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Segregação Racial: Uma Análise Sociológica da Obra Harry

Potter e a Pedra Filosofal


Karla Beatriz de Freitas Lira 1, Claudiane Felix de Moura2
1
Aluna do curso Integrado em Alimentos do IFRN-Pau dos Ferros, bolsista PIBIC-EM. e-mail: karlabeatrizlira@hotmail.com
2
Mestra em Linguística Aplicada e Coordenadora da Pesquisa. e-mail: claudiane.moura@ifrn.edu.br

Resumo: Este trabalho visa analisar a obra Harry Potter e a Pedra Filosofal, da famosa escritora
britânica J. K. Rowling, como um instrumento usado para mostra um pouco da nossa sociedade. Esta
análise será feita através do estudo de conceitos sociológicos sobre raça, etnicidade e o preconceito
racial que alguns indivíduos possuem contra outros, causando tantos conflitos durante a história em
nossa sociedade (GIDDENS, 2005) bem como conceitos baseados na biologia (BARBUJANI, 2007).
Também será analisada a relação que a literatura possui com a sociedade, como retrata um pouco da
nossa realidade em suas incríveis histórias muitas vezes fictícias (FACINA, 2004; CANDIDO, 2010),
mostrando como o autor pode influenciar sua obra com assuntos da nossa sociedade, no caso o
preconceito racial. Sendo assim, serão feitas análises de trechos e falas do livro de Joanne,
relacionando-os com todos esses conceitos teóricos que serão estudados sobre a sociedade e
preconceito racial, mostrando assim os problemas sociais causados pelo preconceito racial no mundo
bruxo de Harry Potter. Esta pesquisa trará então uma contribuição para o leitor, deixando-o refletir de
maneira crítica acerca dos problemas sociais que enfrentamos em nossa realidade, estejam presentes
em nosso país ou em todo o mundo. A pesquisa está sendo financiada pelo CNPq e possui uma
duração de doze meses, onde toda a pesquisa deverá ser realizada até o termino deste período.

Palavras–chave: etnicidade, literatura, preconceito racial, raça e sociedade

1. INTRODUÇÃO
Ao longo do tempo, pessoas formaram grupos de etnias diversas e desenvolveram seus próprios
costumes e culturas, que, por muito tempo, mantiveram-se isolados do resto do mundo, de outras
culturas e etnias, mantendo suas tradições firmes. Entretanto, estamos vivendo em um mundo
globalizado, onde temos todas as possibilidades de conhecer nossas culturas e interagir com elas, o
suporte
que muitas vezes falta, é a aceitação de alguns grupos culturais de “modificar suas tradições originais”
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e outros grupos, muitas vezes, podem achar que são--------------------------------------------
melhores do que outros, causando diversos
conflitos, muitos deles catastróficos, entre esses grupos
ISBNdivergentes. Esses conflitos começam por
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atitudes preconceituosas entre esses grupos, seja por suas
VII CONNEPI©2012ou qualquer outro motivo
raças, culturas,
sem fundamento científico, já que não é praticamente impossível provar essas diferenças biológicas
entre as raças, e, que ainda assim vem mostrando desde o início da história seu poder destruidor no
mundo através de guerras e milhares de mortes, como a segregação racial dos Estados Unidos (1865-
1964), a Segunda Guerra Mundial, mais especificamente o holocausto nazista na Alemanha (1939-
1945) e o Apartheid na África do Sul (1948-1994).
Essas atitudes, muitas vezes extremamente violentas, podem ser observadas em diversas
criações de diversos artistas por todo o mundo e em diversas épocas, que retrataram o mundo, a
sociedade a qual estavam inclusos e todos os acontecimentos que possivelmente ocorreram nesses
períodos, sendo parte construtiva desse mundo (FACINA, 2004). Esses artistas usaram de seus
talentos para denunciar os acontecimentos, o preconceito da sociedade, as causas e as consequências
que esses atos trouxeram para o mundo e podem ser observados no nosso cotidiano.
Para essa pesquisa, a obra selecionada foi Harry Potter e a Pedra Filosofal, onde a autora
utiliza da ficção para nos mostrar o preconceito, a organização da sociedade, faz referência, mesmo
que indireta, aos grandes conflitos da história causados por esse preconceito, como também as
consequências desses atos para os indivíduos dessa sociedade. Diante dessa temática proposta pela
autora, este artigo visa analisar a obra de J. K. Rowling, Harry Potter e a Pedra Filosofal, em uma
perspectiva sociológica, identificando a maneira como a sociedade mágica criada pela autora é
organizada, como os membros dessa sociedade direcionam atitudes preconceituosas contra outras
pessoas, buscando desfavorecê-las na sociedade. Esta obra também será analisada a relação entre a
sociedade e a literatura e por fim identificar a obra como um meio de protesto contra o preconceito
racial, de acordo com a nossa realidade.

2. MATERIAL E MÉTODOS
A obra selecionada para esse projeto foi Harry Potter e a Pedra Filosofal, publicada em 1997,
primeiro livro da famosa saga bruxa Harry Potter e escrita pela renomada escritora britânica J. K.
Rowling. A obra será analisada aqui por meio da dimensão da crítica sociológica e como um
instrumento integrante de uma sociedade, que mostra através da ficção, traços de uma organização
social, de quais maneiras as atitudes preconceituosas podem ser vistas na obra através dos indivíduos
dessa sociedade e como isso afeta a sociedade como um todo. Isso, levando em consideração as
discussões dos conceitos de raça e etnia no parâmetro social e científico, bem como os principais
conflitos ocorridos entre grupos raciais e étnicos diferentes e por fim estabelecer uma relação entre
esses conceitos impostos pela sociedade e a obra fictícia de J. K. Rowling.
Até o momento, diversas leituras e discussões de textos sociais foram realizadas durante o
período de desenvolvimento do projeto, relacionando a todo o momento esses diversos textos com a
obra selecionada para a análise e todo o seu contexto com o mundo real. Os textos já analisados até
agora foram: Giddens (2005), Bulcão Neto (2009), Marisa Corrêa Silva (2003, p. 123-133), Candido
(2010) e FACINA (2007). E diante da interpretação e discussões desses textos, foram traçadas linhas
de pensamentos que vão ao encontro das perspectivas do que é transmitido pelo livro de J. K. e assim,
traçamos por fim uma linha entre realidade e ficção através das análises feitas dos textos e livro.
De acordo com Giddens (2005), o conceito de raça pode ser entendido como a divisão de grupos
de pessoas através de suas diferenças biológicas, porém não é tão fácil separar pessoas em grupos
diferentes. Mais tarde, o conceito de raça foi desacreditado pelo fato de existirem apenas pequenas
variações físicas entre as pessoas, sendo essas diferenças, resultado do contato entre diferentes grupos
de indivíduos. Barbujani, em sua obra A Invenção das Raças (2007), mostra os estudos de Lewontin,
geneticista de Harvard, sobre métodos que apresentavam até onde as raças podem ser diferentes, com
base nos genes, comparando um indivíduo com todos os outros e analisando suas diferenças genéticas.
Em 1972, Lewontin resolve analisar 17 genes, os mais conhecidos na época, com pessoas de sete tipos
de raças diferentes, o resultado mostrou que 85% das variações estão em membros de uma mesma
população, 8% dessas diferenças estão em populações de uma mesma raça, e por fim, 7% das
variações estão nos indivíduos que pertencem a raças diferentes. Logo após, Lewontin publicou um
artigo sobre suas pesquisas onde ele diz que: “Com base em suas diferenças genéticas, as raças e
populações humanas são notavelmente semelhantes entre si, [...]”.
Além disso, é possível que a primeira divisão de raças tenha sido feita pelo conde Joseph Arthur
de Gobineau, também chamado de “o pai do racismo moderno”. Joseph classificou a existência de três
raças distintas: os brancos, negros e amarelos e ainda segundo ele, os brancos eram superiores às
demais raças. Gobineau também foi o primeiro a elaborar teorias sobre o racismo científico que,
segundo Bulcão Neto (2009), baseava-se em uma separação de raças humanas, onde os arianos
(presença da elite europeia) seriam superiores às demais raças e que a queda das civilizações se dava
pela miscigenação. Já Lukács define Gobineau como um homem que “lançou ao mundo pela primeira
vez um panfleto pseudocientífico realmente eficaz contra a democracia e a igualdade, baseada na
teoria racista”. As teorias do Conde, mais tarde, foram substituídas por um racismo baseado na
evolução, ou seja, visava a purificação das raças e não mais a sua deterioração através de guerras entre
essas raças, essa teoria foi bastante influenciada pelo evolucionismo de Darwin, que, primeiramente
repulsava as crueldades sofridas pelos negros, porém, surge também o racismo de Darwin, onde ele
declara que: “No futuro, não muito longínquo, se medido em termos de séculos, num determinado
ponto as raças humanas civilizadas terão exterminado e substituído quase por completo as raças
selvagens em todo o mundo”. Surge daí Louis Agassiz, contrário às terias darwinista e que
primeiramente defendia o criacionismo, que sustentava o surgimento da humanidade através de um
ancestral comum, bem como a igualdade para todos, logo passa a defender o poligenismo, que sugere
a criação separada ou evolucionária da humanidade e favorece o segregacionismo racial, confrontando
com a miscigenação das raças.
Essas divisões de raças, vistas inicialmente, e etnias, em sua maioria causam discordâncias entre
esses grupos, estamos lidando então, com o preconceito e a discriminação. O preconceito é um
conjunto de ideias e atitudes pré-estabelecidas de um grupo para com o outro, sendo que essas
concepções sobre os outros grupos, nem sempre são reais, estando diretamente ligadas às ideias de
estereótipos, dificultando a relação entre a sociedade. Uma das maneiras mais conhecidas de
preconceito é o racismo, que se baseia pelas distinções biológicas das pessoas, porém, atualmente
observa-se o que se denomina de o novo racismo, o qual agora percebem-se atitudes discriminatórias
nas diferenças culturais da população. Já a discriminação refere-se ao comportamento real desses
grupos de pessoas, podendo ser percebida através da exclusão de membros de outros grupos, como
negar emprego a uma pessoa por sua diferença, seja ela biológica ou não.
No que diz respeito à crítica sociológica, Marisa Corrêa Silva (2003, p. 123-133) busca ver a
literatura como parte integrante da sociedade, estando longe de ser apenas uma criação individual e
inserida em um determinado contexto, lugar e tempo, carregando características do contexto o qual
está inserido.
O outro estudioso destacado pela crítica literária é Candido (2010). Ele mostra que esse tipo de
crítica deve mostrar os aspectos sociais na estrutura dos textos, e, que o crítico deve levar em
consideração outras possibilidades, além da sociedade, que melhoram as interpretações desses textos.
Candido (2010) estabelece uma relação entre a arte (tendo no caso como foco a literatura) e a
sociedade mostrando que a produção artística é influenciada de alguma forma pela sociedade, ou seja,
que ela exprime a civilização onde a literatura ocorre. Em um ponto de vista sociológico a arte é
social, pois ela depende de ações do meio onde está sendo criada, e repassa para o leitor uma nova
concepção de mundo e assuntos de valores sociais. Sendo assim a arte, um processo de comunicação
humana, é um processo que necessita de um comunicante (artista), comunicado (obra) e comunicando
(público), sendo este último o que define outro elemento da arte, que é o efeito causado por essa obra.
A atuação dos aspectos sociais na arte varia o que para a sociologia é dividida em dois tipos de arte: a
arte de agregação, onde a obra se inspira na experiência coletiva e visa meios de comunicação
acessíveis, e a arte de segregação, a qual se preocupa com novas expressões e assim dirigem-se a
menores públicos, que se destacam da sociedade.
Portanto, a arte é um sistema de comunicações entre a humanidade em que há a relação entre
três “reagentes” para a formação da arte, e que estão diretamente ligados à sociedade: autor, obra e
público e a interação entre essas três partes.
Para Facina (2007), a literatura é feita por um tipo de artista que por sua vez está sujeito a sua
época e sociedade, sendo assim, é influenciado pela sua classe social, origem étnica, gênero e o
processo histórico que está imposto, assim sua criatividade se desenvolve em um campo de
possibilidades, que limita as escolhas desse artista das letras. Dessa maneira, toda a criação literária é
um produto histórico e cultural, desenvolvido em uma determinada sociedade, por um indivíduo que
está inserido nela. Temos de analisar assim a arte, onde a literatura está incorporada, não somente
como algo individual e sim, que está dentro de uma sociedade. Pode-se dizer então, que a literatura
não apenas reflete o mundo social, como faz parte desse mundo, onde o autor está situado nesse
contexto social, e desse modo, a criação literária não será algo individual, mas será uma criação
coletiva, pois expressa as necessidades e a consciência de um grupo de indivíduos, captando seu
processo histórico, fazendo com que o autor literário esteja sob a influência desses grupos sociais.
Dessa maneira, a obra escolhida será analisada perante essas linhas de pensamento sobre a interação
entre a literatura e a sociedade.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
O primeiro livro da escritora britânica Joanne Kathleen Rowling, Harry Potter e a Pedra
Filosofal, é uma obra fictícia que mostra o primeiro ano de um garoto “normal”, Harry Potter, em um
mundo completamente diferente, com pessoas de costumes diferentes, e até o momento inexistente
para ele, um mundo mágico, literalmente. Uma sociedade que podia até ser igual ao que ele vivia
anteriormente, com um sistema político e econômico bem desenvolvidos, o Ministério da Magia e o
banco Gringotes afirmam isso. Porém, é um mundo ao mesmo tempo completamente diferente do
seu em diversos detalhes observados ao longo da história, como por exemplo, a descrição do Beco da
Diagonal, o primeiro lugar do mundo dos bruxos que Harry viu: “Havia lojas que vendiam vestes,
lojas que vendiam telescópios e estranhos instrumentos de prata que Harry nunca vira antes, janelas
com pilhas de barris contendo baços de morcegos e olhos de enguias, pilhas mal equilibradas de livros
de feitiços, penas de aves para escrever e rolos de pergaminhos, vidros de poções, globos de...” (p. 66).
E como qualquer outra sociedade, possui grupos de diferentes classes sociais e “raças”.
Diferenças essas que, como no mundo real, causou um terrível conflito entre a toda a sociedade bruxa,
afetando até a comunidade não-bruxa, os trouxas. Como já foi visto antes, muitos grupos da sociedade
consideram-se superiores a outros, algo que não foi diferente na história de J. K. Na sociedade da
autora, existem bruxos, lobisomens, duendes, gigantes, fantasmas, centauros, entre outras criaturas que
para nós só existem em contos fantasiosos. E essa grande diferença faz com que surjam atitudes
preconceituosas, sejam elas em forma de palavras ou em reais atitudes, como a grande guerra causada
por Lord Voldemort quando Harry era um bebê, tanto dentro da comunidade bruxa, como fora dela.
Podemos observar o preconceito dos trouxas para com os bruxos no início do livro, com o tio de
Harry, Válter Dursley, como também da população ao ver Hagrid, meio gigante, passando na rua com
o menino: “Ao parar no costumeiro engarrafamento matinal, não pôde deixar de notar que havia uma
quantidade de gente estranhamente vestida andando pelas ruas. Gente com capas largas. O Sr. Dursley
não tolerava gente que andava com roupas ridículas – os trapos que se vestiam nos jovens!” (p. 08);
“Esquecera completamente as pessoas de capas até passar por um grupo delas próximo à padaria. Não
sabia por quê, mas elas o deixavam nervoso.” (p. 09); “As pessoas que passavam olhavam muito para
Hagrid enquanto os dois atravessaram a cidadezinha até a estação.” (p. 60); “- Loucos – disse tio
Válter – de pedra, todos eles. Você vai ver. É só esperar.” (p. 81).
O Sr. Dursley, bem como o restante de sua família, são somente um exemplo de muitos outros
trouxas que possuem esse mesmo tipo de atitude preconceituosa e seus ideais preconceituosos
persistem mesmo com um membro de sua família, no caso Harry, como podemos ver na seguinte
citação: “Os Potter sabiam muito bem o que pensavam deles e de gente de sua laia...” (p. 12); “Com
frequência, os Dursley falavam de Harry assim, como se ele não tivesse presente – ou melhor, como se
ele fosse alguma coisa muito desprezível que não conseguisse entendê-los, como uma lesma.” (p. 24).
Os Dursley ainda baseavam suas atitudes em estereótipos, já que nunca chegaram a conhecer de fato o
mundo dos bruxos.
Harry mal chega a conhecer como funciona aquele “novo” mundo e já é surpreendido com o
preconceito entre bruxos, onde um dos novos alunos da escola de Hogwarts, Draco Malfoy, que
pertence a uma família rica e “puro-sangue”, mostra o quão preconceituoso é, com bruxos que são
mestiços, descendem de bruxos e trouxas: “- Você não vai demorar a descobrir que algumas famílias
de bruxos são bem melhores do que outras, Harry. Você não vai querer fazer amizade com as ruins. E
eu posso ajudá-lo nisso.” (p. 96). Essa talvez seja uma das atitudes mais explícitas em todo o livro.
Porém, Malfoy não só é contra os mestiços, ou sangue-ruim (nome de preferência de Draco), como
também não gosta de bruxos cuja situação financeira não é como a dele, sendo Rony Wesley, o melhor
amigo de Harry, a principal vítima de seus atos durante todo o livro, como podemos ver em alguns de
seus diálogos com os dois bruxos da Grifinória: “- Está tentando ganhar uns trocadinhos, Wesley? Vai
ver que virar guarda-caça quando terminar Hogwarts. A cabana de Rúbeo deve parecer um palácio
comparado ao que sua família está acostumada” (p. 169). Nesse trecho, Draco fere até Hagrid, que é
guarda-caça da escola.
Não são apenas os humanos que agem dessa forma. Quando Harry, seus amigos e Malfoy
recebem uma detenção da professora Minerva McGonagall, vice-diretora de Hogwarts e diretora da
Grifinória, vão parar na floresta proibida, lugar que cerca a escola, onde lá conhecem um bando de
centauros e um deles salva Harry quando este está para ser atacado por Lord Voldemort. Harry monta
no centauro, Firenze, e no momento que os outros chegam, desaprovam a atitude do centauro ao deixar
o garoto montá-lo: “- Firenze! – Agouro trovejou. – O que é que você está fazendo? Está carregando
um humano! Não tem vergonha? Você é uma mula?” (p.221).
Já no fim do livro, Harry enfrenta seu maior inimigo, Lord Voldemort, o qual “destruiu” há anos
atrás quando ainda era bebê, sendo conhecido mundialmente, dentro do mundo bruxo, como o
menino.
que sobreviveu. O Lorde das Trevas é o exemplo mais radical de toda a saga de como o preconceito
pode afetar todo um mundo, ou no caso da saga, dois, o mundo trouxa e o mágico. Ele matou inúmeros
trouxas e mestiços por anos, até enfrentar o pequeno Potter e sua família, onde perdeu todos os seus
poderes. Quirrel, professor de Harry e fiel seguidor de Voldemort, explica algumas das ideias
preconceituosas de seu mestre ao revelar como o conheceu: “Lord Voldemort me mostrou como eu
estava errado. Não existe bem ou mal, só existe o poder, e aqueles que são demasiado fracos para o
desejarem...” (p. 248). A partir daí, podemos ver que o bruxo mais temido de todo o tempo não só era
contra qualquer outro bruxo que não fosse “puro-sangue” como também achava que todos eles fossem
inferiores a ele. Por fim Alvo Dumbledore, diretor da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, retrata
Voldemort como um bruxo que nunca estive de lado algum, se não somente do seu próprio, como se
ele fosse o superior a qualquer outro ser, como podemos ver em sua conversa com Harry, ao fim de
seu encontro com Lord Voldemort: “[...] ele demonstra a mesma falta de piedade tanto com os amigos
quanto com os inimigos.” (p. 254).
A partir da análise desses poucos trechos do livro, foi possível reconhecer algumas
características sociais da nossa realidade dentro desse mundo bruxo, vistas por meio das leituras dos
textos científicos sobre raça, etnicidade, crítica sociológica, relação entre literatura e sociedade, além
de algumas considerações sobre genética. Desse modo, a análise do livro Harry Potter e a Pedra
Filosofal foi feita por meio de discussões e fatos ocorridos ao longo da história, além de conceitos
polêmicos estabelecidos pela sociedade, como os de raça e etnicidade, que até os dias atuais causam
diversos conflitos entre muitos grupos sociais. É por meio dos trechos do livro que proferimos uma
relação entre as linhas de pensamentos fictícias da obra e da nossa realidade, podendo dessa forma
cumprir nosso principal objetivo, o de reconhecer a obra da escritora britânica como um instrumento
para falar sobre a sociedade e contra uma das principais formas de agressão a qualquer pessoa, o
preconceito racial.

4. CONCLUSÕES
Com base nessa análise do livro, podemos compreender a obra de Joanne não só como uma
criativa história ficcional, de bastante sucesso e muito prazerosa, mas também uma criação que retrata,
através da invenção desse “novo mundo”, personagens e histórias fictícios que retratam a nossa
sociedade em todos os seus aspectos.
Dessa maneira, as falas do Sr. Dursley, Quirrel, Draco Malfoy e outros personagens citados
acima, estão diretamente ligados à nossa sociedade, ao que vivemos e ainda estamos vivendo, como
ela está organizada entre o mundo dos trouxas e o bruxo, como alguns membros das duas sociedades,
o Sr. Dursley e Malfoy, por exemplo, deixam explícito em suas falas atitudes preconceituosas contra
outros indivíduos, sejam eles trouxas ou bruxos. Talvez o maior exemplo de intolerância contra
qualquer outro grupo de pessoas diferentes dele, o qual chega até a matá-las sem nenhum motivo
realmente importante a não ser o preconceito. Esses tipos de atitudes não são vistas apenas nesse
mundo criado pela autora do livro, em nossa realidade, convivemos com essas atitudes preconceitos,
desde antigamente, e principalmente lá, aonde essas atitudes chegavam ao extremo, com inúmeros
conflitos entre alguns grupos, que mataram inúmeras pessoas, estando a obra diretamente ligada à
realidade. Porém, ainda há muita coisa a ser analisada na obra, acrescentando novos dados à pesquisa
durante o restante do período proposto para o desenvolvimento da pesquisa.

REFERÊNCIAS
BARBUJANI, G. A Invenção das Raças. Tradução Rodolfo Ilari. São Paulo: Contexto, 2007.

CANDIDO, A. Literatura e Sociedade. Rio de Janeiro: Ouro Sobre azul, 2010.

FACINA, A. Literatura & Sociedade. Rio de janeira: Jorge Zahar Ed., 2004.

GIDDENS, A. Sociologia. Tradução Sandra Regina Netz. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 2005.

NETO, M. S. B. A Eloquência do Ódio. São Paulo: LivroPronto, 2009.


ROWLING, J. K. Harry Potter e a Pedra Filosofal. Rio de Janeiro: Rocco, 2000.

SILVA, M. C. Crítica Sociológica. In:.BONNICI, T.; ZOLIN, L. O. Teoria Literária: Abordagens


Históricas e Tendências Contemporâneas. Maringá: Eduern, 2003, p. 123–133.

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