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Mecanica Geral
Mecanica Geral
Kuhnen
Mecânica Geral
Florianópolis, 2009
Universidade Federal de Santa Catarina
Consórcio RediSul
Campus Universitário – Trindade
Caixa Postal 476 – CEP 88040-200 – Florianópolis – SC
http://www.ead.ufsc.br – licenciatura@ead.ufsc.br
Reitor Alvaro Toubes Prata
Vice-Reitor Carlos Alberto Justo da Silva
Secretário de Educação à Distância Cícero Barbosa
Instituições Consorciadas
UDESC
UEM
UFRGS
UFSC
UFSM
K96m
Kuhnen, Carlos A.
Mecânica Geral / Carlos A. Kuhnen - Florianópolis : UFSC/EAD/
CED/CFM, 2009.
275p.
ISBN 978-85-99379-46-2
1. Física. 2. Mecânica. I. Título.
CDU 531
Catalogação na fonte: Eleonora Milano Falcão Vieira
Sumário
Apresentação..................................................................... 7
1 Mecânica Newtoniana..................................................... 9
Introdução.........................................................................
........... 11
1.1 Espaço e
Tempo.....................................................................12
1.2 As Leis de
Newton.................................................................15
1.2.1 Primeira lei e referenciais inerciais.................................17
1.2.2 Segunda e terceira leis: massa e força...........................18
1.3 Movimento em uma Dimensão............................................ 22
1.3.1 Teorema do momento linear e da energia..................... 22
1.3.2 Força constante e força dependente do tempo.............. 25
1.3.3 Forças dependentes da posição: energia potencial........26
1.3.4 Forças dependentes da velocidade: velocidade limite.... 33
2 Oscilações.................................................................... 45
2.1 Oscilações lineares e não-lineares.......................................47
2.2 Oscilações
lineares............................................................... 50
2.2.1 Oscilador harmônico simples........................................ 50
2.2.2 Oscilador harmônico amortecido................................. 55
2.2.3 Energia do oscilador amortecido.................................. 62
2.2.4 Fator de qualidade . ......................................................
64
2.3 Oscilador harmônico forçado............................................... 65
2.3.1 Amplitude das oscilações e ressonância....................... 68
2.3.2 Potência e dissipação da energia mecânica...................72
2.4 Analogias entre oscilações mecânicas e elétricas...............75
2.5 Princípio de
superposição.....................................................77
2.6 Oscilações não-
lineares........................................................79
2.6.1 Sistema não-linear simétrico ....................................... 80
Mecânica Newtoniana
1
Mecânica Newtoniana
MECÂNICA NEWTONIANA
LEX I - Corpus omne perseverare in statu suo quiescendi vel movendi uniformiter in
directum, nisi quatenus a
viribus impressis cogitur statum illum mature.
LEX II - Mutationem motus proportionalem esse vi motrice impressae et fieri
secundum lineam rectam qua vis
illa imprimitur.
LEX III - Actioni contrariam semper et aequalem esse
reactionem: sive corporum duorum actiones in se mutuo
semper esse aequales et in partes contrarias dirigi.
Introdução
A evolução da vida em nosso planeta propiciou o surgimento do homem, ser dotado de
uma mente investigadora com uma grande curiosidade sobre fenômenos naturais. No
início, suas únicas fontes de informação eram os seus sentidos e, conseqüentemente,
ele estabeleceu
uma classificação para os fenômenos observados de acordo com os
sentidos empregados para percebê-los. O ato de ver foi relacionado à
Mecânica Newtoniana
11
luz e, como resultado, desenvolveu-se a óptica como uma ciência praticamente
independente relacionada à visão. Já a audição foi associada
ao som e, assim, desenvolveu-se a acústica como ciência correlata. Da
mesma maneira, a sensação física de calor deu surgimento à termodinâmica, que
permaneceu um longo tempo como um ramo autônomo da
física. Mas, seguramente, o mais comum dos fenômenos observados
diretamente é o movimento, e a ciência do movimento, isto é, a mecânica, foi
desenvolvida antes dos demais ramos da física. O movimento
dos corpos celestes, de corpos em queda, as ondas do oceano, o vôo
dos pássaros, as rajadas de vento, a corrida dos animais, são exemplos
simples de fenômenos de movimento. O movimento dos corpos e suas
causas foi objeto de investigação do homem desde os filósofos gregos na
antiguidade, e as idéias de Aristóteles (384-322 aC), sobre o movimento
dos corpos prevaleceram durante quase vinte séculos. O pensamento
Aristotélico foi demonstrado como errôneo somente após os trabalhos
e as idéias de Galileu Galilei (1564-1642) e Sir Isaac Newton (1642-1727),
que desenvolveram uma abordagem para estudar o movimento dos corpos que conhecemos
como a mecânica clássica. Esta abordagem mudou definitivamente a maneira com que
descrevemos o movimento dos
corpos. O desenvolvimento da mecânica foi um passo essencial para
nosso entendimento de uma extensa gama de fenômenos físicos, pois
praticamente todos os processos imagináveis têm como origem o movimento de certos
objetos. Em nosso sistema solar, a Terra e os planetas
movem-se em torno do Sol e o conjunto de estrelas que formam nossa
galáxia gira em torno de seu centro. Os elétrons, em movimento nos
átomos, dão origem à absorção e emissão de luz e seu movimento num
metal produz corrente elétrica. As moléculas em movimento em um gás
dão origem à pressão e, numa reação química, as colisões entre moléculas produzem
novas moléculas, apenas para citar alguns exemplos. A
mecânica clássica é devida, em grande parte, ao gênio de Isaac Newton,
que sintetizou a mecânica por meio do que chamamos de princípios de
Newton ou as leis de Newton da mecânica. E a ela nos referimos como
mecânica newtoniana. Mas a mecânica tal como atualmente está estruturada deve-se
também às contribuições iniciais de homens como
Arquimedes, Galileu, Descartes, Huygens, bem como às contribuições
posteriores de homens como Lagrange, Hamilton, Mach e Einstein. Neste curso,
desenvolvemos a dinâmica de uma partícula e de um sistema
de partículas com a mecânica newtoniana, explicitando suas aplicações
e limitações, sem abordar as formulações de Lagrange e Hamilton da
mecânica clássica nem a formulação relativística de Einstein.
12
mente, estes conceitos são vitais para o desenvolvimento da ciência
denominada Mecânica Clássica e foram definidos nas primeiras páginas da obra de Sir
Isaac Newton, Princípios Matemáticos de Filosofia
Natural (Philosophie naturalis principia mathematica), em 1687:
Mecânica Newtoniana
13
Sugiro que, antes de
começar o estudo desta
disciplina, você leia os
livros Física Básica A e
B para revisar alguns
conceitos importantes
da mecânica.
embre-se, um corpo pode ser considerado como partícula desde que possamos ignorar a
sua estrutura
interna ou seus movimentos internos. Exemplo é a Terra, que tem uma estrutura e
movimento de rotação em
torno de um eixo, mas que em seu movimento em torno
do Sol, pode ser tratada como uma partícula. Porém, devemos levar em conta que ela
é um corpo extenso para
entendermos o fenômeno das marés, que decorre de sua
interação gravitacional com a Lua. Algumas vezes, é
possível tratar um corpo complexo como uma partícula,
se todas as partes do corpo movimentam-se da mesma
forma, como um bloco atado a uma mola, ou um automóvel em movimento.
14
Neste curso, primeiro abordamos a dinâmica de uma partícula e, posteriormente,
aplicamos as leis de Newton a um sistema de partículas.
Mecânica Newtoniana
15
A emissão beta,
desintegração beta ou
decaimento beta é o
processo pelo qual um
núcleo atômico instável
pode se transformar em
outro núcleo mediante a
emissão de uma partícula
beta. A partícula beta
pode ser um elétron ( )
ou um pósitron
, que
é o anti-elétron, ou seja,
tem a mesma massa do
elétron e carga positiva.
17
práticas, um referencial fixo na superfície da Terra é aproximadamente inercial.
Isto decorre da baixa velocidade angular da Terra, mas,
como veremos no capítulo 6, em várias situações somos forçados a
levar em conta que um referencial fixo na Terra não é inercial, devido
a sua rotação. Uma escolha melhor é um referencial cuja origem coincida com o
centro da Terra, entretanto, neste caso também não temos
um referencial exatamente inercial, pois a Terra está acelerada em
seu movimento orbital em torno do Sol. Claro que um referencial cuja
origem se localiza no Sol é um excelente referencial inercial, porém
nossa estrela participa do movimento de rotação de nossa galáxia (a
via-láctea) executando um movimento de rotação em torno do centro da galáxia com um
período de aproximadamente 200 milhões de
anos. Na busca de um referencial inercial perfeito, podemos escolher
um cuja origem esteja no centro de nossa galáxia. Mas nosso objetivo não é
alcançado, pois a via-láctea faz parte de um grupo local de
galáxias, cuja vizinha mais próxima é Andrômeda, e que giram em
torno do centro de massa. Este grupo local de galáxias faz parte de
um grande agrupamento de galáxias (a Constelação de Virgem), cujo
centro dista 60 milhões de anos-luz da terra e que também tem um
movimento de rotação! Assim, não encontramos no Universo um referencial inercial
perfeito. Podemos acreditar que o melhor referencial
é aquele que tem como referência a distribuição de galáxias muito
distantes, substituindo a antiga proposta de Berkeley, que tomava as
estrelas “fixas” como referência. Mas mesmo galáxias muito distantes
têm movimento acelerado e, assim, a melhor definição a que podemos
chegar é, segundo Mach, que um referencial inercial é aquele em que
a matéria do Universo não é, em média, acelerada, isto é, sistemas de
coordenadas inerciais são os que se encontram em repouso, ou pelo
menos não sofrem aceleração, em relação à média do movimento da
matéria no Universo. Logicamente, nas aplicações práticas da mecânica de Newton,
não necessitamos resolver questões filosóficas como
a existência ou não de um referencial inercial perfeito, ou acerca da
existência ou não de um espaço absoluto. Mas fica claro que devemos
sempre escolher um referencial inercial adequado a cada situação,
como veremos durante este curso.
18
bre uma superfície rugosa, o atrito faz com que ele rapidamente atinja
o repouso, mas, se lubrificarmos as superfícies de contato, a distância
percorrida até atingir o repouso é muito maior. As interações de um
corpo com outros corpos implicam na variação de seu estado de movimento, o que
significa que o corpo adquire uma aceleração (ou desaceleração) e partimos daí para
quantificar a inércia, ou seja, através
da aceleração adquirida pelo corpo.
Considere dois corpos isolados e interagindo entre si, apenas por meio
das forças gravitacionais que um exerce sobre o outro. Experiências
cuidadosas mostram que as acelerações de dois corpos interagindo
são sempre opostas e que a razão das acelerações é inversamente
proporcional às suas massas inerciais. Isto é, a experiência mostra
que se a A e aB são as acelerações dos corpos A e B de massas inerciais
mA e mB , temos:
(1.1)
aA
m
=− B.
aB
mA
por
, e aqui temos uma questão, pois a densidade é, na realidade, a massa por unidade
de volume, e logo caímos em um círculo
vicioso. Assim, evitamos qualquer dificuldade com relação à definição de massa
usando um processo dinâmico para medi-la. Apesar de
esta definição operacional de massa ser apresentada em todos os livros de mecânica
são pouquíssimos os autores que se referem a
Mach como autor desta definição operacional.
A relação entre as acelerações, expressa na equação 1.1, mostra, pela experiência,
a validade da terceira lei de Newton na interação entre corpos
macroscópicos. Observe que podemos escrever a equação 1.1 como:
(1.2)
Mecânica Newtoniana
mAa A = −mB aB
19
A equação 1.2 quer dizer que, como resultado da interação entre os
dois corpos, o produto massa vezes aceleração é constante e explicita
a mudança no movimento. Este produto é definido como força e denota a interação
entre os corpos. Considerando o movimento no espaço
ao invés de numa linha e usando notação vetorial, definimos:
,
(1.3)
.
Sendo
a força que o
O que mostra que a definição operacional de massa (equação 1.1) é consistente com a
terceira lei de Newton (ação e reação iguais e opostas).
A equação 1.4 diz que as forças que resultam das interações entre os
corpos sempre existem aos pares, ou seja, não existe uma ação sem
haver uma reação. Assim, nunca vamos encontrar um corpo isolado
que esteja acelerado. Observe também que a terceira lei pode ser encarada de duas
formas: na forma fraca, em que a ação e reação são
iguais e opostas; na forma forte, na qual a ação e reação são iguais
e opostas estando elas orientadas segundo a reta suporte que une
os corpos. Esta distinção será útil no estudo de um sistema de partículas no
capítulo 5. A terceira lei, apesar de ser válida em situações
físicas que encontramos na mecânica, apresenta dificuldades quando
tratamos da eletrodinâmica de corpos em movimento. Para cargas
aceleradas em movimento muito rápido, a ação e a reação não estão necessariamente
segundo a reta suporte que une as cargas, e
desde que a terceira lei pressupõe que a interação entre os corpos
ocorra instantaneamente, ela naturalmente falha para interações que
ocorram com velocidade finita. Como exemplo, temos as interações
eletromagnéticas entre cargas aceleradas, cuja velocidade tem valor
c =299.792.458 m/s. Assim, você deve estar ciente tanto da aplicação
triunfal da mecânica de Newton em uma extensa gama de fenômenos
como também de suas limitações (por exemplo, não podemos descrever átomos e
moléculas usando a mecânica newtoniana), ficando
claro que, neste curso, iremos tratar de situações físicas em que a
mecânica newtoniana é plenamente aplicável.
20
A definição operacional de massa também é consistente com a segunda lei, pois como
vimos, quando a massa é constante, a força é o
produto da massa pela aceleração. Para se entender esta consistência,
basta lembrar que o momento linear é definido como o produto da
massa pelo vetor velocidade,
→
P = mv ,
(1.5)
(1.6)
F AB e F BA dadas na
ou,
(1.9)
PA + PB = PTotal = constante.
Em outras palavras, isto quer dizer que a terceira lei nos assegura que
o momento linear total de dois corpos isolados e interagindo apenas
entre si é constante no tempo. Perceba bem que neste caso nenhuma
outra força está atuando, mas apenas as forças que expressam suas
interações mútuas. Mais adiante neste curso, veremos como generalizar este
resultado para um sistema de partículas que interagem
mutuamente e estejam também sob a ação de forças externas.
Agora você deve estar percebendo que, para determinarmos o movimento futuro de uma
partícula, usamos as leis de Newton. Usamos
a primeira lei ao estabelecermos um referencial inercial adequado à
Mecânica Newtoniana
21
situação física, como o movimento de corpos na superfície
na Terra
→
ou movimento dos planetas, e determinamos a posição r (t ) usando a
segunda lei (equação 1.6 ou 1.7), isto é, resolvendo a equação diferencial de
segunda ordem:
(1.11)
Você deve lembrar que
a aceleração é a taxa
de variação segunda da
posição com o tempo.
••
m x = F ( x, x, t ) .
em que usamos a notação simplificada
••
2
x≡d x
dt 2
para a
F ( x, x, t ) é a resultan-
te. Por exemplo, para um corpo que cai verticalmente, ela vai ser a
soma da força peso mais a força de atrito devido à resistência do ar.
Antes de resolvermos a equação de movimento unidimensional para
algumas situações mais simples, vejamos os teoremas do momento linear e da energia
para o movimento em uma dimensão. Como vamos
analisar o movimento em uma dimensão, podemos omitir o caráter
vetorial das grandezas físicas, como força, aceleração, momento linear
e velocidade. Convencionamos que o movimento para a direita (ou para
cima) é positivo e para esquerda (ou para baixo) é negativo. Reescrevemos a equação
(1.6), a segunda lei de Newton, em uma dimensão:
(1.13)
∆P = P2 − P1 = ∫ Fdt .
(1.14)
t1
temos informação de como a força varia no tempo, mas podemos medir a variação no
momento linear e, portanto, determinar o valor do
impulso (o valor da integral). Pense no exemplo em que se chuta uma
bola em repouso e cuja massa é conhecida. Não conhecemos como
a força atuante varia com o tempo enquanto o pé colide com a bola,
Mecânica Newtoniana
23
mas podemos, de forma indireta, medir a velocidade que a mesma
adquire e assim saber o valor do impulso.
A partir do teorema do momento linear, podemos chegar a outro teorema relacionado
ao conceito de energia, a energia associada ao movimento, denominada de energia
cinética. Em uma dimensão, temos
, reescrevemos a equação 1.13 e, multiplicando-se ambos os
membros pela velocidade v da partícula, obtemos,
(1.15)
ou,
(1.16)
(1.19)
24
pela força
, e assim:
(1.20)
x=
(1.21)
F
= a,
m
, integramos a
logo,
(1.23)
v(t ) = v0 + a (t − t0 ) .
Sendo
(1.24)
(1.25)
1
x = x0 + v0 (t − t0 ) + a (t − t0 ) 2 .
2
Mecânica Newtoniana
25
miliares a você, como sendo as soluções para o movimento uniformemente acelerado.
Vale frisar que a equação de movimento é de segunda ordem e na sua integração temos
duas constantes arbitrárias,
que, como você pode ver, referem-se à velocidade e posição iniciais da
partícula, ou seja, x0 e v0 , no instante t0 , para o qual podemos atribuir
qualquer valor. Na maioria dos casos, tomamos
t0 = 0 . O caso da força
a = F (t ) m , não é
partícula, isto é,
(1.27)
••
m x = F (x) .
26
.
(1.30)
v , isto é,
x0 , onde a par-
(1.31)
(1.32)
dx
∫x v( x) = t∫ dt .
0
0
(1.33)
x0 , isto é,
(1.34)
Mecânica Newtoniana
27
Vamos representar a
diferença de potencial por
.
Cuidado para não
confundir com velocidade.
(1.36)
(1.37)
e resolvendo para
v , obtém-se,
(1.39)
A escolha dos sinais (mais ou menos) é arbitrária, mas convencionase o sinal mais (
+ ) para movimento no sentido positivo do eixo x e
o sinal menos (-) para o movimento no sentido negativo. Portanto,
eliminaremos o sinal ± em frente à raiz quadrada, pois o sentido da
velocidade deverá estar especificado em cada problema. A equação
1.39 especifica como a velocidade varia com a posição, v (x ) , à medida que
conhecemos a função energia potencial. A função
x(t ) é
(1.40)
28
condições iniciais e a energia potencial V (x ) , a equação 1.40 mostra
que o problema está formalmente resolvido. Dependendo da forma de
V(x)
E4
E3
E2
E1
E0
x5
x4 x2 x1 x0 x'1 x'2 x3 x6 x8
x8'
x6'
x7
Mecânica Newtoniana
29
E1 − V ( x) = 0 , o que significa velocidade nula nestes pontos. O que é
óbvio, pois para a partícula inverter sua velocidade, é necessário primeiro reduzi-
la a zero. Podemos explicar brevemente os movimentos
possíveis correspondentes à figura 1.1 como segue:
ponto:
(1.41)
30
zer que os valores atribuídos a x não devem se afastar muito de zero,
portanto estas expansões são válidas para
,
1
= 1 − x + x 2 − ...
1+ x
1
x 3
= 1 − + x 2 − ...
f ( x) =
2 8
1+ x
x x2
f ( x) = 1 + x = 1 + − + ...
2 8
x2
+ ...
f ( x) = e x = 1 + x +
2
x 2 x3
f ( x) = ln(1 + x) = x − + − ...
2
3
3
x
f ( x) = sen x = x − + ...
3
x2
f ( x) = cos x = 1 − + ...
2
f ( x) =
(1.42)
efetuamos
as
abreviações
31
tas situações usamos esta aproximação. Por exemplo, para o movimento de átomos em
uma molécula ou de átomos em uma rede cristalina, em torno da posição de
equilíbrio, podemos usar esta
aproximação parabólica para a energia potencial, o que significa tratar o problema
de forma mais simples, como se os átomos em uma
molécula ou numa rede cristalina estivessem ligados por molas, que
satisfazem a lei de Hooke.
Exemplo 1. Da discussão anterior, vê-se que é importante resolver,
como exemplo, o problema de uma partícula submetida à força restauradora linear,
como uma massa ligada a uma mola, ou num caso
mais geral, quando a partícula oscila em torno da posição de equilíbrio, como
discutido anteriormente, e submetida à força:
(1.44)
= 0 ), a energia
potencial é:
(1.45)
e, escolhendo
(1.46)
x(t ) seria buscar o resultado da integral acima em uma tabela de integrais, mas
neste caso podemos resolver diretamente a integral, a partir das substituições de
variáveis (apenas com o objetivo de se efetuar a integração de forma elementar),
(1.47)
(1.48)
m
1
1
( E − kx 2 ) −1/2 dx =
∫
2 x0
2
0
1
∫ dy =
y0
( y − y0 ) = t .
E assim,
(1.49)
y = 0t + y0 .
(1.50)
32
.
A coordenada
A=
amplitude
2E
e freqüência
k
E e da posição
x0 = A sen y0 . Devido ao fato de a partícula realizar oscilações
M ) é:
R e a coordenada
33
usar o sinal negativo ou positivo de maneira que a força seja sempre
oposta à velocidade, realizando trabalho negativo, isto é, convertendo
energia mecânica em outra forma de energia (como calor gerado por
atrito). A força de atrito que atua sobre um corpo que se desloca em
um meio viscoso como o ar ou água é um exemplo de força de arrasto
e a constante b é, por vezes, chamada de coeficiente de arrasto. As
forças de arrasto implicam em efeitos importantes em uma grande
variedade de objetos, desde gotas de chuva, bolas de beisebol, até (e
principalmente) em aeronaves e embarcações. A constante b depende essencialmente da
geometria do corpo, isto é, depende da área que
o corpo oferece à resistência do ar, e da densidade do meio e sua viscosidade. Com
relação à geometria do corpo, lembre-se da diferença
que existe na resistência que o ar oferece à queda de uma caneta e à
queda de uma folha de papel. Com relação à densidade do meio, lembre-se da
resistência que a água oferece ao deslocamento de corpos,
que é bem maior que aquela que o ar oferece. Destes fatos, fica claro
que é por meio de medidas que obtemos a constante b e o valor de n .
Para o movimento em fluidos, em geral, a força não tem uma forma
simples como indicado na equação 1.51, e em cada caso a experiência
é que possibilita obtermos informação sobre a força. Para corpos se
deslocando no ar, a experiência mostra que, em muitos casos, temos
uma boa aproximação para descrever a situação real, com n = 1 ou
(1.52)
Verifique as dimensões
de
e
.
34
Nos túneis de vento, são feitos testes com o objetivo de
otimizar as características aerodinâmicas de automóveis e aeronaves. Um túnel de
vento pode testar veículos
de diferentes pesos e formas e medir as forças de atrito
resultantes de um escoamento de ar. Para realizar esse
escoamento de ar, existe um ventilador de dimensões
apreciáveis (o diâmetro das pás pode ultrapassar os dez
metros), que consegue simular ventos equivalentes a velocidades superiores a 200
km/h. Alguns túneis têm dimensões que permitem testar aviões em tamanho real.
Túneis de vento onde a velocidade do vento é menor que
a velocidade do som são chamados subsônicos, e aqueles onde a velocidade é superior
a do som são chamados supersônicos. E os que têm velocidade cinco vezes
ou mais que a do som são chamados hipersônicos. Em
alguns túneis, são estipuladas temperaturas muito baixas, a fim de simular
condições de grande altitude. Em
outros, a temperatura é muito elevada, de maneira a simular as condições existentes
em um vôo de um míssil
no ar. Devido à complexidade da interação escoamentocorpo, a determinação teórica
das cargas aerodinâmicas
(forças e torques) é, muitas vezes, imprecisa. Apesar do
desenvolvimento da aerodinâmica computacional, certas configurações exigem o uso do
túnel de vento para a
medição das cargas em condições próximas àquelas em
que o corpo será utilizado.
v0 no
x quando se desliga o motor. Esse instante é
tomado como t0 = 0 e sua posição inicial sendo x0 = 0 . Uma outra siExemplo 2.
Considere a situação de um barco cuja velocidade é
sentido positivo do eixo
tuação, mas equivalente, é aquela em que colocamos a marcha no ponto neutro quando
um automóvel está a 80 km/h e deslocando-se em
uma longa estrada retilínea. Seu movimento subseqüente vai depender
da resistência do ar. Toda a energia cinética inicial do automóvel irá se
transformar em calor, devido principalmente ao atrito viscoso com o
ar, e ele diminui lentamente sua velocidade até atingir o repouso. Veja
que a taxa com que diminui a energia cinética é obtida usando-se a
equação 1.18, e isto só pode ser feito depois de resolvido o movimento,
isto é, conhecendo-se v (t ) . Vamos resolver a equação de movimento
Mecânica Newtoniana
35
admitindo que n = 1 , e usando a equação 1.51, temos:
(1.53)
(1.54)
.
(1.55)
Logo, apesar de levar um tempo infinito para atingir o repouso, a distância
percorrida x p é finita, isto é,
, para t → ∞ . Embora, de acordo com o resultado acima, equação 1.54, a velocidade
nunca
se torne efetivamente nula, para tempos suficientemente grandes a velocidade torna-
se tão pequena que o corpo estará praticamente parado.
Mas como explicamos o fato de que, na prática, o barco ou o automóvel deste exemplo
atingem o repouso num tempo finito? A resposta está na dependência da força com a
velocidade, isto é, para baixas
velocidades o valor de n na equação 1.51 é, presumivelmente, me-
36
F(v)
v
Figura 1.2 - Força resistiva F (v) versus v para alguns valores de n .
Podemos observar das curvas na figura 1.2 que, para n < 1 , em baixas
velocidades, temos forças mais elevadas do que forças com expoente
Mecânica Newtoniana
37
proporcionalidade b for pequena, podemos obter uma solução aproximada para o
movimento desde que os intervalos de tempo considerados sejam pequenos, isto é, os
valores que t pode assumir sejam
pequenos. Neste caso, podemos expandir as exponenciais nas equações 1.54 e 1.55,
usando a expansão para a função exponencial que é
fornecida na equação 1.42, obtendo assim:
(1.56)
(1.57)
(1.59)
38
Para intervalos de tempo pequenos, podemos aproximar a função exponencial, de modo
que:
(1.60)
vem
v(t)
v
b1
b2
L1
v L2
b3
v L3
b3 > b2 > b1
vL1 > vL2 > vL3
t
Figura 1.3 - Velocidade como função do tempo para corpos em queda com uma
força de arrasto proporcional à velocidade.
Mecânica Newtoniana
39
Tendo-se obtido a velocidade, na equação 1.59, integramos e obtemos
a posição como função do tempo, admitindo-se que em t0 = 0 , o cor-
x0 , isto é:
x0
x − x0 = −
(1.62)
bt
−
mg
m
e
(1
−
)dt ,
∫
b 0
Naturalmente, este resultado vale até o instante em que o corpo atinge o solo, isto
é, x = 0 . A partir da equação (1.62), você deve perceber
que o tempo para o corpo atingir o solo aumenta, mas não é possível
expressar o tempo de queda de forma elementar, como no caso em
que ignoramos o atrito com o ar, quando o valor para o tempo de
queda de um corpo é
2 x0
.
g
40
vL = mg / b . Lembre-se sempre que é por meio da experiência que
se determina qual o melhor modelo para uma força de arraste em
cada caso. Convém lembrar que o exemplo 3, resolvido acima, para
um corpo em queda, serve igualmente para analisar o movimento de
um veículo se deslocando em uma estrada retilínea sobre o qual o
motor exerce uma força constante Fm e onde a resistência do ar é
proporcional à velocidade (ou ao quadrado da velocidade).
Resumo
A Mecânica de Newton fundamenta-se em três leis básicas para o
movimento de corpos no espaço. A aplicação destas leis no estudo do
movimento dos corpos pressupõe a escolha de um sistema de referência inercial, isto
é, que não esteja acelerado. A escolha do referencial
inercial é sempre feita de acordo com o problema mecânico abordado.
Por exemplo, para o estudo do movimento de projéteis, a superfície da
Terra é um ótimo referencial inercial, mas para o estudo do movimento planetário,
devemos localizar a origem do sistema de coordenadas
no Sol. Em uma dimensão, a segunda lei do movimento é:
,
que é conhecida também como teorema do momento linear, cuja forma integral é:
,
Mecânica Newtoniana
41
A força fica expressa pela derivada desta função,
. Neste
caso, estas forças são ditas conservativas, pois a partir da forma integral do
teorema da energia, obtém-se a conservação da energia mecânica (ou energia total, E
) isto é,
.
Exercícios
1) Uma partícula de massa m está sujeita à ação de uma força
em que k e
F = −kx + kx 3 / a 2 ,
a são constantes.
a) Determine
1 2
ka , resolva o mo4
vimento pela conservação da energia e determine x(t ) , assumindo que em t = 0 a
partícula esteja na origem dirigindo-se
E=
para a direita.
c) Quanto tempo a partícula irá levar para atingir o ponto
x = a?
Respostas: a) V ( x) =
1 2 1
k
kx − k ( x 4 / a 2 ) ; b) x = atgh(
t) ;
2
4
2m
c) Infinito.
42
a e b constantes.
V ( x) = ax 2 − bx 3 ,
a) Faça um gráfico da energia potencial, especificando pontos de
máximo e mínimo, caso existam, e determine os movimentos
possíveis que a partícula pode realizar.
b) Considere que a partícula esteja na origem com velocidade
(para a direita ou para a esquerda), mostre que, se
v0
v0 < vc , onde
2
vc = (a / b) 2ma / 3 , a partícula permanecerá confinada à re3
atraída para a origem das coordenadas por uma força dada por:
F =−
mk 2 ,
x3
Respostas: a) v = − k
1 1
− 2 ; b) t = x02 / k .
2
x
x0
F = −bv 4 ,
onde b é o coeficiente de arrasto. Admita que em t = 0 , a posição da
partícula seja a origem das coordenadas e que ela esteja se deslocando da esquerda
para a direita com velocidade v0 .
a) Calcule a velocidade como função do tempo, escrevendo-a em
termos do tempo, que a partícula leva até parar.
b) Determine a posição como função do tempo e a distância percorrida até a
partícula parar.
Mecânica Newtoniana
43
Respostas: a) v = v0 (1 − t / t p ) 4 ; t p = 4mv01/ 4 / b ;
b) x = x p 1 − (1 − t / t p )5 ;
Distância percorrida x p = 4mv05/ 4 / 5b .
F = −mk (v3 + a 2 v) ,
onde k e a são constantes. Admita que a partícula tenha velocidade
v0 (para a direita) quando está na origem das coordenadas ( x0 = 0) .
a) Use a equação de movimento para determinar a velocidade
como função da posição.
b) Que distância a partícula percorre até parar? Qual é a distância
máxima que esta partícula pode percorrer?
v0 − atg (kax)
;
v
1 + 0 tg (kax)
a
1
1
1
b) x p =
arctg (v0 / a ) = arcsen
;
ka
ka
1 + a 2 / v02
Respostas. a) v =
v0 → ∞ ⇒ x p →
π
.
2ka
F0 ,
Respostas. a) vL =
44
F0 / b ; b) v = vL tgh(
b
vLt ) .
m
2
Oscilações
2
Oscilações
Oscilações
47
estes fenômenos têm em comum é a periodicidade, isto é, um padrão
de movimento, ou deslocamento, que se repete continuamente, sendo o período destas
oscilações facilmente identificado como o tempo
necessário para que ocorra um ciclo do movimento. É lógico que podemos encontrar
sistemas físicos em que o movimento de oscilação é
complexo, como no caso das marés, ou oscilações simples como num
pêndulo de relógio, ou no clássico sistema massa-mola. Neste capítulo,
iremos tratar das oscilações lineares e não-lineares, considerando o
movimento em uma dimensão.
Quando um sistema massa-mola está em equilíbrio e é levemente
deslocado de sua posição, o movimento oscilatório resultante é dito
harmônico, ou seja, as oscilações são lineares, e com isso queremos
dizer que a força restaurada é uma função linear do deslocamento.
Por outro lado, num caso mais geral, se o deslocamento for grande, a
força restauradora pode depender de potências mais altas do deslocamento e, assim,
as oscilações são ditas não lineares (ou anarmônicas). Para que isto fique mais
claro, vamos considerar o caso de uma
partícula cuja energia potencial V (x ) apresenta um mínimo em x0 ,
que está representada na figura 2.1.
V(x)
Parábola
E2
E1
E0
x1
x0
x2
48
x
A expansão em série de Taylor em torno do mínimo ( x0 ) até quarta
ordem fornece:
(2.1)
1 d 2V
dV
2
V ( x) = V ( x0 ) +
( x − x0 ) + 2 ( x − x0 ) +
2 dx x = x
dx x = x0
0
1 d 3V
1 d 4V
+ 3 ( x − x0 )3 + 4 ( x − x0 ) 4 + ....
6 dx x = x
24 dx x = x
0
0
Vamos considerar, neste momento, energias potenciais que sejam simétricas em torno
do mínimo, de modo que a derivada terceira no
mínimo da função seja nula e, assim, com as substituições,
d 2V
=k
2
dx x = x0
e localizando a origem em
1 d 4V
=ε,
6 dx 4 x = x
0
V ( x) =
1 2 1 4
kx + εx ,
2
4
x , ou
x . Observe
que ε é uma quantidade bem pequena comparada com k (que enseja, a equação 2.2 é uma
expansão até quarta ordem em
tendemos como a constante de mola), já que a curva verdadeira não é
muito diferente de uma parábola, para pequenos valores de x em tor-
F ( x) = − kx − εx3 .
Você pode perceber que, se os deslocamentos são grandes (o que significa uma
energia bem maior, como a energia E2 na figura 2.1), devemos
considerar mais termos na expansão em série de Taylor. Veja na figura
2.1 que a parábola só se ajusta bem à curva definida por V (x ) para
pontos em torno de
energia é cedida para a partícula, teremos oscilações que não são mais
lineares. Isto quer dizer que, neste caso, devemos usar a equação 2.3
para a força e a equação diferencial do movimento não é mais uma
3
equação linear em x , pois contém um termo com x . Veja que, quando
as energias envolvidas não são elevadas, ou seja, não são muito maiores que E0 ,
como a energia E1 , pode-se usar a aproximação parabólica
Oscilações
49
lineares e os sistemas físicos, cujos movimentos podemos descrever
com esta força, seguem o que é chamada de lei de Hooke. Citamos,
no início, vários sistemas físicos oscilantes e todos se enquadram na
categoria de oscilações lineares, desde que os deslocamentos considerados não se
afastem muito da posição de equilíbrio. Por exemplo, um
sólido, ao sofrer deformação, resiste com uma força linear, desde que a
deformação não ultrapasse o limite elástico do sólido.
Assim, deve ficar claro que um mesmo sistema físico pode executar
oscilações lineares ou não-lineares, dependendo de quanta energia
mecânica se fornece a este sistema. O exemplo mais simples é de
uma criança num balanço: se você aplicar um pequeno impulso (cede
pouca energia), o deslocamento máximo (a amplitude) das oscilações
será pequeno e as oscilações serão lineares; caso contrário, o empurrão irá
ocasionar oscilações não-lineares. Vamos estudar primeiro os
sistemas oscilantes lineares.
(2.4)
50
••
m x = −kx ,
m a
ou
••
x + 02 x = 0 ,
(2.5)
onde
an (t )
(2.6)
n é:
dnx
d n −1 x
dx
a
t
+
(
)
+ ... + a1 (t ) + a0 (t ) x = b(t ) ,
n −1
n
n −1
dt
dt
dt
a2 = 1 , a1 = 0 e a0 = 02 .
A
C
- Se
x1 (t )
51
É importante que
você faça uma revisão
das equações lineares
de segunda ordem
estudadas na disciplina
Cálculo III. No estudo
da mecânica, você
observará várias
aplicações das
equações diferenciais.
tiremos com detalhes este princípio. A maioria dos fenômenos físicos
é regida por equações lineares. Um exemplo: quando você calcula o
campo elétrico devido a duas cargas pontuais, você soma os campos de cada carga.
Por quê? Porque as equações que regem os campos eletromagnéticos são equações
diferenciais lineares. Um contra
exemplo: na explosão de uma granada, as ondas sonoras são regidas
por equações não-lineares e não vale o princípio da superposição de
ondas quando duas granadas explodem próximas.
(2.7)
v = x = 0 A cos( 0t + ) ,
••
52
(2.8)
A = C12 + C22 ,
(2.9)
tg =
(2.10)
C2
.
C1
x = e t ,
(2.11)
onde omitimos as constantes pois não são necessárias agora. Derivando a solução
2.11, você encontra:
•
••
x = e t ,
x = 2 e t ,
( 2 − 02 )e t = 0 .
t finito, e t ≠ 0 , logo:
λ = ±iω0 = ±i
k
.
m
x = Ae ± i ( t + ) .
53
Lembrando agora a fórmula de Euler para números complexos escritos na forma
trigonométrica,
e ± i = cos ± i sen ,
a solução
x(t ) é, então,
x = A cos( t + ) ± iA sen( t + ) ,
(2.16)
onde tanto a parte real como a imaginária satisfazem a equação diferencial para o
movimento, como você mesmo pode verificar. Portanto,
pode-se escolher como solução tanto uma como outra, pois entre as
funções seno e co-seno existe apenas uma diferença de fase de / 2. A
solução única para um determinado problema será obtida com as condições iniciais.
Isto é, devemos especificar a posição e a velocidade iniciais
para obtermos as constantes A e para uma dada situação.
Uma vez determinado o movimento do oscilador harmônico, podemos explicitar a
maneira como as energias, cinética e potencial, variam no tempo. Com a solução x =
A sen( 0t + ) , vem, para a energia cinética:
(2.17)
V=
1 2 1 2
1
kx = kA sen 2 ( 0t + ) = m02 A2 sen 2 ( 0t + ) ,
2
2
2
EC + V =
1
m02 A2 = E ,
2
54
aplicado um impulso que o faz adquirir uma velocidade inicial − v0
(em direção à origem). Veja que a energia mecânica cedida ao bloco
2
2
é E = mv0 / 2 + kx0 / 2 e vai permanecer constante, pois não estamos
levando em conta a existência de atrito.
Como temos a solução geral, devemos aplicá-la neste caso específico,
para determinarmos as constantes de integração A e da equação 2.7
(ou, caso se queira, as constantes C1 e C2 da equação 2.8). Escolhendo
a solução geral
de onde,
A solução
tg = −
(2.20)
sendo
0 x0
v2
2
e A = x0 + 02 .
v0
0
(2.21)
v
x = x0 cos 0t − 0 sen 0t .
0 x0
Faça isso usando a solução geral dada na equação 2.8 e determinando as constantes
C1 e C2 .
55
pouco. Assim, para que nossos resultados estejam mais próximos de
descrever uma situação real, devemos incluir forças de atrito. Naturalmente, uma
força constante não é de interesse analisar, pois a adição
de uma força constante não altera o movimento harmônico simples,
alterando apenas a posição de equilíbrio em torno da qual ocorrem
as oscilações. Para explicitarmos este fato, adicionamos uma força F0
constante na equação 2.4 e obtemos:
••
m x = −kx + F0 ,
ou,
••
x + 02 x =
(2.22)
Fazendo-se a substituição
F0
.
m
••
••
(2.23)
Fa = −bv (veja que agora a força tem uma dependência implícita com
m x = −kx − b x ,
ou,
••
x+
b •
x + 02 x = 0 .
m
56
= b / 2m , vem:
(2.24)
••
x + 2 x + 02 x = 0 .
2 + 2 + 02 = 0 .
1 = − + 2 − 02 ,
(2.27)
2 = − − 2 − 02 .
ω02 > γ 2;
ω02 < γ 2 ;
02 = 2 .
raízes
(2.29)
x = e − t (C1ei1t + C2 e − i1t ) ,
Oscilações
57
Lembre-se de que
γ é o coeficiente de
amortecimento γ = b / 2m
e que ω02 = k / m é
a freqüência angular
natural de oscilação do
sistema (ou freqüência
característica do sistema).
x = e − t ( B sen 1t + C cos 1t ) ,
(2.30)
x = Ae − t cos( 1t + ) ,
(2.31)
A = B 2 + C 2 e tg = −
C
.
B
tra claramente que o sistema oscila com uma freqüência angular natural
x0 e liberado ( v0 = 0 );
x
x0
b
0
t
Figura 2.2 Posição como função do tempo para o oscilador subamortecido.
58
Você deve ser capaz de usar a equação 2.30 para mostrar que a solução representada
pela curva a da figura 2.2 é:
x = x0 e − t (cos 1t +
sen1t ) ,
1
x=
v0 − t
e sen1t .
1
(2.32)
v0 .
0 = C1 + C2
→ C2 = −C1 ,
v0 = − (C1 + C2 ) + 2 (C1 − C2 ) .
Oscilações
59
C1 =
x=
v0
e a posição como função do tempo
2 2
v0
(e 2t − e − 2t )e − t .
2 2
Este resultado pode ser expresso em termos das funções seno hiperbólico e co-seno
hiperbólico, cujas definições são:
e − e−
senh =
,
2
e + e−
,
cosh =
2
x=
v0 − t
e senh2t .
2
t1 t2 t3
Figura 2.3 Posição como função do tempo para o oscilador superamortecido.
60
Este exemplo mostra claramente que podemos expressar a solução geral
do oscilador superamortecido em termos de funções hiperbólicas, isto é,
a solução dada pela equação 2.32 é completamente equivalente a:
A = C1 + C2 e B = C1 − C2 .
x = (C1 + C2 )e − t = B1e − t ,
(2.33)
C1 + C2 = B1 =constante. E temos apenas uma solução. Uma outra solução deve ser
achada para a equação de movimento (equação 2.24) onde agora = 0 . Podemos
provar que, neste
caso, a segunda solução é:
em que fizemos
x = te − t ,
•
••
x=
e − •t• − te − t e x = − e − t − e − t + 2te − t , e assim, substituin•
do x , x e x na equação 2.24, ficamos com:
pois
( 02 − 2 )te − t = 0 .
x = ( B1 + B2t )e − t .
Novamente, as constantes
Oscilações
61
x
x0
Figura 2.4 Posição como função do tempo para o oscilador criticamente amortecido
(a) e superamortecido (b).
62
E=
1 2 1 2
mv + kx ,
2
2
e calculamos a taxa de variação temporal,
dE
dv
dx
dv
= mv + kx = v(m + kx) .
dt
dt
dt
dt
Se você usar a equação de movimento, isto é,
dE
= −bv 2 ,
dt
(2.36)
dv
= −kx − bv , você terá:
dt
x = Ae − t cos( 1t + ) ,
•
v = x = − 1 Ae − t sen( 1t + ) + cos( 1t + ) .
1
Estas expressões podem ser usadas na equação 2.35 para obtermos E (t ) . Mas
considere o caso do oscilador levemente amortecido
E (t ) ≅
(2.37)
1 2 −2 t
A e m12sen 2 ( 1t + ) + k cos 2 ( 1t + ) .
2
E (t ) ≅
(2.38)
em que
E0 =
1 2 −2 t
kA e = E0 e −2 t ,
2
1 2
kA é a energia inicial do oscilador (em t = 0). Veja que
2
1 m
= , e assim, para pequenos amortecimentos → 0 , tem-se
2 b
que → ∞ . Se é grande, → 0 . Ou seja, a energia mecânica do
=
63
2.2.4 Fator de qualidade
É natural que se queira caracterizar os osciladores amortecidos pelo
grau de amortecimento. Uma maneira é pensarmos em quanta energia mecânica é
dissipada a cada ciclo de oscilações em relação à
energia armazenada no oscilador. Tanto no estudo de oscilações mecânicas como
elétricas, se define o fator de qualidade Q do oscilador,
ou o fator
Q = 2
(2.39)
E
E
=
.
P (2 / 1 ) P / 1
dE
= −2 E0 e −2 t = −2 E .
dt
Assim, a energia dissipada em um intervalo ∆t será:
∆E =
dE
∆t = 2 E ∆t .
dt
Q=
Para amortecimento fraco,
E
E
=
= 1.
∆E 2 E / 1 2
1 ≅ 0 e, portanto:
Q=
(2.40)
∆t = 1/ 1 , o que implica em
1 0
≅
.
2 2
64
2.3 Oscilador harmônico forçado
Observe que em um oscilador ideal, sem atrito, as oscilações nunca
param e seu fator de qualidade é infinito. Osciladores reais têm fatores
de qualidade finitos e a energia mecânica cedida inicialmente a estes
osciladores, em geral, é dissipada sob forma de calor. Ou seja, qualquer que seja o
sistema oscilante, suas oscilações eventualmente param devido aos atritos
existentes. Para se manter as oscilações, não é
difícil se perceber a necessidade da aplicação de uma força que forneça energia ao
sistema na mesma taxa com que a energia do oscilador
se dissipa no meio amortecedor em que ocorrem as oscilações. Tais
movimentos de um sistema, onde energia externa é fornecida, são
denominados de oscilações forçadas e o sistema é chamado de
oscilador forçado. Um exemplo mecânico é o sistema massa-mola
com um agente externo aplicando uma força F (t ) . Quando você está
numa rede balançando, com alguém a lhe empurrar, temos um caso
de oscilações forçadas. A analogia entre sistemas oscilantes elétricos
e mecânicos será feita mais adiante. Agora vamos lembrar que, para
resolvermos a equação de movimento, é necessário que seja conhecida a força externa
aplicada num oscilador.
Um caso importante de força externa é aquela que varia senoidalmente com o tempo,
isto é, uma força aplicada que oscila com uma
freqüência angular . Quer dizer, Fe = F0 cos( t + 0 ) , onde F0 é a
e a externa
to para o oscilador forçado,
••
m x + b x + kx = F0 cos( t + 0 ) .
(2.41)
Observe que (2.41) é uma equação diferencial linear de segunda ordem não-homogênea.
A solução da equação 2.41 é dada pela soma de
duas partes, de acordo com o seguinte teorema:
rencial não-homogênea.
Oscilações
65
x(t ) = x p (t ) + xh (t ) ,
(2.42)
onde a solução
m xh + b xh + kxh = 0 .
(2.43)
x p = A cos( t − ) .
(2.44)
(2.45)
F0
,
A
(2.46)
tg =
(2.47)
,
b / m
2
= 2
,
2
k − m
0 − 2
2
sen =
(2.48)
2
0
( − 2 ) 2 + 4 2 2
cos =
(2.49)
02 − 2
( 02 − 2 ) 2 + 4 2 2
A=
(2.50)
F0 / m
( 02 − 2 ) 2 + 4 2 2
x = xh + x p ,
(2.51)
onde
x = Ah e − t cos( 1t + h ) +
F0 / m
( 02 − 2 ) 2 + 4 2 2
cos( t − ) ,
2
2
equação
2.47, isto é, = arctg 2
.
é= dado
arctg pela
2
2
0 − 2
0 −
Ah
serem dadas em cada situação. A parte homogênea da solução (equação 2.51) oscila
com uma freqüência natural 1 , mas para tempos
Oscilações
67
t >> 1/ , ela é desprezível, e por isso chamada de, como vimos, solução
transiente. Isto significa que a solução x (t ) dada pela equação
2.51 será independente das condições iniciais, exceto no início do movimento,
quando a solução transiente apresenta alguma contribuição apreciável para x (t ) .
Logo, para tempos posteriores ( t >> 1/ ),
as oscilações do sistema são governadas pela solução particular, que
é denominada solução estacionária, pois a amplitude do movimento
se mantém constante. Quando dizemos que o oscilador está num regime estacionário,
significa que um agente externo está fornecendo
energia, por meio da aplicação de uma força, a uma taxa suficiente
para manter a amplitude das oscilações constantes, compensando as
perdas por atrito.
F0 / m
x=
2
0
( − 2 ) 2 + 4 2 2
cos( t − ) ,
A( ) =
(2.52)
F0 / m
2
0
( − 2 ) 2 + 4 2 2
( ) = arctg
(2.53)
2
.
02 − 2
2y
2y
F /k
Figura 2.5 Amplitude versus freqüência para dois valores de
68
.
Como você pode observar na figura 2.5, a amplitude exibe um máximo
para uma freqüência r , que obtemos a partir de ( dA / d ) = = 0 ,
r
r = ( 02 − 2 2 )1/2 .
r , a amplitude das osci= A( r ) , e substituindo r dada na
Amax
Amax =
F0 / m
2 02 − 2
= r , dizemos que
= r é a fre-
Amax =
F0
,
2 m0
Oscilações
69
ressonância, isto é, para freqüências ≅ 0 ; neste caso
também podemos fazer a seguinte aproximação:
≅ 0 , e
02 − 2 = ( + 0 )( − 0 ) ,
02 − 2 ≅ 2 0 ( − 0 ) .
Substituindo esta aproximação na equação 2.52, e usando a equação
2.55 para Amax , vem para a amplitude,
A( ) =
(2.57)
Amax
( 0 − ) 2 + 2
0 − = , ou de forma equiva1
2
2
lente, se = 0 ± , então A = Amax , significando que é uma
2
2
medida da largura da curva A( ) , sendo que a curva A ( ) é deA equação (2.57)
diz que quando
∆ , é:
∆ = 2 ≅
(2.58)
0
,
Q
deixando claro, que para osciladores com fator de qualidade alto, a curva de
ressonância é bem estreita, sendo que no limite ideal Q → ∞ ,
Q=
0
freqüência de ressonância
=
,
∆ largura da curva de ressonância
70
da função arco tangente, fazendo
= arctg
2
+ .
02 − 2
.
→ 0 , a fase
= 0 , e no caso extremo
em que = 0 , a fase muda abruptamente de 0 a em = 0 . Na
A (ω)
φ(ω)
γ=0
γ=0
F /k
ω0
ω0
Figura 2.7a Amplitude versus freqüência para o oscilador forçado sem amortecimento.
Oscilações
71
A (ω)
φ(ω)
γ=0
γ=0
F /k
ω0
ω0
Figura 2.7b Fase versus freqüência para o oscilador forçado sem amortecimento.
A( → 0) ≈
F0 / m F0
=
.
02
k
A( >> 0 ) ≅
F0
,
m2
e agora a massa responde essencialmente como um corpo livre submetido a uma força
que o empurra e puxa muito rapidamente, sendo
que o efeito da mola é causar um atraso entre força e deslocamento
de 1800.
2.3.2 Potência e dissipação da energia mecânica
Em muitos casos envolvendo sistemas oscilantes, a quantidade de interesse é a
energia, e não a amplitude. Neste caso, você abordará o
movimento no estado estacionário, desta maneira as soluções para a
posição e velocidade do oscilador forçado são:
(2.61)
72
x = A cos( t − ) ,
•
(2.62)
v = x = − Asen( t − ) ,
onde
E=
1 2 1 2 1 2
mv + kx = A [m2sen 2 ( t − ) + k cos 2 ( t − )] .
2
2
2
E =
(2.63)
1
mA2 ( 2 + 02 ) ,
4
2 + 02
1 F02
E =
.
4 m ( 2 − 02 ) 2 + 4 2 2
E ≅
(2.65)
F02
1
.
8m ( − 0 ) 2 + 2
m x + b x + kx = F0 cos( t + 0 ) .
Multiplicando-se ambos os membros da equação acima pela velocidade, vem:
• ••
• •
m x x + b x x + k x x = F0 x cos( t + 0 ) .
Equação que podemos reescrever como:
•2
•2
•
d m x m02 x 2
+
+ b x = [ F0 cos( t + 0 )] x ,
dt 2
2
Oscilações
73
ou,
(2.66)
Em palavras, a equação 2.66 nos diz que: A taxa de variação da energia mecânica é
igual à taxa com que ela está sendo dissipada por
atrito mais a taxa com que a energia está sendo fornecida pela força
externa aplicada (potência mecânica fornecida pela força). Logicamente, a energia
mecânica permanece constante se a potência mecânica
fornecida compensar as perdas por atrito. Como a velocidade
•
é x = − Asen( t − ) (equação 2.62), a taxa com que o trabalho é
realizado sobre o oscilador pela força aplicada é:
•
(2.67)
0 = 0 . O primeiro
termo no lado direito é positivo, o que significa que a força cede energia ao
sistema oscilante, enquanto que o segundo termo é negativo,
indicando que agora o sistema oscilante está cedendo energia. Logo,
o agente externo (ou mecanismo) que exerce a força está alternadamente fornecendo e
recebendo energia. Entretanto, na média, a força
externa cede mais energia do que recebe, pois a média de
cos 2 t é
1/ 2 , enquanto que a média de cos tsent é zero. Isto quer dizer que
P = x F (t ) =
(2.68)
1
AF0sen .
2
(2.69)
Assim,
F02
2
.
m ( 02 − 2 ) 2 + 4 2 2
74
P
2γ
2γ
Figura 2.8 - Potência média transferida para oscilador como função da freqüência da
força aplicada.
Usando
, e com
onde
L q+ R q+
(2.70)
•
••
(t ) ,
q
= (t ) ,
C
75
os três sistemas mecânicos discutidos (oscilador livre, oscilador amortecido e
oscilador forçado) e os circuitos elétricos correspondentes.
c
LQ + 1 Q = 0
C
mx + kx = 0
c
LQ + RQ + 1 Q = 0
C
mx + bx + kx = 0
mx + bx + kx = F (t)
R
c
LQ + RQ + 1 Q = ε (t)
C
Veja que toda a discussão sobre osciladores feita até aqui e as soluções
encontradas aplicam-se para os circuitos elétricos mostrados na
figura 2.9, desde que utilizemos a correspondência entre as quantidades elétricas e
mecânicas como mostradas na tabela 2.1.
MECÂNICA
ELÉTRICA
Deslocamento
x
Carga
Velocidade
Corrente
Massa
Indutância
Constante Elástica
1/ C
Capacitância
Amortecimento
Resistência
Força Aplicada
Força Eletromotriz
Tabela 2.1 Analogia entre quantidades mecânicas e elétricas.
76
Da tabela 2.1, observe que a freqüência natural de oscilações de um
circuito LC é 0 = 1/ LC , o que também não é novidade para você.
Para circuitos elétricos oscilantes, também definimos o fator de qualidade e pode
ser provado que, para um circuito RLC série, o fator de
qualidade é
força aplicada
xn (t ) ,
m x n + b xn + kxn = Fn (t ) ,
onde
F (t ) = ∑ Fn (t ) .
n
Então, a função
x(t ) = ∑ xn (t ) ,
n
satisfaz a equação
••
m x + b x + kx = F (t ) .
Para demonstrar este teorema, basta substituir
x(t ) no primeiro
77
••
••
m x + b x + kx = m∑ x n + b∑ x + k ∑ xn
n
•
••
= ∑ m xn + b xn + kxn = ∑ Fn (t )
n
n
= F (t ) .
de forças
senoidalmente, ou seja,
F (t ) = ∑ F0 n cos( nt + n )
n
Onde
x=∑
onde
F0 n
1
cos( nt + n − n ) ,
2
2
m [( n − 0 ) + 4 2 2n ]1/2
n = arctg
2 n
.
02 − n2
78
físicos em que as equações que os regem não são lineares e, naturalmente, neste
caso não é aplicável o princípio de superposição.
onde
V ( x) =
d 2V
2 =k
dx x =0
1 2 1 4
kx + x ,
2
4
1 d 4V
= .
6 dx 4 x =0
sendo
V ( x) =
1 2 1 3
kx + x ,
2
3
1 d 3V
= 3 ,
2 dx x =0
na equação 2.71), de
modo que a parábola se ajusta bem à curva da energia potencial verdadeira para
pequenos deslocamentos. Assim, quando a energia do
oscilador é grande, podemos levar em conta os efeitos não-lineares
mediante as expansões para a energia potencial fornecidas nas equações 2.71 e 2.72,
para sistemas simétricos e assimétricos.
Oscilações
79
2.6.1 Sistema não-linear simétrico
Como um exemplo de oscilações não lineares, em que o sistema é simétrico, suponha
uma massa m suspensa entre duas molas idênticas
como se mostra na figura 2.10 As molas têm constantes elásticas iguais
a k0 e estão fixas nos pontos A e B. Quando o sistema está em equilíbrio, a tensão
em cada mola é
B
l0
T0
x
T0
l0
A
(a)
m
T
(b)
(2.73)
(2.74)
(2.75)
m x = −2[T0 + k0 (l − l0 )]sen .
l = l02 + x 2 = l0 1 +
80
x2
x
x
x
e sen = =
=
2
l0
l
l02 + x 2 l0
1
1+
x2
l02
Logo, substituindo l e sen na equação 2.75, vem:
(2.76)
••
x
x2
1
m x = −2 T0 + k0l0 1 + 2 − 1
.
2
l0
l
x
0
1+ 2
l0
Não se assuste com esta relação, mas procure analisar com calma.
Veja que o segundo membro desta equação é a força F ( x ) que é
exercida sobre a massa m , sendo, portanto, uma função bastante
complicada da posição, o mesmo ocorrendo com a função energia potencial (que é
menos a integral da força). Você deve estar percebendo
que podemos procurar alguma solução analítica somente quando os
deslocamentos considerados são pequenos. Nestes casos, x / l0 << 1 e
usamos as expansões em série de Taylor,
x2
1 + 2
l0
±1/ 2
1 x2
= 1 ± 2 + ... .
2 l0
mx =−
(2.77)
k T
2T0
x − 20 − 30 x 3 ,
l0
l0 l0
••
(2.78)
m x = −kx − x 3 .
ção energia potencial é dada pela equação 2.71 (ou equação 2.2). É
importante lembrar que a equação 2.78 é uma equação diferencial de
segunda ordem não-linear, pois contém termos com potências de x
3
81
permite concluir que numa primeira aproximação o movimento do
sistema pode ser tomado como aproximadamente linear. Isto permite
adotar o método de aproximações sucessivas, o que significa dizer
que começamos por uma solução de ordem zero, que é a solução para
oscilações lineares (quando = 0 ). Assim, substituímos no segundo
(2.79)
3
1
cos3 t = cos t + cos 3t e re4
4
••
3
1
m x1 = − kA + A3 cos t − A3 cos 3t .
4
4
(2.81)
x1 =
1
3 3
A3
kA
+
A
cos
t
+
cos 3t ,
m2
4
36m2
A cos t ≅
1
3
(kA + A3 ) cos t .
2
m
4
Logo,
(2.82)
2 =
k 3 2
3
+
A = 02 +
A2 .
m 4m
4m
e o período
( T = 2 / ) dependem da amplitude. Veja que a freqüência pode aumentar ou
diminuir em relação 0 dependendo de o sistema apresentar > 0 (mola dura, como
vimos) ou < 0 (mola macia). PodeObserve que agora a freqüência das oscilações
82
ε<0
ε< 0
0
c
ωt
ωt
x
ε<0
ε< 0
b
0
c
ωt
ωt
Oscilações
83
relaciona a freqüência com a amplitude, sendo que para
B , obtém-
m x = −kx − x 3 + F0 cos t ,
(2.83)
x1 =
A3
1
3 3 F0
+
−
+
kA
A
t
cos
cos 3t .
m 2
m
4
36m2
Errático: Comportamento
aleatório.
84
ção de equilíbrio. O movimento caótico pode ocorrer no movimento de
convecção de fluidos aquecidos, em corpos do sistema solar, em circuitos
eletrônicos e mesmo em certas reações químicas, para citar uns
poucos exemplos. Oscilações caóticas em tais sistemas se manifestam
como um comportamento não repetitivo. As oscilações são limitadas,
mas em cada ciclo, a oscilação tem comportamento único, não sendo
igual à oscilação anterior e igual à oscilação no ciclo seguinte. O comportamento
caótico pode exibir todas as nuances de um movimento
puramente aleatório. Mas não se confunda. Isto não significa dizer que
os movimentos caóticos de sistemas clássicos não obedecem a leis determinísticas da
natureza. Elas são satisfeitas por estes sistemas. Dadas as condições iniciais, e
as forças a que são submetidos, estes sistemas evoluem no tempo de maneira
determinista, já que são regidos
pelas leis clássicas do movimento. Devido à não-linearidade e a forte
dependência com as condições iniciais, é extremamente difícil se obter
com alto grau de precisão o movimento subseqüente do sistema. Nas
situações reais, em que nos deparamos com sistemas não-lineares, só
podemos resolver de forma adequada o problema por meio da solução
numérica das equações diferenciais. Atualmente, isto é perfeitamente possível
graças ao gigantesco crescimento tecnológico das últimas
décadas, que permitiu a construção de computadores com altíssima
capacidade de processamento. Na verdade, problemas físicos tratados
de forma realista só podem ser resolvidos por cálculo numérico, pois
nestes casos, em geral, nunca podemos encontrar uma solução que
possa ser apresentada de forma analítica.
É importante ressaltar que o estudo detalhado de sistemas governados por equações
não-lineares, na década de 1960, revelou que o
comportamento caótico destes sistemas contém uma certa ordem e
regularidade intrínsecas e o seu estudo formou o núcleo de um novo
ramo da ciência, o caos. Aplicações das leis do caos têm sido encontradas tanto em
sistemas físicos quanto em sistemas biológicos. Mesmo áreas de ciências sociais,
como economia e dinâmica populacional, apresentam comportamento caótico.
Resumo
As oscilações de inúmeros sistemas físicos podem ser adequadamente descritas por
meio de uma expansão em série de Taylor da função energia potencial, em torno da
posição de equilíbrio. Para pequenos deslocamentos, podemos utilizar a aproximação
parabólica
Oscilações
85
A aplicação da mecânica
newtoniana combinada
com a teoria do caos
mostrou que a órbita
de Plutão é caótica em
uma escala de tempo
de dezenas de milhões
de anos. Com a teoria
do caos também se
podem explicar duas
características do cinturão
de asteróides localizado
entre as órbitas de Marte
e Júpiter. Primeiro, o fato
de muitos asteróides
desviarem-se de órbitas
aparentemente estáveis,
sendo que alguns deles
tornam-se meteoritos que
caem na terra. Segundo,
a existência, dentro do
cinturão de asteróides,
de espaços vazios onde
o número de asteróides
em órbita é pequeno ou
nulo. Somente nos últimos
anos, com o advento de
computadores de grande
porte, foi possível se
desenvolver os cálculos
detalhados da dinâmica
de tais sistemas.
••
x+
onde
k
x=0
m
ou,
••
x + 02 x = 0 ,
x + 2 x + 02 x = 0 ,
onde
sendo
ou
com
= 0 , que tem
x = ( B1 + B2t )e − t ,
onde também temos um decrescimento exponencial da posição,
mas de forma mais acentuada do que no caso do oscilador superamortecido.
86
Para que um determinado sistema físico permaneça executando oscilações, devemos
ceder continuamente energia a ele de modo a compensar as perdas por atrito. Isto
significa aplicarmos uma força sobre
o oscilador que, em geral, pode depender do tempo, neste caso temos
o oscilador forçado, que é descrito pela equação de movimento,
••
m x + b x + kx = F0 cos( t + 0 ) .
Esta é uma equação diferencial linear de segunda ordem não-homogênea, cuja solução
geral é obtida mediante a soma da solução da
homogênea com uma solução particular. Considerando o oscilador
subamortecido, a solução geral é:
x = Ah e − t cos( 1t + h ) +
F0 / m
2
0
( − 2 ) 2 + 4 2 2
cos( t − + 0 ) .
V ( x) =
1 2 1 4
kx + x ,
2
4
V ( x) =
1 2 1 3
kx + l x .
2
3
ou assimétricas,
m . Mostre que
87
em paralelo e k1k2 /( k1 + k2 ) m se as molas estão em série. Quais são
os circuitos elétricos equivalentes a estas duas situações?
2) Uma massa
m presa
a uma mola de constante elástica k e com
•
um amortecimento −b x é afastada da posição de equilíbrio de um
valor x0 e, por meio de um impulso, transfere-se a essa massa uma
velocidade de módulo v0 em direção à origem. Considere que este sis2
2
tema massa-mola seja subamortecido ( 0 > ) e calcule a posição
como função do tempo.
v
− 0 )sen1t ] .
1 1 x0
O vagão comprime a mola. Considere a posição em que o vagão atinge a mola como a
origem das coordenadas. a) Considerando que a
força de atrito seja proporcional à velocidade, determine a constante
de amortecimento bc para que o amortecimento seja crítico. b) Deter-
Respostas:
a) = 0 = k / m = 1, 265 Hz; bc = 2m = 2,53 x104 kg/s .
b) x = −v0te
− 0t
v0 −
e
0
metros .
20t
senh0t ; xm = −
v0 −
e
0
2arctgh (1/ 2 )
; xm = 0,90
d) Com b = bc / 2 → = 0 / 2 → 1 = 0 / 2 e, assim,
2v0 − 0t / 2
0 t
v0 − 4
; xm = −
x=−
e
sen
e ; xm = 1, 44
0
0
2
88
4)
x0 − v0
senh2t )e − t
2
Resposta: x =
F0
[ 0sent − sen0t ] .
m0 ( 02 − 2 )
Respostas:
a) x =
a−
F0
(
sen1t − cos 1t )e − t + e − at ;
2
m(a − 2 a + 0 ) 1
2
1 = 02 − 2
b) x =
F0 e − at
[1 − cos 1t ] .
m( 02 − a 2 )
F0 2 − at
t e .
2m
89
3
Introdução
Neste capítulo você aplicará a mecânica newtoniana para o movimento
de corpos no plano e em três dimensões. Assim, é necessário que você
tenha conhecimento prévio de álgebra vetorial. Vamos admitir que você
já saiba adição e subtração de vetores, produto escalar e produto vetorial,
bem como diferenciação e integração de vetores. Abordaremos o moviMovimento em Duas
e Três Dimensões
93
mento no plano e no espaço tridimensional em diferentes sistemas de
coordenadas, e em seguida trataremos de elementos de cálculo vetorial
que são necessários ao estudo da dinâmica em três dimensões.
Para se descrever a posição e o movimento de uma partícula no espaço,
é necessário que se adote um sistema de coordenadas. Até este ponto
tratamos do movimento unidimensional de uma partícula, assim o sistema de
coordenadas retangulares (ou Cartesiano) que adotamos era
apropriado, já que neste caso temos apenas uma coordenada. Entretanto, na descrição
do movimento em duas e três dimensões nem sempre
é conveniente ou possível se adotar coordenadas retangulares. Como
você verá adiante, em muitas situações a descrição do movimento se
faz mais adequadamente adotando-se outros sistemas de coordenadas,
como coordenadas polares, coordenadas cilíndricas e esféricas. Mas antes de
resolvermos a equação de movimento em diferentes sistemas de
coordenadas, é importante que saibamos descrever o movimento em
diferentes sistemas de coordenadas do ponto de vista da cinemática. Inicialmente
trataremos da cinemática, a parte da mecânica que estuda os
movimentos possíveis de uma partícula, mas onde não se leva em conta
as leis da dinâmica que determinam estes movimentos.
(3.1)
x = x( y ) .
P (x,y)
y
^j
θ
^i
94
Pode-se também especificar a curva que a partícula descreve (enquanto se movimenta
no plano) fornecendo uma relação entre suas
coordenadas x e y ,
f ( x, y ) = 0 .
(3.2)
x2 + y 2 = a2 .
(3.3)
(3.4)
y = y(s) ,
ou
r = r (s) .
(3.5)
y = asen , x = acos ,
é o ângulo formado pelo eixo dos x e o raio a até o ponto
( x, y ) . Ou, em termos da distância s medida ao longo da circunferência ( s = a)
,
onde
x = a cos
s
s
e y = asen .
a
a
x = a cos
vt
vt
e y = asen
.
a
a
Isto mostra que, em geral, quando uma partícula move-se num plano,
podemos especificar seu deslocamento fornecendo s (t ) ou se fornecendo diretamente
(3.6)
x(t ) e y (t ) ou r (t ) , isto é,
r (t ) = x(t )iˆ + y (t ) ˆj .
95
Sendo iˆ e ˆj os vetores unitários na direção x e y , respectivamente,
indicados na figura 3.1. A partir da posição como função do tempo, equação 3.6,
obtém-se a velocidade e aceleração da partícula em coordenadas retangulares,
(3.7)
dr ˆ dx ˆ dy ˆ
v=
=i
+j
= ivx + ˆjv y ,
dt
dt
dt
(3.8)
dv d 2 r ˆ d 2 x ˆ d 2 y ˆ
a=
=
= i 2 + j 2 = iax + ˆja y .
dt dt 2
dt
dt
^i
P (x,θ)
y
^j
θ
^i
x = r cos , y = rsen ,
y
.
x
(3.10)
r = x 2 + y 2 , = tg −1
Os vetores unitários
(3.11)
rˆ = iˆcos + ˆjsen ,
(3.12)
ˆ = −iˆsen + ˆjcos .
96
Y
^j
^
θ
r^
^jcosθ
-i^
^jsenθ
θ
-i^ senθ
^icosθ
^i
rˆ
ˆ .
são:
drˆ
= −iˆsen + ˆjcos = ˆ ,
d
d ˆ
(3.14)
= −iˆcos − ˆjsen = −rˆ .
d
ˆ
Os resultados drˆ
= ˆ e d = − rˆ podem também ser obtidos
d
d
pela análise da figura 3.4, que mostra os vetores unitários rˆ e ˆ em
dois ângulos particulares e + d , e seus incrementos drˆ e dˆ
(3.13)
(lembre-se de que
rˆ = 1 e ˆ = 1 ).
^ +d )
r(
θ θ
dθ
dθ
dr
^ )
r(
θ
θ (θ)
r^
θ (θ+ d θ)
dθ
rˆ
ˆ .
As derivadas expressas nas equações 3.13 e 3.14 são muito úteis, como
veremos agora, no cálculo das componentes do vetor velocidade e vetor aceleração em
coordenadas polares. Primeiro, observe que em coordenadas polares o vetor posição
se expressa simplesmente como:
(3.15)
r = rrˆ() .
r (t ) (equação 3.15). O vetor velocidade será
drˆ dr
drˆ d
dr dr
v=
= rˆ + r
= rˆ + r
,
dt dt
dt dt
d dt
97
e, desde que
drˆ
d
= ˆ , vem:
(3.16a)
•
•
v = r rˆ + r ˆ ,
(3.16b)
v = vr rˆ + v ˆ ,
•
vr
vθ
r^
m
r
θ
•
••
• •
••
a = ( r − r 2 )rˆ + (r + 2 r )ˆ ,
a = ar rˆ + a ˆ ,
(3.17b)
98
••
ar = ( r − r 2 )
••
• •
a = r + 2 r
•
2
••
do vetor aceleração é
•
2
• •
2 r é denomina-
r = r ( x, y, z ) em rela-
dr ˆ dx ˆ dy ˆ dz
v=
=i
+ j +k ,
dt
dt
dt
dt
ˆ
ˆ
ˆ
v = iv
x + jv y + kvz ,
(3.19b)
sendo
(3.20b)
dv ˆ dvx ˆ dv y ˆ dvz
,
a=
=i
+j
+k
dt
dt
dt
dt
a = ax iˆ + a y ˆj + az kˆ .
Você está verificando que não existe novidade até aqui. Naturalmente,
em três dimensões muitos outros sistemas de coordenadas são úteis
para a solução de problemas específicos. As mais usadas, além das retangulares, são
as coordenadas polares cilíndricas e polares esféricas.
99
nadas espaciais, usualmente ( x, y, z ) , ou podem ser funções do ve
tor posição r . Um exemplo de função escalar de ponto é a energia
potencial V ( x, y, z ) de uma partícula que se desloca em três dimensões, e o de
uma função vetorial de ponto é o campo elétrico cujas
componentes Ex , E y e Ez podem ser funções de x, y e z . Muitas
vezes, funções escalares e vetoriais, além de dependeram da posição,
são também funções do tempo.
Algumas informações serão importantes para o estudo da mecânica,
entre elas a integral de linha. Você compreenderá que, em Física,
expressamos muitos resultados através da integral de linha. Consi
dere agora uma dada curva C , no espaço, e uma função vetorial A
definida em
todos os pontos sobre esta curva. Definimos a integral de
linha de A ao longo da curva C por:
A • dr .
dr de uma extremidade
a outra.
Desta maneira, para cada segmento,
temos o produto A • dr , onde A é o valor da função vetorial na posição do segmento
considerado.
de cada segmento se
aproxima de zero.
go de uma curva C ,
W = ∫ F • dr .
C
W = F • s para uma
força constante sobre uma partícula que se move ao longo de um
segmento de reta s .
Outra forma de especificar a integral de linha é expressar o vetor posição em
coordenadas retangulares,
(3.21)
100
r = xiˆ + yjˆ + zkˆ ,
e cujo diferencial é:
ˆ
ˆ .
dr = idx
+ ˆjdy + kdz
(3.22)
A
pode ser escrita em termos de suas compoˆ
nentes cartesianas, A = Ax iˆ + Ay ˆj +
Az k , de modo que podemos escrever para a integral de linha de A :
Uma função vetorial
(3.23)
A • dr = ∫ ( Ax dx + Ay dy + Az dz ) .
C
ds = dr e o ângulo entre A e dr , podemos
A • dr = ∫ A cos ds .
Utilizamos
a equação 3.24 para se efetuar uma integral de linha quando
dr
∫C A • dr = ∫ ( A • ds )ds ,
(3.25)
dx
dy
dz
A
∫C • dr = ∫ ( Ax ds + Ay ds + Az ds )ds .
101
Exemplo 1. Para ajudar na sua compreensão sobre este assunto,
você estudará, como exemplo de integral de linha, o trabalho realizado sobre uma
partícula em movimento semicircular de raio a em
a
a
+
−
= → =
,
2 2
2
+ +−
= → = − .
2
2
F = −kr12 rˆ1 , sendo k uma constante
F
F = − 02 r12 rˆ1 . Para calcularmos o trabalho,
a
expressamos r1 em termos de ,
Como
ds = dr = ad , vem:
0
W = ∫ F cos( − )ad .
2
Substituindo o valor de
F , obtemos:
0
F0 2
4a (sen 2 cos )ad .
2
a
2
2
W = −∫
Fazendo
102
= 2 1 , d = 2d 1 , vem:
/2
2
2
W = 4 F0 a ∫ 2sen 2 1cos1d 1 = 4 F0 a sen 3 1 ,
3
0
0
8
W = F0 a .
3
F
W = − 02
a
−a
F0 ( x + a )3
x
a
dx
(
+
)
=
−
∫a
a2
3
−a
,
a
8
W = F0 a .
3
Portanto, este exemplo mostra que o trabalho realizado pela força não
depende do caminho percorrido pela partícula. Isto é, a integral de
linha neste caso só depende do ponto inicial e do final. Mais adiante
iremos diferenciar entre forças para as quais o trabalho realizado depende do
caminho e forças cujos trabalhos realizados independem da
trajetória, como estudado neste exemplo.
3.2.2 Gradiente
Energia potencial, energia cinética, temperatura e pressão são exemplos de
grandezas físicas escalares que, em geral, dependem das coordenadas. Isto é, são
funções escalares do tipo u ( x, y, z ) cujas três
derivadas parciais podem ser consideradas como componentes de
uma função vetorial denominada de gradiente de u :
grad u = iˆ
(3.26)
∂u ˆ ∂u ˆ ∂u
.
+j
+k
∂x
∂y
∂z
du =
(3.27)
Já que
∂u
∂u
∂u
dx + dy + dz .
∂x
∂y
∂z
ˆ
ˆ , podemos escrever du como:
dr = idx
+ ˆjdy + kdz
du = (
∂u ˆ ∂u ˆ ∂u ˆ ˆ
ˆ )
i+
j + k ) • (idx + ˆjdy + kdz
∂x
∂y
∂z
103
du = ( grad u ) • dr .
(3.28)
du = dr grad u cos ,
(3.29)
é o ângulo entre dr e grad u . Logo, a uma distância peque
na fixa dr do ponto r , a variação de u será um máximo quando dr
tiver a mesma variação do gradiente de u , assim,
onde
grad u =
du
,
dr
∂ ˆ ∂ ˆ ∂
+ j + k )u = ∇u .
∂x
∂y
∂z
(3.30)
grad u = (iˆ
∂
∂
∂
∇ ≡ iˆ + ˆj + kˆ . Veja que ∇ não é um vetor
∂x
∂y
∂z
no sentido geométrico,
mas sim uma operação sobre uma função
que resulta no vetor
du =
E como agora
∂u
∂u
∂u
d +
d + dz .
∂
∂
∂z
ˆ , reescrevemos a expressão
ˆ d +
ˆ d + kdz
dr =
acima,
ˆ
du = (
e identificamos
ˆ ∂u ˆ ∂u
∂u
ˆ ) = ∇u • dr ,
ˆ d +
ˆ d + kdz
+
+ k )•(
∂ ∂
∂z
ˆ ∂ ˆ ∂
∂
ˆ
∇ ≡ (
+
+ k ) para o cálculo do gradiente
∂ ∂
∂z
104
3.2.3 Divergente
A aplicação de ∇ em uma quantidade escalar gera um vetor. Por ou
tro lado, é fácil perceber que, ao
efetuarmos o produto escalar de ∇
com uma quantidade vetorial A( x, y, z ) , resultará em uma quantida
de escalar. Este produto escalar denomina-se de divergência de A :
∂
∂
∂
∇ • A = (iˆ + ˆj + kˆ ) • ( Ax iˆ + Ay ˆj + Az kˆ) ,
∂x
∂y
∂z
∂A ∂Ay ∂Az
.
∇• A= x +
+
∂x
∂y
∂z
(3.31)
ˆ ,
∇
• A dV =
A
∫∫∫
∫∫ • nds
(3.32)
n^
S
V
ds
S.
m = ∫∫∫ dV .
V
∫∫
S
105
ˆ (em kg / s ) e, portanto, deve ser igual à variação da
− ∫∫ v • nds
S
dm
∂
= ∫∫∫ dV , ou seja,
massa de fluido dentro do volume V ,
dt
dt
V
∂
ˆ = ∫∫∫ dV .
− ∫∫ v • nds
dt
S
V
Usamos agora o Teorema da Divergência (equação 3.32), de modo que:
∫∫ v
S
ˆ = ∫∫∫ ∇ •( v )dV ,
nds
V
∂
− ∫∫∫ ∇ •( v )dV = ∫∫∫ dV ,
dt
V
V
ou
∂
∫∫∫ ( ∂t + ∇
v )dV = 0 .
3.2.4 Rotacional
Talvez você já tenha tido a oportunidade de andar pela margem de
um rio e deve ter percebido que, em certas partes, a água flui placidamente,
enquanto que em outras partes, ela agita-se, formando redemoinhos, isto é,
apresentando movimento de rotação. Nestas partes
do rio o movimento da água apresenta propriedades rotacionais.
Observe que o
divergente é o
produto escalar de
por uma função
vetorial
iˆ
∂
∇× A =
∂x
Ax
ou
106
ˆj
kˆ
∂
∂ ,
∂y ∂z
Ay Az
A,
(3.33)
∂Ay ∂Ax
∂A ∂A
∂A ∂Ay
) + ˆj ( x − z ) + kˆ(
).
∇× A = iˆ( z −
−
∂y
∂z
∂z
∂x
∂x
∂y
ˆ
∇×
A
• nds
=
A
(
)
∫∫
∫ • dr ,
C
^
n
ds
C
Figura 3.9 Superfície
C.
( = x iˆ + y ˆj + z kˆ) e r seu
vetor posição ( r = xiˆ + yjˆ + zkˆ) . Calculamos o rotacional de v :
constante de uma partícula do fluido
iˆ
∇× v = ∇× ( × r ) = ∇× x
x
ˆj
y
kˆ
z ,
107
ˆj
iˆ
kˆ
∂
∂
∂
∇×v =
,
∂x
∂y
∂z
z y − y z x z − z x y x − x y
∇× v = 2 x iˆ + 2 y ˆj + 2 z kˆ = 2 ,
1
= ∇×v .
2
ou
d 2r
m 2 =F,
dt
(3.35)
sendo
F a soma das forças que atuam sobre a partícula de massa m .
Em coordenadas cartesianas, a equação acima equivale a três equações, uma para cada
direção no espaço:
(3.36)
108
d 2x
m 2 = Fx ,
dt
d2y
m 2 = Fy ,
dt
d 2z
m 2 = Fz .
dt
Em uma dimensão, definimos o momento linear (ou quantidade de
movimento) de uma partícula como px = mvx , de modo que, em três
dimensões, teremos:
(3.37)
p = mvx iˆ + mv y ˆj + mvz kˆ = mv .
d
dr
d
(m ) = (mv ) = F ,
dt
dt
dt
dp
=F.
dt
(3.39)
t2
p2 − p1 = ∫ Fdt .
(3.40)
t1
d
v • mv = F • v .
dt
(3.41)
d dv dv
dv
Desde que
(v • v ) =
•v +v •
= 2v •
, podemos reescrever a
dt
dt
dt
dt
(3.42)
d 1
d 1
( mv • v ) = ( mv 2 ) = F • v .
dt 2
dt 2
Na expressão acima
v 2 = v • v = vx2 + v y2 + vz2 , e sendo a energia cinética
Ec =
1 2
mv , a equação 3.42 nada mais é
2
dEc
= F •v ,
dt
109
de onde você pode perceber que a energia cinética da partícula pode
aumentar, diminuir ou permanecer constante. O exemplo clássico de
uma força que não muda a energia cinética da partícula é a força
magnética sobre uma partícula carregada.
Nesta situação, a força é
perpendicular à velocidade, e assim, F • v = 0 e, portanto, a energia
cinética se mantém constante. Integrando-se a equação 3.43 no tempo, obtém-se o
teorema da energia na forma integral,
(3.44)
t
1 2 1 2 2
Ec2 − Ec1 = mv2 − mv1 = ∫ F • vdt .
2
2
t1
Ec2 − Ec1 = ∫ F • dr ,
(3.45)
r1
das coordenadas) ou a um eixo que passa por este ponto, sobre uma
partícula de massa m , é definido pelo produto vetorial entre o vetor
posição do ponto de aplicação da força e a força aplicada,
(3.46)
T = r ×F .
r com ambos os
dp d
r×
= r × (mv ) = r × F = T .
dt
dt
dr
Já que
× mv = v × mv = 0 , podemos reescrever a equação anterior
dt
como:
110
d
dr
r × (mv ) + × (mv ) = r × F = T ,
dt
dt
o que é equivalente a:
d
(r × mv ) = T .
dt
ou
d
(r × p) = T .
dt
(3.47)
L como:
(3.48)
L = (r × p) .
dL
=T ,
dt
(3.49)
t2
L2 − L1 = ∫ Tdt .
(3.50)
t1
L = rmv = mr 2 ,
(3.51)
L é o mesmo sentido de .
Movimento em Duas e Três Dimensões
111
ˆ r + ˆ F .
F (r ) = rF
(3.53)
mar = m( r − r 2 ) = Fr ,
(3.54)
ma = m(r + 2 r ) = F .
••
• •
••
• •
m(r 2 + 2 rr ) = rF ,
rF o módulo do torque T = rrˆ × ˆ F = rF (rˆ × ˆ ) = rF . Para
• •
••
••
• •
dL
= 2mr r + mr 2 = m(r 2 + 2r r ) .
dt
dL
= rF = T ,
dt
112
Z . Assim, a equação
d 2r
m 2 = − mgkˆ ,
dt
(3.58)
d 2x
m 2 = 0,
dt
d2y
m 2 = 0,
dt
d 2z
m 2 = −mg .
dt
x = x0 + v0 x t ,
(3.60)
y = y0 + v0 y t ,
(3.61)
z = z0 + v0 z t − gt 2 .
1
2
1
r = r0 + v0t − gt 2 kˆ .
(3.62)
A posição inicial do projétil pode ser tomada como a origem das coordenadas, o que
significa x0 = y0 = z0 = 0 . Admita agora que o vetor
Y´
Y
θ
X´
Figura 3.10 - Trajetória do projétil: a) No espaço b) No plano xz.
x = v0 x t ,
1
2
z = v0 z t − gt 2 .
113
Estas duas equações descrevem o movimento do projétil e dizemos
que a trajetória está sendo fornecida de forma paramétrica, onde o
tempo é o parâmetro. Para se obter a trajetória em coordenadas retangulares, isto
é, z ( x) , devemos eliminar o parâmetro tempo, fazemos
isto substituindo
z=
(3.63)
v0 z
1 g 2
x−
x ,
v0 x
2 v02x
xA = 2
(3.64)
v0 z v0 x
.
g
x1 =
(3.65)
A altura máxima é
dx
x1 :
v0 x v0 z
.
g
(3.66)
z ( x1 ) = zm =
v02z
.
2g
Observe que os resultados expressos nas equações 3.63 a 3.66 podem
ser colocados em termos do módulo do vetor velocidade inicial v0 , e
o ângulo de inclinação
e
v0 z = v0sen 0 .
114
a velocidade do projétil, maior é a resistência do ar e seu efeito tornase
apreciável, não podendo mais ser desprezada.
A maneira mais simples de se levar em conta a resistência do ar é
considerar uma força resistiva proporcional à velocidade, e a equação
de movimento do projétil fica:
d 2r
dr
ˆ
,
m 2 = −mgk − b
dt
dt
(3.67)
(3.68)
(3.69)
d 2x
dx
= −b ,
2
dt
dt
d 2z
dz
= − mg − b .
2
dt
dt
x=
(3.70)
mv0 x
(1 − e − bt / m ) .
b
v0 z
dvz
b
= − ∫ dt ,
mg
m0
+ vz
b
mg
+ vz
b
b
ln
=− t,
mg
m
+ v0 z
b
vz = (
(3.71)
mg
mg
+ v0 z )e − bt / m −
.
b
b
∫ dz = (
0
z (t ) ,
t
mg
mg
dt ,
+ v0 z ) ∫ e − bt / m dt −
b
b ∫0
0
Movimento em Duas e Três Dimensões
115
m 2 g mv
mg
z = 2 + 0 z (1 − e − bt / m )−
t.
b
b
b
(3.72)
Note que, como antes, supomos que o projétil foi lançado da origem
das coordenadas com velocidade v0 = v0 x iˆ + v0 z kˆ . Podemos obter a
trajetória
metro tempo,
mg v0 z
mv0 x
m2 g
z =
+
).
x − 2 ln(
b
mv0 x − bx
bv0 x v0 x
(3.73)
x
Figura 3.11 - Trajetórias para o alcance máximo de projéteis com diferentes
velocidades iniciais.
Na figura 3.11 você pode observar que, para trajetórias de curto alcance, o que
significa baixas velocidades e pequena resistência do ar,
a curva se aproxima bastante de uma parábola. Podemos comprovar
isto reescrevendo a equação 3.73,
mg v0 z
m2 g
1
z =
+
x
−
ln
,
2
b
bv0 x v0 x
1 − bx / mv0 x
(3.74)
ou
mg v0 z
z =
+
bv0 x v0 x
(3.75)
m2 g
bx
x
+
ln 1 −
2
b
mv0 x
.
tendo-se:
116
z≅
(3.76)
v0 z
1 g 2 1 bg 3
x−
x −
x .
v0 x
2 v02x
3 mv03x
Na equação 3.76 verifica-se que a trajetória se inicia como uma parábola, mas
quando os valores de x crescem muito, z decresce mais
rapidamente do que no caso de uma parábola. Note que no limite
Podemos obter correções de ordem mais alta em b , retendo mais termos na expansão
em série para o ln(1 + y ) . Com a aproximação dada
em 3.76, podemos estimar a correção no alcance do projétil devido à
resistência do ar. O alcance é obtido quando z = 0 , assim,
v0 z 1 g
1 bg 2
−
x−
x )x = 0
2
v0 x 2 v0 x
3 mv03x
(3.77)
xA =
( x = 0, z = 0)
x , obtemos o alcance:
16bv0 z
3 mv0 x
− 1
1+
4 b
3mg
.
1+ y ≅ 1+ y / 2 − y2 / 8 ,
xA ≅
xA ≅
(3.78)
x A ≅ (1 −
4 bv0 z 2v0 x v0 z
)
,
3 mg
g
117
mostrando efetivamente que o alcance é reduzido devido ao atrito com
o ar. Com b = 0 , você obterá o resultado anterior, dado na equação 3.64.
x A ≅ (0,91)
2v0 x v0 z
,
g
E com relação à altura máxima atingida pelo projétil neste caso? Você
já sabe que deve-se calcular o máximo de z ( x) dado pela equação
3.75, e que primeiro determinamos a posição do máximo por meio
mg v0 z m 2 g (−b / mv0 x )
dz
=
+
+ 2
= 0,
bx1
b
dx x = x1 bv0 x v0 x
1−
mv0 x
(3.79)
x1 =
mv0 x / b
.
mg
1+
bv0 z
mg v0 z mv0 x / b m g
1
z ( x1 ) = zm =
+
− 2 ln 1 −
b
1 + mg
bv0 x v0 x 1 + mg
bv0 z
bv0 z
2
(3.80)
.
zm ≅
2bv0 z v02z
) .
zm ≅ (1 −
3mg 2 g
118
v02z
,
2g
ou seja, uma redução de apenas 5% em relação à altura quando ignoramos o atrito.
Procure lembrar a respeito da bala de fuzil que comentamos anteriormente. Verifique
que os resultados das equações anteriores não
se aplicam naquele caso. Primeiro, porque as aproximações dessas
equações só valem para pequenas velocidades iniciais e baixa resistência do ar
(coeficiente b pequeno). Segundo, porque como estudado
no capítulo 1, já que a velocidade inicial da bala é muito alta, no início
da trajetória a força de resistência do ar deve depender de potências
mais altas da velocidade, por exemplo, com o quadrado da velocidade,
fazendo com que a bala diminua mais rapidamente sua velocidade.
Depois, à medida que a velocidade da bala diminui, a resistência do
ar torna-se aproximadamente linear na velocidade e o resultado final
é uma grande diminuição na altura máxima e no alcance do projétil.
Naturalmente, podemos estimar o alcance da bala de fuzil assumindo
uma força resistiva linear com a velocidade, como foi considerado
anteriormente, sendo o atrito agora apreciável e tendo o projétil velocidade
inicial alta, isto é, bv0 z / mg >> 1 . Com esta condição, podemos
obter expressões aproximadas para o alcance e a altura máxima atingida pelo
projétil. Neste caso, para o alcance, obtemos:
(3.82)
xA ≅
2v0 x v0 z mg
(
)(1 − e−bv0 z / mg ) .
g
2bv0 z
x A ≅ 0,1
2v0 x v0 z
, ou seja, apenas
g
10% do alcance caso não houvesse o atrito. E neste caso a altura máxima fica
reduzida a menos de 27% da altura que o projétil atingiria
sem o atrito.
Até agora não consideramos o efeito do deslocamento do ar (o vento)
na trajetória de um projétil. Claramente, isto torna o problema bem
mais complexo, mas podemos tratar de forma aproximada o efeito
do vento sobre o projétil, supondo uma força de resistência que seja
proporcional à velocidade do projétil em relação ao ar:
(3.83)
d 2r
dr
ˆ
m 2 = −mgk − b( − vve ) ,
dt
dt
vve é a velocidade do vento. É claro que se a velocidade do vento
for constante, a força bvve é uma força constante e podemos resolver
onde
vve tenha componentes nas três direções, teremos forças constantes
119
adicionadas às forças de atrito nas direções x, y , z. Por outro lado, se
a velocidade do vento for variável, mas conhecida, podemos resolver
a equação de movimento (equação 3.83) numericamente.
Existe um outro fato que afeta sobremaneira a trajetória de um projétil e que nunca
havia sido levado em conta até a Primeira Guerra
Mundial (1914-1918). O fato é que se lançamos projéteis que chegam a
grandes altitudes, devemos levar em conta a variação na densidade
do ar com a altitude. Em 1918, a aviação francesa e a inglesa conseguiram pôr fim
aos ataques aéreos alemães a Paris. Assim, o exército alemão, por meio da
construção de um enorme canhão, conhecido como
Big Bertha, atingiu Paris com disparos de longo alcance. A artilharia
alemã descobriu, por acaso, que ao aumentar o ângulo de elevação
(acima de 450) de um canhão de grosso calibre, o alcance passava de
20 km para 40 km! Por quê? Isto se devia ao fato de que o projétil era
lançado com uma velocidade inicial muito grande, em uma trajetória
muito inclinada, atingindo camadas rarefeitas da atmosfera, onde a
resistência do ar é quase desprezível. Nessa grande altitude o projétil
percorria parte considerável de sua trajetória e descia ao longo de
uma curva bastante inclinada, quase atingindo a parte da trajetória
correspondente à assíntota vertical, como mostrado na figura 3.16.
Este fato foi usado pelos idealizadores do canhão Big Bertha, que no
verão de 1918, lançou mais de 300 projéteis sobre a capital francesa.
V
120
equação de movimento é:
d 2r
− z / h dr
ˆ
m 2 = −mgk − b0 (e ) .
dt
dt
(3.84)
••
m x = −b0 x e − z / h ,
m y = −b0 y e − z / h ,
••
m z = −mg − b0 z e − z / h .
Estas equações são muito mais difíceis de serem resolvidas, pois a
variável z aparece nas três equações, de modo que devemos resolver
(3.85)
V ( x) = − ∫ F ( x)dx ,
xr
sendo
F atuante
sobre uma partícula que seja função de sua posição, isto é,
F = F (r ) . Como você já sabe, o trabalho realizado por esta força para
deslocar a partícula desde r1 até r2 é dado pela integral de linha:
r2
(3.86)
W = ∫ F • dr .
r1
121
Comparando com a equação 3.85, vê-se que a idéia é definir uma
energia potencial V ( r ) = V ( x, y , z ) como o trabalho realizado pela
força enquanto desloca a partícula da posição r até qualquer ponto
de referência
rr escolhido,
r
V (r ) = V ( x, y, z ) = − ∫ F (r ) • dr .
(3.87)
rr
( x, y, z ) do vetor posição r (e do ponto de referência rr que é fixo), en-
rr a qualquer r ,
V (r ) , que dependerá só
de r (e de rr ). A variação dV enquanto a partícula se desloca de r
para r + dr é menos o trabalho realizado pela força,
definindo assim a função energia potencial
dV = − F • dr .
(3.88)
Como
V = V ( x, y, z ) , vem:
(3.89)
dV =
∂V
∂V
∂V
dx +
dy +
dz .
∂x
∂y
∂z
dV = − Fx dx + Fy dy + Fz dz .
(3.90)
Fx = −
∂V
,
∂x
Fy = −
∂V
∂y
Fz = −
Ou vetorialmente,
(3.92)
122
∂V ˆ ∂V ˆ ∂V
.
F = −iˆ
−j
−k
∂x
∂y
∂z
∂V
.
∂z
Usando a notação para o gradiente, equação 3.30, vem:
F = −∇V .
(3.93)
E a força fica definida por meio do gradiente da função energia potencial.
Agora, como procuramos as condições que F deve satisfazer para que
seja possível se definir uma energia potencial, é bom lembrar que estamos
envolvidos com uma integral de linha, o que nos remete ao teorema
de Stokes, o qual estabelece a relação entre o rotacional de uma função
vetorial e a circulação desta função, isto é, sua integral de linha num
percurso fechado (equação 3.34). Tomando o rotacional da força, vem:
(3.94)
∇× F = ∇× (−∇V ) = −∇×∇V = 0 .
∂ 2V
∂ 2V
=
, e o mesmo para
∂x∂y ∂y∂x
∇×F = 0 ,
(3.95)
ˆ
∇×
F
• nds
=
F
(
)
∫∫
∫ • dr ,
C
(3.97)
F • dr = 0 .
123
r2 para r1 .
r2
C2
C1
r1
Figura 3.12 - Dois caminhos entre
r1
r2 , formando um caminho fechado.
r1 para r2 por qualquer um dos caminhos é
V (r ) quando a força é uma função da posição.
F (r ) seja tal que seu rotacional é nulo. Satisfeita
esta condição, a definição da energia potencial (equação 3.87) mostra que podemos
expressar o trabalho realizado para deslocar uma
partícula entre r1 e r2 como a diferença entre os valores da energia
potencial entre estes pontos:
r2
r1
r1
rr
rr r2
F
∫ • dr = ∫ F • dr + ∫ F • dr
(3.98)
= V (r1 ) − V (r2 ) .
ou,
(3.99)
Ec2 − Ec1 = ∫ F • dr = V (r1 ) − V (r2 ) ,
r1
Ec2 + V (r2 ) = Ec1 + V (r1 ) = E .
124
potencial mais a energia cinética da partícula, permanece constante
durante o movimento. A conclusão é de que forças que têm rotacional zero e que,
portanto, podem ser expressas mediante uma função
energia potencial, são forças sob as quais o movimento de uma partícula ocorre com
a energia mecânica permanecendo constante. Por
isso, tais forças são ditas forças conservativas, pois a energia mecânica
é conservada (seu valor não se altera durante o movimento). Logo, no
movimento sob a ação de uma força conservativa, a energia mecânica é uma constante
do movimento,
(3.100)
125
y
F • dr não se anula. Logo, esta é uma força não-conservativa, isto é,
∂Fy ∂Fx
) = kˆ(a + a) = 2akˆ .
∇ × F = kˆ(
−
∂x
∂y
Neste caso, não podemos definir uma função energia potencial, e para
uma partícula submetida a este campo de força, a energia mecânica
não se conserva durante o movimento.
Já na figura 3.14 mostra-se um campo de força
de maneira que em
cada ponto do plano está definida uma força F = ayiˆ + axjˆ .
126
∂Fy ∂Fx
) = kˆ(a − a) = 0 ,
∇× F = kˆ(
−
∂x
∂y
e agora, para este campo de força, pode-se definir uma energia potencial. A energia
mecânica de uma partícula movendo-se neste campo
de força é conservada. A energia potencial pode ser obtida de duas
maneiras, fazendo a integral de linha de um ponto de referência até um
ponto qualquer do plano, isto é, usando a equação 3.87, ou usando-se
as derivadas parciais em 3.91. Escolhendo este procedimento, vem:
∂V ( x, y )
= −ay → V ( x, y ) = − axy + C1 ( y ) ,
∂x
dC ( y )
∂V ( x, y )
= −ax = −ax + 1
→ C1 ( y ) = C2 ,
∂y
dy
C2 sendo uma constante que não depende de x nem de y . Chamando C2 = V0 , obtemos:
com
V ( x, y ) = −axy + V0 ,
V0 é a energia potencial em algum ponto tomado como referência. Por exemplo,
podemos escolher a origem ( x = 0, y = 0) como sendo o zero da energia, e assim V0
= 0 . Se usássemos a equação 3.87,
onde
F definida em cada ponto ( x, y, z ) ,
tendo componentes:
Fx = 3ayz 3 − 20bx3 y 2 ,
Fy = 3axz 3 − 10byx 4 ,
Fz = 9axyz 2 .
∂Fy ∂Fx
∂F ∂F
∂F ∂Fy
) + ˆj ( x − z ) + kˆ(
),
∇× F = iˆ( z −
−
∂y
∂z
∂z
∂x
∂x
∂y
∇× F = iˆ(9axz 2 − 9axz 2 ) + ˆj (9ayz 2 − 9ayz 2 ) + kˆ(3az 3 − 40byx 3 − 3az 3 +
40byx 3 )
∇×F = 0 .
Assim, a força é conservativa, sendo que agora você obterá a função
energia potencial usando a equação 3.87 em vez da integração das derivadas
parciais, como foi apresentado anteriormente. Como você pode
escolher qualquer caminho, procure um caminho mais simples, como o
127
mostrado na figura 3.15. Isto é, parta da origem (tomada como referência)
e percorra os caminhos C1 , C2 , C3 até um ponto arbitrário ( x1 , y1 , z1 ) .
c1
x1
(x1, y1)
c2
c3
V ( x1 , y1 , z1 ) = −
( x1 , y1 , z1 )
(0,0,0)
Ao longo do caminho
ˆ
, logo,
dr = idx
C1
F • dr = − ∫ F • dr − ∫ F • dr − ∫ F • dr .
C1
C2
C1 , tem-se: y = z = 0 ,
F • dr = 0 .
Ao longo do caminho
C3
Fx = Fy = Fz = 0 e
C2 , tem-se: x = x1 , z = 0 , dr = ˆjdy , e as com-
Fx = −20bx13 y 2 , Fy = −10bx14 y ,
Logo,
Fz = 0 .
y1
y1
4
F • dr = ∫ Fy dy = −10bx1 ∫ ydy = −5bx14 y12 .
C2
ˆ
C3 , tem-se: x = x1 , y = y1 e dr = kdz
, sendo a
2
componente Fz igual a Fz = 9ax1 y1 z .
Ao longo do caminho
Logo,
C3
Como o ponto
z1
z1
F • dr = ∫ Fz dz = 9ax1 y1 ∫ z 2 dz = 3ax1 y1 z13 .
0
V ( x, y, z ) = 5bx 4 y 2 − 3axyz 3 .
128
Convém lembrar que nos casos
que uma força dependa da po em
sição e do tempo,isto é, F = F ( r , t ) , e seu rotacional seja nulo em
qualquer tempo
(∇ x F (r , t ) = 0) , ainda podemos definir uma função
V (r , t ) = V ( x, y, z , t ) = − ∫ F (r , t ) • dr ,
rr
Porém, agora a energia não será mais conservada, o que se pode verificar pela
equação 3.100, pois existe uma dependência explícita da
energia potencial com o tempo. Você verificará isto em seguida. Derivando a equação
3.100 com relação ao tempo, tem-se que:
(3.101)
Como
dE
dv dV
= mv •
+
.
dt
dt dt
V = V ( x, y, z , t ) , vem:
dV dV dx dV dy dV dz ∂V
=
+
+
+
,
dt
dx dt dy dt dz dt ∂t
dV
∂V
= v • ∇V +
.
dt
∂t
(3.102)
∂V
dE dmv
= v •(
+ ∇V ) +
.
∂t
dt
dt
dmv
= −∇V e, portanto,
dt
dE ∂V
=
, mostrando que a energia mecânica não é mais constante
dt
∂t
no tempo, e assim a força F ( r , t ) não é conservativa. Desta forma,
se a energia potencial tem uma dependência explícita com o tempo, a
energia não é conservada e a força não é conservativa.
Na seção anterior você estudou um tipo especial de força, dependente
apenas da posição. Antes de apresentar algum caso específico deste
tipo de força, é conveniente ressaltar a você que o problema geral da
dinâmica de uma partícula em três dimensões pode ser de difícil solução. Considere
que uma partícula esteja submetida
a uma força dependente da posição, velocidade e do tempo F ( r , v , t )
(esta força pode
ser a soma de forças, como no caso do oscilador forçado com atrito).
As equações de movimento para cada direção no espaço fornecem um
Movimento em Duas e Três Dimensões
129
conjunto de equações diferenciais de segunda ordem acopladas,
m
m
• • •
d 2x
F
x
y
z
x
=
(
,
,
,
, y, z , t ) ,
x
dt 2
• • •
d2y
F
x
y
z
x
=
(
,
,
,
, y, z , t ) ,
y
dt 2
• • •
d 2z
= Fz ( x, y, z , x, y, z , t ) .
2
dt
Note que agora você deve conhecer seis constantes arbitrárias, como
as três coordenadas da posição r0 = ( x0 , y0 , z0 ) e as três componentes
da velocidade
v0 = (vx0 , v y0 , vz0 ) em um instante qualquer t0 . Sendo
um campo magnético
externo
rivadas, Fx = Fx ( x, x, t ) , Fy = Fy ( y, y, t ) e Fz = Fz ( z , z , t ) . Agora
as
equações de movimento são independentes e podemos resolvê-las
separadamente para determinar x (t ), y (t ) e z (t ) como movimentos
unidimensionais independentes. Se as componentes da força dependem só do tempo, ou
só da velocidade ou só da posição, empregam-se
as técnicas de integração usadas no capítulo 1, no estudo do movimento em uma
dimensão, sendo que aqui aplica-se para as três direções no espaço. Um exemplo de
problema tridimensional é o caso em
que as componentes da força são forças restauradoras,
130
Fx = − k x x,
Fy = −k y y,
Fz = −k z z.
Resumo
Os vetores posição, velocidade e aceleração para o movimento em
três dimensões são expressos em coordenadas retangulares por:
r (t ) = x(t )iˆ + y (t ) ˆj + z (t )kˆ ,
dr ˆ dx
v=
=i
+
dt
dt
dv ˆ dvx ˆ dv y ˆ dvz
.
a=
=i
+j
+k
dt
dt
dt
dt
ˆj dy + kˆ dz ,
dt
dt
Para o movimento em duas dimensões, podemos escolher coordenadas polares, sendo que
os vetores posição, velocidade e aceleração
são expressos por:
•
•
r = rrˆ() , v = r rˆ + r ˆ ,
•
••
• •
••
a = ( r − r 2 )rˆ + (r + 2 r )ˆ .
W = ∫ F • dr .
C
F • dr = ∫ ( Fx dx + Fy dy + Fz dz ) .
C
nadas retangulares)
∂
∂
∂
grad u = (iˆ + ˆj + kˆ )u = ∇u .
∂x
∂y
∂z
E, portanto,
torial
A é:
∂
∂
∂
∇ ≡ iˆ + ˆj + kˆ . O divergente de uma função ve∂x
∂y
∂z
∂A ∂Ay ∂Az
.
∇• A= x +
+
∂x
∂y
∂z
131
O rotacional pode ser expresso na forma de componentes retangulares,
∂Ay ∂Ax
∂A ∂A
∂A ∂Ay
) + ˆj ( x − z ) + kˆ(
).
∇× A = iˆ( z −
−
∂y
∂z
∂z
∂x
∂x
∂y
O teorema do momento linear para o movimento em três dimensões
se expressa vetorialmente por:
dp
=F.
dt
De onde se obtém o teorema da energia na forma diferencial,
dEc
= F •v .
dt
Quando a força depende apenas da posição podemos expressar o teorema da energia na
forma integral como:
r2
Ec2 − Ec1 = ∫ F • dr .
r1
dL
=T ,
dt
V (r ) = V ( x, y, z ) = − ∫ F (r ) • dr ,
rr
desde que a integral independa do caminho. Esta condição é satisfeita
para forças cujo rotacional é zero, isto é,
∇× F = 0 .
Neste caso, a força pode ser obtida como o gradiente da função energia potencial
F = −∇V .
132
r2
Ec2 − Ec1 = ∫ F • dr = V (r1 ) − V (r2 ) .
r1
Ec2 + V (r2 ) = Ec1 + V (r1 ) = E .
Exercícios
1) Um triângulo isóscele, ABC, reto, de
k / r 2 , onde r é a distância
Resposta: WAB = −
2k
.
3a
2)
Resposta: W = F0 R .
xy é atraída para a
origem das coordenadas por uma força cujo módulo é F = kx .
a) Calcule o trabalho realizado contra esta força para se deslocar
a partícula da origem (0, 0) até o ponto ( a, 2a ) ao longo da parábola
y=
2 2
x .
a
mi-reta
Respostas: a) W =
ka 2
(7 5 + 1) ; b) Não, pois
12
133
∇×F = −
ka 2
(2 5 − 1) .
kˆ ≠ 0 ; c) W =
2
x2 + y 2
ky
v02 = 4 gh ?
Respostas: a) d =
2v0 cos 0 2 2
v0 sen 0 − 2 gh ;
g
b) d =
v0 2
v0 − 4 gh .
g
xz (com o eixo z
v0 para atingir um alvo
cessária para se atingir o alvo, levando em conta a resistência do ar. Observe que,
neste caso, a equação da trajetória é
dada pela equação 3.76. Note que, como a correção é pequena,
sen(∆) ≅ ∆ e cos(∆) ≅ 1 .
Respostas: a) 0 = arcsen
b) ∆ =
1 ± 1 − 4 2
; = gxa / 2v02
2
4bv0 cos 0
.
3mg cot g 2 0 − 1
constante
a) Calcule o alcance
inclinação da colina.
134
b) Calcule o valor máximo deste alcance.
Respostas: a) x A =
b) ( x A ) max =
V ( x, y ) =
1
k ( x2 + 4 y 2 ) .
2
t = 0 : x = a , y = 0 ; x0 = 0 e y0 = v0 .
Resposta: x = a cos t ; y =
v0
sen2 t , onde = k / m . A
2
8)
x = L(2 + sen2 ) ;
z = L(1 − cos 2 ) ; − / 2 ≤ ≤ / 2 .
e mostre que:
E=
onde
1 • 2 1 mg 2
ms +
s ,
2
2 4L
••
s+
g
s = 0.
4L
s,
135
vatura de uma curva) de uma ciclóide também é uma ciclóide. O que
permitiu a ele desenvolver um método engenhoso para fazer com que
o bulbo de um pêndulo descrevesse uma ciclóide: um pêndulo suspenso no ponto de
retrocesso de uma ciclóide. Veja na figura abaixo.
2πa
A
C
Ciclóide
Círculo rolante
C2
C1
Perfis
cicloidais
Ciclóide
Figura 3.16 - Pêndulo cicloidal.
4
Força Central
4
Força Central
139
4.1 Forças Centrais
Para iniciar este estudo, você sabe o significado de “Forças Centrais”?
ˆ (r ) .
F (r ) = rF
(4.1)
Fx =
(4.2)
x
F (r ),
r
Fy =
y
F (r ),
r
Fz =
z
F (r ).
r
É simples mostrar que o rotacional de qualquer força central é nulo.
Em coordenadas cartesianas, calculamos a componente
cional de
F,
∂Fz ∂Fy
−
∂z
∂y
(∇ × F )iˆ = iˆ
iˆ do rota-
.
∂Fz ∂ z
∂ F (r ) ∂r zy ∂ F (r )
= F (r ) = z
=
,
∂y ∂y r
∂r r ∂y r ∂r r
onde usa-se
140
r = x 2 + y 2 + z 2 e logo
∂r y
= .
∂y r
Da mesma forma,
∂Fy
∂z
∂ y
∂ F (r ) ∂r zy ∂ F (r )
F (r ) = y
=
.
∂z r
∂r r ∂z r ∂r r
Estes dois
resultados para as derivadas parciais de
Fy e Fz mostram
que
dial
ˆ .
V (r ) = − ∫ F (r )rˆ• rdr
rr
V (r ) = − ∫ F (r ) dr .
(4.3)
rr
F (r ) = −kr ;
Força restauradora,
F (r ) = (±)
F (r ) = (
k
;
r2
F (r ) =
a
b
− 7;
13
r
r
A B − r
− )e .
r r2
Força Central
141
Forças de van der Waals
O físico holandês Johannes Diderik van der Waals (18371923) foi o primeiro a
estabelecer, por meio de experimentos com gases, a existência de forças
intermoleculares,
forças que são devidas às polarizações das moléculas.
Se as moléculas têm momento de dipolo elétrico permanente, as forças de van der
Waals são entre dipolos
(do tipo dipolo-dipolo). Moléculas polares podem induzir
um momento de dipolo em moléculas apolares, e aqui
surgem forças do tipo dipolo-dipolo-induzido.
Um terceiro tipo de forças de van der Waals ocorre entre
moléculas que não possuem momento de dipolo permanente, como o gás neônio ou o
líquido benzeno. Estas
moléculas, mesmo não tendo um momento de dipolo
médio, apresentam momentos de dipolos instantâneos
que são capazes de induzir polarização nas moléculas
adjacentes, resultando em forças atrativas. Este terceiro
tipo de forças de van der Waals é conhecido como forças
de dispersão ou forças de London, em homenagem ao
físico polonês Fritz London, que foi o primeiro a sugerir
a existência de tais forças.
Forças intermoleculares são responsáveis pelos baixos
pontos de fusão de substâncias orgânicas (como gordura) e baixo ponto de ebulição
de líquidos apolares em
que predominam as forças de dispersão de London. Por
seus trabalhos em equações de estado de gases e fluidos, van der Waals recebeu o
premio Nobel, em 1910.
142
4.2 Movimento sob a Ação de uma Força Central
Uma característica do movimento de uma partícula submetida à ação
de uma força central é a conservação do momento angular. Este resultado é imediato,
pois o torque devido a uma força central em relação à origem é:
T = r × F = (rrˆ × rˆ) F (r ) = 0 .
(4.4)
dL
=0.
dt
(4.5)
••
(4.6)
mar = m( r − r ) = Fr ,
(4.7)
ma = m(r + 2 r ) = 0 .
••
• •
• •
••
••
• •
dL d (mr 2 )
=
= 2mr r + mr 2 = m(r + 2 r )r = 0 ,
dt
dt
L = mr 2 = CONSTANTE,
Força Central
E=
•2
1
mr
2
1
mr 2
2
•2
+ V (r ) = CONSTANTE.
Resolvendo para
(4.11)
•2
E = mr +
(4.10)
L2
+ V (r ) .
2mr 2
r:
2
L2
−
−
(
)
E
V
r
.
m
2mr 2
•
r=
•
(4.12)
dr
L2
E − V (r ) −
2mr 2
r0
2
t,
m
L
dt ,
2
mr
t
(
)
0
(t ) = 0 + ∫
(4.13)
isto é, conhecendo-se
144
r=
dr d • dr
L dr
=
=
.
d dt
d mr 2 d
Comparando com a equação 4.11, obtém-se:
L dr
2
L2
=
−
−
(
)
E
V
r
mr 2 d
m
2mr 2
(4.15)
(4.16)
r0
r0 e r , e os limites 0 e , vem:
dr
r2
2m
d .
=
L2 ∫0
L2
E − V (r ) −
2mr 2
•
na energia cinética é transformado, via conservação do momento
angular, em um termo que depende só de r e se adiciona à energia
potencial
uma dimensão pode ser levada mais longe se voltarmos nossa atenção para a equação
de movimento, equação 4.6, onde substituímos
(4.17)
ou
(4.18)
••
m r−
L2
= F (r ) ,
mr 3
L2
m r = F (r ) + 3 .
mr
••
A equação acima tem a forma da equação de movimento em uma dimensão para uma
partícula submetida a uma força F ( r ) mais uma “força centrífuga”
Vef (r ) = − ∫ F (r )dr − ∫
Força Central
L2
dr ,
mr 3
145
L2
Vef (r ) = V (r ) +
.
2mr 2
(4.19)
(4.20)
r0
dr
(E − V
ef
(r ) )
2
t,
m
(4.21)
∫r
r0
dr
(E − V
ef
(r ) )
2m
d .
L2 ∫0
Você estudará agora um exemplo em que fica claro como a energia total, o momento
angular e as condições iniciais especificam a trajetória
seguida por uma partícula sob a ação de uma força central.
Exemplo 1. Considere que uma partícula de massa unitária
(m = 1)
3 k
(formando um ângulo
a 2
reto com o raio vetor) a uma distância a da origem de um centro de
v0 =
F = −k (
4 a2
+ ).
r3 r5
L=a
3 k
k
=3
.
a 2
2
Ec =
9k
. A força especificada acima fornece a energia potencial:
4a 2
r
V (r ) = − ∫ F (r )dr = k ∫ (
∞
146
4 a2
+ )dr ,
r3 r5
V (r ) = −
2k ka 2
−
.
r 2 4r 4
9k
. Isto significa que a energia mecâni4a 2
ca (constante) da partícula é E = Ec + V ( a ) = 0 . A energia potencial
energia potencial é
V (a) = −
Vef (r ) = −
Com o valor de
2k ka 2 L2
−
+
.
r 2 4r 4 2r 2
E ≥ Vef (r ) , isto é, 0 ≤ r ≤ a .
Vef (r)
E= 0
a 21/2a
Substituindo
∫
a
dr
a2 1
−
r4 r2
r2
r
∫
a
Força Central
dr
2
a −r
1
3
∫ d ,
0
1
3
= .
147
Onde escolhemos = 0 para
r
arcsen
=
aa 3
r = a cos
.
3
90
120
1,0
60
0,8
0,6
150
30
0,4
0,2
0,0
0,0
v0
180
0,2
0,4
0,6
210
330
0,8
1,0
240
300
270
s=
3 /2
∫
0
a cos d = 3a .
3
O tempo que a partícula leva para atingir a origem pode ser obtido a
partir da equação 4.20, onde agora o limite inferior é r = a e o limite
superior é r = 0 . O cálculo da integral fornece
t=
1 2 2
a ,
4 k
148
estas condições (outros valores de E , L, r0 , 0 ), nem sempre será possível
resolver as equações 4.20 e 4.21.
Em muitos casos as integrais dadas nas equações 4.20 e 4.21 são de
difícil solução, sendo mais fácil determinar primeiro a trajetória para
depois se obter o movimento como função do tempo. Isto significa resolver
diretamente a equação de movimento, equação 4.17, mas transformando-a em uma
equação diferencial relacionando r e . Isto é
conseguido de maneira mais simples fazendo-se a substituição,
1
u= ,
r
(4.22)
r=
r=
1
.
u
r como:
• du
dr d
1 du •
L du
= −r 2
=− 2
=−
.
d dt
u d
d
m d
r =−
(4.23)
••
r:
L d 2u •
L2u 2 d 2u
=
−
.
m d 2
m2 d 2
−
ou
L2u 2 d 2u
L2 3
=
F
(1/
u
)
+
u ,
m d 2
m
d 2u
m
= −u − 2 2 F (1/ u ) .
2
d
Lu
(4.24)
1
. Aparentemente, a equação 4.24 diverge para L = 0 ,
r ()
•
2
mas ela não deve ser usada neste caso, pois como L = 0 = mr , tede
u () =
mos
Força Central
4 a2
+ ),
r3 r5
149
usando a equação 4.24. Não esqueça que neste exemplo
L=3 k/2.
1
V (r ) = Kr 2, isto é, submetida a uma força F (r ) = − Kr (r = xiˆ + yjˆ + zkˆ,
2
L2
Vef (r ) = Kr +
.
2mr 2
1
2
(4.25)
A figura 4.3 mostra
Vef (r)
E2
E1
Vef (r0 )
E0= Vef (r0 )
r1
r0
r2
E ≥ Vef (r ) .
Pode-se ver, pela figura 4.3, que para energias E1 , E2 e energias maiores, a
partícula executa oscilações radiais entre r1 e r2 , por exemplo,
enquanto move-se em torno do centro de força com uma velocidade
angular dada por
2
( E − Vef (r ) = 0 , pois nesm
r=
2
( E − Vef (r ) = 0 em todos os pontos da trajetória. Logo,
m
r é constante e igual a r0 . O que isto significa? Que o movimento é
agora
r=
dVef
dr
r = r0
L2
L2
= Kr0 − 3 = 0 → r0 =
,
mr0
mK
E0 = Vef (r0 ) = L K / m .
•
2
K /m .
2
1 d Vef ( r )
2
Vef (r ) ≅ Vef (r0 ) +
(r − r0 ) ,
2
2
dr
r = r0
(4.27)
1
2
2
k 1 d Vef (r )
.
= =
m m dr 2 r = r
2
r
Força Central
151
Neste exemplo, com a energia potencial efetiva dada na equação 4.25,
obtém-se:
d 2Vef (r )
dr 2
3L2
=K+ 4
mr
d 2Vef (r )
dr 2
= 4K ,
r = r0
r0 para o
L2 L2
é v = 2 ( − 4) .
a k
2
0
152
Você já deve ter percebido que as trajetórias possíveis neste exemplo
são as mesmas que a do oscilador harmônico bidimensional isotrópico, isto é,
movimento elíptico, circular e em linha reta passando pela
origem, o que acontece, como vimos, para momento angular nulo.
O exemplo 2 mostra claramente que no movimento sob força central, a
partícula oscila na direção radial e gira em torno do centro de força com
•
velocidade angular
r → ∞ , vem que → 0 ,
r , como no exemplo 2,
onde, por exemplo, para energia E1 a partícula oscila entre r1 e r2 (figura 4.3), o
período do movimento em r (Tr ) nem sempre é igual ao
período de revolução em torno do centro de força (T ) . Se os períodos
com o tempo. Se o movimento é periódico em
2 enquanto a coordenada
F (r ) depende de r , do mo-
153
mento angular e da energia total.
Quando a força, a energia e o momento angular são tais que a órbita é
uma curva fechada simples, o período da órbita se relaciona a sua área.
A figura 4.5 mostra parte da trajetória fechada simples de uma partícula.
rdθ
dθ
Já que a área é varrida pelo raio vetor, quando esta se desloca entre
r () e r ( + d ) , é:
dA = 12 r 2 d ,
assim,
(4.29)
dA 1 2 •
L
= 2r =
,
dt
2m
L
. Se a trajetória é uma curva
2m
fechada simples, pode-se integrar a equação 4.29 em um período T ,
o que fornece:
(4.30)
A=
L
T.
2m
154
K
F = 2 rˆ .
r
(4.31)
A energia potencial é:
V (r ) =
(4.32)
K
,
r
K
L2
Vef (r ) = +
.
r 2mr 2
(4.33)
Vef(r)
K>0
K= 0
r0
1
2
K< 0, L= 0
- (K2m/ L2)
K<0, L= 0
Figura 4.6 - Energia potencial efetiva para uma força central
inversamente proporcional ao quadrado da distância.
A figura 4.6 mostra que, se a força é repulsiva ( K > 0) , só são possíveis
energias positivas ( E > 0) e o movimento não é periódico em r , sendo
Força Central
155
que a partícula vindo de r = ∞ alcança um ponto de máxima aproximação (ponto de
retorno) chamado de periélio, voltando para o infinito.
Para um dado valor de energia e momento angular, o ponto de retorno ocorre em
valores maiores de r do que quando não existe for-
ça
K>0
K= 0
K< 0
Figura 4.7 - Esboço das órbitas não limitadas para a força inverso do quadrado.
L2
. Por último, se K < 0 e para
mK
energias negativas E < 0 , na ausência de momento angular, L = 0,
r0 = −
d
K
L2
Vef (r )
=0=− 2 − 3
dr
r0 mr0
r = r0
Ou
r0 =
L2
mK
L2
→ r0 = −
.
mK
1
2
T=
2m 2
L3
r0 = 2
.
L
mK 2
156
gias da partícula levemente superiores a E0 . Usamos a equação 4.28
para calcular a freqüência r das pequenas oscilações radiais,
2
k 1 d Vef (r )
2 K 3L2 m 2 K 4
.
=
+
=
= =
m m dr 2 r = r
r03 mr04
L6
2
r
Tr =
2
L3
= 2
e, portanto, igual
r
mK 2
r0 . Isto significa
E0 , a aproximação de peque-
nas oscilações mostra que a órbita é uma curva fechada, com a origem deslocada
levemente do centro.
Para energias negativas entre zero e
F (r ) = F (1/ u ) = Ku 2 , e logo,
d 2u
m
mK
= −u − 2 2 Ku 2 = −u − 2 ,
2
d
Lu
L
d 2u
mK
+u = − 2 .
2
d
L
(4.35)
mK
), sendo que a variável
L2
substitui a variável tempo t ( x → u , t → ) . A solução desta equação
metido a uma força constante (o termo
uh = A cos( − 0 ) ,
(4.36)
(4.37)
u=
1
mK
= − 2 + A cos( − 0 ) .
r
L
Esta é a equação de uma cônica, podendo ser uma elipse, uma hipérbole ou uma
parábola, com o foco em r = 0 , como você verificará logo
a seguir. Uma cônica é obtida pela interseção de um plano com um
Força Central
157
cone, sendo que o ângulo entre o plano e o eixo do cone determina o
tipo de cônica. Por exemplo, se o ângulo é de
, a cônica resultante
é um círculo. As constantes
sendo que
(4.38)
1
mK
=− 2 +A
r1
L
1
mK
= − 2 − A.
r2
L
mK
(condição necessária se K > 0 ), existe soL2
mente um ponto de retorno, ou seja, r1 , pois r não pode ser negativo.
mK
Também não se pode ter A < 2 , pois não teríamos nenhum valor
L
positivo de r para qualquer valor de . O quanto a partícula se afas-
Observe que se
A>−
Vef (r ) =
K
L2
+
= E.
r 2mr 2
do u = 1/ r ,
1/ r1 e 1/ r2 é substituin-
L2 2
u + Ku − E = 0 .
2m
(4.40)
2
1
mK mK 2mE
= − 2 + 2 + 2 ,
r1
L
L
L
(4.41)
2
1
mK mK 2mE
= − 2 − 2 + 2 .
r2
L
L
L
1/2
(4.42)
158
mK 2mE
A = 2 + 2 .
L
L
2
A em termos
Resultado que devemos substituir na equação 4.37 para fornecer a
órbita em termos das condições iniciais. Você já sabe que fornecer a
posição e a velocidade iniciais é equivalente a fornecer a energia total
e o momento angular.
Antes, afirmamos que a equação 4.37 é a equação geral de uma cônica com a origem em
um dos focos. Veremos agora as equações da
elipse, da hipérbole e da parábola em coordenadas polares. A curva
que é obtida por um ponto que se move de tal maneira que a soma de
suas distâncias a dois pontos fixos F e F ´ é constante, é denominada de elipse. Os
pontos
r´
r
0
aε
F´
b
a
Figura 4.8 - Geometria da elipse.
r´+ r = 2a ,
(4.43)
r´2 = r 2 + 4a 2 2 + 4a cos ,
onde
Força Central
r=
a (1 − 2 )
,
1 + cos
159
1
1
cos .
=
+
2
r a (1 − ) a (1 − 2 )
(4.45)
r´
r
α
aε
Ramo +
F´
Ramo -
Como a figura 4.9 mostra, a hipérbole tem dois ramos definidos por:
r´−r = 2a
(ramo +)
r´−r = −2a
(ramo -)
1
1
=±
+
cos ,
2
2
r
a ( − 1) a ( − 1)
onde o sinal positivo (+) refere-se ao ramo (+) e o sinal negativo (–) ao
ramo (–). Da figura 4.9, tiramos também que as assíntotas da hipérbole
(linhas tracejadas na figura) fazem um ângulo com o eixo que passa pelos focos, e
como este ângulo corresponde ao valor do ângulo
160
quando r tende ao infinito, isto é, → para r → ∞ , a equação
4.46 fornece:
1
cos = ± .
(4.47)
A parábola, por sua vez, é uma curva descrita por um ponto de maneira que a sua
distância a uma linha fixa D (a diretriz) é igual a sua
distância a um foco fixo
geometria da parábola.
r
r
F θ
r + r cos = a ,
de modo que a equação da parábola com a origem no foco é:
1 1 1
= + cos .
r a a
(4.48)
1
= B + A cos .
r
(4.49)
(4.50)
Força Central
B=
1
,
a (1 − 2 )
A=
B>A e
.
a (1 − 2 )
161
B=A e
B=
(4.51)
1
,
a
A=
1
.
a
Para uma hipérbole (verifique 4.46), podemos ter 0 < B < A (ramo +), e
(4.52)
B=
1
2
a ( − 1)
A=
a ( − 1)
B=−
1
2
a ( − 1)
A=
2
a ( − 1)
.
B < − A não pode ocorrer, pois r seria negativo para qualquer valor de .
Comparando a trajetória obtida (equação 4.37) com
Note que
A
,
B
=
(4.54)
a=
(4.56)
B
.
A − B2
2
Assim, para o movimento sob a ação de uma força central que varia
com o inverso do quadrado da distância, vê-se, por meio das equações 4.37 e 4.42,
que:
(4.57)
B=−
mK
,
L2
A = B2 +
2mE
.
L2
a=
K
.
2E
= 1+
ou
(4.59)
2mE
,
B 2 L2
= 1+
2 EL2
,
mK 2
da hipérbole).
Todos os resultados apresentados anteriormente quantificam os resultados
qualitativos obtidos por meio da análise da energia potencial efetiva da figura
4.6, mostrando mais uma vez que o mero conhecimento da
energia potencial pode fornecer conclusões importantes a respeito do
movimento de uma partícula quando sob a ação de uma força central.
Força Central
163
dial. Veja a figura 4.11. Descreva o movimento do míssil, determine a altura máxima
atingida e a distância em que ele cairá de retorno a Terra
2
medida ao longo da superfície. Considere que v0 = GM / R , sendo M
e
v0
φ
A
θ´
θ2
Terra
θ1
α= θ2−θ1
θ2= π + θ´
E = 12 mv02 − GMm / R ,
e seu momento angular vale:
L = (mv0sen) R ,
então a excentricidade de sua órbita é:
2
v Rsen GM
= 1− 0
− v02 .
2
GM R
Como
a (1 − 2 )
r=
,
1 + cos
164
a=
GM
.
2GM / R − v02
r=
Com
v02 = GM / R e
R 2 v02sen 2
.
GM (1 + cos )
, vem
r=
= 23 , e assim:
R
4(1 + 23 cos )
r2 =
e logo,
h=
3
2
R
,
2(2 − 3)
Força Central
165
troceder para em seguida avançar recebeu a denominação de movimento retrógrado.
A tentativa de explicar este comportamento dos planetas dentro de
um modelo geocêntrico (a Terra como centro do Universo com os
planetas e o Sol girando ao redor) surgiu com a teoria dos epiciclos,
desenvolvida pelo grego Apolônio (246 a 221 a.C.), a qual mostrava
que um arranjo de movimentos circulares podia gerar um movimento
elíptico. Posteriormente, Hiparco de Nicéia (130 a.C.) apontou algumas
falhas na teoria de epiciclos de Apolônio. Mais tarde, o astrônomo
alexandrino Ptolomeu (100 d.C. a 170 d.C) – baseando-se nas observações de Hiparco,
bem como nas observações de Aristilo e Timocaris,
que foram dois astrônomos de Alexandria, e também nas evidências
de dados gregos e babilônicos – desenvolveu uma descrição matemática detalhada,
baseada também na teoria dos epiciclos, do movimento dos cinco planetas visíveis,
do sol e da Lua, que serviu de base para
toda a astronomia ocidental durante os quatorze séculos seguintes.
Na verdade, o que Ptolomeu conseguiu, de um ponto de vista atual,
foi dar aos planetas órbitas ligeiramente elípticas centradas na Terra,
junto com uma grande aproximação do movimento variável que eles
apresentavam. Somente com Nicolau Copérnico (1473-1543) é que o
movimento retrógrado foi explicado como decorrente do movimento
relativo entre a Terra e os outros planetas, cada qual se movendo em
órbitas heliocêntricas. Entretanto, foi com o trabalho do astrônomo
Johannes Kepler (1571-1630) que o movimento planetário foi descrito
de modo preciso, usando o modelo heliocêntrico de Copérnico, por
meio de leis derivadas das observações astronômicas.
As leis de Kepler do movimento planetário se constituem em um dos
marcos da física, tendo sido crucial para que Newton estabelecesse
sua lei de gravitação. Após quase vinte anos analisando os dados astronômicos -
principalmente referentes ao movimento de Marte cuja
órbita é altamente elíptica - coletados pelo astrônomo Tycho Brahe
(1546-1601), do qual fora assistente, Kepler verificou que existiam importantes
regularidades nos movimentos dos planetas. A partir daí
Kepler estabeleceu três leis empíricas, que descreviam o movimento
observado dos planetas (mas sem qualquer explicação teórica). As
duas primeiras leis foram publicadas em 1609, e a terceira em 1619. As
leis de Kepler são enunciadas como segue:
166
Leis de Kepler
Lei das Elipses: A órbita de cada planeta é uma elipse
com o sol localizado em um dos focos.
Lei das Áreas iguais: O raio vetor do sol ao planeta
varre áreas iguais em tempos iguais.
Lei dos Períodos: O quadrado do período de revolução
de qualquer planeta é diretamente proporcional ao cubo
do semi-eixo maior de sua órbita.
T=
b = a 1 − 2 , de
2m 2
a 1 − 2 .
L
T 2 = 42
m 3
a .
K
m , o que iria
T2 =
42 3
a .
M sG
E, portanto, a constante de proporcionalidade entre
T 2 e a 3 é a mes-
ma para todos os planetas, o que concorda com a terceira lei de Kepler, deduzida a
partir dos dados astronômicos acerca do movimento
Força Central
167
dos planetas em nosso sistema solar. O resultado de 4.62 permite determinar a massa
do Sol, uma vez determinado o valor da constante de gravitação G . O valor de G
pode ser obtido em laboratório
medindo-se a de maneira extremamente precisa a força gravitacional
entre dois corpos de massa conhecidas. Experimentos para se determinar o valor da
constante de gravitação são difíceis de realizar, pois
as forças gravitacionais são extremamente pequenas, motivo pelo
qual G é uma das constantes físicas conhecidas com menor precisão.
Note que todo o nosso conhecimento atual sobre as massas de corpos
astronômicos (incluindo a Terra) é baseado no valor da constante de
gravitação. Por exemplo, assumindo que a órbita da Terra seja cir11
cular de raio a = 1,5 x10 m e usando o seu período orbital, a massa
do Sol é obtida a partir de
M s = 4 2 a 3 / GT 2 ≅ 2 x1030 kg . Da mesma
M T = gRT2 / G .
g e da constante
Semi-eixo
Excentricidade
Planeta
T2
a3
Mercúrio
0, 241
0, 0581
0, 387
0, 0580
0, 206
Vênus
0, 615
0,378
0, 723
0,378
0, 007
Terra
1, 000
1, 000
1, 000
1, 000
0, 017
Marte
1,881
3,538
1, 524
3,540
0, 093
Júpiter
11,86
140, 7
5, 203
140,8
0, 048
Saturno
29, 46
867,9
9,539
868, 0
0, 056
Urano
84, 01
7.058
19,18
7.056
0, 047
Netuno
164,8
27.160
30, 06
27.160
0, 009
Plutão
247, 7
61.360
39, 44
61.350
0, 249
168
os semi-eixos em unidades astronômicas
Neste sistema de unidades, temos que
42
= 1 , e assim T 2 = a 3 ,
GM s
como você pode verificar na tabela 4.1. Note que os planetas com
órbitas mais elípticas são Mercúrio, Marte e Plutão, sendo que os demais,
principalmente Vênus e Netuno têm órbitas aproximadamente circulares. Os cometas,
em geral, têm órbitas bastante elípticas.
Por exemplo, a velocidade orbital do cometa Halley no periélio é de
≅ 0,967 .
Plutão
A partir do fim do século XIX, muitos astrônomos propuseram a existência de
planetas no sistema solar em órbitas
mais distantes que a de Netuno. A tarefa monumental de
analisar visualmente centenas de placas fotográficas coube ao jovem astrônomo Clyde
Tombaugh (1906-1997).
Ao estudar duas exposições fotográficas feitas em janeiro
de 1930, Tombaugh descobriu o nono planeta, que receberia o nome de Plutão. Sabe-se
agora que o diâmetro
de Plutão é de 2320 km (menor que a Lua) e sua massa
é apenas 0,2% da massa da Terra. Devido a estas características, a 26a Assembléia
Geral da União Astronômica
Internacional (IAU), realizada em agosto de 2006, classificou este astro não como
um planeta, mas como sendo
um dos membros mais internos do cinturão de Kuiper
(em homenagem a Gerard Kuiper (1905-1973), que propôs
a existência, em 1950, de corpos (cinturão de asteróides)
em órbitas em torno do sol mais distantes que Netuno).
Força Central
169
Planeta
Velocidade orbital
Velocidade rotacional
Valor de g
(km/h)
Dia
Mercúrio
172.305, 0
58, 6
10, 9
0, 27
Vênus
126.051, 0
24,3
6, 6
0,86
Terra
107.206, 0
1.673, 0
Marte
86.852, 0
1d 37 min 23s
867, 0
0,37
Júpiter
47.041, 0
9h55m
45.633, 0
2, 64
Saturno
34.777, 0
10h38m
36.997, 0
1,17
Urano
24.602, 0
10h 42m
9.313, 0
0,92
Netuno
19.715, 0
15h 48m
9.656, 0
1, 44
Plutão
17.088, 0
12,4
49, 0
(km/h)
Fij a força que o corpo de massa mi exerce sobre o corpo de
m j . Aqui, rˆij é um vetor unitário segundo um segmento de reta
que une o corpo j ao corpo i . Como rˆji = − rˆij , a força gravitacional
entre dois corpos satisfaz a terceira lei do movimento Fij = − F ji . É
Sendo
massa
170
Se desejarmos determinar a força entre dois corpos extensos, deve-se
supor cada corpo como constituído de partículas e calcular a força entre elas. Com
este objetivo, Newton desenvolveu o Cálculo Integral.
Vejamos como Newton chegou à lei de gravitação. Durante os anos de
1665-1666, Newton afastou-se da Universidade de Cambridge devido à
peste bubônica que assolava Londres. Nesta época, em sua casa em
Woolsthorpe, Newton envolveu-se com estudos que o ocupariam pelo
resto de sua vida: Matemática, Mecânica, Óptica e Gravitação. A interpretação do
peso de um corpo como uma força de atração entre ele e a
Terra foi uma idéia que ocorreu a Newton e a alguns de seus contemporâneos, como
Robert Hooke (1635-1703) e Edmond Halley (1656-1742).
A tradicional imagem de Newton sentado sob uma macieira com uma
maçã caindo-lhe na cabeça serve, na realidade, para ilustrar como
Newton refletiu acerca da natureza da gravidade, perguntando a si
mesmo se a força que causa a queda de um corpo (a maçã) não seria
a mesma que mantém a Lua em sua órbita em torno da Terra. Newton
foi o primeiro a perceber que a Lua devia ter uma aceleração em seu
movimento orbital, uma aceleração dirigida para a Terra, aceleração
esta devido a uma força centrípeta.
Ele percebeu que esta força era a mesma com que a Terra atrai os corpos em direção
a sua superfície, pois o comportamento cinemático da
Lua é diferente de um corpo que cai em direção à Terra. A Lua caindo
não atinge a superfície da Terra, pois ela tem velocidade tangencial
suficiente para que, à medida que cai de uma distância h , se afaste
da superfície curva da Terra da mesma quantidade, mantendo assim a
mesma distância da superfície da Terra, como mostra na figura 4.12.
Lua x
h
R-h
h
R
Terra RT
171
Ninguém havia suspeitado, até aquela época, que a aceleração centrípeta da Lua e a
aceleração gravitacional de uma maçã caindo na superfície da Terra tinham a mesma
origem. Newton demonstrou que se
uma maçã caindo tivesse uma componente horizontal da velocidade
suficientemente grande, seu movimento seria o mesmo que o da Lua.
Isto é, a maçã entraria em órbita próxima à superfície da Terra.
Obviamente este é um experimento hipotético, onde não haveria a
resistência do ar e nem obstáculos. Saiba que a velocidade necessária é
extremamente alta. Para uma órbita circular de raio R , onde R
Força Central
173
fixo no espaço, o que não é verdade, devido à atração gravitacional
que os planetas exercem sobre ele. Como a massa do Sol é muito
maior do que a massa de qualquer dos planetas, este efeito é pequeno
e pode ser corrigido, como veremos no capítulo 5, quando analisarmos o problema de
dois corpos.
Segundo, porque cada planeta é atraído pela força gravitacional dos
outros planetas, assim como pelo Sol. As forças gravitacionais entre
os planetas, apesar de serem pequenas, produzem desvios pequenos,
porém mensuráveis, das leis de Kepler. Os desvios esperados podem
ser calculados por métodos apropriados, e eles concordam com observações
astronômicas muito precisas. Por exemplo, um dos primeiros triunfos, senão o
primeiro da mecânica de Newton, deve-se a seu
colega Edmond Halley.
Halley percebeu que o aparecimento dos cometas em 1531 e 1607 parecia ter alguma
ligação com o cometa de 1682. Halley presumiu que
era o mesmo cometa e calculou seu regresso para 1758, usando a lei
de gravitação de Newton para calcular o retardo devido à atração
gravitacional de Júpiter. E, de fato, ele reapareceu na data prevista,
embora com o atraso de alguns dias, pois o efeito de Júpiter foi um
pouco maior que o calculado por Halley.
Também o planeta Netuno foi descoberto, antes de ser observado, a
partir dos efeitos causados na órbita de outros planetas. Observações
do planeta Urano, realizadas durante quase sessenta anos após sua
descoberta, em 1781, mostraram desvios inexplicáveis em sua órbita
prevista, mesmo depois de se incluírem as correções devidas aos efeitos
gravitacionais causados por outros planetas conhecidos.
Por meio de análise matemática cuidadosa e elaborada dos dados disponíveis, John
Couch Adams (1819-1892) e Urbain Jean Leverrier (1811-1877)
foram capazes de demonstrar, por volta de 1846, que os desvios poderiam ser
explicados caso se admitisse a existência de um planeta desconhecido, mais afastado
do que Urano. Eles calcularam a órbita do planeta desconhecido e naquele mesmo ano
Leverrier solicitou ao astrônomo
Johann Galle (1812-1910), do observatório de Berlim, que examinasse o
céu na área provável da localização do planeta desconhecido. Esta observação
mostrou que lá estava Netuno, na órbita prevista.
A contínua observação do movimento dos planetas do nosso sistema
solar trouxe novos fatos. A observação do planeta Mercúrio, desde 1631,
mostrou a precessão do eixo maior de sua órbita, com velocidade angular de 41
segundos de arco por século, além de perturbações atribuídas
174
aos efeitos gravitacionais dos outros planetas. Pensou-se, anteriormente,
que este resultado poderia ser obtido considerando-se os efeitos gravitacionais
causados por poeiras no sistema solar, mas pode-se demonstrar
que a quantidade de poeira é muito pequena para produzir tal efeito.
Atualmente, acredita-se que o efeito se deve a pequenas correções introduzidas na
teoria da gravitação, requeridas pela teoria da Relatividade
Geral. Mas, o mais importante é que, excluindo-se situações especiais
de campos gravitacionais muito intensos ou distâncias extremas que
requerem o uso da relatividade geral, a observação de corpos celestes
a distâncias incrivelmente grandes tem mostrado que seus comportamentos são
consistentes com as leis da mecânica newtoniana. Portanto,
a dinâmica de corpos celestes é completamente descrita pela mecânica
newtoniana, revelando a universalidade da lei de gravitação.
A firme convicção na validade universal da lei de gravitação de Newton
pode ser ilustrada pela procura da matéria escura no Universo. Uma
das razões para se pensar que uma enorme quantidade de matéria
não visível preenche o universo, numa quantidade talvez dez vezes a
matéria visível, está na dinâmica das galáxias espirais (aglomerados
girantes de mais de cem bilhões de estrelas na forma de um disco). As
observações indicam que as velocidades de rotação das estrelas mais
afastadas do centro são muito maiores que as previstas pela mecânica de Newton,
admitindo-se apenas a existência da matéria visível.
Por exemplo, o Sol está a uma distância de 28.000 anos-luz (distância
que a luz percorre em um ano) do centro de nossa galáxia e sua velocidade orbital
em torno do centro é 217km/s ≅ 782.000 km/h , que
é um valor muito superior ao calculado usando-se o resultado obtido,
como já vimos, pela terceira lei de Kepler, v = GM gal / r , onde M gal
é a massa da galáxia e
Força Central
175
4.5 Força do Inverso do Quadrado Repulsiva – O
Problema de Rutherford
Após a descoberta do elétron por J. J. Thomson (1856-1940) em 1897,
surgiu um modelo para a constituição atômica da matéria, com os
átomos sendo entendidos como uma bolha de carga positiva onde se
encontravam embebidos os elétrons. Este modelo foi sugerido inicialmente por Lorde
kelvin (1824-1907), sendo posteriormente refinado
por Thomson, motivo pelo qual este modelo atômico é conhecido por
modelo atômico de Thomson.
Em 1907, Ernest Rutherford (1871-1937) e o físico experimental Hans Geiger (1882-
1945) iniciaram uma série de medidas para testar a validade
do modelo de Thomson. A idéia era dirigir um feixe de partículas recentemente
descobertas e emitidas por núcleos radiativos, as partículas
alfa, em direção a uma fina folha de metal. Uma análise detalhada do
espalhamento destas partículas deveria fornecer informações acerca da
estrutura atômica. Com a colaboração do aluno Ernest Marsden, os experimentos foram
realizados por Geiger durante alguns anos.
Os resultados mostraram que havia ângulos de espalhamento muito
grandes que o modelo de Thomson não podia explicar. De fato, algumas partículas
alfa eram espalhadas de volta, ou seja, um ângulo de
espalhamento de 1800. Como um modelo que explicasse os resultados
para o espalhamento das partículas alfa, Rutherford propôs que os
átomos se constituíssem de pequenos núcleos massivos com elétrons
girando em órbitas elípticas, em completa analogia com os planetas
girando em torno do Sol.
Este modelo, apesar de explicar o espalhamento das partículas alfa,
tinha um grave defeito. O eletromagnetismo, desenvolvido por James
Clerk Maxwell (1831-1879), prevê que cargas aceleradas irradiam energia
eletromagnética, de modo que os elétrons em órbitas em torno de
núcleos atômicos iriam perdendo energia continuamente e suas órbitas
seriam espiraladas em direção ao núcleo, levando ao colapso atômico.
Isto é, os átomos não seriam estáveis. A solução para o problema da
estabilidade atômica foi proposta por Niels Bohr, que postulou que os
elétrons, em suas órbitas, não irradiavam energia e que a passagem
de uma órbita para outra se daria mediante a absorção ou emissão de
uma determinada quantidade de energia eletromagnética.
Surgia, assim, a percepção que a mecânica de Newton não era aplicável no nível
atômico e molecular e uma nova mecânica era necessária, que posteriormente se
denominaria de mecânica quântica.
176
Nosso interesse aqui é verificar como Rutherford analisou o espalhamento das
partículas alfa por núcleos atômicos. Como o núcleo atômico tem massa muito maior
do que a massa da partícula alfa, ele
se mantém praticamente fixo durante o espalhamento, de modo que
podemos utilizar os resultados da seção 4.4, onde, para energias positivas,
obtivemos trajetórias hiperbólicas para forças que dependem
do inverso do quadrado da distância (forças atrativas ou repulsivas).
Assim, a partícula alfa segue uma trajetória hiperbólica ao passar
próximo a um núcleo atômico. Como temos o espalhamento de partículas atômicas, a
região em que a trajetória se afasta de uma assíntota
para outra é muito pequena, isto é, alguns poucos Angströns
b
aε
α
a
mv0
Figura 4.13 - Órbita hiperbólica.
tg
Θ
= cot g =
2
1
2 − 1
(4.64)
Θ
mK 2
tg =
,
2
2 EL2
de onde vemos a dependência com a energia e o momento angular da
partícula alfa. A partícula alfa tem uma velocidade v0 quando muito
Força Central
177
afastada do núcleo e se desloca numa direção tal que, se não for desviada, passará
a uma distância b do centro de força ( F ) , como se mostra
q1 e o núcleo carga q2 ,
temos K = q1q2 / 4 0 , de modo que substituindo os valores de E , L
e K na equação 4.64, obtém-se:
(4.65)
tg
qq
Θ
1
=( 1 2 ) 2 .
2
4 0b mv0
Note que se o parâmetro de impacto for nulo, temos uma colisão frontal e a equação
4.65 mostra que o ângulo de deflexão será de 180
graus (Θ = ) . Em experiências de espalhamento típicas, um feixe de
partículas carregadas pode ser lançado numa direção definida através
de uma folha muito fina de metal. Muitas das partículas emergem da
folha em direções diferentes da incidente, depois de serem defletidas
de um ângulo Θ pela colisão com os núcleos atômicos. Para se colocar a equação 4.65
numa forma que possa ser comparada com a
experiência, é preciso eliminar o parâmetro de impacto b , que não
pode ser determinado experimentalmente.
Na experiência, pode-se observar a fração de partículas incidentes
que são espalhadas em vários ângulos Θ . O resultado é expresso
em termos da seção de choque, que é definida como segue. Se N
partículas incidentes colidirem com uma folha fina de metal contendo
dN
= nd .
N
178
Θ
F
b
db
dσ
qq
dΘ
= − 1 2 2 2 db .
2
2 cos (Θ / 2)
mb v0
(4.68)
q1q2 2 senΘ
d =
dΘ .
2
4
8 0 mv0 sen (Θ / 2)
Para que possamos ter uma idéia das dimensões nucleares, devemos
usar algum resultado experimental. Considere partículas alfa emitidas
Força Central
179
−19
r1 = a ( + 1) =
(4.69)
r1 =
K
2 EL2
(1 + 1 +
),
2E
mK 2
32 2 02 EL2
q1q2
1 + 1 +
8 0 E
mq12 q22
.
Note que determinamos em 4.69 o valor do parâmetro de impacto, de modo que agora já
conhecemos o valor do momento angular
r1 =
q1q2
, que é da or4 0 E
180
O resultado quanto-mecânico para a seção de choque é o mesmo
dado pela equação 4.68, mostrando que a mecânica clássica fornece
o resultado correto para este problema.
Resumo
Forças centrais são forças dirigidas sempre para um centro fixado O ,
cujo módulo só é função da distância entre a partícula e a origem O .
A força central F em coordenadas esféricas se expressa como:
ˆ (r ) .
F (r ) = rF
V (r ) = − ∫ F (r )dr .
rr
dL
=0.
dt
L = mr 2 = CONSTANTE,
para o movimento sob força central. A energia mecânica é uma constante do
movimento, que em coordenadas polares fica expressa como:
E=
1
1
m r 2 + mr 2 2 + V (r ) = CONSTANTE.
2
2
Vef (r ) = V (r ) +
As soluções
Força Central
L2
.
2mr 2
d 2u
m
= −u − 2 2 F (1/ u ) .
2
d
Lu
Equação diferencial que fornece a trajetória (ou a órbita) em termos
de
u () =
1
.
r ()
A=
L
T.
2m
F=
A energia potencial é:
K
rˆ .
r2
V (r ) =
K
.
r
q1q2 2 senΘ
d =
dΘ .
2
4
8 0 mv0 sen (Θ / 2)
Expressão que concorda com os resultados experimentais.
Exercícios
1) Mostre que o raio da órbita circular de um satélite cujo período de
revolução é 24 horas é
182
r=
g
RT ≅ 6, 7 RT , onde é a freqüência
RT
2
angular de rotação da Terra.
4 6a 2
F (r ) = −k 3 + 5 .
r
3r
a são constantes. Considerando que a velocidade da partí8
k / 6 , pede-se para calcular:
cula é v0 =
3a
Onde k e
a) O momento angular.
b) A energia total.
c) A energia potencial efetiva. Faça um gráfico da energia potencial efetiva.
d) A trajetória em coordenadas polares.
e) O tempo que a partícula leva para atingir a origem.
a) A distância percorrida até atingir a origem.
Respostas: a) L = 4 k / 6 ; b) E = Ec + V = 0 ;
2 3a 2
2
c) Vef (r ) = k ( 2 − 4 ) ; máximo em r = 3
a;
3r
2r
2
d) r =
3
9 a 2
a cos
; e) t =
2
32
2
3
; f) s = 3a / 2 .
k
Força Central
183
cular, qual será o período das pequenas oscilações radiais em
torno de r = a ?
Respostas: a) E = 3Ka 4 ; L = 2a 3 mK ; b) T =
c) Tr =
1
6 a
m
1
T.
=
K
6
a
m
;
K
r = k 2 (espiral),
b)
r = Ke ,
Respostas: a) F (r ) = −
L2 6k 1
(1 + 2 ) L2 / m
+
;
b)
.
F
(
r
)
=
−
m r4 r3
r3
6) Uma partícula movendo-se sob influência de uma força gravitacional descreve uma
órbita circular de raio
cula for subitamente parada, ela irá atingir o centro de força depois de
um tempo
t=
4 2
, onde
7) Considere que uma partícula esteja sob a ação de uma força cenF (r ) = −k / r
n . Se a órbita da partícula é circular e passa
pelo centro de força, mostre que n = 5 .
8)
184
n −1
.
n +1
5
Dinâmica de um
Sistema de Partículas
5
Dinâmica de um Sistema de
Partículas
187
sobre a Terra e a Terra sobre o Sol. Isto é, temos um problema de dois
corpos que foi reduzido ao problema de um único corpo sob ação de
uma força central. Então, como se resolve o problema de dois corpos?
Este problema será resolvido neste capítulo, quando tratarmos do problema
específico de dois corpos. Outro fato importante é que com a
dinâmica de uma partícula, não podemos resolver situações físicas em
que a massa do sistema é variável, onde o exemplo clássico é o foguete.
Logo, fica claro que é necessário estender o estudo da mecânica para
um sistema de partículas submetidas a forças internas, que as próprias
partículas exercem umas sobre as outras, e a forças externas que as
partículas podem estar submetidas. As forças externas são causadas
por agentes externos ao sistema de partículas considerado.
Para iniciar o nosso estudo, considere um sistema de N partículas de
massas m1 , m2 ,..., mN , cujas posições são especificadas pelos vetores
r1 , r2 ,..., rN . O centro de massa deste sistema de partículas é definido por:
m1r1 + m2 r2 + ... + ... + mN rN
rcm =
=
m1 + m2 + ... + mN
(5.1)
Onde
∑m r
i =1
i i
(5.2)
xcm =
∑ mi xi
i =1
ycm =
∑ mi yi
i =1
zcm =
∑m z
i =1
i i
(5.3)
N
N
P = ∑ pi = ∑ mvi .
i =1
188
i =1
A partir da equação 5.1, obtemos a velocidade do centro de massa,
N
r cm = vcm =
•
(5.4)
•
∑m r ∑m v
i =1
i i
i i
i =1
P = Mvcm ,
(5.5)
vcm . Iremos agora analisar a dinâmica deste sistema de
F1e , F2e ,..., Fi e ,..., FNe
atuando sobre as respectivas partículas do sistema e também a existência de forças
internas que as partículas exercem umas sobre as outras e que designamos por Fij ,
significando a força que a j-ésima partícula exerce sobre a i-ésima partícula. É
importante que fique claro
para você que nestemodelo não existe força de uma partícula sobre
ela mesma, isto é, Fii = 0 . A equação de movimento para a i-ésima
partícula é:
N
••
mi ri = Fi e + ∑ Fij ,
(5.6)
j =1
e
onde Fi significa a força externa total sobre a partícula. A somatória
na equação (5.6) representa a soma vetorial de todas as forças internas sobre a
partícula i. Temos, assim, N equações de movimento,
uma para cada partícula. Podemos somar as equações de movimento
para todas as partículas, o que resulta em:
N
N N
••
N •
e
m
r
=
p
=
F
+
∑ i i ∑ i ∑ i ∑∑ Fij .
N
(5.7)
i =1
i =1
i =1
i =1 j =1
Ao efetuarmos
5.7, vamos encontrar para
a soma dupla na equação
cada força Fij a correspondente F ji . Desde que consideramos a validade das leis
de movimento para as partículas que compõem o sistema, as forças internas que atuam
de partículas devem
em pares
satisfazer a terceira lei de Newton, Fij = − F ji . Logo, as forças internas
na equação 5.7 se cancelam em pares e a soma dupla é nula.
Dinâmica de um Sistema de Partículas
189
N
(5.8)
i =1
i =1
N e
Agora, definimos F = ∑ Fi como sendo a força externa total atuani =1
dP
=F.
dt
(5.9)
dvcm
dP d
= Mvcm = M
=F,
dt dt
dt
ou
••
M r cm = Macm = F .
(5.10)
E
quação que expressa um resultado importante: a aceleração do centro de massa de um
sistema de partículas
é a mesma que a de uma única partícula de massa igual à
massa total do sistema, sob a ação da soma de todas as forças externas que atuam no
sistema de partículas.
F = 0 , a aceleração é nula e
dP
=0
dt
190
P = Mvcm = constante.
Este é o principio da conservação do momento linear, que afirma que
o momento linear total de um sistema isolado permanece constante.
Note que chegamos a estabelecer este princípio com base na validade da terceira lei
de Newton, a qual é suficiente na sua forma fraca.
Consideremos alguns exemplos. No caso da Terra em seu movimento orbital, o centro
de massa da Terra move-se como se fosse uma
partícula de massa igual à da Terra e submetida a uma força igual
à soma das forças exercidas pelo Sol, a Lua e o os outros planetas.
Quando lançamos uma corrente no ar, o centro de massa da corrente
move-se como uma partícula de mesma massa que a corrente, sujeita
a uma força igual ao peso da corrente, portanto o centro de massa
da corrente descreve uma trajetória parabólica (desprezando-se a resistência do
ar). Quando lançamos uma granada no ar e ela explode
em certo ponto de sua trajetória, o centro de massa dos fragmentos
continuará a se mover sobre a trajetória parabólica original, pois o
centro de massa se comporta como uma partícula de massa igual à
massa total de todos os fragmentos. O peso dos fragmentos não varia
com a explosão porque a força da gravidade é constante próximo à
superfície da Terra. Devemos notar, entretanto, que se a força não fosse constante,
mas dependesse da posição, os fragmentos resultantes
da explosão estariam sujeitos a forças diferentes daquelas que atuam
ao longo da trajetória original. E a trajetória do centro de massa não
continuaria a ser a mesma de antes da explosão porque a soma das
forças externas seria diferente. Por exemplo, se um planeta explode
devido a algum cataclisma cósmico, o centro de massa dos fragmentos não irá seguir
a trajetória elíptica original do planeta, pois as forças sobre os fragmentos
seriam diferentes.
Na verdade, o princípio da conservação do momento linear de um
sistema isolado tem validade mesmo quando a terceira de lei Newton
não se aplica, como acontece com as forças magnéticas entre cargas
elétricas em movimento. Quando as cargas acham-se em movimento,
seus campos elétricos e magnéticos propagam-se com a velocidade
da luz, de maneira que se o movimento relativo entre as cargas for rápido, as
forças existentes entre elas podem, ou não, em cada instante,
serem iguais e opostas. Neste caso, a lei de conservação do momento
linear permanece válida se levarmos em conta o momento linear total
das partículas e o momento linear associado aos campos eletromagnéticos. Não iremos
considerar este tipo de situação neste curso.
Exemplo 1. Como uma aplicação simples do princípio da conservação
do momento linear, considere a situação em que um míssil de massa
191
v1
v0
φ
v0
φ
v2
Figura 5.1 - Direções dos fragmentos do míssil do exemplo 1.
m m m
mv0 = v1 + v2 v3 ,
3
3 3
sendo fornecidos v1 = v0 / 2 e v2 = v3 com v2 • v3 = 0 , pois estes dois
fragmentos fazem um ângulo reto entre si. Substituindo v1 na equação acima, vem:
5
v0 = v2 + v3 .
2
Efetuando-se o produto escalar em cada membro por ele mesmo, obtém-se:
25
v0 • v0 = (v2 + v3 ) • (v2 + v3 ) = v22 + v32 + 2v2 • v3 ,
4
192
e, portanto:
v2 = v3 =
5
2 2
v0 .
Note que este exemplo pode ser resolvido decompondo-se as velocidades segundo os
eixos ortogonais da figura 5.1. Você deve resolver
este exemplo dessa maneira, mostrando que o ângulo na figura 5.1
(mv02 / 2) .
N
L = ∑ Li ,
i =1
(5.11)
N
L = ∑ (ri × mi vi ) .
i =1
N
dL N
= ∑ (vi × mi vi ) + ∑ (ri × mi ai ) .
dt i =1
i =1
193
dL N e N
= ∑ ri × ( Fi + ∑ Fij ) ,
dt i =1
j =1
(5.14)
dL N e N N
= ∑ ri × Fi + ∑∑ ri × Fij .
dt i =1
i =1 j =1
(ri × Fij ) + (rj × Fji ) .
(5.15)
mj
rij
rj
o
Figura 5.2 Definição do vetor
ri
mi
rij .
Considerando
que
as forças internas satisfazem a terceira lei de
Newton, Fij = − F ji , podemos reescrever a equação 5.15 como:
(5.16)
−(rj − ri ) × Fij = −rij × Fij .
Fij estiver orientada segundo a linha que une
o par
de partículas i e j, o produto vetorial de 5.16 é nulo, pois rij / / Fij . Por-
Se a força interna
194
dL N e
= ∑ ri × Fi = T .
dt i =1
A
equação 5.17 mostra que para um sistema de partículas, a taxa de variação temporal
do momento angular total é igual ao torque externo total
atuando sobre o sistema. Este é o teorema do momento angular expresso para um
sistema de partículas.
dL
= 0 → L = Constante .
dt
(5.18)
195
observa que seis horas depois seu eixo está na direção vertical
apontado para baixo. Mas, você sabe por quê? Note que
é
constante, não mudando sua direção no espaço, e esta aparente
rotação do eixo do giroscópio é, na realidade, devida à rotação
da Terra. A figura 5.3 mostra claramente o que acontece.
ϖ
1
2
ϖ
3
N
ϖ
A
196
O popular pião é uma espécie de giroscópio que fica submetido a um
torque externo devido à força peso. Este é um exemplo em que o torque
é perpendicular ao vetor momento angular, fazendo com que o eixo de
rotação do pião gire ao redor de um eixo fixo no espaço. Este movimento
é denominado de precessão. Quando um corpo rígido gira em torno de
um
seu momento angular
eixo principal (em geral, um eixo de simetria),
L é proporcional à velocidade angular , L = I , onde a constante I é
M = 60kg em uma
cadeira giratória, girando com velocidade angular i , estando com os
braços esticados e tendo em cada mão uma esfera de massa m = 1kg .
Qual é a velocidade angular dessa pessoa após ela rapidamente encolher os braços,
trazendo as esferas para junto do corpo? Admita
que inicialmente, cada esfera esteja a uma distância a = 1m do eixo
de rotação e que após a pessoa encolher os braços, esta distância
seja reduzida para a /10 = 0,1m . Suponha a pessoa, antes e depois de
encolher os braços, como uma partícula de massa
distância
M girando a uma
Li = ( MRG2 + 2ma 2 ) i .
Enquanto que o momento angular após a pessoa encolher os braços é:
L f = ( MRG2 + 2m
a2
) f .
100
Como o momento angular é conservado
Li = L f , obtemos para f :
197
MRG2 + 2ma 2
i .
a2
2
MRG + 2m
100
f = 1,36 i , significando um
ri = rcm + ricm ,
(5.19)
onde
ricm é o vetor posição da partícula i em relação ao centro de
massa.
riCM
ri
CM
ricm .
rCM
vi = vcm + vicm ,
(5.20)
198
N
N
= ∑ (rcm × mi vcm ) + ∑ (rcm × mi vicm )
i =1
i =1
N
+∑ (ricm × mi vcm )+∑ (ricm × mi vicm )
i =1
i =1
ou
N
N
L = rcm × (∑ mi )vcm + rcm × ∑ mi vicm
(5.21)
i =1
i =1
i =1
i =1
+∑ (mi ricm ) × vcm +∑ (ricm × mi vicm )
Agora, a partir da equação 5.19, vem:
N
(5.22)
N
N
N
m
r
=
m
(
r
−
r
)
=
m
r
−
(
∑ i icm ∑ i i cm ∑ i i ∑ mi )rcm = 0 ,
i =1
i =1
i =1
i =1
(5.23)
∑m v
i =1
i icm
N
N
N
= ∑ mi (vi − vcm ) =∑ mi vi − (∑ mi )vcm = 0 ,
i =1
i =1
i =1
N
L = rcm × Mvcm +∑ (ricm × mi vicm ) .
i =1
Ou ainda
(5.25)
L = Lcm +Licm .
N
1
Ec = ∑ mi vi2 .
i =1 2
199
Como no caso do momento angular da seção anterior, podemos expressar a energia
cinética em termos do movimento do centro de massa mais o movimento das partículas
em relação ao centro de massa.
Usando a equação 5.20, podemos escrever:
N
N
1
1
Ec = ∑ mi vi • vi = ∑ mi (vcm − vicm ) • (vcm − vicm ) ,
i =1 2
i =1 2
N
N
N
1
1
2
2
Ec = ∑ mi vcm
− ∑ mi (vcm • vicm ) + ∑ mi vicm
,
i =1 2
i =1
i =1 2
Ec =
N
N
1
1
2
2
Mvcm
− vcm • ∑ mi vicm + ∑ mi vicm
.
2
i =1
i =1 2
Ec =
(5.27)
N
1
1
2
2
Mvcm
+ ∑ mi vicm
,
2
i =1 2
Ec = Ecm + Eicm .
(5.28)
dvk
mk
= −∇ kV i + Fke
dt
,
(5.29)
sendo
Fke
força
externa
sobre
partícula
e
onde
∂
∂
∂
∇ k ≡ iˆ
+ ˆj
+ kˆ
. Multiplicando ambos os membros da
∂xk
∂yk
∂zk
equação 5.29 pela velocidade, vêm:
200
d 1
dv
mk vk • k = ( mk vk • vk ) = −vk • ∇ kV i + vk • Fke .
dt dt 2
Somamos agora sobre todas as partículas,
N
d 1
i N e
2
(
m
v
)
v
=
−
∑
∑
k k
k • ∇ kV + ∑ vk • Fk .
k =1 dt 2
i =1
i =1
N
(5.30)
Desde que
(5.31)
N
N
dV i
∂V dxk ∂V dyk ∂V dzk
= ∑(
+
+
) = ∑ vk • ∇ kV i .
dt
∂yk dt ∂zk dt
k =1 ∂xk dt
k =1
dEc
d N 1
dV i N e
2
m
v
(
)
=
=
−
+ ∑ vk •Fk ,
∑ k k dt
dt k =1 2
dt k =1
N
d
( Ec + V i ) = ∑ vk • Fke .
dt
k =1
Ec + V i = E = Constante .
201
Outro exemplo que podemos caracterizar é o foguete. Foguetes propulsionam a si
mesmos queimando combustível de forma explosiva
e ejetando os gases resultantes a altas velocidades e, portanto, eles
perdem massa à medida que aceleram. Nesta seção, iremos considerar alguns exemplos
de sistemas com massa variável.
Exemplo 3. Um exemplo típico de massa variável
é o da esteira ro
lante. Neste problema, deve-se obter a força F necessária para manter uma esteira
rolante com velocidade constante enquanto deixa-se
cair continuamente material de um reservatório em repouso como se
mostra na figura 5.5.
P = ( m + M )v .
Aplicando o teorema do momento linear, vem:
(5.35)
F=
dP
dm
=v
.
dt
dt
202
também saber que potência é suprida por esta força. Como a potência
é dada pelo produto Fv , obtém-se:
Pot = Fv = v 2
(5.36)
Pot = 2
(5.37)
dm d
d 1
= mv 2 = 2 ( mv 2 ) ,
dt dt
dt 2
dEc
d 1
2
.
( m + M )v = 2
dt 2
dt
dFa = − (dm) g ,
é o coeficiente de atrito cinético entre o material e a esteira. E a
desaceleração para a direita da quantidade dm do material é
a = dFa / dm = − g . Assim, a distância percorrida pelo material até
onde
2ad = 0 − v02 = −v 2 ,
pois a velocidade final é zero e a inicial é
v0 = −v . Substituindo o valor
da desaceleração, vem:
d = v 2 / 2 a = v 2 / 2 g .
O trabalho
e a potência é:
203
(5.38)
PFa =
dWFa
dE
1 dm d 1 2
= v2
= ( mv ) = c .
dt
dt
2 dt dt 2
(5.39)
dEc
= Pot / 2 , de modo que:
dt
dEc dWFa
+
= Pot .
dt
dt
Desta maneira, fica claro por que não temos conservação da energia
mecânica, pois a potência suprida pela força F é igual à taxa com
que a energia cinética do sistema cresce mais a taxa do trabalho realizado contra a
força de atrito. A equação 5.39 explicita a conservação
da energia, incluindo aqui outras formas de energia além da mecânica, como calor
e/ou energia associada às deformações microscópicas
devido às forças de atrito entre o material e a esteira. Assim, metade
da energia empregada é dissipada sob forma de calor e deformações
microscópicas e metade é empregada para o aumento da energia cinética do sistema.
Note que, independentemente do valor da desaceleração do material que cai na
esteira (podendo ser 1 segundo ou
(1/50) segundo), a potência desenvolvida pelas forças entre o material
e a esteira é sempre exatamente igual à metade da potência suprida
pela força aplicada F .
uma massa
m , movendo-se com velocidade v em relação a um sis-
ve
dm
ve a velocidade de exaustão dos gases (velocidade de escape dos
para indicar que o sistema perde massa) seja expelida. A massa do fo
guete será, então,m + dm e sua velocidade v + dv . O momento linear
no instante
t é P (t ) = mv , enquanto que no instante t + dt , o mo-
mento
linear do sistema será a soma do momento linear do foguete
204
P(t + dt ) = PF (t + dt ) + Pgas (t + dt ) ,
P(t + dt ) = (m + dm)(v + dv ) + (−dm)(v + ve ) .
dP = dP(t + dt ) − dP ≅ mdv − ve dm .
Pelo teorema do momento linear, a força externa total aplicada é igual
à taxa de variação temporal do momento,
(5.40)
dP
dv dm
F=
= m − ve
.
dt
dt
dt
dv dm
= ve
+F ,
dt
dt
à direção da velocidade
dm / dt < 0 , de modo que o impulso será oposto
de escape dos gases de exaustão. A força F pode ser a força gravitacional, se
ignoramos o atrito com o ar, ou pode ser a soma da força gravitacional mais a força
de resistência do ar. Para
medirmos a potência do
motor do foguete, devemos medir a força F0 para mantê-lo
estacioná
rio, ou seja, com aceleração nula, e neste caso com
F = 0 , vem:
dm
−ve
= F0 ,
dt
e assim, medindo-se
te
ve dm / dt .
F0 , determinamos o impulso do motor do fogue-
dv dm
= ve
.
dt
dt
v0 e a massa inicial do
∫ dv = ve
v0
dm
,
m
m0
205
m
v = v0 − ve ln 0 .
m
(5.42)
dv dm
m
= ve
+ mg .
dt
dt
(5.43)
∫ dv = ve
v0
dm
∫m m + g ∫0 dt ,
0
m
v = v0 − ve ln 0 + gt .
m
(5.44)
v = ve ln
(5.45)
m0
− gt .
m
z e integramos a velo-
z=
m0 ve m
m 1
(1 + ln 0 ) − gt 2 ,
1 −
dm / dt m0
m 2
206
acima, suponha que a massa final após a queima do combustível seja
2,4 x 106 kg e que a velocidade de escape seja a mesma, porém com
a partir do solo é:
v − v0
m0
7,5 3
= exp
= exp
= e ≅ 20 ,
mf
2,5
ve
onde usamos a equação 5.42 para obter a razão
m0 / m f de forma
207
massa e o raio da Terra, respectivamente.
vc
h v
0 φ
Terra
L = (mv0sen) R = mv1 ( R + h) ,
v1 =
A energia mecânica
R
v0sen .
R+h
ES do satélite no apogeu é:
ES =
1 2 GMm .
mv1 −
2
R+h
E=−
GMm
.
2( R + h)
208
mada a ES , deve ser igual à energia
circular de raio R + h , isto é,
ES + ∆Ec =
ou
1 2 GMm 1
GMm
mv1 −
+ m(∆v) 2 = −
,
2
R+h 2
2( R + h)
1 2 1
GMm
1
mv1 + m(∆v) 2 =
= mvc2 ,
2
2
2( R + h) 2
vc = GM / ( R + h) é a velocidade para a órbita circular. Note
2
2
2
que podemos escrever v1 + ( ∆v) = vc . Substituindo o valor de v1 obtido acima e
resolvendo para ∆v , encontramos:
onde
(∆v) 2 =
Com
GM
R
R 2 2
v0 sen .
1 −
R + h GM R + h
GM 1 R
1 −
.
R+h 4 R+h
h=
3
R , e assim obtemos, para ∆v ,
2
v0 e ,
GM
1
1 1
1 −
.
∆v =
R
3 4
3
1+
1+
2
2
GM
= 0, 68v0 . Note que este incremento é grande,
R
1 1
v0 ≅ 0, 27v0 . Como fizepois a velocidade no apogeu é v1 =
2
3
1+
2
Ou
∆v ≅ 0, 68
mos acima, antes deste exemplo, podemos estimar a massa de combustível necessária
para que, com o auxílio dos foguetes do segundo
estágio, o satélite permaneça em órbita circular. A velocidade inicial
(antes da ignição) é v1 ≅ 0, 27v0 , enquanto que a final é a velocidade
vc = v12 + ∆v 2 = GM / ( R + h) ≅ 0, 73v0 , de
modo que usando a equação 5.42, obtemos a razão m0 / m f de forma
209
0, 73v0 − 0, 27v0
0, 46v0
m0
= exp
= exp
.
mf
ve
ve
Se admitirmos, como antes, que a velocidade de escape seja da ordem de
m0
= e1,47 ≅ 4,35 .
mf
A
Lua
Figura 5.8 - Conversão de uma órbita circular em elíptica com o apogeu na lua. (A
figura não está em escala).
1 2 1
GMm
GMm
,
mvc + m(∆v1 ) 2 −
=E=−
2
2
r1
2a
sendo
e
210
por a = K / 2 E e K = −GMm . Sabemos que 2a = r1 + r2 , r1 = R + h
e como a distância Terra-Lua é sessenta vezes o raio da Terra, vem
Em nosso caso,
GM
1
2
−
.
R 1 + h / R 61 + h / R
h = 23 R , e como v0 = GM / R , o resultado é
v2 ≅ 1, 02v0 , a razão m0 / m f é:
1, 02v0 − 0, 73v0
0, 29v0
m0
= exp
= exp
.
mf
ve
ve
Considerando
como
antes,
ve = 2,5 km/s
v0 = 8 km/s , vem
211
depois da colisão. Durante o processo de colisão, as partículas ficam
sob a ação de forças internas, que umas exercem sobre as outras. Se
estas forças internas satisfazem a terceira de lei Newton, o momento
linear total é o mesmo antes e depois da colisão (princípio da conservação do
momento linear para um sistema isolado). Se as forças
internas durante a colisão satisfazem a terceira lei na forma forte,
então o momento angular total do sistema também será conservado.
Ademais, se as forças internas forem conservativas, a energia cinética será
conservada. Caso contrário, usa-se a conservação de toda
a energia, incluindo-se qualquer energia que seja transformada de
energia cinética para outras formas ou vice-versa.
Se numa colisão entre duas partículas, o momento linear total e a
energia cinética são conservados, a colisão é dita elástica. Numa colisão entre
duas partículas, aplicamos a conservação do momento linear e da energia cinética,
(5.47)
p1 f + p2 f = p1i + p2i ,
(5.48)
Ec1 f + Ec 2 f = Ec1i + Ec 2i .
p12f
2m1
p22 f
2m2
p12i
p2
+ 2i .
2m1 2m2
A equação 5.47 é uma equação vetorial correspondendo a três equações escalares, uma
para cada direção no espaço. Assim, as equações
5.47 e 5.49 representam quatro equações que dependem da razão entres as duas massas
e das doze grandezas necessárias para especificar os quatro momentos lineares
envolvidos. Logo, é necessário se
conhecer nove das quantidades envolvidas para poder se determinar
as quatro restantes. Isto significa que devemos efetuar as medidas que
forem possíveis antes e depois do processo de colisão, de modo a se
determinar quantidades que não podemos medir de maneira simples.
Por exemplo, em uma situação típica, podemos conhecer (através de
medidas) as massas, o momento linear inicial de uma das partículas
e a direção final do movimento de uma das partículas. Assim, se co
nhecemos m1 , m2 , p1i e a direção de p1 f , podemos determinar p2 f e
o módulo do momento linear
p1 f . Por outro lado, pode ser que não se
212
culas envolvida no processo de colisão. Por que precisamos conhecer
(medir) várias quantidades antes e depois da colisão? A resposta é
simples. Podemos conhecer as condições iniciais do sistema, mas em
praticamente todos os casos não se conhecem as forças que atuam
durante o processo de colisão, logo não temos como resolver as equações de
movimento para determinar o movimento subseqüente das
partículas. Um exemplo de colisão em que sabemos as forças internas
é a colisão de partículas alfa com núcleos atômicos, que conhecemos
como espalhamento de Rutherford, estudado no capítulo anterior. Já
numa colisão entre bolas de bilhar, não temos como conhecer as forças que atuam
durante a colisão.
m1 e mo
mento p1i com uma partícula de massa m2 em repouso. A colisão é
Vamos considerar a colisão entre uma partícula de massa
p1f
m1
p1i
θ1
m2
m1
θ2
m2
p2f
p2 f deve estar no mesmo plano que p1i e p1 f , pois
(5.51)
0 = p1 f sen1 + p2 f sen 2 .
p12i − p12f
2m1
p22 f
2m2
213
o momento inicial p1i e o ângulo de espalhamento da partícula incidente 1 . Assim,
podemos calcular p1 f , p2 f e 2. Para tanto, reescrevemos as equações 5.50 e
5.51 como:
(5.53)
(5.54)
1/2
m 2
m1
m2 − m1
2
1
.
cos 1 ±
=
cos 1 +
p1i m1 + m2
m1 + m2
m1 + m2
p1 f
(5.55)
1 = m , onde:
cos 2 m = 1 −
m1 > m2 , o termo
m22
,
m12
p1 f
p1i
p2 f
m1 − m2
, 2 = 0 ,
m1 + m2
p1i
2m2
,
m1 + m2
p1 f
p1i
p2 f
= cos 1 ,
p1i
= sen1 , 2 =
− 1 ,
2
p1 f
p1i
m2 − m1
,
m1 + m2
2 = 0 ,
p2 f
p1i
2m2
.
m1 + m2
Estes resultados são importantes, pois podem ser usados para a determinação da
massa de uma das partículas. Considere que a massa m1
Ec1i − Ec 2 f
Chamando
A = 1−
Ec 2 f
Ec1i
m − m1
= p / 2m1 = 2
Ec1i .
m2 + m1
2
1f
215
m1 / m2 :
2
m1
A + 1 m1
+ 2
+1 = 0 .
A − 1 m2
m2
Resolvendo e substituindo o valor de
E
m1
= 2 c1i − 1 ±
m2
Ec 2 f
(5.59)
A , obtém-se:
2
Ec1i
− 1 − 1 .
2
Ec 2 f
m1 , pode-se
216
testar a validade de sua hipótese, Chadwick fez a “radiação invisível” incidir em
uma amostra de hidrogênio,
observando assim a emissão de um grande número de
prótons, que ele considerou como o resultado das colisões dos nêutrons com os
núcleos dos átomos de hidrogênio. De forma simplificada, podemos considerar uma
colisão frontal e, assim, o momento linear do próton
será
. Contudo, o momento
linear do nêutron era desconhecido, e assim Chadwick
contornou esta dificuldade substituindo a amostra de hidrogênio por nitrogênio, de
forma que o momento linear dos núcleos de nitrogênio, depois de uma colisão, é
, o que permite se determinar a massa
217
p12f
p22 f
p12i
p2
.
+ 2i + Q =
+
2m1 2m2
2m1 2m2
(5.60)
mv1 = (m + M )v2 ,
(5.61)
ou
(5.62)
218
v2 = 1, 49m/s . Por outro lado, se o tempo de colisão, o que geralmente
acontece, for da ordem de 1milisegundo ( t = 0, 001s ), a variação no
momento linear será de apenas ∆p = −0, 025Ns e agora a equação
5.62 fornece v2 = 1, 48m/s , praticamente o mesmo valor que a equação 5.61 fornece
(1, 49m/s) , e podemos dizer que o processo ocorre com a conservação do momento
linear do sistema. Note que, por
mais curto que seja o tempo de colisão, nunca teremos a conservação
exata do momento linear devido à existência de uma força externa
atuando sobre o sistema (a força de atrito).
A quantidade de energia cinética da bala que é transformada em calor
e deformação do bloco, à medida que a bala penetra no mesmo, é:
1
1
Q = (m + M )v22 − mv12 .
2
2
1
M
Q = − mv12
.
2
m+M
v1 f e v2 f . Os
v2 f − v1 f = e(v1i − v2i ) ,
(5.66)
v1 f =
(5.67)
v2 f =
O cálculo do valor de
mm
1
Q = − (1 − e 2 ) 1 2 (v1i − v2i ) 2 .
2
m1 + m2
(5.68)
r2 , como indicado na figura 5.10.
m2
r2
0
r
c.m.
r1
220
m1
e e
i i
(5.69)
••
m1 r1 = F1i + F1e ,
(5.70)
••
m1 r2 = F2i + F2e .
m1r1 + m2 r2
,
rcm =
m1 + m2
(5.72)
r = r1 − r2 .
A transformação inversa é:
(5.73)
r1 = rcm +
m2
r,
m1 + m2
(5.74)
r2 = rcm −
m1
r.
m1 + m2
(5.75)
F1e F2e
i
m1m2 r = (m1 + m2 ) F1 + m1m2 ( − ) .
m1 m2
••
F1e F2e
,
=
m1 m2
221
(5.78)
m1m2 ••
r = F1i .
m1 + m2
Introduzindo as quantidades,
m1m2
,
m1 + m2
(5.79)
=
(5.80)
M = m1 + m2 ,
••
M r cm = F ,
(5.82)
••
r = F1i .
222
dos planetas, dado pela terceira lei de Kepler, é afetado pelo fato de
que o Sol, tendo uma massa finita, realmente não está estacionário na
origem das coordenadas, como foi suposto implicitamente no capítulo
4. Devemos levar em conta o movimento do Sol em torno do centro
de massa. Para isso, escrevemos a equação de movimento (equação
5.81) para o caso de um planeta de massa m p sob a ação da força
gravitacional do Sol de massa
Ms ,
••
GM s m p
r = −
rˆ ,
r2
ou
••
G ( M s + m p )m p
mp r = −
rˆ ,
r2
T2 =
42 3
a ,
M sG
T2 =
42
a3 .
G(M s + mp )
Resultado que dá o período orbital para dois corpos quaisquer interagindo sob a
influência mútua de suas forças gravitacionais, isto
é, levando-se em conta a massa reduzida do sistema. Note que,
como os planetas têm massa muito menor que a massa do Sol, a
diferença entre calcular os períodos com a equação anterior ou com
a equação 4.62 é muito pequena. Note que o período, considerandose a massa
reduzida, T , difere do período sem levá-la em conta por
T =
2
T e a diferença agora é apreciável. Esta é uma situ2
ação comum nas galáxias, pois se sabe que quase a metade das estrelas constituem
sistemas duplos ou binários, ou seja, elas ocorrem
aos pares, mantidas juntas pela força gravitacional que uma exerce
sobre a outra. Logo, cada estrela gira em uma órbita elíptica em torno
da outra, cujo período é dado por T . Um exemplo típico é a brilhante
2,1M s , e sua companheira, uma pequena e pálida estrela (uma anã branca), cuja
massa é 1, 05M s e cujo
tamanho é de um grande planeta, o que significa que sua densidade
é extremamente alta (30.000 vezes a densidade da água). A distância
entre Sirius e sua acompanhante é de 20UA (como a distância de
T = 50 anos terrestres,
o que concorda com o que é observado. Note que este período é bem
diferente do período orbital de Urano (84 anos terrestres).
223
Para finalizar, vale lembrar que, como vimos antes, para um sistema
de muitas partículas, tanto o momento angular como a energia cinética podem ser
expressos em termos de uma parcela correspondente
ao movimento do centro de massa e outra devido ao movimento em
relação ao centro de massa, equações 5.25 e 5.28. Para duas partículas, separamos
estas quantidades físicas em termos da velocidade
•
relativa v = r = v1 − v2 e da velocidade do centro de massa,
(5.83)
Resolvendo para
m v + m2 v2
.
vcm = 1 1
m1 + m2
v1 e v2 , vem:
(5.84)
v1 = vcm + v ,
m1
(5.85)
v2 = vcm −
v.
m2
L = m1 (r1 × v1 ) + m2 (r2 × v2 ) .
L = M (rcm × vcm ) + µ(r × v ) .
(5.88)
Ec =
1
1
m1v12 + m2 v22 .
2
2
(5.89)
Ec =
1
1
2
Mvcm
+ v 2 ,
2
2
1
L = (r × v ) e Ec = v 2 .
2
224
É conveniente lembrar a você que se pode resolver o problema de dois
corpos como feito nesta seção, mas que se adicionarmos mais um corpo
e tentarmos resolver o problema geral de três corpos, veremos que não é
possível se achar uma solução analítica. Isto é, até o presente, não se conseguiu
resolver as equações de movimento para três corpos de diferentes
massas sob a ação de suas forças gravitacionais mútuas. As dificuldades
matemáticas são insuperáveis, pois as equações de movimento correspondem a um
sistema de nove equações diferenciais de segunda ordem.
Mesmo depois de uma redução na complexidade matemática, por meio
de uma escolha criteriosa de um sistema de coordenadas adequado, e
invocando-se as leis de conservação para se achar constantes do movimento e com o
emprego de modernas técnicas analíticas, o problema
continua insolúvel. Uma maneira de atacar o problema de três corpos é
considerando sua forma restrita. Na forma restrita do problema de três
corpos, consideram-se dois corpos massivos e um terceiro corpo de pequena massa.
Uma análise cuidadosa deste problema fornece alguns critérios para a estabilidade
de algumas órbitas do corpo de pequena massa,
mas mesmo neste caso os cálculos são laboriosos. Atualmente, dadas as
condições iniciais, podemos encontrar soluções numéricas para o problema de três ou
mais corpos com o grau de precisão desejado. Naturalmente, quanto mais complexo for
o sistema considerado, maior será o tempo
computacional exigido para se resolver as equações de movimento.
Resumo
O momento linear total de um sistema de partículas é definido como a
soma dos momentos lineares individuais de cada partícula,
N
N
P = ∑ pi = ∑ mvi .
i =1
i =1
Que pode ser escrito como P = Mvcm , sendo vcm a velocidade do centro de massa do
sistema.
A equação de movimento
para um sistema de partículas submetidas
à força externa total F e a forças internas que satisfazem a terceira
lei de Newton é:
ou
dvcm
dP
=M
=F,
dt
dt
••
M r cm = Macm = F .
Dinâmica de um Sistema de Partículas
225
Portanto, se a força externa total é nula, o momento total é:
dP
=0 →
dt
P = Mvcm = constante.
N
L = ∑ (ri × mi vi ) .
i =1
dL N e
= ∑ ri × Fi = T .
dt i =1
Sendo igual ao torque externo total atuando sobre o sistema de partículas. Este é o
teorema do momento angular expresso para um sistema de partículas. Se o torque
externo total for nulo, vem:
dL
= 0 → L = Constante .
dt
Ec + V i = E = Constante .
Se as forças externas também forem conservativas, suas energias po-
226
tenciais podem ser somadas à energia potencial interna
gia total E = Ec + V será constante.
V i e a ener-
p1 f + p2 f = p1i + p2i ,
Ec1 f + Ec 2 f = Ec1i + Ec 2i .
Para colisões inelásticas aplicamos a conservação do momento linear
total do sistema e a conservação da energia,
p12f
p22 f
p12i
p2
.
+ 2i + Q =
+
2m1 2m2
2m1 2m2
Q > 0 , a energia cinética do sistema aumenta e a colisão é dita
exoérgica. Se Q < 0 a energia cinética diminui e a colisão é dita endoérgica. A
colisão elástica corresponde a Q = 0 . As colisões entre
Se
Sendo
F a força externa total sobre as partículas.
Exercícios
1) Despeja-se água num barril a uma taxa de 60 kg por minuto de
uma altura de 5 metros. O barril tem uma massa de 10 kg e está em
repouso sobre a balança. Determine a leitura (em Newtons) da balança depois que a
água foi despejada no barril durante um minuto
2
( g = 10 m / s ).
Resposta: 710 N.
2) Um pêndulo balístico usado para medir a velocidade de uma bala
Dinâmica de um Sistema de Partículas
227
é construído suspendendo-se um bloco de madeira de massa M por
uma corda de comprimento l . O pêndulo encontra-se inicialmente
em repouso na vertical. Uma bala de massa
m é disparada, atingin-
Resposta: v = 2(1 +
M
) gl sen m .
m
2
Respostas: a) v = 5 gl
M n
.
m n −1
= 9,8 m/s 2 )
b) 417 m/s .
velocidade constante
b) Que força
teira.
e) Calcule o trabalho
xa e a esteira.
f) Verifique se a energia fornecida à esteira pela força
F é exata-
228
Respostas: a) d = v 2 / 2 g ; b) F = mv / ∆t ; c) ∆t = v / g ;
d) WF = mgv∆t = mv 2 ; e) W fa = mv 2 / 2 ; f) WF = 12 mv 2 + W fa .
A energia fornecida à esteira é igual ao acréscimo da energia cinética mais a
energia dissipada por atrito.
5) Um bloco de massa
velocidade
do
projétil,
supondo
M = 3, 0kg ,
k
M
v
θ
Figura 5.11 - Colisão de uma bala com bloco fixo por uma mola
em um plano inclinado.
Respostas: a) v = (1 +
c) v ≅ 279 m/s .
M
M ( M + 2m)
)gsen
; b) v =≅ 140 m/s ;
m
k ( M + m)
6)
229
Q igual a quatro vezes a energia cinética inicial da granada.
a) Obtenha uma expressão que fornece a distância d entre as
duas partes da granada no momento em que atingem o solo.
b) Calcule esta distância para
e
v0 = 15 m/s .
Respostas: a) d =
v02 m2
m1
+
; b) d ≅ 106 metros.
g m1
m2
dência
b) Para m1
Respostas: a) Q = − 12 (1 − e 2 )
m1m2 2
v1 ; b) Q = 0,113 Joules.
m1 + m2
230
9) Um foguete de brinquedo consiste numa garrafa de plástico rígido, parcialmente
cheia de água e contendo também ar a uma alta
pressão p . A água tem densidade e é ejetada através de um pequeno orifício de
área
A.
Respostas: a) ve2 = 2 P / ;
b) 2 pA ;
c) p = mg / 2 A = 98 x104 N/m 2 ;
d) 2,27 segundos, 8,45 m/s ; e) 5,65 metros, 9,30 metros.
Não! Por quê?
10)
Um bloco de massa M está suspenso por meio de uma corrente que passa por uma polia
fixa. Veja a figura abaixo. A corrente tem
massa total m e densidade linear de massa (massa por unidade de
v=
5 gd
. Neste caso qual é o resultado para = 0 ?
6
Respostas:. a) v = 2 gd (1 − )
232
M
M
m
m
+
+1
b) v = 2
gd
.
3
6
Sistemas de Coordenadas
em Movimento
6
Sistemas de Coordenadas em
Movimento
235
É importante lembrar que a essência da primeira lei de Newton é que
sempre podemos encontrar um referencial em relação ao qual um corpo isolado esteja
em repouso ou mova-se com velocidade uniforme,
isto é, um referencial inercial. E podemos considerar referencial inercial
como aquele que está em repouso ou tem movimento retilíneo uniforme em relação ao
espaço absoluto. Isto é, a primeira lei nos assegura a
existência de referenciais inerciais que devemos adotar para descrever
o movimento dos corpos, aplicando-se a segunda lei do movimento.
Entretanto, em alguns casos, o sistema físico no qual queremos fixar nosso
referencial está acelerado (um exemplo é a Terra, que gira em torno do
seu eixo, ou um trem acelerado) e um referencial fixo neste sistema é chamado de
referencial não-inercial. Ou em outras palavras, um sistema
de coordenadas acelerado é denominado de referencial não-inercial.
Estritamente falando, qualquer referencial fixo na Terra é não-inercial
devido, à rotação da Terra. Da mesma forma, um referencial localizado no Sol também
é não-inercial, devido à rotação do Sol em torno
do centro da galáxia. Isto nos remete à discussão feita no capítulo 1,
acerca da existência de um referencial inercial perfeito. Vimos que
mesmo as galáxias muito distantes estão aceleradas. Desta maneira,
podemos ou adotar a postura de Newton e definir um referencial inercial como aquele
que ou está em repouso ou em movimento uniforme
em relação ao espaço absoluto. Ou procedemos como Mach, e consideramos que um
referencial inercial é aquele em que a matéria do
Universo não é, em média, acelerada, isto é, referenciais inerciais são
os que se encontram em repouso, ou pelo menos não sofrem aceleração, em relação à
média do movimento da matéria no Universo.
Porém, para fins práticos, sabemos que na maioria das situações, podemos considerar
referenciais localizados na Terra e no Sol como inerciais.
Mas, se estivermos em um foguete acelerado, ou em um trem acelerado,
não podemos desprezar a aceleração do sistema. Como fazer para estudar o movimento
de corpos num sistema de coordenadas acelerado?
E se nosso interesse for estudar o movimento dos corpos levando em
conta a aceleração da Terra? Por exemplo, será que o fato de a Terra ser
um sistema girante afeta a trajetória de projéteis? Para que você seja
capaz de responder a esta e outras questões, veremos agora como aplicar a mecânica
newtoniana em sistemas de coordenadas acelerados.
Primeiro, iremos tratar de sistemas de coordenadas com movimento de
translação acelerado em relação a algum referencial inercial.
Vamos considerar dois sistemas de coordenadas, um sistema linha,
236
ção em relação ao sistema S , com eixos
so, como se mostra na figura 6.1.
Y
Y’
P
0’
r
r0
r’
X’
Z’
Z
Figura 6.1 - Relações entre vetores de posição para dois sistemas de coordenadas
com movimento de translação relativo.
ro (veja figura 6.1) e a relação entre r e r ´ é:
r = r ´+ r0 .
(6.1)
Em componentes,
(6.2)
x = x´+ xo ,
y = y´+ yo ,
z = z´+ zo .
dr dr ´ dro
v=
=
+
,
dt dt dt
Sistemas de Coordenadas em Movimento
237
e como a velocidade do referencial S´ em relação ao referencial S é
vo = dro / dt , obtemos:
(6.3)
v = v´+vo .
(6.4)
d 2 r d 2 r ´ d 2 ro ,
a= 2 = 2 + 2
dt
dt
dt
a = a´+ ao ,
ao é a aceleração do sistema de coordenadas S´ em relação à S .
Assim, se temos
uma partícula de massa m no ponto P sob a ação
de uma força F , no sistema de coordenadas em repouso (referencial
inercial) S , escrevemos a segunda lei de Newton,
d 2r
m 2 =F.
(6.5)
dt
onde
d 2r´
m 2 = F − mao .
dt
−mao .Isto é, no sistema S temos F = ma , mas no
sistema S´ , F ´= ma´= F − mao . Se o sistema S´ tem movimento uni
forme, ao = 0 , e assim,
d 2r´
m 2 =F.
(6.7)
dt
sença do termo
Verifique que a equação 6.7 tem a mesma forma da equação 6.5. Isto
permite concluir que a forma da segunda lei de Newton é a mesma em
todos os sistemas de coordenadas que se deslocam com velocidades relativas
uniformes. Este é o Princípio da Relatividade Newtoniana, o qual
estabelece que não há um sistema de referência único; todos os sistemas
de referência movendo-se com velocidades uniformes são equivalentes.
Tais sistemas de referência, que estão em repouso ou se deslocam com
velocidade uniforme, são denominados de referenciais inerciais. Logo, se
as equações de movimento são válidas em um referencial inercial, também serão
válidas em qualquer outro sistema de coordenadas que se
mova com velocidade constante em relação a este referencial. Podemos
expressar esta propriedade da equação 6.6, dizendo que as equações do
238
movimento de Newton permanecem invariantes na forma, ou covariantes
em relação a translações uniformes dos sistemas de coordenadas.
Se o referencial S´ tem velocidade uniforme na direção x e, em t = 0 ,
as origens das coordenadas eram coincidentes, a transformação do
sistema S´ para o sistema S obtém-se a partir das equações 6.2,
x´= x − vot ,
(6.8)
y´= y,
z´= z ,
t´= t.
v0 .
239
Quando o sistema S´ tem movimento acelerado a segunda lei de
Newton torna-se
F = ma´+ mao ,
ma´= F − mao .
ou
(6.9)
F´= ma´= F − mao .
(6.10)
F
´= ma´ no sistema S´ , é similar à equação 6.5,
F = ma , porém F ´≠ F devido ao termo −mao na equação 6.10. As-
A equação 6.10,
F tem um valor máximo mg , onde m
−mao exceda a força de atrito máxima, sendo ao a ace-
− mao > mg ,
ou
ao > g .
bloco permanecer em repouso enquanto a mesa desliza de forma acelerada por baixo
dele. Este exemplo deve lembrar a você o truque de se
240
puxar rapidamente uma toalha sobre uma mesa sobre a qual temos alguns objetos. Se
imprimirmos uma aceleração à toalha maior que g ,
removemos a toalha sem movimentar os objetos sobre ela.
Exemplo 2. Um pêndulo de massa
de trem, como se mostra na figura 6.2. Admita que o trem tenha uma
aceleração ao para a direita (direção + x ). Um observador não-inercial,
alguém dentro do vagão (figura 6.2a), vê o pêndulo suspenso, formando
um ângulo com a vertical. Ele acredita que o pêndulo permanece
Fx ´ que atua
a0 em todos
F`x
b)
Y`
F`x
a0
F`x
(b)
Y`
X`
mg
X`
mgX`
X`
Y
Figura 6.2 - (a) Pêndulo
suspenso em um trem
T acelerado conforme visto por: (b) um
Y observador não
inercial e (c) um observador inercial.
a0
Primeiro, resolvemos o problema
para
a0 o observador inercial. Para este
(c) figura 6.2c):
observador, a segunda lei de Newton fornece (veja
(c)
mg
Ou, em componentes,
∑XF = ma .
mgi
Tsen = mao ,
X`
Y
Y`
Y`
mg
c)
a0
Y`
T cos − mg = 0 .
241
mg (b)
(c)
X
Logo, ao = gtg , e, portanto, o observador inercial conclui que o pêndulo faz um
ângulo com a vertical devido à aceleração do trem na
horizontal e uma força é necessária para acelerá-lo. Esta força é a
componente x da tensão T no fio de suspensão do pêndulo. A aceleração é, então,
proporcional à tangente do ângulo de deflexão e o
pêndulo serve, assim, como um acelerômetro linear. Já o observador
não-inercial simplesmente verifica que o pêndulo está em repouso,
fazendo um ângulo com a vertical. Ele conclui que (veja figura 6.2b):
∑ F ´ = ma´= 0 ,
i
Tsen − Fx ´= 0 ,
ou
e, portanto,
T cos − mg = 0 ,
a0
Y`
Y
X
X`
m x´= 0 ,
Figura 6.3 - Dois astronautas jogando uma
bola em uma nave acelerada.
242
••
m y´= −mao .
Integrando-se com as condições iniciais,
velocidades iniciais
x´(t = 0) = 0 , y´(t = 0) = h e
y´(t ) = h − 12 aot 2 .
x´
y´= h − 12 ao
v
0x
.
v0 x = 10
ao
.
2h
Se a aceleração da espaçonave é de
é
g = −ao . E neste caso, sobre cada astronauta atua uma força inercial
−mA ao = −mA g (onde mA é a massa do astronauta).
y = voy t + 0,5aot²
y = h + voy t
tF
243
A interseção das duas curvas fornece o instante em que a bola atinge o chão do
foguete. A posição vertical da bola em cada instante é
Logo,
v0 x = x / t F = x / 2h / ao = 10 ao / 2h .
Portanto, os dois observadores calculam a mesma velocidade horizontal de lançamento
da bola. Note que a análise é mais simples para um
observador não-inercial (dentro da espaçonave). De fato, como comentamos
anteriormente, os astronautas estão sob a ação da força inercial
−mao , que gera a mesma sensação física da força peso. Disso, podemos
perceber que um campo gravitacional pode ser simulado por um sistema de referência
acelerado. Este fato foi enunciado por Einstein como
o princípio da equivalência, o qual estabelece que a força gravitacional
experimentada por qualquer corpo próximo de uma grande massa
(como a Terra) é a mesma que a força inercial experimentada pelo corpo
em um referencial não-inercial (sistema de coordenadas acelerado). Ou
seja, como você já sabe de capítulos anteriores, isto significa a equivalência
entre massa inercial e massa gravitacional ( mi = mg = m) .
244
Y
P
X`
r=
r`
Y`
ˆj ` ˆj
iˆ `
X
0
ˆ
kˆ ` i
ˆ
k
Z`
P no espaço é dada pelo vetor r no sistema
S e pelo vetor r ´ no sistema S´ . Mas, como as origens dos dois siste
mas coincidem, o vetor r é o mesmo nos dois sistemas, isto é, r = r ´ .
A posição de um ponto
r = xiˆ + yjˆ + zkˆ e
Como
r ´= x´iˆ´+ y´ ˆj´+ z´kˆ´ .
r = r ´ , isto significa que:
xiˆ + yjˆ + zkˆ = x´iˆ´+ y´ ˆj´+ z´kˆ´ .
(6.11)
(6.12)
dx
dy
dz
dx´
dy´
dz´
diˆ´
djˆ´
dkˆ´
iˆ + ˆj + kˆ = iˆ´ + ˆj´ + kˆ´ + x´ + y´ + z´ .
dt
dt
dt
dt
dt
dt
dt
dt
dt
dx
v = iˆ +
dt
ˆj dy + kˆ dz
dt
dt
dx´
dy´
dz´
v´= iˆ´ + ˆj´ + kˆ´ ,
dt
dt
dt
245
diˆ´
djˆ´
dkˆ´
v = v´+ x´ + y´ + z´ .
dt
dt
dt
(6.14)
iˆ´, ˆj´ ,
= nˆ .
(6.15)
ω
Z`
k`
0
i`
Y`
X`
Para
que
possamos
determinar
as
derivadas
temporais
do eixo de rotação.
ω
∆θ
^
∆i`
φ
0`
Figura 6.7 - Variação no vetor unitário
246
iˆ´
^
i`
devida a uma pequena rotação
∆ .
Para facilitar a visualização, na figura 6.7 omitimos os vetores ˆj´ e kˆ´ .
A partir desta figura, pode-se ver que o módulo de ∆iˆ´ é, aproximadamente,
∆iˆ´ ≅ (sen)∆ ,
(6.16)
o ângulo entre os vetores iˆ´ e . A rotação de um ângulo
∆ ocorre num intervalo de tempo ∆t , e assim,
sendo
diˆ´
∆iˆ´
d
= lim
= sen
= (sen) .
dt ∆t →0 ∆t
dt
A figura 6.7 mostra que ∆iˆ´ é perpendicular a ambos os vetores
e iˆ´ e, conseqüentemente, a partir da definição do produto vetorial,
(6.17)
iˆ´ ,
diˆ´ ˆ
= ω× i ´ .
dt
(6.18)
djˆ´ ˆ
= ω× j´ ,
dt
dkˆ´ ˆ
= ω× k´ .
dt
x´
diˆ´
djˆ´
dkˆ´
+ y´ + z´
= x´( × iˆ´) + y´( × ˆj´) + z´( × kˆ´)
dt
dt
dt
= × ( x´iˆ´+ y´ ˆj´+ z´kˆ´)
(6.19)
= × r´ .
v = v´+ × r ´ .
(6.21)
d
dr dr ´
=
+ × r ´= + × r ´ .
dt S dt S ´
dt S ´
247
Este resultado mostra que a operação de diferenciação do vetor posição com respeito
ao tempo no sistema fixo ( S ) é equivalente a esta
( S´) mais a operação x . A equação 6.21 é facilmente demonstrável para qualquer
vetor Q , isto é,
dQ dQ
=
+ × Q .
dt S dt S ´
(6.22)
Podemos aplicar o resultado 6.22 para o vetor momento linear, vetor momento
angular, vetor velocidade etc. No caso do vetor velocidade, vem:
d
dv dv
(6.23)
= + ω× v = (v´+ ω× r ´) + ω× (v´+ ω× r ´) ,
dt S dt S ´
dt S ´
onde usamos a equação 6.20. A equação 6.23 pode ser escrita como:
dv dv´
d
=
+ ( × r ´) + × v´+ × ( × r ´) ,
dt S dt S ´ dt
S´
ou
dv dv´
d dr ´
(6.24)
=
+
× r ´+ ×
+ × v´+ × ( × r ´)
dt S dt S ´ dt S ´
dt S ´
Agora lembramos que:
d
•
d d
=
+ × =
= ,
dt S dt S ´
dt S ´
(6.25)
isto é, a equação 6.25 mostra que não existe distinção entre calcularmos a derivada
temporal do vetor velocidade angular no sistema fixo
ou no sistema em rotação.
Como v´= dr ´/ dt e a´= dv´/ dt , a equação 6.24 pode ser reescrita como:
(6.26)
•
a = a´+ × r ´+2 × v´+ × ( × r ´) ,
248
v = v´+ × r ´+vo ,
•
a = a´+ × r ´+2 × v´+ × ( × r ´)+ao .
r ´ e só está
presente se o sistema girante apresentar uma
aceleração
•
•
angular . Iremos tratar apenas de situações em que = 0 . O termo
2 × v´ é conhecido como aceleração de Coriolis, que é perpendicular
a v´ , e o termo × ( × r ´) é o termo centrípeto que aponta para o
ω
o`
Y`
ω×(ω×r`)
2ω×v`
r`
X`
v`
-ω×r´
Z`
P
r`
0`
v0
0
X`
Y`
R0
Y
X
Figura 6.9 Sistema de coordenadas girante fixo em um disco que rola em um plano.
Sistemas de Coordenadas em Movimento
249
Como podemos escolher qualquer ponto, escolhemos o ponto P sobre
o eixo Z ´ , como indicado na figura 6.9. No sistema S´ , temos r ´= R0 kˆ´ ,
vo ˆ
•
• ••
ˆ
v´= r ´= 0 e a´= v´= r ´= 0 , e a velocidade angular é = i ´= i ´ . No
R0
sistema S , fixo no solo, calculamos a aceleração do ponto P do disco
a = × ( × r ´) ,
pois os demais termos são nulos. Assim,
v2
a = iˆ´× (iˆ´× R0 kˆ´)=iˆ´× (iˆ´× kˆ´) o ,
R0
vo2
vo2 ˆ
ˆ
ˆ
a =(i ´× (− j´))
= − k´
R0
R0
Ou seja, como esperado, a aceleração centrípeta aponta para o centro
do disco.
Exemplo 5. Vamos considerar agora que o disco, em vez de se deslocar em uma linha,
esteja descrevendo uma trajetória circular de raio
�
v0
v0 2
R0
o`
ω1
R0
X`
Y`
�
v0 ˆ
ω1 = i `
R
R
�
ω
�� v
ω = o kˆ`
R
vo2 ˆ
R , de modo que sua aceleração é ao = i ´ e sua velocidade angular
R
250
v
= o kˆ´ . Do exemplo 4, sabemos que qualquer ponto da borda do
R
v2
disco tem uma aceleração o apontado para a origem O´ (veja figuR0
ra 6.10) e isto significa que, no sistema S´ , a aceleração a´ do ponto
v2
••
P é a´= r ´= − o kˆ´ e a velocidade deste ponto é v´= −vo ˆj´ . Portanto,
R0
o termo de Coriolis é:
v
v2
2 × v´= 2 o kˆ´× (−vo ˆj´) = 2 o iˆ´ ,
R
R
e a parte centrípeta é:
v2
× ( × r ´)= o2 kˆ´× (kˆ´× Rkˆ´) = 0 .
R
Como a aceleração angular é nula, a equação 6.28 aplicada para a
aceleração do ponto P em relação ao solo se reduz a:
v2
v2
v2
a = a´+2 × v´+ ao = − o kˆ´+2 o iˆ´+ o iˆ´ ,
R0
R
R
ou
v2
v2
a = 3 o iˆ´− o kˆ´ .
R
R0
Note que, se o raio da trajetória circular for muito maior que o raio
do disco ( R >> R0 ) , isto é, se a trajetória é praticamente retilínea
•
ma´= F − m × r ´−2m × v´− m × ( × r ´) − mao .
251
que não têm origem na interação entre corpos, sendo que sua origem
está no fato de que o sistema de referência está acelerado. Podemos
escrever a equação 6.30 como:
ma´= F + Ft + FCo + FCe − mao ,
(6.31)
onde:
F → Força devida a interações entre corpos.
•
Ft = −m × r ´ → Força transversa, perpendicular ao vetor r ´ . Só
está presente quando o sistema tem aceleração
ou desaceleração angular.
FCo = −2m × v´ → Força de Coriolis, perpendicular ao vetor v´ . Sua
FCe = −m × ( × r ´) → Força Centrífuga, com direção radial,
−mao → Força inercial devido à aceleração do sistema em seu
movimento de translação.
Na figura 6.11, estão indicadas as forças inerciais que atuam em uma
partícula num sistema girante. Nesta figura, o sistema em rotação tem
uma desaceleração angular
Z`
ω
ω<0
o`
ω
Y`
Ft
r`
v`
X`
Fco
Fce
Figura 6.11 Forças inerciais atuando em uma partícula num sistema girante
desacelerado.
252
A equação 6.31 mostra claramente que, introduzindo-se as forças
inerciais (ou fictícias), as leis de movimento em relação a sistemas de
coordenadas em movimento de rotação serão iguais às equações em
um referencial inercial. Note que as forças inerciais são forças fictícias, pois
não resultam da interação entre corpos, e não satisfazem
a terceira lei de Newton. Como as forças inerciais que atuam sobre
um corpo são devidas à aceleração do sistema, não existe nenhum
corpo onde ocorra a reação. Desta maneira, em problemas de mecânica, nós temos duas
opções: escolhemos um referencial inercial e
descrevemos o movimento apenas em termos de forças reais, isto é,
que resultam da interação entre corpos; ou escolhemos um referencial não-inercial e
descrevemos o movimento em termos de forças
oriundas da interação entre corpos e de forças inerciais que surgem
devido à aceleração do referencial escolhido.
Entretanto, forças inerciais (fictícias) são bastante reais para observadores em
sistemas acelerados, como vimos no exemplo dos astronau
tas em uma espaçonave com aceleração g . Cotidianamente, também
sentimos estas forças. O exemplo mais simples é quando você amarra
uma pedra com um fio e a faz girar. Você sente uma força tendendo
a puxar a pedra, afastando-a do eixo de rotação, esta é a força centrífuga. Para um
observador que gira junto com a pedra, ela está em
repouso, pois a força centrífuga para fora é balanceada pela tensão no
fio, que aponta para o centro da trajetória. Mas, para um observador
inercial, não existe força inercial denominada centrífuga, existe apenas a tensão
no fio, que neste caso é a força centrípeta, que produz a
aceleração radial da pedra. Em outro exemplo, imagine-se dirigindo
um carro e efetuando uma curva para a direita. Para uma pessoa no
solo, o carro possui uma aceleração centrípeta e, logo, é um sistema
de referência não-inercial. Se o carro tem assentos bem lisos, você irá
sentir-se deslizando sobre o assento para a esquerda. Para o observador no solo
(num referencial inercial), isto é bem natural; o seu corpo
está apenas tentando obedecer a primeira lei de Newton e seguir em
linha reta e é o carro que está deslizando embaixo de você para a direita. Do seu
ponto de vista, num referencial não-inercial, você atribui
o seu deslizamento a uma força inercial que o puxa para a esquerda.
Esta é a força centrífuga, isto é, que aponta para fora do eixo de rotação. O fato
de que as forças centrífugas tendem a afastar os corpos
de seu eixo de rotação motivou Newton a explicar a razão pela qual
a água no interior de um balde que gira rapidamente tem sua superfície côncava,
através da experiência do balde de Newton. Trata-se de
uma experiência em que consideramos duas situações para um balde
suspenso por uma corda contendo água no seu interior. A primeira
situação é quando o balde e a água estão em repouso em relação à
Sistemas de Coordenadas em Movimento
253
Terra e a água tem a superfície plana. A segunda situação é quando,
depois de ser torcida a corda e, depois de liberada, o balde e a água
têm um movimento de rotação em relação à Terra e a superfície da
água é côncava. Newton, analisando a situação, concluiu que nem o
balde, nem a Terra e nem as estrelas fixas no céu são responsáveis
pela forma côncava da água. Para Newton, a causa da concavidade
da superfície da água era a rotação da água em relação ao espaço
absoluto. Ou seja, a água se afasta do eixo de rotação, formando uma
superfície côncava, devido à força centrífuga que atua sobre ela, força
cuja origem está na rotação da água em relação ao espaço absoluto.
A força centrífuga, inclusive, é usada como base de dispositivos práticos como a
centrífuga, um instrumento de laboratório muito útil. Uma
centrífuga baseia-se no fato de que, à medida que uma mistura de
substâncias se move rapidamente em círculo, as substâncias
de maior
2
massa experimentam uma força centrífuga maior ( FCe = m r ) e
afastam-se mais do eixo de rotação. A força centrífuga serve também
para calcularmos, por exemplo, a velocidade máxima de rotação da
Terra sem que corpos em sua superfície sejam lançados ao espaço.
Isto é simples, suponha um corpo de massa m localizado no Equador, assim basta
pensar no caso limite quando a força centrífuga se
iguala à força peso, isto é,
(6.32)
Se a massa de uma
estrela normal fosse
comprimida em um
volume suficientemente
pequeno, os prótons e
elétrons seriam forçados
a se combinar e formar
nêutrons. Por exemplo,
uma estrela com 70% da
massa solar produziria
uma estrela de nêutrons
de apenas uns 10 km de
raio. Mesmo com uma
temperatura superficial
de 50.000K, seu raio é
tão pequeno que sua
luminosidade total seria
um milhão de vezes menor
do que a do Sol.
GMm
= m2max R .
2
R
R e densidade , M = 43 R 3 , e
254
2
255
ω
Y`
X`
F
v`
Fce
r`
Fco
•
•
•
r ´= iˆ´x´ , v´= r ´= iˆ´x´= iˆ´v´ e a´= v´= 0 são a
= kˆ´ e é constante, de modo que as forças inerciais diferentes de
FCo = −2m × v´= −2mv´(kˆ´× iˆ´) = −2mv´ ˆj´ ,
enquanto que, para a força centrífuga, temos:
FCe = −m × ( × r ´) = −m2 (kˆ´× (kˆ´× iˆ´x´)) = m2 x´iˆ´ ,
e a equação 6.31 fornece:
F − 2mv´ ˆj´+ m2 x´iˆ´= 0 .
F , entre o inseto e o disco, conforme se mostra na fi
gura 6.12, é a soma das forças inerciais, pois a aceleração a´ do inseto
A força de atrito
256
deslizar, a uma distância x´= d , quando o módulo da soma das forças
inerciais for maior ou igual ao valor da força de atrito, ou seja,
FCe2 + FCo2 ≥ F ,
ou,
2 g 2 − 4( v´) 2
.
2
257
ω
T
- mω (ω r)
Rcosλ
mg
λ
ο
mg
(a) HN
mge
Equador
mge
- mω (ω r )
T
(b) HS
Figura 6.13 - Forças atuantes no peso do fio de prumo: (a) HN - Hemisfério Norte
(b)
HS - Hemisfério Sul.
As forças
são as forças peso mg , a tensão
atuantes no fio de prumo
no fio T e a força centrífuga − m × ( × r ´) , onde r ´= Rrˆ´ , sendo R o
raio da Terra e
ma´= 0 = T + mg − m × ( × Rrˆ´) ,
(6.33)
T = −m( g − × ( × Rrˆ´)) .
(6.34)
g . A superfície de um líquido em equilíbrio é perpen-
g e e um corpo largado de certa altura tem aceleração inicial
g e . Também a superfície da Terra tende a ser perpendicular a g e , o
dicular a
× ( × r ´) = 2 R cos .
(6.35)
No
2
Equador,
-2
esta
2
contribuição
-3
tem
valor
máximo,
258
e a direção vertical. Na figura 6.13a, vê-se claramente que este desvio é
para o sul no hemisfério norte, enquanto que a figura 6.13b mostra que
este desvio é para o norte no hemisfério sul. Note que, no Equador e
nos pólos, a direção vertical coincide com a direção radial. Nos pólos,
porque r ´/ / , e no Equador porque o termo centrífugo é antiparalelo
a
g . Para se obter o desvio, considere o ângulo entre os vetores g e
g e , como mostra a figura 6.14.
mg
mge
Rω2cosλ
Figura 6.14 - Desvio
sen
sen
=
,
R cos
ge
(6.37)
2 Rsen2
sen =
.
2 ge
( = ± / 2) e
no Equador ( = 0) , tendo um valor máximo para = / 4 . Como o
g varia com a latitude.
259
perfície da Terra com o eixo z´ na vertical, o eixo x´ na direção leste e
o eixo y´ na direção norte. A figura 6.15a mostra o referencial adotado
quando se analisa o movimento da partícula no hemisfério norte. Para
considerarmos o movimento no hemisfério sul, basta trocar → − .
ω
Norte
Y`
Equador
R
o λ
ω
Z` Vertical
o`
X` Leste
ω2Rcosλ = ao
o`
Equador
λ
R
S
(a)
Y`
Nor
te
Z`
ω
ωco
sλ
nλ
ωse
(b)
te
Les
X`
(c)
Figura 6.15 - (a) Referencial S´ fixo na superfície da Terra. (b) Aceleração
centrípeta
do referencial S´ . (c) Componentes de no referencial S´ .
ao = 2 R cos . Veja a figura 6.15 b. Assim, a equação 6.31
fornece a equação de movimento para uma partícula de massa m no
referencial S´ :
centrípeta
(6.38)
onde
••
•
m r ´= F + mg − mao − 2m × r ´− m × ( × r ´) ,
F é alguma força de interação, como por exemplo, a força devido
260
para o fio de prumo. Basta
colocar aorigem O´ no peso do fio de prumo
(r ´= 0) e, no caso, F é a tensão T no fio de prumo. E como ele está
g e . Considerando o movimento próximo à
r ´ << R e, assim, o termo −m × ( × r ´)
(6.39)
onde escrevemos
g e = g − ao . A equação 6.39 é a equação para o
(6.40)
e, assim, no sistema S´ o vetor velocidade angular tem
componentes x´ = 0 , y´ = cos e ωz´ = ωsenλ . Como o movimento é em três
dimensões, o vetor velocidade do projétil tem componentes:
com o eixo
•
•
• •
r ´= x´iˆ´+ y´ ˆj´+ z´kˆ´ .
(6.41)
Calculamos o produto
•
x r´ ,
ˆj´
iˆ´
kˆ´
•
× r ´ = 0 cos sen ,
•
x´
(6.42)
Como
y´
z´
•
•
•
•
•
× r ´= ( z´ cos − y´sen)iˆ´+( x´sen) ˆj´−( x´ cos ) kˆ´ .
g e tem a direção vertical, g e = − g e kˆ´ ; além disso, aqui também
g e g e de sorte que, g e ≅ − gkˆ´ . Substituindo g e e as componentes
•
•
(6.43)
(6.44)
••
261
••
(6.45)
A primeira observação que se faz acerca das equações de movimento acima é que a
velocidade angular de rotação da Terra é pequena,
, o que resulta em forças de Coriolis de baixa
intensidade, a não ser que as velocidades sejam muito altas. Logo,
como no caso de efeitos estáticos, os efeitos dinâmicos esperados devido à rotação
da Terra também são pequenos. As equações de movimento acima mostram claramente que
a aceleração em uma direção
depende da velocidade em outras direções. A aceleração na direção
mesmo ocorre para as acelerações nas outras duas direções. Dizemos, então, que as
equações de movimento estão acopladas. Iremos
procurar soluções aproximadas para estas equações, usando o fato
de que a velocidade angular de rotação da Terra é pequena. Um outro
exemplo em que encontramos equações de movimento acopladas é
no movimento de uma partícula carregada em um campo magnético,
pois a força magnética é dada pelo produto vetorial v × B . Voltemos
agora para as equações de movimento 6.43, 6.44 e 6.45. Primeiro, é
necessário que saibamos as condições iniciais e consideremos que
sejam conhecidas, isto é, em t = 0 , temos:
(6.46)
r0 ´= x0iˆ´+ y0 ˆj´+ z0 kˆ´ ,
(6.47)
v0 ´= v0 x iˆ´+v0 y ˆj´+v0 z kˆ´ .
(6.48)
(6.49)
y´= −2 x´sen + v0 y ,
(6.50)
z´= − gt + 2 x´cos + v0 z .
•
Note que usamos a condição inicial para a velocidade (equação 6.47).
Integrar mais uma vez no tempo não é possível, pois não conhecemos
x´(t ) , y´(t ) e z´(t ) , que fazem parte do segundo membro das equa-
y´ e z´ dadas nas
(6.51)
262
••
(6.52)
(6.53)
(6.54)
(6.57)
z0 = h . Assim, as coordenadas
(6.58)
(6.59)
y´= 0 ,
(6.60)
1
z´= h − gt 2 .
2
Logo, o corpo, neste caso, não sofre nenhum desvio para o norte ou
para o sul (direção y´ ), sendo desviado para leste (direção x´ ) pela
força de Coriolis. No hemisfério sul, o desvio também é para leste,
pois a função co-seno é função par. Na figura 6.16 mostramos o efeito
resultante da força de Coriolis sobre a trajetória, que é o mesmo tanto no
hemisfério norte como no hemisfério sul. Note que, nos pólos
Z`
Y`(N)
h
o`
x`d
X` (L)
S
Figura 6.16 - Desvio para o leste de um corpo em queda livre devido à força de
Coriolis.
g e , e como vimos,
Y`(N)
Z`
y`d
x`d
o`
X`(L)
h
Y`(N)
HN
(a)
X`(L)
o`
HS
(b)
Figura 6.17 - Desvio de um corpo em queda livre (a) para o sudeste no hemisfério
norte e (b) para o nordeste no hemisfério sul.
t = 2h / g ,
1
xd ´= 8h3 / g cos . No Equador, = 0
3
e para a altura dada, vem xd ´≅ 2, 2cm . Portanto, mesmo para uma
a leste, isto é, o desvio,
265
se obter o desvio para o sul (no hemisfério norte), podemos calcular
o desvio yd ´ da figura 6.17 a devido ao termo centrífugo. A aceleração
para o sul é devida à componente do termo centrífugo nesta direção
2
sendo, portanto igual ( R cos )sen , e assim,
yd ´= 12 ( 2 R cos sen)t 2 .
Desde que
t = 2h / g , obtém-se:
yd ´= ( 2 R cos sen)h / g = 3, 4 x10−3 h cos sen .
v0 ´= v0 x iˆ´+v0 z kˆ´ . Levando em conta a rotação da Terra, descreva a
(6.61)
(6.62)
(6.63)
266
Y´(N)
Z´
z´
x´
x`d
y´
X´(L)
y`d
(6.64)
yd ´= −
4v0 x v02z
4v0 x v02z
sen
≅
−
sen .
( g − 2 v0 x cos ) 2
g2
267
pode reduzir em até 90% o alcance de um projétil. Assim, para projéteis com um
alcance da ordem de 20 quilômetros, o desvio devido à
força de Coriolis, levando-se em conta a resistência do ar, é da ordem
de 30 a 50 metros. E de qualquer forma, este é um desvio apreciável.
Uma maneira simplificada de se obter este desvio é a partir do conhecimento do
alcance na direção leste ( xd ´) . Sendo conhecido ( xd ´) ,
usamos a equação 6.61 de forma aproximada para obter
que, substituído na equação 6.62, fornece
yd ´= −
td = xd ´/ v0 x ,
( xd ´) 2
sen . Sendo
v0 x
que incluímos a resistência do ar, pois você já sabe que, sem a resistência do ar,
o alcance do projétil na direção leste, com uma velocidade inicial v0 x = v0 z =
500 m/s , seria de 51km .
268
N
S
(b) Hemisfério Sul
269
turbada por muito tempo, após o enchimento do tanque, o ato de abrir
para que ocorra o escoamento já é suficiente para que a água adquira
alguma quantidade de momento angular inicial, de modo que o redemoinho acabe
girando em um ou outro sentido.
Um efeito dinâmico interessante devido à rotação da Terra é a rotação
do plano de um pêndulo que inicialmente oscila em um determinado
plano. O pêndulo especificamente montado para evidenciar este efeito
é denominado de pêndulo de Foucault, assim denominado em homenagem a Jean Leon
Foucault.
Resumo
Um sistema de referência é denominado de referencial inercial se está
em repouso ou em movimento uniforme em relação ao espaço absoluto Newtoniano ou em
relação às galáxias distantes. Na solução
de problemas de mecânica, podemos sempre localizar um referencial
que pode ser tratado como inercial. Podemos adotar sistemas de re-
270
ferência fixos na Terra, ou centrados no Sol, ou mesmo no centro da
galáxia, caso necessário.
Se o sistema de referência adotado estiver acelerado em relação a
algum referencial inercial, dizemos que este sistema é um referencial
não-inercial.
As transformações entre as coordenadas, velocidades e acelerações
de um ponto para dois sistemas de referência S (inercial ) e S´ (não
inercial) são:
x = x´+ xo ,
y = y´+ yo ,
z = z´+ zo ,
v = v´+vo ,
a = a´+ ao .
ma´= ma = F .
O que mostra que as leis da mecânica têm a mesma forma (são invariantes) em todos
os referenciais inerciais, que é o princípio da Relatividade Newtoniana. Podemos
expressar este princípio dizendo que
as leis da mecânica são invariantes frente às transformações de coordenadas de
Newton-Galileu:
x´= x − vot ,
y´= y,
z´= z ,
t´= t ,
F = ma´+ mao ,
ou
ma´= F − mao .
271
Tais “forças” não têm origem na interação entre corpos, como forças
gravitacionais ou forças de atrito.
Para sistemas de coordenadas
girantes, a taxa de variação temporal
de qualquer vetor B no sistema fixo S está relacionada à taxa de va-
dB dB
=
+ × B .
dt S dt S ´
Para sistemas em rotação, a transformação para os vetores velocidade e aceleração
de uma partícula são:
v = v´+ × r ´ ,
•
a = a´+ × r ´+2 × v´+ × ( × r ´) .
De maneira que, para um observador localizado num referencial não
inercial, com movimento de translação acelerado de aceleração ao e em
rotação, a equação de movimento para uma partícula de massa
m será:
•
ma´= F − m × r ´−2m × v´− m × ( × r ´) − mao ,
ou
ma´= F + Ft + FCo + FCe − mao .
F → Força devida a interações entre corpos.
•
Ft = −m × r ´ → Força transversa, perpendicular ao vetor r ´ . Só
está presente quando o sistema tem aceleração ou
desaceleração angular.
FCo = −2m × v´ → Força de Coriolis, perpendicular ao vetor v´ . Sua
origem está no deslocamento da partícula, com
velocidade v´ , no sistema em rotação.
FCe = −m × ( × r ´) → Força Centrífuga, com direção radial,
apontando para fora do eixo de rotação.
−mao → Força inercial devido à aceleração do sistema em seu
movimento de translação.
272
Exercícios
1) Um bloco de massa M está ligado a uma mola de constante elásti-
que o sistema pode ter sem que o bloco superior se mova em relação
ao inferior?
Resposta: A = (
M +m
) g .
k
2) Uma massa
e
a 2
sen
t
−
sen
t
Resposta: x´= 2
.
0
0 − 2
0
.
54 km/h , na
= 30° , numa latitude de = 45° , no hemisfério sul.
273
4)
Um avião sobrevoa o Pólo Norte na direção leste a uma velocidade de 900 km/h .
Determine o ângulo entre a direção de um fio de prumo pendurado no avião, quando
ele passa sobre o pólo, e a direção do
fio de prumo pendurado na Terra, sobre o pólo.
tg =
2 v
g
.
, qual
bmáx que o inseto pode estar do centro e permane-
v em uma traje-
Respostas: a) bmáx =
g
;
2
b) v ≤
g b
;
−
2 2
c) v ≤ 4 cm/s .
2 v03 cos
a oeste do ponto
g2
274
Referências
ALONSO, M.; FINN, E. J. FÍSICA: um curso universitário. São Paulo:
Editora Edgard Blücher Ltda., 1977 v.1 – Mecânica.
MARION, J. B. Dinâmica Clásica de las partículas y sistemas. Barcelona: Editorial
Reverté S.A., 1975.
SYMON, K. R. MECÂNICA. Rio de Janeiro: Editora Campus Ltda.,
1982.
Referências
275