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SUMÁRIO
A obtenção de modelos que permitem representar os transformadores em uma larga faixa de
freqüência de forma viável e com precisão vem recebendo bastante atenção nas últimas décadas
e diversas abordagens têm sido apresentadas na literatura. A motivação para tanto é a
constatação de que diversas falhas de origem dielétrica desses equipamentos podem estar
relacionadas com transitórios elétricos de alta freqüência decorrentes de manobras no sistema de
transmissão. A força-tarefa do CIGRE A2/C4-03, que trata da análise dos transitórios gerados
no sistema de potência que interagem com o transformador, concluiu em seus estudos que as
tensões obtidas nos terminais do transformador em análise são extremamente influenciadas por
sua representação e que, por isso, ela precisa ser adequada à faixa de freqüência dos fenômenos
analisados. Esta representação depende, portanto de um modelo dinâmico tão preciso quanto
possível e cuja obtenção exigirá um procedimento de cálculo confiável a partir de medições
realizadas, seja pelo fabricante durante o processo de compra do transformador, ou pela própria
concessionária. O presente trabalho aborda o problema da identificação de transformadores de
potência através da utilização de modelos com bases de funções ortonormais e apresenta uma
aplicação do método através de um estudo de caso em transformadores do sistema FURNAS.
Uma revisão da metodologia, a descrição detalhada do problema abordado e resultados de
simulação da utilização do método são apresentados.
PALAVRAS CHAVE
Transformadores de Potência, Interação Sistema-Transformador, Transitórios do Sistema
Elétrico, Identificação de Sistemas, Bases de Funções Ortonormais Generalizadas.
As referências (20,21,22,23) apresentam os resultados e conclusões obtidas até então pela Força
Tarefa JWG A2/C4-03 do Cigré Brasil entitulada “Interação Elétrica Transitória entre
Transformadores e o Sistema de Potência“, onde análise de transitórios decorrentes da interação
dos transformadores com os demais componentes do sistema vem sendo realizada. Dessa forma,
é de grande interesse para o aprimoramento desta análise a obtenção de modelos que
representem de forma adequada os transformadores em diferentes faixas de freqüência.
O presente artigo está estruturado conforme descrito a seguir. Na próxima Seção, Na próxima
Seção, o problema abordado e sua relevância para o setor elétrico são descritos. Na sequência, a
metodologia de identificação, isto é, os principais aspectos relacionados com a modelagem de
sistemas lineares usando bases de funções ortonormais generalizadas são abordados. Após isso,
a descrição dos transformadores do sistema FURNAS utilizados nos estudos de caso é
apresentada. Os resultados da aplicação do método, na identificação, são apresentados na
sequência. Os resultados utilizam dados no domínio do tempo (compatível com o impulso
atmosférico do ensaio dielétrico normalizado) e dados preliminares no domínio da frequência.
Finalmente, o artigo é concluído.
Durante anos foram utilizados programas para simulação de transitõrios eletromagnéticos para
calcular sobretensões nos sistemas e para gerar os dados necessários para uma coordenação de
isolamento otimizada, com base nos valores máximos dessas sobretensões. Estes estudos
definem os níveis de isolamento necessários, que são então incluídos nas especificações
técnicas. Os transformadores são submetidos aos ensaios dielétricos em laboratório, com formas
de onda padronizadas, para comprovar o atendimento às especificações.
Nas simulações realizadas para vários arranjos de subestações em diferentes níveis de tensão,
frequentemente utilizados no Brasil, indicaram a importância da modelagem do transformador
para reproduzir o seu comportamento numa faixa de freqüências relativamente ampla.
METODOLOGIA DE IDENTIFICAÇÃO
onde u(k) e y(k) são, respectivamente, os sinais de entrada e saída do sistema, h(k) é a resposta
ao impulso do sistema. Portanto H(z) é a Transformada Z de h(k). Uma vez que H(z) é estável,
tem-se que h(k) possui memória finita e, portanto, pertence ao espaço de funções Lebesque.
Logo, este sinal pode ser representado pela seguinte série de funções:
∞
h( k ) = ∑ c φ (k )
i =0
i i (3)
Nesta equação, {φi(k): i=1,...} é uma base de funções ortonormais e ci são os coeficientes da
parametrização em séries do sinal h(k). Substituindo a equação (3) na (2), e definindo li(k) como
sendo a convolução de φi(k) com u(k) e Φi(z) como sendo a Transformada Z de φi(k), tem-se que
li(k) é a saída n-ésima função da base {Φi(z): i=1,...} quando a entrada é u(k). Com esta
representação, a saída do modelo (1), truncando a série em n elementos, é dada por:
∞ n
y (k ) = ∑ c l (k ) ≈ ∑ c l (k )
i =1
i i
i =1
i i (4)
ou
n
H (z ) ≈ ∑ c Φ (z)
i =1
i i (5)
Uma questão relevante na definição das bases ortonormais com pólos fixos é a seleção do tipo e
da quantidade de pólos distintos presentes na base. Este não é um ponto crítico no procedimento
de identificação, no entanto, uma escolha adequada pode levar a uma convergência mais rápida
da série (um modelo com poucos parâmetros). Neste sentido, diversos trabalhos sobre seleção
de pólos já foram apresentados na literatura, entre (12) (14) (15). Apesar de aumentar a
complexidade do problema de seleção do(s) pólos(s), quanto maior a informação a priori
disponível sobre o processo incorporada na base, maior a flexibilidade na caracterização da
resposta em freqüência do sistema. Aliada à escolha dos pólos, o número de funções de base
também é importante para uma boa representação do sistema. Há um compromisso entre o
número de funções de base e a seleção dos pólos das funções: quanto melhor(es) alocado(s)
for(em) o(s) pólo(s), melhor será a convergência dos termos da série, e menos funções na base
serão necessárias para a adequada representação do sistema e vice-versa.
O setor de 345kV da subestação Tijuco Preto tem um arranjo em disjuntor e meio com
barramentos de 700m, dez entradas de linhas de transmissão, quatro bancos de
autotransformadores e quatro ilhas de bancos de capacitores em derivação. Cada
autotransformador de 765/345/20kV – 500MVA está localizado a cerca de 190m dos dois
disjutores que podem ser utilizados para a sua manobra. A seguir, o modelo de dois fabricantes
destes transformadores, neste trabalho denominados de BBC e ZTR, serão analisados.
RESULTADOS DE IDENTIFICAÇÃO
Os dados de entrada e saída no domínio do tempo são comuns em testes de curto circuito em
transformadores. Portanto, serão utilizados como base da identificação no domínio do tempo. A
forma de onda 1,2/50µs, compatível com o impulso atmosférico do ensaio dielétrico
normalizado, aplicada no primário do transformador é apresentada na Figura 2. A resposta em
termos de corrente, também no primário dos transformadores, pode ser visualizada nas Figuras
3 e 5. Portanto, o objetivo é obter uma representação da admitância do transformador.
6
x 10 Onda de Entrada
2
1.8
1.6
1.4
1.2
Tensão (V)
0.8
0.6
0.4
0.2
0
0 1 2 3 4 5 6
Tempo (s) -4
x 10
O primeiro passo na identificação de sistemas com modelos GOBF é a definição dos pólos e da
quantidade de elementos da base. Para o Transformador BBC, é utilizada uma base de funções
formada com funções internas com 9 pólos distintos, sendo 4 pares de pólos complexos
conjugados e 1 pólo real, totalizando um sistema de 9ª ordem (não há repetição de bases). O
MSE do procedimento de estimação de parâmetros do modelo identificação foi 1,48×10-8. A
Figura contém a resposta de corrente do sistema real e do modelo identificado para a situação
onde a curva apresentada na Figura 2 é aplicada no primário do transformador BBC.
4
x 10 Resposta no Tempo do Trafo BBC
Sistema
Modelo Identificado
3
2
Corrente (A)
-1
-2
0 0.5 1 1.5
Tempo (s) -4
x 10
4
10
Magnetude (abs) 10
3
2
10
1
10
0
10
0 1 2 3 4 5 6
10 10 10 10 10 10 10
Freqüência (Hz)
Para o Transformador ZTR, é utilizada uma base de funções formada com funções internas com
7 pólos distintos, sendo 3 pares de pólos complexos conjugados e 1 pólo real, totalizando um
sistema de 7ª ordem (não há repetição de bases). O MSE do procedimento de estimação de
parâmetros do modelo identificação foi 9,32. Apesar de elevado (quando comparado ao caso
BBC), tal índice de desempenho ainda é muito baixo, visto que a amplitude dos sinais em
questão estão na ordem de dezenas de kiloampéres. Melhores aproximações na etapa de
estimação podem ser obtidas, porém comprometem a aproximação do modelo como um todo se
consideramos a etapa de validação. A Figura 5 contém a aproximação do modelo obtido,
usando como entrada do sistema a mesma onda da Figura 2.
4
x 10 Resposta no Tempo do Trafo ZTR
3
Sistema
2.5
Modelo Identificado
2
1.5
1
Corrente (A)
0.5
-0.5
-1
-1.5
-2
-2.5
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5
Tempo (s) -5
x 10
Sistema
6 Modelo Identificado
10
5
10
Magnetude (abs)
4
10
3
10
2
10
1
10
0 1 2 3 4 5 6
10 10 10 10 10 10 10
Freqüência (Hz)
Vale ressaltar que ambas as identificações apresentadas neste trabalho foram feitas no domínio
do tempo, e que, devido à alta performance obtida nas identificações, a resposta em freqüência
dos modelos ficaram bem próximas dos seus respectivos sistemas. No entanto, a identificação
(obtenção dos modelos) também pode ser feita diretamente no domínio da freqüência. Para
tanto, a seleção a priori de pólos do modelos está em estudo.
CONCLUSÕES
Este trabalho apresentou um estudo de aplicação de modelos com estrutura formada por bases
de funções ortonormais na representação de transformadores de potência. Para tanto, uma
contextualização e motivação para o problema foram revistos, juntamente com uma breve
apresentação da metodologia utilizada. Dois estudos de caso foram apresentados, baseados em
transformadores reais do sistema Furnas. A identificação foi realizada com dados no domínio do
tempo. Mostrou-se que a resposta do modelo de admitância reproduziu adequadamente a
resposta de corrente no primário dos transformadores para uma entrada em tensão compatível
com o impulso atmosférico do ensaio dielétrico normalizado. A resposta em frequência do
modelo também se mostrou próxima da resposta em frequência real do sistema validando os
resultados obtidos.
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