 − x )z (x) − 2xz (x) + λ(λ + 1) − z(x)
1 − x2
= 0 (8)
como querı́amos, uma vez que z(x) é solução da equação de Legendre associada.
c) Derivando µ vezes a equação de Legendre, temos que
( (1 − x2 )y 00 − 2xy 0 + λ(λ + 1)y )(µ) =
((1 − x2 )y 00 − 2xy 0 )(µ) + λ(λ + 1)y (µ) = 0 (9)
Afirmamos que
((1 − x2 )y 00 − 2xy 0 )(µ) =
(1 − x2 )y (µ+2) − 2(µ + 1)xy (µ+1) − µ(µ + 1)y (µ) (10)
o que provamos por indução. De fato, temos
((1 − x2 )y 00 − 2xy 0 )(0) =
(1 − x2 )y (2) − 2(1)xy (1) − 0(1)y (0) =
(1 − x2 )y 00 − 2xy 0

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que é a equação (10) para µ = 0. Se a equação (10) vale para µ − 1, temos

((1 − x2 )y 00 − 2xy 0 )(µ−1) =


(1 − x2 )y (µ+1) − 2µxy (µ) − (µ − 1)µy (µ−1)

e provamos que a equação (10) também vale para µ derivando a expressão acima

((1 − x2 )y 00 − 2xy 0 )(µ) =


( (1 − x2 )y 00 − 2xy 0 )(µ−1) )0 =
(1 − x2 )y (µ+2) − 2xy (µ+1) − 2µy (µ) − 2µxy (µ+1) − (µ − 1)µy (µ) =
(1 − x2 )y (µ+2) − 2(µ + 1)xy (µ+1) − µ(µ + 1)y (µ)

como querı́amos, onde usamos que 2µ + (µ − 1)µ = (2 + µ − 1)µ = µ(µ + 1).


Juntando as equações (9) e (10) obtemos que

(1 − x2 )y (µ+2) − 2(µ + 1)xy (µ+1) − µ(µ + 1)y (µ) + λ(λ + 1)y (µ) =
(1 − x2 )y (µ+2) − 2(µ + 1)xy (µ+1) + (λ(λ + 1) − µ(µ + 1))y (µ) = 0 (11)

Isso mostra que toda solução y(x) da equação de Legendre (9) satisfaz (11), como
querı́amos.
d) Uma vez que
((1 − x2 )z 0 )0 = −2xz 0 + (1 − x2 )z 00

podemos reescrer a equação de Legendre associada na forma

µ2
 
2 0 0
((1 − x )z ) + λ(λ + 1) − z=0
1 − x2

Para substituir
µ
z(x) = (1 − x2 ) 2 y (µ) (x) (12)

nessa equação, calculamos

µ2
 
λ(λ + 1) − z = λ(λ + 1)z − µ2 (1 − x2 )−1 z
1 − x2
µ µ
= λ(λ + 1)(1 − x2 ) 2 y (µ) − µ2 (1 − x2 ) 2 −1 y (µ) (13)

e
µ µ µ
z0 = (1 − x2 ) 2 −1 (−2x)y (µ) + (1 − x2 ) 2 y (µ+1)
2
µ µ
= −µx(1 − x2 ) 2 −1 y (µ) + (1 − x2 ) 2 y (µ+1)

logo
µ µ
(1 − x2 )z 0 = −µx(1 − x2 ) 2 y (µ) + (1 − x2 ) 2 +1 y (µ+1)

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e então
µ µ
((1 − x2 )z 0 )0 = ( −µx(1 − x2 ) 2 y (µ) )0 + ( (1 − x2 ) 2 +1 y (µ+1) )0
µ
= −( µx(1 − x2 ) 2 )0 y (µ)
µ µ
−µx(1 − x2 ) 2 y (µ+1) + ( (1 − x2 ) 2 +1 )0 y (µ+1)
µ
+(1 − x2 ) 2 +1 y (µ+2)
µ µ2 µ
= −(µ(1 − x2 ) 2 + x(1 − x2 ) 2 −1 (−2x))y (µ)
2
2 µ (µ+1) µ µ
−µx(1 − x ) 2 y + (( + 1)(1 − x2 ) 2 (−2x))y (µ+1)
2
µ
+(1 − x2 ) 2 +1 y (µ+2)
µ
= (1 − x2 ) 2 −1 (−µ(1 − x2 ) + µ2 x2 )y (µ)
µ
−2(µ + 1)x(1 − x2 ) 2 y (µ+1)
µ
+(1 − x2 ) 2 +1 y (µ+2) (14)

onde usamos que −2(µ/2 + 1) − µ = −2(µ + 1).


Assim, podemos substituir (12) na equação de Legendre associada somando as equações
(13) e (14), obtendo
µ
(1 − x2 ) 2 +1 y (µ+2)
µ
−2(µ + 1)x(1 − x2 ) 2 y (µ+1)
µ
+(1 − x2 ) 2 −1 (−µ2 − µ(1 − x2 ) + µ2 x2 )y (µ)
| {z }
=−µ2 (1−x2 )−µ(1−x2 )
µ
+λ(λ + 1)(1 − x2 ) 2 y (µ)
µ
= (1 − x2 ) 2 (1 − x2 )y (µ+2) − 2(µ + 1)xy (µ+1)

µ
+(1 − x2 ) 2 −1 ( −(µ2 + µ)(1 − x2 ) )y (µ)
| {z }
=−µ(µ+1)
µ
+(1 − x2 ) λ(λ + 1)y (µ)
2
µ
= (1 − x2 ) 2 (1 − x2 )y (µ+2) − 2(µ + 1)xy (µ+1) + ( λ(λ + 1) − µ(µ + 1) ) y (µ)

| {z }
=0, pelo item anterior
= 0

Isso mostra que (12) é solução da equação de Legendre associada, toda vez que y(x)
é solução da equação de Legendre, como querı́amos.

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