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Recorrente:JBS S.A.
Advogado  :Dr. Richard Campanari
Advogado  :Dr. Mozart Victor Russomano Neto
Recorrido :SIVALDO NEVES DOURADO
Advogado  :Dr. André Luis Martinelli de Araújo
IGM/mp/as
D E S P A C H O

RELATÓRIO
Contra o acórdão do 14º Regional que deu provimento
parcial   aos   recursos   ordinários   de   ambas   as   Partes   (seq.   1,   págs.
551­574) e rejeitou seus embargos de declaração (seq. 1, págs. 614­
619), a Reclamada interpõe o presente recurso de revista, postulando
a   reforma   do   acórdão   recorrido   quanto   à  nulidade   do   julgado   por
ausência   de   prestação   jurisdicional,   à  inaplicabilidade   de   CCT   de
categoria diferenciada,  ao  controle de jornada de trabalho externa,
à multa do art. 477, § 8º, da CLT, à nulidade do pagamento de horas
extras   fixas,  à  integração   das   diárias   de   viagem  e   aos  honorários
advocatícios (seq. 1, págs. 629­658). 
Foram   apresentadas  contrarrazões,   nas   quais   o
Reclamante  renuncia expressamente  aos  honorários advocatícios,  tema
pelo qual houve admissão do recurso de revista. Dispensada a remessa
dos autos ao Ministério Público do Trabalho, nos termos do art. 95,
§ 2º, II, do RITST.
FUNDAMENTAÇÃO 
Tratando­se de recurso de revista interposto contra
acórdão   publicado   anteriormente  à  Lei   13.467/17,   deixa­se   de
analisar a transcendência do apelo, nos termos do art. 246 do RITST.
Igualmente, trata­se de recurso de revista interposto contra acórdão
publicado anteriormente à Lei 13.015/14.
No que toca à  renúncia aos honorários de advogado
como   ressarcimento   por   perdas   e   danos,   o   pleito   formulado   por
advogado   com   poderes   nos   autos   (seq.   1,   pág.   37)   merece  acolhida,
sendo  válida   a   renúncia  a   direito   suscetível   de   renúncia,   e,
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portanto, passível de ser  homologada, nos termos do  art. 487, III,


“c”,   do   CPC,  como   ora   se   procede.   No   entanto,   pela   sistemática
prevista  na  Súmula 285  do TST,  vigente  à   época da  interposição do
recurso de revista, a admissão do apelo no juízo a quo por apenas um
dos   temas  devolvia  ao  Tribunal  ad   quem  a  apreciação  de  todos  os
demais  temas   recursais.   Portanto,   no   caso,   o   fato   de   o   Reclamante
renunciar   ao   direito   que   dera   azo   à   admissão   do   apelo   pelo   Juízo
Regional não impede, por si só, o trânsito do recurso de revista, na
medida   em   que,   conforme   a   súmula   citada,   as   demais   matérias   são
devolvidas, ainda que a admissibilidade tenha sido parcial. 
Quanto   à  nulidade   do   julgado   por   ausência   de
prestação   jurisdicional,  o  recurso   de   revista  encontra­se  arrimado
apenas  em  divergência  jurisprudencial,  em  franco  descompasso  com  o
entendimento cristalizado na Súmula 459 desta Corte, que assenta que
“o   conhecimento   do   recurso   de   revista,   quanto   à   preliminar   de
nulidade,   por   negativa   de   prestação   jurisdicional,   supõe   indicação
de violação do art. 832 da CLT, do art. 489 do CPC de 2015 (art. 458
do CPC de 1973) ou do art. 93, IX, da CF/1988”. Logo, não há como
apreciar a preliminar.
No   que   se   refere   à  inaplicabilidade   de   convenção
coletiva   de   categoria   profissional   diferenciada   pelos   critérios   da
territorialidade   e   da   unicidade   sindical,   a   Reclamada   pretende   a
aplicação ao Reclamante, motorista de caminhão, de norma coletiva da
categoria  dos  motoristas  de  transporte  rodoviário  do  Sindicato  dos
Condutores   de   Veículos   Rodoviários   e   Anexos   de   Lins,   Promissão,
Guaiçara, Getulina, Cafelândia, Guaranta, Pirajuí e Sabino (SP), com
ela   firmada,   por   abranger   o   local   da   contratação   do   Trabalhador.
Aponta violação dos arts. 7º, XXVI, da CF e 511, §§ 1º, 2º e 3º, da
CLT,  bem  como  divergência  jurisprudencial  e  contrariedade  à  Súmula
374 do TST.
O  Regional  concluiu   pela  aplicação  da  norma
coletiva  firmada   entre   o   SINDICATO   DAS   EMPRESAS   DE   TRANSPORTES   DE
CARGA   DO   ESTADO   DE   RONDÔNIA   e   o   SINDICATO   DOS   TRABALHADORES   EM
TRANSPORTE   RODOVIÁRIO   NO   ESTADO   DE   RONDÔNIA,   categoria   a   que
pertence   a   Reclamada   e   haja   vista   a   prestação   de   serviços   pelo
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Reclamante   ter­se   dado   apenas   nos   limites   do  Estado   de   Rondônia,


como   se   depreende   do   seguinte   excerto:  “é   incontroverso   nos   autos
que o autor prestou seus serviços  à reclamada na unidade de Porto
Velho­RO,   durante   toda   a   vigência   do   contrato   de   trabalho,
realizando o transporte de semoventes para abate desde as fazendas
localizadas   no   Estado   de   Rondônia   até   a   sede   da   empresa,   logo,
apesar de ser itinerante o labor, conforme alega a recorrente, não
foi   exercido   fora   dos   limites   territoriais   deste   Estado   da
Federação” (seq. 1, pág. 556).
Por outro lado, o acórdão regional assevera que a
Reclamada  estava  representada  pelo  Sindicato  patronal  do  Estado  de
Rondônia,   como   se   depreende,  verbis:   “já   a   Convenção   Coletiva   de
Trabalho apresentada com a petição inicial pelo autor (Id. 472666)
foi   firmada   entre   o   SINDICATO   DOS   TRABALHADORES   EM   TRANSPORTE
RODOVIÁRIOS NO ESTADO DE RO e o SINDICATO DAS EMPRESAS DE TRANSPORTE
DE   CARGA   DO   ESTADO   DE   RO,   portanto,   categoria   a   que   pertence   a
reclamada,   já   que   o   código   e   descrição   de   sua   atividade   econômica
principal   são   os   seguintes:   49.30­2­02   ­   Transporte   rodoviário   de
carga,   exceto   produtos   perigosos   e   mudanças,   intermunicipal,
interestadual   e   internacional,   conforme   se   extrai   de   simples
consulta   no   sítio   da   Receita   Federal   (Fonte:
http://www.receita.fazenda.gov.br/PessoaJuridica/CNPJ/cnpjreva/Cnpjr
eva_Solicitacao.asp, acessado em 17­7­2014)” (seq. 1, pág. 556).
Ante tais ponderações do acórdão regional, não há
como cogitar de contrariedade à Súmula 374 do TST, pois a Reclamada
foi representada por órgão de classe de sua categoria.
Quanto aos  arestos  acostados à  seq. 1, págs. 643­
644, emanam de Turmas do TST, hipótese não albergada pelo art. 896,
“a”, da CLT.
Pelo prisma do art. 7º, XXVI, da CF, que reconhece
a validade das negociações coletivas, não houve afronta, na medida
em que o TRT não invalidou nenhuma norma coletiva, apenas determinou
a   aplicação   da   norma   coletiva   relativa   ao   lugar   da   prestação   de
serviços   do   Reclamante.   O   recurso   não   atende   ao   disposto   no  art.
896, “c”, da CLT.
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O art. 511, caput e §§ 1º, 2º e 3º, da CLT, apenas
prevê a forma de associação das classes profissionais ou econômicas,
para fins de representação sindical, não se referindo, portanto, a
critérios   para   aplicação   das   normas   coletivas   ao   contrato   de
trabalho, que é a questão dos autos. Incólume o  art. 896, “c”, da
CLT.
Pela perspectiva do controle de jornada de trabalho
externa,   a  decisão   regional,   fulcrada   na   apreciação   da  prova
produzida, notadamente na  confissão do preposto  da Reclamada acerca
da existência de controle da jornada do Autor, não pode ser revista
nesta Instância Recursal extraordinária, nos moldes da Súmula 126 do
TST.   Desta   sorte,   descabe   a   apreciação   da   divergência
jurisprudencial,   da   contrariedade   à   OJ   332   da   SBDI­1   do   TST   e   da
violação   constitucional   e   legal.   Note­se   que   os   questionamentos
acerca   da   validade   da   prova   emprestada   caem   por   terra,   diante   do
acolhimento   da   confissão   da   Reclamada,   que   é   fundamento   autônomo
para a manutenção da condenação nas horas extras.
No   que   se   reporta   à  multa   do   art.   477,   §   8º,   da
CLT, o recurso prospera pela demonstração da má aplicação dos §§ 6º
e 8º do art. 477 da CLT. Com efeito, a decisão regional reconheceu a
incidência da multa do art. 477, § 8º, da CLT, para a hipótese de
pagamento   a   menor   das   verbas   rescisórias,   olvidando   de   que,   nos
termos   do  entendimento   reiterado   desta   Corte   Superior,   a  multa  em
tela, por se tratar de  penalidade, somente pode ser aplicada quando
verificado o descumprimento em relação ao seu fato gerador, que é o
prazo   assinalado   pelo   §   6º   do   art.   477   da   CLT,   situação   não
consignada   em   relação   ao   pagamento   das   verbas   rescisórias   nestes
autos.
No   mérito,   endossam   tal   entendimento   os
precedentes: TST­RR 693­62.2010.5.06.0007, Rel. Min. Walmir Oliveira
da   Costa,  1ª   Turma,   DEJT   de   16/03/18;   TST­AIRR   1430­
18.2010.5.06.0010,  Rel.  Min.  Maria  Helena  Mallmann,  2ª  Turma,  DEJT
de   20/10/17;   TST­RR   149400­34.2013.5.13.0006,   Rel.   Min.  Alexandre
Agra   Belmonte,  3ª   Turma,   DEJT   de   04/05/18;   TST­RR   166700­
83.2013.5.17.0010, Rel. Min. Alexandre Luiz Ramos, 4ª Turma, DEJT de
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11/05/18; TST­RR 134300­28.2013.5.17.0006, Rel. Min. Breno Medeiros,
5ª   Turma,   DEJT   de   23/03/18;   TST­RR   69700­17.2012.5.17.0011,   Rel.
Min. Kátia Magalhaes Arruda, 6ª Turma, DEJT de 20/04/18; TST­AG­AIRR
337­36.2014.5.02.0351,   Rel.   Min.  Cláudio   Mascarenhas   Brandão,  7ª
Turma,   DEJT   de   18/05/18;   TST­ARR   1499­31.2011.5.06.0005,   Rel.   Min.
Dora   Maria   da   Costa,  8ª   Turma,   DEJT   de   29/09/17;   TST­E­RR   68700­
41.2011.5.17.0132, Rel. Min.  Walmir Oliveira da Costa,  SBDI­1, DEJT
de 02/03/18.
Nesse sentido, o recurso deve ser provido, a fim de
que a multa do art. 477, § 8º, da CLT seja excluída da condenação. 
No que concerne ao pagamento de horas extras fixas,
a decisão regional, ao considerar que o montante de 50 horas extras
fixas mensais recebido desde o primeiro mês da contratação, conforme
a   ficha   financeira   do   Obreiro,   representava  fraude,   remunerando
apenas as horas ordinárias de trabalho, caminhou na mesma esteira do
entendimento   pacificado   na   SBDI­1   deste   Tribunal,   segundo   o   qual
configura   fraude   a   contratação   das   horas   extras   efetuada   após   a
admissão   do   empregado,   em   razão   do   pagamento   invariável   e
desvinculado   da   prestação   efetiva   de   serviços,   devendo   a   parcela
paga   a   título   de   horas   extras   durante   a   contratualidade   ser
integrada à remuneração. São precedentes com a mesma ratio decidendi
dos   autos:   TST­E­ARR­320­57.2010.5.09.0670,   Rel.   Min.  Hugo   Carlos
Scheuermann,   DEJT   de   10/08/17;   TST­E­ED­ED­RR­2310­
71.2013.5.03.0015,   Rel.   Min.  José   Roberto   Freire   Pimenta,   DEJT   de
06/05/16;   TST­E­ED­RR­792900­15.2004.5.09.0011,   Rel.   Min.  Aloysio
Corrêa   da   Veiga,   DEJT   de   20/04/2012;   TST­E­RR­1219­
71.2010.5.18.0131,  Rel.  Min.  Horácio  Raymundo  de  Senna  Pires,  DEJT
de 05/10/12.
Destarte, a Súmula 333 do TST impede o trânsito do
recurso   de   revista,   restando   rechaçada   alegação   de   violação   de
dispositivos legais. 
Quanto   à  integração   das   diárias   de   viagem,   o
acórdão recorrido deu  correta aplicação à  Súmula 101 do TST, quando
consignou   que,   “em   análise   às   fichas   financeiras   do   obreiro   (Id.
553974), observo que os valores deferidos a título de diárias, com a
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dedução do importe já quitado mensalmente, ultrapassa o montante de
50%   do   salário   do   reclamante,   logo,   em   cumprimento   ao   disposto   no
§2º do art. 457 da CLT e previsão contida na Súmula n. 101 do c.
TST, deve integrar o salário base do reclamante para fins do cálculo
das   horas   extras   e   demais   parcelas   remuneratórias”   (seq.   1,   págs.
566­567).
O  questionamento  sobre   a  não   aplicação   da   norma
coletiva  que previu o valor das diárias ao contrato de trabalho do
Obreiro   fica  prejudicado  diante   da  não   admissão   do   apelo   patronal
quanto   ao   item   da   inaplicabilidade   da   norma   coletiva   do   Estado   de
Rondônia. Quanto ao  fundamento  de que  não caberia a integração das
diárias, porque  não ultrapassariam 50% do salário, quando procedida
a integração do prêmio e das horas extras fixas, o Regional, apesar
de instando pela via dos embargos de declaração, apenas transcreveu
a decisão já proferida, não enfrentando o aspecto. Sendo a questão
de   nítido  viés   fático­probatório,   e   não   jurídico,  não   demanda  nem
mesmo a aplicação do prequestionamento ficto previsto na Súmula 297,
III, do TST. 
Em arremate, no que toca à insurgência da Reclamada
quanto   aos  honorários   de   advogado  como   ressarcimento   por   perdas   e
danos, a apreciação do recurso de revista fica prejudicada diante da
renúncia do Reclamante quanto à verba, manifestada em contrarrazões.
CONCLUSÃO
Do exposto:
a)  com   arrimo   no  art.   487,   III,   “c”,   do   CPC,
homologo a renúncia  do  Reclamante  quanto aos  honorários de advogado
como indenização por perdas e danos; 
b) com esteio nos arts. 896, § 14, da CLT, 932, III
e V, do CPC e 251, I e III, do RITST,  dou provimento  ao recurso de
revista quanto à multa do art. 477, § 8º, da CLT, para excluí­la da
condenação,   e  denego   seguimento  ao   recurso   de   revista   quanto   aos
temas remanescentes.
Publique­se.
Brasília, 03 de agosto de 2018.
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Firmado por assinatura digital (MP 2.200­2/2001)
IVES GANDRA DA SILVA MARTINS FILHO
Ministro Relator

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