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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6

Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE


NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A arte das dobraduras: uma contribuição para o ensino da
Geometria

Elhane de Fatima Fritsch Cararo1


Simone Miloca2

RESUMO

O presente artigo objetiva apresentar o resultado de um trabalho desenvolvido


durante o Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná –
PDE. Contempla o estudo da geometria através das dobraduras, aliando o saber
matemático a milenar arte do Origami. Propõe-se uma metodologia diferenciada
visando auxiliar o processo ensino - aprendizagem da Geometria no 8º ano do
Ensino Fundamental a partir do Origami, bem como, possibilitar ao educando, a
manipulação de materiais e formas, descrever, interagir e compreender o espaço
onde vive; utilizar noções básicas de geometria (reta, ponto, bissetriz, diagonais,
mediatriz, ângulos, etc.), reconhecer os polígonos regulares e suas propriedades,
fazendo interações com seu cotidiano, compreender o que são poliedros e ainda,
utilizar-se adequadamente da linguagem matemática. Visto que para dinamizar as
aulas de Matemática e possibilitar o desenvolvimento integrado e harmonioso do
educando é imprescindível pô-lo em contato com as mais diversas situações
cotidianas para que ele possa agir sobre elas de forma crítica e reflexiva e,
através do conhecimento adquirido, compreendê-las e resolvê-las. A utilização de
dobraduras (origami) como forma de sensibilização e compreensão dos conceitos
e das formas geométricas, bem como atividades escritas, problemas, construções
com material de desenho e, ainda, as mais diversas situações de interação,
reflexão e compreensão do conteúdo a ser estudado desafia o aluno a organizar a
forma de pensar e efetuar seus registros, permitindo que a geometria tenha com
os alunos uma relação de cumplicidade.

Palavras chave: Origami; dobraduras; polígonos; triângulos; quadriláteros.

1. NRE Franscisco Beltrão, Colégio Estadual Reinaldo Sass.


elhaneff@seed.pr.gov.br

2. UNIOESTE- Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Cascavel.


smiloca@gmail.com
ABSTRACT

This article presents the results of a work program during the State of Paraná
Educational Development - PDE . Includes the study of geometry through bends ,
combining mathematical knowledge the ancient art of Origami . We propose a
different methodology to assist the teaching-learning process of Geometry in 8th
grade of elementary school from Origami as well, enabling the learner , the
manipulation of materials and forms , describe , interact and understand the space
where you live ; using some basic geometry (line, point , bisect , diagonal ,
perpendicular bisector , angles , etc. ) , recognize regular polygons and their
properties , making interactions with your daily life, understand what they are
polyhedra and, if used properly Language mathematics. Since to boost classes
Mathematics and enable the integrated and harmonious development of the
student is essential to put you in contact with the most diverse daily situations so
that it can act on them in a critical and reflective manner and through the
knowledge acquired , understanding -Las and resolve them . The use of paper
folding ( origami ) as a way to raise awareness and understanding of concepts and
geometric shapes , as well as written activities , problems , constructions with
drawing materials and also the most diverse situations of interaction , reflection
and understanding of the content being study challenges the student to organize
the way we think and make their records , it is extremely important that the
geometry has a relationship with the students of complicity .

Keywords: Origami; folding; polygons; triangles; quadrilaterals.


1. INTRODUÇÃO

Diante de tantas discussões acerca do ensino e aprendizagem da Geometria é


preciso buscar uma proposta que alcance, de maneira efetiva, o aprendizado dos
alunos. Várias discussões sobre o tema nos remetem a necessidade de buscar
uma metodologia capaz de levar nossos alunos a descobrirem a beleza que
existe no mundo da Matemática, como também compreenderem os conteúdos
matemáticos.
As dificuldades apresentadas pelos alunos na compreensão da Geometria,
bem como a falta de motivação que muitos estudantes apresentam em relação a
determinados conteúdos, fazem com que, muitos professores busquem novas
metodologias a fim de dinamizar o ensino da Geometria.
Por causar inquietação ao professor que, muitas vezes, percebe a falta de
domínio de conceitos básicos e a falta de motivação com que este conteúdo vem
sendo tratado, buscar metodologias diferenciadas que desperte o interesse do
aluno pelo importante mundo da geometria, torna-se desafiador e ao mesmo
tempo estimulante para o professor que almeja um ensino de qualidade.
Neste trabalho, propõe-se uma metodologia diferenciada visando auxiliar o
processo Ensino- aprendizagem da Geometria no 8º ano do Ensino Fundamental
a partir do Origami, bem como possibilitar ao educando a manipulação de
materiais e formas, descrever, interagir e compreender o espaço onde vive. As
atividades envolvem a utilização de noções básicas de geometria (reta, ponto,
bissetriz, diagonais, mediatriz, ângulos, etc.), reconhecimento de polígonos
regulares e suas propriedades, fazendo interações com o cotidiano, compreensão
do que são poliedros e ainda, utilização adequada da linguagem matemática.

2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA


Pode-se considerar a Geometria uma ciência necessária para
compreensão do mundo, da sociedade e das construções humanas. Ela facilita a
resolução de problemas e está presente em nosso dia-a-dia, na natureza,
arquitetura de prédios, casas, escolas, embalagens entre outros.

De acordo com Fainguelernt, “a geometria exige uma maneira específica


de raciocinar, uma maneira de explorar e descobrir. Não é suficiente conhecer
bem aritmética, álgebra ou análise para conseguir resolver situações em
Geometria”. (1999, p. 49). Desse modo, trabalhar a Geometria de forma
adequada no Ensino Fundamental, pode ajudar a desenvolver o raciocínio
abstrato e a resolução de problemas, bem como a tomada de decisão e
interpretação lógico matemática dos educandos.
Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica (DCEs) de Matemática do
Estado do Paraná tem-se a ideia de que a geometria influencia muito no
desenvolvimento humano:
As ideias geométricas abstraídas das formas da natureza, que
aparecem tanto na vida inanimada como na vida orgânica e nos objetos
produzidos pelas diversas culturas, influenciaram muito o
desenvolvimento humano. Em torno dos anos 300 a.C., Euclides
sistematizou o conhecimento geométrico, na obra já citada Elementos.
Seus registros formalizaram o conhecimento geométrico da época e
deram cientificidade à Matemática. Nessa obra, o conhecimento
geométrico é organizado com coesão lógica e concisão de forma,
constituindo a Geometria Euclidiana que engloba tanto a geometria
plana quanto a espacial. (PARANÁ, 2008, p.55)

Porém parece haver ainda resquícios do movimento da matemática


moderna na formação dos professores e no desenvolvimento de algumas
propostas curriculares para o ensino da matemática que minimizam o ensino da
Geometria a conceitos básicos pré estabelecidos e a formas geométricas, não
exploram a totalidade da Geometria em nosso dia-a-dia.
A construção das Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná possibilitou a
discussão sobre o currículo no que diz respeito a Geometria e consequentemente
uma maior preocupação com essa área do conhecimento matemático. Segundo
as DCEs, os conteúdos de Geometria no ensino fundamental, devem ter como
referência o espaço, de modo que os alunos possam percebê-lo, analisá-lo,
representá-lo e também compreendê-lo:
• os conceitos da geometria plana: ponto, reta e plano; paralelismo e
perpendicularismo; estrutura e dimensões das figuras geométricas
planas e seus elementos fundamentais; cálculos geométricos: perímetro
e área, diferentes unidades de medidas e suas conversões;
representação cartesiana e confecção de gráficos;
• geometria espacial: nomenclatura, estrutura e dimensões dos sólidos
geométricos e cálculos de medida de arestas, área das faces, área total
e volume de prismas retangulares (paralelepípedo e cubo) e prismas
triangulares (base triângulo retângulo), incluindo conversões;
• geometria analítica: noções de geometria analítica utilizando o sistema
cartesiano;
• noções de geometrias não-euclidianas: geometria projetiva (pontos de
fuga e linhas do horizonte); geometria topológica (conceitos de interior,
exterior, fronteira, vizinhança, conexidade, curvas e conjuntos abertos e
fechados) e noção de geometria dos fractais. . (PARANÁ, 2008, p.56).

Não se pode negar o importante espaço que a geometria obteve dentro dos
currículos escolares nos últimos anos, porém a diferenciação se dá na forma de
abordar o ensino da Geometria.
Segundo Ponte:
As investigações geométricas contribuem para perceber aspectos
essenciais da atividade matemática, tais como a formulação e testes de
conjecturas e a procura e demonstração de generalizações. A
exploração de diferentes tipos de investigação geométrica pode também
contribuir para concretizar a relação entre situações matemáticas,
desenvolver capacidades, tais como a visualização espacial e o uso de
diferentes formas de representação, evidenciar conexões matemáticas e
ilustrar aspectos interessantes da história e evolução da matemática
(PONTE, 2006, p.71).

Envolver a percepção do espaço e a manipulação de formas pode ser o


diferencial que proporcionará ao educando uma visão completa acerca da
Geometria propiciando a abstração de fórmulas e a capacidade de representação
das mais variadas formas geométricas, bem como a resolução de cálculos de
áreas e perímetros.

O processo ensino aprendizagem deve ser constantemente avaliado e para


isso o professor dispõe de vários instrumentos de avaliação. Se os alunos não
demonstram interesse pela disciplina ou ainda não apresentam resultados
satisfatórios perante as avaliações, deve-se rever os conteúdos apresentados e
as formas de abordagem dos mesmos. É imprescindível que o professor busque a
formação continuada a fim de rever os conteúdos e metodologias com o objetivo
de melhorar a sua prática pedagógica. Sobre a formação do professor Lima
escreve:
Evidentemente, apesar de todas essas deficiências, há algumas
notáveis pessoas que por seu esforço, sua persistência, seu talento e
sua grande vocação, conseguem superar os obstáculos e se tornarem
grandes professores. Mas é bem maior, e muito grande, o número
daqueles que necessitam de reciclagem para melhorar seus
conhecimentos e desempenhar com mais eficiência a importante tarefa
de formar nossos jovens. (LIMA, 2001, p.170)

A formação continuada do professor pode provocar mudanças significativas


em seu fazer pedagógico, melhorando assim a aprendizagem de seus alunos. É
preciso que o professor vivencie a geometria como parte integrante da Ciência
Matemática e identifique-a em seu cotidiano, só assim propiciará que seu aluno
entre no mundo da geometria e através dela busque, compreenda e encontre as
possíveis resoluções de problemas que envolvam a análise e o raciocínio
matemático.
Ponte descreve sobre a diferenciação da matemática acadêmica e a
matemática escolar:
Uma das distinções importantes entre a matemática acadêmica e a
matemática escolar é a que se refere ao papel e aos significados das
definições e demonstrações em cada um desses campos do
conhecimento matemático. Embora em ambos exista certamente a
necessidade de bem caracterizar os respectivos objetos, de validar as
afirmações a eles referidas e de explicar as razões pelas quais certos
fatos são aceitos como verdadeiros e outros não, a formulação das
definições e das provas e o papel que desempenham em cada um dos
contextos são, todavia, diferentes (PONTE, 2006, p.23).

Sendo assim, não basta o professor dominar os saberes matemáticos, mas


é necessário que se utilize de metodologias capazes de dar significados a estes
saberes, possibilitando a compreensão por parte dos alunos dos conteúdos
almejados pelo professor.
A constante preocupação pelo ensino e aprendizagem da Geometria tem
motivado a busca por novas metodologias, com o intuito de inovar e diversificar as
aulas para que se obtenha maior êxito referente a aprendizagem, interesse e
participação dos alunos, nas aulas de matemática. E, uma metodologia
diferenciada é a utilização de dobraduras no ensino da Geometria.

2.2. O ORIGAMI COMO RECURSO DIDÁTICO PEDAGÓGICO


As dobraduras ou o Origami tem origem japonesa, e quer dizer dobradura de
papel. A Figura 1 mostra exemplos de origamis.
Figura 1: Exemplos de Origamis

Fonte: a autora

Essa técnica era utilizada em rituais religiosos sob a forma de ornamentos


e pela classe nobre. Por muito tempo o origami foi considerado apenas uma
atividade artística, hoje a Geometria vê essa arte como aliada no processo ensino
e aprendizagem.
Segundo o professor Massao Okamura, pesquisador das origens do
origami, esta técnica teve início no século XVII pelos samurais e era restrito aos
adultos, principalmente pelo alto valor da matéria prima. Com a fabricação do
papel no Japão, a população Japonesa passa ter maior acesso a arte do origami
que foi sendo aprimorada e transmitida de pai para filho.
Segundo Rossoni (2005), durante a Era do Edo (1590-1868), o origami era
praticado por mulheres e crianças independente de sua classe social. E nesse
tempo foram criados aproximadamente setenta tipos de Origami, dentre eles o
tsuru (cegonha), sapo, navio, cesta, balão, homem dentre outros e foi na era Meiji
(1868-1912) que o origami voltou a ser ensinado nas escolas, após sofrer
influência alemã.
Enquanto no Japão as formas do origami eram mais figurativas imitando
formas de pessoas, animais, flores, pássaros, no ocidente os origamis
caracterizavam-se pelas formas geométricas.
O Origami proporciona ao aluno a manipulação das formas, pois ao dobrar,
desdobrar e recortar ele constrói suas próprias relações e percepções da
Geometria, comparando-a as formas vistas e utilizadas em seu dia a dia.
Sobre o trabalho desenvolvido com o Origami, Lorenzato descreve:
Usando a régua e o compasso, é possível traçar linhas retas, construir
um ângulo e sua bissetriz, obter retas perpendiculares, paralelas,
diagonais e muitas outras figuras. Várias dessas construções podem ser
feitas com as dobraduras, o que possibilita ao professor de matemática,
em sala de aula, enfatizar a importância do lúdico na construção,
comparação, estabelecimento de relações, medições, visualização e
resolução de problemas. (LORENZATO, 2006, p. 99).

O Origami sendo uma construção motora, propicia ao aluno a apropriação


do espaço, a sala de aula torna-se um espaço privilegiado de situações bastante
proveitosas e interativas, podendo este, a partir da dobradura construir suas
próprias relações e significados relacionados a matemática.
Para fazer as interações entre a Geometria e a Álgebra, quando, por
exemplo, analisa a quantidade de papel ou a parte que representa aquela dobra
em relação ao todo, o aluno constrói seu próprio saber matemático,
fundamentado no material concreto que é a dobradura.
Em relação ao trabalho com o Origami Rêgo e Gaudêncio afirmam que:

O Origami pode representar para o processo de ensino/aprendizagem


de Matemática um importante recurso metodológico, através do qual os
alunos ampliarão os seus conhecimentos geométricos formais,
adquiridos inicialmente de maneira informal por meio da observação do
mundo, de objetos e formas que o cercam. Com uma atividade manual
que integra, dentre outros campos do conhecimento, Geometria e Arte.
(RÊGO e GAUDÊNCIO, 2004, p.18).

É preciso buscar na literatura moderna, na troca de experiência com outros


docentes, alternativas metodológicas motivadoras capazes de propiciar o
envolvimento do aluno com os conteúdos a serem trabalhados. Ponte (2006)
escreve que: "Na disciplina de matemática, como em qualquer outra disciplina
escolar, o envolvimento ativo do aluno é uma condição fundamental da
aprendizagem. O aluno aprende quando mobiliza os seus recursos cognitivos e
afetivos com vista a atingir um objetivo".
O aluno precisa sentir-se parte integrante do processo ensino e
aprendizagem e para isso o professor precisa orientá-lo para que juntos
ultrapassem as barreiras do comodismo, da desmotivação, do não querer
aprender e entendam que a geometria faz-se necessária e está presente nas
muitas situações cotidianas.
2.3. AÇÕES, IMPLICAÇÕES E OBSERVAÇÕES

Partindo das perspectivas apontadas nas Diretrizes Curriculares do Estado


do Paraná onde "almeja-se um ensino que possibilite aos estudantes análises,
discussões, conjecturas, apropriações de conceitos e formulação de ideias".
(PARANÁ, 2008, p.48), propôs-se que os alunos do 8º ano do Ensino
Fundamental iniciassem o conteúdo de geometria através de pesquisa sobre o
que é origami, um breve histórico a ser realizado no laboratório de informática do
Paraná digital. Em sala de aula, cada conteúdo foi trabalhado a partir de um
Origami, os alunos geralmente eram organizados em grupos de modo que
facilitasse o acesso ao material, a ajuda coletiva e a intervenção do professor
quando necessário. Os Origamis mais simples foram desenvolvidos utilizando
imagens e a explicação do professor que fazia as dobras do Origami e a turma
em seguida repetia. Os Origamis mais elaborados e com maior grau de
dificuldade foram desenvolvidos a partir de pequenos vídeos gravados no
pendrive e reproduzidos na tv multimídia. Essa metodologia conquistou os alunos,
pois, a medida que havia necessidade os vídeos eram pausados para que todos
atingissem o mesmo ponto ou ainda, se necessário era possível rever a dobras
quantas vezes fossem necessárias.
A partir de um roteiro de estudo os alunos desenvolveram as dobraduras,
fizeram o registro dos conteúdos relacionados á geometria em seu caderno,
anotando suas observações, análises e construindo o seu conhecimento a
respeito do conteúdo proposto.
A primeira atividade realizada foi a apresentação do projeto e a unidade
didática para a equipe pedagógica e professores utilizando slides, vídeos,
imagens e as dobraduras que se pretendia desenvolver durante o primeiro
semestre de 2014 com os alunos do 8º ano matutino. O trabalho despertou
interesse e curiosidade dos colegas de disciplina e principalmente dos colegas
professores que atuam na sala multifuncional I, devido a beleza das formas e de
certa forma a metodologia utilizada para desenvolver o estudo da geometria.
A segunda atividade proposta, introdução à geometria que envolveu textos
para leitura sobre a história da geometria, foi realizado no laboratório de
informática. A atividade despertou a curiosidade dos alunos e contribuiu para que
eles debatessem entre si um pouco da história da geometria. Nesta atividade fez-
se uma exposição e contextualização, utilizando a TV Multimídia.
Na terceira atividade os alunos através de pesquisa direcionada no
laboratório de informática, pesquisaram a história do Origami e algumas
curiosidades envolvendo esta arte. Na sala de aula assistiram pequenos vídeos
sobre curiosidades do Origami e um debate sobre seu contexto histórico e as
curiosidades pesquisadas por eles foi feito. Esta atividade empolgou os alunos
que já pensavam em fazer as dobraduras, aguçou ainda mais o interesse pela
disciplina de matemática. Ao conhecer a história do Origami os alunos
questionaram sobre a cultura da época e se envolveram com interesse nas
atividades.
A confecção dos Origamis iniciou-se a partir da quarta atividade, onde as
dobraduras envolveriam a definição dos polígonos, os elementos de um polígono,
principais polígonos, diagonais, polígonos convexos e não convexos e ângulos.

2.3.1. ATIVIDADES DESENVOLVIDAS EM SALA


Todas as atividades apresentadas a seguir estão descritas na produção didático-
pedagógica: A Arte das Dobraduras: Uma contribuição para o Ensino da
Geometria, que faz parte do programa PDE.
1) Confecção do quadrado em Origami como mostra a Figura 2.

Figura 2: Confecção do quadrado

Fonte: a autora

Os alunos organizados em grupo tiveram facilidade em fazer as dobras


propostas, e ao dobrar foram descobrindo as propriedades do quadrado, seus
vértices, diagonais, perímetro e a área. Desenvolveram as atividades com
dedicação e demonstraram ter compreendido todos os conteúdos trabalhados.
A atividade partiu do tutorial, conforme Figura 3. Após confecção do
quadrado a turma relacionou a dobradura com o conteúdo, partindo de
questionamentos como: Descrever as três propriedades do quadrado; O que são
vértices do quadrado? Descreva em seu caderno, depois pinte com o lápis de cor
os vértices do quadrado, Quantos são os vértices do quadrado? Dobrando o
quadrado ao meio como mostra o passo 5 e 6 da ilustração 14, obtemos uma
linha que podemos chamar de diagonal do quadrado; O que é diagonal do
quadrado? Trace as diagonais possíveis do quadrado de papel; Quantas
diagonais você conseguiu desenhar no quadrado de papel? Teste a fórmula das
diagonais para ver se você encontrará o mesmo resultado.
Tais questionamentos, com possibilidade de visualização e orientação do
professor, fizeram com que os alunos desenvolvessem os objetivos propostos
para a atividade, conhecer as propriedades do quadrado e seus elementos. Ainda
com o Origami foi possível calcular o perímetro do quadrado e posteriormente a
área do quadrado, chegando a dedução da fórmula para o cálculo da área do
quadrado.

Figura 3: Tutorial para confecção do quadrado em Origami


Utilize régua, tesoura, lápis Meça 15 cm em dois dos Dobre de forma que
e papel. lados do papel. consiga marcar os outros
dois lados do quadrado que
deseja montar.

.
Com a tesoura recorte os Vire o papel e comece a Desdobre, agora faça a
lados conforme mostra a dobrar como mostra a mesma coisa com o outro
figura. figura. lado, desdobre novamente.

Pegue uma das pontas do Faça o mesmo com as Desvire e está ponto seu
papel e leve até o centro outras três pontas. quadrado de origami.
marcado pelas duas
dobras anteriores.

Fonte: a autora
2) Construindo triângulos em Origami:

Figura 4: Confecção de triângulos

Fonte: a autora
A confecção dos triângulos deu-se a partir de tutoriais, os triângulos
construídos foram: o triângulo escaleno, conforme Figura 5, triângulo isósceles,
conforme Figura 6 e o triângulo equilátero conforme Figura 7, as dobraduras
foram simples, e percebeu-se que os alunos divertiam-se ao realizarem as
dobras, ao mesmo tempo, que compreendiam conceitos como diagonal,
perpendicular, paralelo, além do objetivo proposto que era a visualização das
propriedades e elementos dos triângulos. Nesta atividade os alunos utilizaram o
transferidor para medir ângulos, tendo dificuldade para iniciar o uso deste, mas no
decorrer das atividades, os alunos em grupos, se ajudavam, tiravam dúvidas e a
partir das atividades desenvolvidas com o segundo triângulo (isósceles) já
demonstravam maior facilidade em manusear o transferidor. Utilizaram régua para
comprovar as medidas dos lados do triângulo, bem como a altura dos mesmos,
fazendo a classificação dos triângulos quanto aos ângulos e aos lados, fizeram
comprovação da soma dos ângulos internos de um triângulo, o perímetro e a área
das figuras desenvolvidas. Para desenvolver a dobradura do triângulo equilátero
há a possiblidade de assistir o vídeo de aproximadamente 4 minutos que
demonstra os passos para a construção da dobradura, disponível no endereço: <
http://www.youtube.com/watch?v=FECtMrk8x9w> , acesso em outubro de 2013.
Figura 5: Tutorial para confecção do triângulo escaleno
Corte um quadrado de lado 15 Dobre ao meio (em uma das Desdobre:
cm. diagonais) como mostra a
figura:

Encoste um dos lados do Faça o mesmo do outro lado: Dobre ao meio conforme a
quadrado na linha diagonal que figura:
você marcou:

Fonte: a autora

Figura 6: Tutorial para confecção do triângulo isósceles


Corte um quadrado de lado Dobre ao meio (em uma das Desdobre:
14 cm. diagonais) como mostra a
figura:

Encoste um dos lados do Dobre a ponta da figura para Vire a dobradura:


quadrado na linha diagonal que cima conforme a figura: Está pronto seu triângulo!
você marcou, faça o mesmo do
outro lado:

Fonte: a autora
Figura 7: Tutorial para confecção do triângulo isósceles
Corte uma folha de papel em Dobre ao meio como mostra a Desdobre:
forma de retângulo com figura. (base é a parte menor).
dimensões 13 x 12 cm.

Faça a dobra como mostra a Dobre o vértice inferior direito Dobre o vértice superior direito
figura: até encontrar a ponta da dobra de modo que a ponta encoste
anterior: na parte colorida:

Da mesma forma, traga o Desdobre: Refaça as dobras, na ordem


vértice superior esquerdo em abaixo, sobrepondo os lados:
direção ao centro da figura,
onde o a dobra encosta na
parte colorida:

Dobre a ponta inferior da Pegue a ponta direita superior e Pegue a ponta da esquerda e
direita para a esquerda, no dobre novamente no vinco já insira na abertura como se
vinco anterior: feito anteriormente: fosse fechar um envelope:
Pronto!

Fonte: a autora
3) Trissecção de um ângulo

Figura 8: Trissecção de um ângulo

Fonte: a autora
A Atividade desenvolvida, ilustrada na Figura 8, é uma adaptação realizada
a partir do Livro Explorando Geometria com Origami de Eduardo Cavacami e
Yolanda Kioko Saito Furuya).

Um dos famosos problemas da Antiga Grécia era a


trissecção de um ângulo qualquer com régua e compasso.
Esse problema é impossível com régua e compasso, mas é
solúvel com o Origami. A construção dada a seguir é
creditado a Hisashi Abe, conforme publicado em 1980 no
Japão.(CAVACAMI e FURUYA, 2008, p. 16).

A pequena história contada para os alunos, e logo depois a confecção da


trissecção do ângulo, despertou-lhes o interesse e o encanto pela história da
matemática e pela comprovação que poderia ser realizada por eles em sala de
aula. A atividade foi desenvolvida com interesse por todos os alunos,
necessitando de maior acompanhamento para que as dobras fossem realizadas
com o máximo de precisão, ao terminar a dobradura, foi comprovado que
realmente o ângulo inicial havia sido dividido em três ângulos com medidas
congruentes.
A trissecção de um ângulo deu-se a partir de um tutorial, como mostra a
Figura 9.
Figura 9: Tutorial para trissecção de um ângulo através do Origami
Corte um quadrado de papel (15cm de lado). E Faça uma dobra para construir um ângulo
anote nos vértices os pontos A,B,C e D. menor que 90º. Anote o ponto E.

Determine uma paralela GF a AD, fazendo uma Dobre o ponto B sobre o ponto F e o ponto C
dobra no papel. Anote os pontos F e G. sobre o ponto G, formando assim uma linha
paralela. Anote os pontos H e I que são
também, os respectivos pontos médios de FB e
GC.

Dobre de forma a levar o ponto F ao segmento Marque os pontos H', F' e B'
EB e o ponto B ao segmento HI (esta dobra é
dada pelo axioma 6 de Huzita).

Trace o segmento F'B'. Trace os segmentos B'B e H'B.

Trace por B' uma paralela a HB, com Os triângulos BB'N, BB'H e BF'H' são
extremidade em N. congruentes, com os ângulos em B
congruentes.

Fonte: a autora
4) Confecção da borboleta em Origami

Figura 10: Confecção da borboleta

Fonte: a autora
Para confeccionar a borboleta, Figura 10, utilizou-se como tutorial um
pequeno vídeo de aproximadamente 5 minutos, disponível em:
<http://www.youtube.com/watch?v=v-E3p5_5nvs>, acesso em novembro de 2013.
A novidade foi aprovadíssima pelos alunos, pois eles podiam parar o vídeo a
medida que achassem necessário, voltar e rever as imagens a qualquer
momento, além de ter a opção de acessar o vídeo em casa, caso quisessem fazer
o Origami novamente.
Com o Origami da borboleta os alunos trabalharam a área e o perímetro do
quadrado, as diagonais do quadrado definição de diagonais, definição de trapézio,
bem como o cálculo da área e perímetro do trapézio. Os alunos demonstraram
interesse pela atividade, do início ao fim, puderam viajar pela imaginação, além
de se apropriarem dos conteúdos propostos.

5) Confeccionando uma mola maluca

Figura 11: Confecção da mola maluca

Fonte: a autora
Para confeccionar a mola maluca, Figura 11, utiliza-se de um vídeo de
aproximadamente 7 minutos como tutorial, disponível no endereço:
<http://www.youtube.com/watch?v=uUkMtg4SZYQ>, acesso em novembro de
2013. As dobraduras são simples, porém é necessário confeccionar mais ou
menos 60 a 80 peças para encaixe, essas peças devem ter a mesma medida para
que o encaixe ocorra de maneira satisfatória. Em grupos os alunos
desenvolveram as peças individuais e após, cada grupo, foi completando a mola
com as peças que construíram, a atividade foi muito interessante, despertou o
interesse e a participação dos alunos nas atividades propostas Além de
compreenderem o conteúdo proposto de forma satisfatória, trabalharam
identificando os polígonos presentes na dobradura, calcularam a área e o
perímetro dos polígonos identificados, traçam as diagonais e com o auxílio da
professora chegaram a fórmula do cálculo do número de diagonais de um
polígono. Foi gratificante ver que realmente eles compreenderam tal fórmula e
que a atividade proporcionou de forma lúdica a aprendizagem de conteúdos
propostos além de possibilitar a integração dos alunos.

6) Fazendo um sapo em Origami

Figura 12: Confecção do sapo em Origami

Fonte: a autora
Como na confecção da mola maluca, o Origami do sapo que pula (Figura 12)
despertou o interesse e a curiosidade dos alunos, a metodologia para desenvolver
o Origami foi a utilização de vídeo de aproximadamente 5 minutos, disponível em
<http://www.youtube.com/watch?v=Y-muMqUw1HI>, acesso em outubro de 2014.
Uma metodologia aprovada por todos os alunos que após desenvolverem o
Origami, brincaram fazendo com que a Matemática fosse vista de forma curiosa e
divertida. A atividade possibilitou o reconhecimento dos polígonos apresentados
no Origami, o cálculo de área e perímetro e a soma dos ângulos internos de
triângulos e quadriláteros.

7) Confecção do cubo

Figura 13: Confecção do cubo em Origami

Fonte: a autora

A atividade desenvolvida utilizou-se de um vídeo de aproximadamente 8


minutos, disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=A8EyLFWXV_0>,
acesso em outubro de 2014. Confeccionamos um cubo diferente que chamou a
atenção dos alunos, o Magic Rose Cube ( Rosa cubo mágico), o que despertou o
interesse dos alunos, foi o fato de o cubo confeccionado poderia transformar-se
em uma rosa e depois, voltar a forma de cubo e vice-versa, como visualiza-se na
Figura 13. Com o origami, foram trabalhados o conceito de figuras
tridimensionais, poliedros, no caso do cubo, o que são faces, vértices, arestas,
diferenciação de polígonos e poliedros, cálculo de área total da figura e volume.
8) Confecção do tetraedro em Origami

Figura 14: Confecção do Tetraedro

Fonte: a autora

O origami foi desenvolvido na sala através de um tutorial, demonstrado


abaixo nas figuras 15, 16 e 17.

Figura 15: construção das faces


Dobre o quadrado ao Dobre encostando um Dobre fazendo com Dobre dividindo o
meio, depois dos vértices na marca que o lado do outro ângulo da base
desdobre. deixada pela primeira quadrado encoste na em dois.
dobra, desdobre. marca deixada pela 2ª
dobra.

Dobre ao meio de Dobre a ponta da Dobre a pontinha que Dobre a ponta do lado
maneira que a base esquerda sobre a ficou do lado direito esquerdo, colocando
maior encoste na base até o limite da para cima. a na aba que está
base menor, cuide dobra que está no embaixo como um
para que o canto lado debaixo. envelope.
esquerdo fique sobre Faça quatro triângulos
a linha do meio. iguais a esse (pode
ser de cores
diferentes)

Fonte: a autora
Figura 16: peças de encaixe
Dobre cada quadrado Dobre o quadrado Dobre fazendo com Dobre ao meio.
em quatro partes menor em quatro que cada vértice do Faça seis encaixes
iguais e depois partes. quadrado menor iguais a esse.
recorte. chegue até o centro.

Fonte: a autora

Figura 17: montagem do tetraedro


Você vai precisar de 4 Comece com um triângulo, Depois de encaixar todas as
triângulos (as faces)e 6 peças encaixe as peças de encaixe peças, seu tetraedro está
de encaixe. como em um envelope e pronto.
continue até formar as 4 faces.

Fonte: a autora

As peças foram construídas individualmente e após, encaixadas formando


o tetraedro, a atividade contou com a participação de todos os alunos. Foram
trabalhadas atividades que envolveram a relação de Euler e a planificação do
tetraedro.
9) Finalização das atividades e exposição do material confeccionado

Figura 18: algumas peças confeccionadas

Fonte: a autora
As amostras produzidas em sala de aula chamaram a atenção e
encantaram a todos que as visualizavam, despertando a curiosidade do como
fazer, proporcionando assim uma visão diferenciada para o estudo da
matemática. A Figura 15 mostra algumas delas.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho realizado com uma turma do colégio Estadual Reinaldo


Sass, as dobraduras (origami) foram utilizadas como forma de sensibilização e
compreensão dos conceitos e das formas geométricas. As atividades propostas
permitiram situações de interação, reflexão e compreensão do conteúdo
estudado, possibilitou ao aluno organizar a forma de pensar e efetuar seus
registros, permitindo que a geometria tenha com os alunos uma relação de
cumplicidade.

As atividades desenvolvidas também contribuíram na integração da turma


devido a dinâmica do trabalho desenvolvido em equipe.

É gratificante para qualquer professor atingir o objetivo desejado quando se


planeja uma aula. Fiquei muito contente com os resultados atingidos,
principalmente por poder através deste desmistificar o ensino da matemática e
tornando o divertido e prazeroso.

As amostras produzidas em sala de aula, chamaram a atenção e


encantaram a todos que as visualizavam na exposição, despertando a curiosidade
do como fazer, além de proporcionar uma visão diferenciada para o estudo da
matemática.

Resultados parciais deste trabalho podem ser vistos nos ANAIS da XXVIII
Semana Acadêmica da Matemática, com o título “Origami e Geometria: Uma
Proposta de Trabalho”. O trabalho apresentado despertou a atenção de
acadêmicos e professores do curso de Matemática da UNIOESTE, trazendo um
novo olhar para o ensino da Geometria e consequentemente para o ensino da
Matemática.
4. REFERÊNCIAS

BERGAMINI, D. Redatores da LIFE. As Matemáticas. Rio de Janeiro: José


Olympio, 1969.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares


Nacionais: Matemática. Brasília: MEC /. SEF, 1998.

CARARO, E. F. F; MILOCA, S. Origami e Geometria: Uma Proposta de


Trabalho. In: ANAIS da XXVIII Semana Acadêmica da Matemática. 2014.

FAINGUELERNT, E. K. Educação Matemática: Representação e Construção


em Geometria. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

GARBI, G. G. A Rainha das Ciências: um passeio histórico pelo maravilhoso


mundo da matemática. São Paulo: Editora Livraria da Física, 2007.

LIMA, E. L. Matemática e ensino. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de


Matemática, 2001.

LORENZATO, S. Por que não ensinar Geometria? In : Educação Matemática em


Revista SBEM , ano 3, p.3-13, jan/jun.1995.

PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da


Educação Básica: Matemática. Curitiba: SEED, 2008.

PONTE, J. P. da. Investigações matemáticas na sala de aula/ João Pedro da


Ponte, Joana Brocardo, Hélia Oliveira. - 1ª ed., 2ª reimp. - Belo Horizonte :
Autêntica, 2006.

RÊGO, R.G.; RÊGO, R.M; GAUDENCIO Jr, S. A geometria do Origami:


atividades de ensino através de dobraduras. João Pessoa: Editora Universitária/
UFPB, 2004.

ROSSONI, D. F. A Matemática do Origami: Uma proposta de trabalho para o 3º


ciclo do Ensino Fundamental (6ª série). Cascavel: Trabalho de conclusão de
curso apresentada ao curso de Matemática da Universidade Estadual do oeste do
Paraná, 2005.

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