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Kistemaker
As Parábolas de JESUS
Diretoria Executiva:
Diretor-Presidente:
Editor: Cláudio Marra
Diretor-Comercial:
Revisão:
Arte:
Composição:
Dezembro de 1992
Valter Graciano Martins
Editor
PREFÁCIO
Simon J. Kistemaker
1980
ABREVIATURAS
Livro da Bíblia
Gn Jr Lc
Êx Lm Jo
Lv Ez At
Nm Dn Rm
Dt Os 1,2 Co
Js Jl Gl
Jz Am Ef
Rt Ob Fp
1,2 Sm Jn Cl
1,2 Rs Mq 1,2 Ts
1,2 Cr Na 1,2 Tm
Ed Hc Tt
Ne Sf Fm
Et Ag Hb
Jó Zc
Introdução
Com muita freqüência, os jornais trazem, junto aos editoriais,
com destaque, uma caricatura. Com poucas linhas, o artista traça o
esboço humorístico de um fato político, social ou econômico, atual.
Através do desenho ele transmite uma mensagem contundente e
direta, cuja eloqüência um redator dificilmente poderia alcançar.
Formas
1
R. Schippers, “The Mashal-character of the Parable of the Pearl”, em Studia
Evangelica, cd F. L. Cross (BcrIin: Akademíe-Verlag, 1964), 2:237.
2
F. Haucck, TDNT, V:752.
no presente. A história em forma de parábola, por outro lado, se refere
a um acontecimento em particular, que teve lugar no passado —
geralmente a experiência de uma pessoa. É, por exemplo, a
experiência de um fazendeiro que semeou trigo e, mais tarde,
percebeu que seu inimigo semeara o joio no mesmo pedaço de chão
(Mt 13.24-30). É a história de um homem rico, cujo administrador
defraudou os seus bens (Lc 16.1-9); ou, é o relato a respeito de um
juiz que julgou a causa de uma viúva atendendo a seus inúmeros
pedidos (Lc 18.1-8). O interesse dessas histórias não está na narrativa,
porque o que é significativo nelas não é o fato, mas a verdade
transmitida.
Composição
3
A. M. Hunter, The Parables Then and Now (London: Westminster Press, 1971), p.
12.
homens para trabalhar em sua vinha e, às seis horas, ouviu
reclamações de alguns dos trabalhadores, o mais importante é a
resposta do dono: “Amigo, não te faço injustiça... são maus os teus
olhos porque eu sou bom?” (Mt 20.13,15).
Propósito
Isso significa que Jesus, que foi enviado por Deus para proclamar
a redenção dos homens caídos e pecadores, esconde essa mensagem
através de parábolas incompreensíveis? As parábolas são, então, um
tipo de enigma compreendido apenas pelos iniciados?
Interpretação
10
C. E. van Koetsveld, De Gelykenissen van den Zaligmaker (Schoonhoven, 1869),
vols. 1, 2.
11
A. Jülicher, Die Gleichnisredcn Jesu (Tübingen: Buchgesellschaft, 1963), vols. 1, 2.
início12. Enquanto Jülicher via Jesus como um professor de princípios
morais, C. H. Dodd o considerou como uma pessoa histórica, dinâmica,
que, com seus ensinamentos, provocou um período de crise. Disse
Dodd: “A tarefa de um intérprete de parábolas é descobrir, se puder, a
aplicação da parábola na situação pretendida pelos Evangelhos”13.
Jesus ensinava que o reino de Deus, o Filho do Homem, o Juízo e as
bem-aventuranças passavam a fazer parte da história daquela época.
Para Jesus, de acordo com Dodd, o reino significava o governo de Deus
exemplificado em seu próprio ministério. Portanto, as parábolas
ensinadas por Jesus devem ser entendidas como diretamente
relacionadas com a efetiva situação do governo de Deus na terra.
Princípios
19
L. Berkhof, PrincipIes of Biblical Interpretation (Grand Rapids: Baker Book House,
1952), p. 100.
20
A. B. Mickelsen, Interpreting the Bible (Grand Rapids: Ecrdmans 1963), p. 229.
ordem para amar o próximo se torna cheia de significado quando a
pessoa que foi roubada e ferida na estrada de Jericó não é mais uma
figura de um passado distante. Ao contrário, o próximo que clama pelo
nosso amor é o sem-teto, carente e oprimido. Ele vem ao nosso
encontro na estrada de Jericó das páginas diárias dos jornais e do
noticiário colorido da televisão.
Classificação
21
K. Aland, Synopsis of lhe Four Gospels (Stuttgart: Württembergische Bibelanstalt,
1976).
forma de parábolas são estudadas neste livro. Todas as principais
parábolas estão arroladas, assim como a maior parte das declarações
em forma de parábola. Naturalmente, uma seleção foi necessária com
relação a essas declarações, por isso a parábola do sal está incluída e
a da candeia foi omitida. Apenas as declarações em forma de parábola
que se encontram nos Evangelho Sinóticos foram estudadas, não
aquelas encontradas no Evangelho de João.
Mateus 5.13 “Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier a ser insípido,
como lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta senão para,
lançado fora, ser pisado pelos homens”.
Marcos 9.50 “Bom á o sal; mas se o sal vier a tornar-se insípido, como
lhe restaurar o sabor? Tende sal em vós mesmos, e paz uns com os
outros”.
22
Dt 29.22,23; Jz 9.45; Jó 39.6; SI 107.34; Jr 17.6; Sf 2.9.
23
Jeremias, Parables, p. 169; J. H. Marshall, The Gospel of Luke (Grand Rapids:
Eerdmans,1978), p. 596; Hauck, TDNT, 1.229.
O que se pode fazer com o sal insípido? Não serve para nada. Os
fazendeiros não querem esse produto químico em suas terras, pois, no
estado bruto, prejudica as plantas. Jogar esse resíduo na pilha de
estrume também não resolve, pois, comumente, o esterco é
espalhado na terra, como fertilizante. A única coisa que se pode fazer
com o sal insípido é lançá-lo fora onde será pisado24. Se o sal perder
sua propriedade básica e deixar de ser salgado25, não se poderá mais
recuperá-la.
“Tende sal em vós mesmos, e paz uns com os outros”, diz Jesus
(Mc 9.50). Ele exorta seus seguidores a usar dotes espirituais para
promover a paz26, primeiro em casa, e depois com os outros. Porque
os cristãos não têm sido capazes de viver em paz entre si mesmos,
têm perdido sua eficiência no mundo.
24
E. P. Deatrick, em “Salt, Sou, Savior”, 13A 25 (1962): 47, citando Lamsa, menciona
que no moderno Israel “o sal insípido é espalhado em terraços cobertos com terra.
Por causa do sal, a terra endurece. Os terraços são, então, usados como áreas de
lazer e de brincadeiras de crianças”.
25
O verbo em Mateus 5.13 e Lucas 13.34 para “tomar-te insípido” é môrainein, que
tem o sentido original de “fazer tolice”, na voz ativa, e “fazer-se de tolo”, na voz
passiva. W. Bauer, W. F. Arndt, F. W. Gingrich e F. Danker, A Greek-English Lexicon
of the New Testament (Chicago: University of Chicago Presa, 1978), p. 531.
26
W. Nauck, “Salt asa Metaphor”, St Th 6 (1953); 176.
2. Os Dois Fundamentos
Mateus 7.24-27 “Todo aquele, pois, que ouve estas minhas palavras e
as pratica, será comparado a um homem prudente, que edificou a sua
casa sobre a rocha; e caiu a chuva, transbordaram os rios, sopraram
os ventos e deram com ímpeto contra aquela casa, que não caiu,
porque fora edificada sobre a rocha. E todo aquele que ouve estas
minhas palavras e não as pratica, será comparado a um homem
insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; e caiu a chuva,
transbordaram os rios, sopraram os ventos e deram com ímpeto
contra a casa, e ela desabou, sendo grande a sua ruma”.
27
E. F. F. Bishop, em “Jesus of Palestine” (London; Lutterworth Press, 1955), p. 86,
faz referencia a casas de barro, entre Gaza e Asquelon, que tinham sido construídas
O construtor prudente escolhe um local sobre a rocha. Assim, ele
não temerá que uma chuva torrencial, provocando o súbito
transbordamento de um riacho, arraste a casa, nem receará as
rajadas de vento que se abaterão sobre ela. O alicerce da casa
construída sobre a rocha resistirá.
bem longe de um curso de água, para evitar que uma súbita mudança de sua
direção as atingisse. Mas, durante um inverno no deserto de Neguebe, um leito seco
se encheu subitamente, mudou seu curso, e inundou completamente um
acampamento beduíno, causando a morte de pessoas e de gado.
28
Jeremias, Parables, p. 27. As casas gregas eram, muitas vezes, construídas com
porões (= alicerces), o que não era comum na Palestina.
Essa parábola faz eco às palavras do profeta Ezequiel. Ele
descreve uma parede frágil que é construída, a chuva torrencial, o
granizo batendo com força e a violência do vento que explode. Assim,
a parede cai (Ez 13.10-16).
Aplicação
29
Jeremias, em Parables, p. 161, segue a sugestão de Bishop, em Jesus of Palestine,
p. 104. Jeremias escreve: “O fato de algumas crianças estarem sentadas talvez
implique que estivessem satisfeitas em apenas se queixar e se lamentar, deixando
para outros, tarefas mais cansativas”. Há no entanto, grande perigo em se ir tão
longe na interpretação do texto.
30
Marshall, Luke, p. 300.
31
E. Mussner, em “Der nicht erkannte Kairos (Mt 11.16-19 = L.c 7.31-35)”. Bid
40(1959)600; descreve todas as crianças sentadas e gritando.
geração” (Lc 7.31) e as crianças que faziam recriminações. Os judeus
estavam descontentes tanto com João Batista como com Jesus, assim
como as crianças com os seus companheiros. Segundo, ela coloca as
queixas das crianças, aplicadas a João e a Jesus, numa ordem
cronológica32. João veio como um asceta que vivia de gafanhotos e mel
silvestre — não era de seu agrado comer pão e beber vinho —, e os
judeus o acusaram de ser possuído pelo demônio. Jesus, ao contrário,
comia pão e bebia vinho, e eles o chamaram de glutão e beberrão,
amigo dos publicanos e “pecadores”. Deus enviou seus mensageiros
nas pessoas de João e Jesus, mas seus contemporâneos nada fizeram
senão achar faltas neles.
Paralelos
Conclusão
32
A. Plummer, The Gospel of Luke (ICC) (New York: C. Scribner & Sons, 1902), p. 163.
33
Mt 9.11; Lc 5.30; 15.1,2; 19.7.
34
Piska 26, em W. 6. Ilraude, Pesikta Rabbati, 2 vols. (New Haven: YaIe University
Press, 1968,69), 1: 526-27. Ver também, 5H II; 161.
conclusiva. “Mas a sabedoria é justificada por suas obras” (Mt 11.19),
e “Mas a sabedoria é justificada por todos os seus filhos” (Lc 7.35). Já
foi sugerido que a diferença pode ser devida a uma expressão do
aramaico, que foi mal traduzida35. Qualquer que seja a causa, no
entanto, não varia o sentido que as palavras transmitem. A sabedoria
significa a sabedoria de Deus; ela pode ser mesmo um circunlóquio
para o próprio Deus. De acordo com Mateus, as obras divinas de Jesus
(Mt 11.5) são provas da sabedoria de Deus. No evangelho de Lucas, os
filhos de Deus são testemunhas da veracidade de sua sabedoria. Por
exemplo, publicanos e mulheres sem moral, rejeitados como
marginais pelos religiosos daqueles dias, viram revelada em João
Batista e em Jesus a sabedoria de Deus. Ambos, João e Jesus
proclamaram a mensagem de redenção — João, com toda a
austeridade, no Jordão (Lc 3.12, 13); e Jesus, ao redor da mesa, em
suas casas (Lc 5.30).
4. O SEMEADOR
Lucas 8.4-8 “Afluindo uma grande multidão e vindo ter com ele gente
de todas as cidades, disse Jesus por parábola: Eis que o semeador saiu
35
Jeremias, Parables, p. 162. nº 44.
a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho; foi
pisada, e as aves do céu a comeram. Outra caiu sobre a pedra; e,
tendo crescido, secou por falta de umidade. Outra caiu no meio dos
espinhos; e estes, ao crescerem com ela, a sufocaram. Outra, afinal,
caiu em boa terra; cresceu e produziu a cento por um. Dizendo isto,
clamou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.
Composição
36
W. NeiI, “Expounding The Parables”, Exp T 78 (1965): 74.
37
J. Jeremias, “Palastinakundliches zum Gleichnis vom S~emann”, NTS 13(1967): 48-
53. Ver também Parables, p.l2.
Na parábola de Jesus, o lavrador partiu para o campo levando
seu suprimento de grãos numa bolsa que trazia a tiracolo. Com passos
ritmados, lançava as sementes em faixas, pelo campo. Não se
preocupava com os poucos grãos que caíam à beira do caminho, nem
com aqueles que eram lançados em terra pouco profunda, onde as
rochas despontavam. Também não se preocupava com o trigo caído
entre os espinheiros que cresceriam na primavera, abafando as
sementes. Para o lavrador, tudo aquilo fazia parte de seu dia de
trabalho.
Propósito
39
H. N. Ridderbos, Studies in Scripture and lts Authority(St. Catharines: Paideia
Presa, 1978), p. 50.
fama e outros (7.29,37; 8.1-3), mas encontraram firme oposição da
parte dos fariseus e dos intérpretes da lei (7.30,39). A versão de Lucas
da parábola difere pouco das de Mateus e Marcos, embora seja muito
mais curta e mostre alguma diferença de vocabulário. “Essas
mudanças mostram que Lucas ou a tradição oral se sentiram à
vontade para modificar pormenores na narração da história, coisa que
os modernos pregadores costumam fazer quando tornam a contar as
parábolas40”.
Aplicação
49
Gerhardsson, “Parable of the Sower”, p. 187.
50
C. H. Dodd, lhe Parables of the Kingdom (London: Nesbjt and Co., 1935), p. 182.
51
Gerhardsson, “Parable of lhe Sower”, p. 175.
esquentando a terra, as plantas murcharão. Elas não têm, no solo,
raízes profundas capazes de suprir a planta de água. Elas definharão
e morrerão.
Composição
Interpretação
do julgamento”.
57
Quando Marcos escreve que a terra “por si mesma” produz o grão ele não quer
dizer que o solo produz a colheita sem a provisão de Deus, mas que a ajuda do
fazendeiro não é necessária no processo de germinação do grão. W. Michaelis, Die
Gleichnjsse Jesu (Hamburg: FurcheVerlag, 1956), p. 38. Além disso, a ênfase na
produção do grão não deve ser colocada sobre o solo, nem na própria semente. R.
Stuhlmann “Bcobachtungen zu Markus IV. 26- 29”, NTS 19 (1972-73): 156.
58
Jülicher, Gleichnisreden, 2: 540.
encontrada no Evangelho de Marcos. Mateus e Lucas não se referem a
ela, e não temos maiores informações do que as encontradas nesses
versículos de Marcos 4.26-2959. A parábola é introduzida pela
sentença: “O reino de Deus é assim”.
64
Os fazendeiros do centro-oeste americano têm um ditado que diz que o milho
“deve estar à altura dos joelhos pelo quatro de julho.”
65
Hendriksen, Mark, p. 170.
6. O Joio e o Trigo
O Campo do Fazendeiro
Interpretação
72
Jeremias, em Parables, pp. 8485, afirma que “é impossível deixar de concluir que
a interpretação sobre o joio vem do próprio Mateus.” De acordo com Kingsbury, em
Parables of Jesus, p. 109, Jesus é o Senhor exaltado, que exorta os cristãos na
igreja de Mateus a serem obedientes à vontade de Deus. No entanto, como
observa R. H. Gundry “A resposta à questão de origem é o ensino de Jesus.” The
use of the Old Testament in St. Matthew’s Gospel (Leiden: Brill, 1967), p. 213.
Resumindo, não temos que chegar à mente imaginativa de Mateus. Antes, a
origem desse ensinamento está em Jesus mesmo.
Sem dúvida, na interpretação de Jesus, ressoa o eco das
palavras e sentimentos dos profetas. A parábola do joio é,
realmente, aquela na qual Jesus ensina o julgamento que está para
vir; pode ser chamada de a parábola da ceifa.
Aplicação
75
W. G. Doty, “An Interpretation of the Weeds and Wheat”, Interp 25 (1971): 189.
76
Com agradecimentos a Hunter, Parables, p. 48, que parece ter um estoque
infindável de verses, poemas e ditados.
ordenação de Deus; e os que resistem trarão sobre si mesmos
condenação. Porque os magistrados não são para temor quando se faz
o bem, e, sim, quando se faz o mal” (13.1-3). Deus investiu de
autoridade os magistrados para preservar a lei, punir o que pratica o
mal e impedir o crime.
77
Calvin, Harmony of the Evangelists, 2:120.
78
Numerosos exemplos são encontrados nas séries, Works of lhe Father, coletados
por Tomás de Aquino. Veja Coomentary on the Four Gospels, 1, Si. Matthew (Oxford:
n. p. 1842).
7. O Grão de Mostarda
A Semeadura e o Crescimento
O Cumprimento
85
J. W. Wevers, Ezekiel (Greenwood, 5. C.: Attic Press, 1969), p. 139. C. L. Feinberg,
em The Prophecy of Ezekiel (Chicago: Mood Press, 1969), p. 97, diz que os versículos
finais de Ezequiel 17 ‘sem dúvida, apresentam uma profecia messiânica”. Veja,
também, D. M. G. Stalker, Ezekiel (London: 5. C. M. Presa, 1968), p. 154; J. B. Taylor,
Ezekiel (Downers Grove, III:Inter Varsity Presa, 1969), p. 146; e, J. Mánek, Und
Brachte Frucht (Stuttgart: Calwer, 1977), p. 28.
86
Os estudiosos hesitam em se referir à planta da mostarda como uma árvore. Veja
R. W. Funk: “The Looking-Glass Tree is for the Birds”, lnterp 27 (1973): 5. No
entanto, ela alcança uma altura de mais ou menos três metros. A linguagem popular
descrevia o fenômeno do crescimento da mostarda, naqueles dias, como “uma
árvore”.
87
Os rabinos costumavam chamar os gentios de “aves do céu”. Veja Hunter,
Parables, p. 45, e Kingsbury, Parables of Jesus, p. 82. Também, H. K. McArthur, “The
Parable of the Mustard Seed”, CBO 33(1971): 208; O. Kuss, “Zum Sinngehalt des
Doppclgleichnissesvom Senfkom und Sauerteig”, Bib 40 (1959): 653.
8. O Fermento
88
Jeremias, em Parables, p. 147, afirma sumariamente: “Nenhuma dona-de-casa
amassaria tão grande quantidade de pão”.
89
Para uma descrição mais minuciosa, veja-se C. L. Mitton, “Leaven”, Expt
T84(1973), 339-43.
90
R. C. H. Lenski, Interpretation of St. Matthew’s Gospel (Columbus: Lutheran Book
Concern, 1943), pp. 530-32).
judeus e samaritanos; ou o coração, a alma e a mente91. Essas
interpretações são especulativas, imaginativas e de pouco valor.
9. O Tesouro Escondido
10. A Pérola
Composição
94
Alguns estudiosos citam o Evangelho de Tomé, onde as duas parábolas estão
separadas (Hidden Treasures, Citação 109; and Pearl, Citação 76). Isso é verdade,
também, em relação às parábolas do grão de mostarda e do fermento. A evidência
disponível, no entanto, nIo~ conclusiva, O assunto é discutido por O. Glombitza, “Der
Perlenkaufmann”, NTS 7 (1960. 61): 153-61. Ver também J. C. Fenton: “Expounding
the Parables: IV. lhe Parables of lhe Treasure and the Pearl (Mt 13.4446)”, Expt
77(1966): 178-80; J. Dupont: “Les Paraboles du Trésor et dc la Pene”, NTS 14 (1967-
68): 408-18.
95
E. A. Armstrong, The Gospel Parables (New York: Sheed and Ward, 1967), p. 154.
freqüentemente em guerra, as pessoas achavam mais seguro guardar
seu tesouro, ou parte dele, no campo do que em suas casas. Em casa,
os ladrões podiam roubá-lo; no campo ficaria em maior segurança.
Mas, se o proprietário morresse na guerra, levaria para o túmulo o seu
segredo, e ninguém, jamais, poderia saber onde enterrara o tesouro.
Aplicação
98
Smith, Parables, p. 146. Veja Schippers, Gelijkenissen, p. 103; Jeremias, Parables,
p. 199 Hauck, TDNT, IV: 472.
compra é a aquisição de um objeto de valor equivalente. O sacrifício,
de outro lado, é uma dádiva que não espera recompensa99”. Tanto o
homem que encontrou o tesouro quanto o mercador de pérolas
pagaram o preço justo pelo que compraram. Viram a oportunidade e
se mostraram dispostos a pagar o preço devido. Deram tudo o que
tinham em troca do único bem desejado.
11. A Rede
99
E. Linnemann, Parables of Jesus: Introduction and Exposition (London: 5. P. C. K.,
1966), p. 100.
100
Hunter, Parables, p. 80. Também Michaelis, Gleichnisse, p. 66.
101
No Evangelho de Tomé, Citação 8, encontramos uma parábola semelhante, uma
Está claramente associada à parábola do trigo e do joio; a
interpretação de ambas focaliza o dia do juízo final. Ainda assim, ficam
evidentes diferenças importantes. Na parábola do joio, Jesus acentuou
a idéia de paciência. Essa idéia não aparece na parábola da rede102.
A Pesca
cuja ênfase difere radicalmente: “E ele disse: O homem é como um pescador que
lançou sua rede ao mar, ele a recolheu quando estava cheia de pequenos peixes.
Entre eles o pescador achou um peixe grande. O pescador sensato lançou de volta
ao mar todos os pequenos peixes (e) escolheu o grande, sem dificuldade. Quem tem
ouvidos para ouvir, ouça”.
102
Mánek, Frucht, p. 50. Ver, também, Jeremias, Parables, p. 226.
103
Michaelis, Gleichnisse, pp. 68-69. Consulte, também, B. Gerhardsson, “The Seven
Parables in Mattew XIII”, NTS 19 (1972- 1973): 18-19.
104
G. Cansdale, AnimaIs of I3ible Lands (Grand Rapids: Zondervan, 1970), p. 216.
Consulte, também, Dalman, Arbeit und Sitte, 4: 351, que faz referência a vinte e
quatro espécies.
seis homens ou mais. Enquanto uns remavam, outros lançavam ou
puxavam a rede e outros ainda batiam na água para guiar os peixes
para a rede105.
Explicação
105
Há uma interessante descrição a respeito em W. O. E. Oesterley, The Gospel
Parables in lhe Light of Their Jewish Background, (New York: Macmillan Co., 1936),
pp. 85-86.
106
Dodd, Parables, p. 188.
inferno. Na parábola do trigo e do joio, o destino do homem é o céu,
onde os justos resplandecerão como o sol, ou o inferno, onde há choro
e ranger de dentes.
107
Por exemplo, Lenski, em Matthew’s Gospel, p. 547, diz que “a rede é o
Evangelho”.
108
Em um curto e interessante estudo, J. Mánek, “Fishers of Men”, NovT 2 (1958):
13841, mostra que há inimizade entre o mar e Deus (Ap 21.1). “Porque o mar é lugar
de revolta contra Deus, ele não pode participar do mundo novo, no futuro. Ele
passará juntamente com outros poderes demoníacos, como está demonstrado na
visão do novo céu e da nova terra, em Ap. XXI.1”, p. 139. Os pescadores de homens,
portanto, os resgatarão de um ambiente hostil a Deus.
para o dia do juízo, quando, então, a separação entre o ímpio e o justo
acontecerá.
A História
Mas a resposta de Jesus é: “Não te digo que até sete vezes, mas
até setenta vezes sete”. Jesus multiplica os dois números, sete e dez
— números que simbolizam a perfeição — e acrescenta um outro sete:
Ele quer dizer, não sete vezes, mas setenta vezes — sete vezes; isto é,
a perfeição vezes a perfeição e mais a perfeição110. Ele indica a idéia
de infinito. A misericórdia de Deus é tão grande que não pode ser
medida; você, Pedro, deve também mostrar misericórdia a seu
próximo.
110
A frase pode também ser traduzida como “setenta vezes sete”. Veja-se, Gn 4.24.
Para explicar a magnitude do amor misericordioso de Deus, que
deve se refletir em seu povo, Jesus ensina a parábola do servo
incompassivo. Ele conta a história, e o faz muito bem.
111
Quando um monarca oriental convocava seus secretários do tesouro, deixava de
lado os oficiais menores. Etc se encontrava com os oficiais do alto escalão do serviço
público. Veja-se K H. Rengstorf, TDNT 11; 266 que destaca que a palavra servo é a
forma lingüística usual para a relação de sujeição ao rei, nas despóticas monarquias
do antigo oriente.
112
H. O. Liddell e R. Scott, A Greek English Lexicon (Oxford: Clarendon Presa, 1968),
p. 1154. A soma de dez mil talentos chega a vários milhões de dólares.
113
Josephus, Antiquities 17:318-20. Judéia, lduméia e Samaria pagavam Seiscentos
talentos de impostos anualmente. Galiléia e Peréia pagavam duzentos talentos;
Batanéia e Traconitis, bem como Auranitis pagavam cem talentos.
114
O ministro das finanças expôs sua falta de condição para pagara dívida e pediu
um adiamento. Prometia pagar tudo dentro de um ano. Desse modo, o dinheiro
devido renderia juros ao rei. Na realidade, o débito (=daneion) que o rei perdeu era
um empréstimo. Derrett, Law in the New Testament, pp. 39-40.
115
Para um estudo simétrico da parábola, veja-se F. H. Breukelman, ‘Eine Erklárung
des Gleichnisses vom Schaiksknecht”, Parrhesia, Festschrift honoring Karl Barth
(Zürich: 1966), pp. 261-87.
absolvido encontrou um outro servidor que lhe devia cem denários.
Realmente, era muito pouco — alguns dias de trabalho e a soma seria
conseguida. Mas o servidor público agarrou-o pelo pescoço e o
sufocava, exigindo pagamento imediato: “Paga-me o que me
deves”116. O devedor atirou-se aos pés do ministro das finanças e
pediu: “Sê paciente comigo e te pagarei”. Ele não precisava dizer:
“Pagarei tudo”, porque o total era pequeno. Estava claro que ele
pagaria tudo. Mas o ministro das finanças se recusou, lançou o homem
na prisão, esperando que alguém opusesse em liberdade sob fiança, e
pagasse a dívida.
A Lição
116
O conservo não podia pagar, pois estava indo ao rei para quitar seu imposto
anual. Prendendo seu companheiro, o ministro das finanças ofendeu o rei, privando-
o de receber o que lhe cri devido, naquele dia. Consulte-se Derrett, Law in the
Newlestament, pp. 41-42.
117
“A tortura era empregada regularmente, no Oriente, contra um governador
desleal, ou contra qualquer um que atrasasse os impostos, a fim de descobrir onde
escondia o dinheiro, ou para extorquir a soma de seus parentes e amigos”. Jeremias,
Parables, 212.
conceitos expressos são os de misericórdia e justiça. São conceitos
bíblicos porque ocorrem repetidamente no Velho Testamento,
revelados pelos salmistas e profetas118.
122
“A lei judaica apenas permitia a venda de um israelita cm caso de roubo, se o
ladrão não pudesse devolver o que tinha roubado; a venda da esposa era
terminantemente proibida sob a jurisdição dos judeus; conseqüentemente, o rei e
seus ‘servos’ representam os gentios”. Jeremias, Parables, p. 211. Ver, também, SB,
1: 798. Mas a parábola não se refere ao povo judeu, e, portanto, a lei judaica não se
aplica. Veja-se Derrett, Law in the New Testament, p. 38.
123
R. S. Wallace, Many Things in Parables (New York: Harper and Brothers, 1955), p.
171.
124
Wallace, Many Things, p. 174; Linnemann, Parables, p. 111.
o homem tinha sido perdoado de uma dívida enorme, e agora
encontrava um companheiro que, devendo-lhe uma ninharia, pedia
misericórdia. Ele perdoaria?
125
D. O. Via, Jr., The Parables (Philadelphia: Fortress Press, 1967), p. 142.
126
Veja-se, também, Marcos 11.25 e Colossenses 3.13.
13. Os Trabalhadores da Vinha
O Trabalho e os Trabalhadores
127
Jeremias, em Parables, p. 136, d~ mais ênfase ao empregador que aos
trabalhadores e, conseqüentemente, fala da parábola do Bom Empregador. Veja-se,
também, Hunter, Parables, p. 70. Mánek, Frucht, p. 55, chama a parábola de
“Pagamento Igual”.
seja em setembro128, quando se dá a colheita da uva. Durante o mês
de setembro, o período entre o levantar e o pôr-do-sol, em Israel, vai,
aproximadamente, das 6 horas da manhã até às 6 horas da tarde.
Descontando os períodos de descanso para as refeições e as orações,
um trabalhador judeu, nos dias de Jesus, considerava normal uma
jornada de dez horas de trabalho129. Em Israel, a temperatura do meio
do dia é ainda mais alta em setembro, de modo que os trabalhadores
no campo ou nas vinhas experimentavam literalmente “o calor do
dia”.
As Horas e os Pagamentos
Assim é o reino dos céus, diz Jesus. Porque Deus é tão bom,
triunfa o princípio da graça. No mundo, o conceito é o de que aquele
que trabalha mais recebe mais138. Isso é justo. Mas, no reino de Deus,
os princípios do mérito e da capacidade são postos de lado para que a
graça prevaleça.
Graça
137
C. L. Mitton, Expounding lhe Parables, VII. lhe Workers in lhe Vineyard (Mateus
20.1-6), Expt 77 (1966): 308.
138
Os cidadãos do reino dos céus devem conhecer plenamente os princípios
operantes no reino. Veja-se Wallace, Parables, p. 125.
139
Oesterley, Parables, p. 104.
homem na base do “toma lá dá cá”, ou “uma boa ação merece
recompensa”. A graça de Deus não pode, simplesmente, ser dividida
em quantidades proporcionais ao mérito acumulado pelo homem.
Havia em circulação, na época, uma moeda chamada pondion, que
valia a duodécima parte de um denário140. Na graça de Deus, no
entanto, não circulam porcentagens, porque “todos nós temos
recebido da sua plenitude, e graça sobre graça” (Jo 1.16).
Aplicação
140
T. W. Manson, lhe Sayings of Jesus (London: SCM Presa, 1950), p. 220.
141
Os paralelos dos Evangelhos de Mateus e Marcos são idênticos exceto no fato de
que em Mateus a parábola dos trabalhadores na vinha é acrescentada como uma
ilustração da expressão: “Porém, muitos primeiros serão últimos; e os últimos,
primeiros” (Mt 19.30; 20.16; Mc 10.31). Em Locas 13.30, a expressão também
ocorre, embora em contexto inteiramente diferente.
Jesus ilustra o significado da última sentença “muitos primeiros
serão últimos; e os últimos, primeiros” — através da parábola dos
trabalhadores na vinha. Ele conclui a parábola com as mesmas
palavras, embora cm ordem inversa: “Os últimos serão primeiros, e os
primeiros serão últimos”.
Esta parábola nunca será aceita por aqueles que querem impor
à salvação regras e estipulações feitas pelos homens. No reino dos
céus, como as Escrituras ensinam, não existe a burocracia humana. A
graça de Deus é plena e livre para todo aquele que venha a ele pela
fé. E todos os que são vasos de sua graça proclamam com o salmista:
145
Mitton, “Expounding the Parables”, p. 310.
146
Hunter, Parables, p. 72.
14. Os Dois Filhos
147
J.M. Derrett, “The Parables of the Two Sons”, Studia Theologica 25 (1971); 109-
16, também publicada em Studies in the New Testament, 1:76-84, segue Jülicher,
Gleichnisreden, 2:367. Derrett destaca que o primeiro filho era o mais velho e
deveria ser o sucessor do pai. “Um filho mais velho pode muito bem ter mais
interesse na forma que na substância”. (Studies p. 81).
mostrar cortês para com o pai, respondeu apenas: “Não quero”148. Ele
errou em não se dirigir respeitosamente ao pai, chamando-o de
senhor, e nem procurou uma desculpa para sua má vontade.
O pai teve que se dirigir ao segundo filho, com o mesmo pedido,
a fim de ter o trabalho feito na vinha149. Esse filho, na polida maneira
oriental, dirigiu-se ao pai corretamente, e disse: “Sim, senhor”.
Entretanto, não foi. Prometeu ao pai um dia todo de trabalho. Era
uma promessa que não pretendia cumprir.
Interpretação
A História
Evangelho de Tomé, Citação 65: “Ele disse: ‘Um homem bom tinha uma vinha.
150
155
Derrett, em Law in the New Testament, pp. 289-99, entende que o segundo servo
procurou os arrendatários no final da segunda ceifa, e o terceiro, na safra seguinte.
Assim, por três anos consecutivos os lavradores guardaram para si o lucro da vinha.
156
Apenas Marcos relata que após ter enviado sucessivamente três servos, o
proprietário ainda enviou outros. Mateus diz que dois grupos de servos, em duas
diferentes ocasiões, foram enviados. Lucas fala de três servos que sucessiva e
individualmente procuravam os lavradores.
157
Dodd, Parables, p. 125.
proclamar que tinham cuidado da vinha fielmente, que não haviam
pago aluguel algum durante vários anos, e que o legítimo proprietário
das terras tinha morrido158. No tempo legal, os lavradores estariam
habilitados à posse exclusiva da propriedade. Os juízes locais mui
provavelmente favoreciam os lavradores e dariam como legal a
operação.
O significado
158
Derrett, Law in the New Testament, pp. 300-4. Os arrendatários podiam mesmo
citar Dt 20.6, para a própria justificação: “Qual o homem que plantou uma vinha e
ainda não a desfrutou? Vá, torne-se para sua casa, para que não morra na peleja e
outrem a desfrute...”.
159
Ambos Mateus e Lucas afirmam que os lavradores atiraram o filho para fora da
vinha e, então, o mataram. Marcos inverte a ordem, dizendo que primeiro o
mataram e, então, o lançaram fora da vinha.
O povo judeu sabia esse cântico de cor; eles o haviam
aprendido no culto da sinagoga onde era cantado de tempos em
tempos160. Sabiam, também, o seu final:
Teologia
164
A. Weiser, The Psalms (Philadelphia: Westminster Press, 1962), p. 724.
165
Embora a citação (118.22) seja repetida em At 4.11 e 1 Pe 2.7, não há razão para
se aceitar que a igreja tenha acrescentado estas palavras à parábola dos lavradores
maus.
166
Jeremias, TDNT, 1:792. A pedra rejeitada se referia a Abraão, Davi ou ao Messias,
de acordo com os rabinos. Os construtores eram descritos como os mestres da Lei.
SBI: 875-76.
167
M. Black, em “The Christological Use of the Old Testament in the New Testament”
NTS 18 (1971-72): 13, chama a atenção para a interpretação messiânica da pedra
e, conseqüentemente, fala da pedra e do filho rejeitados.
Ao mencionar dois grupos separados de servos enviados pelo
dono de terras para receber sua parte no produto da vinha, Mateus,
aparentemente, faz alusão às duas divisões de profetas – os antigos e
os últimos profetas. Ele não adianta qualquer pormenor a respeito do
filho do dono da vinha. Marcos e Lucas, no entanto, o chamam de
“filho amado”, que traz a conotação de único filho 168. A expressão
“filho amado” foi usada, também, por ocasião do batismo de Jesus e
em sua transfiguração. Marcos escreve que o dono de terras enviou
seu filho por último. A palavra último ressoa claramente nos primeiros
versículos da Epístola aos Hebreus: “Havendo Deus, outrora, falado
muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes
últimos dias nos falou pelo Filho a quem constituiu herdeiro de todas
as coisas, pelo qual também fez o universo”. (Hb 1.1,2).
Além disso, enquanto Marcos diz que o filho foi morto dentro da
vinha, Mateus e Lucas escrevem que os lavradores maus apanharam
o filho, atiraram-no fora da vinha e, então, o mataram. Fica implícito
que os arrendatários deixaram o corpo ali, de modo que os que por lá
estivessem, o enterrassem. Uma vez mais, o leitor ouve o eco na
Epístola aos Hebreus: “Por isso foi que também Jesus, para santificar
o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta” (Hb 13.12).
Se a parábola terminasse com a morte do filho e com a ida do
proprietário à vinha, o sacrifício da vida do filho teria sido
desnecessária. O proprietário poderia ter ido até à vinha
imediatamente após seus servos terem sido maltratados. A exaltação
do filho não teria sido retratada, então, pela parábola da vinha. Mas,
através da figura da rejeição, Jesus liga o Salmo 118 à parábola e a
citação do Salmo revela que a pedra rejeitada é destinado o lugar
mais importante entre todas as outras pedras da construção. O
Senhor exaltou a pedra principal.
168
Gn 22.2; Mt 3.17; Mc 1.11; Lc 3.22; 2 Pe 1.17.
169
A evidência textual parece se tornar mais forte pela inclusão de Mt 21.44 que
pela sua omissão. É possível, naturalmente, olhar o versículo como sendo uma
interpolação de Lc 20.18. Não obstante, “a antigüidade da leitura e sua importância
na tradição do texto” devem ser vistas como fatores decisivos para sua
conservação. Metzger, em A Textual Commentary, p. 58, não obstante, sugere que
o versículo pode ser um acréscimo ao texto.
Muitos dentre eles tropeçarão... cairão, serão quebrantados...”. (Is
8.13-15)170.
Aplicação
170
Outras referências à pedra são encontradas em: Is 28.16; Dn 2.34,44,45; At 4.11;
Rm 9.33; Ef 2.20; e 1 Pe 2.6.
171
The Belgic Confession, artigo 27.
16. As Bodas
Mateus 22.1-14 “De novo, entrou Jesus a falar por parábolas, dizendo-
lhes: O reino dos céus é semelhante a um rei que celebrou as bodas
de seu filho. Então, enviou os seus servos a chamar os convidados
para as bodas; mas estes não quiseram vir. Enviou ainda outros
servos, com esta ordem: Dizei aos convidados: Eis que já preparei o
meu banquete; os meus bois e cevados já foram abatidos, e tudo está
pronto; vinde para as bodas. Eles, porém, não se importaram e se
foram, um para o seu campo, outro para o seu negócio; e os outros,
agarrando os servos, os maltrataram e mataram. O rei ficou irado e,
enviando as suas tropas, exterminou aqueles assassinos e lhes
incendiou a cidade. Então, disse aos seus servos: Está pronta a festa,
mas os convidados não eram dignos. Ide, pois, para as encruzilhadas
dos caminhos e convidai para as bodas a quantos encontrardes. E,
saindo aqueles servos pelas estradas, reuniram todos os que
encontraram, maus e bons; e a sala do banquete ficou repleta de
convidados. Entrando, porém, o rei para ver os que estavam à mesa,
notou ali um homem que não trazia veste nupcial e perguntou-lhe:
Amigo, como entraste aqui sem veste nupcial? E ele emudeceu.
Então, ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de pés e mãos e lançai-
o para fora, nas trevas; ali haverá choro e ranger de dentes. Porque
muitos são chamados, mas poucos, escolhidos”.
A parábola
Explicação
além dos limites do exagero oriental. Veja-se, por exemplo, Armstrong, Parables, p.
103; Oesterley, Parables, p. 123; Linnemann, Parables, p.94; e Jeremias, Parables,
p. 68. Entretanto, K. H. Rengstorf, cm “Die Stadt der Mõrder (Ml 22.7), Judentum,
Urchristentum, Kirche, Festschrift honoring J. Jeremias (Berlin: Tõpelmann, 1960),
pp. 106-29, acumulou uma coleção de incidentes, nos quais mensageiros enviados
por reis eram escarnecidos ou mortos.
177
2 Cr 30.1-10. Josephus, Antiquities 9:264-265, escreve que os mensageiros de
Ezequiel foram escarnecidos, agarrados e assassinados. Para comparar, leia-se
Judite 1.11.
178
A expressão “suas tropas”, embora plural em grego, ~ um semitismo. Jeremias,
Parables, p. 68, n5 75.
179
Rengstorf, “Stadt der Mörder”, pp. 106-24. Veja-se, especialmente, suas
conclusões, nas páginas 125-29.
180
D. O. Via, Jr., em “The Relationship of Form to Content in the Parables: The
Wedding Feast”; Interp 25 (1971): 181, é de opinião que o rei é ‘inquestionável e
de todos os caminhos da vida recebem
o convite e respondem afirmativamente.
186
Calvin, Harmony of the Evangelists, 11:175.
187
G. Schrenk, TDNT, IV: 187.
aceitar o convite de Deus com fé verdadeira188. As palavras: “Porque
muitos são chamados, mas poucos escolhidos” são complemento de
“porque estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida, e
são poucos os que acertam com ela” (Mt 7.14).
17. A Figueira
188
J. Morison, A Practical Commentary on the Gospel According to St. Matthew
(Boston: Bartlett & Co, 1884), p 407.
aproximação do inverno. Mesmo quando outras árvores, que também
costumam perder as folhas, começam a mostrar sinais de vida, logo
no início da primavera — a amendoeira, por exemplo —, a figueira
continua a apontar para o céu seus ramos nus, até que chegue o
verão. Então, a seiva começa a correr, os rebentos intumescem, e,
em alguns dias, as tenras folhas novas aparecem. A natureza
proclama que o perigo da noite gelada e mortal já passou e o verão
está próximo.
196
Mänek, Frucht, p. 34.
197
Marshall, Luke, pp. 777,779.
198
Ridderbos, Coming of the Kingdom, p. 502.
noite e vem chegando o dia. Deixemos, pois, as obras das trevas, e
revistamo-nos das armas da luz” (Rm 13.11,12).
18. O Servo Vigilante
Marcos 13.33-37
Lucas 12.35-39
209
Dupont, “Parabole”, p. 105.
210
No grego, é usado o particípio perfeito do verbo perizonnumi junto com o
imperativo do verbo eimi. Esse uso do perfeito significa conseqüência. Isto é, a
ordem é que estejam sempre vestidos para o serviço: estar prontos sempre!
211
Dodd, Jeremias, e outros colocam esta parábola na categoria das “parábolas da
crise’. A categoria inclui parábolas tais como a dos servos vigilantes, a do ladrão à
noite, a do servo fiel e do infiel, e a das dez virgens. Embora a observação seja
correta, as assim chamadas parábolas da crise não podem ser limitadas à morte de
Jesus. Elas focalizam, também, a segunda vinda. Morris, Luke, p. 216; 1. H.
Marshall, Eschatology and The Parables (London: Tyndale Press, 1973), pp. 34,35.
Ele se veste para o serviço, seus servos tomam lugar à mesa e
ele os serve212. Sem dúvida, o fato contraria o costume normal tão
bem descrito na parábola sobre a recompensa do servo (Lc 17.7-10).
Entretanto, essa inversão de papéis está plenamente de acordo com
o ensino e a conduta de Jesus. Ele ensinou o papel do servo muito
claramente, no cenáculo, quando lavou os pés de seus discípulos213.
Resumindo, dentro do contexto da parábola dos servos vigilantes,
Jesus faz uma referência velada a si mesmo.
212
Jeremias, Parables, p. 54 nº 18, chama Lucas 12.37b de secundário, pré-Lucas.
Ele destaca a palavra amen (que Locas usa apenas seis vezes) assim como a
redundância semítica de parelthon. Juntamente com Outros estudiosos, ele
considera esse versículo um detalhe alegórico, o que pode ser verdade. Não
obstante, não existe razão para que sejam questionadas a historicidade e a
autenticidade do que foi dito.
213
Jo 13.1-7; também Lc 22.27.
19. O Ladrão
Mateus 24.42.44 “Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem
o vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família soubesse a
que hora viria o ladrão, vigiaria e não deixaria que fosse arrombada a
sua casa. Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à hora em
que não cuidais, o Filho do Homem virá”.
214
O Evangelho de Tomé registra a parábola do ladrão em duas de suas citações,
mas não tem aplicação cristológica: “Portanto eu vos digo: Se o dono da casa sabe
quando vem o ladrão ele estará vigiando antes que venha (e) não deixará que
arrombe a casa de seu reino para levar os seus bens. Mas vós deveis estar alertas
contra o mundo; cingi vossos lombos com grande poder, para que nenhum ladrão
possa achar um modo de chegar até vós” (Citação 21b). “Jesus disse: Bem-
aventurado é o homem que sabe em que parte (da noite) virá o ladrão, para que se
levante e ajunte seu.., e cinja seu lombo antes que venham” (citação 103).
215
Alguns estudiosos afirmam que a expressão ‘Filho do homem” não pode ser
original, mas que deve ter sido introduzida pela igreja cristã primitiva. Jeremias,
Parables, pp. 50,51; Manek, Frucht, p. 66; 6. Schneider, Parusiegleichnisse im
Lukas-Evangelium (Stuttgart: 1975), p. 22. Entretanto, “a predição da vinda do Filho
do homem é uma parte consistente do ensino de Jesus...” Marshall, Luke, p. 534.
Veja-se R. Maddox, “The Function of the Son of Man”, NTS 15(1968-9); 51.
216
Jeremias, Parables, p. 50, é de opinião que os discípulos não precisavam ser
advertidos. A parábola, então, se aplica à igreja primitiva, para advertir o povo
quanto ao julgamento que está para vir. Marshall, em Eschatology, p. 35, questiona
seriamente esta opinião.
entre os fiéis, a imagem de um ladrão à espreita cria ansiedade e
tristeza naqueles que não estão preparados.
O Servo Fiel
217
Jeremias, Parables, p. 99, considera Lc 12.41 como uma “situação criada”,
embora seu “uso lingüístico mostre que se achava na fonte de Locas”. No entanto,
por causa da referência aos discípulos (Lc 12.22) como os que ouviam diretamente
a Jesus, não é possível rejeitar o caráter histórico da pergunta de Pedro (Lc 12.41).
“Senhor, proferes esta parábola218 para nós ou também para todos?”
Jesus respondeu a Pedro contando uma outra parábola: a história a
respeito de um servo fiel.
O Servo Infiel
Interpretação
220
Na parábola do servo fiel e do infiel ecoa a história de Aicão. Veja-se R. H.
Charles, Apocrypha and Pseudepigrapha (Oxford: Clarendon Press, 1977), 2: 715.
221
Bauer, et al, Lexicon, p. 200, admite o significado de “punir com a maior
severidade”.
222
O. Betz, em “The Dichotomized Servant and the End of Judas Iscariot”, RQ
5(1964): 46, se refere a 1QS2:16,17: “Deus ‘separará’ o hipócrita pela maldade, de
modo que será extirpado do meio de todos os filhos da Luz; ... ele terá a parte que
lhe cabe no meio daqueles excomungados para sempre.” O verbo dichotomein e a
frase tithenai meros tinos são hapax legomena, no Novo Testamento, são,
portanto, passíveis de várias interpretações. Consulte ieremias, Parables, p. 57 nº
30, 31.
223
Salmos 37.9a, 22b, 34b, 38b.
a espancar os criados e as criadas. Este servo terá seu lugar com os
hipócritas, de acordo com Mateus, e um lugar com os infiéis, segundo
Lucas224.
230
A expressão é registrada seis vezes por Mateus e uma vez por Lucas (Mt 8.12;
13.42,50; 22.13; 24.51; 25.30; e Lc 13.28).
21. As Dez Virgens
As Bodas
231
P. Trutza, “Marriage”, ZPEB, pp. 4, 96, indica que “os rabinos fixavam doze anos,
como a idade mínima para as meninas se casarem e treze para os meninos.
232
“As damas de honra cercavam a noiva, toda de branco, e eram, usualmente,
dez.” Daniel. Rops, Daily Life in Palestina of the Time of Christ (London: 1962), p.
124. Do mesmo modo J. A. Findlay, Jesus and his parables (London: Epsworth Press,
1951), pp. 111-112, se refere às dez damas vistas por ele numa cidade da Galiléia,
a caminho da casa da noiva, para fazer-lhe companhia enquanto esperava a
chegada do noivo.
233
Jeremias, “Lampades:, ZNW 55 (1964): 199.
234
A evidência textual para a inclusão das palavras, “e a noiva”, no final do primeiro
versículo, vem de uma combinação de testemunhos ocidentais e cesarianos.
Metzger, Textual Commentary’, p. 62.
235
Oesterley, Parables, p. 136.
236
Jeremias, TDNT, IV:1100.
Lâmpadas do cortejo das bodas eram tochas. Consistiam de uma
longa vara com trapos encharcados de óleo no topo. Quando acesos
esses archotes queimavam com grande brilho, iluminando o cortejo
festivo, em sua caminhada até à casa do noivo. Entretanto, por causa
da brilhante chama ardente, a vasilha de cobre, que continha o óleo,
logo se esvaziava. De quinze em quinze minutos os trapos deviam ser
novamente encharcados, para conservar a tocha ardendo237. Aquelas
que levavam as tochas deviam, pois, ter à mão um suprimento de
óleo suficiente para mantê-las acesas, especialmente se fosse
esperado que as damas de honra apresentassem sua dança, à luz das
tochas, na chegada.
O Significado
242
Oesterley, Parables, p. 135.
243
Na literatura rabínica a expressão: “não vos conheço” pode ser usada por um
mestre para suspender um aluno durante uma semana, SB, 1:469; IV:I, 293.
244
Marshall, em Eschatology and the Parables, p. 39, destaca que, com respeito a Mi
7.21-23 e Mi 25.11,12, “é difícil não ouvir neles o tom do Filho do Homem”.
Senhor! Porventura não temos nós profetizado em teu nome,
e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome não
fizemos muitos milagres? Então lhes direi explicitamente:
Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a
iniqüidade”.
Interpretações
249
Schippers, Gelijkenissen, p. 114.
250
R. A. Batey, New Testament Nuptial Imagery, (Leiden: Brill, 1971), p. 47.
251
Lenski, St. Matthew’s Gospel, p. 961.
22. Os Talentos
O Dinheiro Confiado
252
Plummer, St. Matthew, p. 347.
253
Muitos comentaristas pensam que Jesus, ao ensinar, usou mais que uma vez a
idéia básica, expressa nas duas parábolas, Morris, Luke, p. 273. Veja-se, também,
Geldenhuys, Luke, pp. 476-77; Plumer, St. Luke, p. 437; 1h. Zahn, Das
Evangelium des Lucas (Leipszig: A. Deichert, 1913), p. 628, nº 23; Lenski,
Matthew’s Gospel, p. 971. Outros, entre eles, Manson, Sayings, p. 313, vêem
duas versões de uma parábola original. Jeremias, Parables, p. 58, afirma que a
parábola dos talentos aparece em três versões: Mt 25.14-30; Lc 19.12-27; e no
trecho 18 do Evangelho dos Nazarenos. Na verdade, entretanto, é questionável
afirmar que três versões derivam de uma parábola original especialmente quando o
trecho do Evangelho Nazareno parece se basear no relato de Mateus. De fato, P.
Vielhauer conclui “que o conteúdo (do Evangelho dos Nazarenos) tinha semelhança
grosseira com o de Mateus, e conseqüentemente era (o Evangelho dos Nazarenos)
apenas uma forma secundária de Mateus”. New Testament Apocrypha, cd. E.
Hennecke e W. Schneemelcher (Philadelphia: Westminster Press, 1963), I:140.
254
J. Ellul, em “du texte au sermon (18). L.es talents. Matthieu 25/13-30”, Etudes
Théologiques et Religieuses 48 (1973): 125-38, questiona se é possível descobrir
a forma mais antiga da parábola. A mensagem da parábola é por demais complexa.
termos de um salário anual recebido por um trabalhador. As quantias
que o senhor confiou aos servos eram grandes, mas não
exageradamente vultosas.
Dois Servos
255
J. D. M. Derrett, “The Parable of the Talents and Two Logia”, ZNW 56 (1965):
184-95, publicado em Law in the New Testament, pp. 17-31. Veja-se
especialmente a p. 18.
256
SB, 1:970. Dos ensinos dos rabinos fica evidente que tanto o capital como o lucro
pertenciam ao senhor dos servos. Entretanto, se o servo fosse hebreu, podia
acumular o lucro para si mesmo.
257
De acordo com os rabinos, “o dinheiro só pode ser guardado (colocando-o) na
terra”, Baba Mezia 42a, Nezikin I, The Babylonian Talmud, 250-51.
258
Mateus 18.23.
O primeiro servo apresentou não apenas os cinco talentos
recebidos, mas, também, os outros cinco que havia conseguido.
Devolveu a seu senhor o capital e o lucro, totalizando dez talentos.
Ele entregou a seu amo uma grande quantia de dinheiro, que
provava, sem dúvida, que tinha sido digno da confiança que nele fora
depositada. Sem chamar atenção para si mesmo, com simplicidade,
fez seu senhor notar os cinco talentos adicionais259.
Um Servo
O Senhor
O servo foi julgado por suas próprias palavras. Sabia que seu
senhor esperava que seus servos se esforçassem ao máximo. De fato,
262
Michelis, Gleichnisse, p. 1110.
263
Daniel-Rops, em Palestine, p. 253, cita que os rabinos tentavam estabelecer
regras para o procedimento nos negócios, mas que, nem sempre, essas eram
observadas. Embora o empréstimo com juros fosse proibido pela lei de Moisés, os
rabinos conseguiram burla-la fazendo uma distinção entre empréstimo com juros e
usura. A usura era condenada.
264
Bauer, et al., Lexicon, p. 443.
o senhor era um homem que queria colher onde não havia semeado e
que agarrava a oportunidade quando esta se apresentava. Por estas
atitudes, se tornou um homem duro aos olhos do servo indolente.
O Significado
265
Derrett, Law in the New Testament, p. 28.
266
Mt 25.29, exceto por pequenas variações, é idêntico a Mt 13.12 (e os paralelos,
Mc 4.25; Lc 8.18). Também a conclusão da parábola do servo investido de
autoridade tem enunciado semelhante, Lc 12.48. Veja-se, também, Lc 19.26.
267
Mt 8.12; 13.42,50; 22.13; 24.51; 25.30; e Lc 13.28.
268
Rm 3.2. Em sua Epístola Pastoral a Timóteo, Paulo o exorta a guardar o que lhe
fora confiado. 1 Tm 6.20; 2 Tm 1.14.
da revelação de Deus. Os discípulos de Jesus talvez tenham visto os
fariseus defensores da lei e os mestres da lei personificados no servo
que enterrou o único talento que seu mestre lhe havia dado 269. Aos
líderes religiosos de Israel tinha sido confiado um depósito sagrado:
muitos deles falharam, no entanto, deixando de usá-lo de modo
apropriado. Eles se sentiam satisfeitos de poder devolvê-lo a Deus,
dizendo: “Temos guardado a Lei”. Guardaram para si mesmos o
depósito. Fazendo isso falharam, pois não o puseram para render.
Mas Deus, que lhes dera a guarda sagrada de sua revelação, um dia
os chamaria para o ajuste de contas.
Conclusão
271
Examinando a teologia de Mateus, 6. Gray, cm “The Judgment of the Gentiles in
Matthes’s Theology”, Scripture, Tradition and Interpretation, Festschrift
honoring E. F. Harrison (Grand Rapids: Eerdmans, 1978), 199-215, conclui que o
julgamento dos gentios não pode decididamente ser o julgamento final de todos os
homens”, p. 213. J. R. Michels, “Apostolic Hardships and Righteous Gentiles: A study
of Matthew 25.31-46w, JBL 84 (1965); 27-38; R. C. Oudersluys, ‘The Parable of lhe
Sheep and Goats (Matthew 25.3146): Eschatology and Mission, Then and Now”,
RefR 26 (1973): 151-61. Permanece o fato, no entanto, que a parábola como um
todo diz respeito ao último julgamento, e o último julgamento inclui todos os
homens e é final.
272
Cansdale, Animais of Bible Lands, p. 44.
mesmo rebanho com as ovelhas, mas nem os cabritos nem as
ovelhas se misturam. Ao entardecer, as ovelhas atendem ao chamado
do pastor, mas os cabritos, muitas vezes, o ignoram. Quando cai à
noite, as ovelhas preferem ficar ao ar livre, ao contrário dos cabritos,
que não suportam o frio e precisam se abrigar273.
O Lado Direito
273
Armstrong, Parables, p. 191; Jeremias, Parables, p. 206.
274
Dalman, Arbeit und Sïtte, VI: 217.
275
Jeremias, Parables, p. 206; Mánek, Frucht, p. 76.
Passagens das Escrituras, no Velho Testamento, reiteram esta
verdade que, sem dúvida, aponta para o último julgamento, como um
julgamento universal276. Na parábola das ovelhas e dos cabritos, Jesus
aceita todos aqueles trazidos diante dele, que foram eleitos desde a
eternidade. São aqueles que ouvem o Rei dizer: “Vinde, benditos de
meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a
fundação do mundo”. Eles são salvos, portanto, porque Deus, o Pai,
os tinha abençoado e lhes diz que tomem posse do reino que já antes
lhes havia sido preparado277. A salvação dos justos não tem raízes em
suas boas obras, senão na vontade de Deus, o Pai. As boas obras, que
os justos praticam, não são a raiz, mas, sim, o fruto da graça278. As
boas obras não são anuladas pela graça eletiva de Deus; são
esperadas de seus filhos benditos como uma efusão natural de
obediência e amor.
276
Zc 14.5; Mt 16.27; 19.28; 2 Ts 1.7; Jd 14,15; Ap 3.21; 20.11,12. No trecho
chamado “Parábolas”, no Livro de Enoque 62.5, o Ímpio “vê o Filho do homem
sentado no trono de sua glória”. Ele, que é o Messias, executa todos os pecadores
pela palavra de sua boca. Charles, Apocrypha and Pseudepigrapha, 2:228.
277
O tempo do verbo em “benditos” (=eulogemenoi) e em “preparados”
(=hetoimasmenen) indica ação que, praticada no passado, tem significado
permanente para o presente e o futuro.
278
Hendriksen, Matthew, p. 888.
279
Plummer, Si. Matthew, p. 350; Mánek, Frucht, p. 75; Manson, Sayings, p. 249.
280
No Testaments of the Twelve Patriarchs, Joseph 1.5,6, encontramos tênue eco
dessa passagem, embora reconhecidamente o pensamento divirja em muito do de
Mateus.
Em todos os seus atos, os justos têm demonstrado
responsabilidade humana e genuíno interesse. Provaram ser cidadãos
dignos do reino dos céus. No dia do juízo, receberão o privilégio de
tomar posse do reino. Em suas atividades diárias mostraram
fidelidade e diligência. No dia do julgamento, receberão sua
recompensa. Nas pequenas coisas da vida, os justos demonstraram
seu amor e lealdade. No último dia, serão honrados pelo próprio
Deus.
‘Eu fui vendido como escravo, e o Senhor me livrou; Fui levado cativo, e sua forte
mão me socorreu.
Fui cercado pela fome, e o Senhor mesmo me alimentou. Estava só, e Deus me
confortou;
Estava enfermo, e o Senhor me visitou;
Estava na prisão, e meu Deus foi benigno para comigo.” Charles, Apocrypha, 2:346.
281
Para um exame amplo, veja-se G. E. Ladd, “The Parable of lhe Sheep and the
Goats in Recent Interpretation”, New Dimensions in New Testament Study, ed.
R. N. Longenecker e M. C. Tenney (Grand Rapids: Zondervan, 1974), pp. 19 1-99.
282
Mt 10.40,42; Mc 13.13; Jo 15.5,18,20; 17.10,23,26; At 9.4; 22.7; 26.14; 1 Co
12.27; Gl 2.20; 6.17; Hb 2.17.
283
J. C. Ingelaire, “La ‘parabole’ du jugement dernier (Matthieu 25/31-46), “Revue
d’Histoire et de Philosophie Religieuses 50 (1970): 52.
284
H. E. W. Turner, “The Parable of the Sheep and the Goats (Matthew 25.3146)”,
ExpT (1966); 245, interpreta At 9.4, dizendo: “Com certeza, é um misticismo, mas
um misticismo de auto-identificação mais que de unificação’. Veja-se, também, C. L.
Mitton, “Present Justification and Final Judgment — A Discussion of the Parable of
the Sheep and the Goats.” ExpT 68 (1956): 46- 50.
um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser este meu
discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá o seu
galardão” (Mt 10.42)285. Quando ele chama uma criança e a coloca no
círculo dos discípulos, exorta os doze a também se tornarem crianças.
Os pequeninos que acreditam em Jesus pertencem a ele (Mt
18.5,6,10). Do mesmo modo, em Mateus 25.40, Jesus diz: “Em
verdade vos afirmo que sempre que o fizestes a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Qualquer auxilio prestado a
algum dos seguidores de Cristo é, portanto, prestado ao próprio
Cristo. Os cristãos são altamente exaltados, pois servirão de
referência aos atos de bondade que forem praticados ou omitidos.
Eles e Cristo são um!
O Lado Esquerdo
285
J. A. T. Robinson, “The ‘Parable’ of the Sheep and the Goats”, NTS 2 (1956): 225-
37, também publicado em Twelve New Testament Studies (Naperville: A. R.
Allenson, 1962), pp. 76-93, chama a atenção para esta passagem, mas por razões
lingüísticas.
(Eu) tive fome, e não me destes de comer;
(Eu) tive sede, e não me destes de beber;
Sendo forasteiro, não me hospedastes;
Estando nu, não me vestistes;
Achando-me enfermo e preso, não fostes ver-me.
Implicações
291
L. Cope, “Matthew XXV.31-46. ‘The Sheep and the Goats’ reinterpreted”, NovT
11(1969): 43.
e enfrentou o perigo de morte (2 Co 11.23-27)292. As pessoas que o
ouviam e que cuidaram dele por ocasião de seus julgamentos e de
suas tribulações, demonstraram genuíno amor. Esses atos, como
Paulo diz aos Filipenses que lhe haviam ofertado dádivas, eram
“aroma suave, como um sacrifício aceitável e aprazível a Deus” (Fp
4.18). Mas, quando Paulo foi abandonado por todos, enquanto estava
sendo julgado, o Senhor estava ao seu lado, dando-lhe força. Aqueles
que o haviam desamparado, Paulo escreveu: “Que isto não lhes seja
posto em conta” (2 Tm4.16). Ele deixou o julgamento para o Senhor.
Embora representante de Jesus, não usou da autoridade daquele que
o enviara. Jesus é o juiz, e ele dará o veredicto no dia do juízo. Paulo
pode apenas orar para que o ato de deserção não fosse imputado
àqueles que deveriam tê-lo apoiado.
296
Manson, Sayings, p. 217.
297
Por exemplo: Dn 7.9,10; Ap 20.11-15.
24. Os Dois Devedores
Lucas 7.36-50 “Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com
ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. E eis que
uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na
casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com ungüento; e,
estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas
lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés
e os ungia com o ungüento. Ao ver isto, o fariseu que o convidara
disse consigo mesmo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual
é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora. Dirigiu-se Jesus ao
fariseu e lhe disse: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu:
Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia
quinhentos denários, e o outro, cinqüenta. Não tendo nenhum dos
dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o
amará mais? Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais
perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher,
disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste
água para os pés; esta, porém, regou os meus pés com lágrimas e os
enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo; ela, entretanto,
desde que entrei não cessa de me beijar os pés. Não me ungiste a
cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo, ungiu os meus pés. Por
isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela
muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. Então,
disse à mulher: Perdoados são os teus pecados. Os que estavam com
ele à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este que até perdoa
pecados? Mas Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz”.
As Circunstâncias
298
Jeremias, Parables, p. 126.
299
O costume de ungir alguém com óleo vem da antigüidade. Sl 23.5; 45.7; 104.15;
Ez 23.41; Am 6.6. Daniel-Rops, Palestine, p. 208.
300
Um servo apanhava as sandálias dos hóspedes e as guardava até ao final da
refeição. A. C. Bouquet, Everyday Life In New Testament Times (New York:
Scribner, 1954), p. 71.
301
Daniel Rops, Palestine, p. 207.
respeitável. Além disso, a mulher desatara seu cabelo, estando na
companhia de homens; agindo assim, mostrara que espécie de
mulher era. Era contra os bons costumes que uma mulher soltasse
seus cabelos em público302.
A Parábola
Mas Simão, o fariseu, não pôde ver que essa mulher pecadora
experimentava a alegria da regeneração. Não se lhe ocorreu que ela
poderia ter sido perdoada e que se sentisse plena de felicidade.
“Jesus jamais deveria permitir que a mulher o tocasse”, disse Simão a
si mesmo.
302
Derrett, Law in the New Testament, p. 268.
303
Alguns manuscritos apresentam o artigo definido antes de “profeta”. A expressão
“o profeta” se referiria, então, ao grande Profeta que Deus providenciaria (Dt
18.15).
304
Marshall, Luke, p. 309. Calvin, Institutes of the Christian Religion, III. 4.33 (Grand
Rapids: Eerdmans, 1944), p. 722.
mais?” — Jesus perguntou a Simão. Simão, meio relutante,
respondeu: “Suponho que aquele a quem mais perdoou”. De repente,
percebeu que a parábola o envolvia também. Ele sabia que Jesus não
tinha terminado a história. A aplicação, inevitavelmente, se seguiria
para explicar a presença da mulher, a atitude de Jesus em relação a
ela, e o papel de Simão como anfitrião.
A Mulher
308
Morris, Luke, p. 149.
25. O Bom Samaritano
Lugar e Povo
O judeu vivia num círculo: o centro era ele mesmo, cercado por
seus parentes mais próximos, então pelos outros parentes, e,
finalmente, pelo círculo daqueles que proclamavam descendência
judaica e que se tinham convertido ao judaísmo. A palavra próximo
tinha um significado de reciprocidade: ele é meu irmão e eu sou
irmão dele311. Assim se fecha o círculo de egoísmo e etnocentrismo.
Suas linhas tinham sido cuidadosamente traçadas, a fim de assegurar
o bem-estar dos que se achavam dentro e negar ajuda aos que
estavam fora.
309
Mt 19.16. Consulte-se SB, 1:808, para fontes rabínicas.
310
Dt 6.5 e Lv 19.18.
311
B. Gerbardsson, The Good Samaritan — The Good Shepherd? (Lund,
Copenhagen: Gleerup, 1958), p. 7. quando um soldado judeu morreu em conflito
armado, a nação pranteia a morte de um irmão.
O estudioso de teologia não via qualquer problema com relação ao
primeiro grande mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus”. Mas o
amor a Deus não poderia se expressar separado do segundo
mandamento: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo.” Ele via um
problema no segundo mandamento e fez a pergunta, esperando que
Jesus delineasse os limites. Mas, Jesus se recusou a responder
diretamente. Em vez disso, aplicou o princípio da regra áurea:
“Como quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também
a eles” (Lc 6.31), e contou a história do bom samaritano. Ele queria
que seu ouvinte lhe perguntasse: “Quem devo tratar como meu
próximo?”.
312
E. F. F. Bishop, “People on the Road to Jericho. The Good Samaritan — and the
Others” EvQ 42 (1970):2.
313
A expressão “subida de sangue” pode ser uma corruptela do hebraico “subida
de Adumim” Consulte-se Bishop, “People on the Road to Jericho”, p. 3. Veja-se,
também. Js 15.7 e 18.17 Bishop “Down from Jerusalem to Jericho” EvQ 35 (1963):
97-102.
314
Histórias sobre assaltantes ao longo da estrada de Jericó têm sido registradas
desde os tempos antigos até ao presente. Por exemplo, veja-se o comentário de
Jerônimo, Jr. 3.2.
315
Jericó era uma das cidades com alta concentração de sacerdotes, que tinham
fixado residência na “cidade das palmeiras”, SB, II:66 e 182.
Mais tarde veio um mercador, cujas roupas o identificavam
como um samaritano. Parou, e olhou para o homem, que,
desamparado jazia em seu próprio sangue. O samaritano se encheu
de pena. Se estivesse no lugar do homem ferido, estaria também
ansiando por ajuda. Aproximou-se e, cuidadosamente, ergueu o
ferido. Raspou em tiras um pedaço de linho para fazer ataduras,
aplicou azeite e vinho316, limpando e tratando as feridas do homem.
Implicações
322
Josephus, Antiquities 18:30.
323
15. SB 1:538. Mi 10.5; Lc 9.52,53; Jo 4.9. Nos cultos nas sinagogas judaicas, os
samaritanos eram amaldiçoados. Os judeus oravam a Deus que os excluísse da vida
futura.
324
Mänek, Frucht, p. 87.
da lei deve ter reconhecido as alusões feitas a essas conhecidas
passagens das Escrituras. Primeiro, há o relato registrado em 2 Cr
28.5-15. Fala do povo de Jerusalém e Judá, durante o reinando do rei
Acaz, em 734 A.C., que foi levado cativo para Samaria. O relato
termina com estas palavras:
Aplicação
325
Mänek, Frucht, p. 88, considera a parábola em Midrash, comentário ou sermão a
respeito da Palavra de Deus, registrada em Os 6.6: “Pois misericórdia quero, e não
sacrifício...” Do mesmo modo, Derrett, em Law ln the New Testament, p. 227.
326
Derrett, Law in the New Testament, pp. 222-23, destaca que Jesus “tem um
papel semelhante ao de Moisés”.
327
As palavras de Jesus: “Faze isto, e viverás” recordam Dt 5.33; 6.24 e Lv 18.5.
Para o intérprete da lei que inquiria Jesus, a questão era como
traçar o limite. Ele queria saber se o amor tem limites. Queria se
autojustificar e se assegurar de estar cumprindo o que a Lei
ordenava.
331
Hunter, Parables, p. 111.
332
Agostinho, Quaestiones Evangeliorum, II, 19. Dodd, Parables, pp. 11,12.
Consulte-se Mänek, Frucht, pp. 88,89 para uma avaliação útil de modernas
interpretações. Veja-se Gerhardsson, Good Samaritan, pp. 1-31, para um estudo
elaborado de possíve1 derivados verbais; J. Daniélou, “Le Bon Samaritain”,
Mélanges Bibliques rédiges en I’honneur de A. Robert (Paris, 1956), pp. 454-
93; H. Binder, “Das Geheimnis vom barmherzigen Samariter”, TZ 15 (1959): 176-94.
333
Morris, Luke (Grand Rapids: Eerdmans, 1974), p. 191. W. Monselewski, Der
barmherzige Samariter. Eine auslegungsgeschichtliche Untersuchung zu Lukas
10.25-37 (Tübingen: Mohr-Siebeck, 1967), p. 16.
26. O Amigo Importuno
334
Traduções de Lc 11.5 diferem na maneira de considerar a palavra amigo. A
versão NIV traduz: “Suponhamos que um de vós tenha um amigo e vá procurá-lo à
meia-noite...” Mas a versão NEB diz o seguinte: “Suponhamos que um de vós tenha
um amigo que vem procurá-lo no meio da noite...” O amigo é o vizinho que
empresta o pão, ou o viajante faminto? Quem é amigo de quem?
335
As viagens à noite eram comuns, nos dias de Jesus; as pessoas prudentes
viajavam à noite, como fez José com Maria e o menino Jesus (veja-se Mt 2.9,14).
336
A cozinha ficava, comumente, do lado de fora, ou sob um telheiro. Veja-se
Daniel-Rops, Palestine, p. 220.
337
Dalman, Arbeit und Sitte VII:70-72, 178-79; Armstrong, Parables, p. 80; e
Jeremias, Parables, p. 157.
Um pão, naqueles dias, não era maior que uma pedra que se
pudesse segurar com uma das mãos. Assim, Mateus, no contexto
paralelo registra: “Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura
o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra?” (Mt 7.9). Três desses pães eram
refeição suficiente para uma pessoa. A longa explicação do que pedia
emprestado era uma tentativa de descrever ao vizinho a situação
embaraçosa em que se achava e revela a esperança de que o amigo
o compreendesse. Naturalmente, o hospedeiro estava perfeitamente
ciente do problema que seu pedido causaria. Mesmo assim, ele pediu,
sabendo que era a única maneira de conseguir pão para oferecer a
seu amigo cansado e faminto.
Mas o vizinho não lhe deu descanso nem o deixou dormir. Não
podia voltar para casa, onde seu amigo estava esperando, com as
mãos vazias. Continuou pedindo até que seu vizinho se levantou,
acendeu a lâmpada, removeu a tranca, abriu a porta e lhe entregou
os pães. O vizinho não fez isto por causa da amizade, mas por causa
da insistência daquele que estava pedindo.
Amém significa,
Assim será, com toda a certeza!
É muito mais certo
Que Deus ouça minha oração,
Do que eu estar realmente desejando
Aquilo pelo qual estou orando340.
339
Esta regra, chamada Kal Wa-homer (do menos importante para o mais
importante), era uma das sete regras de hermenêutica compiladas pelo Rabino
HilIel (60 A.C. a 20 DC.) H. L. Strack, Introduction to the Talinud and Midrash (New
York: Meridian Books, 1969), pp. 93-94.
340
Catecismo de Heidelbergae, questão 129.
27. O Rico Insensato
O irmão que pediu a Jesus para intervir parece ter ido, sozinho,
até Jesus. Não temos indícios de que o irmão mais velho tenha
concordado em ter uma terceira pessoa avaliando a situação. Nada é
revelado, também, a respeito dos pormenores da reclamação. O que
fica evidente é que a pessoa que se dirigiu a Jesus queria usá-lo como
advogado, juiz e árbitro. Resumindo, queria empregá-lo como se
emprega um servo. Deixou de ver Jesus como um mestre. Porque os
rabinos conheciam a Lei, e serviam duplamente como mestres e
advogados, o irmão, simplesmente, não conseguiu ver a diferença.
341
Sl 133.1. Josephus assinala que os essênios desistiam do direito à propriedade
privada morando juntos, como fazem os irmão de uma família. Wars 2:122.
342
Os judeus apelariam aos rabinos e fariam referência às Escrituras: Nm 27.1-7;
36.2-10; Dt 21.15-17.
343
Êx 2.14; At 7.27,35. O Evangelho de Tomé, Citação 72, apenas descreve Jesus
como um repartidor: “Um homem disse a ele: Fala com meus irmãos para que
dividam comigo os bens de meu pai. Ele disse: Homem, quem me pôs como
repartidor? Ele se voltou a seus discípulos e lhes disse: Não sou um repartidor,
sou?”
344
Cl 3.5.
345
1 Co 6.9,10. J. D. M. Derrett, “The Rich Fool: A Parable of Jesus concerning
Inheritance”. Studies in lhe New Testament (Lciden: Brili, 1978), 2:103.
vestir, estejamos contentes” (1 Tm 6.7,8). Comida, roupa e um abrigo
resumem as necessidades da vida. Qualquer coisa a mais é
abundância e deve ser repartida com os pobres.
A Parábola
346
Compare-se a parábola à história de Nabal que, com palavras e atos, mostrou-se
escravo de seus bens. 1 Sm 25.11.
347
Pv 3.10 e Dt 28.8.
348
Derrett, “The Rich Fool”, p. 112.
349
Compare-se com Ec 11.19.
Epístola, se dirige àquelas pessoas que dizem: “Hoje ou amanhã
iremos para a cidade tal, e lá passaremos um ano e negociaremos e
teremos lucros”. Replica Tiago: “Vós não sabeis o que sucederá
amanhã. Que é a vossa vida? Sois apenas como neblina que aparece
por instante e logo se dissipa” (Tg4.13,14).
Conclusão
354
O contexto geral aponta, obviamente, para o ensinamento do Sermão da
Montanha. Portanto, a parábola pode ser vista como uma elaboração da instrução
de Jesus para que não armazenemos tesouros na terra, e, sim, nos céus (Mt 6.
19,20).
após ano, procurou e não encontrou fruto algum. A árvore era estéril.
355
1Rs 4.25; Mq 4.4
356
Jr 8.13; Os 9.10; Hc 3.17.
357
A parábola é uma reminiscência do que está registrada em Is 5.1-7. Vides
escolhidas foram plantadas numa vinha num Outeiro fértil. Mesmo assim, após
todos os cuidados dedicados às vides, elas produziram uvas bravas. Veja-se,
também, a história de Aicão. Um pai diz a seu filho: “Meu filho, tu és como uma
árvore que o dono é forçado a Cortar porque não produz frutos, embora esteja
plantada junto da água. E ela lhe diz: Transplanta-me, e se, mesmo assim, eu não
der frutos, corta-me. Mas, seu dono lhe disse: junto da água não dás frutos, como,
então, frutificarás, estando em outro lugar?” Jeremias, Parables, p. 170; Charles,
Apocrypha and Pseudepigrapha, 2:775.
358
Is 34.4; Jr 5.17; 8.13; Os 2.12; Jl 1.17.
359
Mànek, Frucht, p. 93.
colheu figos no ano seguinte ou se figueira foi cortada, o ponto
central da história é que a paciência tem um tempo limite — um ano
e nada mais. A misericórdia de Deus é grande, mas, no fim, o dia do
juízo virá. O tempo da graça concedido ao pecador deve ser usado
por ele para se arrepender e voltar para Deus.
360
A parábola pode ser vista como simbolicamente cumprida na maldição lançada à
figueira (Mt 21.18,19; Mc 11.12-14). É muito marcante que apenas Lucas tenha
registrado a parábola da figueira estéril e que dos evangelistas sinóticos ele seja o
único que não registra o fato de Jesus ter amaldiçoado a figueira.
Nossa preocupação é com o ganho361 eterno do homem e, por isso,
imploramos a Deus que exerça a paciência e conceda a graça.
362
SB, II:202.
363
A. Edersheim, The Life and Times of Jesus the Messiah (Grand Rapids,
Eerdmans, 1953) 2:207. Veja-se, também, Morris, Luke, p. 231. Plummer, SI. Luke,
p. 356; SB, IV: 2.618.
364
Por exemplo: Mt 18.4; 23.12; Rm 12.16; 1 Pe 5.6.
Jesus lavou os pés dos discípulos, no cenáculo, na noite em que foi
traído.
O Exemplo
365
Os doutores da lei eram notórios por ocuparem lugares de honra nos banquetes.
Veja Mt 23.6 e seus paralelos: Mc 12.39; Lc 20.46.
366
Midrash Rabbath Leviticus, I, 5 (London: 1961), p. 9
classe da sociedade: os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos?
Financeiramente, os pobres dependem dos ricos, e aqueles que são
aleijados, coxos e cegos, muitas vezes, precisam da ajuda dos que
são fisicamente capazes. Essas pessoas não têm meios nem força
para retribuir os favores.
Lucas 14.15-24 “Ora, ouvindo tais palavras, um dos que estavam com
ele à mesa, disse-lhe: Bem-aventurado aquele que comer pão no
reino de Deus. Ele, porém, respondeu: Certo homem deu uma grande
ceia e convidou muitos. À hora da ceia, enviou o seu servo para avisar
aos convidados: Vinde, porque tudo já está preparado. Não obstante,
todos, à uma, começaram a escusar-se. Disse o primeiro: Comprei um
campo e preciso ir vê-lo; rogo-te que me tenhas por escusado. Outro
disse: Comprei cinco juntas de bois e vou experimentá-las; rogo-te
que me tenhas por escusado. E outro disse: Casei-me e, por isso, não
posso ir. Voltando o servo, tudo contou ao seu senhor. Então, irado, o
dono da casa disse ao seu servo: Sai depressa para as ruas e becos
da cidade e traze para aqui os pobres, os aleijados, os cegos e os
coxos. Depois, lhe disse o servo: Senhor, feito está como mandaste, e
ainda há lugar. Respondeu-lhe o senhor: Sai pelos caminhos e atalhos
e obriga a todos a entrar, para que fique cheia a minha casa. Porque
vos declaro que nenhum daqueles homens que foram convidados
provará a minha ceia”.
A História
367
A prática de enviar servos para chamar os convidados era muito comum nos
tempos antigos. Ester 6.14 e SB, 1:880.
O servo procurou o segundo convidado, e chamou-o para a ceia,
pois o anfitrião estava à espera: “Vinde, porque tudo já está
preparado”. O homem pareceu perplexo, ao ouvir o convite. Estava
tratando de negócios. Tinha acabado de pagar uma quantia razoável
por cinco juntas de bois e se preparava para experimentá-las. Não
podia sair, pois os homens que conduziam os bois dependiam dele.
Era o único que podia tomar decisões. Era o chefe, ali. Sair de sua
fazenda naquele momento, para tomar parte em um banquete, seria
muita irresponsabilidade. Ele expressou profundo pesar e pediu ao
servo que levasse suas saudações ao anfitrião. Tinha certeza de que o
outro entenderia sua situação embaraçosa.
Interpretação
368
Schippers, Gelijkenissen, p. 45.
369
O fazendeiro que comprou cinco juntas de bois devia possuir muita terra.
Provavelmente, mais de 45 hectares (111 acres). Jeremias, Parables, p. 177.
370
H. Palmer, “Just Married, Cannot Come”, NovT 18 (1976):241-57. Veja
especialmente a página 248. O Evangelho de Tomé, Citação 64, tem uma série
maior de desculpas. A primeira: “Alguns comerciantes me devem dinheiro; virão me
procurar esta noite; preciso dar algumas ordens a eles. Peço para ser dispensado do
jantar.” O segundo convidado disse: “Comprei uma casa, estarei ocupado durante
todo o dia.” O terceiro disse: “Meu amigo vai se casar e eu vou ser responsável pela
festa. Peço desculpas por não ir ao banquete.” O quarto se desculpou, dizendo:
“Comprei uma vila; tenho que receber o aluguel; não poderei ir. Peço que me
tenhas por escusado”.
371
Plummer, St. Luke, p. 360.
Os que ouviam Jesus, na casa do fariseu, compreenderam que a
parábola era endereçada a eles. O hospedeiro e seus hóspedes
estavam sendo convidados novamente para o banquete de Deus, ao
qual já tinham aceitado comparecer. Eles viriam ou Deus deveria
procurar outros, porque os hóspedes convidados se recusavam a ir?
Jesus disse aos fariseus e aos doutores da lei que o banquete de Deus
não é um acontecimento a ser celebrado no final dos tempos. A festa
já está pronta e Deus espera, então, a resposta que têm para dar372.
Respondendo ao homem que tinha comentado: “Bem-aventurado
aquele que comer pão no reino de Deus”, Jesus falou: “Sim. Vinde,
porque a festa já está preparada. Os convidados devem vir agora.
Depois será tarde demais.” As instituições religiosas dos dias de Jesus
não estavam preparadas para aceitar a vinda do reino, apesar dos
sinais e maravilhas realizados por Jesus, diante de todos.
Colocação
372
Huner, Parables, p. 94. Linnemann, p. 91.
373
Talvez a diferença entre os desamparados que vivem na cidade e os que
estavam fora, no campo, se refira ao judeu errante, que “não está longe do reino”,
e ao gentio destituído de instrução religiosa.
374
Palmer, “Just Married”, p. 256.
375
E. Schürer, A History of the Jewish People in the Time of Jesus Christ,
significava repetir. Assim, ensinou a parábola da grande ceia na
ocasião em que foi convidado para um almoço de sábado na casa de
um fariseu. Alguns dias antes de sua morte, ele contou a parábola
sobre o banquete de núpcias376.
Aplicação
Ma’Jan, registrada no Talmud Palestino (1. Sanh. 6-23c par. 1. Hagh 2.77d). É
discutível, no entanto, se a parábola copia a história. Linnemann, Parables, pp.
160-62; F. Hahn, “Das Gleichnis von der Einladung Zum Festmahl, “Verborum
Veritas”, p. 67; Derrett, Law in lhe New Testament, p. 143.
379
Derrett, Law in the New Testament, p. 141, afirma que um hospedeiro enviaria
porções da comida a amigos que não pudessem comparecer ao banquete.
Distribuindo a comida aos pobres, o anfitrião recusou até mesmo “um sinal de
reconhecimento e reciprocidade”.
380
Michaelis, Gleichnisse, p. 158.
381
O. Glombitza, “Das Grosse Abendmahl Luk XIV 12-24, NovT 5 (1962):15.
382
Palmer, “Just Married”, p. 253.
todos aceitem a Jesus Cristo, o Salvador do mundo. Enquanto esses
que se recusam a tomar conhecimento do chamado de Jesus são
preteridos e perdem sua cidadania do reino, estranhos ao reino são
convencidos a responder, pela fé, ao chamado de Cristo.
383
Wallace, Parables, p. 69.
31. O Construtor da Torre e o Rei Guerreiro
384
O tema “o custo do discipulado” é estudado em livro do mesmo título, de Dietrich
Bonhoeffer. Neste trabalho, Bonhoeffer fala da auto-entrega e do auto-sacrifício dos
quais deu pessoal-mente testemunho, quando foi executado em 9 de abril de 1945,
numa prisão alemã.
As Duas Parábolas
Três vezes Jesus repete o refrão: “não pode ser meu discípulo”
(Lc 14.26,27,33). Com toda a certeza, apenas aqueles que avaliaram
o custo e estão dispostos a renunciar a tudo por causa de Cristo são
verdadeiramente seus discípulos.
387
P. G. Jarvis, “Expouding the Parahles. V. The Tower-builder and the King going to
War (Luke 14.25-33), ExpT 77 (1966): 197.
32. A Ovelha Perdida
388
Marshall, Luke, p. 600’; Plummer, St. Luke, p. 368. Para um estudo mais
detalhado, consulte-se J. Jeremias, “Tradition und Redaktion in Lukas 15”, ZNW 62
(1971): 172-89.
389
E. F. F. Bishop, “The Parable of the Lost or Wandenng Sheep”, ATR 44 (1962): 50.
desgarrada do resto do rebanho. O pastor deixou o resto do rebanho
nos montes (Mateus) ou no deserto (Lucas)390. Embora a parábola diga
apenas que o pastor deixou as noventa e nove ovelhas, não menciona
que as deixou desprotegidas391. Além do mais, o objetivo da parábola
não são as noventa e nove, e, sim, aquela que se perdeu. As ovelhas
são animais gregários; vivem juntas em grupo. Quando uma ovelha se
separa do rebanho, fica desnorteada392. Deita no chão, imóvel,
esperando pelo pastor. Quando ele, afinal, a encontra, coloca-a sobre
os ombros, para caminhar de volta, mais depressa, até onde deixou o
rebanho393. Logo o pastor, a ovelha e o rebanho estão todos juntos
outra vez.
Este poderia ter sido o final da história, mas não foi. A história
cresce em emoção no seu clímax com a alegria que toma conta do
pastor. Jesus diz: “... em verdade vos digo que maior prazer sentirá
por causa desta, do que pelas noventa e nove, que não se
extraviaram” (Mt 18.13). Para ser verdadeira a felicidade precisa ser
compartilhada. O pastor vai para casa, chama seus amigos e vizinhos
e os convida a se alegrarem com ele, porque, diz o pastor: “... já achei
a minha ovelha perdida” (Lc 15.6). A tensão que o pastor sentira
enquanto procurava a ovelha extraviada tinha desaparecido, dando
lugar à alegria394. Ele comemora com seus amigos e vizinhos.
Aplicação
395
Morison, St. Matthew, p. 317.
396
Jeremias, Parables, p. 39, traduz Mt 18.14 da seguinte maneira: “não é da
vontade de Deus que nenhum destes mais pequeninos se perca.” Ele aplica a
expressão “mais pequeninos” aos apóstatas que deveriam receber o cuidado
pastoral por parte da comunidade cristã (p.40).
397
K. H. Rengstorf, TDNT, 1:327-28, apresenta uma dupla interpretação da palavra
pecador, como era entendida pela hierarquia judaica. (a) O pecador é “um homem
que vive em oposição, consciente ou intencionalmente, à vontade divina (Torá),
diferentemente do justo que faz da submissão a esta vontade sua alegria de viver”.
E (b) é o homem “que não se sujeita aos rituais farisaicos”.
398
As regras religiosas daquele século e do século seguinte falam mais sobre a
alegria de Deus na destruição do ímpio que sobre sua salvação. SB, 11:209.
de fazer qualquer coisa por si mesmo. Deus vai a busca do homem,
não o homem em busca de Deus. Neste ponto, o Cristianismo difere
das outras religiões do mundo399. Deus encontra o homem que está
perdido em pecado. Quando o pecador é encontrado, há júbilo no céu.
Naturalmente, há alegria por aquele que faz a vontade de Deus, mas,
quando um pecador volta para Deus, em arrependimento e fé, é
chegado o tempo da celebração. Um filho de Deus, que estava
perdido, foi achado.
399
Wallace, Parables, p. 52.
33. A Dracma Perdida
Lucas 15.8-10 “Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perder
uma, não acende a candeia, varre a casa e a procura diligentemente
até encontrá-la? E, tendo-a achado, reúne as amigas e vizinhas,
dizendo: Alegrai-vos comigo, porque achei a dracma que eu tinha
perdido. Eu vos afirmo que, de igual modo, há júbilo diante dos anjos
de Deus por um pecador que se arrepende”.
p. 28, comenta sobre escavações em Nazaré, onde se encontram casas que foram,
provavelmente, visitadas por Jesus. Ele diz: “O chão era desnivelado, feito de
grandes pedaços de basalto com consideráveis fendas entre eles. Mesmo com a luz
do sol, podemos imaginar a mulher da parábola de Lucas 15.18, procurando sua
moeda perdida, especialmente num cômodo de chão e paredes de pedra, e
pequenas janelas. Não é de admirar que ela tenha usado uma candeia”.
403
Dalman, Arbeit und Sitte, VII:111-12.
404
A. F. Walls, “In lhe Presence of the Angels (Luke XV. 10), NovT 3(1959): 316; SB,
11:212.
evangelístíco e se rejubilando com os “anjos de Deus por um pecador
que se arrepende”.
34. O Filho Pródigo
As Circunstâncias
O filho mais novo recebeu sua parte e ajuntou “tudo o que era
seu Estava agora por conta própria e livre para ir. Pensava: “Tenho
dinheiro, vou viajar”. Poderia ir para a Babilônia, ao leste; à Ásia
Menor, ao norte; à Grécia e à Itália, ao oeste; ou ao Egito e África, ao
sul. Tinha o mundo à sua disposição. Diversos fatores influíram
profundamente no futuro do filho mais jovem. Seu idealismo juvenil,
sua inexperiência e falta de discrição, sua saída da fazenda para a
cidade, o dinheiro à mão — tudo teve um papel importante. Sua
intenção de viver por sua própria conta logo se frustrou, quando foi
cercado por falsos amigos. Princípios de vida e conduta, aprendidos
em casa, foram postos de lado e esquecidos. Foi descuidado e
perdulário411.A reprovação do irmão mais velho — “esse teu filho, que
desperdiçou os teus bens com as meretrizes” — não é mera
acusação. Baseava-se em informações que a família recebia, de
tempos em tempos, de como o caçula passava seus dias
dissolutamente. A desobediência às leis da economia e da moral não
podia continuar. Ele teve que pagar um preço pela vida desregrada.
Em relativamente pouco tempo, gastou tudo. Chegou ao fim da linha.
havia cerca de oito vezes mais judeus (quatro milhões) que viviam em dispersão, do
que em Israel (meio milhão). Jercmias, Parables, p. 129.
409
Para um estudo mais detalhado, consulte-se Derrett, Law in the New
Testament, p. 107.
410
O pai deve ter seguido o costume daqueles dias, como encontramos em
Eclesiástico 33.22,23: “Em todas as tuas obras conserva a tua superioridade. Não
manches a tua reputação. Deixa seguir o curso da tua vida e, no tempo da tua
morte, reparte a tua herança” (NEB).
411
W. Foerster, TDNT, 1:507.
empregos eram raros, e a economia indicava que tempos difíceis
tinham chegado. O jovem de vida devassa estava sem dinheiro e sem
sequer um amigo que o ajudasse. Em terrível necessidade, percorreu
as ruas e arredores da cidade procurando serviço, mas tudo que pôde
achar foi a tarefa humilde de alimentar porcos. Ele tinha chegado
agora à degradação mais profunda, pois desde a infância aprendera,
como qualquer judeu, que o porco é um animal imundo (Lv 11.7)412.
Era agora empregado de um gentio e teve que abandonar o hábito de
guardar o Sábado. Nessa triste situação, estava alijado da religião de
seus pais espirituais413.9 Ele estava desesperado. Seu empregador o
fazia sentir que aqueles porcos tinham mais valor para ele que um
simples empregado. Sentia falta de amizade e consideração, mas
ninguém se importava com ele. Por causa da escassez de comida, sua
alimentação diária não era suficiente para acalmar suas dores de
fome. Queria até mesmo comer da comida dada aos porcos, as
vagens da alfarrobeira414.
412
Os judeus estavam estritamente proibidos de criar porcos. “Não é permitido criar
porcos, onde quer que seja”; “Amaldiçoado seja o homem que criar porcos”. Baba
Kamma 82b, Nezikin I, The Babylonian Talmud, pp. 469,70.
413
Jeremias, Parables, p. 129, comenta que o homem foi “praticamente forçado a
abandonar a prática regular de sua religião”.
414
Vagens e sementes de locusta (alfarrobeira) são usadas como forragem para o
gado e para os porcos e, às vezes, são comidas pelos pobres. Não há necessidade
de dizer, como alguns estudiosos fazem, que o jovem roubava as vagens para
satisfazer sua fome. A máxima universal: “Não atarás a boca do boi, quando
debulha” (Dt 25.4), pode ser, certamente, aplicada.
que pertenciam ao amplo círculo de sua família. Sabia, também, que
tinha desobedecido ao mandamento: “Honra a teu pai e a tua mãe,
para que se prolonguem os teus dias na terra que o SENHOR teu Deus
te dá” (Ex 20.12)415. Ele tinha pecado contra Deus.
O Pai
O pai não era pai apenas do filho mais novo; era pai, também,
do filho mais velho. Seu primogênito tinha sido um filho leal, com
interesse pessoal na fazenda. Naturalmente, o filho sabia que era o
herdeiro. Ele estava fora, no campo, enquanto todos celebravam a
volta de seu irmão. Ele servia bem a seu pai, e seu pai aprovava o
zelo do filho. Mas, como pai, conhecia também as manifestações de
inveja, e sabia que a atitude do filho mais velho, em relação ao
423
Rengstorf, Re-Investitur, p. 29.
424
Rengstorf, Re-Investitur, p. 22, se refere ao costume legal, chamado
Ketsalsah, que é o desligamento de um membro da comunidade judaica, por
causa de conflito de interesse. Derreti, Law in the New Testament, p. 116, faz
notar que esse costume legal não se aplica às circunstâncias do filho pródigo,
porque ele não foi penalizado nem banido da família.
425
Consulte-se L. Schottroff, “Das Gleichnis vom Verlorenen Sohn”, ZTK 68
(1971); 39-41.
426
Entre Outros, J. T. Sanders, em “Tradition and Redaction in Lk XVG: 11-32, NTS
15 (1968-69): 433-38, argumenta que há duas parábolas separadas. Veja-se,
também, 1. J. O’Rourke, “Some Notes on Luke XV, 11-32, NTS 18 (1971-72): 431-
33, e Jeremias, Tradition und Redaktion in Lukas 15”, NW 62 (1971): 172-89, que
refuta o argumento.
caçula, estava influenciada por ela. Não nos é contado por que razão
o irmão mais velho foi o último, a saber, da volta do caçula 427. Pode
ter sido porque naquele dia ele tinha ido inspecionar a parte distante
da casa, e, por isso, tenha voltado mais tarde, naquela noite. Ao
chegar, ouviu a música e as danças e perguntou a um dos servos o
“que era aquilo”. Em segundos ficou sabendo que o irmão mais moço
tinha voltado e que o pai mandara matar o novilho cevado, porque
recebera de volta o filho, são e salvo.
Tanto o mais velho quanto o mais novo eram seus filhos, e o pai
se dirigiu ao mais velho com a mesma ternura com que se dirigira ao
caçula. Disse o pai: “Meu filho, tu sempre estás comigo; tudo o que e
meu é teu430”. O pai ensinou-lhe o que significa ser filho: estar sempre
427
Rengstorf, Re-Invetitur, p. 54, faz perguntas sobre a expressão “no campo”. Seria
indício de que o filho não convivia bem com o pai e permanecesse longe de casa?
428
Thielicke, The Waiting Father, p. 32.
429
Morris, Luke, p. 244.
430
A palavra grega teknon (= criança) é muito mais afetuosa que a palavra huios
(= filho). A Nova Bíblia Inglesa emprega o sentido de teknon na tradução, “my
boy” ( =meu menino).
na presença do pai, como herdeiro. Mais ainda mostrou-lhe as
relações familiares de pai para filho e de irmão para irmão. Ele estava
dizendo: Porque és meu filho, eu sou teu pai; e porque o pródigo é
meu filho, ele é teu irmão431. Como uma família, disse o pai, “era
preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu
irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado432”. A
questão do relacionamento entre os filhos estava proposta. O filho
mais velho, que fielmente tinha servido o pai, na fazenda da família,
aceitaria ficar ao lado do pai quando este celebrava a volta do mais
jovem?
Aplicação
431
Schippers, Gelijkenissen, p. 178.
432
Celebrar a volta do filho pródigo “era uma obrigação que o filho mais velho não
quis reconhecer.” Plummer, St. Luke, p. 379. Jeremias, Parables, p. 131, percebe
um tom de reprovação na voz do pai, quando diz a seu filho: “Devias te alegrar e
festejar, pois é o teu irmão que voltou para casa”.
acontece quando um publicano ou um ‘pecador’ se arrepende?”.
434
Para estudo destas questões, veja, Jülicher, Gleichnisreden, 2:364-65.
35. O Administrador Infiel
Composição
A História
Jesus contou uma história que poderia muito bem acontecer nos
dias de hoje. Fala de um homem rico que escolheu um administrador
para os seus negócios. Ele tinha inteira confiança no escolhido, mas
quando soube que ele estava dissipando seus bens, chamou-o e
disse-lhe para apresentar seus livros e prestar contas de sua
administração, pois estava despedido. Poderia procurar outro
emprego.
439
Josephus, Antiquities, 18:157.
440
Derrett, Studies, 1:1-3.
441
Derrett, Law, p. 71.
442
Fitzmyer, em Essays, p. 177, é de opinião que o administrador recebia comissões
nas transações. Derrett, Law, p.74, mostra que o dinheiro envolvido em transações
de empréstimo pertencia ao senhor. Além disso, o administrador da parábola de
Jesus não tinha bens próprios e, por isso, fazia reservas para o futuro.
não poderia pedir misericórdia443. Sabia que um sucessor tomaria seu
lugar. O que o futuro reservava para aquele administrador? Tinha que
depender de sua própria engenhosidade. Não era fisicamente
capacitado para o trabalho braçal, e mendigar estava fora de
questão444. Ele arrazoava consigo mesmo, considerando possibilidades
e alternativas. De repente, exclamou: “Eu sei o que farei!” Controlaria
os negócios de modo que os devedores de seu senhor ficassem lhe
devendo obrigações, para que, depois de sua demissão, o
recebessem em suas casas.
Aplicação
448
I. H. Marshall, “Luke XVI.8 — Who Commented the Unjust Steward?” JTS 19
(1968): 617-19.
449
Derrett, Law, p. 73.
450
H. Drexler, “Zu Lukas 16.1-7”, ZNW 58(1967): 286-288, sustenta que porque o
senhor fora injusto com o administrador, pedindo-lhe contas e o despedindo, este se
vingou chamando os devedores.
451
O artigo definido e o substantivo grego (tes adikias), traduzidos adjetivalmente
em muitas versões, são os mesmos em Lc 16.8 e Lc 18.6.
452
H. Preisker, “Lukas 16.1-7”, TLZ 74 (1949):85-82. contrasta a parábola do
administrador desonesto com a do filho pródigo. O administrador continuou
escravizado ao poder do dinheiro, enquanto o filho pródigo gastou seu dinheiro e se
arrependeu.
453
Traduções mais antigas, seguindo literalmente o texto grego, obscurecem, de
O ponto que a parábola focaliza é o fato de que o administrador,
que tinha fama de desonesto, compreendendo que seu futuro estava
em perigo, procurou aprovação, sendo honesto e generoso com os
devedores de seu senhor. Não procurou riquezas do mundo, mas
distribuiu-as àqueles que deviam a seu senhor, embora o dinheiro não
fosse seu, e, num certo sentido, nem mesmo de seu patrão. Do
mesmo modo, os filhos da luz não devem colocar seus corações em
bens terrenos. Devem ser generosos e repartir parte do que possuem.
Podem agir assim porque essas posses não lhes pertencem, mas, sim,
a Deus. Quando doam dinheiro aos pobres, estão redistribuindo a
riqueza que lhes for confiada por Deus454. Jesus repetiu essa verdade
quando disse: “Não acumuleis para vós outros tesouros sobre a
terra... mas ajuntai para vós outros tesouros no céu” (Mt 6.19,20). O
que Jesus ensinou tem raízes, de muitas formas e maneiras, nos
ensinamentos do Velho Testamento. Davi, na presença do povo de
Deus, orou: “Porque quem sou eu, e quem é o meu povo para que
pudéssemos dar voluntariamente estas coisas? Porque tudo vem de
ti, e das tuas mãos to damos” (1 Cr 29.14). Por intermédio da
parábola do administrador infiel, Jesus aconselha os seus seguidores a
dar de seu dinheiro tanto quanto possível para que possam receber
aprovação de Deus e serem bem-vindos à sua casa, para ali viverem
eternamente455.
algum modo, o significado da passagem. A NEB traduz Lucas 16.9 quase do mesmo
modo que a NIV: “Eu vos digo: Usai vossas riquezas materiais para fazer amigos
para vós mesmos, de modo que, quando o dinheiro for coisa do passado, possais
ser recebidos no lar eterno”.
454
Derrett, Law, p. 74.
455
SB, 11:221. Consulte-se, também, Willians, ‘Almsgiving”, p. 294; Lunt, ‘Parable”,
p. 134.
456
Com base nos estudos dos textos de Cunrã, a expressão “riquezas materiais”, o
mamom da injustiça, deve ser contrastada com as riquezas celestiais. Marshall,
Luke, p. 621.
o padrão da lei de Deus, têm, muitas vezes, a tendência de relaxar e
modificar os princípios cristãos. Querem o melhor dos dois mundos:
querem ter a fé cristã no conforto de uma sociedade abastada;
querem ser amados por Deus e, ao mesmo tempo, serem elogiados
pelos homens. Jesus disse: “Os filhos do mundo são mais hábeis na
sua própria geração do que os filhos da luz”. Se aqueles que não
professam servir a Deus compreendem que seus padrões são
fundamentais, não deveriam os que professam ser seu povo manter a
lei de Deus, praticar o que pregam e mostrar por palavras e atos que
o dinheiro, afinal, falha, mas as riquezas celestiais são eternas? Em
sua epístola pastoral, Tiago adverte os cristãos que fazem opção por
uma vida dupla. “Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo
é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo,
constitui-se em inimigo de Deus” (Tg 4.4).
36. O Rico e Lázaro
Aqui e Agora
Então e Além
e versículos paralelos.
469
Oesterley, Parables, p. 209, vê a doutrina da condenação eterna como
anticristã. Pergunta se Lucas 16.26 é uma interpolação e afirma que a passagem
“fica mais suave sem ov. 26”. Porque ele não apresenta evidência textual, tal
questionamento é inadmissível e demonstra uma recusa a lidar com a Palavra de
Deus escrita. E C. F. Evans, “Uncomfortable Words — V. (Luke 16.31)”, ExpT 81
(1969-70):230, que escreve: “Hoje, a parábola é considerada fundamento imperioso
para a crença de que a posição e o status do indivíduo são irrevogavelmente
fixados no momento da morte”.
470
No v. 26, o tempo perfeito do verbo grego sterizo indica estado resultante.
Entretanto, o uso de hopos implica em propósito e não resultado de alguma coisa
ocorrida. Morris, Luke, p. 254, A. T. Robertson, A Grammar of the Greek New
Testament (New York: Hodder & Stoughton, George 11. Doran Company, 1919), p.
896.
471
Michaelis, Gleichnisse, p. 264, nº 151, sugere que Lázaro poderia aparecer, em
sonho ou visão, aos irmãos do rico. Entretanto, se este fosse o caso, o próprio
homem rico poderia fazer isso com muito mais eficácia.
rico com Abraão, Lázaro permaneceu em silêncio. Nem uma palavra
saiu de seus lábios sobre a audácia do rico de dizer a Abraão o que
fazer. O rico se dirigiu a Abraão, que lhe respondeu.
O rico sabia que seu pai e seus irmãos não levavam a sério as
Escrituras. Seus cinco irmãos solteiros viviam ainda na casa do pai (o
número cinco é arbitrário) e viviam uma vida semelhante à que ele
levara na terra. Não eram as riquezas que eles desfrutavam que o
preocupavam472, e, sim, o seu menosprezo para com as Escrituras.
Chamou Abraão de “pai” pela terceira vez, assegurando-lhe que seu
pai e seus irmãos se arrependeriam se alguém de entre os mortos
ressuscitasse e fosse ter com eles. Não pediu mais que Lázaro fosse
enviado. Qualquer um poderia fazê-lo.
Aplicação
472
A dedução não é que um crente deva viver na pobreza para entrar nos céus.
Abraão, durante sua vida na terra, era considerado rico. O ponto em questão é a
relação com Deus e com o próximo. Mánek, Frucht, p. 108.
473
Plummer, St. Luke, p. 397.
474
Dunkerley, “Lazarus”, p. 322.
específica. A parábola pode ter sido contada em qualquer ocasião do
ministério terreno de Jesus. Mas, porque Lucas a registrou em seguida
à do administrador infiel, e porque ele revela a reação dos fariseus ao
ensino de Jesus: “Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Lc 16.13),
podemos deduzir que os fariseus estavam presentes quando Jesus
contou a parábola do rico e Lázaro475. Os fariseus eram,
provavelmente, os que ouviam a parábola. O contexto imediato
mostra que, porque amavam o dinheiro, ridicularizavam Jesus (Lc
16.14). Também porque se justificavam a si mesmos diante dos
homens, como Jesus afirmou (Lc 16.15). Deus, no entanto, conhecia
seus corações. Jesus via a contradição que havia em suas vidas e
contou a história de um homem que amava o dinheiro, vivia no luxo,
e pensava que o fato de ser descendente de Abraão lhe garantiria a
salvação. O conteúdo da parábola está ligado ao comentário dirigido
aos fariseus a respeito de vícios como o amor ao dinheiro e a
autojustificação476.
475
Manson, Sayuings, pp. 296-301, e Hunter, Parables, p. 114, sugerem que a
parábola foi endereçada aos saduceus porque negavam a ressurreição. Esta seria,
na verdade, uma interpretação útil, se o contexto, direta ou indiretamente, se
referisse a eles.
476
Derrett, Law, p. 85, se refere à história de Dives e Lázaro como a “parábola da
inversão”. Veja-se, também, Oesterley, Parables, p. 203.
477
F. H. Capron, “Son in the Parable of the Rich Man and Lazarus”, ExpT 13 (1901):
523.
Além disso, os fariseus eram os que ensinavam a lei da
retribuição, em relação à vida futura. Essa doutrina, simplesmente,
não é compatível com o ensino de Jesus478. É estranha a ele. Mas Jesus
pôs a doutrina dos fariseus na boca de Abraão: “Filho, lembra-te de
que recebestes os teus bens em tua vida, e Lázaro igualmente os
males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos.”’
Jesus aplicou a lei da retribuição aos fariseus, que ouviram sua
própria teologia dos lábios de Abraão. Eles tinham criado um grande
abismo entre eles próprios e os proscritos morais e sociais. Esses
banidos da sociedade viviam em completa pobreza religiosa e
econômica. Ninguém da comunidade judaica lhes fornecia alimento
espiritual; estavam condenados a morrer de fome. Se alguém, alguma
vez, questionasse a atitude dos fariseus em relação a esses
marginalizados, ouviria como resposta que eles tinham Moisés e os
profetas, que ouvissem a lei e se arrependessem. Os fariseus ouviam
suas próprias palavras distinta e diretamente de Abraão. Estavam
retratados pelo rico, no inferno, e Lázaro representava os
marginalizados.
Os fariseus, mais que uma vez, haviam pedido a Jesus que lhes
desse um sinal dos céus479. Pediam isso com o propósito de testá-lo.
Provavelmente não teriam acreditado nele, mesmo que lhes
apresentasse um sinal sobrenatural. Agora, esses mesmos fariseus
ouviam o rico da parábola pedir a Abraão um sinal dos céus. Abraão
recusou. Ele disse: “Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco
se deixarão persuadir, ainda que ressuscite alguém dentre os
mortos.” No pedido do rico, os fariseus ouviram o eco de suas
próprias palavras. A parábola era endereçada a eles480.
Conclusão
481
O Glombiiza, “Der reiche Mann und der arme L.arzan,s. Luk. XVI 19-31. Zur Frage
nach der Llotschaft des Texts”, NovT 12(1970):173.
37. O Fazendeiro e o Servo
482
O adjetivo “inúteis” na sentença “somos servos inúteis”, não tem o sentido de
imprestável ou sem serventia. E mais uma expressão de modéstia no sentido de
falta de merecimento. “Somos servos, e não merecemos elogios” (NEB).
ordens ao servo para arar o campo durante o dia e preparar o jantar,
quando voltasse, ele, simplesmente, obedeceria, pois sabia que esta
era sua tarefa. Era simples assim. E, por ter feito sua tarefa, o escravo
não recebia agradecimentos, porque não era costume agradecer-lhes.
O que Jesus está dizendo com esta parábola? Ele quer que seus
seguidores entendam o que significa ser servo. Seus próprios
discípulos, que viviam num clima religioso de méritos e demérito,
perguntaram, mais de uma vez, qual deles seria o maior no reino dos
céus483. Jesus teve que ensinar: “Se alguém quer ser o primeiro, será
o último e servo de todos” (Mc 9.35). Ele mesmo deu o exemplo,
quando lavou os pés dos discípulos (Jo 13.1- 17) e, depois de instituir
a Santa Ceia, instruiu-os a agir como servos: “... o maior entre vós
seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve. Pois
qual é maior: quem está à mesa, ou quem serve? Pois, no meio de
vós, eu sou como quem serve” (Lc 22.26,27)484.
483
Mt 18.1; 20.21; Mc 9.34; 10.37; Lc 9.46; 22.24; e veja Mt 23.11.
484
Na parábola dos servos vigilantes (Lc 12.35-38), o senhor, quando chega,
prepara a refeição dos servos e os serve.
485
Comparem-se, entre outros, Sl 62.12; Mt 16.27; 2 Co 5.10; Ap 22.12.
486
Manson, Sayings, p. 302.
38. O Juiz Iníquo
A Viúva e o Juiz
Aplicação
Jesus diz: “Considerai no que diz este juiz iníquo493”. Ele quer
que os discípulos prestem atenção às palavras do juiz. Elas são
importantes para a compreensão correta da parábola. Como fez na
parábola do amigo que veio à meia-noite, Jesus usa a regra dos
contrastes. Ele contrasta o pior que há no homem com o melhor que
há em Deus: “Considerai no que diz este juiz iníquo. Não fará Deus
justiça aos seus escolhidos, que a ele clamam dia e noite, embora
pareça demorado em defendê-los?” Em outras palavras, ninguém
deve imaginar Deus como uma divindade inabalável que se compara
ao juiz da parábola. O sentido é que se esse juiz grosseiro e mal
humorado, que, segundo suas próprias palavras, não teme a Deus
nem aos homens, se comove com os pedidos da viúva, quanto mais
fará Deus justiça a seu próprio povo que ora a ele, de dia e de noite?
492
As traduções da palavra grega hypopiaze variam, e vão de um insulto ao
cometimento de um ato de violência — “acertar um soco no olho”. Derrett, “Law to
the New Testament”, p. 191, interpreta a palavra, como significando “perda de
prestígio”. É, portanto, comparável à palavra anaideia, de Lá 11.8, que pode ter o
sentido de “não ser alvo de reprovação; manter a aparência”. Veja-se D. R.
Catchpole, ‘The Son of Man’s Search for Faith (Luke XVIII 8b)” NovT l9 (1977):89. 1
Co 9.27 é o outro lugar, no Novo Testamento, onde a palavra hypopiaze é usada.
493
A expressão “juiz iníquo” define o contraste entre a injustiça personificada pelo
juiz terreno e Deus que ouve seus eleitos. Veja-se G. Delling, “Das Gleichnis voo
gottlosen Richter”, ZNW 53 (1962):14.
pois ele lhe pertence494. Quando esse povo lhe pede, noite e dia, Deus
toma para si sua causa e faz justiça. Assim, se a viúva tivesse pedido
a Deus, teria recebido justiça, porque Deus ouve e responde às
orações495. O juiz ouviu a mulher pelo motivo errado: para livrar-se
dela. Deus ouve seu povo porque o ama e defende sua causa. O juiz
age egoisticamente; Deus age em favor de seu povo.
494
Delling, “Gleichnis”, p. 15.
495
A linguagem da parábola é reminiscência de Eclesiástico 35.12-20, que faIa sobre
a justiça de Deus. “Porque o Senhor é um juiz”, diz Jesus Ben-Sirach. “Ele jamais
ignora o apelo do órfão ou da viúva” (NEB).
496
Muitos exegetas têm tentado uma explicação satisfatória para Lá 18.7b. A brusca
mudança do subjuntivo no v.7a, para o indicativo, em 7b, pode significar que o
versículo consiste de duas sentenças independentes. A última parte do v. 7 é
semelhante a Eclesiástico 25.19. Para interpretações deste versículo, veja-se H.
Riesenfeld, “Zu makrothumein (Lk 18.7) “Neutestamentliche Aufsãtze,
Festschrift honoring J. Schmid (Regensburg: Pustet, 1963), pp. 214-17; H. Ljungvik,
“Zur Erklãrung einer Lukas-Stelle (Luk. XVIII7)”, NTS 10(1963-64): 289-94; A.
Wifstrand, “Lukas xviii:7’, NTS 11(1964-65): 72-74: C. E. 13. Cranfield, “The Parable
of the Unjust Judge and the Eschatology of Luke-Acts”, Scot JT 16(1963): 297-301;
e Jerem ias, Parables, p. 154.
497
Plumer, St. Luke, p. 414, comenta que, embora o sentido exato não possa ser
determinado, o que é importante é suficientemente claro: ‘não importa o quanto a
resposta possa parecer demorada, a oração com fé e constância é sempre
respondida.
confiar. Segundo, o povo de Deus deve esperar até que suas orações
sejam respondidas? Ao contrário do juiz, Deus não se sente
incomodado porque seu povo ora a ele, de dia e de noite. Quando
Deus ouve as orações, não significa que cedeu em sua determinação
de não respondê-las. Deus responde às orações no tempo apropriado
e de acordo com seu plano498. E, quando o tempo vem, a oração é
prontamente atendida Deus não demora, pois seu ouvido está
sintonizado com a voz de seus filhos. Em tempos de tristeza, o tempo
de espera parece alongar-se, mas, quando o filho de Deus recebe
resposta às suas orações, e percebe o plano de Deus, admite que
Deus praticou a justiça em seu favor, sem demora499.
O Fariseu
Ele foi ao templo de Jerusalém para orar. Deve ter sido no meio
da manhã, às 9 horas, ou no meio da tarde, às 15 horas — horas
determinadas para a oração. Dirigiu-se ao pátio externo, onde podia
ser visto e ouvido pelos homens, porque o pátio interno era acessível
apenas aos sacerdotes. Lá ele se postou e, olhando para os céus,
orava a respeito de si mesmo505. Sua oração estava centrado nele
mesmo, e pretendia que todos, ao seu redor, a ouvissem. Foi uma
oração curta: uma introdução, um elemento negativo e um elemento
positivo.
O Publicano
506
Lv 16.29-31; 23.27-32; Nm 29.7; Jr 36.6.
507
SB, 11:241-44; SB, IV:1, 77-114. J. Behm, TDNT, IV: 924-35.
508
SB, 11:244-46; Jeremias, Parables, p. 140. Deus disse ao fazendeiro:
“Certamente darás os dízimos de todo fruto das tuas sementes, que ano após ano
se recolher do campo” (Dt 14.22).
509
Berakoth 28b, Zeraim, The Babylonian Talmud, p. 172.
dos outros que ali vinham para orar.
Respostas
511
Consulte-se o estudo sobre o verbo hilaskomai, de F. Büchsel, TDNT III:316. The
Modern Language Bible (New Berkeley) fornece uma tradução literal do texto
grego: “Deus, tem misericórdia de mim, pecador” (Lc 18.13).
512
Manson, Sayings, p. 312.
513
Mànek, Frucht, p. 113; Linnemann, Parables, p. 61.
514
Jeremias, Parables, p. 144.
515
F. F. Bruce: “Justification in Non-Pauline Writings of the New Testament”, EQ 24
(1952): 68.
Jesus concluiu a parábola do fariseu e do publicano com as
mesmas palavras que usou para a parábola dos lugares à mesa: “Pois
todo o que se exalta será humilhado; e o que se humilha será
exaltado” (Lc 14.11).
A História
516
Mt 11.5,6; Lc 7.22.
517
Josephus, War 1:668; Antiquities 17:194.
518
Josephus, War 2:80; Antlqulties 17:300.
519
José levou Jesus e Maria para Nazaré e não para Belém, porque Arquelau reinava
(basileuei) na Judéia, Mi 2.22. Em Mc 6.14,22,26 Herodes Antiquas é chamado de
Arquelau deve ter passado tempo considerável em Roma,
porque foi envolvido em pelo menos dois litígios diante de César: um
contra seus parentes próximos, que queriam reclamar dele o trono, e
outro contra os cinqüenta deputados judeus que pleiteavam
autonomia. Também em Jerusalém os judeus se revoltaram, durante a
ausência de Arquelau. Por ocasião da festa de Pentecostes, em 4 a.C.,
eles tentaram obter a independência nacional.
A Parábola
522
Ex 22.25; Lv 25.35-37; Dt 23.19.20; Ne 5.7; SI 15.5; Pv 28.8; Ez 18.8, 13, 17;
22.12.
523
Derrett, Law in the New Testament, p. 23, mostra que a cobrança de altas
taxas de juros não era incomum no mundo antigo. Como exemplo, se refere às
taxas de empréstimos cobradas por Catão, o Antigo.
524
Alguns estudiosos têm conjecturado se a palavra cidades entrou no texto por um
engano da palavra aramaica para talentos. Em aramaico, as duas expressões são
bastante semelhantes: cidades é kerakin e talentos é kakerin. E. Nestle sugere
um possível erro de leitura do texto, em um artigo publicado no Theologische
Literaturzeltung, nº 22, 1985. M. Black, Aramaic Approach, p. 2, defende a
sugestão de Nestle, embora Dalman, Words of Jesus, p. 67, tenha destacado que
no paralelo de Mt 25.21,23, os servos não recebem talentos, mas são colocados
responsáveis por muitas coisas. Lucas usa a palavra cidades para expressar o
conceito geral de muitas coisas. Além disso, um rei, tomando posse de seu reino,
podia investir seus servos de autoridade sobre cidades, o que não poderia (Mt 25)
ser feito por um senhor.
525
Lucas usa o artigo definido masculino com heteros (= outro) no sentido de
“diferente”. Plummer, St. Luke, p. 441.
única mina, fez saber que ela não lhe pertencia, mas, sim, ao rei e
que ele a tinha guardado em segurança, embrulhada num lenço. Ele
não a gastara nem os ladrões a haviam roubado. O medo o impedira
de pô-la para render. Ele conhecia a natureza exigente do rei e podia
descrever minuciosamente suas características. Ele disse: “Tive medo
de ti, que és homem rigoroso; tiras o que não puseste e ceifas o que
não semeaste”. Sabia que seu senhor era agressivo, que não hesitava
em tomar o que não era seu. O servo tinha consciência de sua própria
timidez. Temia a dureza do rei. Esperava apenas que, devolvendo a
soma intacta, o rei o deixasse partir em paz.
526
Morris, Luke, p. 275.
527
G. Harder, TDNT, VI:547,554.
528
Pelo texto toma-se difícil definir se este versículo faz parte da parábola ou se foi
inserido por copistas a partir de anotações feitas à margem. No entanto, essas
testemunhas (por exemplo, D. W. 565 e algumas das versões latinas, siríacas e
cópticas) que omitem o versículo, podem tê-lo feito por causa do paralelo de Mt
25.28,29 (que não o apresenta) ou por razões estilísticas, a fim de providenciar uma
ligação mais estreita entre Lá 19.24 e 26. Com base em evidência externa e
interna, entretanto, parece melhor conservar o v.25, Metzger, Textual
Commentary, p. 169.
que os servos receberam do rei e aquele que ganharam negociando
não seria depositado no tesouro real? É fácil multiplicarmos as
perguntas, mas a maior parte delas se resolve se compreendemos o
simbolismo que está implícito na parábola.
Interpretação
529
Derrett, Law in the New Testament, p. 28.
530
A afirmação sobre quem fala em Lá 19.26, o rei ou Jesus, depende da
interpretação dada ao versículo anterior. Plummer, St. Luke, p. 443. Por causa da
expressão “eu vos declaro”, as palavras parecem refletir um comentário feito por
Jesus, Marshall, Luke, p. 708.
531
De modo semelhante a expressão ocorre em Mt 13.12; 25.29; Mc 4.25; e Lc 8.18.
532
Derrett, Law in the New Testament, p. 30.
Em certo sentido, a parábola das minas é uma parábola sobre o
reino, embora não seja apresentada pela frase familiar: “O reino dos
céus é semelhante...” A parábola, baseada em história verídica, foi
contada na ocasião quando o povo pensava que o reino de Deus
estava preste a vir. Da própria história recente, Jesus ensinou a seus
contemporâneos uma lição a respeito da vinda do reino.
Características Gerais
543
M. D. Goulder, “Characteristics of the Parables in the Several Gospels”, JTS 19
(1968): 52.
544
Morris, Luke, p. 40.
545
Goulder, “Characteristics of the Parables”, p. 55.
seus servos, em grupos, para recolher o lucro dos arrendatários.
Muitos são da mais alta classe social. Outros, como o mercador de
pérolas e o senhor que investiu seu servo de autoridade estão entre os
moderadamente ricos.
Características Literárias
546
B. Gerhardsson, “The Seven Parables in Matthew XIII”, NTS 19(1972-73): 18.
547
Marshall, Luke, p. 401.
548
G. E. Ladd, “The Sitz im Leben of the Parables of Matthew 13: the Soils, Studia
Evangelica, ed. F. L. Cross (Berlin: 1964), 2: 204.
parábolas por eles registradas. Enquanto o estilo de Marcos é bastante
simplista, o de Mateus, especialmente nas parábolas mais longas, é
marcado pelo uso de contrastes. De fato, as parábolas mais longas, no
Evangelho de Mateus, se apresentam em preto e branco549. Os
construtores edificam sobre a rocha ou na areia; o fazendeiro semeia
trigo, e seu inimigo semeia o joio, no mesmo campo; a rede apanha
peixes apropriados para o consumo e os que não o são; o rei se
mostra misericordioso, mas seu ministro das finanças, não; os
trabalhadores da vinha, contratados primeiro, murmuram, os
contrastados mais tarde se regozijam; dos dois filhos apenas um
obedece ao pai; o servo em quem o senhor confia pode ser fiel ou
mau; cinco virgens são prudentes e cinco são néscias; dois servos
põem seus talentos para render e um enterra o seu; no banquete
nupcial todos os convidados estão apropriadamente trajados, só um
não está. Mesmo nas parábolas mais curtas, o contraste fica evidente.
As crianças que brincam na praça são alegres ou tristes. Nas
parábolas de Mateus as pessoas são sábias ou tolas, boas ou más, fiéis
ou indolentes.
Características Teológicas
549
Goulder, “Characteristics of the Parables”:, p. 56, quer incluir a parábola do
semeador, mas pode fazê-lo apenas baseando-se em sua interpretação nos capítulos
seguinteS. A parábola em si não revela contraste.
marginalizados, os pobres, os perdidos e os desprezados550.
Lucas mostra que Jesus ama o pobre, mas adverte o rico para
que se arrependa e creia. A parábola do rico e Lázaro pretende
retratar a miséria da vida no além, do homem que na terra vivia no
luxo sem se importar com Deus e com o próximo. A parábola do rico
que queria armazenar seus bens materiais em celeiros maiores revela
a pobreza nua do homem que confia em suas riquezas e não em Deus.
A parábola do administrador infiel nos ensina a não dependermos de
riquezas, mas a distribuí-las para com elas fazer amigos e sermos
bem-vindos nas moradas eternas.
550
A. Wikenhauser, New Testament lntroduction (New York: Herder and Herder,
1965), p. 217.
contra outro rei ilustram o custo do discipulado. Seguir a Jesus
significa desistir, voluntariamente, de tudo; nada deve prevalecer ao
discipulado.
551
Rm 12.12; Ef 6.18; Fp 4.6; C1 4.2; l Ts 5.17.
552
P. T. O’Brien, “Prayer in Luke-Acts”, TB 24 (1973): 118.
553
Ridderbos, Coming of the Klngdom, p. 132.
À sua maneira metódica, Mateus agrupou um total de sete
parábolas no capítulo treze. Quatro delas podem ser consideradas dois
pares: a do grão de mostarda e a do fermento são similares; e a do
tesouro e a da pérola têm a mesma mensagem. No primeiro par, o
poder vitorioso da mensagem de salvação se expressa exteriormente
no crescimento da mostardeira e interiormente no crescimento da
massa levedada. No segundo par, ambas, a do fazendeiro que vendeu
tudo o que tinha para comprar o campo onde estava escondido o
tesouro e a do mercador que vendeu seus bens para comprar a pérola
valiosa, exemplificam a total submissão a Cristo e o valor infinito do
reino.
Destinatários e Resposta
Representação
Bibliografia Selecionada
Comentários
Estudos
Armstrong, E. A. the Gospel Parables, New York: Sheed & Ward, 1969.
Bishop, E. F. F. Jesus of Palestine, London: 1955.
Daniel Rops, H. Daily Life in the Time of Jesus. New York: Hawthorn,
1962.
Ferramentas
Epstein, 1., cd. lhe Babylonian Talmud. 18 vols. (Soncino ed.), London:
the Soncino Press, 1948-52.
Josephus, Flavius. lhe Loeb Classical Lihrary cdition. London and New
York: Heinemann and Putnam, 1966-76.
Kittel, G., and Friedrich, G., eds. Theological Dictionary of the New
Testament. Translated by G. W. Bromilcy, 9 vols. Grand Rapids:
Eerdmans, 1964-76.