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CENTRO UNIVERSITÁRIO MOACYR SREDER BASTOS

DISCIPLINA: DIREITO ADMINISTRATIVO II


6º PERÍODO
PROF.: FREDERICO MORAES

AGENTES PÚBLICOS

I. INTRODUÇÃO

Para Hely Lopes Meirelles agentes públicos “são todas as pessoas físicas incumbidas, definitiva ou
transitoriamente, do exercício de alguma função estatal”.
São pessoas físicas incumbidas de uma função estatal, de maneira transitória ou definitiva, com ou
sem remuneração. O conceito é amplo – abrange todas as pessoas que de uma maneira ou de outra
prestam um serviço público – estando abrangidos por esse conceito desde os titulares dos poderes do
Estado até algumas pessoas que se vinculam contratualmente com o Poder Público.

II. ESPÉCIES

A doutrina não apresenta um a classificação uniforme para os agentes públicos. Há, na verdade, um
sem número de classificações elaboradas por nossos doutrinadores, a exemplo da construída por Celso
Antônio Bandeira de Mello, e seguida por Maria Sylvia Di Pietro e Diógenes Gasparini, que subdivide os
agentes públicos em agentes políticos, servidores públicos e particulares em colaboração com o poder
público (agentes honoríficos, delegados e credenciados).
Neste estudo, adotaremos novamente a classificação apresentada por Hely Lopes Meirelles que, a
nosso ver, guarda mais proximidade com as questões exigidas nos concursos públicos em geral.
O eminente autor divide os agentes públicos em cinco espécies: (1) agentes políticos, (2) agentes
administrativos, (3) agentes delegados, (4) agentes honoríficos e (5) agentes credenciados, que ainda
pode ser acrescentada da sexta categoria, denominada (6) agentes militares.

1. AGENTES POLÍTICOS. Na lição de José dos Santos Carvalho Filho “caracterizam-se por terem
funções de direção e orientação estabelecidas na Constituição e por ser normalmente transitório o
exercício de tais funções. Como regra sua investidura se dá através de eleição, que lhes confere o direto a
um mandato, e os mandatos eletivos caracterizam-se pela transitoriedade do exercício das funções,
como deflui dos postulados básicos das teorias democráticas e republicanas. Por outro lado, não se
sujeitam às regras comuns aplicáveis aos servidores públicos em geral; a eles são aplicáveis normalmente
as regras constantes da Constituição, sobretudo as que dizem respeito às prerrogativas e à
responsabilidade política”.
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Sendo assim, a espécie agentes políticos agasalharia apenas aqueles que exercem realmente uma
função tipicamente política, como representantes da vontade da coletividade, compreendendo as
atividades que implicam na fixação de diretrizes ou planos governamentais.
São os membros do Poder que ocupam a cúpula diretiva do Estado. É o caso dos Chefes do Poder
Executivo (Presidente da República, Governadores e Prefeitos), seus respectivos vices e auxiliares
imediatos (Ministros de Estado, Secretários de Estado e Secretários Municipais), e os membros do Poder
Legislativo (Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais, Deputados Distritais e Vereadores).
No entanto, adotando posicionamento minoritário, Hely Lopes Meirelles inclui os membros da
Magistratura, do Ministério Público e dos Tribunais de Contas entre os agentes políticos, sob o argumento
de que eles também exercem uma parcela da soberania estatal, com atribuições decorrentes diretamente
da própria Constituição Federal.
Contudo, tais categorias ficam mais bem alocadas entre os servidores estatutários vitalícios.

2. AGENTES ADMINISTRATIVOS (SERVIDORES PÚBLICOS). Agentes administrativos, ou servidores


públicos, são todos aqueles que exercem na Administração um cargo, emprego ou função pública com
vínculo empregatício e mediante remuneração, estando sujeitos à hierarquia funcional do órgão ou
entidade no qual se encontram lotados.
Nessa categoria se incluem os servidores estatutários e os empregados públicos, cujo meio de
ingresso é o concurso público (CF, art. 37, II), os ocupantes de cargos em comissão ou funções de
confiança (CF, art. 37, V) e os contratados temporariamente em virtude de necessidade de excepcional
interesse público (CF, art. 37, IX).
Mais adiante dedicaremos capítulo específico sobre esta categoria de agentes públicos.

3. AGENTES DELEGADOS. Os agentes delegados são os particulares que executam determinada


atividade, obra ou serviço público em nome próprio e por sua conta e risco, em regra, mediante
delegação e sob a permanente fiscalização do Poder Público.
São os leiloeiros, tradutores e intérpretes públicos, bem como os concessionários, permissionários
e autorizatários de serviços públicos e, ainda, os titulares de ofícios de notas (notários) e de registro
(registradores), como previsto no art. 236 da CF.
Esses não são agentes administrativos (servidores públicos), pois não executam suas atividades de
forma subordinada. Contudo, possuem legitimidade passiva para responder em mandado de segurança, e
por seus atos sujeitam-se à responsabilidade civil objetiva e às sanções de improbidade administrativa
(art. 2º da Lei 8.429/92).

4. AGENTES HONORÍFICOS. São aqueles que, por meio de requisição, designação ou nomeação,
prestam transitoriamente serviços públicos de caráter relevante, em razão de sua condição cívica, de sua
honorabilidade ou de sua notória capacidade profissional.
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Em geral não mantém qualquer relação funcional com o Estado e não são remunerados pelo
desempenho de suas funções, mas são considerados agentes públicos (“funcionários públicos”) para fins
penais (art. 327, CP). São, entre outros, os jurados, os convocados para o serviço eleitoral, como os
mesários e os integrantes de juntas apuradoras, e os comissários de menores voluntários.
Sobre o tema, ressalte-se a edição da Lei nº 9.608/98, dispondo sobre serviço voluntário.

5. AGENTES CREDENCIADOS. São aqueles convocados para representar o Poder Público em


determinado ato ou para desempenhar uma tarefa específica. Como exemplo, podemos citar a
convocação de um cidadão para representar o país em determinada solenidade internacional. Também
são considerados funcionários públicos para fins penais (art. 327, CP).

6. AGENTES MILITARES. São agentes públicos pertencentes às instituições militares, que são
organizadas com base na hierarquia e na disciplina. Os militares que compõem os quadros permanentes
das forças militares possuem vinculação estatutária, e não contratual, mas o regime jurídico é
disciplinado por legislação específica diversa da aplicada aos servidores civis.
No âmbito da União Federal, o Estatuto do Militares foi estabelecido pela Lei Federal nº 6.880/80,
para disciplinar o regime estatutário dos militares ligados às Forças Armadas, constituídas pela Marinha,
pelo Exército e pela Aeronáutica, instituições nacionais permanentes e regulares, fundamentadas nos
princípios de disciplina e hierarquia e organizadas soba a autoridade suprema do Presidente da República
(art. 142, CF).
Os membros das Polícias Militares e dos Corpos de Bombeiros Militares são militares dos Estados,
do Distrito Federal e dos Territórios, sendo as patentes dos oficiais conferidas pelos respectivos
governadores (art. 42, § 1º, CF).

III. SERVIDORES PÚBLICOS

De acordo com as lições de Maria Sylvia Di Pietro, “servidores públicos em sentido amplo seriam as
pessoas físicas que prestam serviços ao Estado e às entidades da Administração Indireta, com vinculo
empregatício e mediante remuneração paga pelos cofres públicos” (Direito Administrativo; 14ª edição,
2002).

A Carta Política de 1988 estabelece três regimes de contratação para o serviço público: o regime
estatutário (servidor estatutário regido por lei específica – estatuto – para ocupar cargo público), o
regime trabalhista ou celetista (empregado público contratado sob regime da legislação trabalhista para
ocupar emprego público) e o regime especial (servidor temporário contratado por tempo determinado,
para atender a necessidade temporária de excepcional interesse público, para exercer uma função
pública, sem estar vinculado a cargo ou emprego público).
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Sendo assim, o termo servidores públicos engloba: os servidores estatutários, os empregados
públicos e os servidores temporários.

1. SERVIDORES PÚBLICOS ESTATUTÁRIOS. O regime estatutário é o regime comum de contratação


de agentes públicos pela Administração Direta (União, Estados, Distrito Federal e Municípios), assim
como pelas pessoas jurídicas de direito público da Administração Indireta (autarquias, fundações
públicas e associações públicas, sendo estas últimas reguladas pela Lei 11.107/2005). É o conjunto de
regras que regula a relação funcional que se estabelece entre o servidor estatutário e o Estado.
Tal regime é instituído por lei (estatuto). Cada ente da federação (União, Estado, Distrito Federal e
Municípios) é autônomo para instituir o seu próprio Estatuto, obedecendo-se às normas insculpidas no
texto constitucional, e podem livremente modificá-lo, desde que respeitados os direitos já adquiridos
pelo servidor.
O regime estatutário não pode ser alterado pela livre vontade das partes. Esta relação não tem
natureza contratual, sendo que todos os direitos e obrigações que incidem sobre os servidores
submetidos a este regime decorrem diretamente da lei, afastando-se completamente a possibilidade de
que o Poder Público e o servidor venham a celebrar um contrato de trabalho dispondo a respeito de
alguns aspectos dessa relação.
No âmbito federal, o regime de estatutário vem disciplinado na Lei nº 8.112/90 – Estatuto do
Servidor Público Federal.
Os servidores estatutários são selecionados por concurso público para ocupar cargos públicos,
tendo vinculação de natureza estatutária não contratual, e adquirem estabilidade após se sujeitarem a
estágio probatório.
O regime de cargo público é mais vantajoso e protetivo para o agente público do que o de emprego
público, pois foi concebido para garantir maior estabilidade no exercício das funções públicas, protegendo
o servidor estatutário das influências partidárias e pressões políticas oriundas da alternância na cúpula
diretiva do Estado.
Após aprovação em concurso público, os servidores estatutários são nomeados em cargos efetivos
ou cargos vitalícios (magistrados, membros do Ministério Público e membros dos Tribunais de Contas).
Os servidores estatutários também podem ser nomeados para ocuparem cargos em comissão
(cargos de confiança) ou para desempenhar funções de confiança, conforme art. 37, II, parte final, e V da
Constituição da República.
Aos servidores estatutários são garantidos os direitos trabalhistas previstos no art. 39, §3º, CF e
aposentadoria pelo Regime Próprio de Previdência Social (RPPS), previsto no art. 40 da CF.

2. EMPREGADOS PÚBLICOS. Além do regime tipicamente público dos servidores estatutários,


temos o regime essencialmente privado dos empregados públicos.

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Os empregados públicos ingressam por meio de concurso público para ocupar empregos públicos,
tendo uma vinculação contratual com o Estado regida pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT),
consolidando-se na celebração de um contrato de trabalho que se aplica em geral sobre as relações
jurídicas entre empregadores e empregados na esfera privada.
Também são denominados servidores “celetistas”. O regime de emprego público está
constitucionalmente definido como o sistema de contratação a ser utilizado nas pessoas jurídicas de
direito privado da Administração Indireta (empresas públicas, sociedades de economia mista, fundações
governamentais e consórcios privados).
O regime de emprego público é menos protetivo do que o regime estatutário de cargo público, pois
os servidores celetistas não fazem jus ao instituto da estabilidade e se aposentarão pelo Regime Geral
de Previdência Social (RGPS), disposto no art. 201 da Constituição da República.
Cabe ressaltar que a Emenda Constitucional nº 19/98 alterou a redação do art. 39 da Lei Maior,
extinguindo-se o instituto do regime jurídico único, para permitir ao legislador escolher entre os regimes
de cargo ou emprego, independentemente da natureza jurídica da entidade contratante.
Ou seja, não se exige mais que os entes federativos bem como as autarquias e fundações públicas
venham a submeter os seus servidores a idêntico regime jurídico, estando tais pessoas jurídicas de direito
público livres para deliberarem acerca do tratamento a ser outorgado aos mesmos, que tanto pode ser de
normas de natureza estatutária como de natureza trabalhista.
Contudo, em 02/08/2007, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 2.135/4, o
Supremo Tribunal Federal concedeu liminar suspendendo a nova redação da norma, de modo a
restabelecer o regime estatutário (de cargo público) como predominante nas contratações para pessoas
jurídicas de direito público da Administração.
Os partidos políticos (PT, PDT, PC do B e PSB) que propuseram a referida ADI apontaram
inconstitucionalidade formal na tramitação da referida EC nº 19/98, em especial na modificação efetuada
no caput do art. 39, uma vez que neste caso não teria sido observado o requisito previsto no § 2º do art.
60 da CF/88, que exige para promulgação que a proposta seja discutida e votada em cada casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos
votos dos respectivos membros.
Os empregados públicos não possuem estágio probatório. Após a posse, sujeitam-se ao período de
experiência com duração de noventa dias, como disposto no art. 455, § único, da CLT.
Apesar de não possuírem estabilidade, os empregados públicos não podem ser demitidos
livremente, como um empregado comum. Os empregados públicos só podem sofrer demissão motivada
e após regular processo administrativo, observadas as garantias do contraditório e da ampla defesa.
Isto porque, a demissão imotivada, comum na iniciativa privada, não é compatível com os
princípios da legalidade, moralidade, impessoalidade, finalidade e da obrigatória motivação, tendo em
vista que o regime de emprego púbico é predominantemente privado, mas não exclusivamente privado.
Assim, princípios e normais de Direito Administrativo derrogam regras do regime empregatício privado,
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especialmente quanto às exigências do concurso público para ingresso no emprego público e de
processo administrativo para demissão.
Alheio a tal raciocínio, o Tribunal Superior do Trabalho tradicionalmente tem se posicionado a
favor da possibilidade de dispensa imotivada de empregados públicos, tendo baixado a Resolução nº 143,
de 13/11/2007, que alterou sua Orientação Jurisprudencial nº 247, nos seguintes termos:

SERVIDOR PÚBLICO. CELETISTA CONCURSADO. DESPEDIDA IMOTIVADA. EMPRESA


PÚBLICA OU SOCIEDADE DE ECONOMIA MISTA. POSSIBILIDADE (alterada – Res. nº
143/2007) - DJ 13.11.2007
I - A despedida de empregados de empresa pública e de sociedade de economia mista,
mesmo admitidos por concurso público, independe de ato motivado para sua validade;
II - A validade do ato de despedida do empregado da Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (ECT) está condicionada à motivação, por gozar a empresa do mesmo
tratamento destinado à Fazenda Pública em relação à imunidade tributária e à execução
por precatório, além das prerrogativas de foro, prazos e custas processuais.

Desse modo, na hipótese específica dos empregados da ECT, por ser empresa pública prestadora
de serviço público, o TST passou a considerar obrigatória a motivação do ato de despedida de seus
empregados. Sobre o tema, Alexandre Mazza enfatiza que:

A tendência, portanto, é que o Tribunal estenda tal orientação a todos os empregados


das prestadoras de serviços públicos. Esse constitui importante passo para reforma do
absurdo entendimento do TST sobre a forma de dispensa dos empregados públicos.

3. SERVIDORES TEMPORÁRIOS. O recrutamento de servidores públicos temporários em amparo no


artigo 37, IX da Constituição Federal, in verbis:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
[...] IX - a lei estabelecerá os casos de contratação por tempo determinado para atender
a necessidade temporária de excepcional interesse público;

Cada ente federativo deve promulgar sua legislação específica sobre contratação temporária,
respeitando os limites constitucionais fixados.
Ao regulamentar o tema em âmbito federal, a União promulgou a Lei n° 8.745/93, aplicável apenas
às pessoas jurídicas de direito público de âmbito federal.
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No artigo 2° da Lei n° 8.745/93 foram estipulados diversos casos considerados de necessidade
temporária de excepcional interesse público e os respectivos prazos de contratação, cabendo destacar
as hipóteses de contratação em ocasião de calamidade pública, surtos endêmicos, recenseamentos,
admissão de professor substituto e professor visitante, admissão de professor e pesquisador visitante
estrangeiro, funções específicas das Forças Armadas e combate a emergências ambientais.
Em homenagem aos princípios da moralidade, da impessoalidade e da eficiência, o artigo 3° da Lei
n° 8.745/93 estabelece que o recrutamento dos servidores temporários deva ser realizado por processo
seletivo simplificado sujeito a ampla divulgação, não sendo necessário o concurso público.
Como exceções à exigência do processo seletivo simplificado, os §§ 1° e 2° do artigo 3° da Lei n°
8.745/93 estabelecem apenas a “contratação para atender às necessidades decorrentes de calamidade
pública, de emergência ambiental e de emergências em saúde pública”, diante da urgência existente em
tais hipóteses.
O prazo máximo de duração da contratação temporária varia conforme o enquadramento do caso
nos incisos do art. 2º da Lei nº 8.745/93, podendo ser de seis meses (I, II e IX), um ano (III e IV), dois anos
(hipóteses do VI), três anos (VII, VIII e hipóteses do IV) e quatro anos (V e hipóteses do VI).
A contratação temporária é formalizada por contrato administrativo de caráter funcional, por
refletir um vínculo de trabalho subordinado entre a Administração e o servidor.
De acordo com RAFAEL DIÓGENES SERAFIM VIEIRA, a lei instituidora deste regime especial poderá
incluir algumas normas que se aproximem do regime estatutário, que, inclusive, tem aplicação subsidiária
no que couber (Servidor Público Temporário, Edit. UFV, 2007, p. 62).
Para o Prof. JOSÉ DOS SANTOS CARVALHO FILHO, o regime especial deve atender a três
pressupostos inafastáveis (Manual de Direito Administrativo, 24ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, p.
552/553):
a) determinabilidade temporal da contratação: os contratos firmados com esses servidores devem
ter sempre prazo determinado;
b) temporariedade da função: a necessidade desses servidores deve ser sempre temporária, pois
ser for permanente, o Poder Público deverá realizar o recrutamento de servidores por concurso público;
c) excepcionalidade do interesse público: o interesse público que obriga a contratação temporária
deve ser excepcional, de modo que situações administrativas comuns não podem ensejar o recrutamento
de servidores públicos temporários.
O festejado Mestre assevera ainda que:

Lamentavelmente, a contratação pelo regime especial, em certas situações, tem servido


mais a interesses pessoais do que ao interesse administrativo. Por intermédio desse
regime, têm ocorrido contratações “temporárias” com inúmeras prorrogações, o que as
torna verdadeiramente permanentes. Ocorre também que a Administração realiza
concurso para investidura legítima em regime estatutário ou trabalhista e, ao invés de
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nomear ou contratar os aprovados, contrata terceiros para as mesmas funções. Trata-se
de condutas que refletem desvio de finalidade e que merecem invalidação em face dos
princípios da legalidade e da moralidade administrativa.

Na esteira desse raciocínio, o Supremo Tribunal Federal julgou procedente a ação direta e declarou
a inconstitucionalidade da Lei Estadual n° 9.186/93, do Estado de Santa Catarina (na qual se previa
contratação de servidores temporários para a Secretaria Estadual de Saúde), calcando-se em dois
fundamentos: 1°) falta de especificação das atividades de excepcional interesse público e 2°) ausência
de motivação quanto à real necessidade temporária das funções a serem exercidas. (ADI 2.987, Rel.
Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, julg. em 19.2.2004, Informativo STF n° 337, fev./2004.)
Em outro pronunciamento, o STF suspendeu liminarmente a eficácia de Medida Provisória que
autorizava contratação temporária para funções permanentes do Instituto Nacional de Propriedade
Industrial – INPI (Adin-MC 2.125-DF, Rel. Min. MAURÍCIO CORRÊA, julg. em 6.4.2000; Informativo STF n°
184, abr./2000).
Já em outro caso, por ofensa aos artigos 37, II e 134, da CF, o Pretório Excelso declarou a
inconstitucionalidade de duas leis estaduais, uma do Espírito Santo e outra do Rio Grande do Norte, que,
ilegitimamente, admitiam a contratação temporária de advogados, sem concurso, para atuarem como
Defensores Públicos (ADI 2.229-ES, Rel. Min. MARCO AURÉLIO (jun/2004), e ADI 3700-RN, Rel. Min.
CARLOS BRITO, em 15.10.2008).
Por força do disposto no artigo 71, III da Constituição Federal, a contração de servidores
temporários também está sujeita ao controle de legalidade exercido pelos Tribunais de Contas.
Desse modo, o Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro expediu a Deliberação TCE-RJ n°
196/96, que em seu artigo 10 dispõe:

Art. 10 - Os contratos por tempo determinado, qualquer que seja o regime adotado,
serão acompanhados da prova de sua publicação, da justificativa quanto à necessidade
temporária de excepcional interesse público, da respectiva lei autorizativa, bem como
da informação quanto à disponibilidade orçamentária.

Feitas essas considerações, os entes federativos devem editar suas leis específicas sobre
contratação temporária em conformidade com o balizamento legal, jurisprudencial e doutrinário acima
apresentado.

IV. CARGO EMPREGO E FUNÇÃO

1. Cargo Público. É uma unidade jurídica existente no âmbito da estrutura administrativa,


instituído por lei, visando à prestação de atribuições específicas que serão exercidas por servidores
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submetidos ao regime estatutário, sendo que a lei que criou tal cargo fixará um padrão remuneratório
que será devido ao titular do mesmo, bem como dará uma denominação própria a este cargo.
Na classificação do cargo público, além do cargo efetivo integrado no quadro permanente da
Administração e que será obrigatoriamente ocupado por um servidor estatutário cujo ingresso exige a
aprovação prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos.
Tem-se ainda, o cargo comissionado (art. 37, V, CF), ocupado por servidor público ou não, que visa
o exercício de funções de chefia, direção ou assessoramento, de livre nomeação e exoneração, a critério
discricionário da Administração, sem adquirir estabilidade.
Sendo assim, os cargos comissionados, também conhecidos como “cargos em comissão” ou
“cargos de confiança”, são acessíveis sem concurso público, sendo providos por nomeação política. De
igual modo, a exoneração é ad nutum, podendo os comissionados ser desligados do cargo
imotivadamente, sem necessidade de garantir contraditório, ampla defesa e direito ao devido processo
legal.
Contudo, como adverte Alexandre Mazza, “se a autoridade competente apresentar um motivo
para a exoneração e o motivo for comprovadamente falso ou inexistente, o desligamento será nulo em
razão da teoria dos motivos determinantes” (Manual de Direito Administrativo, 3ª ed., Saraiva, 2013, p.
484).
São exemplos de cargos comissionados os de assessoria parlamentar e os subprefeitos. Ressalte-se
que por não exigirem concurso público, os cargos comissionados podem ser ocupados por pessoas sem
qualquer relação permanente com o poder público. De todo modo, a legislação estabelecerá os casos,
condições e percentuais em que os cargos em comissão devem ser preenchidos por servidores públicos
de carreira (art. 37, V, CF).
Em termos de aposentadoria, os servidores que ocupam exclusivamente cargos em comissão
vinculam-se ao Regime Geral de Previdência Social (RGPS), nos termos da Lei 8.647/1993.

2. Emprego Público. A expressão emprego público por sua vez refere-se à unidade jurídica dotada
de atribuições ocupada por um servidor celetista, ou seja, aquele que tem um vínculo contratual com a
Administração, uma vez que celebrou com a mesma um contrato de trabalho nos termos da
Consolidação das Leis do Trabalho.

3. Função Pública. Por fim, consideram-se funções públicas aquela série de atribuições
desempenhadas por um servidor público visando satisfazer o interesse público. As funções podem estar
concretizadas em um cargo ou emprego público, que têm presunção de continuidade, ou não
corresponderem a cargo ou emprego público, nos casos de vínculos eventuais com a Administração
Pública.
Atualmente existem três hipóteses de funções públicas que não correspondem a cargo ou emprego
público: (i) a função exercida por agentes honoríficos e credenciados; (ii) a função exercida por
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servidores temporários, com base no art. 37, IX, da CF, e (iii) as funções de confiança, correspondentes à
chefia, direção ou assessoramento, de livre nomeação e livre exoneração, mencionadas no art. 37, V da
CF.
Não se deve confundir função de confiança com cargo de confiança (cargo comissionado). Apesar
de ambos serem destinados a atribuições de chefia, direção e assessoramento, as funções de confiança
(também chamadas de funções gratificadas) são exercidas exclusivamente por servidores ocupantes de
cargos efetivos, mesmo que sejam de carreiras diversas da que faz parte a função. Assim, um servidor
efetivo que pertença aos quadros de pessoal do Poder Executivo pode ocupar uma função de confiança
no Poder Judiciário.
Por fim, cumpre salientar que a proibição de acumulação remunerada de cargos públicos, exceto
nas seguintes hipóteses constitucionalmente autorizadas:
a) a de dois cargos de professor (art. 37, XVI, a);
b) a de um cargo de professor com outro técnico ou científico (art. 37, XVI, b);
c) a de dois cargos ou empregos privativos de profissionais de saúde, com profissões
regulamentadas (art. 37, XVI, c);
d) a de um cargo de vereador com outro cargo, emprego ou função pública (art. 38, III);
e) a de um cargo de magistrado com outro no magistério (art. 95, § único, I);
f) a de um cargo de membro do Ministério Público com outro no magistério (art. 128, § 5º, II, d).

A proibição de acumular cargos atinge também empregos e funções públicas na Administração


Pública Indireta, ou seja, nas autarquias, fundações públicas, empresas públicas, sociedades de economia
mista, fundações governamentais, bem como nas suas subsidiárias e sociedades controladas, direta ou
indiretamente, pelo poder público (art. 37, XVII, CF).

V. ESTABILIDADE

A estabilidade vem tratada nos artigos 41 e 169 § 3º da Constituição Federal. É a garantia de


permanência no serviço público assegurada ao servidor estatutário, nomeado para cargo de provimento
efetivo em virtude de prévia aprovação em concurso público, após decorrido o período de 03 (três) anos,
denominado estágio probatório, em que o servidor será submetido à avaliação especial de desempenho
auferida por comissão instituída para essa finalidade.
A estabilidade é uma garantia assegurada no serviço público e não no cargo público em que o
servidor veio a titularizar.
Após adquirir estabilidade, o servidor somente pode perder seu cargo em 4 (quatro) hipóteses:
a) de sentença judicial transitada em julgado (art. 41, § 1º, I da CF);
b) de processo administrativo em que lhe seja assegurado a ampla defesa art. 41, § 1º, II da CF);

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c) mediante avaliação periódica de desempenho a ser realizada na forma estipulada por lei
complementar, preservando-se também o direito à ampla defesa (art. 41, § 1º, III da CF);
d) redução de despesas com pessoal (art. 169, § 4º, da CF).
Cumpre-nos fazer uma análise das quatro hipóteses constitucionais de perda da estabilidade.

1. Sentença judicial transitada em julgado: neste caso o servidor cometeu um crime ou


contravenção tipificados na legislação penal e sofreu uma sentença condenatória, que transitou em
julgado, ou seja, quando da sentença condenatória não couber a interposição de mais nenhum recurso se
dará a perda do cargo público.
Deve-se verificar a categoria do crime imputado ao servidor, pois temos os denominados crimes
funcionais, que são aqueles em que o ilícito penal tem uma correlação com os deveres administrativos, e
os crimes não-funcionais, relativos a todas as demais infrações penais, ou seja, seria o ilícito penal que
não tem conexão com os mencionados deveres administrativos.
Assim, se for um crime funcional, de acordo com o disposto no artigo art. 92, inciso I, alínea “a”,
do Código Penal, a perda do cargo só ocorrerá quando for aplicada pena privativa de liberdade por
tempo igual ou superior a um ano, nos crimes praticados com abuso de poder ou violação de dever para
com a Administração Pública. Também previsão de perda da função pública na hipótese de condenação
por ato de improbidade administrativa, quando se aplicará o artigo 12, inciso III, da Lei nº 8.429/92.
Já nos crimes não-funcionais, a perda do cargo público somente ocorrerá se a pena privativa de
liberdade for superior a quatro anos, conforme redação dada pela artigo 92, inciso I, alínea “b”, do
Código Penal.
2. Mediante processo administrativo que assegure o direito à ampla defesa: nesta hipótese, a
conduta do servidor se configura em violação grave às obrigações previstas no estatuto funcional,
respondendo a um processo administrativo em que lhe foi assegurado o direito à ampla defesa, sendo
que no final de tal processo concluiu a Administração pela aplicação da pena de demissão. No âmbito do
Estado do Rio de Janeiro os casos estão previstos no artigo 298 do Decreto Estadual nº 2.479/79.

3. Mediante procedimento administrativo de avaliação de desempenho, na forma de lei


complementar, assegurada a ampla defesa: este caso foi acrescentado pela Emenda Constitucional nº
19, mas enquanto não for regulamentado por lei complementar, não poderá ser efetivado pela
Administração Pública. Tal medida busca concretizar o principio da eficiência, consagrado no art. 37 da
Carta Magna, impondo ao servidor público, durante toda sua vida funcional, a um permanente dever de
eficiência que irá ser averiguado periodicamente pela Administração, e no instante em que o servidor não
atender mais aos critérios de eficiência e qualidade impostos pelo Estado poderá perder o seu cargo
público.

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4. Redução de despesas com pessoal: quando o ente público ultrapassar os limites estabelecidos
em lei complementar nas despesas com servidores ativos e inativos. Os limites estão estabelecidos no
artigo 19 da Lei Complementar nº 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal). É importante salientar que
esta hipótese só poderá ser efetivada depois que a Administração adotar duas medidas preventivas,
sendo que somente se as mesmas se demonstrarem infrutíferas é que se dará a exoneração do servidor
que já tenha adquirido a estabilidade. As medidas preventivas a serem adotadas pelo Estado serão: a
redução em pelo menos vinte por cento das despesas com cargos em comissão e funções de confiança e
a exoneração dos servidores não-estáveis.
No que se refere à exoneração dos servidores não estáveis, o artigo 33 da Emenda Constitucional
nº 19 aponta que seriam aqueles admitidos no serviço público sem concurso público de provas ou de
provas e títulos após o dia 05 de outubro de 1983.
Esclarece-se que o art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) conferiu uma
estabilidade excepcional aos servidores civis que na data da promulgação da Carta Magna de 1988 já
estavam em exercício há pelo menos cinco anos continuados na União, Estados, Distrito Federal e
Municípios, bem como autarquias e fundações públicas, e que não tenham sido admitidos através de
prévia aprovação em concurso público.
Verifica-se, portanto, a existência de dois tipos de servidores estáveis, quais sejam, aqueles que
foram nomeados por concurso público e cumpriram o período do estágio probatório, e os que adquiriram
a estabilidade por força do citado artigo 19 do ADCT da Constituição da República, que conferiu uma
estabilidade excepcional a todos os servidores que já se encontravam em exercício há pelo menos cinco
anos quando entrou em vigência a atual Carta Magna, neste último caso independe o fato de terem se
submetido ou não a concurso público.
Nesse ponto vale enfatizar que os servidores que ingressaram no serviço público nos cinco anos
anteriores à atual Constituição Federal, promulgada em 05 de outubro de 1988, sem terem se submetidos
a concurso público, não obtiveram a estabilidade excepcional estatuída no artigo 19 do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias da CF/88 e são estes que deverão ser primordialmente atingidos
quando o Estado tiver que adotar a medida preventiva acima destacada.
Assim, conforme já exposto, somente depois de tomadas as duas medidas preventivas acima
delineadas, é que se poderá exonerar o servidor estável, fazendo com que o mesmo perca o seu cargo
público, desde que haja, no entanto,
Quando o servidor estável for exonerado pelo motivo do ente público ter ultrapassado o limite nas
despesas com pagamento de pessoal, deverá ser editado ato normativo motivado de cada um dos
poderes, especificando a atividade funcional, o órgão ou unidade administrativa objeto da redução de
pessoal (art. 169, § 4º da CF), tendo o mesmo direito a indenização correspondente a um mês de
remuneração por ano de serviço (art. 169, § 5º da CF).
Ressalte-se, ainda, que o cargo objeto da redução será considerado extinto, não podendo ser outro
criado com atribuições iguais ou assemelhadas pelo prazo de quatro anos (art. 169, § 6º da CF/88).
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O artigo 2º, § 2º, da Lei nº 9.801/99 estabeleceu os critérios que devem ser observados pela
Administração no instante em que for se exonerar os servidores estáveis por excesso de despesa: menor
tempo de serviço público, maior remuneração e menor idade.

VI. DISPONIBILIDADE

É a situação funcional na qual se encontra o servidor estável que teve o seu cargo extinto ou que
foi declarada a sua desnecessidade.
Para a ocorrência do instituto da disponibilidade torna-se necessário a ocorrência de dois
pressupostos, quais sejam, que o servidor já tenha adquirido a estabilidade e que o cargo que ele ocupe
tenha sido extinto ou que tenha sido declarada pela Administração a sua desnecessidade, cumprindo
destacar que nesses casos o servidor permanecerá em disponibilidade até ser aproveitado em outro cargo
público de natureza e vencimentos compatíveis com o cargo anteriormente ocupado (art. 41, § 3º da
CF/88).
De acordo com o texto constitucional em vigor, durante o período que o servidor ficar em
disponibilidade o mesmo receberá de forma proporcional ao tempo de serviço, contando-se para tanto
apenas o tempo de serviço na área pública, seja federal, municipal ou estadual.
Não obstante, a Lei nº 8.112/90, que cuida do estatuto dos servidores públicos civis federais, em
seu artigo 103, inciso V, aceita na contagem para efeitos de disponibilidade o tempo de serviço na área
privada, desde que tenha havido contribuição.

VII – PROVIMENTO

Provimento é o ato formal da Administração pelo qual o servidor público é colocado na titularidade
de um cargo, emprego ou função pública. É sempre realizado mediante ato da autoridade competente
dentro do respectivo Poder. A investidura em cargo público ocorre com a posse.
O provimento tanto pode ser originário ou derivado. O provimento originário é o que vincula
inicialmente o servidor ao cargo, emprego ou função, tanto pode ser a nomeação como a contratação,
dependendo do regime jurídico a que se submeta o servidor (nomeação se a relação for estatutária ou
contratação se a relação for celetista).
Tratando-se de cargo público efetivo ou emprego público o provimento originário pressupõe
sempre prévia aprovação em concurso público de provas ou de provas e títulos, excepcionando-se o
provimento em cargo comissionado, que como declara o próprio texto constitucional será de livre
nomeação e exoneração.
Já o provimento derivado depende de um vínculo anterior do servidor com a Administração.
Cumpre salientar que após o advento da nova Carta Constitucional de 1988, que em seu artigo 37, II exige
a aprovação prévia em concurso público para a investidura em cargo ou emprego público, foram extintas
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praticamente todas as formas existentes que permitiam o servidor passar de um cargo para o outro sem a
aprovação em um novo concurso público.
No entanto, admitem-se ainda algumas situações excepcionais onde o servidor já titular de um
cargo público pode ser provido num outro, ou então se desvincular da Administração e retornar
posteriormente sem se submeter a um novo concurso. Estas são hipóteses excepcionais, denominadas
formas de provimento derivado.
O artigo 8º da Lei 8.112/90 faz referência a 6 (seis) formas de provimento derivado: o
aproveitamento, a reintegração, a recondução, a readaptação, a reversão ex offício e a promoção.

Aproveitamento: ocorre com o retorno à atividade do servidor que se encontrava em


disponibilidade. Há de ser colocado em disponibilidade o servidor estável que teve o seu cargo público
extinto ou declarado desnecessário pela Administração. Nesse caso, o servidor permanecerá em
disponibilidade até vir a ser “aproveitado” num cargo público de natureza e vencimentos semelhantes
com aquele que ocupava anteriormente (art. 30 da Lei 8.112/90).
Observa-se que somente poderá ser aproveitado o servidor estável uma vez que somente o mesmo
poderá ser colocado em disponibilidade nas situações previstas no texto constitucional.

Reintegração: ocorre pela reinvestidura do servidor estável no cargo anteriormente ocupado,


quando invalidada a sua demissão por decisão administrativa ou judicial, com ressarcimento de todas as
vantagens (art. 28 da Lei 8.112/90).
O servidor reintegrado deve receber todos os direitos e vantagens do período em que ilegalmente
se encontrava demitido, sendo este período computado como de efetivo exercício.
Na hipótese de o cargo ter sido extinto, o servidor ficará em disponibilidade, podendo haver seu
aproveitamento em outro cargo. Encontrando-se provido o cargo, o servidor estável ocupante será
reconduzido ao cargo de origem, sem direito à indenização, ou aproveitado em outro cargo, ou ainda,
posto em disponibilidade.
Mas, se porventura o servidor ocupante ainda não tiver adquirido a estabilidade, diante da omissão
do texto constitucional, impõe-se o entendimento de que o mesmo seja exonerado ex offício.

Recondução: é o retorno do servidor estável ao cargo que ocupava anteriormente, por motivo de
sua inabilitação em estágio probatório relativo a outro cargo, ou pela reintegração de outro servidor ao
cargo do qual teve que se afastar (art. 29 da Lei 8.112/90).
Encontrando-se provido o cargo de origem, o servidor será aproveitado em outro.

Readaptação: Consiste na investidura do servidor em cargo de atribuições e responsabilidades


compatíveis com a limitação que tenha sofrido em sua capacidade física ou mental, verificada em
inspeção médica (art. 24 do Estatuto dos Servidores Federais).
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Para o Prof. ALEXANDRE MAZZA: “É o caso, por exemplo do motorista de caminhão da prefeitura
que, após acidente causador de deficiência visual parcial, é readaptado para a função de auxiliar de
garagem” (ob. cit., p. 500).
Ressalte-se que o reenquadramento do servidor readaptando será realizado em cargo de
atribuições afins, respeitada a habilitação exigida, nível de escolaridade e equivalência de vencimentos e,
na hipótese de inexistência de cargo vago, o servidor exercerá suas atribuições como excedente, até a
ocorrência de vaga.
Contudo, se diante da gravidade da limitação física ou mental, o servidor estável for considerado
incapaz para o serviço público, deverá ser aposentado.

Reversão: Decorre do retorno à atividade de servidor aposentado por invalidez, quando junta
médica oficial declarar insubsistentes os motivos da aposentadoria.
Ocorrendo tal situação será cancelado o ato que o aposentou por invalidez e determinado o
retorno do servidor ao exercício de suas funções. Tal instituto deve ser tratado como provimento
derivado, pois no instante em que se deu a aposentadoria, ocorreu a vacância do cargo até então
ocupado e o retorno do servidor neste caso se deu sem a necessidade do mesmo se submeter a um novo
concurso público, ou seja, decorreu de um vínculo anterior que o indivíduo já tinha com a Administração.
O art. 25 da Lei nº 8.112/90, em seu inciso II prevê também a possibilidade do servidor
aposentado voluntariamente requerer a sua reversão no prazo de 05 (cinco) anos, a contar da data em
que veio a se aposentar, desde que haja interesse da Administração, que o servidor já fosse estável
quando estava em atividade, bem como que o cargo esteja vago.

Promoção: Na lição de Maria Sylvia Di Pietro (“Direito Administrativo”, pág. 489) seria a “forma
de provimento pelo qual o servidor passa para cargo de maior grau de responsabilidade e maior
complexidade de atribuições, dentro da carreira a que pertence”.
A promoção só favorece os servidores públicos que já ocupam cargos públicos em caráter efetivo,
segundo os requisitos estabelecidos na lei específica que fixar as diretrizes do sistema de carreira na
Administração Pública (art. 10, § único, da Lei 8.112/90).

VIII – VACÂNCIA

Ao inverso do provimento, vacância é o ato administrativo pelo qual o servidor é desvinculado do


seu cargo, emprego ou função. Seria o ato que destitui o servidor de determinado cargo, emprego, ou
função. Podemos enumerar como formas de vacância (apesar de mais uma vez não haver um consenso
doutrinário sobre tal tema): a aposentadoria, o falecimento, a demissão, a exoneração, a readaptação, a
posse em outro cargo inacumulável e a promoção.
É de grande valia a diferença entre a demissão e a exoneração.
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A demissão, como já demonstrado, constitui penalidade decorrente da prática de uma ilicitude
por parte do servidor. Já a exoneração não tem a natureza de penalidade. Repare, portanto, que a
demissão somente pode advir do Estado como fruto de um processo em que foi assegurado o direito à
ampla defesa ao servidor.
Se porventura o servidor resolve se desvincular do seu cargo público, seja pelo motivo que for,
ele jamais pedirá demissão, mas sim exoneração.
A exoneração, por sua vez, que não se caracteriza como pena, em regra será sempre a pedido, ou
seja, partirá do servidor, ressaltando-se que apenas em situações excepcionais admite-se que a
exoneração seja de ofício, quais sejam:
a) quando o servidor vier a tomar posse e não entrar em exercício no prazo legal;
b) quando se tratar de função de confiança ou de cargo comissionado;
c) quando o servidor não vier a ser aprovado no estágio probatório,
d) pode ocorrer com o servidor não estável que teve o seu cargo público extinto ou que foi
declarada a sua desnecessidade;
e) pode vir a ocorrer com o servidor não estável que estava ocupando o cargo daquele servidor
que foi reintegrado;
f) ocorre ainda com os servidores não estáveis que ingressaram no período de cinco anos
anteriores ao advento da Carta Constitucional de 1988, quando o Estado ultrapassar o limite permitido
em lei nas despesas com pessoal. Podendo, ainda serem exonerados ex offício pelo mesmo motivo os
servidores estáveis, quando o Estado após adotar as medidas preventivas que já foram estudadas acima
e, ainda assim, continuar a ultrapassar o limite legal no gasto com pagamento de servidores.
Destaca-se que a readaptação e a promoção se configuram simultaneamente tanto como forma
de vacância como forma de provimento derivado.
Exemplo: a readaptação se configurará como provimento derivado no que concerne ao ingresso
do servidor no novo cargo público em decorrência da limitação laborativa sofrida pelo mesmo que o
impossibilita de exercer as funções que até então lhe era atribuída, e vacância no que se refere ao fato do
servidor ter se retirado do cargo que ocupava anteriormente.
Cabe ressaltar que a remoção não configura uma forma de provimento derivado ou vacância,
pois o servidor que vier a ser removido continuará a ocupar o mesmo cargo público, sendo que a
alteração se dará somente em relação à área em que atuará. Não deve se confundir a figura da
transferência com a remoção.
Na remoção, que é aceita plenamente no ordenamento jurídico pátrio, o servidor continua
titularizando o mesmo cargo, se alterando apenas sua área de lotação, enquanto na transferência ocorre
a própria mudança do cargo, sem a subsunção a um concurso público bem como a nenhuma outra
situação excepcional balizada no texto constitucional que validasse tal ocorrência, razão pela qual a
transferência não vigora mais em nosso ordenamento jurídico.

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