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Tese de Final de Secundário

«Sonata» Op.29, Robert Muczynski

Lukas Fleischhacker de Azevedo

Julho 2019

Orientador: Professor Hélder Alves


Agradecimentos

À Escola Artística de Música do Conservatório Nacional por todo o bom conhecimento


transmitido. Ao Professor Hélder Alves pelo esforço e dedicação e por ter, realmente, marcado
a minha vida. À Professora Rita Nunes pelo empenho e sensibilidade demonstrada ao longo do
meu percurso. À Professora Lilian Kopke e Anne Victorino d’ Almeida pelo seu humanismo. À
Professora Maria José Borges e a todos os outros professores com quem me cruzei durante o
meu percurso por toda a sabedoria que me entoaram. Ao meu colega Pedro Serra por me ter
ajudado a pensar na música. Ao Professor Carlos Covas por ainda ser uma pedra angular no
meu desenvolvimento como músico. Ao saxofonista Trent Kynaston pelo acesso a informações
indispensáveis ao desenvolvimento desta tese. À Professora Patrícia Limpo pela ajuda e por ser
sempre minha amiga. À minha irmã Lara por me ter ajudado a levantar nas fases mais críticas.

Dedico este trabalho à minha mãe Nuria, ao meu padrasto Pedro e aos meus melhores amigos
Lourenço, Miguel e José pois sem eles a minha vida não teria qualquer significado.
Índice Geral

Agradecimentos

Introdução 5

1. O compositor 6

1.1 Biografia 6

1.2 Contextualização histórica e cultural 7

2. A obra 8

2.1 Contexto histórico 8

2.1.1 Perspetiva atual da obra 9

2.2 Análise da obra

3. Diferentes abordagens à obra

4. Conclusão
Introdução

Este trabalho começou de forma a ser uma alternativa à minha incapacidade de tocar
saxofone devido à minha situação médica e, consequente, impossibilidade de fazer a
PAA como os meus colegas.
Durante a sua fase de construção, o trabalho revelou-se entusiasmante e uma fonte de
aprendizagem devido a todos os factos que fui encontrando ao longo da minha
pesquisa. Muito desse entusiasmo devo à Escola Artística de Música do Conservatório
Nacional pelo percurso que me proporcionou. Percurso esse que se revelou difícil
devido à exigência presente mas que também gratificante devido às fantásticas
pessoas que me acompanharam.
Este ofício visa falar de uma das obras mais emblemáticas do repertório saxofonístico.
O trabalho vai ser divido em três partes: na primeira parte falarei do compositor e das
suas caraterísticas. Na segunda parte abordarei vários pontos da obra através da sua
história, análise e comparação clássico/jazz. Na terceira parte irei concluir o trabalho
com uma apreciação pessoal à obra e como a abordei na sua preparação para o recital.
1.O compositor

1.1Biografia

Robert Muczynski foi um Compositor Polaco-Americano (os avós eram polacos


emigrantes), nasceu a 19 de Março de 1929 e morreu no dia 25 de maio de 2010.

Estudou piano com Walter Knupfer e composição com Alexander Tcherepnine


na Universidade de DePaul, tendo concluído o mestrado em piano (performance)
no ano de 1952.

Após lecionar no «Loras College» e na Universidade de Roosevelt, instala-se


nos anos 60 em Tucson (EUA) e torna-se compositor residente e chefe do
departamento de composição da Universidade do Arizona.

Pelas mãos de Tcherepnine, Robert Muczynski tornou-se compositor e pianista


profissional tendo feito a sua estreia no Carnegie Hall aos 29 anos, tocando
obras da sua autoria. (Cisler 1993)

Parece-me interessante relatar neste trabalho algumas curiosidades sobre a vida


deste autor. Assim, segundo relatos de pessoas próximas ao compositor, foi
Alexander Tcherepnine que realmente inspirou Muczynski a dedicar-se à
composição afincadamente. (Cisler 1993)

Hoje em dia, as suas obras são reconhecidas mundialmente, sendo


interpretadas nos quatro continentes e por orquestras como «Chicago Symphony
Orchestra» ou a «National Symphony Orchestra D.C».

Das suas obras destacam-se a Sonata para Flauta e Piano (Op.14) e o Concerto
para Piano n.1 (Op. 7).

Robert Muczynski revela ter na base da sua inspiração autores como Beethoven,
Liszt, Prokofiev,Bartok, Copland e Samuel Barber. Ao saber que Muczynski
nasceu em Chicago no ano de 1929, ou seja, esteve em contato com o jazz e o
blue uma vez que nos anos 30 e 40, Chicago recebia concertos de artistas como
Louis Armstrong ou Buddy Guy, isto faz-me perceber as referencias do Jazz nas
suas composições. Trabalhou e viveu em Tucson perto da fronteira com o
México, tendo inclusive passado algum tempo naquele país. Assim a música
latina revela-se como mais uma influência das suas composições.
Robert Muczynski teve ainda como referência o livro «The Homophonic Formas
of a Musical Composition» de Percy Goetschius vindo a mostrar-se importante
na sua maturação como compositor. Este livro defende que, para uma
composição bem sucedida, devemos ter em consideração os seguintes
requisitos: Compreensão e comando dos sons; Imaginação fértil; Emoção;
Intelectualização equilibrada. (Cisler 1993)

1.2. Contextualização histórica e cultural

O compositor faz parte de um período em que os compositores americanos


procuravam a sua identidade querendo ser o centro da mudança e da inovação
da música Ocidental.

Robert Muczynski é contemporâneo de Charles Ives, Samuel Barber e Aaron


Copland.

Muczynski não aceitou o «experimentalismo» que Henri Eisler trouxera para os


EUA. Em relação a uma abordagem experimental, Muczynski disse: «Eu não
escrevo com os cotovelos!» (Cisler 1993)

Beleza, positivismo, excitação e paixão são algumas qualidades que Muczynski


procurava na sua música. (Cisler 1993)

Muczynski e Copland defendiam que movimentos como o Serialismo (utilização


dos 12 tons) não despertavam a alma e o coração, só o cérebro. Os dois
compositores tinham medo que a música se torna-se desumana devido aos
métodos cognitivos dos novos movimentos. (Cisler 1993)

Sabendo que viveu numa época marcada pela intelectualização da música é


curioso perceber que numa entrevista, o compositor admitiu que compunha
instintivamente, de ouvido, fazendo-me crer que o autor de alguma forma
contrariou esse movimento tornando a sua música mais emotiva, expressiva.
2. A obra

2.1. Contexto histórico

A obra foi escrita para o saxofonista Trent Kynaston em 1970 e estreada no


mesmo ano no segundo Congresso Internacional de Saxofone em Chicago
(Trent Kynaston-Saxofone e Milton Granger-Piano). Foi encomendada pelo
saxofonista com o objetivo de ser estreada nesse mesmo Congresso.

O compositor começou por escrever dois andamentos (rápido e lento) e,


enquanto compunha o terceiro andamento; decidiu inverter os dois andamentos
e deu a obra como concluída.

Inicialmente, o título da obra era «Desert Sketches» devido à paisagem desértica


que se via da janela da casa de Muczynski. No fim, Trent Kynaston convenceu
o compositor a trocar o nome para «Sonata» pois era um título mais profundo e
mais propício a atrair a atenção dos saxofonistas clássicos da época.

Apesar de o compositor não ter escrito qualquer nota, Trent Kynaston evoca o
seguinte cenário:

 Primeiro andamento («Andante Maestoso»): A noite no deserto,


fria e escura. Num momento sentimental e expressivo e no outro
sem vida. Termina o andamento de forma «desolada e escura»
 Segundo andamento («Allegro energico»): Este andamento
evoca o predador a perseguir a sua presa em pleno dia no
deserto. Este cenário é evidente nas interações entre o saxofone
e o piano, as partes de pergunta e resposta e as dissonâncias
inesperadas.

Após a conclusão da peça, Robert Muczynski e Trent Kynaston gravaram-na


para enviar como referência para o pianista que iria, com Kynaston, estrear a
peça. Algum tempo depois foram para o estúdio para gravar novamente a obra
para um album intitulado «The Chamber Music of Robert Muczynski». No final
Muczynski escolheu a gravação que eles tinham feito para referência para pôr
no álbum pois o compositor, apesar das falhas, preferia a energia sonora dessa
versão.

2.1.1. Perspetiva atual da obra

Atualmente, a obra «Sonata» de R. Muczynski mostra-se imprescindível no


reportório do saxofone. É interpretada em recitais e concertos um pouco por todo
o mundo.

Esta peça é igualmente importante no desígnio dos grandes concursos


internacionais de saxofone, tais como, o «Josip Notcha Competition» ou o
«Adolph Sax International Competition».
3. Diferentes abordagens à obra

Neste capítulo, irei abordar a obra em dois planos estilísticos distintos. Num primeiro
plano, uma interpretação clássica pela mão de Cristian Battaglioli. A segunda
interpretação será de Branford Marsalis logo mais jazzística.
Na performance de Cristian Battaglioli, o som é cheio e puramente clássico e o vibrato
é menos expressivo, ou seja, um «vibrato americano». Em termos da obra, o
saxofonista é mais disciplinado nas notações que nela existem (dinâmicas,
articulações, crescendos, descrescendos). No primeiro andamento, o principal
destaque vai para a grande expressividade oferecida ao «agitato» (a partir do
compasso 44). No segundo andamento, a articulação do intérprete é curta e as
acentuações são bem vincadas. Por fim, é importante referir a firme comunicação que
existe entre o saxofone e o piano durante toda a realização da peça.
Em contraste, Branford Marsalis, toca a peça com um som mais aberto e,
curiosamente, um vibrato mais expressivo, característico da escola francesa de
saxofone. A abordagem que o saxofonista americano faz à obra e mais livre, ou seja, as
articulações são diferentes (ex: no primeiro andamento, compasso 25, ele faz os
harmónicos ligado e no segundo andamento, no compasso 114, o saxofonista articula
a quarta colcheia); as dinâmicas são alteradas e o tempo é mais livre devido aos
«riterdandos» que o saxofonista e a pianista fazem. De referir também que os finais de
frases mais curtas nesta interpretação.
5. Conclusão

Concluindo, devo mencionar que a obra é, apesar da sua curta duração em


comparação a outras obras para saxofone, uma autêntica enciclopédia para o
desenvolvimento de matérias como harmónicos, dinâmicas, articulações, variedade de
texturas sonoras ou expressividade/musicalidade.
O seu estudo acabou por ser, para mim, um verdadeiro desafio. Permitiu-me olhar
para a obra de várias maneiras diferentes devido à sua flexibilidade estilística. Para
uma performance mais eficaz, vi-me obrigado a fortalecer a conjuntura
saxofone/piano, pois existe uma constante comunicação entre ambos os instrumentos
durante a peça. Notei mais dificuldade na articulação, no vibrato, nas dinâmicas e na
vertente rítmica da obra.
No entanto, penso que nada foi mais recompensador do que tocar uma obra tão bela,
expressiva e complexa como a «Sonata» de Robert Muczynski.

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