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ARTIGO TÉCNICO

UTILIZAÇÃO DA RESPIROMETRIA NO CONTROLE OPERACIONAL


DE SISTEMAS AERÓBIOS DE TRATAMENTO DE ÁGUAS
RESIDUÁRIAS - A EXPERIÊNCIA DA CETREL

JOSÉ GILSON SANTOS FERNANDES


M.Sc. Recursos Hídricos (Eng. Ambiental) e Químico Industrial da Fontes & Haandel

ADRIANUS VAN HAANDEL


Ph.D, professor do Departamento de Engenharia Civil do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba.

PAULA FRASSINETTI FEITOSA CAVALCANTI


M.Sc., professora do Departamento de Engenharia Civil do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Federal da Paraíba.

LINDAUBERTO R. COURA
M.Sc. Recursos Hídricos (Eng. Ambiental) e Químico Industrial da Fontes & Haandel

RESUMO ABSTRACT
No sistema de lodo ativado um dos parâmetros operacionais One of the most important parameters in activated sludge systems is
mais importantes é a taxa de consumo de oxigênio (TCO) que the oxygen uptake rate (OUR), which represents the respiration
representa a velocidade de respiração dos microrganismos pre- velocity of the microorganisms present in the wastewater treatment
sentes no sistema de tratamento. A respirometria trata da medi- system. The respirometry deals with the measure and interpretation
ção e interpretação da TCO em sistemas aeróbios de tratamento. of the OUR in aerobic treatment systems. The OUR is the most
A TCO é o parâmetro mais indicado para avaliar a toxicidade de indicated parameter for evaluating the toxicity in the influent,
um afluente, porque o lançamento de cargas tóxicas resultará because any toxic load into the system results in a reduction of the
numa diminuição da velocidade de consumo de oxigênio pelos microorganisms oxygen consumption rate and, thus, in a reduction
microrganismos intoxicados e, portanto, da TCO. of the OUR. We have carried out experimental investigations using
O respirômetro automatizado utilizado na investigação experi- an automated respirometer, which calculates the OUR from measures
mental, media a TCO a partir da variação da concentração de of the concentration of the dissolved oxygen in a reactor, working
oxigênio dissolvido no licor misto de um sistema de lodo ativado with an laboratory scale activated sludge system. The laboratory
em escala de laboratório, operado paralelamente ao sistema de scale system operated in parallel with a real scale wastewater treatment
tratamento em escala real, mantendo-se as mesmas condições system, using the same operational conditions. During the experiments,
operacionais nos dois sistemas. Durante a operação houve vários several cases of variation of the OUR indicating the presence of
casos onde variações da TCO indicava a presença de material potentially toxic materials that could affect the operational stability
potencialmente tóxico que podem abalar a estabilidade of the scaled system could be observed. These toxic materials where
operacional do sistema de tratamento e esta toxicidade foi de fato indeed verified in the real scale treatment system. Thus, for CETREL,
constatada no sistema em escala real. Portanto, na CETREL o the respirometer worked mainly like a toximeter.
respirômetro funcionou principalmente como um toxímetro.

PALAVRAS-CHAVE: lodo ativado, respirometria, automação, KEYWORDS: activated sludge, respirometry, automation, toxicity,
toxicidade, controle operacional. operational control.

INTRODUÇÃO terial orgânico e geração de energia, ne- suspensão, especificamente sistemas de


cessária ao anabolismo (van Haandel e lodo ativado. Uma diminuição do valor
Toxicidade no sistema de lodo ati- Marais, 1999). Os resultados do meta- da TCO, quando não há redução da car-
vado resulta numa diminuição da capa- bolismo são o crescimento do lodo ativo ga orgânica aplicada, pode ser indicativa
cidade metabólica da biomassa, sem estar (microorganismos) e o consumo de oxi- da presença de substâncias tóxicas ou
relacionada a uma diminuição da carga gênio. inibidoras no afluente. Nesse caso o teste
orgânica aplicada. O metabolismo ou uti- A velocidade com que o oxigênio é respirométrico é também chamado de
lização do material orgânico pelas bacté- consumido ou a Taxa de Consumo de toximetria (van Haandel et al, 1998).
rias nos sistemas de lodos ativados tem Oxigênio, TCO pode ser medida num A CETREL é uma empresa de pro-
duas vertentes: (1) anabolismo, que é a teste respirométrico. A TCO é um teção ambiental que, na sua estação cen-
conversão de material orgânico em massa parâmetro muito importante para con- tral-ETE, trata os efluentes líquidos de
bacteriana e (2) catabolismo, que é o con- trole de operação e acompanhamento do mais de 50 empresas do Pólo Petroquímico
sumo de oxigênio para oxidação de ma- desempenho de sistemas com lodo em de Camaçari. A CETREL utiliza o siste-

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ma de lodo ativado para o tratamento de os períodos sem aeração se observa a di- As quedas repentinas da TCO indicavam
uma carga orgânica de 300 tDQO.d-1 minuição da concentração de OD. Esta- que material tóxico poderia estar sendo
correspondente a uma vazão de 120.000 belece-se duas concentrações de referên- descarregado.
m3.d-1. Os efluentes industriais, antes cia: um "set point" superior, ODsup e
de chegarem aos tanques de aeração, pas- um inferior, ODinf. Quando se aplica MATERIAL E MÉTODOS
sam por uma bacia de equalização que aeração, a concentração de OD tenderá a
amortece tanto as cargas hidráulicas como subir e quando chega ao valor ODsup a Para o monitoramento qualitativo da
orgânica e, inclusive, a toxicidade de al- aeração é interrompida, observando-se presença de substâncias tóxicas no aflu-
guns dos efluentes industriais. uma diminuição da concentração de OD, ente da ETE da CETREL, foi utilizado
Para avaliar a toxicidade dos por causa do consumo pelas bactéria. um respirômetro cujo "hardware" e
efluentes gerados no Pólo Petroquímico Quando a concentração de OD chega ao "software" foram desenvolvidos pelo
de Camaçari, foi instalado, na CETREL, valor ODinf após um intervalo t de res- Departamento de Engenharia Elétrica -
um sistema de lodo ativado em escala de piração, reinicia-se a aeração. Durante o DEE da Universidade Federal da Paraíba
bancada com as mesmas características período em que não há aeração a dimi- - UFPB. O respirômetro era constituído
operacionais do sistema em escala real fun- nuição da concentração de OD se deve de dois reatores biológicos com suas uni-
cionando da ETE da CETREL. O siste- ao consumo de oxigênio pelas bactérias dades periféricas (aeradores, agitadores e
ma é constituído de dois tanques de de maneira que: bombas), duas unidades de controle para
aeração, R1 e R2, operando com volume rOD = dODl/dt = rc = (dODl/dt)c determinação direta da concentração de
de 20 litros cada, recebia o lodo de retor- = TCO OD em função do tempo e um compu-
no de um dos tanques de aeração da ou tador para controle dos períodos de
CETREL e os efluentes industriais bru- TCO = rc = rOD = (ODsup- aeração e interrupção da aeração, realiza-
to (R1) e equalizado (R2). Os tanques de ODinf)/t (1) ção do cálculo da TCO a partir do perfil
aeração estão ligados a quatro bombas Com a operação contínua do da concentração de OD e armazenamento
peristálticas para dosagem do lodo, respirômetro na CETREL, os resultados de dados e controle das outras unidades
efluentes industriais e bruto. A TCO em mostraram que, no caso de uso do do sistema.
cada reator era medida continuamente efluente equalizado sob condições nor- A parte experimental desta pesqui-
através de microcontroladores ligados a mais, a curva da TCO em função do tem- sa foi desenvolvida na Estação de Trata-
um computador formando, junto com po exibe uma variação senoidal diária. A mento de Efluentes Líquidos - ETE da
os reatores um respirômetro. Assim, uma variação nestas condições pode ser atri- CETREL, sendo utilizado dois tipos de
diminuição repentina da TCO indicava buída a variações diárias na concentração águas residuárias industriais: (1) o efluente
uma diminuição na taxa de oxidação de do material orgânico e na temperatura, industrial bruto(Ei) que vinha direto do
material orgânico que, por sua vez, signi- que também tinha um perfil variável, sen- Pólo Petroquímico de Camaçari, e (2) o
fica que a taxa do metabolismo se tornara do observados valores altos de dia e valo- efluente equalizado (Ee) que é o efluente
mais baixa ou, em outras palavras, que res baixos de noite. No caso do efluente industrial bruto após passar pela bacia de
havia presença de material com caracte- industrial as curvas de TCO geradas eram equalização da ETE da CETREL. Pro-
rísticas inibidoras e/ou tóxicas, já que não muito mais irregulares e imprevisíveis exi- curou-se manter nos reatores do
havia limitação de substrato. bindo, algumas vezes, em 24 horas, tan- respirômetro as mesmas condições
Para medir a TCO foi adotado, nes- to grandes elevações como quedas signi- operacionais do sistema em escala real
te experimento, o princípio da determi- ficativas da TCO. Foi possível operado na CETREL, principalmente
nação semi contínua que é bastante sim- correlacionar os aumentos da TCO aos com relação ao tempo de permanência
ples e se baseia em interrupções da aeração aumentos repentinos da concentração de do líquido e a idade de lodo. Desta ma-
em um reator de lodo ativado. Durante material orgânico no efluente industrial. neira, a TCO determinada no sistema em

R e to rno
d e ca rg as
tó x ica s B a cia d e
E m e rg ê nc ia

a flu en te a flu en te lic or e flu en te


B a cia d e T a nq ue d e
e qu aliza çã o D e ca n ta do r
b ru to e qu aliza do a eraç ão m isto

R2 L od o
d e re to rn o
M ic ro co n to le
e co m p utad o r
P a rsha ll
R1

Figura 1 - Esquema do sistema de tratamento da CETREL e da locação do respirômetro ali instalado.

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EXPERIÊNCIA DA CETREL

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escala de bancada seria igual à do tanque Levando-se em consideração as con- ETE da CETREL e a posição do
de aeração em escala real. Os termos dições particulares da ETE da CETREL respirômetro, destacando-se os reatores
"efluente industrial" e "efluente e, tendo-se um respirômetro com dois R1, alimentado com o efluente industri-
equalizado", usados na CETREL, foram reatores em escala de bancada, operou-se al bruto e R2, alimentado com o efluente
mantidos, apesar destes, na verdade, cons- um reator com o efluente industrial bru- industrial equalizado. Nos dois reatores
tituírem afluentes para as unidades expe- to (Ei) e outro com efluente equalizado foi aplicado o mesmo tempo de detenção
rimentais operadas na pesquisa. (Ee). A Figura 1 mostra um esquema da do líquido (1,5 d) e a mesma proporção
vazão afluente/vazão de lodo de excesso
(0,6) que no reator em escala real. O tem-
po de permanência no tanque de

( e q u a liz a d o )
E f lu e n t e
Lodo de
r e to r n o
equlização da CETREL é de 12 horas. A

II
alimentação dos reatores com Ei e Ee nos
reatores R1 e R2 abriu a possibilidade de
se avaliar a influência da atenuação de
eventuais cargas tóxicas no tanque de
B o m ba d os ad ora equalização.

B o m ba d os ad ora
lo d o d e r e t o r n o O valor da TCO foi determinado

d e e f lu e n t e
pelo método semi contínuo durante 24

componentes.
horas por dia. O computador que arma-
zenava os resultados estava ligado com o
centro de controle operacional do siste-
ma de tratamento (distante cerca de 500
m), podendo-se dali em qualquer mo-

Figura 2 - Esquema do respirômetro utilizado durante o período experimentalPeL dos


mento, ser observado a TCO nos dois
Aera-

de banc ada
dor

C
r e a t o r e m e s c a la reatores.
Observa-se que os reatores em es-
cala de bancada eram aproximadamente
2.600.000 vezes menores que o tanque
M o to r

de aeração TA-3, de onde vinha o lodo


c o n t r o la d o r

de retorno. Da maneira que os reatores


M ic r o -

do respirômetro foram operados, a TCO


obtida no reator com efluente equalizado
E le t r o d o

de O D

era indicativa também para a TCO no


C o m p u ta d o r

m is t o
L ic o r

p a ra d e s c a rg a

reator TA-3. A diferença no perfil da TCO


nos dois reatores ( R1 e R2 ) do
respirômetro era indicativa para a influ-
L ic o r

m is t o
S in a l d e a la r m e

ência do tanque de equalização sobre a


E le t r o d o
p a ra o p e ra ç ã o

de O D

TCO.
c o n t r o la d o r

A Figura 2 mostra o esquema dos


M ic r o -

componentes que formam o respirômetro.


M o to r

r e a t o r e m e s c a la

Distinguem-se os seguintes compo-


nentes:
de banc ada

· dois reatores em escala de laborató-


rio;
Aera-
dor

· quatro bombas dosadoras: duas


para os dois efluentes e duas para o lodo
de retorno;
· dois microcontroladores que rece-
B o m ba d os ad ora

B o m ba d os ad ora
lo d o d e r e t o r n o

biam os sinais dos eletrodos de OD e en-


d e e f lu e n t e

viavam o valor da concentração de OD e


da temperatura para o computador, rece-
bendo deste, comandos para ligar ou des-
ligar os aeradores, agitadores e as bombas
dosadoras;
· um micro computador que rece-
bia os sinais de OD e de temperatura e
usava um programa para calcular a TCO,
(b ru to )
E f lu e n t e
Lodo de
r e to r n o

os quais podiam ser observados, grafica-


I

mente, na tela do monitor.


O "software" Toxim-D foi desen-
volvido pelo DEE da UFPB para aten-

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der simultaneamente a dois do e podiam posteriormente serem apre- tura na memória do computador, para
microcontroladores. De cada reator ope- sentados através de programas de consulta posterior.
rado o Toxim-D, armazenava dados da planilhas eletrônicas como "Excel" ou
concentração do oxigênio dissolvido e da "Matlab". Assim, tinha-se a possibilida- APRESENTAÇÃO E
temperatura em função do tempo (uma de de gerar relatórios diários ou imediatos ANÁLISE DOS
leitura por segundo) e controlava as ações quando preciso fosse. RESULTADOS
de agitação do licor misto, aeração e Uma vez preparadas as unidades,
bombeamento de efluentes e lodo de re- era procedida a realização dos testes de O respirômetro instalado na
torno. A partir dos dados da variação da determinação "on line" da TCO. O CETREL produzia continuamente
concentração de OD com o tempo, cal- respirômetro tanto podia determinar a respirogramas onde podia ser observado
culava a TCO. Os períodos de TCO pela medição semi contínua (perí- continuamente o valor da concentração
amostragem gráfica eram de 10 s para OD odos de aeração seguidos por períodos com de oxigênio dissolvido (OD), a TCO e
e de 60 s para TCO e temperatura, a não a aeração interrompida). Este método tem opcionalmente a temperatura. Como
ser que fossem especificados outros valo- a vantagem de não depender a constante exemplos de diagramas da TCO num dia
res. de transferência de oxigênio no reator, o de funcionamento tipicamente normal
Quando se ativava o "software" no que, dada a variabilidade do afluente (e (sem registro de cargas tóxicas na
computador, o Toxim-D gerava automa- portanto a constante de transferência) CETREL) do respirômetro usado nesta
ticamente duas janelas gráficas, nas quais constitui uma vantagem importante. No investigação, apresenta-se a Figura 4 que
se podia apresentar, em cada janela dois caso do método semi contínuo só é ne- mostra perfis típicos dos valores das TCO
dos três parâmetros: OD, TCO e tempe- cessário especificar os valores dos limites nos reatores R1 (efluente equalizado) e
ratura. A Figura 3 é uma representação superior e inferior ("default" 3 e 1 mg.L- R2 (efluente industrial). As curvas típi-
da tela que se apresentava quando se es- 1 , respectivamente). Depois de ser dado cas dos valores da TCO são apresentadas
colhia representar a concentração de OD o comando "iniciar" eram gerados, auto- em função do tempo. Durante o período
e da TCO (o que geralmente se fazia). maticamente, diagramas da concentração de setembro de 1997 a abril de 1998
As curvas correspondentes aos dois de OD e da TCO dos dois reatores que foram gerados 240 destes respirogramas.
reatores controlados se distinguiam por estavam sendo monitorados. Simultane- A partir dos respirogramas da TCO
meio da cor. Simultaneamente os dados amente aos diagramas de OD e TCO eram obtidos, justificam-se os seguintes comen-
obtidos eram armazenados no disco rígi- armazenados os diagramas da tempera- tários genéricos:

Figura 3 - Tela em tempo real com o Toxim-D.

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A Figura 6 mostra o comportamento da
T C O ( m g . L - 1 . h - 1 ) n o E f lu e n t e E q u a liz a d o e In d u s t r ia l ( 2 1 / 0 4 / 9 8 ) .
60
DQO no dia 28/11/97. Nesta figura
Ee E i. também se encontram os valores da TCO
50 onde se nota, claramente, que há uma
relação entre a concentração da DQO e a
40
TCO, embora esta relação não seja linear.
30 As grandes variações da DQO no Ei re-
fletem em grandes oscilações da TCO.
20 Essa influência era esperada, uma vez que
10
mais material orgânico significa uma in-
tensificação do metabolismo que, por sua
0 vez, acelera o consumo de oxigênio.
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
T e m p o (h o ra
s) Relação da TCO com
toxicidade
Figura 4 - Respirograma mostrando o perfil típico da TCO com o tempo, no
reator com (Ee) curva azul e com (Ei) curva vermelha. Na CETREL, embora o controle da
tura para o efluente equalizado. Foi veri- qualidade dos efluentes das indústrias do
(1) há uma tendência de variação ficado para a temperatura um mínimo de Pólo Petroquímico seja bastante rígido,
cíclica da TCO para os dois efluentes em 29 0C e um máximo de 32 0C, aproxi- acidentes que resultam em cargas tóxicas
função do tempo: normalmente era ob- madamente. Na mesma figura, pode-se podem ocorrer, pondo em perigo o siste-
servado um mínimo por volta de 06:00- ainda observar a TCO medida no mes- ma de lodo ativado. Durante o período
08:00 h e um máximo por volta das mo período. O respirograma mostram experimental, houve alguns casos de re-
14:00 - 18:00 h, tendo-se valores médi- que, no caso do efluente equalizado, ha- dução temporária da eficiência do trata-
os entre um mínimo de 35 mg.L-1h-1 e via uma boa correlação entre a tempera- mento devido à toxicidade do afluente
um máximo de 45 mg.L-1h-1; tura e a TCO. As variações da TCO (au- (efluentes do Pólo) mas, em nenhum
(2) a variação da TCO com o tem- mento ou diminuição) correspondiam momento a estabilidade operacional do
po era maior quando se usava o efluente diretamente com as variações da tempe- sistema esteve em perigo, graças a bacia
industrial e não havia uma clara tendên- ratura. Essa correlação não era observada de equalização. O acidente de maior gra-
cia para um comportamento senoidal. As no reator com Ei. No caso do efluente vidade se deu no período de 16 a 22 de
variações eram devidas às repentinas mu- industrial havia interferência de outros setembro de 1997.
danças da carga orgânica aplicada que re- fatores na TCO. No dia 16 de setembro a TCO do
sultavam em flutuações correspondentes reator que recebia o efluente Ee era nor-
no valor da TCO. Outra possibilidade Relação da TCO com a mal, média de 45 mg . L -1 h -1 com
poderia ser a presença de condições des- DQO uma queda no final do expediente, nos
favoráveis no efluente industrial como, dias 17 e 18 a TCO continuava a cair em
por exemplo, uma temperatura muito Para avaliar se existia uma relação média de 40 para 30 mg . L -1 h -1,
elevada ou um valor de pH extremo ou entre as cargas orgânicas momentâneas, Figura 7.
ainda a presença de substâncias tóxicas aplicadas nos reatores do respirômetro, e Resolveu-se, portanto, fazer a
em concentrações que afetava os micror- os perfis da TCO, os valores da DQO monitoração do efluente industrial (Ei)
ganismos; dos efluentes industrial e equalizado fo- nos quais foram gerados os toxogramas
(3) a TCO média nos dois reatores ram determinadas em função do tempo. da Figura 8, os três toxogramas referentes
era aproximadamente igual, significando
que: (a) não havia remoção de material VARIAÇÃO DA TCO EM FUNÇÃO DA TEMPERATURA NO Ee.(04/04/98)
orgânico na bacia de equalização (senão a 60 32
TCO média do efluente equalizado seria
menor que a TCO média do efluente 50 31
bruto) e (b) a presença de eventuais car-
C)

gas tóxicas no efluente industrial tinham 40 30


TCO(mgO 2/L/h)

só um efeito transitório sobre a atividade


Temperatura(

de lodo (senão a TCO média no reator 30 29

com Ei seria menor que a do reator com


20 28
Ee).
T CO-E e. T emperatura-Ee.

Relação da TCO com a 10 27

temperatura 0 26
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23
A temperatura do conteúdo dos re- Tem po(horas)
atores também exibia uma variação
senoidal como pode ser observada na Fi-
gura 5 que mostram, respectivamente, o Figura 5 - Respirograma apresentando simultaneamente os valores da
comportamento da variação da tempera- temperatura e da TCO do reator com Ee.

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ao Ei desta figura correspondem aos dias


VARIAÇÃO DA TCO EM FUNÇÃO DA DQO NO Ee. e Ei.(28/11/97)
19, 20 e 21 de setembro. No dia 19 de
setembro a TCO do Ei era normal com
TCO-Ee. TCO-Ei. DQO-Ei. DQO-Ee. variações entre os valores de 35 a 45 mg .
80 4500 L -1 h -1. No dia 20 a TCO era atípica
70 4000 no reator com Ei, apresentando valores
em torno de 30 mg . L -1 h -1
60 3500
(respirograma marrom), caindo para va-
TCO(mgO 2/L/h)

50 3000 lores menores que 20 mg . L -1 h -1

DQO(mg/L)
durante várias horas no dia 21
40 2500
(respirograma preto), o que resultou
30 2000 numa situação de alerta na ETE.
20 1500 Portanto, embora se caraterizasse a
entrada de uma carga tóxica que chegou
10 1000 a reduzir drasticamente a TCO, ou seja, a
0 500 atividade biológica do lodo, podendo
2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 provocar aumento da DQO no efluente
Tempo(horas) tratado final, a quantidade de material
tóxico foi insuficiente para causar insta-
Figura 6 - Respirograma mostrando simultaneamente os valores bilidade operacional no sistema em escala
de TCO e da DQO nos efluentes em estudo. real que trata o efluente equalizado, devi-
do à amortização da bacia de equalização.
Variação da TCO no 1º caso de indício de Toxicidade no Ee.
TCO-Ee.16/09/97 TCO-Ee.17/09/97 TCO-Ee.18/09/97 TCO-Ee.22/09/97

CONCLUSÕES
50
45 A determinação da Taxa de Consu-
40 mo de Oxigênio - TCO, medida conti-
TCO(mgO 2/L/h

35
30
nuamente, é um bom parâmetro para
25 avaliar a atividade biológica do sistema
20 de lodo ativado, se comparado com os
15 demais testes que se conhece até o mo-
10
mento como, por exemplo, a turbidez ou
5
0
a concentração de material orgânico do
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 afluente ou ainda a produção de lodo no
Tempo(horas) sistema.
O "toxímetro" instalado na ETE da
Figura 7 - Toxogramas do reator 1-Ee, evidenciando a chegada de carga CETREL, na sua essência, é um
tóxica (poluentes prioritários). respirômetro aberto que permite deter-
minar a TCO de um sistema de lodo ati-
vado. A toxicidade do afluente pode ser
Variação da TCO no 1º caso de indício de Toxicidade no Ei. detectada num sistema de tratamento
TCO-Ei.19/09/97 TCO-Ei.20/09/97 TCO-Ei.21/09/97 porque resulta numa diminuição repen-
60 tina da atividade bacteriológica, detecta-
50
da pelo respirômetro.
O toxímetro testado na CETREL
gerava respirogramas, perfis da TCO em
TCO(mgO2/L/h)

40
fução do tempo. O respirograma usando
30
efluente equalizado normalmente exibi-
20 am um perfil senoidal diário, aumentan-
do durante o dia e diminuindo durante a
10
noite. Este perfil pôde ser atribuído par-
0 cialmente à variações da temperatura e
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 parcialmente à carga orgânica também
Tempo(horas)
variável. .
O perfil da TCO no reator com
Figura 8 - Toxogramas do reator 2-Ei, evidenciando a chegada de carga efluente industrial (não equalizado) exi-
tóxica (poluentes prioritários). bia um comportamento irregular, indi-
cando que havia introdução de um
efluente muito variável em composição e
outras caraterísticas (temperatura, pH) e
que, além disso, havia entrada freqüente

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PERACIONAL TAMENTO DE ÁGU
RAT AS RESIDUÁRIAS - A
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EXPERIÊNCIA DA CETREL

ARTIGO TÉCNICO
de toxicidade na ETE da CETREL, HENZE, M., GRADY, C. P. L., GUJER, W., Symposium on Modelling and Control of
embora isto normalmente não chegasse a MARAIS, G. V. R. e MATSUO, T Biotechnical Processes, 29 March - 2 April,
Activated sludge model n. 1 - Scientific and Keustone Colorado, USA. 1992.
prejudicar o sistema de tratamento por Technical reports n.1. IAWPRC. London,
causa do tanque de equalização, onde Reino Unido. 1986. WENTZEL, M. C., MBEWE, A . and
EKAMA, G. A. Batch Test for Measurement
eram diluídas as cargas tóxicas. A grande HENZE, M., GRADY, C.P.L., GUJER, W., of Readly Biodegradable COD and Active
diferença entre os perfis da TCO dos re- MARAIS, G.V.R., e MATSUO, T. Organism Concentrations in Municipal
atores com os dois efluentes, mostra a efi- Activated sludge model n 2. IAWQ. n 2, Waste Waters. Water S. A. University of
cácia do tanque de equalização como uni- London, Reino Unido. 1994. Cape Town. South Africa, v. 21, n. 2, pp.
117-124. 1995.
dade reguladora e a sua importância na KONG, Z.; VANROLLEGHEM, P. A., e
estabilidade operacional do sistema de VERSTRAETE, W. Rapid IC 50 estimation
tratamento. and on-line toxicity monitoring with the
RODOTOX, an activated sludge based
Em algumas ocasiões, o desvio do
comportamento normal da TCO em fun-
biosensor, Laboratório form Microbial Endereço para
Ecology, Centre for Enviromental Sanitation,
ção do tempo, permitiu prever a entrada University of Gent, Coupure Links 653, correspondência:
de material tóxico na estação, assim como B-9000, Belgium, pp. 518-525. 1992.
de material orgânico excessivo, embora, MARAIS, G. v. R. e EKAMA, G.A. The José Gilson S. Fernandes
nestas ocasiões, tenha sido observada uma Activated Sludge Process. Steady State
boa estabilidade operacional e a qualida- Bahaviour. Water S.A., v. 2, n.4, pp.163- Via Atlântica, Km 09
200. 1976.
de do efluente final da CETREL tenha Interligação Estrada do Côco/
se mantido compatível com as exigências SCHOWANEK, D.; WEYME, M.; Polo Petroquímico
VANCAYSEELE, C.; DOMS, F.; 42810-000
estabelecidas pelas normas de proteção VANDEBROEK, R. & VERSTRAETE, W.
ambiental. The RODTOX biosensor form rapid Camaçari - BA
Tanto o software quanto o monitoring of biochemical oxygen demand and
hardware, demonstraram uma boa toxicity of wastewaters. Med. Fac. Tel. (71) 634-6871
Landbouww. Rijksunic. Gent, 52 (4), pp.
performance e confiabilidade, o que le- 1757-1779. 1987.
vou a implementação definitiva da uni- E-mail:
SPANJERS, H., VANROLLEGHEM, P.,
dade de respirometria na ETE da OLSSON, G. e DOLD, P. . Respirometry mailefernandes@cetrel.com.br
CETREL. Estas unidades vêm produ- in control of the activated sludge process.
zindo curvas da TCO, OD e da tempera- Wat. Sci. Tech., v. 34, pp. 117-126. 1996.
tura que vêm sendo apresentadas como VAN HAANDEL, A. C. e CATUNDA, P.F.C.
provas da estabilidade e bom desempe- O balanço de massa em sistemas de trata-
nho do sistema de tratamento, em relató- mento com lodo em suspensão. Revista
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encarregadas do controle do meio ambi-
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Vol. 6 - Nº 3 - jul/set 2001 e Nº 4 - out/dez 2001 engenharia sanitária e ambiental 137

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