Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PRÓLOGO
Maria acabava de ser designada para uma missão onde em poucos dias ela
deveria comparecer no oeste da Península Ibérica com o intuito de mostrar um
caminho para que o equilíbrio do planeta fosse restabelecido.
A escolha do local não foi por acaso: Não muito distante dali, homens se
degladiavam em lutas por ideais opostos, pois uma guerra mundial assolava a
Europa Oriental e entristecia o mundo.
Ela logo iria tratar de comunicar a sua missão para todos os governantes de
todas as moradas vizinhas ao Planeta Terra para que seus habitantes de luz
pudessem se preparar e fazer um delicado trabalho de sustentação.
O fato seria histórico, e os conselhos de Maria seriam feitos em formas de
metáfora, para que o homem, no momento certo, soubesse interpretar e agir
corretamente. Suas revelações seriam desmistificadas no passar dos anos e
seguidas por toda a eternidade.
1
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 1
2
Carlos Eduardo Milito
3
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 2
Francisco ouviu um forte estrondo como nunca havia presenciado em sua vida.
O que seria? Um terremoto? Uma bomba? O final dos tempos? A Primeira Guerra
Mundial assolava a Europa, no entanto, o menino de nove anos nem fazia idéia
disso vivendo em um local tão longe do velho continente. Ele estava assustado
com o que acabava de escutar e foi correndo para dentro do casebre onde vivia.
Chegou lá ofegante, e logo perguntou para sua mãe que se entretinha nos
afazeres do lar:
- Você ouviu o barulho, mãe?
- Sim meu filho. Parece que foi uma explosão há alguns quilômetros daqui.
Depois saberemos melhor o que foi. Assim que seu pai voltar do cafezal, teremos
mais notícias. Não se preocupe com isso. Vá brincar lá fora, enquanto cuido da
casa.
O menino ainda preocupado com o que acabava de acontecer tentou
novamente se entreter com uma bola de futebol feita de panos coberta com uma
meia.
Francisco era o filho único de um casal de lavradores. Morava em um pequeno
sítio há pouco mais de cinqüenta quilômetros da Cidade de São Paulo. Sua mãe,
Dona Flora, cuidava da horta que lá possuíam além de cuidar dos afazeres do lar.
Seu Pai, Sr Pedro, era funcionário de uma fazenda que ficava há poucos
quilômetros dali. Suas atribuições eram inúmeras. Cuidava da plantação de café
da fazenda “São Paulo” além de todos os pormenores para o seu bom
funcionamento. Era o braço direito do proprietário, o Sr Joel, um homem austero
com cara amarrada que parecia sempre de mal com a vida.
Na Fazenda, o estrondo também tinha sido ouvido por todos que ali estavam.
Pedro estava no escritório do Sr Joel conversando assuntos diversos, quando o
barulho parecia estremecer o local. Pedro exclamou:
- Nossa! Seu Joel, que foi isso?
- Não sei, mas o barulho parece que veio de traz do morro.
- Eu nunca tinha ouvido um ruído desses.
- Com certeza. Devemos apurar se isso foi aqui dentro da fazenda. Chame
alguns homens da lavoura e tente descobrir. Quero sabe a razão disso.
- Sim senhor. Então, com licença.
Pedro saiu rapidamente da sala do Sr. Joel e chamou dois homens que
estavam trabalhando no cafezal para que fossem juntos em direção a Serra do
4
Carlos Eduardo Milito
Japí. A propriedade aonde trabalhava era grande e eles deveriam caminhar alguns
quilômetros para chegar ao local de onde o estrondo ocorreu.
- Venha Jorge, vamos procurar que barulho foi esse! Chame também o
Genésio para nos acompanhar.
- Sim senhor. O barulho veio da montanha. Isso eu sei.
- Vamos ter então que atravessar o cafezal, pois ele termina no pé da Serra.
- Olha lá na montanha Sr Pedro, Veja a fumaça!
- Não posso crer! Será um meteoro?
- Sei não. Vamos lá perto para ver.
Pedro, Genésio e Jorge iriam começar a caminhar pelo cafezal adentro quando
Sr. Joel interrompeu dizendo:
- Esperem. Vou acompanhá-los, pois estou vendo a fumaça. Tenho que me
certificar que isso tenha ocorrido longe do cafezal, pois assim não teremos risco
de incêndio na nossa plantação.
- Fique calmo – Interveio Pedro – Deve ter sido bem atrás da montanha e
nem sei se conseguiremos chegar por lá, pois tudo é mata fechada e as trilhas são
bem difíceis.
- Ora Pedro. Você um dia me contou que conhece tudo da Serra do Japí.
Você não saberia entrar mata adentro?
- Falei sim senhor, mas se a gente entrar muito para dentro da floresta temos
que nos preparar melhor, pois vai anoitecer. Teríamos que acampar por lá,
entendeu?
Joel entendeu o recado. Sabia que poderia atravessar todo o cafezal com seus
três homens, no entanto, aquilo seria somente para se certificar que, fosse lá o
que tivesse causado o ruído e estivesse em chamas na floresta, não tivesse a
possibilidade de atingir sua plantação. Sua preocupação era justa, uma vez que a
colheita de 1.916 havia sido abaixo do que ele esperava. Ele pretendia naquele
ano, bater o recorde de produção para ganhar renome na região.
Vivendo sempre na sombra de outro grande fazendeiro e empresário, o Dr
Marcos Albuquerque, o que Joel tinha mesmo era a ambição de crescer, tentando
superar a tudo e a todos, para alcançar o que desejava. Seria capaz inclusive de
atitudes escusas para subir na vida. Sua arrogância imperava. Sua família vivia
debaixo de suas ordens resignadamente. Sua mulher Inês pouco falava e
concordava com tudo que ele queria. Seu casal de filhos vivia a adolescência
morando na fazenda e indo estudar diariamente na cidade de Jundiaí. Júnior, o
filho mais velho tinha quinze anos de idade, enquanto Márcia tinha doze. Joel
queria preparar o filho para assumir todos os seus negócios. Pretendia que
estudasse Direito em São Paulo. Ter um advogado na família naquela época seria
5
As Moradas e os Segredos de Maria
algo de orgulho para ele. Vaidoso ao extremo, gostava de aparecer. Com seu
poder e seu dinheiro se aproximava de pessoas de gabarito como políticos e
outros empresários da região.
Era inimigo declarado de Dr Marcos Albuquerque. Sua rixa começou em 1.907
quando perdeu parte de suas terras para ele. Naquela época, Joel passava por
dificuldades financeiras, pois no ano anterior havia perdido toda sua produção
devido a uma forte geada. Teve então que levantar empréstimos para se reerguer.
Dr Marcos Albuquerque se prontificou a ajudá-lo, pois o conhecia desde quando
começaram a freqüentar os encontros sociais da cidade. Como garantia, por uma
quantia em dinheiro, queria metade das terras de Joel.
O dinheiro que Joel havia tomado emprestado foi todo aplicado na plantação
de um novo cafezal visando à colheita do ano seguinte. Só que para desespero do
Joel, a plantação fora consumida, só que desta vez por uma praga. Joel ficou
desesperado, pois além de precisar de mais dinheiro para novamente recomeçar,
deveria saldar com o Dr. Albuquerque sua dívida. Daí não teve acerto. Ele foi
obrigado a entregar metade de suas terras, para depois arrumar dinheiro. Desta
vez, ele recorreu a bancos e arriscou tudo. Deu como garantia tudo o que tinha
para recomeçar. Ano a ano foi crescendo até se tornar rico. Tentou novamente
em 1.915 a comprar as terras que o pertenciam, mas não obteve êxito. Foi assim
humilhado na última conversa que teve com Dr Albuquerque, pois qualquer que
fosse a oferta, nunca aceitaria vender:
- Por favor, Albuquerque, naquele ano eu precisava do dinheiro e você quem
se prontificou a ajudar. Lembra que eu já havia até procurado alguns bancos e na
última hora você me convenceu a tomar o seu empréstimo? Venda para mim
aquilo que me pertencia.
- Não vou fazer isso. Foi um negócio. Vai me dizer que os bancos não
queriam garantia?
- Sim, mas com eles, eu poderia até rolar a dívida no ano seguinte e não
precisaria entregar as terras de imediato. Poderia fazer novo empréstimo antes.
- Você sabia que além de fazendeiro, sou banqueiro, e mesmo assim
negociei com você como uma pessoa normal e com juros muito baixos. Você
consentiu com isso. Fez comigo por que quis.
- Mas você não quis conversa depois do primeiro ano quando eu precisava
de mais dinheiro. Jurei para você que eu reiniciaria novamente e lhe pagaria tudo.
- Foi um negócio Joel. Eu queria as terras para mim.
- Por favor Albuquerque, reconsidere.
- Não Joel, já te falei. Esquece esse assunto.
- Por favor, venda.
6
Carlos Eduardo Milito
7
As Moradas e os Segredos de Maria
Vamos retornar amanhã. Só que vou avisar a Polícia. Logo cedo quero que eles
iniciem a caminhada para desvendar o ocorrido. Além do mais é perigoso nos
perdermos.
- Acho que eu até conheço algumas trilhas, mas é melhor trazermos apoio
sim – Interveio Pedro.
- E você Pedro, acompanhará os homens da Polícia. Mesmo sendo em mata
fechada, é possível que tenha sido em minha propriedade. Quanto a você Jorge,
ficará na fazenda no posto de Pedro tomando conta de nossos homens, pois com
certeza irá demorar o dia inteiro. E você Genésio, fica no cafezal.
Os quatro então retornaram em direção à sede da fazenda atravessando
novamente todo o cafezal. Após quarenta minutos chegaram à sede. Pouco
depois, perto das cinco horas, terminava o expediente na fazenda e todos foram
dispensados. Tinham agora que controlar a ansiedade até o dia seguinte.
8
Carlos Eduardo Milito
CAPÍTULO 3
9
As Moradas e os Segredos de Maria
10
Carlos Eduardo Milito
11
As Moradas e os Segredos de Maria
pai eram mais forte do que tudo. Não queria perder a amizade e o vínculo com
Lucas. Manteria o segredo até o final de sua vida.
12
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 4
A chegada daquela aeronave contagiava Albuquerque de tal forma que ele não
tinha mais vista para outros trabalhos. Meses de espera após a encomenda, e
finalmente estava ali na sua frente o tão desejado avião. Após ser fabricado de
acordo com as especificações de Albuquerque, o avião foi encaminhado dos
Estados Unidos diretamente para o porto de Santos. Uma longa viagem de navio,
para depois, fazer o seu primeiro vôo sob a cidade de Santos. Foi batizado como
“Curtis –MA-4”, por ser um modelo variante do “Curtis-JN4” fabricado para Marcos
Albuquerque onde MA significava as suas iniciais.
O piloto Paulo Ribeiro havia trazido o avião da cidade de Santos na semana
anterior. A grande praia com areia batida próxima ao porto, que naquela época era
praticamente deserta, serviu como pista para decolagem. Paulo sobrevoou a
cidade de Santos e seguiu para Jundiaí. Aquele tinha sido um dos primeiros vôos
da história sob o estado de São Paulo.
Na companhia de Lucas e Paulo Ribeiro na sede da sua fazenda, Albuquerque
estava muito apreensivo para fazer o primeiro vôo. O avião já estava lá havia seis
dias e, por medidas de segurança, Paulo até então não havia concordado em
voar. Ele era a assumidade no Brasil em relação à recente história da aviação.
Albuquerque o trouxe do Rio de Janeiro a preço de ouro para ser seu piloto
particular. Com seus vastos conhecimentos na parte mecânica, poderia também
ficar com esse ofício se assim o desejasse. Albuquerque lhe deu carta branca
para fazer o que quisesse. Queria que ele fosse seu piloto e responsável pela
manutenção do avião. Se precisasse de alguém para ajudá-lo, ficaria a vontade
para contratar quem quisesse.
- Paulo. Então finalmente vamos estrear nossa aeronave? Tudo pronto? –
Indagou Albuquerque.
- Sim patrão. Desde que cheguei com o avião na quarta-feira passada, estou
cuidando de todos os pormenores para esse nosso vôo. E por sugestão sua,
contratei uma pessoa da região para me auxiliar na parte mecânica e na
manutenção da nave.
- Você fez muito bem de contratar o Ernesto. Acho que você vai precisar de
ajuda. Falei que você tem carta branca. Faça tudo como quiser. Cuide de tudo: do
avião, do hangar, da pista, e principalmente do combustível que ainda temos
dificuldades em encontrar aqui perto.
13
As Moradas e os Segredos de Maria
14
Carlos Eduardo Milito
- Lucas. Como você sabe, hoje É terça-feira, e minhas filhas estão em São
Paulo. Minha esposa Clarice também não se encontra. Como estamos no mês de
Março, as vindas delas para cá ficarão restritas por causa dos estudos. Sei que
você aprecia Emília, e quero te propor para que você fique três ou quatro dias por
semana em São Paulo cuidando dos meus negócios e assim você terá mais
facilidade em vê-la.
- O senhor é meu patrão e é quem dita as ordens. Comecei trabalhando no
banco e somente fixei residência aqui, morando sozinho, por vontade sua. Se for
necessário que eu fique mais tempo em São Paulo, será de bom gosto, afinal,
além de Emília, minha família também está lá.
Lucas realmente gostava da filha de Albuquerque. Conheceu-a em meados de
1.914 quando ele tinha 26 anos e ela 16. Inicialmente se encantou com sua
beleza. Mulher bem formada, de longos cabelos lisos e castanhos, pele dourada e
olhos verdes. Conforme ia freqüentando a casa de Albuquerque, ele percebia
atrás daquela beleza, uma pessoa inteligente, com boa conversa, e com alguns
ideais de vida. Doce e encantadora conquistou o coração de Lucas, o que fazia do
satisfeito Albuquerque vislumbrar o futuro dos dois jovens.
- E então Lucas? Vamos voar?
- Tudo bem. Você atingiu meu ponto fraco. Não tem como eu negar um
passeio aéreo mesmo a contragosto depois que você está dizendo que ficarei a
maior parte do tempo da semana junto com Emília. Parabéns Marcos. Você
realmente consegue tudo o que você quer. Vou com medo sim, mas vou
pensando em Emília.
- Assim é que eu gosto meu futuro genro. Entre no avião.
Lucas havia decido fazer aquele vôo por impulso pois sabia que Albuquerque
já pensava em facilitar sua vida para que seu relacionamento com Emília
prosperasse, no entanto, como aquelas palavras foram ditas naquele momento,
ele não queria contrariar Albuquerque, que sempre o elogiava e o idolatrava. O
que custaria para ele vencer o medo e dar uma voltinha de avião? Ele agradaria o
“chefe”, fazendo a boa política com ele, e de quebra, teria mais tempo para ficar
em São Paulo, junto de pessoas que amava.
/ / /
15
As Moradas e os Segredos de Maria
estava com o seu brinquedinho novo quando olharam para o céu e viram algo
nunca visto antes. Um objeto voador inventado pelo homem. Era uma cena
especial. O avião cruzava toda a fazenda de Albuquerque em direção a Serra do
Japí. Foi pouco notado pelas fazendas vizinhas, tão vasta era a propriedade de
Albuquerque.
Passados alguns minutos, o medo de Lucas se transformou em prazer por ver
algo totalmente novo e mágico. Como era linda aquela paisagem. A aproximação
da serra do Japí com sua mata fechada era um espetáculo a parte. Albuquerque
também se deliciava enquanto o piloto Paulo ficava atento as manobras. Mais
alguns minutos decorridos, e eles estavam sob a serra do Japí. O contraste verde
do chão com o azul do céu fez Lucas cair em pensamentos íntimos lembrando-se
de sua avó Dora e das coisas que ela falava sobre a natureza e da criação do
universo. O passeio prosseguia sob a imensa serra proporcionando agradáveis
momentos para os três. Lucas e Albuquerque ficariam por horas sobrevoando
aquela paisagem, dado a pintura artística que eles viam na sua frente. Parecia um
sonho pela época que eles viviam, mas tudo era realidade.
16
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 5
17
As Moradas e os Segredos de Maria
trilha que poderia levá-lo a algum lugar. Enquanto caminhava, pensava no que
poderia ter ocorrido. Naquele horário o sol não estava exatamente em cima dele
como costuma acontecer ao meio dia nos meses de Dezembro e Janeiro naquela
região, no entanto, ele nem se deu conta disso, e seguindo aquela trilha por
alguns metros, notou uma fresta de luz logo a sua frente que vinha exatamente
como se fosse o sol do meio dia. Percebendo que poderia estar perto de uma
clareira, aproximou-se nem percebendo que aquela luz além de ser mais
ofuscante que o sol, emitia uma névoa esbranquiçada tal como gelo seco.
Conforme Lucas ia se aproximando da imaginada “clareira”, ele sentia um enorme
bem estar e uma paz de espírito que eliminaram qualquer tipo de pensamento de
preocupação pelo ocorrido.
Mestre Jonas, Madalena e Antero surgiram na frente de Lucas com um
semblante solícito e radiante de alegria no meio daquela claridade nevoenta.
- Que bom encontrar alguém aqui no meio desta floresta – disse Lucas.
- Fique tranqüilo meu jovem. Estávamos a sua espera – falou Mestre Jonas.
- O que aconteceu exatamente? E os meus companheiros? E a o avião?
- Calma Lucas – interveio Madalena – Explicaremos tudo no momento certo.
Gostaríamos apenas que você nos acompanhasse.
- Como sabe meu nome? Estou meio confuso. O que está se passando?
Tenho certeza que houve uma explosão há pouco.
- Você necessita de repouso – replicou Mestre Jonas. Fique calmo e não
entre em pensamentos que possam te perturbar. Nós já te conhecemos há muito
tempo e nossa missão por ora é te ajudar.
Imediatamente Mestre Jonas colocou a sua mão direita na testa de Lucas e ele
passou a se sentir como se estivesse com velhos amigos de longa data, o que lhe
ocasionou um grande bem estar. Apesar das dúvidas e dos questionamentos que
rondavam a sua mente, estava bem consigo mesmo e o que ele desejava naquele
momento era apenas repousar. Com voz embargada disse aos companheiros:
- Eu gostaria de descansar um pouco.
- Perfeitamente, companheiro Lucas – interveio Antero – Basta nos
acompanhar.
Calmamente Mestre Jonas, Antero, Madalena e Lucas foram caminhando
alguns metros por aquela paisagem alva e nevoenta até se depararem com um
objeto arredondado como se fosse uma esfera achatada, com aproximadamente
uns 3 metros de diâmetro, que poderia ser perfeitamente descrito como um disco
voador. Lucas seguiu naquela curta caminhada como se estivesse anestesiado e
não questionava mais nada. Seu semblante transmitia tranqüilidade. Madalena se
18
Carlos Eduardo Milito
19
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 6
Pedro acabava de chegar a Fazenda São Paulo e logo foi procurar Joel na
sede para contar as novidades:
- Seu Joel, Não vamos mais precisar chamar a Polícia, pois ontem mesmo
aquele rapaz que já conhecíamos e que agora trabalha na fazenda do Dr
Albuquerque fez isso logo após a explosão.
- Que rapaz? O Ernesto?
- Ele mesmo, patrão. Parece que aconteceu uma tragédia. O avião que o
doutor trouxe do estrangeiro parece que explodiu em cima da mata. Ninguém fala
outra coisa nos arredores. Desde quando o sol nasceu vários homens já iniciaram
a busca.
- Nossa! Como pode? O que você está me contando!
- Eles foram em direção ao local do acidente pela fazenda de Albuquerque,
pois por lá parece que é mais perto de chegar.
- O que mais você ouviu sobre o caso?
- Estavam em três no avião, o piloto, o doutor, e aquele advogado amigo do
doutor.
- Realmente, parece que foi uma tragédia. Fique atento. Assim que você
souber, me conta mais notícias.
- Sim senhor.
Pedro se retirou da sala e Joel ficou só. Começou a mergulhar em
pensamentos íntimos. Ele precisava da confirmação, mas Albuquerque estaria
morto. Joel sentia-se vingado. Tudo saiu como planejado. Quando ele soube a
poucos meses que Albuquerque havia encomendado um avião, traçou seu plano
de vingança. Saberia que pela mania de grandeza do rival, ele iria contratar pelo
menos um piloto e mais alguém que fosse ajudar nas atividades do hangar. Há
alguns anos atrás conheceu Ernesto em uma negociação de café e percebeu
rapidamente sua má índole. Sabia que por dinheiro ele poderia ser capaz de matar
uma pessoa. Assim que soube dos planos de Albuquerque em construir a pista, o
hangar, e de trazer o avião, contatou Ernesto e propôs-lhe muito dinheiro para que
ele se infiltrasse naquele ambiente como funcionário e colocasse uma bomba
dentro da aeronave. De início ele havia titubeado, no entanto, após uma segunda
conversa, aceitou a proposta:
- E então Ernesto? Pelo que eu sei o tal do Paulo Ribeiro já está
providenciando tudo. A pista já está pronta, assim como o hangar. Parece que o
20
Carlos Eduardo Milito
avião vai chegar em breve. Aceite minha proposta e vá lá oferecer seus serviços
antes que ele vá a procura de alguém. Procure diretamente o Paulo; Você tem boa
conversa!
- Tudo bem Joel. Pelo dobro do que você havia me oferecido eu aceito!
- O dobro? Não tenho todo esse dinheiro. Posso aumentar em cinqüenta por
cento minha oferta inicial. É minha última proposta.
- Cinqüenta por cento a mais é pouco Joel, mas vou aceitar. Então vou
trabalhar para eles. Quero resolver logo esse assunto. Vou ver se no vôo
inaugural já resolvo isso de vez.
- Assim é que eu gosto, Ernesto. Você tem que fazer tudo sem deixar pistas
hein?
- Pode deixar. A aviação ainda está engatinhando no mundo, e a explosão
será uma fatalidade.
- Acho que você vai saber o que fazer, mas cuidado!
- O único problema Joel, é que o piloto também vai ter que pagar o pato.
- Não tem jeito. O pior é que o homem com sua megalomania mandou fazer
um avião especial de três lugares e de repente pode carregar mais algum outro
otário junto.
- Se for, vai pagar o pato também.
Por alguns instantes, Joel sentiu um mal estar por saber que foi a sua mente
que planejou toda aquela barbárie. Sentiu-se tonto, mas conteve-se. O que o
perturbava de fato, era o envolvimento de duas pessoas inocentes naquela
estória. Ele tentava se acalmar falando consigo mesmo:
- Tinha outro jeito? Não, não tinha! Pelo menos o piloto tinha que estar junto,
pois a explosão deveria ser no ar! Mas por que raios aquele advogadozinho tinha
que estar junto também? Droga! O piloto tudo bem, mas por que também ele?
Fica calmo Joel! Pelo menos Albuquerque foi exterminado! O prazer da minha
vingança é maior que o remorso pelos inocentes!
21
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 7
22
Carlos Eduardo Milito
Dona Lourdes também tinha suas crenças e rezava fervorosamente para que o
seu filho Lucas fosse encontrado vivo. Ela junto com os familiares estavam
hospedados em uma das casas da fazenda de Albuquerque por convite de
Clarice. Eles só sairiam de lá quando tivessem a notícia final do paradeiro de
Lucas. Por vezes seu marido Afonso não se continha com ela:
- Por que o nosso filho Lourdes? Por que? – chorava Afonso.
- Se realmente ele foi embora é por que Deus quis assim.
- Uma carreira brilhante. Um futuro brilhante. Não consigo me conformar.
Além do mais, ele estava com planos de casar.
- Mas ainda não o encontraram. Vamos ter esperanças!
- Se ele estivesse vivo, já teriam encontrado.
- Vamos rezar por ele, seja lá o que for que possa ter acontecido.
Os familiares de Lucas eram muito apegados a ele. Desde criança ele
demonstrou ser um menino dócil e puro. Sempre se preocupou com todos e de
alguma forma procurava sempre ajuda-los. Vivia dando conselhos especiais ao
irmão caçula, pois ele se mostrava avesso aos estudos e tinha uma certa
inclinação para os vícios. Queria que Leandro não se desvirtuasse e faria de tudo
para que isso não acontecesse. Sob suas rédias, o menino até que vinha se
comportando bem ultimamente. Uma possível perda de Lucas poderia causar
algumas complicações na família em relação a Leandro. O irmão do meio, Laerte,
prevendo isso, já pensava em assumir a situação e dialogava com o caçula:
- Leandro. Nós temos que ser realistas e contar com a hipótese do pior ter
acontecido.
- Sei disso! Só a mãe é que fica sonhando em achar ele vivo. Sem ele agora,
você é que vai ser o queridinho dos dois.
- Não diga isso Leandro. Lembra que você é que era o queridinho do Lucas.
- Ele queria é que eu fosse um estudioso igual ele. Pegava no meu pé por
que eu não trabalho com você e o papai. Queridinho coisa nenhuma!
- Ele gostava de você.
- Para com isso! Agora ele é santo para você? Gostava de mim? Gostava era
de pegar no meu pé! Não me deixava nem me divertir com amigos de vez em
quando nos jogos de pôquer.
- Ele sabia que isso podia virar um vício! Queria o seu bem.
- Você acha que eu iria me viciar naquilo? Imagina!
Laerte também era um rapaz de boa índole, e com a quase certeza de que
Lucas jamais voltaria, prometeu aos céus que faria de tudo para manter o irmão
Leandro na linha e se fosse preciso para isso, se espelharia fielmente em Lucas.
23
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 8
24
Carlos Eduardo Milito
- Se foi a Dona Benedita que disse, então acredito. Se sua mãe falou é
porque o doutorzinho ta lá mesmo.
- Nem gosto muito de comentar dessas coisas com ninguém. Me arrepio
todo.
- Que nada! Você tinha que aprender com sua mãe.
- Não quero não. Por enquanto está bom assim.
/ / /
25
As Moradas e os Segredos de Maria
- Estamos desolados – desabafou Afonso – Nosso filho mais velho não está
mais conosco.
- O sofrimento que vocês estão passando é um aprendizado meus queridos.
Vocês têm que se conformarem que aquela explosão acabou com tudo.
- Não há esperanças? - murmurava Lourdes
- Não minha filha. O corpo do seu filho será encontrado em poucos dias. Está
em um local de difícil acesso e por isso ainda não foi encontrado.
Os dois choravam muito, pois apesar de saberem da remota possibilidade,
ainda tinham a esperança em encontrar Lucas com vida. Dona Benedita interveio:
- Vocês choram por que não enxergam as coisas como eu. Se tivessem os
meus olhos não chorariam!
- Como assim? – perguntou Lourdes.
- Quando fiquei sabendo de quem estava no avião, pressenti que havia
alguém muito especial dentre os três. Pressenti que nossos amigos invisíveis,
habitantes das moradas superiores, vieram buscá-lo. Isso não aconteceu com o
Doutor e com o piloto.
- Nossa! Você uma pessoa tão simples, falando assim tão difícil.
- A gente é intuída por amigos invisíveis o tempo todo. As minhas palavras
são inspiradas por eles. O que quero dizer é que Lucas está sendo muito bem
amparado. Vocês têm agora é que aceitar a separação.
- É muito difícil aceitar a perda de um filho, Dona Benedita. Gostaria de
pensar como a senhora e acreditar que a vida continua após a morte. Não
consigo! – Exclamou Afonso.
- Deus fez as coisas bem feitas. Todos nós estamos apenas de passagem
por aqui, e durante esse tempo, temos que dar o melhor de nós mesmos. Seu filho
fez a parte dele. Sempre foi um bom garoto. Preocupava-se com todos. Era
estudioso e esforçado. Cumpriu a sua missão com méritos.
- O que nos resta então Dona Benedita?
- Enquanto o corpo dele não for encontrado, vocês devem orar independente
da crença de vocês. Saibam que oração é uma forma de diálogo com as pessoas
que estão do lado de lá. Rezando vocês também se sentirão melhor.
Com muita tristeza, Lourdes e Afonso agradeceram as explicações de Dona
Benedita. Após deixar o casebre, Lourdes que estava mais esperançosa em
relação ao reencontro com filho chorava silenciosamente, pois acreditou nas
palavras daquela mulher. Comentava com o marido:
- Como posso deixar de acreditar nela? De uma origem tão simples, e
provavelmente sem instrução, falando aquelas palavras tão bonitas.
26
Carlos Eduardo Milito
- Eu disse que seria difícil encontrar nosso filho com vida. Só não consigo
engolir esse assunto de “pessoas que estão do lado de lá”. Para mim, tudo acaba
aqui.
- É um direito seu pensar assim. Prefiro pensar como ela e orar para nosso
filho.
27
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 9
28
Carlos Eduardo Milito
Inês nem ficava mais chocada com as declarações do marido, pois há muito
tempo já sabia que ele era pessoa que destilava maldade. Segurava o casamento,
por causa dos filhos e da sociedade. Tinha medo de represálias. Sabia do que o
marido era capaz quando tomado por momentos de fúria.
Nos momentos finais do enterro, quando o caixão de Albuquerque já estava
adentrando o túmulo, Joel vibrava intimamente, assim como um atleta ao vencer
uma prova. Era tomado de uma adrenalina intensa e pensava silenciosamente:
- Bem feito Albuquerque. Você pensou que havia vencido né? Tomou-me as
terras de uma maneira suja implantando aquelas pragas na minha plantação.
Agora teve o seu castigo! Fiquei quieto todos esses anos. A vingança é um prato
que se come frio. Eu fiz isso e faria tudo de novo se fosse preciso. Venci! E agora
você esta aí! No lugar que você merece! Morto! Morto!
Foi com muita emoção que a cerimônia terminava naquela sexta-feira nublada.
Apesar dos seus defeitos, Albuquerque tinha bons amigos. Sua esposa,
comovidamente, agradeceu a presença de todos. A partir de agora, teria que ser a
viúva “braço de ferro” para tocar todo aquele império.
29
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 10
Lucas acordava vagarosamente. Sua sensação inicial foi de uma longa noite
bem dormida. Ele estava sonolento e percebeu que não estava no seu lugar
habitual. Estranhou as mobílias. Todas mais claras da cor marfim. A cama onde
dormiu era maior. O quarto era simetricamente quadrado, mais amplo, e com um
pé direito elevado. A cor das paredes era branca mais claro que gelo. Sentia-se
um doce aroma no ar. Havia uma grande janela defronte a cama que ficava
permanentemente aberta, onde apenas as enormes cortinas grossas é que
ditavam a luminosidade do quarto. Lucas caminhou em direção a elas e as abriu
cuidadosamente. Pôde perceber o dia claro com céu azul anil completando uma
paisagem deslumbrante. Ele visualizava uma pintura com cores mais vivas do que
as nossas. Um gramado verde, onde ao fundo notava-se diversas árvores
rodeadas de flores de inúmeras cores e outros tipos de vegetação. O som dos
pássaros cantando pareciam mais harmônicos que os nossos. Sentiu uma brisa
agradável adentrar aquele ambiente. Sentia-se tão bem que não lembrava ter
sentido algum dia em sua vida uma sensação tão boa.
Madalena entra no quarto com um semblante de alegria e o cumprimenta:
- Como vai Lucas. Descansou bastante?
- Olá Madalena. Dormi muito bem. Estou me sentindo ótimo, apesar de não
estar entendendo nada!
- Agora que você já repousou, irá retomar sua memória gradativamente e vai
começar a entender muitas coisas.
- Lembro-me que eu estava dentro do avião e de repente uma explosão
aconteceu. Mas não senti dor alguma. Perdi a consciência, depois eu estava na
mata e te encontrei junto com seus amigos. O que aconteceu?
- Você foi poupado da dor, no entanto sua missão terrestre chegou ao fim.
Agora, Lucas você está sem a sua roupagem carnal. Você está de volta!
- Como assim, sem minha roupagem carnal? Eu morri? É isso?
- Essa palavra é usada pelos habitantes do Planeta Terra. Para nós não tem
sentido falar sobre morte, pois a morte não existe. O que acontece com todos os
seres do universo é a permanente transformação. A perda da roupagem carnal é
apenas uma etapa do processo evolutivo. É chamada de morte sim, mas apenas
por pessoas do Globo Terrestre.
- Mas como? E meus pais? E meus irmãos? E Emília? Meu Deus! Todos vão
sofrer muito – preocupava-se Lucas com os olhos cheios de água - Eu ainda tinha
30
Carlos Eduardo Milito
tantos planos! Eu tinha uma vida pela frente! Eu não poderia ter deixado tudo
assim! Meu Deus! Oh Meu Deus! – murmurava Lucas quase aos prantos.
- Calma Lucas. Não entre nessa sintonia, pois eles captam e ficam tristes!
Você é quem tem que dar força para eles! Logo, logo, irá entender o porquê de
muitas coisas e assim não cairá em depressão. Mantenha-se equilibrado!
- E o Albuquerque, e o Paulo?
- Eles também perderam a roupagem carnal, no entanto estão em sintonias
diferentes. Vão precisar de auxílio.
- Eu não queria entrar naquele avião! Albuquerque insistiu.
- Não o culpe. Tinha que ser assim! Um dia você irá entender. Então por isso,
evite pensar negativamente. As coisas por aqui funcionam a base do magnetismo.
Se pensar com ressentimento em Albuquerque, você estará emanando energias
ruins para ele que já não está bem. Pense nas coisas boas que ele já te
proporcionou.
As palavras de Madalena davam equilíbrio a Lucas. Mesmo assim, muitas
dúvidas pairavam em sua mente. Sua sensação de vida era plena. Ele se tocava e
sentia seu corpo tal qual como outrora. Tudo ali era tão palpável, tão parecido com
os lugares por onde conhecera. Era difícil admitir que não era uma pessoa “viva”.
Quando criança, ele tinha a imagem do céu cheio de nuvens como algodão e
anjos tocando harpa. Por enquanto ele não tinha se deparado com nada daquilo.
Madalena o convidou a sair do quarto com rumo ao imenso jardim. A porta do
quarto dava defronte a uma enorme sala quadrada com mais duas portas
idênticas a ela e simetricamente distribuídas. Por fim, uma porta de correr toda de
vidro, que tinha o comprimento de quase toda a parede oposta, deixava a sala
bem clara, pois a luminosidade externa entrava por ali. A casa onde ele estava era
rodeava por um gramado verde acompanhado de um lindo jardim. Já lá fora,
percebendo o semblante de Lucas, Madalena interveio:
- Esta á a nossa casa, Lucas. Agora somos três os moradores. Eu, você e o
Antero. Por enquanto, só nós três é que habitaremos nesta casa.
Após uma breve pausa prosseguiu:
- Estamos em uma grande vila de casas do chamado “Palácio da
Sustentação” que é um dos órgãos da Morada Universo Solar. Assim como a
nossa, existem inúmeras moradas celestiais no universo. A Morada Universo Solar
é uma das primeiras do estágio evolutivo do homem. Está em sintonia permanente
com a Terra.
Lucas ouvia concentradamente com um ar de questionamento. Madalena
continuou:
31
As Moradas e os Segredos de Maria
32
Carlos Eduardo Milito
é o socorro aos aflitos que por prece entram em contato com o Palácio da
Comunicação pedindo ajuda e então somos designados para a missão. Outra
nobre tarefa é de acompanhar os nossos irmãos daqui a regressarem a Terra para
uma nova vida. Nesse caso o Palácio da Transformação é o responsável pela
miniaturização da nossa roupagem astral que geralmente tem a forma da última
vida na Terra. A tarefa de receber os recém chegados também é de nossa
incumbência. Assim como fizemos com você, fazemos com outras pessoas as
quais tem condições de entender o caminho da luz, da elevação e da verdade.
Lucas ouvia atentamente com sede de aprender e Madalena continuava:
- Já o Palácio da Cura é o responsável pelos tratamentos que vão desde os
doentes que chegam aqui com algum tipo de enfermidade até aqueles que
chegam praticamente mutilados.
- Como assim? Mas nossa roupagem astral não é imune a isso?
- De forma alguma. Tudo que o terrestre faz na sua roupagem carnal seu
reflexo é imediato na roupagem astral. Quem se droga está lesando também sua
roupagem astral e pode chegar aqui muito destruído na região da cabeça. Da
mesma forma que quem faz abusos com comidas e bebidas pode chegar aqui
com problemas abdominais, quem abusa no sexo pode chegar aqui com a região
genital totalmente destruída. Existem outros exemplos pesadíssimos que
envolvem o orgulho, a raiva, a inveja, e a vaidade que quando muito cultivados na
Terra afetam a roupagem astral de alguma forma. Tem irmãos que realmente
chegam por aqui em frangalhos. Daí a necessidade do Palácio da Cura. É como
se fosse um hospital se compararmos com a Terra. Nesse palácio ainda, existe a
ponte para as moradas inferiores que são as zonas de baixa freqüência. Por lá
temos irmãos extremamente perturbados que vivem longe da luz e da verdade. As
vezes eles nem têm a consciência que já não possuem mais a roupagem carnal e
ficam vagando sem direção. Outros ainda são influenciados por seres com índole
maléfica e ficam rodeando os terrestres tentando perturba-los a toda hora. O
Palácio da Cura sempre organiza missões para essas zonas de perturbação para
tentar trazer novos irmãos para o tratamento. O trabalho por lá é pesadíssimo,
mas de grande valia para a elevação de qualquer um.
Lucas estava fascinado com tudo que ouvia. Madalena continuava:
- O Palácio da Educação é o responsável pelo esclarecimento em busca da
verdade. É a nossa escola, onde temos diariamente as nossas aulas. Assim como
na Terra, onde qualquer criança necessita de escola desde pequena, nós também
a precisamos para a nossa elevação. Para o entendimento completo do Universo
e do Criador é necessário muito estudo. Aqui aprendemos a teoria, para na Terra
por em prática, mas poucos conseguem fazer isso. Ocorre que com a roupagem
33
As Moradas e os Segredos de Maria
34
Carlos Eduardo Milito
35
As Moradas e os Segredos de Maria
36
Carlos Eduardo Milito
algumas daquelas ruas pareciam túneis cobertos por enormes espécies que se
entrelaçavam explendorosamente. Outros prédios vizinhos ao do gabinete
complementavam a paisagem. Tudo era harmônico, e o estilo das construções
lembrava a Europa do Século XIX.
Juntamente com outras pessoas que ali estavam, eles entraram naquele prédio
com um semblante de muita alegria. Lucas apreciava seu interior. Aquele lugar era
como se ele estivesse dentro de um castelo na França. O piso era todo trabalhado
com pedras coloridas. O pé direito era bem alto e as portas que já estavam
entreabertas eram de aproximadamente de uns dois metros de comprimento. No
saguão principal havia vários quadros que retratavam belezas naturais como
flores, paisagens e cidades enfeitadas. O auditório ficava logo a direita do saguão
principal. Uma simpática senhora que se chamava Luzia, recebia a todos na
entrada do auditório e indicava a melhor acomodação para cada um. Com muito
carinho ela fez questão que o recém chegado Lucas juntamente com Antero e
Madalena ficassem na primeira fileira para ouvir as palavras de Mestre Jonas.
37
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 11
38
Carlos Eduardo Milito
teremos uma breve palestra com ela. Será uma grande oportunidade de
aprendizado. Fascinante!! Vocês não têm idéia do que está designado para a
Terra. Uniremos esforços com representantes de inúmeras moradas. Maria será a
pessoa mais habilitada para dar as devidas explicações de como será sua
intercessão na Terra.
Mestre Jonas fez uma longa pausa e prosseguiu:
- Vamos agora então relaxar e ligar nosso pensamento ao Mestre dos
Mestres em vibrações de paz. Isto que iremos fazer agora é chamado de prece
pelos nossos amigos da Terra.
Lucas sentia-se deslumbrado com tudo aquilo que estava acontecendo.
Sentado na primeira fileira e defronte ao mestre Jonas, sentia as lágrimas de
emoção saindo dos seus olhos. Isso era conseqüência natural de estar
presenciando uma cena tão bela, onde naquele auditório, mais de quinhentas
pessoas ouviam silenciosamente com muito interesse a mensagem do
Governador.
No seu íntimo, ele mesmo se surpreendia com si mesmo, pois teve uma
chegada muito rápida e se encontrava em perfeito equilíbrio. Não deixava os
sentimentos terrestres o afetar de maneira prejudicial ao trabalho que estaria por
vir, procurando não pensar nos seus entes da Terra. Procurava também controlar
a ansiedade e deixar as indagações de lado, pois no momento certo tudo teria a
sua devida resposta.
Nesse momento todos que estavam no auditório, a pedido do Governador,
fecharam os olhos e mentalizaram o Mestre dos Mestres.
- Meus, queridos, permaneçam de olhos fechados e construam a imagem
mental do Mestre dos Mestres todo de branco, de braços abertos e sorrindo para
vocês.
Mestre Jonas observando a fisionomia de todos que estavam ali presentes
continuou:
- E então? Tudo bem? Estão conseguindo?
Mestre Jonas continuava no auditório, e notou no semblante de cada um dos
seus súditos que o acompanhava, uma expressão de muita paz, gratidão e
alegria. Então, calmamente ele prosseguiu:
- Muito bem, meus queridos. Agora quero que todos vocês agradeçam a
oportunidade de aprendizado que terão com a visita de sua mãe Maria. Façam
isso com suas palavras de agradecimento.
Naquele momento aquele auditório ganhava uma nova aparência: O ambiente
parecia que estava sendo tomado por uma neblina em que a cada segundo ia
aumentando a densidade. Chegou o momento em que o Mestre Jonas que estava
39
As Moradas e os Segredos de Maria
40
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 12
41
As Moradas e os Segredos de Maria
Fazenda junto com as filhas. Sr. Medeiros despediu-se de Dona Lourdes e Afonso
e em seguida foi ao encontro de Clarice. Ao ver sua mãe recebê-lo na sala de sala
de visitas, Emília já pressentiu o pior antes mesmo de Medeiros começar a falar.
- Olá Sr. Medeiros. Como têm passado? Vou ser sincero para você: Estou
sem coragem de ouvir o que o senhor tem para nos dizer agora. – Interveio Emília
mesmo antes de sua mãe ter trocado alguma palavra com o visitante.
- Minhas caras, tudo que têm acontecido nesta semana está sendo muito
difícil para mim também. Podem acreditar. O desastre. A perda de Albuquerque. A
imprensa comentando. Meus homens trabalhando na mata. Também estou
abalado com tudo isso. Mas tenho que fazer meu trabalho e aqui estou.
- Sente-se senhor Medeiros – ponderou Clarice
- Obrigado, mas não se preocupem. Não tenho muito tempo agora.
- E então?
O silêncio pairou no ar por longos segundos onde Medeiros só fez uma
pequena expressão com seu rosto, onde não era preciso dizer mais nada. Aquilo
denunciava tudo: Lucas não estaria mais entre eles. Os olhos de Emília
começaram a se encher de água, assim como os de Clarice e de Clara que
também estavam presentes. Quando elas souberam da perda de Albuquerque o
choque foi até maior, onde num primeiro momento, se desesperaram e choraram
muito. Desta vez sabiam que seria difícil encontrar Lucas com vida, no entanto
Emília apesar dos pressentimentos, ainda mantinha esperança.
- Por que, mãe? Por que? – falava Emília com emoção para Clarice.
- Calma minha filha. Deus quis assim e temos que aceitar. Sofro muito
também pois perdi um companheiro de muitos anos.
A Fazenda Terra Nova vivia mais um dia de muita comoção. Clarice pediu para
Medeiros cuidar de tudo junto com os familiares de Lucas para as providências em
relação ao funeral. Assim como foi feito com Paulo Ribeiro, o piloto, Sr Medeiros
tomou a rédia de tudo para que no dia seguinte o enterro de Lucas fosse
realizado.
/ / /
42
Carlos Eduardo Milito
43
As Moradas e os Segredos de Maria
/ / /
44
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 13
45
As Moradas e os Segredos de Maria
46
Carlos Eduardo Milito
47
As Moradas e os Segredos de Maria
48
Carlos Eduardo Milito
/ / /
49
As Moradas e os Segredos de Maria
50
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 14
51
As Moradas e os Segredos de Maria
quase insuportável dor, sentia o sangue jorrar sem parar. Após aproximadamente
uns dois minutos de tortura, os “lobos” pararam de atacar e gradativamente
começaram a voltar à forma original enquanto Albuquerque estava esfacelado no
chão. Zé trovão disse:
- Levante-se homem. Ta vendo como você não morre duas vezes?
- Socorro! Meu Deus! Se eu morri mesmo estou no inferno. Ai Ai que dor –
gemia Albuquerque
- Vamos, pare de agonizar e levante-se!
- Não consigo . Estou sangrando e com muita dor!
- Foi sua mente que produziu o sangue por lembranças recentes da vida
material. Levante-se e imagine-se limpo sem o sangue.
- Mas e a dor? Como posso me levantar. Meu rosto foi arranhado. Meu peito
e meu braço parecem dilacerados.
- Tente se levantar agora, seu empresariozinho medíocre!
Albuquerque fez um esforço muito grande para sair do chão. Estava sujo com
a aparência péssima além de estar todo ensangüentado. Estava ainda
cambaleante e por alguns segundos, pensou intimamente que se estivesse
realmente “morto” estaria na mesma condição do seu pai. Albuquerque idolatrava
Plínio e fixou o pensamento nele pedindo ajuda. Rapidamente veio na mente de
Albuquerque um pressentimento de que Plínio não poderia estar ali com ele, mas
para que ele mantivesse o pensamento positivo, que ele conseguiria sair dessa
situação tendo inclusive força para superar seus dois companheiros. Usou todas
as suas forças para se manter de pé e começou repetir várias vezes em
pensamento a seguinte frase:
- Sou mais forte que vocês dois. Este sangue que não é real e quero que se
dissipe! Esta dor que não é real e quero que desapareça!
Aos poucos, Albuquerque foi se recuperando e em pouco tempo estava como
antes de ser atacado pelos dois. Começou então a ganhar confiança. Estava
consciente que seu estado não era mais de um humano comum. Sentiu que tinha
através dos pensamentos alguns poderes, e pretendia silenciosamente, tirar
proveito disso em breve. Resignadamente disse para os dois:
- Vocês não precisam me provar mais nada! Sei do que vocês são capazes.
- Muito bem, seu Marcos. É bom você saber que quem manda aqui não é
você.
- Sei disso. Então se estou sob a responsabilidade de vocês, quero saber o
que pretendem de mim?
- Vamos aguardar nosso mestre, para te passar nossas atividades.
52
Carlos Eduardo Milito
53
As Moradas e os Segredos de Maria
Albuquerque fechou a porta do quarto e agora estava só. Ele se via vestido
exatamente com a mesma roupa que estava no momento do acidente. Ele notou
que o quarto que ele estava tinha uma cama com lençóis exatamente como era na
fazenda. Havia cômodas também ao lado da cama, assim como um guarda
roupas somente com cobertores dentro. Naquele momento, lhe veio a recente
lembrança do ataque dos “lobos” e seu pronto restabelecimento com o poder da
mente. Ele começou então a concluir e pensou silenciosamente:
- Se aqui as coisas funcionam com o poder da mente, vou tentar mudar essa
minha aparência suja, me imaginando barbeado, com uma roupa limpa para ver o
que acontece.
- Nem pense em fazer isso! – Gritou o Mestre Zuzo que entrou bruscamente
no quarto de Albuquerque – Aqui, eu que dito as regras.
- O que foi que eu fiz? – Perguntou Albuquerque assustado
- Você sabe do que estou falando. Nada de melhorar a aparência.
- Mas como diz isso?
- Diferentemente dos outros membros da nossa comunidade, tenho o atributo
de ler pensamentos. Então nem se atreva a tentar fazer isso. Deite-se que
amanhã te chamamos.
- Esta certo – concordou Albuquerque amedrontado, que resolveu deitar-se
imediatamente e fixar pensamentos coisas abstratas, pois sabia que poderia ser
vigiado.
/ / /
54
Carlos Eduardo Milito
Uma rua de terra de aproximadamente uns cinco metros de largura que parecia
sem fim no seu comprimento e cercada por dois muros bem altos dos dois lados.
Depois de uma hora caminhando, a rua terminou em um espaço retangular do
tamanho aproximado de um campo de futebol. Os mesmos muros cercavam por
completo aquele espaço não tendo ali qualquer saída. Albuquerque imediatamente
reconheceu o local. Foi ali que ele despertou no dia anterior. Zé Trovão disse:
- Muito bem, chegamos! Agora vamos em frente em direção ao muro e
quando chegarmos defronte a ele, continuamos a caminhar como se ele não
existisse. Tudo bem, Marcos?
- Certo, Zé Trovão.
Os três foram então se aproximando e atravessaram o muro. O cenário mudou
completamente como num piscar de olhos. O dia antes parecia muito nublado e
escuro e agora o céu estava azul anil. A paisagem monótona deu lugar a um local
conhecido: O centro de São Paulo com suas construções da época, sua
vegetação e sua beleza encantadora. Pessoas caminhando pelas calçadas e
alguns automóveis andando pelas ruas. Albuquerque finalmente sorriu.
Reconheceu o velho centro de São Paulo. Sentia a vida pulsar normalmente.
Queria conversar com as pessoas. Enquanto caminhavam mais um pouco notou
que ninguém os observava. Pior que isso: Notou que por vezes as pessoas além
de não pedir licença, passavam através deles. Antes mesmo dele fazer algum
comentário com seus colegas, Zé Trovão falou:
- Você nem precisa se preocupar com nossa tarefinha, pois ninguém sabe
que existimos. É muito fácil. Somos invisíveis para esse bando de otários. Você
vai ver como é divertido tudo isso. A gente consegue influenciar as pessoas. Os
mais fracos fazem direitinho o que queremos. Se a gente pega uma pessoa mais
resistente, a gente pula fora. Sempre tem um mais fraco para atingirmos. Os dois
caras que pretendem roubar a loja estão por perto e tem a mente bem fácil de
influenciar. Você vai ver como tudo funciona.
- É bom saber disso! – disse Albuquerque fingindo estar interessado no que
eles iriam fazer
Albuquerque pretendia fugir. Sabia lidar com alguns atributos do seu novo
corpo e percebia também que os colegas não conseguiam ler seu pensamento.
Estava somente esperando o momento certo de dar o bote. Iria fixar o
pensamento na Fazenda Terra Nova dizendo sem parar:
- Que essa brisa desse dia lindo me leve para a fazenda!
E chegou o momento. Os seus dois colegas se distraíram um pouco quando
um comentou com o outro sobre os dois homens que vinham caminhando quando
Albuquerque colocou em prática o seu plano. Pensou firme que queria estar na
55
As Moradas e os Segredos de Maria
sua Fazenda. Pediu para que brisa o levasse de lá. Fez isso por umas sete vezes,
quando de repente foi tomado por uma sensação de queda livre e então ele se viu
jogado no meio de um cafezal. Prontamente Albuquerque reconheceu o local não
só pela paisagem, assim como pelos contornos das montanhas da Serra do Japí
que eram vistos no horizonte. Ele abriu então um enorme sorriso de felicidade por
se sentir livre e em um território que imaginava ser ainda seu.
56
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 15
/ / /
57
As Moradas e os Segredos de Maria
estar muito bem protegido para não ser atingido. Da mesma forma, quando
alguém ama intensamente seu semelhante. É um balsamo que pode curar
algumas chagas. Assim como existem pessoas com pouca luz que são resistentes
a esse bálsamo, temos outras que recebem de portas abertas.
/ / /
Paulo Ribeiro estava nas cercanias no casebre enquanto a missa estava sendo
celebrada. O mesmo feixe de luz que atingia Lucas e Albuquerque também vinha
na direção da sua testa. Ele começou a chorar copiosamente por lembrar que não
estava mais dos lado dos “vivos”. Lembrou-se dos seus amigos no Rio de Janeiro,
de sua tia viúva que ajudou a criá-lo e dos prazeres que a vida lhe proporcionava.
- Quero voltar a ser como antes – chorava Paulo
- Calma Paulo. Esse feixe de luz está te deixando assim e daqui há pouco
passa. As pessoas de carne e osso, estão “encomendando” a sua alma. –
explicou Odete que também estava do lado de fora do casebre.
- Como assim? Estou vivo! Você não está vendo?
58
Carlos Eduardo Milito
- Eu estou vendo, mas eles não. Para muito dos nossos amigos de carne e
osso, quando morreu, acabou! Entendeu? A morte é como o fim de tudo! Daí
algumas religiões pregam que alguns vão para o céu ficar com Deus e outros para
o inferno. Existem pessoas chorando sua morte na celebração de uma missa em
homenagem aos mortos da tragédia do “avião de Albuquerque”. Veja então, que
não é bem assim, pois você está aqui.
- Missa? Por que isso? – indagou Paulo
- Você conhece isso. É um costume dos católicos! Por vezes esses rituais os
confortam bastante.
- Mas isso aqui também não é lá uma grande maravilha! – exclamou Paulo
que começou a sentir o feixe de luz dissipar-se.
- Pode não ser, mas ainda é cedo para conclusões. Você verá com o passar
do tempo que teremos atividades interessantes sim. É só esperar!
- Que atividades, Odete?. Você acabou de falar de Igreja e minha Tia Alzira
vivia falando em Deus, então, onde está Deus? Eu morri agora, não é isso? Então
me diga, onde está Deus?
- Paulo, meu jovem. Não sei te explicar isso! Sei que somos inúmeros seres
sem carne e osso vagando pelo mundo dos humanos e também não consigo
entender isso. Posso dizer que existem outras forças sim, mas nós não
conseguimos compreender tudo isso. As vezes, nos deparamos com outros seres,
como nós, também sem carne e osso, que tentam nos convencer a irmos embora
com eles e tal, mas acho tudo isso um conversa fiada. Eles vão querer é que a
gente trabalhe para eles.
- De repente, Odete, eles querem nos ajudar.
- Não diga isso Paulo. Você tem que ficar esperto, pois um dia eles podem
aparecer para você e na verdade o que eles irão querer é toma-lo como escravo,
entendeu?
- Nossa!! Escravo? Está bem Odete! – Concordou Paulo por temer ser
verdade o que Odete falava, pois tinha nela a única pessoa de confiança nessa
nova fase da sua vida.
/ / /
59
As Moradas e os Segredos de Maria
- Imagina, Laerte. É mínimo que podemos fazer. Tudo isso está sendo muito
difícil para nós também. Nada irá traze-los de volta.
- É verdade. Mas não esqueça de agradece-la.
- Nem se preocupe com isso. Mas lembrarei de agradecer sim.
- O que ela fez por nós não tem preço. Deixou ficarmos na Fazenda todos
esses dias nos tratando muito bem. Não nos deixou gastarmos nada. Cuidou de
tudo sozinha.
- Até eu estou surpresa com esse lado da minha mãe. Ela vivia na sombra de
meu pai, então não dava para ninguém perceber que ela era uma mulher assim de
pulso. Melhor assim né?
- Isso para ela fará bem sim! E você Senhorita Emília? Vê se você se cuida
hein? Não caia em depressão. Procure preencher o seu tempo e fazer algo que
você gosta. Imagino que se o Lucas pudesse te dar um conselho agora faria isso:
Pediria para você levantar o seu astral e tocar sua vida.
Os olhos de Emília se encheram de água e ela carinhosamente abraçou
Laerte.
- Obrigado pelas suas palavras Laerte
- Fale também para sua irmã, a Senhorita Clara, que está ali na frente,
caminhando de braços dados com sua mãe, se cuidar também. Pense o seguinte:
Todos nós moramos em uma cidade grande como São Paulo. Há sempre coisas
interessantes para preenchermos nosso tempo por lá. A vida continua para nós.
Certo?
- Queria ter o seu astral para encarar tudo isso. Mas tudo bem. Posso
aprender com você, não é?
- Também tenho muito que aprender, mas conte comigo com o que precisar.
Ficarei feliz em poder ajuda-las.
- Obrigado Laerte. – Agradeceu Emilia comovidamente.
Por alguns instantes Emília sentia nas palavras de Laerte alguma semelhança
com seu irmão Lucas e isso a deixava feliz. Quando se despediram Emília fez
questão de comentar:
- Laerte. Quero que vocês venham nos visitar de vez em quando. Eu, minha
mãe e minha irmã estaremos sempre de portas abertas para recebe-los.
- Sim Senhorita Emilia. Será de bom gosto. Faremos o possível sim.
- Ótimo. Então até breve!
60
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 16
61
As Moradas e os Segredos de Maria
62
Carlos Eduardo Milito
- Nossa! De novo essa dor de um lado só. Que droga. Desde a semana
passada quando terminei o serviço pro idiota do Joel, essa dor insiste em
aparecer. – Pensou Ernesto
- Serviço para o Joel? Mas você trabalhava para mim! Trabalhava no Hangar
para o Paulo, o meu piloto. Que raio de serviço era esse que você fazia em
paralelo para o Joel. Me diga? Me diga – Gritava Albuquerque tentando induzir
Ernesto a comunicar-se com ele pelo pensamento
- Que dor!! Odeio enxaqueca!
Albuquerque percebeu que conforme o ódio era emanado para Ernesto, sua
queixa da enxaqueca aumentava. Então ele concluiu que além de conseguir ler o
pensamento de Ernesto, conseguia também exercer alguma influência sobre seus
sentidos. Desta forma então, pretendia saber que trabalho ele havia feito para seu
grande inimigo Joel.
- Vamos Ernesto! Diga o que fez para Joel. Diga! Diga! - gritava Albuquerque
com ódio mortal.
Ernesto permanecia em silêncio, mas com expressão de dor enquanto
Albuquerque obsediava-o incessantemente. Já com a charrete caminhando,
chegou um momento que Ernesto pensou:
- O dinheiro que consegui de Joel foi interessante, mas se um dia eu quiser
poderei conseguir muito mais. Muito mais. Posso ameaçá-lo. Se eu bem conheço,
ele vai tremer de medo.
Albuquerque permanecia ao seu lado e continuava gritando para que Ernesto
contasse agora qual seria a ameaça que ele poderia fazer. Ernesto prosseguiu em
pensamento:
- O único problema de ameaçar Joel, é como eu poderia fazer para livrar
minha cara. A idéia foi dele, mas eu que executei. Tenho que ver direitinho como
chantagear sem me comprometer. Tenho que pensar melhor. Mas que eu penso
em arrancar mais grana dele penso sim. Acho que pela perfeição do plano, eu
merecia muito mais do que recebi. Tudo saiu como planejado. Aquele piloto idiota
caiu direitinho na minha conversa quando falei que entendia de mecânica e
pretendia também ser piloto um dia. Isso foi fundamental na execução do plano.
Então eu acho que eu merecia mais. Muito mais! Muito mais!! O Joel está vingado,
ora bolas.
Albuquerque entrou em histeria e delirava. Tentava em vão chacoalhar Ernesto
e, em falso, chacoalhava o ar. Gritava estridentemente com Ernesto perguntando
qual era plano de Joel. Estava enfurecido. Não tinha ainda concatenado
completamente as idéias. Naquele momento, a névoa negra que cobria a aura de
Ernesto começou a envolver Albuquerque lentamente até que ele se deparou com
63
As Moradas e os Segredos de Maria
a total escuridão. Ele não conseguia então perceber mais nada: Nem a fazenda,
nem o cafezal, nem a casa que abrigava a sede. Sentia-se completamente cego!
Antes mesmo de tomar alguma decisão começou a ouvir sonoras gargalhadas que
se aproximavam mais e mais. Era a conhecida voz de Mestre Zuzo, que entre uma
e outra risada de deboche falava:
- Pensou que iria fugir para sempre? Você é nosso! Você consegue ludibriar
alguns dos meus fiéis, mas de mim não escapa.
- Mestre Zuzo. Eu precisava entender o que se passa por aqui!
- Você não tinha que fugir do seu trabalho. Primeiro se trabalha, para depois
querer alguma coisa. São as regras da nossa comunidade.
- Você tem que entender que eu não consigo me conformar com tudo que
aconteceu. Por isso fugi de vocês.
- É mentira! Você não gostou do nosso trabalho, mas vai ter que aceitar se
quiser um dia ter algum tempo livre para você.
- Confesso que fiquei chocado sim com o tipo de trabalho da sua
comunidade.
- Ora ora, Doutor, você tem potencial de até ficar no meu lugar como líder
com o passar do tempo. Eu notei o seu ódio com rapaz que acabou de partir. Isso
é uma fonte de energia que podemos usar muito bem para fazermos nosso
trabalho.
- Como queria que eu ficasse? Esse rapaz deve estar envolvido no que
aconteceu comigo pelo que percebi do seu pensamento.
- Ele foi apenas o executor do plano como você deve ter notado. Não preciso
dizer de quem foi a idéia, não é?
O ambiente completamente escuro onde os dois dialogavam foi tomado agora
pelo silêncio onde de um lado Albuquerque emanava um ódio letal por Joel e do
outro, Mestre Zuzo se deliciava com a energia que estava sendo emanada dele.
Mestre Zuzo tomou Albuquerque pelo braço, foram caminhando alguns metros no
breu, e de repente estavam no Vale das Trevas, no mesmo local de onde partiram
para a Terra. Iriam caminhar agora por mais uma hora em direção a sede.
Durante a caminhada, Albuquerque pôde comparar a paisagem atual, daquele
que ele via há alguns instantes atrás. Era uma paisagem sem vida, sem cor, fria e
triste. Isso tudo misturado com o sentimento de ódio e de revolta o deixou sem
palavras naquele momento. Pensava intimamente no que havia lhe acontecido e
chorou. Chorou copiosamente. Sua vida na Terra tinha sido tirada por vontade de
Joel. Mestre Zuzo interveio:
- Não adianta ficar assim!! Preocupe-se agora em trabalhar para nós e
depois você resolve esse caso.
64
Carlos Eduardo Milito
65
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 17
66
Carlos Eduardo Milito
67
As Moradas e os Segredos de Maria
68
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 18
Os últimos assentos daquela sala de aula foram ocupados por pessoas que
acabavam de chegar. Faltava agora um minuto para as dez horas da manhã. Prof
Orlando fechou a porta da sala que dava para o corredor e se posicionou na sua
parte frontal. A sala era muito espaçosa. De formato retangular, tinha seu pé
direito bem elevado com aproximadamente uns quatro metros. Os cinqüenta
lugares eram dispostos em confortáveis poltronas alinhadas em cinco fileiras com
dez lugares cada. Na parte frontal da sala havia um tablado para que o instrutor
ficasse visível a todos, e no local onde em uma sala convencional ficasse o quadro
negro, ficava uma espécie de vidro espelhado de forma retangular, com as
mesmas proporções de um quadro negro que era chamado de “quadrovisor”. A
luminosidade da sala era provida por enormes janelas que ficavam ao lado oposto
da parede do corredor. As janelas começavam a exatamente um metro do chão e
tinham o comprimento exato da parede da sala e a altura que acompanhava o pé
direito. Enquanto externamente, essas janelas acompanhavam a construção do
prédio com seu acabamento de madeira e vidro, internamente, combinadas com
cortinas harmoniosas, ditavam a luminosidade daquela aconchegante sala que
estava situada no andar superior daquele prédio.
- Bom dia a todos. – falou Prof. Orlando sorridente para os alunos.
- Bom dia – responderam todos prontamente.
- Em primeiro lugar, é com satisfação que estou aqui novamente. Todos
vocês já me conhecem. Meu nome é Orlando. Nesses três dias teremos o curso
chamado “Evolução Astral”, que servirá de reciclagem para alguns e de
aprimoramento para outros. Espero que vocês aproveitem os ensinamentos.
Vamos então começar.
Orlando fez uma ligeira pausa e então prosseguiu
- Agora então, eu gostaria que todos vocês relaxassem e fixassem o
pensamento no grande Criador e agradecessem a oportunidade de estarem aqui.
Fechem os olhos e façam isso vagarosamente. Durante o agradecimento,
imaginem-se em um campo florido, na frente de um lago e rodeado por
cachoeiras. Sintam o barulho da natureza e calmamente, fixem o pensamento no
grande Criador. Agora vocês estão vendo de um lado, a obra e sentindo por todos
os poros o criador da obra. No estágio evolutivo, não conseguimos ainda enxergar
nosso grande pai, no entanto podemos senti-lo como todos nós estamos sentindo
agora. Então agradeçam. Agradeçam de coração.
69
As Moradas e os Segredos de Maria
70
Carlos Eduardo Milito
mente humana. Assim como não cabe também a compreensão do Universo onde
estão todas as moradas astrais e terrestres.
A platéia observava atentamente sem piscar os olhos e então, Orlando com um
olhar de muita paz prosseguiu:
- Não cabe também nas mentes humanas a compreensão do Universo onde
estão todas as moradas astrais e terrestres. Temos o Sistema Solar do Planeta
Terra de onde estamos próximos. Assim como o Sistema Solar do Planeta Terra,
temos outros bilhões de Sistemas Solares na Via Láctea, com seus planetas, e
cada um desses Sistemas Solares possui ao menos um planeta em condições
climáticas e aparências idênticas a Terra. E cada um desses planetas tem os seus
habitantes de carne e osso assim como os terrestres. O que ocorre, no entanto, é
que temos inúmeros planetas mais evoluídos que a terra, assim como temos
inúmeros planetas menos evoluídos que a terra. Agora imaginem a Via Láctea que
abriga esses bilhões de Sistemas Solares, como apenas um ponto do Universo. E
caminhando-se no infinito Universo encontramos bilhões desses pontos. Se dá
para imaginar a grandeza dessa obra, quiçá do seu criador.
Lucas observava tudo de forma extenuada. Mais tarde perceberia que tudo que
estava ouvindo de Orlando já estava registrado eu sua mente. Apenas suas
lembranças anteriores à sua última existência terrestre é que não havia ainda
florescido. Aquela aula então era para ele uma reciclagem sem que ele ainda
soubesse.
Em seguida, Orlando ficou alguns segundos em silêncio, levou as suas duas
mãos até a testa, fechou os olhos e encostou o queixo no seu peito. Após alguns
instantes o “quadrovisor” localizado na frente da sala começou a ganhar um
aspecto turvo como leite até aparecer uma imagem da natureza dentro dele. Então
Orlando falou:
- Reparem uma pequenina parte da obra do criador. Vocês estão vendo no
quadro uma criação divina. Este belíssimo cenário com árvores, flores, riachos,
pássaros cantando, borboletas, o céu azul é encontrado tanto na Terra, como em
algumas moradas celestiais como a nossa. Muitos de vocês conhecem esse
cenário daqui mesmo no Vale das Flores, por exemplo.
Orlando fez uma pequena pausa e prosseguiu:
- O tema de hoje trata de “Evolução Astral” e quando falamos disso temos
que frisar que esse conceito é válido para qualquer ser vivo existente, desde a
mais simples bactéria terrestre até o mais nobre dos seres. O intervalo celestial o
qual todos nós aqui nesta sala vivenciamos agora, também é vivenciado por
outras espécies. Os mais primitivos seres não distinguem os intervalos celestiais
da vida na Terra. Este atributo é somente dos seres que já adquiram ao longo do
71
As Moradas e os Segredos de Maria
72
Carlos Eduardo Milito
com que somente a verdadeira fé de cada um dos humanos é que delineará o real
sentido de tudo que foi escrito.
- Como muito de vocês já sabem – prosseguiu Orlando com o mesmo
semblante sorridente de sempre - os estudos do Palácio da Educação da Morada
Universo Solar, têm o foco voltado mais para o Planeta Terra, e todas as moradas
celestiais vizinhas a ela. Nosso âmbito é restrito ao espaço físico do Sistema Solar
do Planeta Terra, onde temos apenas a Terra como planeta com vida material
inteligente. Os outros bilhões e bilhões de Sistemas Solares possuem também
suas moradas celestiais tais como a nossa cuidando dos seus planetas habitáveis,
onde inclusive, podemos nos comunicar e transitar livremente em prol da
evolução. Recordem-se do que já falei: Cada Sistema Solar possui ao menos um
planeta em condições climáticas semelhante à Terra e , conseqüentemente, temos
a vida de seres de carne e osso nesses planetas. O que quero concluir aqui é que
o Mestre dos Mestres é a alma mais pura que habitou um corpo físico na Terra.
Tamanha é sua evolução e perfeição que ele está muito próximo do grande
criador. E esse raciocínio vale para todos esses planetas habitáveis do universo:
Para cada um deles, temos uma alma pura e iluminada que seria a espécie de um
patrono para eles.
- Então – prosseguiu Orlando - o que veremos nesses três dias é como
todos nós, seres com essência divina, podemos galgar degraus e mais degraus
em busca da perfeição. Se todos nós temos a mesma essência, então todos nós
temos condições de chegarmos muito próximos ao criador, tal como o Mestre dos
Mestres do Planeta Terra, bem como todas os “Cristos” do Universo.
Lucas novamente lembrou de sua avó Dora, e que mencionava as passagens
de Jesus Cristo. Agora ele sabia que o Mestre dos Mestres que todos os
habitantes da Morada Universo Solar se referiam só poderia ser ele. Então Lucas
emocionou-se ao saber que além de Jesus para a Terra havia outros tantos para
outras “Terras” espalhadas pelo infinito universo.
Os três dias de curso seguiram normalmente e Lucas sentia-se tão bem a
ponto de achar que vivia anos e anos junto aos companheiros da Morada Universo
Solar. Suas sensações de prazer e bem estar eram indescritíveis. Sua reciclagem
do que acabava de ouvir era como se ele tivesse acabado de aprender tudo aquilo
pela primeira vez. Em breve, ele iria readquirir suas memórias das outras vidas e
dos intervalos celestiais e ver que tudo presenciou nesses três últimos dias era
muito familiar.
73
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 19
A tarde caia naquela sexta-feira na cidade de São Paulo. A garoa fina banhava
a Av.Paulista onde a mansão de Clarice estava situada. A pedido de Emília,
Clarice organizou um jantar para a família de Lucas. As três mulheres daquela
casa viam com muitos bons olhos os familiares de Lucas. Além do que, Clarice
que estava tocando com braço de ferro todo o império deixado por Albuquerque,
pretendia arrumar alguém que pudesse dividir suas atribuições, e desde quando
conheceu Laerte sentiu que o rapaz tinha potencial para ajudá-la.
- Emília minha filha – indagou Clarice – Gosto muito de Laerte. É uma pena
que esse rapaz ainda não tenha o nível cultural de Lucas.
- Ora mãe. Foram apenas as circunstâncias da vida dele. Ele é muito
responsável e optou em ajudar seu pai com o trabalho. Acho que ele não teve
chances de terminar seus estudos por isso.
- Logicamente Emília. Acho-o inteligente e gostaria de prepará-lo para no
futuro, quem sabe, me ajudar.
- Acho uma boa idéia mamãe. Você sabe que o papai sempre desejou ter um
filho homem, e quando conheceu Lucas, viu nele o filho que não teve. Pode ser
que Laerte também tenha um perfil similar.
- Não quero intimidar o rapaz minha filha. Mas vejo nele sim um bom
potencial. Aos poucos acho que irei sondá-lo se quer trabalhar para nós.
- Fico feliz mamãe. – disse Emília com um brilho nos olhos – Afinal, eu que
tive a idéia de chamá-los para um jantar e a senhora que vem percebendo essas
qualidades neles sem mesmo eu falar nada.
- Desde o acidente, quando eles ficaram em uma das nossas casas na
fazenda pude perceber a simplicidade e a bondade dos pais, e a presteza e a
preocupação de Laerte com tudo. Leandro parece também ser um bom menino,
mas precisa amadurecer.
- Ótimo mamãe. Se ajuda-los irá me ajudar também a superar minha dor.
Tenho certeza que se Lucas estivesse vivo, faria de tudo por eles.
Clara ouvia silenciosamente a conversa da sua irmã com sua mãe e
concordava com o que elas diziam. Com apenas dezessete anos, possuía uma
maturidade avançada pela época em que vivia. Seu convívio social e sua
formação, talvez tenham influenciado para isso. Da mesma forma, Emília com
dezenove anos também era bem desenvolta e astuta. Quando namorava Lucas
74
Carlos Eduardo Milito
que tinha dez anos a mais do que ela, isso era irrelevante tamanho era o seu
amadurecimento.
Às oito horas da noite Afonso, Dona Lourdes, Laerte e Leandro chegaram a
Mansão dos Albuquerque. Ficaram encantados com tanta pompa e sofisticação
daquele lugar. Foram recebidos por Clarice com muito carinho. Inicialmente não
conseguiam esconder a intimidação.
- Fiquem à vontade. – disse Clarice com ar acolhedor – As meninas estão
terminando de se preparar e daqui há pouco já irão descer.
- Muito obrigado, Dona Clarice – respondeu Afonso.
- Sentem-se, por favor – interveio Clarice acomodando seus convidados na
imensa sala de visitas.
- Como têm passado?
- Estamos enfrentando a vida e tentando superar o momento difícil que nos
acomete – respondeu Dona Lourdes
- Imagino. Para mim também não está sendo fácil. Mas precisamos enfrentar
não é verdade? A vida continua. Não posso me entregar. Tenho os negócios, a
Fazenda e tudo mais para tomar conta. Venho buscando apoio na minha Igreja.
Costumo orar bastante e tenho ido ás missas todos os dias. Converso bastante
com o D. Miguel que tem me ajudado muito.
- Dona Clarice, eu gostaria de ser que nem a Senhora. Minha falecida mãe, a
Dona Dora era mais ligada em assuntos religiosos do que eu. Ela era uma pessoa
de muita fé.
- Eu sei disso Dona Lourdes. Seu filho Lucas comentava com orgulho da sua
mãe. Ele contava muitas estórias dela.
- Foi uma pena ela ter morrido quando ele tinha apenas sete anos. Os dois
se davam muito bem e ele sofreu bastante com isso. Mas depois, com o passar do
tempo superou. No entanto seus ensinamentos para ele valeram por toda a sua
vida.
- Um dia se você quiser te levo na minha Igreja. Temos encontros de
Senhoras por lá. Fazemos também outras atividades beneficentes para ajudar os
necessitados.
- Que beleza Dona Clarice. Acho que essas coisas nos ajudam nesses
momentos de dor.
- Sempre fui católica praticante. O que aconteceu para mim foi vontade de
Deus então, tenho que aceitar. Continuarei mais do que nunca trabalhando para
minha igreja.
Passados alguns minutos, Emília e Clara desceram elegantemente a escada
da mansão e em seguida cumprimentaram educadamente a todos ali presentes.
75
As Moradas e os Segredos de Maria
76
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 20
77
As Moradas e os Segredos de Maria
atrapalhou e até o cair da tarde continuamos a fazer isso para recarregar nossas
baterias.
- Para começar está bem – comentou Mestre Zuzo – Mas isso ainda é
aperitivo. Quero você, Marcos, participando de banquetes.
- Ora, ora Mestre Zuzo. Você sabe muito bem que tenho todos os
ingredientes para isso. Você já sabe a forma pela qual cheguei aqui não é? Você
também sabe o ódio que estou alimentando por Joel, e por aquele tal de Ernesto,
não sabe? Pude perceber quando fugi para a fazenda que Ernesto estava envolto
com uma espécie e aura negra. Seria fácil talvez envolve-lo, não acha? E por que
não tentar também com o Joel? Para mim, a destruição dos dois será muito mais
que um banquete.
- Joel não está nas nossas alçadas. Ele é um cara difícil de influenciar.
Quanto a Ernesto, acho poderíamos sim conseguir algo.
- Então, Mestre, Vamos trabalhar! Por que não bolar um plano para que
Ernesto leve Joel ao buraco. Sei lá! Qualquer tipo de coisa a gente tenta incutir na
cabeça dele.
- Pode ser – respondeu Mestre Zuzo não muito convicto – Mas não temos
uma forma eficaz para isso.
- Já sei. Tenho uma idéia. Pude perceber no meu encontro com Ernesto que
ele falou em chantagear Joel ameaçando em contar tudo para conseguir mais
dinheiro. Ele só não sabe como fazer isso sem se envolver. Por que não o
perturbamos a ponto dele contar tudo para a polícia sem pensar nas
conseqüências?
- Não adiantaria Marcos. Ele vai se preservar até o fim. E pode ter certeza
que ele não terá como chantagear Joel. Ele pensou aquilo, mas nunca terá uma
forma para ameaçar Joel.
- Mas quero vingança! Tenho que destruir os dois. Tem que haver um meio
de fazermos isso. Quero obsediar os dois. Eu grudo neles se você permitir,
mestre. No que depender de mim, ficarei a eternidade toda atormentando a eles.
- Perfeito, Marcos! Gosto de te ver assim. Está sendo um bom aluno. Vamos
então fazer o seguinte para começar: Já são mais de onze da noite e daqui há
pouco Ernesto irá dormir. Vamos monitorar o sono durante a noite e fazê-lo
sonhar.
- Como assim? Fazê-lo sonhar?
- Ora, Marcos, você tem muito que aprender mesmo. Todos as pessoas de
carne e osso quando dormem, saem de suas casas e vagam por tudo quanto é
lugar. O Ernesto está sempre vagando nas nossas imediações, e assim, sendo
78
Carlos Eduardo Milito
esse um local de acesso livre para nós, podemos moldar um cenário como uma
peça de teatro e fazê-lo sonhar o que bem entendermos.
Albuquerque olhava atentamente Mestre Zuzo sem saber direito onde ele
queria chegar.
- Poderíamos moldar um cenário da sala do Policial Medeiros e um de nós
representá-lo como se fosse ele propriamente dito. Daí poderíamos falar uns
absurdos para ele só para perturbá-lo. Isso não deixa de ser divertido. –
complementou Mestre Zuzo.
- Que coisa!. É lógico! Se o Magrão e o Zé Trovão conseguiram se
transformar em Lobo para mim, acho que muitos de nós temos atributos para
mudarmos de forma para Ernesto! – exclamou Albuquerque.
- Exatamente. Eu mesmo cuidarei disso. Você verá. Para o Ernesto que
estará sonhando eu serei o Policial Medeiros e então eu torturarei ele com
palavras.
Terminada a reunião entre os membros da comunidade “Transeuntes das
Trevas”, Mestre Zuzo pediu para Albuquerque para acompanhá-lo e ordenou Zé
Trovão e Magrão a irem para a residência de Ernesto enquanto isso. Já passava
da meia noite. Fora da sede o breu era total. Mestre Zuzo pegou uma tocha que
estava na casa e com uma piscada forte de olhos conseguiu acendê-la. Os dois
saíram pelo fundo daquela casa e caminharam uns cinqüenta metros. Aquele
imenso chão de terra batida era cercado por enormes muros dos quatro lados,
formando um retângulo, tal como no local de onde Albuquerque foi encontrado. A
única diferença é que bem ao centro desse enorme retângulo havia uma escadaria
com uns dois metros de largura que possuía uns duzentos degraus também de
terra batida. Essa escadaria subia e era cercada por altos muros. De onde eles
estavam não era possível ter a noção do seu tamanho por causa da baixa
luminosidade do local. Eles foram subindo lado a lado: Mestre Zuzo do lado
esquerdo e Albuquerque do lado direito. Após a longa subida, eles estavam
novamente em um local plano com terra batida. Pela falta de luminosidade, não
era possível saber o tamanho daquele local. Mestre Zuzo então falou:
- Estamos em uma zona vizinha a nossa morada. Aqui conseguimos
interceptar e atrair algumas pessoas de carne e osso lá da Terra. Vamos
monitorar agora o Ernesto. Olhe para minha tocha.
Os dois olharam fixamente para a tocha e a chama que estava na ponta
ganhou uma coloração branca e um aspecto retangular. Surgiu então no centro
desse “visor” a imagem de Ernesto dormindo no seu quarto. Em seguida, eles
puderam notar um desdobramento: O corpo dele permanecia dormindo, enquanto
um corpo idêntico a esse saía de dentro dele. Em seguida o corpo astral atravessa
79
As Moradas e os Segredos de Maria
80
Carlos Eduardo Milito
readquiriu sua forma original, e o cenário se dissipou como uma luz que apaga. Os
quatro com um semblante feliz desceram a longa escadaria de volta para sede.
- Ta vendo Marcos – falava Mestre Zuzo – Você viu do que somos capazes?
- Estou abismado. Então ele sonhou tudo isso?
- Sim. Mas não são com todas as pessoas de carne e osso que conseguimos
fazer isso. O Ernesto é presa fácil para nós.
- E o Joel?
- Também seria sim, mas com a sua mulher, a tal da Dona Inês, fazendo o
que ela faz, fica difícil nos aproximarmos dele.
- Inês? O que ela faz?
- Ela não é lá muito religiosa sabe, mas na fazenda dela tem uma negra, uma
tal de Dona Benedita que fica se metendo em assuntos “nossos” e ela pois na
cabeça da Inês que ela tem que rezar e pedir proteção para seus familiares,
incluindo os filhos e também o Joel. Daí ela reza e ai atrapalha nossos planos.
- Como assim?
- Você pergunta muito, Marcos! O magnetismo da reza desses que tem fé
atrai gente de outros lugares que só nos atrapalham. Vamos dizer que Joel é
vedado pelas rezas da esposa.
- Entendo.
- Para nós, quanto mais cético melhor. Quanto mais a pessoa for baixo astral
melhor. Se a pessoa for deprimida e para baixo, melhor ainda. Temos sorte que
além do Ernesto ser cabeça fraca, ele não acredita em nada.
- Então ótimo. Vamos perturbá-lo bastante a ponto de ele encher a cabeça
de Joel e afetá-lo também.
- Isso mesmo. Você compreendeu onde podemos chegar. E ai você se
sentirá vingado.
- Só vou me considerar vingado a hora que eu vê-los aqui junto comigo.
- Calma Marcos, uma coisa por vez.
Em alguns minutos os quatro chegaram aos fundos da sede e entraram porta
adentro. Mestre Zuzo apagou a tocha com o seu fulminante olhar e em seguida
foram se acomodar em condições precárias cada um em um aposento daquela
tenebrosa casa.
81
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 21
82
Carlos Eduardo Milito
83
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 22
Ernesto havia passado uma noite muito difícil. Depois do terrível sonho que
teve não conseguiu mais dormir. Ficou na cama deitado esperando novamente
adormecer e entre um pensamento e outro chegava até a pensar na possibilidade
de Joel ter aberto a boca para a polícia. Mas se tivesse feito isso, se incriminaria
também. Ernesto estava confuso e perturbado. Às dez horas da manhã daquele
sábado, foi procurar Joel sede da sua fazenda.
- Joel preciso falar com você – disse Ernesto com ar preocupado.
- O que quer de mim Ernesto? Falei para você evitar de me procurar aqui na
sede da minha fazenda.
- Mas eu preciso falar com você Joel. O assunto é sério.
Joel averiguou se tinha alguém além dos dois no escritório da sede da sua
fazenda e constatando que só estavam os dois fechou a porta.
- Diga Ernesto – falou Joel assim que fechou a porta – Espero que seja sério
mesmo a sua vinda aqui.
- Joel, você por acaso foi procurado ou conversou espontaneamente com o
Policial Medeiros?
- Por que está perguntando isso Ernesto? Qual seria meu interesse em um
assunto desses?
- Não sei, mas é que tive um sonho onde Medeiros me disse que você
contou todo o plano e então eu estava preso.
- Para de bobagens Ernesto. Sonho? Que plano Ernesto? Acho que você
está enlouquecendo!
- Mas o sonho era muito real. Acordei assustado demais.
- Você anda perturbado. Isso é invenção da sua cabeça. Agora que você
está com um bom dinheiro, acho bom você sair de férias e ir passear. Vê se
desaparece do meu caminho.
- Fiquei realmente impressionado com sonho.
- Lembra do que combinamos? Esse assunto morreu. Não sei de nada. Você
também não sabe de nada. Por sinal Ernesto, acho que jamais você deveria ter
vindo aqui em um pleno Sábado na sede da minha fazenda. O que faria um
funcionário do Hangar de Albuquerque aqui?
- Ora Joel, para todos os efeitos estou procurando trabalho. Lembra que já te
ajudei com isso há alguns anos atrás?
- Sim, sim. Mas prefiro que você fique longe de mim. É melhor assim.
84
Carlos Eduardo Milito
/ / /
85
As Moradas e os Segredos de Maria
enfrentá-lo de igual para igual. Vou esperar a cada dia sendo um fiel servente de
sua comunidade.
- Muito bem, Marcos. Agora você já está falando a nossa língua. Muito bem.
/ / /
Paulo Ribeiro chegou para Odete nas cercanias do casebre onde habitavam e
falou:
- Odete, já estou há vários dias por aqui e até agora não saímos dessas
imediações. Você falou em percorrermos locais tais como cidades onde posso
encontrar amigos e outros lugares, mas até agora não saímos daqui.
- É que você ainda não tem o domínio sobre seu novo corpo. Eu te vejo
ainda meio debilitado para sairmos por aí.
- Mas alguns amigos seus já passaram por aqui te convidando para vagar e
então poderíamos ter ido. Eu acho que estou bem.
- Se nós fôssemos, você iria dar trabalho Paulo. Depois, você sabe que tem
que se tomar cuidado com aqueles que querem nos levar para outros lugares
como já te falei. Você não estando cem por cento fica mais suscetível a isso. Você
quer virar escravo?
- Não quero.
- Então Paulo. Vamos ficar aqui por enquanto que está tudo bem.
- Mas o tempo está passando.
- O tempo para nós não importa. Tanto faz um segundo como um século. O
que não podemos é cair nesse papo de “gente elevada” que quer levar-nos para
“locais maravilhosos”. Tudo isso é balela. No fundo todos querem que trabalhemos
para eles.
- Está certo Odete. Vou então me basear no que você diz.
Paulo achava que se sentia bem desde a sua chegada, no entanto sentia uma
espécie de tontura que aumentava gradativamente dia a dia, mas achava isso
normal pela sua nova situação. Odete percebia sua enfermidade, mas não
comentava nada. Não pretendia excursionar mundo afora enquanto ele estivesse
assim.
86
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 23
Era perto das dez horas da manhã daquela segunda-feira. O céu azul anil com
algumas nuvens lembrava um quadro pintado à mão. Ouvia-se o canto dos
pássaros que voavam entre as robustas árvores a poucos metros dali. O riacho
azul que margeava aquele imenso gramado mostrava sua água descendo
imponente e emitindo agradável som. As flores que rodeavam o imenso gramado
pareciam naquele dia ainda mais formosas. Por de traz daquele verde gramado
que estava sendo ocupado por todos havia um imenso lago de onde partia o
riacho. Tudo era de uma beleza imensurável. Não havia sequer uma cor ausente
daquele cenário. O azul e branco do céu mais o verde das vegetações eram
completados pelas inúmeras espécies de flores e outros tipos de vegetação na
margem do riacho e espalhados em outros cantos daquele quadro real. Lucas não
conhecia ainda o Vale das Flores. Pode constatar a sua beleza e intimamente
pensava ser aquilo incomparável às belezas naturais da Terra. Não havia melhor
local para recepcionar uma divindade como Maria.
O chamado Vale das Flores estava repleto de gente. Habitantes de todos os
palácios da Morada Universo Solar estavam lá presentes. Desde as primeiras
horas da manhã as pessoas vinham chegando. Aqueles que estavam em
trabalhos essenciais ficariam conectados a palestra em forma de pensamento. O
semblante de todos que ali estavam era de imensa paz e alegria. Os
governadores dos seis Palácios estavam ali presentes bem de frente ao lago, e
atrás deles toda a multidão. A um minuto das dez horas o toque contínuo de um
clarim começava a anunciar o acontecimento. A multidão ajoelhou-se como forma
de reverência. De repente no meio do céu azul surgiu um enorme feixe de luz que
parecia vir do infinito e se projetava sob o lago bem em frente a todos que ali
estavam. O feixe de luz foi ganhando corpo e engrossando gradativamente e em
sua proximidade surgia uma névoa esbranquiçada. Aquela névoa era como se
estivesse brotando das águas daquele belo lago, fazendo da cena um espetáculo
todo especial.
Vagarosamente começou a surgir no meio daquela névoa esbranquiçada a
imagem de uma belíssima mulher de pele bem clara, coberta com um manto de
cor branca, que encobria seus cabelos escuros e acompanhava seu vestido
também branco. Havia detalhes dourados no vestido que pareciam filetes de ouro.
Seu rosto apresentava feição incomparavelmente superior a qualquer beleza
87
As Moradas e os Segredos de Maria
humana. Seus traços aparentavam serenidade e seu semblante era sério. Ao seu
redor era visível uma aura dourada que dava a sensação nítida de seu tamanho
aumentado. Feixes de luz eram irradiados daquele belo lago e sustentavam sua
figura no ar uns cinco metros acima de toda a platéia. Todos ali presentes
conseguiam ver a cena como se estivessem de frente ao belo cenário.
Incomparável era a alegria e gratidão de todos ali por estarem tendo uma
oportunidade de encontro com uma divindade. Maria então começou a falar:
- Meus irmãos. Sou grata ao grande Arquiteto do Universo por poder ser uma
mensageira do bem. Tive permissão de excursionar nas moradas do nosso
Sistema Solar para agregar esforços para o trabalho que será realizado na Terra.
O apoio de seres astrais será de grande valia para isso. Por isso estou levando
essa minha mensagem em vários cantos onde nosso Sol irradia-se.
Maria que acabava de olhar para o astro rei que iluminava a todos ali
presentes continuou:
- Vocês estão tendo a grande oportunidade de elevação e de aprendizado
com o trabalho que juntos teremos daqui para frente. Durante o ano de 1.917
estarei incumbida de dar algumas provas de nossa existência para nossos céticos
irmãos da Terra. É com muita tristeza que nós estamos acompanhando por anos
tanta desordem por lá. Entra século e sai século, os homens se degladiam em
guerras. A vaidade e o egoísmo imperam de forma veemente. O mal vem sendo
praticado em todas as camadas sociais. Os manuscritos deixados por discípulos
do meu filho há quase dois milênios não vêm sendo interpretados da forma
correta. Poucos sabem o seu real valor, ou ainda, equivocadas traduções e
metáforas seguidas ao pé da letra fizeram com que o verdadeiro sentido da fé se
distorcesse.
Maria serenamente continuou com sua fala firme:
- Chegou a hora de iniciarmos a mudança. Para isso, o meu filho com a
permissão do grande Arquiteto do Universo decidiu que uma prova convincente
será necessária. Irei então surgir para três pastorinhos no interior de Portugal no
próximo dia 13 de Maio e assim farei por cinco meses seguidos. Dentre conselhos
e provas, revelarei cinco segredos para nossos irmãos terrestres que vivem na
matéria.
Após ligeira pausa Maria continuou:
- O que muitos deles não entendem é que é necessário o sacrifício para
galgar degraus na escala evolutiva. Isso acontecerá com nossos irmãos que foram
designados para a missão de levar minha mensagem para toda a humanidade.
Isso acontecerá também com todos aqueles que no início defenderem minhas
palavras. Nos próximos cem anos os meus segredos estarão desmistificados por
88
Carlos Eduardo Milito
completo e a Terra estará salva. Mas para isso, precisaremos trabalhar desde a
minha primeira aparição e por todos os anos seguintes. É preciso pregar a fé. É
preciso que a humanidade terrestre se desarme. Para isso a Igreja Católica será
utilizada como veículo. Meu imaculado coração triunfará. Serei associada ao nome
da cidade na qual aparecerei.
Maria fez uma nova pausa e continuou:
- Mas para que tudo isso ocorra, necessito do apoio de vocês, meus queridos
companheiros. Hoje sou uma mensageira de Deus, que necessita da sustentação
de todos os entes de luz existentes nos arredores da Terra. Estarei em Fátima no
dia 13 de Maio, e uma gigantesca arquibancada astral estará lá para que façamos
o trabalho de sustentação e vibração. Saibam que depois da rematerialização de
meu filho há quase dois milênios, este será o fenômeno de união do mundo astral
como o mundo físico mais importante dos últimos tempos. Quero então todos
vocês sintonizados todo o dia treze a partir de Maio até Outubro.
Todos os seres ali presentes permaneciam de joelhos reverenciando a
divindade. Sua voz era de uma doçura encantadora. Seu semblante sério e belo
apresentava um certo ar de tristeza. Era notável a preocupação de Maria com o
Planeta Terra. O seu trabalho estava sendo divulgado por todas as Moradas do
Sistema Solar. Ela agora precisava partir para continuar seu trabalho e então se
despediu:
- Então digo “até breve” tanto aos companheiros de luz que puderem me
acompanhar durante este ano como também aos demais que estiverem em
missões e impossibilitados de estarem lá, pois estes segundos , com a elevação
dos seus pensamentos nas datas das minhas aparições , também estarão
presentes. Fiquem com Deus!
A visita de Maria na Morada Universo Solar foi breve, no entanto marcante.
Todos permaneceram no Vale das Flores ajoelhados por mais alguns instantes.
Aos poucos, a Multidão foi se levantando e quando estavam de pé Mestre Jonas
pediu a palavra e disse a todos:
- Teremos muito trabalho pela frente meus queridos! Peço que voltem a vida
normal e contenham a ansiedade. Tudo tem seu tempo e chegará a hora das
nossas missões. Quero agradecer a presença de todos e até breve!
Durante a dispersão do pessoal, Lucas mentalizou o Mestre do Mestres e
agradeceu a oportunidade que tinha pela frente. Naqueles últimos dias ele não
teve tempo de pensar nas coisas materiais que ficaram na Terra, pois desde a
semana anterior com o curso, a sua reciclagem foi como um bálsamo nas
recentes feridas. O que ele tinha ouvido agora foi a coroação dos recentes
aprendizados.
89
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 24
Os dias foram passando a vida dos familiares de Albuquerque aos poucos foi
voltando à normalidade. Emília fazia questão de pedir para sua mãe Clarice vez
ou outra a chamar os familiares de Lucas para uma visita. O que acontecia é que
moça começava a demonstrar interesse por Laerte. Numa noite de quinta-feira
conversavam no escritório da mansão.
- Tenho percebido que você está interessada em Laerte minha filha! O brilho
dos seus olhos muda quando você fala nele.
- Imagina mamãe, ele é só um bom amigo. Ainda não esqueci Lucas.
- Você sabe que eu gosto dele Clarice! Não vejo mal nenhum, apesar das
nossas diferenças sociais. Eu o acho um bom rapaz e com grande potencial.
- Por enquanto somos amigos, mamãe. Tudo ainda é muito recente nas
nossas cabeças para um novo envolvimento.
- É verdade filha. Deixe o tempo cuidar dos nossos sentimentos. O que tiver
que ser, será.
- Obrigado pela compreensão, Mamãe. E falando nisso, você os convidou
novamente para o jantar amanhã?
- Sim, lógico. Eles estarão aqui amanhã à noite.
- Que bom mamãe.
- E Domingo, vou levar Lourdes à missa da nossa igreja. Depois, vou
apresentá-la ao D.Miguel.
- Fico feliz pela senhora e por eles também.
Enquanto isso na residência de Laerte, todos estavam na sala durante o jantar
e eles também conversavam:
- Leandro meu filho. Quero que você trabalhe conosco. Nosso comércio está
necessitando de mais gente trabalhando. Eu e sua mãe achamos que está na
hora de você ter um ofício. Você já tem vinte e dois anos, não que estudar então
nada mais justo que o trabalho. – disse Afonso.
- Não quero trabalhar como vendedor de roupas. Não quero ficar atrás de um
balcão! – respondeu bruscamente Leandro.
- Mas você precisa fazer algo meu filho. Não podemos te sustentar a vida
inteira. Não é certo isso!
- O trabalho de vocês não é para mim!
- Não diga isso Leandro. Todo o trabalho é digno! Acho que você poderia
muito bem ajudar-nos por hora e enquanto você procura algum trabalho que te
agrade. Que tal? – interveio Laerte
90
Carlos Eduardo Milito
- Lá vem o bonzinho da família se meter onde não deve. Agora que morreu o
Lucas, vem você com todo esse papo furado. Por que você não fica quieto Laerte?
– gritava Leandro
- Calma Laerte. Não fica nervoso! Estamos conversando!
- Para de me pedir calma. Você está falando igual ao Lucas. O que você
quer? Tomar o lugar dele? Não se preocupe que agora você é o queridinho da
família. Não precisa imitar o Lucas!
- Não estou imitando ninguém. Pare de por o Lucas no meio dessa estória.
Deixe-o em paz. Eu só quero o teu bem. Será que você não percebe isso.
- Para de pegar no meu pé!
- Meninos, parem com essa discussão idiota! – gritou Afonso que saiu da
mesa de jantar onde estava sentados e sentou no sofá da sala dizendo que estava
com palpitações de ouvir a discussão e ia começar a passar mal.
- Ta vendo o que você faz com o Papai? – disse Laerte para o irmão – Não
dá para você conversar civilizadamente com a gente!
Leandro se enfureceu, saiu da sala sem dizer nada, foi correndo ao quarto e
bateu a porta bem forte. Laerte já estava indo atrás dele para tirar satisfações
quando Dona Lourdes interrompeu:
- Não meu filho. Não vá ao quarto. Deixe-o só.
- É sempre assim mãe. Toda a discussão vocês o deixam ele pintar e bordar.
Por isso que vocês não conseguem se impor.
- O tempo, meu filho, irá fazê-lo amadurecer! – disse Lourdes.
- É possível. Mas enquanto isso ele vai continuar vivendo as nossas custas?
Isso não é certo. Não concordam?
- Concordo sim – disse Afonso – Mas vou admitir que errei na criação dele.
Eu poderia ter sido mais rígido desde quando ele era criança, mas não fui. Ele foi
o filho caçula e imaginávamos que a forma pela qual educamos vocês dois, mais
velhos, era ideal também para criá-lo. Não foi bem assim. Ele tinha outro gênio e
quando demos conta, ele já estava grande. É como uma erva daninha que quando
pequena a gente pode até tirar do caminho, mas depois que cresce tudo fica mais
complicado.
- E então o que fazemos? Resignamos-nos?
- Não sei o que fazer. Vamos deixar o tempo nos responder isso.
- Então na verdade temos que nos resignar mesmo – disse Laerte
Leandro saiu do quarto novamente batendo a porta e disse para todos que
estavam na sala:
91
As Moradas e os Segredos de Maria
92
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 25
93
As Moradas e os Segredos de Maria
vagar. Sendo assim, eles têm o atributo de nos enxergar? Isso não representa
uma rematerialização?
- Sim, eles têm o atributo de nos enxergar, mas depende do nível de
consciência deles e até mesmo da evolução deles. Dependendo o quanto esses
seres já evoluíram, eles podem ou não enxergar os que estão desprovidos da
roupagem carnal, ou seja, pessoas como nós. Uma regra básica é que os mais
evoluídos conseguem perceber os menos evoluídos e o contrário não ocorre. O
sono dos nossos amigos da Terra é um bálsamo para o corpo físico e o enquanto
isso, a roupagem astral por muitas vezes se desprende e pode ter contato
conosco sim. Ao despertar do sono, dependo o caso, o contato que eles tiveram
conosco pode ser interpretado como sonho por eles. É como se para eles
tivéssemos nos rematerializado sim.
- Interessante. Lembro que eu sonhava com minha avó mesmo depois de
adulto e ela se foi quando eu tinha sete anos.
- Isso mesmo. Vocês na Terra chamam isso de sonho, mas na verdade, você
se encontrava com ela. Dona Dora sempre te acompanhou. Em breve vocês se
reencontrarão na nossa Morada.
- Reencontrar minha avó? – questionou Lucas com água nos olhos – Que
emoção! Deixa-me controlar minha ansiedade, Madalena. Se eu pensar nisso
agora nem conseguirei conversar direito com o Mestre Jonas daqui há pouco.
- Exatamente. Tudo tem seu tempo.
Os dois seguiram caminhando em direção ao Gabinete do Governador
apreciando a divina paisagem. Lucas estava aguardando sua permissão para
começar enfim a trabalhar pela sua comunidade. Ele imaginava ser esse o motivo
de sua chamada junto a ele. Chegaram e entraram na sala do Governador.
- Olá meu querido Lucas. Como tem passado? – indagou Mestre Jonas.
- Muito bem. Estou me esforçando bastante para melhorar sempre e
aprender.
- Isso é um ingrediente. Se esforçar para melhorar e aprender! Mas a lei
universal fala do trabalho, e como você já deve imaginar, vim falar sobre isso
agora.
- É com muita alegria que recebo esta notícia.
- Lucas. Seu trabalho agora será o de acompanhar Madalena nas missões
de auxílio. Sei que você está preparado para esse árduo trabalho. Essas missões
são expedições do nosso pessoal às regiões da Terra onde vivem os nossos
irmãos de carne e osso. E esses especificamente, vivem em sintonias com seres
astrais das regiões nevoentas e obscuras. Existem na esfera da Terra vários
grupos chamados de “seres sem luz”. Alguns deles se organizam em
94
Carlos Eduardo Milito
95
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 26
96
Carlos Eduardo Milito
97
As Moradas e os Segredos de Maria
98
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 27
99
As Moradas e os Segredos de Maria
100
Carlos Eduardo Milito
101
As Moradas e os Segredos de Maria
dava uma sensação de paz e de tranqüilidade. Ela sentia muita ternura e carinho
por parte dos dois. Apesar disso, ela ainda não entendia direito o que havia lhe
acontecido. Estela questionou:
- Então ela virá me buscar? Estou deixando este mundo? Estou morrendo? É
isso? Vou morrer então? – questionava Estela com um ar de preocupação.
- A chamada “morte” é algo que não existe Estela. Essa palavra é usada aqui
neste mundo e encarada por muitos como o final de tudo. Isso na verdade nada
mais é do que uma etapa no processo evolutivo do ser humano. A palavra mais
apropriada seria transformação.
- Mas o que vai acontecer comigo?
- Acalme-se Estela. Viemos te ajudar. Tente manter-se equilibrada. Se você
entrar em desespero agora, irá ficar presa aqui junto a esses companheiros e não
conseguiremos te ajudar.
- Mas eu não quero morrer! Eu não quero morrer!
- Você não vai morrer Estela. Você precisa confiar nos seus amigos. Você
rezou para Deus pedindo ajuda quando estava sendo maltratada neste mesmo
quarto não foi mesmo? Tente então agora, fechar os seus olhos e elevar seu
pensamento e imaginando-se num local bem bonito, todo florido cheio de
vegetações coloridas e muita paz. Agradeça as forças superiores por você estar
melhorando da sua enfermidade – interveio Lucas, que foi intuído a dizer todas
essas palavras para Estela.
Estela seguiu o conselho de Lucas e fechou os olhos. Então elevou seu
pensamento. Sua sensação de mal estar diminuía à medida que permanecia com
o pensamento elevado. O aparente medo da morte cessou-se. Naquele exato
momento uma irradiação branca era emanada dos dois e envolvia Estela. Ela
sentiu uma sensação de carinho e sua impressão era de que conhecia os dois de
muito tempo. Surpreendentemente ela levantou-se da cama e deu dois passos em
direção a eles. Ela abraçou Lucas e depois Madalena. Chorou de emoção.
Madalena fez um gesto indicando o caminho que ela tinha que seguir e
calmamente tomou Estela pelo braço e começaram a caminhar. Imediatamente
surgiram Jaques e Pierre dentro do quarto. Eles viram somente Estela com uma
aparência muito calma que não demonstrou reação pela chegada dos dois. Eles
ficaram surpresos por vê-la de pé. Sem perceber a presença de Lucas e Madalena
Jaques logo questionou:
- Estela, você não devia ficar fora da sua cama. É melhor deitar-se
- Me sinto melhor, Dr.Jaques Quando mentalizo as forças superiores me
refaço.
102
Carlos Eduardo Milito
- Não faça isso Estela. Você ainda tem que repousar o máximo, e
principalmente a sua mente.
- Eu não acho. Veja só como são bons os efeitos – falou Estela para os dois
falsos médicos e em seguida fechou os olhos e pensou em Deus agradecendo
sua melhora.
- Não! Não! Pare com isso!!
Estela ao agir com o seu poder da mente foi imunizada com uma aura
cristalina que envolvia todo o contorno do seu corpo. Jaques e Pierre tentaram
tocá-la e não conseguiam. Ela possuía uma espécie de barreira magnética e não
poderia ser impedida de passar por aquela porta. Lucas logo interveio:
- Muito bem Estela. Continue com seus pensamentos e nos acompanhe.
Vamos sair do quarto. Não se perturbe com as interferências deles o de outros
que eventualmente se depararem com você no caminho.
- Certo Lucas. Vou continuar orando e acompanhando vocês.
- Ótimo, Estela! Continue fazendo isso.
Lucas e Madalena ampararam Estela e a colocaram no meio dos dois. A aura
cristalina começou a aumentar de tamanho envolvendo os três. Em seguida
Madalena pediu para Estela dar sua mão direita a ela e a sua mão esquerda ao
Lucas. Jaques e Pierre só conseguiam ver Estela que com um semblante calmo e
feliz que começava a caminhar para fora do quarto. Jaques logo falou para Pierre
- Pierre, você tinha razão. Estamos perdendo Estela. Não podemos fazer
mais nada. Vieram buscá-la. Agora ela não nos pertence mais.
- Eu te avisei Jaques! Malditas preces! Maldita fé! Isso nos derrota!
Os três desceram a escada tranquilamente, ultrapassaram a porta de entrada e
caminharam mais alguns metros em direção ao veículo astral. Entraram
tranquilamente no seu interior e em poucos segundos a nave fechou sua porta e
rasgou o céu.
/ / /
O veículo astral chegou a um local onde Lucas ainda não conhecia. O Palácio
da Cura. Sua beleza natural era encantadora assim como toda a Morada Universo
Solar. Havia vastas vegetações, cores por toda a parte e o som dos pássaros
cantarolando. Assim como no Palácio da Sustentação, ali eram encontradas
diversas casas situadas ao longo dos gramados. Havia naquelas cercanias uma
alameda principal com uns cinco metros de largura, toda decorada no seu solo
com paralelepípedos. Aquela vasta e formosa via, toda cercada por longas e
robustas palmeiras, era o caminho que levava a um edifício de estilo europeu que
103
As Moradas e os Segredos de Maria
104
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 28
Era uma quarta-feira comum na fazenda São Paulo. Tudo parecia calmo. Joel
acabava de despachar com Pedro que ao sair da sala se deparou com Ernesto
que acabava de chegar.
- Pois não. O senhor é o seu Ernesto, não é mesmo? – perguntou Pedro.
- Sim. Sou eu mesmo. Eu gostaria de falar com o Sr. Joel. Ele se encontra?
- Sim, deixa eu avisá-lo. Um momento só por favor.
Enquanto Ernesto aguardava do lado de fora em um sofá na sala de espera,
Pedro entrou, fechou a porta, e comunicou seu patrão:
- Seu Joel, você lembra-se daquele funcionário que trabalhou no Hangar
para o Albuquerque?
- Ah sim. O Ernesto? O que tem ele?
- Ele está aqui fora e quer falar com você. Pedi para ele aguardar.
Joel enrubesceu de raiva e intimamente pensava o que ele queria desta vez.
Pedro percebeu o desagrado de Joel pela presença de Ernesto e mesmo sem
entender nada falou:
- Acho que ele está em busca de trabalho. Depois da tragédia ele acertou as
contas com a viúva e agora deve estar procurando algo para fazer.
- Deve ser. Deve ser. Mande-o entrar e me deixe a sós com ele. Quero ver o
que ele quer.
- Perfeito patrão. Vou pedir para ele entrar.
Ernesto entrou no escritório da sede e Joel pediu licença a Pedro após ter-lhe
passando algumas atribuições e em seguida trancou a porta. Pedro não se
conteve. Por ter percebido a reação do seu patrão quando soube da presença de
Ernesto queria entender o motivo. Deu então a volta por de traz da sede, e se
posicionou em um local estratégico, perto da janela daquele escritório sem que
ninguém o percebesse. Dali ele conseguiria ouvir a conversa dos dois.
- O que você quer agora Ernesto? Já não falei para você não me procurar
aqui? Você quer me comprometer? Me deixa em paz.
- Ando muito perturbado. Meus pesadelos se repetem e neles o Medeiros diz
saber de tudo. Será que não há riscos mesmo dele descobrir alguma coisa?
- Isso é um absurdo. Lá vem você com essa estória de novo. Desaparece da
minha vida!
- É por isso que estou aqui Joel. Quero ir embora do Brasil. Quero de fato
desaparecer.
105
As Moradas e os Segredos de Maria
/ / /
106
Carlos Eduardo Milito
107
As Moradas e os Segredos de Maria
- Vou ficar calado, Flora. Mesmo por que eu não tenho provas. E mesmo que
eu tivesse, não poderia fazer nada, pois eu conheço a índole de Joel e sei que ele
capaz de tudo. E tem também o fato de eu ser o funcionário de confiança dele e
assim tenho que mostrar a ele uma certa cumplicidade nas “atrocidades” que ele
faz. Infelizmente tenho que fingir isso para manter o emprego. Então você tem
razão Flora. É melhor eu não me meter nisso.
- Que bom que você tem boa cabeça, querido! Você ainda terá recompensa
por ser assim.
- Como você disse, é melhor eu ficar quieto mesmo desconfiando de tudo
isso.
Pedro era o braço direito de Joel que depositava toda a sua confiança nele.
Trabalhando na Fazenda São Paulo há mais de dez anos, conhecia muito bem
todo o seu funcionamento, e assim pretendia no futuro comprar algumas terras
para tornar-se também fazendeiro. Ele achava que com e seu conhecimento que
estava adquirindo ao logo desses anos, ele poderia um dia prosperar. Esse era
mais um motivo para ele se manter em silêncio.
108
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 29
109
As Moradas e os Segredos de Maria
não tinha forças para impedir suas ações. Pretendia esperar alguns momentos
para tentar tomar alguma providência.
/ / /
110
Carlos Eduardo Milito
Assim que se aproximaram da cama, Paulo ainda com muita dor e rezando notou
a presença dos três em forma de vultos não reconhecendo inclusive Lucas.
- Levem-me daqui. Eu preciso de ajuda. Por Deus!
- Acalme-se Paulo. Viemos te ajudar – interveio Madalena
- Os anjos ouviram minhas preces. Graças a Deus!
- Continue orando Paulo, que em breve você adormecerá e sua dor cessará.
Confia nos amigos.
Lucas e Madalena esticaram o braço direito sobre a testa de Paulo que
adormeceu. Enquanto isso, Antero se aproximou de Odete e se concentrou
fechando os olhos por cinco segundos. Odete avistou Antero na sua frente que
para ela surgiu como um relâmpago. Carinhosamente, ele a convidou para se
retirar do casebre e começando a dialogar:
- Odete minha querida, Paulo estava sofrendo e rogou nossa ajuda. Viemos
buscá-lo.
- Eu logo imaginei. Ele não devia ter feito isso.
- Paulo não está bem. Sua roupagem astral necessita de cuidados na região
do abdômen. Não são só os seres providos de roupagem carnal que carecem de
tratamentos médicos. Isso acontece também conosco.
- Isso é tudo conversa mole. O que iria acontecer com ele? Ia morrer duas
vezes?
- Lógico que não. Mas ai recuperação da roupagem astral é mais demorada,
e então a pessoa sofre muito como se de fato estivesse na Terra com toda a dor
física. Assim, ela também fica impossibilitada de evoluir e crescer.
- Lá vem vocês de novo com essa conversa de evoluir.
- Odete, por que você também não nos acompanha? Creio que você também
necessita de cuidados na região da cabeça.
- Deixe-me aqui. Não quero saber de vocês.
- O que nós queremos é mostrá-la o caminho da verdade. É só isso. Você
não é uma pessoa de índole má. Falta a você apenas esclarecimento. Venha
conosco.
- Não quero ir. Sinto-me bem aqui.
- Fique à vontade então. Mas se um dia quiser buscar o verdadeiro sentido
da vida maior, pode nos chamar. Certamente você saberá como fazer isso.
Madalena e Lucas acompanhavam Paulo em direção ao veículo astral. Ele
ainda não conseguia distinguir Lucas entre eles. Enquanto isso, Antero se
despedia de Odete. Agora eles partiriam em direção ao Palácio da Cura para
encaminhar o paciente para um intenso tratamento.
111
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 30
Era uma noite de sexta-feira quando pela primeira vez Emilia pediu para Laerte
vir só em sua mansão na Av. Paulista. Desde o acidente eles vinham se
encontrando com certa freqüência. As famílias estavam tentando se aproximar. No
primeiro Domingo do mês Clarice e Lourdes haviam ido juntos a uma missa, e no
final de semana seguinte se encontraram novamente para celebrar a Páscoa. Na
última semana, por duas vezes tomaram um chá juntas durante algumas tardes
paulistanas. A presença de Laerte na sua casa deixava Clarice muito feliz. Ela
fazia questão de deixá-los a vontade na sala de visitas conversando.
- Emilia. Ainda me preocupo muito com meu irmão Leandro. – dizia Laerte –
desculpe te cansar novamente com esse assunto, mas às vezes preciso
desabafar.
- Estou aqui para isso Laerte. Você pode se abrir comigo quantas vezes
quiser. Sei que a situação que vocês vivem requer paciência e resignação.
- Você acredita que ele tem pegado com alguma freqüência algum dinheiro
da nossa loja sem falar nada para nós. Isso é apropriação indébita.
- Isso é grave. Vocês conversaram com ele?
- Meu pai não fez isso por que não sabe. Eu que controlo toda a parte
financeira do comércio de roupas. Então ontem à noite eu estava a sós com
Leandro e abordei esse assunto com todo o tato e ainda tive que ouvir para
segurar as pontas, pois ele irá devolver tudo e muito mais.
- Que coisa hein? Por que você não põe o seu pai a par de tudo para
pressioná-lo ainda mais?
- Quero poupar a saúde de meu pai. Vai que dá alguma coisa por isso, então
eu ficaria com remorso. Eu que tenho que resolver sozinho isso. O pior, Emilia, é
que eu já sei qual o destino desse dinheiro.
- Você sabe?
- Sim. Isso é jogo. Tem uma roda de amigos que se encontra com freqüência
e eu sei que eles fazem isso sempre. Leandro está ficando viciado.
- Você tem que tomar alguma atitude Laerte. Isso é uma bola de neve. Se
você não abrir os olhos ele pode levá-los a ruína.
- Sei disso Emilia. Ele está mergulhando nesse mundo e eu não sei mais o
que fazer.
- Conte para sua mãe. Sei que ela vem se encontrando com minha mãe e já
foram até a igreja juntas.
112
Carlos Eduardo Milito
- Eu sei disso Emilia, mas não quero passar problemas para minha mãe. Eu
tinha que ter alguma solução.
- Se você acha melhor assim, vamos pensar outro jeito de ajudar seu irmão.
– disse Emília que ficou por três segundos parada para depois dizer – Espere ai
Laerte! Tive uma idéia!
- O que foi Emilia?
- Dona Benedita. Sim! Por que não pedir ajuda a Dona Benedita? O sobrinho
dela, o João é que toma conta da nossa fazenda. É só falar com ele para irmos lá.
Inclusive, o filho dela, o Genésio trabalha na fazenda vizinha. Eles moram no
centro de Jundiaí. Não foi o João que procurou vocês oferecendo a ajuda dela?
- Sim é verdade! Inclusive mamãe ficou impressionada com a sabedoria dela!
Pode ser uma idéia boa, mas teríamos que nos deslocar até lá.
- Podemos ir de automóvel e amanhã é sábado. É só eu falar com o
motorista. Ela irá nos atender com certeza. Ela poderá nos dar bons conselhos de
como lidarmos com o seu problema. Você não acha uma boa idéia?
- Lógico. E amanhã após o meio dia, estarei livre.
- Ótimo. Combinaremos de ir lá após o almoço. Almoçamos juntos aqui em
casa eu e você e depois vamos. Combinado?
- Nossa Emilia. Gosto da sua determinação. Você é tão nova, mas com uma
maturidade muito mais avançada para os seus dezenove anos.
- Obrigado Laerte. Gentileza sua. Eu só quero ajudá-los.
/ / /
113
As Moradas e os Segredos de Maria
física com sua irmã, possuía longos cabelos escuros e cacheados contrastavam
com sua cor de pele que combinava com o seu nome. As duas irmãs realmente
eram cheias de beleza, cada uma com o seu estilo. Genésio continuou sorrindo
para os três que estavam presentes lá na sala enquanto a Dona Benedita não
aparecia. E continuou dizendo:
- Sou filho único da Dona Benedita e se Deus quiser quero herdar esse dom
de ajudar as pessoas. Acho muito bonito tudo que ela faz.
- Não tenha dúvida, Genésio. – disse Laerte – E além do mais você como
único filho tem que ajudar mesmo a sua mãe.
- Nem penso nisso de ser filho único. Minha mãe ao dar a luz quase perdeu a
vida e depois não pôde ter mais filhos, mas não é por isso que quero ser como
ela. Quero ajudar pessoas por que gosto.
- Isso é muito lindo Genésio – exclamou Clara – Isso tudo mostra o quanto
você e sua mãe são bons.
Dona Benedita chega alegremente na sala e cumprimenta todos com alegria:
- Boa tarde. Quanta gente bonita eu vejo aqui. Sejam todos bem vindos
- Boa tarde Dona Benedita – disse Laerte – Tudo bem com a Senhora?
- Tudo graças a Deus.
- Desde quando a senhora acolheu nossa família não esquecemos mais
daquelas suas palavras. E ontem, conversando com Emília, ela repentinamente
teve a idéia de vir até aqui.
- É sempre um prazer poder ajudar os amigos. Vocês querem água ou café?
- Não se preocupe Dona Benedita. Estamos bem. – interveio Emilia.
- Está bem. Mas não façam cerimônia. Mas o que os traz aqui?
- É por causa do meu irmão Leandro, Dona Benedita. Queremos alguns
conselhos seus. – disse Laerte.
- É seu irmão mais novo não é isso? Entendo. Deixa eu me concentrar um
pouco.
Dona Benedita fechou os olhos, juntou as palmas da mão e encostou os dois
dedos indicadores na testa. Ficou assim por uns trinta segundos e depois abriu os
olhos.
- Meus queridos, Laerte não é um mau menino. O problema dele são as
amizades que ele fez que estão desvirtuando o caráter dele. E quando ele está em
companhia dessas pessoas sempre tem forças ocultas a ele agindo nos
bastidores e instigando ainda mais o rapaz. É mais ou menos o seguinte: Ele é
uma pessoa influenciável, e isso é um prato cheio para os seres do outro mundo
pintar e bordar. Esses nossos irmãos invisíveis aos nossos olhos são irmãos de
pouca luz e agem de forma ignorante.
114
Carlos Eduardo Milito
- Nossa Dona Benedita, como a senhora fala bonito. – disse Laerte – Então
nem preciso entrar em maiores detalhes sobre os problemas de Leandro?
- O motivo principal eu já sei Laerte – disse Dona Benedita sorrindo - mas
pode abrir seu coração. Conte o que você quiser.
Laerte ficou vários minutos contando tudo que Leandro vinha fazendo nos
últimos meses, seu desinteresse pelo trabalho, sua agressividade em casa, sua
inclinação para os vícios e até a recente estória onde ele pegou algum dinheiro do
comércio de roupas sem o consentimento do seu pai. Dona Benedita em seguida
falou:
- Eu acho que vocês estão agindo certo não partindo para a agressão física.
O diálogo é sempre a melhor forma para enfrentar essas situações. O que está
faltando é a ajuda do lado de lá. Você comentou comigo que sua mãe vem
freqüentando a Igreja Católica. Isso é ótimo. Agora vocês têm que colocar em
prática tudo isso. Vocês têm que pedir ajuda para o mundo invisível. Rezem!
Rezem todos vocês com muita fé. Não é para rezar mecanicamente um texto
decorado e vagar o pensamento em outras coisas enquanto se reza! Mais vale um
diálogo franco com essas entidades do que uma reza mecânica. Experimentem
todos vocês fazer isso e pedir ajuda para Leandro. Eu posso também ajudá-los a
fazer isso, mas quanto mais sinceras forem as rogativas que chegarem por lá
maior é o efeito.
Todos ficaram estáticos com o que acabaram de ouvir. Como era possível uma
senhora que nasceu escrava e praticamente sem instrução alguma saber tantas
coisas e falar tão bonito. Sua origem simples. Sua cor e sua posição social eram
tudo simples detalhes quando ela falava. Emília pensava intimamente que por
muitas vezes se deparou com senhoras da alta sociedade que freqüentava a sua
mansão na Av.Paulista que só falavam assuntos supérfluos e vazios. Sem que ela
soubesse, ela estava tendo aula sobre a vida plena e maior. Dona Benedita então
continuou:
- O que vocês precisam, meus jovens, é praticar a fé. A oração tem um poder
mágico. Se pedirmos proteção aos céus e for do nosso merecimento, teremos um
grupo de apoio a nos ajudar. Nós não vemos, mas com certeza sentimos as
melhoras. Isso é muito comum acontecer. O que muitas pessoas esquecem
depois das melhoras alcançadas é de agradecer. Façam isso então: Orem todas
as noites ao dormir, e se quiser deixar um copo de água ao lado da cama é bom.
Peçam aos anjos depositarem bons fluidos na água, e ao acordar tomem e rezem
novamente. Façam isso por Leandro e por todos que necessitam de ajuda.
Depois dos conselhos de Benedita a conversa continuou por mais uma meia
hora de uma forma alegre e descontraída. Somente depois de muita insistência
115
As Moradas e os Segredos de Maria
dos anfitriões é que os visitantes tomaram apenas água. Depois, Genésio fez
questão de mostrar para os três a horta que cultivava. Clara olhava Genésio com
admiração. O filho único de Dona Benedita, com apenas vinte e um anos de idade,
era o orgulho da mãe. Trabalhador assíduo dos cafezais de Joel tinha a ambição
de continuar estudando e ser alguém na vida, pois mal sabia ler e escrever. Era
um rapaz inteligente. Seu contagiante sorriso branco contrastava com a cor da sua
pele.
Em seguida, Dona Benedita disse que a sua casa sempre estaria de portas
abertas para recebê-los. Complementou ainda, que aos Sábados à tarde poderiam
vir sempre, pois pela necessidade de ir e vir para São Paulo, seria uma dia melhor
para todos. Antes do cair da tarde todos se despediram e retornaram para casa.
116
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 31
117
As Moradas e os Segredos de Maria
Lucas não se conteve. Tentou segurar a emoção com todas as suas forças,
mas as lágrimas escorriam teimosamente pelo seu rosto. Fez força para não
chorar e mostrar-se forte, mas foi vencido. Não conseguiu se controlar. Então
deixou a emoção extravasar e chorou. Chorou bastante de alegria. O passado
agora estava presente: O presente precioso! A presença da sua avó era um
presente de Deus. Como Deus poderia estar sendo tão bom e permitindo esse
reencontro? Sua querida Avó a Dona Dora, estava ali, viva como ele. Ele
abraçou-a com todas as suas forças e teve a mesma sensação de quando
menino. Sentia seu corpo. Seu perfume. Podia tocá-la e senti-la. Percebeu nela a
mesma emoção. Ficaram alguns instantes abraçados enquanto Antero e
Madalena os observavam também com um brilho nos olhos. Passados alguns
minutos Lucas falou:
- Minha querida avó! Como Deus está sendo bom permitindo nosso
reencontro! Não pude conter a emoção vozinha querida.
- É natural Luquinhas. A emoção também é um atributo divino e não
podemos nos culpar por isso.
- E como tem passado? O que tem feito?
- Trabalhando muito meu querido. Estamos na mesma morada, porém estou
no Palácio da Transformação. Eu soube da sua chegada logo depois do acidente,
porém meu governador achou por bem preservar suas emoções adiando o nosso
reencontro. Durante a palestra de Maria não estive no Vale das Flores, pois eu
estava em missão, e foi até melhor pois evitou nosso prematuro reencontro.
- Tudo que a senhora me ensinou serviu lá na Terra e agora está sendo de
grande valia aqui também.
- Nossas ações na Terra são bagagens acumuladas ao longo da vida plena e
dos intervalos celestiais. Eu conseguia transmitir isso a você.
- Vó querida! Que alegria eu sinto! Como é bom poder vê-la novamente!
- Você foi contemplado pelo seu extraordinário crescimento neste seu novo
intervalo celestial. Logicamente ainda existem algumas seqüelas pelo seu curto
tempo ainda aqui. Mas no seu nível evolutivo tudo é muito rápido! Em breve
retomará a memória de outras vidas e outros intervalos. Você poderá inclusive
participar de missões de auxílio com seus familiares que deixou recentemente por
lá.
- Nossa Vó. Não tenho palavras para dizer agora. Sou muito grato aos céus
por poder voltar a ver meus entes queridos
- Luquinhas, meu querido. Quando chegar a hora, você terá que se manter
equilibrado e continuar agindo assim como vem fazendo: Tudo com muito amor.
Isso com qualquer que seja a pessoa lá Terra: Um ente querido como pai, mãe e
118
Carlos Eduardo Milito
irmão ou até mesmo um estranho aos nossos olhos. Essas suas missões de
auxílio continuarão e poderão ser feitas também aos nossos entes. O que não
pode é deixar a ansiedade tomar conta da gente. É preciso esperar o momento
certo.
- Certo vozinha. Estarei pronto para qualquer missão.
- Muito bem. E também em breve você deverá conhecer o local onde eu
trabalho que é o Palácio da Transformação. Daí então, entrarei em detalhes com
você sobre como são as atividades por lá.
- Ótimo vovó! Mas sem ansiedade né? – riu Lucas para Dona Dora
- Exatamente. E com uma pitada desse saudável humor tudo fica melhor
ainda, não acha. Seja sempre assim Luquinhas!
O seu jeito de falar, suas expressões e a carinhosa forma de chamar o neto de
Luquinhas era tudo tal como no passado. Ela então, ficou lá por mais algum tempo
conversando com os três sobre a palestra de Maria e do trabalho que eles teriam
pela frente. Passados mais alguns minutos pediu licença, passou pela porta e logo
partiu em direção a sua casa.
119
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 32
120
Carlos Eduardo Milito
aperfeiçoar. Somente após atingir um equilíbrio necessário, é que pude por vezes
visitar o meu querido filho e meu marido Plínio. Porém, por eu estar em diferente
estado corpóreo, eles não me notavam. Mas eu ficava feliz com a permissão de
poder vê-los, e acompanhar o crescimento do menino. Então, você terá a chance
de encontrar sua Tia Marta no mesmo estado que ela. E assim além de você
poder conversar com ela, poderá senti-la, tocá-la, sentir seu perfume e tudo mais.
É só aguardar, minha querida!
- Que estória a sua, Olga! Você morreu no parto?
- Na última experiência que tive na Terra sim. Eu tinha que passar por isso,
mas não preciso entrar nesse mérito agora.
- Mas me conte mais da sua família. E como eles estão agora? – perguntava
Estela com muita curiosidade.
- Quando meu marido perdeu sua roupagem carnal há onze anos ele
também foi envolvido por seres desvirtuados. Somente agora, é que parece que
ele está acordando para a vida maior. Tentei fazer algumas intercessões por ele
nesse período, mas foi tudo em vão. Pelo seu nível de elevação e pelo seu
estado, ele ainda não me percebe. Mas com a graça divina, em um futuro próximo
ele será acolhido.
- E o seu filho? Deve ser um homem feito de quarenta e cinco anos, não é
mesmo?
- Minha querida Estela. É preciso muita resignação e renúncia para ver
nossos entes queridos pagarem o que devem. Meu filho Marcos perdeu sua
roupagem carnal há menos de dois meses. O ódio em seu coração o cega de tal
maneira que ele não tem olhos para mais nada. Qualquer intercessão que possa
partir de algum ser de luz não será por ora suficiente para tirá-lo dessa situação.
Há uma comunidade que se auto entitulou “Transeuntes das Trevas” que o
acolheu desde sua chegada. Esses pobres irmãos são seres ignorantes e
sofredores que se alimentam da desgraça humana. Como o tempo por aqui tem
outra importância dada a eternidade da vida, por vezes essas pessoas ficam
nessas freqüências por décadas se formos comparar ao tempo da Terra.
- Que coisa Olga! Mas você não pode ajudá-los com a força da oração?
- Logicamente que sim. Mas é necessário haver a contrapartida deles. De
nada adiantam as preces se eles as repulsam. Você não acha que nesses onze
anos não venho tentando libertar Plínio? Lógico que sim. E por isso, juntamente
com a colaboração de outras pessoas como eu é que estamos a um passo de
trazê-lo para cá. Já em relação ao meu filho Marcos, não sei precisar o tempo que
isso irá levar. Tudo é relativo. A primeira coisa que ele precisa é tirar o seu ódio
do coração. O perdão também é um atributo divino, minha querida Estela.
121
As Moradas e os Segredos de Maria
- Poxa vida Olga. Eu apenas fiz uma queixa de não poder reencontrar minha
Tia Marta tão já, e nessas suas palavras você me deu uma aula. Confesso que
fico até um pouco constrangida em querer algo que dá para esperar. Você, no
caso do seu filho, nem sabe ainda quanto tempo vai ter que aguardar.
- Querida Estela, após o nosso aprendizado nós conseguimos nos resignar.
Aqui tudo nós aprendemos e reaprendemos nos reciclando quando voltamos de
uma vida. Você terá a oportunidade de evoluir, estudando e trabalhando. E assim
você conseguirá ver as coisas como eu. É natural os seus sentimentos e reações.
Fabrício acompanhou o diálogo das duas com uma calma fisionomia de paz.
Em seguida falou:
- Olga, tenho que percorrer outros quartos e verificar outras pessoas que
estão em tratamento. Você fica a vontade com a nossa amiga Estela que devo
retornar em breve.
- Fique você à vontade Fabrício. A conversa está boa, mas também tenho
que voltar logo ao meu setor.
- Com licença, eu já volto. – disse Fabrício com um sorriso e saiu deixando
as duas sozinhas no quarto.
Enquanto Fabrício andava no corredor em direção aos outros aposentos, ele
intimamente se sentia muito feliz. Estela melhorava e ele era o responsável pelo
seu tratamento. A pneumonia havia lesado a sua roupagem astral exatamente na
região dos pulmões. Agora ela se sentia melhor. Em poucos instantes Fabrício
estaria no quarto onde Paulo Ribeiro estava acomodado. Ele também vinha se
recuperando bem e apresentando boas melhoras. Fabrício logo chegou e disse:
- Olá Paulo. Como você está?
- Olá Fabrício. Creio que estou melhorando. Não vejo a hora de poder sair
deste quarto e caminhar pelos arredores. Tenho observado olhando pela janela
como tudo aqui é muito bonito.
- Tenha paciência Paulo. Mais alguns dias eu te libero para poder caminhar
fora deste prédio. Lembre-se que até a alguns dias atrás você mal saia da cama.
Suas seqüelas na região do abdômen atingiram a sua roupagem astral.
- Mas eu me admiro sobre isso Fabrício. Por que fiquei assim?
- De fato, isso não tem nenhuma relação com o acidente. Antes dele, mesmo
sem você saber, já vinha desenvolvendo uma grave doença nessa região, mas
sua manifestação por dores ainda era quase imperceptível quando você estava
vivendo na Terra.
- Incrível! Então eu chegaria aqui de uma ou de outra forma – sorriu Paulo
para Fabrício – Se a doença era grave e eu não sabia, é isso mesmo, verto? Eu
tinha mesmo que vir, não é?
122
Carlos Eduardo Milito
123
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 33
Era noite naquela sexta-feira em São Paulo. Passava das vinte horas quando
Emilia e Clara conversavam alegremente na parte de cima da mansão.
- Amanhã então iremos visitar Dona Benedita de novo? – Questionava Clara
- Sim. O Laerte já está sabendo. Sairemos com o motorista após o almoço,
assim como já fizemos também nos dois últimos sábados – respondeu Emília.
- Ir para lá é um bonito passeio, não é mesmo Emilia? E além de tudo Dona
Benedita e o seu filho são pessoas incríveis.
- Diga-me uma coisa Clara. Seja sincera comigo. Eu tenho notado que você
olha para o Genésio de um jeito diferente. Estou enganada?
Clara enrubesceu e inicialmente ficou sem fala. Depois se abriu com a irmã.
- Não sei te explicar Emília, mas desde o primeiro sábado que estivemos lá,
o meu coração dispara quando me aproximo dele. Não sei o que é isso. Sabe
Emilia: Sou jovem ainda, tenho apenas dezessete anos, e até hoje nunca tive um
namorado. Não sei o que é isso que sinto, mas posso imaginar. Vou ser sincera:
Acho que me apaixonei por ele.
- Assim? Tão de repente?
- Não consigo explicar. Desde quando eu ouvi as primeiras palavras dele, me
encantei. Seu lindo sorriso contrastando com sua cor de pele. Sua alma boa no
meio de tanta simplicidade. Creio que me apaixonei sim.
- Incrível! Acho que eu consigo te entender, mas receio que teremos
problemas, minha querida irmã.
- Você acha que eu já não pensei nisso? Eu nem tenho dormido direito por
causa desse assunto. Eu precisava me abrir com você, mas eu estava sem
coragem. Agora tirei um peso das minhas costas. O problema será a Mamãe, não
é isso?
- Se você vai levar realmente isso adiante, acho que sim. Será um choque
para ela. A diferença social é enorme. São mundos diferentes, Clara.
- E você minha irmã? O que pensa a respeito disso?
- É Lógico que fiquei um pouco surpresa com seus sentimentos, mas estou
ao seu lado Clara.
- Você pode me apoiar, mas conheço a mamãe, Emilia. A diferença social
existe sim, mas o maior problema será o preconceito. Minha mãe não iria aceitar
sua filha casada com alguém como Genésio. Mamãe iria dizer assim para mim:
124
Carlos Eduardo Milito
Imagina minha filha casada com um negro? Desista dessa idéia!! – murmurou
Clara – Por isso tenho perdido o sono.
- Acho você nova, mas também acho você madura Clara. Creio que você
saberá lidar com isso no momento certo. O preconceito racial poderá existir num
primeiro momento, mas um dia ela terá que se acostumar com isso.
- Tomara, Emília. Vou pensar que João que é primo de Genésio que toma
conta da nossa Fazenda é mulato e mamãe gosta muito dele. De repente por isso,
ela abra o coração para o Genésio.
- Nossa Clara, você fala assim, mas vocês nem namoram ainda. E que eu
saiba o Genésio nem imagina suas pretensões.
- É, mas ele percebeu no último sábado a forma que eu olhava para ele.
Acho que ele finge que não é com ele por que sabe que eu sou a filha do
Albuquerque. Acho que é só por isso.
- Você acha isso, Clara?
- Tenho certeza. E estou radiante que amanhã estarei com ele de novo. É
difícil eu disfarçar meus sentimentos.
- Calma Clara. Não seja impulsiva. Vá devagar! Você tem sua vida aqui em
São Paulo. Você está estudando e ele trabalha na fazenda do Joel. Como vocês
fariam então?
- Não sei Emilia. Se a mamãe concordasse tudo ficaria mais fácil. Ela poderia
arrumar algum trabalho para ele aqui em São Paulo. Agora, se ela se opor a isso
não quero pensar. De qualquer forma, vou deixar as coisas andarem
naturalmente. Pretendo continuar as visitas semanais à Dona Benedita e esperar
as coisas acontecerem.
- Poderemos continuar indo lá sim – concordou prontamente Emilia – Veja
que as preces que temos feito por sugestão de Dona Benedita estão surtindo
efeito. Parece que Leandro não tem mais procurado seus amigos para jogar.
- Muito bom Clara. Agora eu que pergunto. E os seus sentimentos com o
Laerte?
- Estou confusa Emilia. Não quero misturar as coisas, mas vejo no Laerte
muitas características do Lucas. Mas acho que gosto dele somente como amigo.
- Será Emilia? Acho que não. Você não pode ofuscar seus sentimentos. Eu
acho que você gosta dele sim. E gosta dele mais do que um amigo comum. E ele
com certeza também deve gostar de você. Dá para notar isso nas vezes que
vocês se encontram. Talvez ele esteja ainda reticente por causa do irmão.
- Pode ser Clara, mas prefiro esperar. Eu não quero misturar meus
sentimentos. O que eu não quero Clara, é ficar com ele pensando nas qualidades
125
As Moradas e os Segredos de Maria
do Lucas. Se é para termos algum envolvimento, o sentimento tem que ser puro
pelo aquilo que cada um de nós somos.
Depois que foram para seus quartos na hora de dormir, cada uma delas
meditava sobre sua vida sentimental. Clara estava deslumbrada. Estaria disposta
a tudo para investir nesse amor. Queria ter Genésio para ela. Lutaria contra
qualquer preconceito de cor ou condição social. Saberia o fardo que teria pela
frente, mas não se importava. Enquanto isso Emilia pensava com muito carinho
em Laerte e não queria admitir que começava também a gostar dele.
/ / /
126
Carlos Eduardo Milito
- Mas eu tenho planos Clara. No futuro pretendo ter as minhas terras e até
continuar os meus estudos. Graças a Deus eu acho que herdei da minha mãe um
pouco da sua inteligência, então vou aproveitar né?
Clara estava encantada. Toda vez que conversava com Genésio tinha a
sensação de que o seu coração iria sair pela boca. Estava sozinha com ele e
então resolveu sinceramente abrir o seu coração.
- Genésio! Preciso me abrir com você. Estou sufocada.
Por instinto o coração de Genésio também disparou. Desde quando conheceu
Clara percebeu que ela olhava para ele com um brilho diferente nos olhos. Desde
o segundo sábado, as coisas se repetiram e ele começou a admirar ainda mais a
jovem Clara. Procurou com seu trabalho no dia a dia esquecer esse assunto.
Reservou-se. Não comentou com sua sábia mãe, pois achava que isso seria uma
idéia absurda, e ele não queria se machucar com isso. Em seguida ele segurou as
duas mãos de Clara e disse:
- Consigo perceber seus sentimentos, pois são idênticos aos meus, mas
nossos mundos são diferentes, Clara. Não podemos nos machucar ainda mais.
- Eu não me importo Genésio. – disse Clara que aproximou o seu rosto de
Genésio, olhando fixamente nos olhos dele esperando alguma reação dele.
Os dois se olharam por alguns segundos enquanto, lá dentro no casebre, sua
irmã Emilia juntamente com Laerte e Dona Benedita trocavam idéias e davam
gostosas gargalhadas por assuntos descontraídos. Genésio então não resistiu e
deu um longo beijo na jovem Clara. Em seguida falou:
- Eu não pude resistir Clara. Você também me encantou.
- Genésio. Temos que nos abrir para sua mãe e pedir conselhos a ela. Sei
que devo ter problemas com minha mãe por isso. Nada melhor do que ela para
nos orientar.
- Você está determinada mesmo a levar isso adiante? Você sabe que sou
pobre e trabalhador. Sou negro. Não acha que vai enfrentar muito preconceito?
- Genésio. Você tem o sorriso mais lindo do mundo. Ele é o espelho da sua
alma. Nossa essência é a mesma. Gostei de você assim como você é. Claro que
estou disposta a levar isso adiante. Posso ser nova, mas sou determinada. Vamos
entrar e falar com sua mãe.
- Mas e Emília? E Laerte?
- Emília já sabe e me apóia. Laerte eu não sei, mas pelo que conheço dele,
acho que também ficará do nosso lado. Vamos. Vamos entrar.
- Calma Clara. Você não acha melhor deixar um pouco o tempo passar para
depois fazermos isso?
127
As Moradas e os Segredos de Maria
- Não Genésio. A hora é agora. Só se você tiver dúvidas sobre o que você
quer – sorriu Clara – Você tem dúvidas?
- Lógico que não, mas nem quero pensar o que os outros vão achar.
- Esqueça isso, Genésio. Vamos entrar de uma vez e contar tudo para eles.
- Está bem.
Os dois entraram casebre adentro com um semblante de tal felicidade que
mesmo antes de contarem algo para os três Emília já deduzia o que acabava de
acontecer. Clara tomou a iniciativa de contar tudo para o três e calmamente expôs
com toda a sua sinceridade os sentimentos que lhe acometera. Contou seu
encanto desde o primeiro sábado até o momento atual e Dona Benedita ouvia
toda a explicação com uma fisionomia tranqüila esperando Clara acabar de falar.
Laerte inicialmente não conseguiu esconder o espanto, mas depois se envolveu
nas explicações de Clara mostrando um brilho nos olhos. Emília admirava a
coragem e determinação da sua irmã. Após ela contar tudo Dona Benedita disse:
- Minha filha, você é uma menina determinada e deve saber que terá uma
dura missão se quiser ficar junto com meu filho. A estória de vocês não começou
agora. Seus laços se formaram em outras vidas e por isso o motivo do encanto
recíproco. Só que nesta vida, minha filha, você nasceu muito rica. Tem tudo o que
quer. Tem muita beleza. Você pôde estudar nas melhores escolas e sua mãe quer
vê-la com um futuro brilhante, casada com alguém da sociedade. Em
compensação, Genésio nasceu pobre. Tem uma vida dura. É muito inteligente
mas nunca estudou. O pouco que aprendeu a ler e a escrever foi por que o
funcionário Jorge da fazenda onde trabalha o ensinou. Ele é negro por que meu
falecido marido José também era negro e por isso vocês vão enfrentar muito
preconceito. Vocês têm mundos completamente diferentes. Vocês moram na bela
cidade de São Paulo enquanto nós vivemos aqui no centro de Jundiaí. Serão
muitos os empecilhos que vocês terão que enfrentar para viverem juntos.
- Sei o quero Dona Benedita, e também sei das dificuldades. Como já falei
para Genésio, estou disposta a tudo.
- Tudo bem Clara. Mas não conte ainda hoje para sua mãe. Espere um
pouco. Tente falar para ela no melhor momento possível. Você enfrentará
problemas sim. Infelizmente a maiorias das pessoas aqui da Terra não enxergam
as coisas como elas realmente são. Mas os percalços que vocês irão enfrentar
juntos serão um aprendizado. Vocês irão crescer e amadurecer com isso. O que
vocês pretendem fazer agora?
- Não sei Dona Benedita. Nossas vidas são em cidades diferentes.
Inicialmente continuarei vindo aqui todos os sábados enquanto minha mãe não
souber das coisas. Depois, dependendo da reação dela, eu vejo.
128
Carlos Eduardo Milito
- Está bem minha jovem. Faça como achar melhor. Saiba, no entanto que
sempre estarei aqui apoiando e pronta a dar conselhos.
- Será um grande prêmio tê-la como sogra – disse Clara com um enorme
sorriso no rosto.
A conversa depois continuou normalmente. Eles ficaram conversando mais uns
quarenta minutos juntos e na hora de ir embora Clara tomou a iniciativa de ficar a
sós com Genésio no fundo do casebre onde estava a horta e disse para ele:
- Hoje é o dia mais feliz da minha vida, Genésio.
- Pra mim também. Eu não tenho palavras para dizer o que eu sinto.
- Assim que der, eu falo com a mamãe. Ou ela arruma alguma coisa para
você trabalhar lá, ou eu venho morar aqui na fazenda.
- Mas e seus estudos? Tem o ano pela frente ainda não é?
- Sim mas, não me preocupo com isso. Por ser uma mulher até que já fiz
muito. Ela tem que consentir que a vida é minha e não dela.
- Vá com calma Clara. Nós somos jovens ainda e podemos esperar.
- Tudo bem, mas não quero esperar muito não.
Os dois se despediram com alguns longos beijos apaixonados. Em seguida
Dona Benedita cumprimentou a todos agradecendo a visita e Genésio com uma
fisionomia de pura felicidade também agradeceu a presença de todos. O motorista
que estava no carro lendo jornal, abriu elegantemente as portas para os três que
seguiram de volta para casa.
129
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 34
Quase uma semana havia se passado e Clara ainda não tinha encontrado o
melhor momento para conversar com sua mãe sobre o seu novo amor. Ela trocava
palavras com sua irmã.
- E então Clara? Mamãe mal parou em casa nesta semana, né?
- É. E além disso, eu levo muito em conta as palavras da Dona Benedita.
Posso ser uma pessoa determinada, mas confesso que estou com receio de
contar para ela a verdade.
- Eu sei disso Clara. Já no meu caso a situação é outra. Mamãe gosta do
Laerte e quer que eu me case mesmo sabendo das condição sociais da família
dele.
- É diferente Emilia. Eles são família de classe média. Todos têm uma ótima
aparência e além de tudo têm um bom comércio com chance de prosperar. É
outra situação. E por falar no Laerte, vocês se encontraram por três vezes nesta
semana. E então?
- Já te falei Clara. Somos bons amigos.
- Será que ele também pensa assim?
- Não sei Clara, mas ele me trata muito bem. É um rapaz educado, bonito e
inteligente também. Gosto muito da sua companhia.
- Não sei, mas sinto que vocês dois estão cada vez mais apaixonados e não
se deram conta disso.
- Deixa o tempo dizer isso Clara.
- Está bem. E aproveitando o assunto do Laerte, me diga o que ele achou da
minha estória com Genésio. O que vocês comentam quando estão a sós?
- Nossa Clara. É impressionante! Ele parece a Dona Benedita falando. Nesta
semana, as três vezes que estivemos juntos, ele mostrou-se muito preocupado e
sempre me perguntou se você já havia conversado com a mamãe.
- Que bom que vocês me apóiam. Amanhã iremos para lá não é mesmo?
- Sim claro! Além de tudo precisamos contar para a Dona Benedita que o
motivo inicial da nossa primeira ida lá parece perto de uma solução. Leandro está
cada vez melhor e já está pensando em trabalhar com a família.
- Que boa notícia Emilia.
Passados alguns minutos o jantar já estava sendo servido. As duas irmãs se
dirigiam tranqüilamente para lá. Clarice já estava sentada a mesa. Clara e Emília
sentaram-se e Clarice começou a falar:
130
Carlos Eduardo Milito
- Minhas filhas que semana difícil. Tocar esse império que o pai de vocês
deixou não é fácil. Ainda bem que acho que estou conseguindo fazer isso.
- Realmente mamãe – comentou Emília – Até a imprensa tem te elogiado.
- Sim, mas confesso que estou cansada. Eu gostaria de ter mais pessoas
chaves para me ajudar.
- Calma mamãe. Nada como um dia após o outro. Uma hora aparece
alguém. Tenho certeza que a senhora pode identificar funcionários e ter suas
peças importantes para te ajudar.
- Isso eu sei que encontro Emília. O meu desejo é ver vocês duas bem
casadas para eu poder delegar aos meus genros parte dessa responsabilidade.
- Tudo tem seu tempo mamãe.
- E o Laerte? Vocês têm se falado?
- Sim mamãe. Inclusive amanhã iremos novamente até Jundiaí fazer um
passeio e visitar a Dona Benedita.
- De novo? O que tem lá de tão especial?
- Laerte gosta muito dela, mamãe. A senhora sabia que quando eles estavam
hospedados na fazenda, o nosso funcionário João os procurou apresentando a
sua tia Benedita para dar um conforto a todos enquanto Lucas não era
encontrado?
- Conheço essa estória. João já me disse. Mas é necessário ir sempre lá
agora?
- Creio que sim mamãe. A senhora sabe também que Leandro requer
cuidados e por isso temos ido todos os sábados. Ele vem melhorando graças aos
conselhos de Dona Benedita.
- Que bom. Acho tudo isso bonito, mas eu preferia que vocês me
acompanhassem nas missas do Mosteiro São Bento. Eu tenho levado sempre a
Dona Lourdes lá e ela tem rezado muito também. Vocês bem que poderiam ir
comigo um dia desses não é mesmo?
- Está bem mamãe, por mim Domingo agora iremos sim – interveio Clara – O
que você acha disso Emília?
- Lógico. Falarei com o Laerte também. É uma boa idéia já a mãe dele
também tem ido, não é verdade mamãe?
- Nossa! O que deu em vocês duas? Depois que cresceram nunca mais
mostraram interesse em freqüentar as missas? Por que isso agora?
- Acho que são as influências de Dona Benedita mamãe – falou sorrindo
Clara – Acho que é isso.
- Se for isso, continuem indo lá sempre que puderem.
131
As Moradas e os Segredos de Maria
132
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 35
/ / /
133
As Moradas e os Segredos de Maria
Havia três crianças caminhando por lá. A menina mais velha tinha em torno
dos dez anos de idade. Estavam lá também um menino de nove anos e uma
menina mais nova de aproximadamente uns sete anos. Naquele instante surgiu do
céu uma claridade diferente daquilo que aquelas crianças estavam acostumadas a
ver. Em um primeiro momento, aquilo parecia que iria ofuscar suas vistas. No
meio daquela névoa começou a se formar a imagem de Maria. Como da vez que
ela surgiu para os habitantes da Morada Universo Solar, lá estava ela toda
esplendorosa. Sua aparência era jovial e sua beleza permanecia sublime. A
mesma figura da belíssima mulher de pele clara estava lá. Desta vez o seu vestido
tinha uma cor ainda mais alva do que outrora. Ela possuía um manto orlado de
ouro que cobria desde a sua cabeça até o restante do seu corpo. Seu olhar
parecia um pouco triste, no entanto mesmo assim ele transmitia a pura expressão
do amor. Feixes de luz eram emanados a partir da sua imagem, atingindo
explendorosamente o campo ao redor daquele cenário onde ela mantinha-se
flutuando pouco acima de uma pequena azinheira.
A primeira reação daquelas crianças foi de querer fugir, no entanto a voz doce
e encantadora de Maria falou para eles não terem medo, que ela não iria fazê-los
mal. Seu objetivo naquele primeiro diálogo era de prepará-los para as futuras
aparições que se dariam ao longo daquele ano. A menina mais velha que se
chamava Lucia questionava Maria, perguntando de onde ela era e o que ela
queria. Maria respondia que não fazia parte do mundo terrestre e pedia para as
três crianças voltarem naquele mesmo local todos os dias treze a contar daquele
mês. Lucia como uma criança inocente questionou Maria sobre o destino de cada
um dos três ali presentes após a perda da roupagem carnal, bem como o destino
de duas amigas que já estavam desprovidas dessa roupagem. Maria respondia
em uma linguagem simples para que Lucia entendesse, dizendo quem iria ou já
estava no Céu ou Purgatório. Ela classificava como Céu alguma morada de luz tal
como a Universo Solar e Purgatório alguma coisa similar ao Vales das Trevas ou
algo ainda pior.
Maria mencionava o sacrifício que aqueles três pequeninos teriam pela frente,
pois levariam adiante uma estória que poucas pessoas acreditariam. Dizia para
eles que esse esforço seria feito por Deus, em ato de reparação pelos pecados
com que ele vinha sendo ofendido. Ela pregava ainda que o sofrimento que
aquelas crianças teriam seria compensado pelo conforto que Deus lhes enviaria.
Por fim, Maria pediu às crianças que rezassem o Terço diariamente, pois assim
poderiam alcançar a paz e o mundo sem guerras. Em outras palavras, o que
acontecia ali com toda a sustentação do mundo astral que assistia de camarote o
espetáculo, era um pedido de Maria para que aquelas crianças fizessem um
134
Carlos Eduardo Milito
/ / /
135
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 36
Na tarde daquele domingo, dia treze maio, após o almoço servido por Clarice
na sua casa, os familiares de Laerte despediram-se e agradeceram por tudo. O
final do dia já prenunciava um anoitecer um pouco frio e enquanto isso, na sala, as
três mulheres da família conversavam:
- A família Silveira é muito agradável. Eles não são exatamente do nosso
nível social, mas não vejo problemas em mantermos o contato – ponderou Clarice
– Me dou muito bem com a Dona Lourdes.
- Problemas mãe? O que poderia ser problema? – questionou Clara – O nível
econômico deles ser diferente do nosso?
- Sabe como é, né filha? Nós temos que manter as aparências. Nossa
posição social exige isso. Como os “Silveira” são educados, apresentam bons
traços, se vestem razoavelmente bem, então não nos comprometemos.
- A forma que a senhora pensa é um absurdo, mamãe. Eu não concordo com
nada disso. – retrucou Clara.
- É mamãe – interveio Emilia – não quero tomar partido de Clara, mas acho
que a senhora está exagerando com isso. Não é bem assim né mãe? Pensa só:
Hoje sou muito amiga do Laerte e a senhora até torce para que um dia nós não
casemos não é verdade? Não sei se isso vai acontecer, mas me responda com
sinceridade: E se o Laerte fosse paupérrimo? Como a senhora se comportaria?
- O que está havendo com vocês duas? Fizeram um complô contra mim?
Tenho que deixar claro que criei vocês duas para um bom casamento. Se o seu
pai estivesse aqui, agiria como eu. O Laerte apesar de não ser do nosso nível
social me agrada sim. É claro que seria melhor se eles fossem do nosso nível
social.
- Então a resposta para o que Emília questionou agora seria a sua negação
ao namoro? – perguntou Clara.
- Eu não sei por que vocês duas estão com essas perguntas, mas eu já falei
o que eu penso.
- É lamentável mamãe. A senhora que se diz tão católica e freqüenta
assiduamente as missas do Mosteiro São Bento deveria pensar diferente. Todos
nós somos iguais perante Deus não é? – disse Clara.
- Você pode me dizer o que está havendo Emília? Aonde vocês duas querem
chegar? Que conversa é essa minhas filhas?
- Pois bem mamãe, tenho que abrir o jogo – disse Clara – Eu estou
apaixonada por um rapaz com condições ainda inferiores ao do Laerte. É isso!
136
Carlos Eduardo Milito
Naquele momento Emilia gelou. A descarga de adrenalina foi grande, pois ela
sabia que Clara era determinada e prática. Tentaria defender sua irmã.
- Como assim? Você estuda em uma escola é só de meninas. Depois que
seu pai faleceu, nós mal temos freqüentado os encontros da sociedade. Que eu
saiba você não sai de casa. Conheceu como?
- Mamãe, conheci há pouco tempo. Mais precisamente conheci depois que
papai faleceu.
Clarice foi tomada por uma dúvida muito grande. Inicialmente pensou que
fosse Leandro o irmão mais novo de Laerte. Ele também era jovem e tinha vinte e
dois anos, três a menos que Laerte. Mas como poderia ser Laerte, se Clara
acabava de dizer que as condições sociais do rapaz eram pior que a de Laerte?
Além do que, no almoço que eles tiveram durante aquela tarde eles não pareciam
se tratar como que tivesse interessado em algo mais. Ela quis logo acabar com a
dúvida:
- Não é Leandro então?
- Mamãe, eu já falei que ele é bem mais simples que a gente.
- Olha, Clara. Acabe logo com essa estória que já estou ficando nervosa.
Quem é o rapaz? Como você conheceu?
- Ele é primo do seu funcionário que toma conta da fazenda lá de Jundiaí. O
nome dele é Genésio. Ele é filho da Dona Benedita mamãe.
- O que é isso Clara? Você está brincando comigo não é? Você está falando
sério?
- Nunca estive tão séria e determinada
- Isso não é verdade. Você enlouqueceu?
- Sim mamãe. Enlouqueci de paixão! Genésio é minha alma gêmea.
- Além de serem paupérrimos eles são negros. Não posso admitir um
absurdo desses.
- Absurdo é o modo da senhora pensar mamãe. De nada adianta pregar
Deus e ser preconceituosa. Eles são dignos e trabalhadores. Além de tudo tem um
bom coração.
- Não quero você envolvida com ele. Entendeu? Emília o que você me diz
sobre isso?
- Olha mamãe – ponderou Emília – Acho que vocês duas tem que esfriar a
cabeça e conversar esse assunto depois. Isso é muito delicado.
- Já sei. Vocês duas estão de conchavo contra mim. Não posso admitir isso.
Tenho que preservá-las para a sociedade. O Laerte tudo bem. Eu aceitaria se
você, Emília ,quisesse se envolver com ele. Mas o Genésio? Um serviçal negro.
137
As Moradas e os Segredos de Maria
Só não nasceu escravo por que teve a sorte de após a Lei Áurea. Não dá para
admitir isso.
- Mas mamãe. Ele é inteligente. Se ele estudasse poderia ter um bom futuro.
– disse Clara para a mãe que olhava com olhos de ódio. – A senhora poderia
aceitar nosso romance e ainda ajudá-lo trazendo-o para cá perto de mim a
arrumando um trabalho para ele.
- Chega de bobagens! Chega!! Chega – gritava Clarice que estava à beira da
histeria – Não quero saber mais disso. E tem mais: A partir de agora este assunto
está encerrado entendeu? Você tem dezessete anos apenas. Está sob minha
tutela. Aqui quem manda sou eu. Vou proibir nosso motorista a sair de São Paulo
a partir de agora. Não quero você encontrando essa gente. Se um dia você quiser
se envolver com gente dessa espécie, você terá que se sustentar e ganhar seu
dinheiro. Não conte comigo para nada! Está entendido?
Clara saiu daquela sala de visita bruscamente e subiu as escadas correndo.
Entrou rapidamente no seu quarto e se pôs a chorar sozinha. Emilia,
desconcertada pensou em ir atrás da irmã quando Clarice falou:
- E você mocinha, agora vai escolher: Ou vai me apoiar a acabar com esse
absurdo, ou vou dificultar as coisas para você também.
- Nossa mãe. Deixa-me ir lá acalmá-la. Ela saiu daqui chorando.
- Não vá! Isso passa. É um absurdo essa estória! Por isso que vocês
estavam indo lá todos os sábados. Vocês todos já sabiam não é? Agora eu
entendi o porquê de vocês duas terem ido a missa comigo. Tudo é puro interesse!
Uma vergonha.
- Mamãe. Eles são muito bons. Você deveria pensar diferente, como católica.
- Escuta aqui mocinha. Você quer que eu perca o controle com você
também? Isso eu não vou aceitar nunca. Se sua irmã continuar com essa idéia
absurda vou deserdá-la. Diga isso a ela. Não quero mais essa conversa.
Clarice dirigiu-se para o seu quarto. Estava totalmente transtornada. Sentia
uma mistura de ódio e revolta por sua filha ter se apaixonado por Genésio. Ela mal
os conhecia. O pouco que ela sabia sobre eles era devido às informações sobre o
seu funcionário João que era sobrinho de Dona Benedita e contava suas estórias.
Por isso então, ela chegou a pensar que a tal senhora negra estava mal
intencionada sabendo da condição de Clara e fazendo “rezas” e “simpatia” para
unir seu filho a ela.
Emília tentava consolar a irmã, dizendo para ela ter paciência e buscar forças
para enfrentar aquele momento. Clara estava arrasada. Ela disse a Emília que
ouviu sua mãe gritando sabendo que poderia ser deserdada.
138
Carlos Eduardo Milito
- Calma Clara. Isso passa. Como é que você queria que fosse sua primeira
conversa em relação a esse assunto? Nós já esperávamos por isso, não é?
- Ela vai dificultar ao máximo nossos encontros Emilia – chorava Clara.
- Tenha forças, Clara. Nada como um dia após o outro.
- Mas não vou poder vê-lo mais.
- Tenha paciência Clara. Faça o seguinte: Escreva uma carta a ele e explique
tudo. Diga que você ficará ausente por algum tempo. Ele certamente irá entender.
- É verdade. Acho que ele vai conseguir ler minha carta sim. Ele pode não
saber ler direito, mas é bem inteligente. Vou escrever agora.
- Faça isso Clara. E vamos ter fé que as coisas vão melhorar para você.
As duas continuaram a conversas por mais uma meia hora e Emília conseguiu
até arrancar alguns tímidos sorrisos amarelos de Clara durante a conversa. A
partir de agora ela iria precisar muito do apoio da irmã e de Laerte para poder
enfrentar sua mãe. Pelo menos pelas próximas semanas, elas decidiram não ir
para Jundiaí para as coisas acalmarem na mansão. Clara escreveria a carta para
Genésio explicando tudo.
139
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 37
140
Carlos Eduardo Milito
era muito similar ao grande casarão que acomodava todos os seus familiares
quando estavam por lá. No entanto, ele era percebido apenas por seres
desprovidos de roupagem carnal. Estava localizado na parte nova daquela
fazenda, ou seja, nas terras que o seu filho Marcos Albuquerque havia comprado
de Joel. O motivo da cristalização daquele casarão por Plínio é explicado pelo
grande apego que ele tinha nos seus bens materiais. Depois de nove anos de
sofrimento em regiões nevoentas ele havia se libertado, no entanto, refugiou-se na
sua antiga morada terrestre, perambulando por lá sem direção. Acabou se
envolvendo com seres da mesma freqüência onde juntos fizeram aquele trabalho
de cristalização. Sua ignorância sobre os caminhos da luz e da verdade deixava-o
completamente alheio à vida maior.
Plínio estava nas cercanias daquele grande casarão quando avistou no céu um
grosso feixe de luz que surgia do infinito e terminava alguns metros a sua frente. O
feixe acompanhado de uma névoa esbranquiçada foi ganhando corpo e de
repente surgiu o veículo astral nunca visto por ele. Seu primeiro pensamento foi de
que alguém queria novamente tentar convencê-lo a partir daquele lugar. Todas as
vezes que algum outro ser com maior esclarecimento tentava fazer isso, sua
aparição era quase que instantânea e nunca acompanhada por um veículo
daquele tipo. Agora era diferente: Aquilo era algo nunca visto por ele. Isso
intimamente lhe trazia uma sensação de paz e tranqüilidade. De repente surgiam
duas jovens mulheres saindo pela porta do veículo astral no meio daquela neblina.
Olga e Madalena estavam com longos vestidos, sapatos de cor clara e com uma
fisionomia de muita paz. Inicialmente Plínio não reconheceu Olga, pois sentia sua
visão ofuscada pela neblina. Aquela cena lhe dava a sensação de uma claridade
aumentada. Ele percebia duas belas mulheres com cabelos longos. Madalena
então começou a falar:
- Como tem passado, Plínio?
- Quem são vocês? Como sabem o meu nome?
- Você em seus momentos de fé pediu ajuda aos céus, e agora fomos
enviadas para ajudá-lo. – respondeu Madalena.
- De fato eu passei muito tempo na escuridão, mas agora eu me sinto bem.
Creio que já fui ajudado. Vejam só: Construí a minha própria casa. Reencontrei
meu filho e minhas netas. Estou bem, apesar deles não me perceberem. Inclusive
acho que meu filho tirou longas férias, pois faz algum tempo que eu não o vejo.
- Que bom que você se sente bem agora, Plínio, mas na nossa Morada as
coisas são ainda melhores. Você poderia vir conosco.
- Estou bem agora, Senhoras. Por outras vezes outras pessoas tentaram me
convencer a partir, mas não quero deixar essas terras, este cafezal e as demais
141
As Moradas e os Segredos de Maria
culturas daqui. Por isso que eu construí esta casa. E além de tudo tem meus
familiares todos aqui.
- Entendo seu ponto vista querido Plínio – interveio Olga – Mas temos muitas
coisas interessantes na nossa morada. Eu e Madalena poderemos cuidar muito
bem de você por lá, e então num futuro próximo você poderá visitar seus parentes
por aqui.
Naquele momento a névoa já estava diminuindo sua densidade e Plínio
percebeu na voz de Olga algo muito familiar. Ele ficou estático por vários
segundos olhando fixamente para as duas mulheres a sua frente. Ele ainda não
conseguia distinguir suas fisionomias. Então antes de dizer qualquer palavra,
resolveu esperar a nevoa se dissipar completamente. Estava então na sua frente
a imagem viva de sua querida esposa Olga. Toda bela, radiante, exuberante e
com a mesma aparência jovial que tinha pouco antes de partir. Plínio chorou de
emoção. Não acreditava na cena que assistia. Entre lágrimas e soluços soltou
algumas palavras:
- Olga meu amor. Você voltou!
- Quanto que eu esperei por esse momento, querido – Disse Olga com
emoção que se dirigiu ao encontro de Plínio para depois abraçá-lo com muito
carinho.
- Por que tanto tempo aqui estou sem poder vê-la meu Deus?
- Não pense no passado, Querido! Vamos viver agora uma nova vida. Tentei
por esses anos todos desde sua chegada interceder por você. Conseguimos tirar
você do convívio de irmãos desvirtuados do caminho da verdade. Você agora
precisa galgar mais alguns passos na escala evolutiva.
- Querida, você continua linda. Você está muito mais nova que eu
- Então meu amor. Você terá muito que aprender e reaprender nos seios na
nossa morada. Trabalhando, estudando e nos ouvindo poderá moldar sua
roupagem astral com a aparência da sua plena juventude. Peço que venha
comigo.
- Mas e tudo isso aqui?
- São coisas matérias, meu querido. Você terá que entender que na vida
física tudo é transitório e mutável. O apego que tens por tudo isso terá que ser
superado para reencontrar a felicidade plena.
- E você estará comigo na sua morada?
- Eu nunca te abandonei. Eu sempre estive contigo. Se nos acompanhar terei
a dádiva de te cuidar, pois o meu ofício por lá é bem esse. Faça então uma troca:
Deixe tudo o que está aqui de coração aberto sabendo que reencontrou o seu
grande amor da sua última vida na Terra. Que tal?
142
Carlos Eduardo Milito
Plínio chorava copiosamente. Estava feliz. Não tinha palavras para responder
os últimos argumentos de Olga. Quando viveram na Terra, eles foram tomados
por uma grande paixão quando se conheceram. Eram muito jovens no início do
namoro e só se casaram em torno dos vinte e cinco anos. Depois que Marcos
Albuquerque nasceu e Olga veio a falecer no parto, Plínio se apegou ao trabalho
de uma forma veemente para suprir sua dor. Talvez por esse motivo, com uma
grande determinação, ele conseguiu construir um verdadeiro império. Assim, ele
nunca mais havia se interessado por mulher alguma. Acreditava que Olga era sua
alma gêmea. Agora estava ele frente a frente com o grande amor de sua vida.
- Olga meu amor. Eu vou com você para qualquer canto do universo, minha
querida.
- Que bom Plínio. Nossos companheiros de lá estão à sua espera. Você já
sofreu muito por todos esses anos, meu querido. É então chegada a hora da
nossa partida. Você iniciará um tratamento por lá.
- Como você quiser, meu amor.
Olga tomou Plínio pelo braço. Os dois começaram a caminhar lentamente em
direção ao veículo astral e foram os primeiros a entrar. Em seguida, Madalena
também entrou na nave que em poucos segundos rasgou o céu azul como um
cometa em direção ao Palácio da Cura.
143
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 38
Era noite no Vale das Trevas. Naquela sexta-feira, após uma habitual reunião
de todos os membros da comunidade no casarão que abrigava a sede,
Albuquerque foi chamado em particular pelo Mestre Zuzo.
- Você tem trabalhado bem, Marcos. Nem parece mais aquela pessoa
revoltada quando capturamos você.
- Mestre Zuzo, você sabe que agarrei com unhas e dentes essa oportunidade
para que vocês também me ajudem.
- Eu sei que você trabalha por interesse, mas tudo bem. Afinal, não
esquecemos o seu plano de vingança.
- Por isso que estou sendo um membro exemplar de sua comunidade,
Mestre Zuzo. Faço tudo o que vocês me pedem. No começo eu não me sentia
bem fazendo o tipo de trabalho que vocês fazem, mas agora já me acostumei.
- Isso mesmo, Marcos. Agora você já se acostumou e quando você gostar de
fazer esse tipo de trabalho terá potencial para liderar os meus súditos.
- Por que diz isso Mestre Zuzo? Pretende nos deixar?
- Ainda não, mas um dia quem sabe. Pretendo expandir nossa comunidade e
abranger outras “regiões negras”.
- Outras regiões? Como assim?
- A nossa comunidade atua em um dos primeiros setores dessas regiões
negras. Existem vários outros, onde, por exemplo, se formos usar palavras da
Terra para comparar, podemos dizer que são regiões similar ao inferno. O que
acontece é que por lá seus líderes são pessoas de difícil acesso. Vez ou outra eu
tento manter algum diálogo, mas até agora não tive êxito.
- Interessante. O que eu puder ajudar, estou a disposição, Mestre.
- Sempre prestativo né Marcos? Sabe que como recompensa pelo seu
esforço, vamos envolver Ernesto novamente em sonho esta noite. Que tal?
- Ótimo Mestre. Mas vocês já fizeram isso por quatro vezes até agora e ele
continua lá no seu canto e Joel também.
- Sim, sim. Mas ele está cada vez mais perturbado. Pode acreditar.
- Acredito, mas minha ansiedade por vingança é muito grande.
- Controle-se Marcos. Ernesto é totalmente influenciável. Como ele, há outros
tantos assim na Terra e por vezes a medicina de lá trata isso como esquizofrenia.
Esses tipos são um prato cheio para nós. Ernesto poderá enlouquecer a ponto de
querer matar Joel.
144
Carlos Eduardo Milito
- Mas é isso que eu quero, Mestre. Quero Joel deste lado e de preferência
esse tal de Ernesto também.
- Vamos ver o que nós faremos. Vamos esperar Ernesto adormecer por lá
para agirmos.
- Obrigado pela ajuda Mestre Zuzo. Estarei como expectador da cena que
vocês irão montar.
- Não precisa agradecer. Isso para nós não deixa de ser um divertido
trabalho.
Naquela noite os Cavaleiros das Trevas iriam até Ernesto e o fariam sonhar
durante a noite conforme já haviam feito por outras vezes. Era ainda em torno de
oito horas da noite e eles aguardariam mais algum tempo para colocar o plano em
ação.
/ / /
145
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 39
146
Carlos Eduardo Milito
Aquela nova aparição comoveu Dona Dora que não teve a oportunidade de
estar ali presente no mês anterior. Os outros expectadores ficaram muito felizes e
com muita esperança em ver o Planeta Terra melhorar. A Guerra ainda assolava a
Europa e a toda aquela energia da aparição real de um ser divino provido somente
de roupagem astral para os humanos providos de roupagem carnal dava a
esperança para o seu término. Era preciso, no entanto uma maior aproximação
dos humanos da Terra em alguma crença divina. Em outras palavras, Maria pedia
isso nesta aparição. Como no mês anterior Maria então se despediu e começou a
elevar-se flutuando cada vez mais até desaparecer no horizonte.
147
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 40
148
Carlos Eduardo Milito
- Ainda bem. Nem pense em encontrar esse negro sujo. Nunca deixaria uma
filha minha se envolver com um plantador de café. Sagrada distância entre São
Paulo e Jundiaí.
Clara com água nos olhos e segurando o choro respondeu com um tom de voz
alta, quase aos gritos.
- A sua crença Mamãe, é uma farsa! A senhora freqüenta a Igreja para
aparecer para a sociedade. Esse bazar que a senhora está organizando também é
uma farsa. Não adianta Mamãe, a senhora freqüentar uma Igreja assiduamente e
ter esses pensamentos preconceituosos. Não adianta mamãe, a senhora fazer
generosas doações ao Mosteiro São Bento e distinguir classe social ou raça.
Somos todos filhos de Deus ou não? Eu vou ficar com o Genésio sim. Nem que
para isso eu tenha que ir embora daqui.
- Experimente fazer isso para ver o que acontece – respondeu Clarice aos
gritos
- Você esta me ameaçando mamãe? – gritava Clara.
Naquele momento Emilia interveio tentando acalmar as duas. Clara chorava e
Clarice a olhava com um ar de afronto. Emília falou:
- Não dá para vocês duas conversarem civilizadamente?
- É impossível conversar com a mamãe – disse Clara entre soluços – A filha
Clara vai viver com o “negro sujo” e “plantador de café”, mas vai ser feliz.
- Eu vou te deserdar se você fizer isso. – disse Clarice – Já não bastam
meus problemas do dia a dia que tenho que enfrentar e tenho que passar por essa
ladainha em casa? Pensa que é fácil tocar o império que o seu pai deixou?
- Insensível – gritava Clara para a mãe – .Insensível, Insensível.
Clara subiu a escada correndo e bateu a porta do seu quarto deixando Emília e
Clarice na sala. Elas estavam sozinhas novamente. Emília tentava contemporizar.
- Calma mamãe. Tenha paciência com Clara.
- Isso tudo é um absurdo. Não vou tolerar sua irmã com essa idéia. Nem que
eu arrume uma viagem para ela. Isso mesmo Emilia. Vou mandá-la para Paris por
pelo menos um ano.
- Acho que a senhora não deveria fazer isso, mamãe. Dê tempo ao tempo.
- Para de proteger sua irmã. Você não ser contra esse absurdo tudo bem,
mas protegê-la não. Por favor, Emília. Paris é uma boa idéia sim. Seu pai gostava
muito de lá.
- Mesmo assim acho que a senhora deveria esperar
- Esperar o que Emilia? Você sabe como Clara é teimosa. Quando ela quer
alguma coisa, ela faz de tudo para conseguir. Deixei o tempo passar para ver se
149
As Moradas e os Segredos de Maria
ela esquecia tudo isso e não adiantou. Você viu. Vou providenciar tudo amanhã
mesmo.
Se Clara era determinada, sua mãe Clarice não ficava nada atrás. A viúva
braço de ferro também era prática e objetiva. Não era por acaso que ela estava
conseguindo administrar com louvor os negócios deixados pelo marido. Teria
como meta agora preparar uma longa viagem para sua filha.
/ / /
150
Carlos Eduardo Milito
151
As Moradas e os Segredos de Maria
152
Carlos Eduardo Milito
assentarem por si só. De repente tudo volta ao normal. Não diga que perdeu uma
filha! Clara está mais viva do que nunca. Não vamos questionar o ato dela, mas de
repente por ter um ideal amoroso, ela está mais viva do que muitos daqueles que
vivem, mas deixam a vida passar sem ter um sonho, ou ainda, sem lutar por ele.
- Laerte. Sua palavras me fazem bem. Não sei se é sua entonação de voz ou
algo do tipo, mas vou deixar o tempo se encarregar de resolver essa situação para
nós.
Nada era percebido pelos três que estavam lá, mas no momento em que
Laerte falava aquelas palavras, sua avó, Dona Dora estava ali presente
silenciosamente assistindo a cena. O seu braço direito estava estendido de forma
que a palma da sua mão estivesse sobre a cabeça de Laerte.
Enquanto isso no casebre de Genésio tudo era motivo de alegria. Genésio
havia chegado do trabalho e disse que ganhou o maior presente da sua vida ao
rever Clara. Eles ficaram conversando por horas e colocaram os assuntos em dia.
Genésio tinha muito da sua mãe na forma de pensar, e por isso fez os mesmos
questionamentos a Clara sobre sua decisão. Por fim, Genésio após ter que insistir
muito, insistência cederia seu humilde quarto para Clara ficar e dormiria na sala.
Isso se repetiria pelos próximos dias.
153
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 41
154
Carlos Eduardo Milito
155
As Moradas e os Segredos de Maria
156
Carlos Eduardo Milito
aberto para reiniciar uma nova jornada isso pode acontecer. Todo o trabalho deste
setor além de abranger o momento da preparação de cada um de nós, prontos
para entrarmos em um útero materno, também abrange os casos não bem
sucedidos tão como abortos espontâneos, abortos voluntários e mortes
prematuras de recém nascidos. Nesses casos a roupagem astral tem que voltar a
forma do último intervalo celestial, ou seja, a forma de antes da miniaturização.
Daí nosso trabalho intenso desfazer a miniaturização.
- Que bela atividade que a senhora faz. Estou impressionado.
- Um dia que Mestre Jonas permitir em concordância com o meu Governador
você poderá acompanhar por completo a miniaturização de algum de nossos
irmãos.
- Saberei aguardar o momento para ver esse fascinante trabalho, vó.
- Agora vem a melhor parte, meu neto. Vamos voltar ao primeiro andar e
você com o meu auxílio irá retomar sua memória celestial dos últimos duzentos
anos. Você entenderá alguns laços existenciais da nossa família. Vamos lá.
Os dois desceram dois andares e entraram em uma das doze salas que estava
desocupada. Carinhosamente, Dona Dora acomodou Lucas sentado em uma
cadeira em frente à pequena mesa com o globovisor a sua frente. Ela levou a
palma da sua mão direita sob a cabeça de Lucas e a palma da sua mão esquerda
sob o globovisor. Fechou os olhos por dez segundos e Lucas começava a voltar
no tempo. As imagens iam surgindo no globovisor e ele começava a se lembrar de
tudo. Ele se via em um cenário europeu. Estava na Itália no começo do século
XVIII. Mais precisamente, na cidade de Florença. Ele se viu como um menino bem
pequeno e logo reconheceu que a sua mãe daquela época era a Dona Dora que
ali estava. Percebeu também que havia outra criança brincando com ele e tratava-
se de sua irmã com dois anos a menos que ele. Prontamente ele a identificou
sendo a Emília.
O filme da sua existência anterior passava no globovisor e Lucas ia
vivenciando novamente cada passo que dera naquela época. Sua vida foi de total
renúncia em favor dos necessitados. Se inspirando nos dons de sua mãe que
fazia trabalhos voluntários como enfermeira, seguiu a carreira de médico, com a
maior presteza e dedicação possível, tratando do mais nobre ser até o mais
humilde da mesma forma: com muito carinho. Relembrou também do grande amor
que tinha daquela época que era uma bela jovem com o nome de Antonieta. Em
seguida, se viu no último intervalo celestial, vivendo em Morada muito similar a
que ele vivia agora, atuando em função parecida a que Dora fazia no Palácio da
Transformação. Passados alguns minutos, Dona Dora voltou as suas mãos na
posição normal e vagarosamente, as imagens do aparelho foram de dissipando.
157
As Moradas e os Segredos de Maria
158
Carlos Eduardo Milito
- Isso mesmo. E agora que você voltou para o intervalo celestial, ela tem dez
anos lá na Terra. Mas não se preocupe, pois a eternidade vos aguarda.
Os dois continuavam a prosa, e como ele se lembrou que havia alguém que
lhe mexia o coração mais do que Emília, então questionou Dora de como ela
estava, pois ela tinha planos de casar com ele e tudo mais.
- Iremos a Terra em breve visitar seus amigos e parentes, mas garanto que
Emília está bem. Seu irmão Laerte está sendo muito importante para isso.
- O Laerte? Que bom vó. O que ele tem feito?
- Todos superaram o desastre. Nosso apoio deste lado foi importante. Por
vezes, alguns servidores do Palácio da Comunicação faziam visitas periódicas
para restabelecer o equilíbrio nos lares dos seus familiares e no de Marcos, mas
agora eles estão melhores sim. O tempo também é um santo remédio. O Laerte
ajudou Emília a superar sua perda.
- Fico contente. Então o Laerte e a Emília fortaleceram o laço de amizade?
- Bastante. E sua partida foi culminante para isso.
- Eu ficaria feliz de coração se eles tivessem um envolvimento amoroso.
- Que bom que você é desprendido assim, Lucas. Eles ficam se segurando
em respeito a você.
- Mas eu morri – falou Lucas com gargalhadas – Quer dizer: para eles eu
morri, apesar de eu me sentir agora mais vivo do que antes – continuou Lucas a
gargalhar.
- Se você quiser podemos fazer o seguinte: Quando formos lá, você mesmo
tenta dar um empurrãozinho nesse romance. Que tal?
- Boa idéia vó. Faremos isso quando formos. E os outros, como estão?
- Todos bem. Minha filha Lourdes está um pouco mais religiosa o que ajuda
muito. Laerte deu um pouco de trabalho no começo mas agora com ajuda de
Laerte, Emília, Dona Benedita, além dos amigos daqui, melhorou bastante, e seu
pai, apesar de ser um pouco cético também se apega ao trabalho e vai vivendo.
- Que bom vó. Até a Dona Benedita, a tia do João lá da fazenda do
Albuquerque ajudou minha família?
- Muito. Ela resolveu nascer bem humilde nessa vida, mas é uma pessoa
muito elevada e com muito esclarecimento. E o seu filho Genésio, que também
optou por nascer humilde e negro, como não podia deixar de ser, reencontrou
Clara e agora vivem um grande romance.
- Clara e Genésio juntos? Assim tão rapidamente? Eles nem se conheciam.
- A estória deles começou no início do século XIX, pois em torno do ano de
1800 Genésio era um fazendeiro muito rico, descendente de Portugueses e sua
primeira esposa o deixou viúvo mesmo antes de ter filhos. Sua segunda esposa
159
As Moradas e os Segredos de Maria
era uma escrava da fazenda que ele se apaixonou. Hoje, essa que era escrava
nasceu e vive como Clara. Genésio era muito bom na vida que teve como
fazendeiro e, mesmo antes dos intentos da Princesa Isabel, resolveu abolir seus
escravos, criando um serviço remunerado. Agora Clara e Genésio inverteram suas
raças e condições sociais.
- Somente a pluralidade das existências para nos fazer entender a grandeza
do universo e a constante presença do seu criador. Tudo se explica.
- Sim meu querido, mas essa visão é limitada a poucas pessoas. Na Terra a
realidade é completamente outra. A grande maioria das pessoas vive como se
fosse tudo uma única vez, cultivando então o ódio, a inveja, o egoísmo, a vaidade,
a avareza e a falta de amor ao próximo. Por isso que nossa querida Guardiã Mor
irá dar uma prova aos irmãos terrestres mostrando lugares de mais baixa
freqüência do nosso universo.
Dora e Lucas depois de agradável conversa saíram do prédio denominado
“Centro de Transformação” e ainda caminharam por alguns minutos nas suas
cercanias apreciando a bonita paisagem. Em seguida se despediram e cada um
tomou o seu rumo.
160
Carlos Eduardo Milito
CAPÍTULO 42
161
As Moradas e os Segredos de Maria
162
Carlos Eduardo Milito
- Entendo o motivo da sua fúria. Por isso a senhora está nos acusando. A
senhora está agindo pela emoção e não pela razão. A vontade de vir aqui foi da
sua filha Clara. Somente dela.
- Vocês não deveriam ter concedido que ela ficasse aqui. Como pode? Este
lugar mal acomoda vocês. Isto aqui é muito precário para quem vivia no nosso
mundo. A senhora me entende?
- Sim, entendo. Mas não podíamos fazer nada. A senhora deve conhecer
bem a sua filha. Sabe que ela é determinada. Ela esta aqui conosco ciente da
nossa condição social e como a senhora disse, da condição precária da nossa
moradia.
- O que você tem a me dizer sobre isso Clara? – questionou Clarice já com
uma entonação de voz alterada.
- Tenho a dizer mamãe, que encontrei o meu lugar ao Sol. Estou muito feliz
agora. – respondeu Clara com um sorriso sincero.
- Vamos embora daqui. Pegue suas coisas e acabe logo com isso.
- Imagina mamãe. Não vou abandonar o Genésio. Por sinal a senhora nem o
conheceu, pois ele está trabalhando. Ele estará aqui no final do dia.
- Nem quero conhecer o Genésio. Acabe logo com isso e vamos embora.
- Claro que não mamãe. Não vou embora.
- Você não vê que está deslumbrada. Você está vivendo em um mundo
irreal. Acho bonito um sentimento desses, mas isso é coisa de adolescente. Acabe
com isso, filha e vamos embora daqui.
- Eu já falei mamãe. Encontrei minha felicidade aqui. Não vou. Eu só iria se a
senhora arrumasse um trabalho para o Genésio, e nos deixasse viver juntos lá.
- Já estou ficando nervosa com essa estória. Você é nova e tem que estudar
e não quero você casada agora.
- Você não quer eu casada com o Genésio né mamãe? Veja a Emília por
exemplo, que tem só dois anos a mais do que eu. Você está doida para que ela se
case com Laerte. O que a senhora quer no futuro, é arrumar um marido para mim
não é?
- Pode ser filha, mas isso não vem ao caso. Quero você de volta agora.
- Não vou mamãe.
Naquele momento Clarice perdeu as estribeiras. Estava próxima de um ataque
histérico. Começou a falar em tom mais elevado e quase gritando
- Veja bem o que você está fazendo em Clara. Estou te dando a última
chance. Não vim antes para você refletir por todos esses dias. Vamos embora
agora. Vamos acabar com essa pouca vergonha.
163
As Moradas e os Segredos de Maria
- Não fale assim mamãe. Onde está a pouca vergonha. Eu amo o Genésio,
mas me dou o justo respeito. Até agora só trocamos alguns beijos. Por sinal
mamãe, quero casar o mais rápido possível, quer a senhora queira ou não.
- Ingrata – gritava Clarice – Filha ingrata! Veja bem o que você está fazendo.
- Calma Dona Clarice. É melhor dialogar de forma equilibrada com sua filha.
- Calma que nada – respondeu Clarice rispidamente – E nada garante que a
senhora não esteja envolvida nisso com suas rezas e simpatias. De repente você
fez alguma coisa para minha filha se encantar pelo seu filho. Quem garante? Mas
se queria dar o golpe do Baú vai se dar mal pois Clara será deserdada. Esta foi a
última chance dela.
- Se acalme Dona Clarice. A senhora nesse estado alimenta nossos irmãos
invisíveis e sofredores que se deliciam com uma cena desse tipo. Entendo sua
fúria, mas mesmo que eu tivesse poderes, eu nunca manipularia o sentimento de
amor das pessoas. Nasci pobre e vou morrer pobre. Somos muito humildes Dona
Clarice. Sei que a senhora é Católica não é? Tem uma passagem muito bonita no
Sermão da Montanha que diz o seguinte: Bem aventurado os humildes, pois a
eles pertence o Reino de Deus.
Clarice após uma breve pausa de poucos segundos continuou:
- Não adianta mesmo eu ficar aqui né Clara. Você já se decidiu então?
- Sim mamãe. E vou falar mais: Vou me casar muito em breve. Sei que sou
menor e senhora vai impedir, mas me unirei a Genésio até completar os dezoito
anos e um dia eu regularizo minha situação. O que importa é que viverei com ele
como esposa.
- Casar? Você está louca – gritava Clarice – Vai abrir mão de tudo então?
Pois vou mudar o testamento chegando em São Paulo. Vou deixar de reconhecê-
la como filha. Você não terá mais nada a partir de agora.
- Sim mamãe. Vou me casar.. Quer a senhora queira ou não.
- Então vou embora. Nunca mais me procure. Esqueça que um dia você teve
uma mãe. Você escolheu esse ai para ser seu marido, então agora assuma.
Adeus!
- Adeus mamãe!
Clarice elegantemente entrou no Ford Touring Car Modelo 1.916 e foi embora.
Clara chorava bastante na sala após a partida da mãe. Dona Benedita chegou
perto dela e acariciava seus longos cabelos pretos. Após ter passado o momento
inicial do choro, Clara falou para Dona Benedita:
- Isso passa Dona Benedita. Eu escolhi esse caminho e há percalços pela
frente. Apesar de tudo ela minha mãe né? Fiquei sentida sim. Mas isso passa.
164
Carlos Eduardo Milito
- O tempo minha filha, é o santo remédio para muitas coisas. Você vai
superar sua dor em relação a isso também.
- Tenho certeza disso Dona Benedita.
Nos momentos de fúria de Clarice, dois integrantes dos Transeuntes das
Trevas estavam nas proximidades da cidade de Jundiaí e perceberam a energia
emanada daquele casebre. Então eles se aproximaram e se deliciaram com
aquele espetáculo. Nos momentos de maior ímpeto da conversa, os dois se
aproximaram de Clarice e a envolveram com uma névoa negra que os
acompanhava. Depois que Clarice partiu eles também foram embora vagando
sem direção.
165
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPÍTULO 43
166
Carlos Eduardo Milito
mais no sono. Somente quando o sol mostrava seus primeiros raios é que Ernesto
conseguiu adormecer.
/ / /
167
As Moradas e os Segredos de Maria
- Mas assim a gente não dorme – falou Genésio rindo – Mas gostei da idéia.
Mas será que minha mãe não irá acordar?
- Não se preocupe. Claro que não. Ela não vai acordar. Além do que prometo
me comportar – falava Clara com um sorriso malicioso.
- É verdade. E nem preciso ficar a noite inteira lá. Fico até você dormir e volto
para meu canto improvisado aqui na sala.
- Mas quem falou que vou dormir?
- Seja como for, não poderei ficar lá até o amanhecer. Eu voltarei para cá
antes do sol nascer.
Aquela havia sido a primeira noite de amor de Clara e Genésio. Os dois
estavam apaixonados e, sem saber, estavam fisicamente confirmando um amor
de começava em outras vidas. O laço entre os dois estava finalmente reatado. A
discrepância social, a diferença de raças, de costumes, e todas as diferenças dos
mundos de Clara e Genésio se igualavam naquela cena que se repetia no mundo
físico após mais de um século.
Os primeiros raios de sol se mostravam no horizonte enquanto Clara e
Genésio dormiam abraçados naquela pequena cama. Genésio então acordou
assustado pela claridade que se anunciava, deu um beijo na face de Clara que
dormia e se preparou para mais um dia de trabalho.
/ / /
168
Carlos Eduardo Milito
169
As Moradas e os Segredos de Maria
/ / /
170
Carlos Eduardo Milito
171
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPÍTULO 44
Pouco mais de uma semana havia se passado após a Morte de Joel e Ernesto.
Não se falava outra coisa na cidade de Jundiaí. A polícia trabalhava nas
investigações, mas pouco conseguia concluir. Pedro não queria se envolver em
depoimentos sem provas suficientes daquilo que desconfiava.
Logo após a morte de Joel, sua esposa, Inês e os filhos ficaram em choque,
então Pedro gentilmente se propôs a fazer tudo para que o funcionamento da
fazenda não fosse interrompido. Assim, aqueles primeiros dias se passaram. Os
funerais haviam sido realizados logo após os assassinatos e os negócios de Joel
ficaram sob a responsabilidade de Pedro. Na manhã daquela quarta-feira, Inês
chamou Pedro na sua bela casa que ficava na Fazenda.
- Bom dia Pedro. Pode sentar-se – falava Inês.
- Bom dia Senhora. Como tem passado?
- Enfrentando tudo com dificuldade. Agora tenho que ser pai e mãe para o
Junior e a Márcia. O menino eu não me preocupo muito, pois tem quinze anos,
mas a menina só tem doze e está sofrendo mais.
- Entendo, senhora.
- Pedro. Te chamei aqui porque eu quero te dar carta branca para tudo o que
você quiser fazer nos negócios que meu marido deixou. Você sabe que eu não
entendo muitas coisas, então a partir de agora você é quem irá tomar as decisões.
Apenas me notifique dos passos que for tomar.
- No que eu puder ajudar, farei da melhor maneira possível.
- Tenho certeza quanto a isso, Pedro. Você já está há dez anos por aqui e eu
sei que meu marido confiava em você.
- Estou sempre à disposição. O que eu puder fazer por vocês, farei com o
maior prazer.
/ / /
172
Carlos Eduardo Milito
/ / /
173
As Moradas e os Segredos de Maria
174
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 45
175
As Moradas e os Segredos de Maria
seja, a prática de algum benefício com algum empenho em favor do próximo, para
que então, o caminho da evolução fosse retomado.
Sua linguagem era um tanto quanto requintada de metáforas, o que depois de
transcrito, poderia dar margens a algumas interpretações. E através dessa
linguagem Maria começou a mostrar para as crianças a primeira parte do seu
segredo, ou então, o seu primeiro segredo. Enquanto ela falava, eram formadas
imagens na mente de cada uma das crianças que ali estavam. Ela começou a
descrever o chamado “Inferno”, o que aterrorizou as crianças. O que Maria fazia
naquele momento, era simplesmente descrever os setores mais obscuros do Vale
do Horror, com todos os pormenores dos sofredores que ali habitavam na
completa ignorância. Eram descritas por Maria a presença de fogo, seres
horrendos, gemidos por todos os lados, desespero que horrorizava a qualquer um,
e total pavor que pairava naquele ambiente.
A segunda parte do seu segredo mostrava como um ser que teve o destino do
chamado “Inferno” deveria fazer para conseguir sua libertação, ou seja, como um
ser desprovido do caminho da luz e da verdade deveria fazer para conseguir se
libertar dos piores setores do Vale das Trevas ou Vale do Horror. Maria citava a
devoção ao seu imaculado coração. A semente que ela plantava ali era para que
os habitantes da Terra praticassem a fé. Por vontade do Mestre dos Mestres,
Maria foi designada para dar uma prova ao mundo material onde fosse mostrado o
caminho da “salvação”. Começava a nascer a partir dali uma nova crença e uma
nova imagem de devoção por parte dos homens da Terra.
Maria ainda falava que a Guerra que assolava a Europa iria terminar, mas que
se os homens continuassem agindo da mesma forma, outra guerra pior haveria
nos próximos anos. Falava ainda de uma noite iluminada por uma luz
desconhecida que significava os efeitos dos artefatos dessa nova guerra. Isso
seria na verdade os efeitos da ação do próprio homem na Terra por todos os seus
atos errôneos. Entre uma palavra e outra, citou que Rússia deveria se converter
na fé, pois era lá o centro da guerra. Ao pedir a consagração da Rússia ao seu
imaculado coração e a comunhão reparadora nos primeiros sábados de cada mês,
Maria incumbia as crianças de passar ao mundo católico uma nova crença para
que o planeta Terra melhorasse como um todo. Somente após décadas é que o
efeito daquele contato do mundo astral com o mundo físico seria compreendido
pela humanidade.
A terceira parte daquele segredo, ou o terceiro segredo começou a ser
mostrado por Maria, quando surgiu na frente daquelas crianças, uma imagem em
três dimensões como se fosse um cenário montado para aquele fim. Os
espectadores astrais nas arquibancadas tinham a mesma visão das crianças. A
176
Carlos Eduardo Milito
primeira imagem que surgiu foi a de um anjo ao lado esquerdo de Maria com uma
espada em forma de fogo. Ele apontava essa espada para a Terra mostrando que
poderia incendiar tudo o que estivesse na sua frente. Só que da mão direita de
Maria saia um brilho que apagava essa chama. Esse mesmo anjo apontando sua
mão direita para a Terra clamava por três vezes a palavra “penitência”. Aquela
primeira cena transmitia a mensagem que os seres da Terra poderiam alcançar a
eliminação ou a minimização de uma possível tragédia pela destruição do mundo
através de sacrifícios voluntários pelo próximo.
Em seguida, as crianças assistiram como em um filme, uma cena onde um
homem vestido de branco parecendo um bispo, juntamente com outros com que
se apresentavam com trajes de religiosos, subirem uma montanha em direção ao
seu topo. Lá estava uma grande cruz de troncos grossos. Durante essa
caminhada, o homem vestido de branco se deparava com cadáveres nessa cidade
em ruínas. Ao chegar ao topo, aquele homem, prostrado de joelhos foi morto por
soldados. Isso aconteceu também para os outros que o acompanhavam bem
como para as outras pessoas de várias classes e posições ali estavam.
Por fim as crianças assistiram a representação de dois anjos com um regador
de cristal nas mãos recolhendo o sangue dos mártires para em seguida regar com
ele as almas que se aproximavam de Deus.
O que as crianças acabavam de ver, era uma representação figurada de uma
possível grande tragédia que poderia assolar o mundo se o tal pedido inicial do
anjo não fosse atendido pelos seres terrestres. Em resumo, o que era clamado ali
era a prática do bem incondicionalmente. O ódio deveria ser extirpado dos
corações humanos dando lugar ao amor universal. Para isso então, os seres
humanos não deveriam mensurar qualquer sacrifício ao próximo.
Aquela nova aparição foi sentida, ouvida e compreendida plenamente por
Lúcia, a menina mais velha. As outras duas crianças não tiveram a mesma
compreensão dela, apesar de presenciarem Maria. Lucia no passar dos anos
transcreveria essas três partes dos segredos em papel, e somente depois de vinte
anos revelaria aos católicos suas primeiras e segundas partes, preservando a
terceira parte por muitos anos deixando a cargo da Igreja Católica sua revelação.
Os segredos estavam revelados as crianças, mas somente no decorrer dos
anos é que eles seriam corretamente interpretados e seguidos. Mas o grande
segredo que aquelas crianças ainda não sabiam era sobre a identidade da ilustre
senhora das aparições. Maria ainda não tinha dito quem era, pois só faria isso em
outubro. Como da vez anterior, ela então se despediu e começou a elevar-se
flutuando cada vez mais até desaparecer no horizonte.
177
As Moradas e os Segredos de Maria
178
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 46
“Vale do Horror”
/ / /
179
As Moradas e os Segredos de Maria
Aquilo que ele vivenciava ocorreu durante horas, mas era a nítida impressão
de semanas. De repente, Ernesto se viu em um ambiente diferente. Sem tempo de
sentir algum alívio, ele começou a se ver torturado por um grupo de cinco homens
com aparência medonha iguais a verdadeiros monstros que pareciam seres
criados por laboratório. Com a face e o corpo negro, estes seres estavam cobertos
de pelos por todo o corpo e envoltos em chamas ardentes. Estavam também
rodeados por uma densa fumaça negra. Sonoras vozes estridentes e gemidos de
dor eram ouvidos incessantemente e pareciam vir de toda a parte.
Ernesto tentando desesperadamente se defender percebeu que estava sem a
perna esquerda. No seu pesadelo sem fim ele percebia que cada uma das
criaturas monstruosas possuía uma lança de fogo nas mãos e partiram para o
ataque. Estremecido de pavor, ele foi atacado pelos vorazes senhores na região
abdominal e sentiu dores insuportáveis. Caiu ao chão e meio cambaleante
engatinhou alguns passos como criança e naquele chão imundo se deparou com
uma pequena poça de água que refletiu a imagem do seu rosto. Ele se viu então
completamente deformado, tal como os companheiros que acabavam de lhe
atacar.
/ / /
O primeiro segredo de Maria onde foi revelada a visão do inferno estava sendo
vivenciado por Ernesto e Joel. Cada um deles teve seu destino traçado pelos seus
atos e suas condutas na recente vida que acabavam de abandonar. O sofrimento
deles nesse intervalo celestial seria penoso e duradouro. Diferentemente da
interpretação de algumas crenças terrestres, nada ali era irreversível. Não haveria
justiça do grande Arquiteto do Universo se os erros de uma só existência terrestre
fossem julgados pela eternidade.
Os dois sofredores só teriam novas chances de retomar o caminho da verdade
se seguissem o segundo segredo de Maria. Para isso, deveriam voltar a Terra
com uma nova roupagem carnal seguindo os ensinamentos do Mestre dos
Mestres na prática incondicional do bem. Em outras palavras, de acordo com a
visão ortodoxa das sagradas escrituras “O tal sacrifício voluntário ou penitência
seria o remédio para a remissão dos pecados”.
180
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 47
181
As Moradas e os Segredos de Maria
para o processo de deserção. Com muita tristeza Clara diz ter optado por ficar
com seu amor. Emilia contava ainda que Clarice comentava para a sociedade
paulistana que a filha resolveu morar em Paris definitivamente.
- É minha querida irmã. Eu sei que para mamãe eu morri. – comentou Clara.
- Já te falei Clara. Esquece isso e viva sua vida.
- Nós nunca vamos nos entender mesmo. Até na fazenda que era do papai
estamos proibidos de entrar. Não há problemas minha querida irmã. Estamos tão
felizes que até um filho a gente já pensa em ter.
- Mas já? Não é cedo? – questionou Emília
- Claro que não. Você sabe que eu sempre gostei muito de crianças. Além do
mais, eu gosto de ser ativa e não ficar parada. Eu pensava até em arrumar algum
trabalho pela vizinhança, mas Genésio acha que se é para eu trabalhar para
outras pessoas em serviços domésticos eu posso ficar muito bem em casa e
então, eu penso que uma criança seria ótimo para eu cuidar.
- Estou espantada com a mudança radical que sua vida está tomando Clara.
Não sei o que falar. O que dona Benedita acha disso?
- Converso bastante com ela. Ela também acha cedo, mas diz que quando
chegar a hora, teremos muita alegria com essa criança. Diz que será uma alma de
muita luz.
- Que bom, Clara. Fico contente que vocês estão felizes.
A agradável conversa seguiu entre os quatro que ali estavam quando Dona
Benedita chegou e saudou a todos. Depois dos cumprimentos ela alegremente fez
uma brincadeira:
- Quando vocês vierem aqui, apareçam também na minha casa, afinal não é
tão longe daqui.
- Perfeitamente Dona Benedita – falou Laerte com enorme sorriso – Lógico
que nós iríamos passar lá antes de irmos embora.
- Acho bom mesmo. Vocês sabem que moram no meu coração. E o Leandro,
meu filho? Como ele está?
- Melhorou bastante, Dona Benedita. Continuamos seguindo seus conselhos.
- Muito bem. Isso é ótimo. Na verdade vocês nunca podem deixar de praticar
a fé de alguma forma. Já que começaram por uma necessidade, continuem agora
por amor ao próximo. Continuem fazendo isso incondicionalmente.
- Faremos nossas rezas sim, Dona Benedita.
A agradável conversa seguia tarde adentro. Ao cair da tarde um cocheiro da
região levou Laerte e Emília a estação de trem da cidade. Eles prometeram visitá-
los mais vezes sem que Clarice soubesse. Chegariam a São Paulo no final da
noite.
182
Carlos Eduardo Milito
/ / /
183
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 48
184
Carlos Eduardo Milito
Antero observava que Dona Dora juntou as mãos e os dedos e sem seguida
levou os indicadores a testa para depois fechar os olhos. Ele notava que por
debaixo daquele lençol ele estava completamente nu, diferentemente de quando
havia chegado e se deitado no local. Dona Dora continuava de olhos fechados e
conforme os minutos iam passando, o ambiente começava a ganhar um agradável
odor de rosas e uma densa névoa da cor branca. Lucas que mantinha-se quieto
observando a cena, percebeu que Antero adormecia. Dona Dora, voltou as suas
mãos na posição inicial e disse para Lucas:
- Houve vezes que fizemos esse trabalho com a sala lotada, e quando isso
ocorre, seriam necessárias mais pessoas para me ajudar. Como só temos o
Antero aqui, farei o trabalho sozinha enquanto você me observa. Agora, nesse
sono inicial de Antero, farei o trabalho de preservação da suas memórias de vidas
passadas e dos intervalos celestiais. Veja só.
Dona Dora, como acabava de fazer, juntou novamente as mãos e os dedos e
sem seguida levou os indicadores a testa para depois fechar os olhos. Surgiu
então, um feixe de luz branco que vinha além do teto daquela sala, e ia em
direção a testa de Antero. Aquilo durou por vários minutos enquanto Antero
dormia. Novamente Dona Dora voltou suas mãos na posição inicial para explicar a
Lucas:
- Nesse momento a memória de Antero fica no nível do inconsciente. Todas
as suas aptidões, suas características, sua índole, sua personalidade ficam
preservados, mas nesse novo corpo, é como tudo se começasse de novo. Ele terá
que aprender a falar, a andar, ler, escrever e todas as coisas inerentes aos seres
carnais. Sei que você já sabe tudo isso, mas aqui vivemos sempre nos reciclando.
Por fim Dona Dora, voltou as mãos na posição de concentração, para que a
última parte da miniaturização fosse feita. Outro feixe de luz surgiu como se fosse
do teto, só que dessa vez da cor prata e com o triplo da largura do anterior. Aquela
cena durava bem mais que a anterior. Dona Dora permanecia concentrada de
olhos fechados, e em posição de como se estivesse fazendo uma prece. Somente
após uns quinze minutos é que o cenário mudou. O corpo astral de Antero
desapareceu debaixo daquele lençol e o que restou lá foi apenas um ponto de luz
que tinha um intenso brilho como se fosse uma estrela que estivesse na frente dos
dois que ali estavam. Dona Dora voltou a sua posição original e continuou suas
explicações:
- Estamos prontos para partirmos. Vamos nós dois mais o Antero para o
veículo astral que nos aguarda na frente deste prédio. Houve vezes que nossas
expedições saiam daqui cercadas por vários pontos luminosos, fazendo disso um
lindo espetáculo. Hoje nosso trabalho é individual, pois há apenas o ponto
185
As Moradas e os Segredos de Maria
luminoso do Antero que irá nos acompanhar nessa viagem. Mas o espetáculo não
deixa de ser maravilhoso, pois a intensidade do brilho desse ponto luminoso
contagia qualquer um de nós.
Enquanto Dora e Lucas caminhavam em direção ao veículo astral, o ponto
luminoso do Antero acompanhava Dona Dora, tal como uma estrela cadente. Por
fim, os três entraram na nave e partiram em direção a Terra.
/ / /
186
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 49
187
As Moradas e os Segredos de Maria
188
Carlos Eduardo Milito
também foi impulsiva. Mesmo que ela venha a te agredir com palavras ou atitudes,
perdoe-a. Esta é a oportunidade que você terá nessa vida, minha filha.
Todos prestaram muita atenção nas palavras de Dona Benedita. Aquilo tudo
não deixava de ser um aprendizado para todos que ali estavam. Dona Dora ficou o
tempo todo com suas mãos na cabeça de Dona Benedita enquanto as palavras
fluíam com aquela facilidade. Aquela tarde seguiu muito agradável com a
conversa dos cinco.
Na volta para São Paulo, dentro do Trem que trafegava na ferrovia São Paulo
Railway de Jundiaí para São Paulo, Emília conversava com Laerte.
- Fico impressionada com as atitudes de Clara, Laerte. Ela tem uma
personalidade forte.
- É uma característica dela sim. Mas pense que por outro lado, uma criança
fará sua irmã amadurecer ainda mais. A maternidade faz bens às mulheres.
- Também acho. Mas por outro lado eu nunca imaginei que Clara casasse
antes de mim. Ainda mais ficar grávida.
Lucas e Dona Dora acompanhavam os dois dentro do trem. Naquele momento
Lucas colocou as duas mãos sobre a cabeça do seu irmão que nada percebia.
- Para casar você precisa namorar primeiro, Clara – disse Laerte entre
discretas gargalhadas – E com certeza deve ter alguém interessado em você.
- Imagina Laerte. Mesmo que eu tivesse alguém não sei se eu teria cabeça
para essas coisas. Tudo o que aconteceu ainda é muito recente. E tem mais:
Depois que Lucas se foi, nunca mais tive uma vida social. Não conheci mais
ninguém. Só tenho você como amigo homem e confidente.
- Você sabe Emilia que pode contar comigo sempre que precisar.
- Realmente Laerte, eu me sinto muito bom com você. Mas como você pode
ter certeza que há alguém interessado em mim?
O silêncio pairou por alguns instantes e o olhar de Laerte dizia tudo. Lucas no
mundo astral estava querendo essa aproximação. Então ele colocou sua mão
direita sobre a cabeça de Emília que disse:
- Não precisa dizer nada Laerte. Você acha que eu não me sinto incomodada
com essa situação? Eu ia me casar com Lucas. De repente tudo mudou. Você foi
entrando na minha vida e estou realmente embaraçada.
- Não podemos viver em função do passado Emília. Tenho certeza que onde
Lucas possa estar, ele nos entenderá. A vida aqui continua para nós. Se há algo
mais do que amizade, acho que temos que seguir nossos rumos. Não é verdade?
- Não sei Laerte. Mas dessa forma que você fala, com esses seus gestos e
entonação de voz está me fazendo enxergar coisas que eu ainda não havia
percebido. Que culpa temos, se esta brotando um sentimento novo para nós?
189
As Moradas e os Segredos de Maria
Tenho que admitir sim Laerte, que gosto de você muito mais do que para ser um
amigo.
- Faço minhas as suas palavras, Emília.
Laerte e Dona Dora estavam felizes com o começo do entendimento dos dois
que começavam a namorar naquele dia. Clarice ficaria radiante ao saber a notícia
no final daquele sábado. Lucas e Dora abandonaram o trem e seguiram para a
casa de Dona Lourdes e Afonso. Sem ser percebido, Lucas chegou
carinhosamente perto dos seus pais e procurou não entrar nas emoções que
pudessem atrapalhar aquela missão. Ouviu um ou outro diálogo entre os dois e
também viu seu irmão Leandro que parecia definitivamente ter entrado nos eixos.
Depois partiram felizes de volta à Morada Universo Solar.
190
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 50
Na manhã daquela segunda-feira, Mestre Jonas foi avisado que Maria não
estaria na Cova da Iria conforme havia sido previsto. Alguns dos habitantes do
mundo astral já sabiam dos intentos do administrador de Ourém, que planejava o
seqüestro das três crianças por temer que elas guardassem algum segredo de um
possível acontecimento político para aquela época. Momentos antes daquela que
seria a quarta aparição, o prezado sujeito prendeu as crianças e as manteve sob
sua custódia, sem comida, e com criminosos comuns. Tentou exercer forte
pressão para conseguir alguma informação. Como eles nada revelaram, o sujeito
acabou por desistir da idéia e devolveu as crianças para suas famílias. Só que
então já passava da hora combinada.
Maria então estaria presente após dois dias só que em outro local. Sua
aparição seria em Valinhos, por onde as crianças estariam na quarta-feira. Todo o
preparo para a cena vindoura começava a ser feito pelos serventes da Morada
Universo Solar em função dessa nova data. Como nos meses anteriores a
arquibancada em forma de flores, além de todos os outros cuidados para sua
recepção estavam sendo providenciados. Os espectadores da Terra não estariam
presentes, no entanto a platéia astral estaria repleta e magnífica.
Na quarta-feira dia quinze de Agosto, surgiu no céu de Valinhos uma claridade
que ofuscou a vista das três crianças que por lá estavam. A névoa branca surgiu
no meio da claridade e era acompanhada por um feixe de luz. Em seguida, surgiu
Maria com o mesmo semblante da última aparição.
Como da última vez, após o questionamento inicial da menina Lúcia, A voz
doce e encantadora de Maria frisava a necessidade das crianças continuarem a
rezar o Terço para que a paz fosse alcançada na Terra. Ela disse também para
que as crianças continuassem a voltar a Cova de Iria todos os dias treze até o
mês de Outubro. Frisou sobre o milagre que faria em Outubro para que todos
acreditassem nela.
A menina Lúcia questionava o que fazer com o dinheiro que muitas pessoas
deixavam na Cova de Iria e teve como resposta para que eles fizessem dois
andores onde cada um deles fosse levado para a festa da Nossa Senhora do
Rosário por quatro crianças cada. Um deles pelas duas meninas que ali estavam e
mais duas outras meninas e o outro andor pelo menino Francisco e mais três
outros meninos. Maria falava que com o dinheiro restante as crianças deveriam
ajudar na construção de uma capela naquele lugar.
191
As Moradas e os Segredos de Maria
Lucia como das vezes anteriores fazia o papel de interlocutora. Fez então
alguns pedidos de curas para pessoas conhecidas e Maria respondia que algumas
delas seriam curadas se praticassem a fé rezando o terço. Mencionou novamente
a necessidade do Sacrifício ou Penitência, ou seja, a prática de algum benefício
com algum empenho em favor do próximo, para que então, o caminho da
evolução fosse retomado. Dessa vez Maria ao falar do sacrifício mencionou o
inferno, que era para onde seriam levados os pecadores se não houvesse quem
se sacrificasse por eles. O sentido figurado de suas palavras dava margens a
interpretações extremas onde eram vislumbrados um céu e um inferno como
opções definitivas do destino dos homens da Terra.
Como da vez anterior Maria então se despediu e começou a elevar-se,
flutuando cada vez mais até desaparecer no horizonte.
192
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 51
193
As Moradas e os Segredos de Maria
/ / /
Enquanto isso no Vale das Trevas, Mestre Zuzo chegou para Albuquerque e
disse:
- Você vem trabalhando para a nossa comunidade com afinco mesmo depois
que Joel foi morto na Terra. Você anda bem obediente né Marcos?
- Você sabe Mestre Zuzo, que estou aguardando a oportunidade de me ver
frente a frente com Joel. Por isso prefiro ser um rapaz cordato com vocês e os
serviços que vocês fazem.
- E depois que ver Joel? E depois que ver Ernesto?
- Continuarei aqui com vocês. Pretendo segui-los pela eternidade. E para
poder ter esse direito estarei aqui com vocês. E por falar nisso, já faz um mês que
eles estão do lado de cá e até agora nada de vê-los.
- Tanto Joel como Ernesto estão como vermes rastejantes em um lugar
imundo e asqueroso e medonho. Consegui conversar hoje com o Mestre Lúcifer
que é responsável pelo Vale do Horror, que é onde eles estão, e ele permite sim a
sua visita lá, mas para isso ele quer algo em troca.
- O que ele quer exatamente?
- Ele deixa você obsediar a vontade tanto Joel como Ernesto, mas depois
quer que você fique lá por seis dias tal como os dois.
- Mas por que isso?
- Da mesma forma que nós, eles se alimentam vendo seres de outras
freqüências sofrendo com ataques de forças mais baixas. Se você permitir isso
por um curto período de tempo eles estarão se deliciando com isso. O problema é
que você enfraquecerá e sofrerá os mesmos efeitos que seus dois companheiros
estão sofrendo.
- Não tem outra forma de eu visitar Joel?
- Creio que não.
- Serão só seis dias né? Mas toda a vez que eu quiser perturbá-lo será essa
a troca?
- Pelo que eu entendi, sempre.
- Então o que adianta eu continuar aqui com vocês?
- Ora ora, Marcos. Você continua petulante como sempre. Tente o seguinte:
Faça um teste! Fique a vontade para obsediar Joel e Ernesto como bem entender
e pague com os seus seis dias lá. Depois me diga. Eu sei de pessoas minhas que
fizeram isso e demoraram muito para se recuperar. Voltaram totalmente inertes e
sem forças para nada. Eu tive pessoas ainda que não conseguiram voltar por que
ficaram aprisionadas pelos homens de Mestre Lúcifer.
194
Carlos Eduardo Milito
- Desculpe Mestre Zuzo. Mas tenho que tentar. Fico seis dias lá mas não vou
perder a oportunidade de ficar frente a frente com Joel e aquele falso ajudante de
piloto.
- Você quem sabe, Marcos! Você já está avisado!
/ / /
No dia seguinte pela manhã, Albuquerque foi levado por Magrão e Zé Trovão
ao temido Vale do Horror. A mesma escadaria usada outrora ao fundo da sede era
o caminho que levaria Albuquerque até lá. Nos primeiros dez minutos, os três
subiram juntos os duzentos degraus de terra batida até o local plano que já era
conhecido por todos. Albuquerque conseguiu perceber que lá era muito similar ao
local que foi encontrado quando chegou ao Vale das Trevas. A única diferença é
que ao lado oposto de onde ele estava, havia uma única saída que era uma
espécie trilha cercada por vegetações secas e cipós secos e com um aspecto
tenebroso. Zé Trovão falou para Albuquerque:
- Agora é por sua conta. Nós vamos voltar. Você deverá seguir essa trilha
caminhando por um bom tempo até sentir a paisagem mudar completamente.
Você saberá a hora que chegou ao seu destino. Boa sorte!
- Até breve, pessoal. Deixa comigo então!
- Se você conseguir voltar, até breve – falava Zé Trovão que olhava para
Magrão que dava gargalhadas – Ou até nunca mais!
- Não tenho medo! Para me ver frente a frente com Joel eu encaro qualquer
desafio. Até breve, rapazes.
Agora Albuquerque estava só. Ele começava então a caminhar naquele lugar
ermo e com a mesma falta de luminosidade intrínseca daquela região. Nos
primeiros minutos tudo parecia muito monótono, mas por vez ou outra ele sentia
uma espécie de rápido calafrio. Era como se passasse um morcego rapidamente
de um lado para outro em frente a ele. Depois de aproximadamente uns quarenta
minutos o cenário já estava bem parecido com aquele que Joel vivenciou no seu
primeiro minuto de consciência após deixar a Terra. Via-se em um ambiente muito
escuro e com um odor muito desagradável. Percebia seres esparramados como
indigentes por aquele chão imundo. As expressões de cada um deles eram as
piores possíveis. Um ou outro se rastejava a sua frente com gemidos de dor e
grito de horror.
De repente Albuquerque se deparou com Joel, jogado no chão, com roupas
imundas, barbas compridas e uma aparência péssima. Ele era a fiel representação
de um mendigo. A reação inicial de Albuquerque foi com uma sarcástica
195
As Moradas e os Segredos de Maria
gargalhada que pareceu não ter fim. Joel observava inerte com o olhar perdido a
presença do seu inimigo. Após se deleitar de prazer Albuquerque fechou seu
semblante e entoou uma voz brava:
- Está contente com sua nova casa Joel?
O silêncio pairou no ar. Joel não respondia. Desde sua chegada ele vinha
sofrendo bastante e não conseguia se comunicar com mais ninguém por ali.
- Não quer conversar comigo então?. Tudo bem. Vou falar assim mesmo pois
terá que me ouvir. Você planejou o meu fim e fui lá te buscar desgraçado. E agora,
veja só onde você veio parar: Nas profundezas do inferno! Não pensa que você
vai ficar impune. Agora vou te atordoar pela eternidade! E o ajudante de piloto de
araque que você contratou? Cadê ele? Saibam que vocês não terão mais sossego
por aqui! Sempre que eu puder estarei aqui para atordoá-los.
Joel não respondia, mas olhava o seu inimigo com um ar de indiferença. Aquilo
enfurecia ainda mais Albuquerque que falava em um tom ainda mais ríspido:
- Assassino! Assassino! Você planejou tudo Joel. Tirou minha vida! Tirou
minha família de mim! Tirou meu poder! Tirou meus bens! Eu jamais te perdoarei!
E o pior seu desgraçado, foi que você envolveu mais duas pessoas nesse seu
plano absurdo. Assassino! Assassino!
Joel continuava calado e mostrava agora um semblante triste para
Albuquerque que continuava com suas palavras:
- Bem-vindo ao pior setor do Universo! O local que estou também é péssimo,
mas este aqui tenho que admitir que é muito pior. Por tudo que você foi, você
merece, Joel.
Albuquerque ficava atordoando Joel que por vezes até tentava falar alguma
palavra, mas não conseguia. As horas foram passando e em um determinado
momento Albuquerque foi tomado bruscamente pelos braços e arrastado dali por
dois sujeitos que aparentavam ser homens da caverna. Quando ele se refez do
susto surgiu na sua frente um homem tenebroso, com o rosto desfigurado, roupa
toda preta, e uma voz horripilante. Esta figura estava toda envolta em chamas
que, como se saísse do próprio corpo, era acompanhada por uma fumaça preta.
- Eu sou o Mestre Lúcifer. Você que é o homem de Mestre Zuzo?
- Sim senhor! Sou eu mesmo!
- Por que veio no meu território?
- Fui assassinado por uma pessoa que está aqui e eu precisava vê-la.
- Você podia deixar que nós cuidássemos disso. Eu odeio visitas de pessoas
de outras freqüências por aqui. Mestre Zuzo sabe disso, mas ele insistiu.
- Desculpe Mestre Lúcifer. Então eu me vou agora e está tudo certo. Não te
aborreço mais. – falava Albuquerque amedrontado com a figura de Mestre Lúcifer.
196
Carlos Eduardo Milito
- Mas quem falou que você vai embora agora? – disse Mestre Lúcifer em
meio a uma tenebrosa gargalhada – Você quis vir, então ficará como meu
prisioneiro por uns dias. Eu avisei Mestre Zuzo.
- Eu sei. Eu concordei. Ficarei a sua disposição! Afinal serão só seis dias
mesmo não é?
- Isso é o que eu falei para ele – disse Mestre Lúcifer novamente em meio a
uma tenebrosas gargalhadas – Por mim, ficaria meu para sempre. Mas como a
sua freqüência é um pouco melhor do que a dos meus outros escravos, quem
sabe você não consegue se libertar?
Albuquerque entrou em pânico. Aquele lugar era medonho. O Mestre que
estava na frente dele era difícil de olhar. As criaturas eram uma mistura de
humanos com pedaços de animais. Havia desde sofrimento de alguns, percebidos
por entre gemidos, até sarcasmo de outros. O preço por ver Joel estava sendo
caro demais. Por fim, Mestre Lúcifer falou:
- Marcos, você ainda está melhor do muitos aqui. O tal do Joel chegou sem
voz, e o tal ajudante de Piloto sem uma das pernas. Você pelo menos está inteiro
– falava Mestre Lúcifer com a mesma gargalhada.
Albuquerque resolveu acatar as ordens, pois não teve saída. Não bastou muito
tempo para ele ter as mesmas sensações vivenciadas por Joel e Ernesto. Seu
desespero aumentava. A sensação de enjôo era constante. Ele então ficou jogado
no chão tal como os outros, e recebia desagradáveis visitas de tudo quanto era
espécie de criatura. Diferentemente de Joel e Ernesto que já estavam lá havia um
mês, o pesadelo para ele só começava.
197
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 52
198
Carlos Eduardo Milito
- Acho que posso entender a grandeza da missão que vocês terão pela
frente.
- Temo que você não compreenda completamente meu querido. Plínio irá
antes e eu continuarei meu trabalho aqui por mais algum tempo. Nesses anos
vindouros tentarei interceder por Marcos, assim como fiz por Plínio. É necessário
extirpar o ódio do coração do meu filho. Ele está em uma zona de baixa freqüência
e nesses últimos dias tem estado em um lugar pior ainda. Vou tentar fazê-lo
enxergar o caminho da luz e da verdade. A idéia é que ele tenha um retorno à vida
carnal como filho meu e de Plínio novamente. Então o quanto mais ele despertar
nesse intervalo celestial, mais preparado ele estará para enfrentar os percalços da
missão que virá.
- Que coisa Olga. Estou comovido com essa estória. Você será mãe dele
novamente na sua próxima vida na Terra.
- E o que você não sabe ainda meu querido Fabrício, é que há mais dois
seres nessas zonas de baixa freqüência que inclusive foram responsáveis pela
prematura partida de Marcos para o mundo astral, e eu, tenho rogado ao meu
Governador que eles venham a nascer na minha família como irmãos de Marcos.
Assim eles também seriam meus filhos e teriam uma grande oportunidade de se
perdoar entre si e galgarem seus degraus na escala evolutiva.
- Louvado seja o grande Arquiteto do Universo por permitir a pluralidade das
existências e a chance do recomeço minha querida Olga. Os laços eternos são
uma dádiva de Deus.
- Louvado seja ele por permitir também para mim e para o Plínio uma tarefa
dessa grandeza. Será uma missão de muitos percalços e sofrimentos, no entanto
de grande valia para vida maior.
/ / /
Naquele manhã Madalena chega a sua casa sabendo que Lucas estaria por lá.
Ela estava acompanhada de Estela que havia acabado de deixar o Centro de
Recuperação do Palácio da Cura.
- Lucas, conforme já te falei aqui está Estela. Ela agora irá ficar aqui
conosco. Irá ocupar o lugar deixado por Antero.
- É com muita alegria que nós vos recebemos Estela – disse Lucas
sorridente – Seja bem-vinda.
- Vocês todos são ótimos. Sou muito grata por tudo. Desde que vocês dois
foram me buscar não tenho palavras para agradecer. E no Palácio da Cura, me
deparei com pessoas sensacionais como Olga e Fabrício. Obrigado a todos.
199
As Moradas e os Segredos de Maria
- Sem cerimônias Estela. Todos nós aqui fazemos nosso trabalho com amor.
Não tem nada que agradecer – disse Lucas sorrindo.
- Quero retribuir de alguma forma tudo o que vocês estão fazendo por mim.
- Tudo tem o seu tempo Estela – disse Madalena – Em breve você irá nos
ajudar nas nossas missões de auxílio pela Terra. Chegará o momento adequado
para isso.
- Já estou ciente que aqui tudo tem que esperar. Há poucos dias minha Tia
Marta foi dar o ar da graça no Centro de Recuperação do Palácio da Cura. Foi o
dia mais feliz desta minha nova vida.
- Fico feliz Estela. Soubemos da sua ansiedade em querer ver sua tia, pois
Olga nos contou. Você notou então que tudo aqui tem o seu tempo, não é verdade
Estela?
- Certamente Madalena. Certamente.
Depois daquela agradável conversa, Lucas soube por Madalena que Paulo
Ribeiro estava alojado em uma das casas não muito distante dali. Paulo também
aguardava um trabalho, pois havia tido uma boa recuperação e desde o começo
da semana quando foi dado por encerrado o seu tratamento, sentia-se preparado
para ser útil em algum ofício. Ele estava agora em uma casa idêntica a de Lucas
em companhia de um moço e outra moça. Desde sua chegada a Morada Universo
Solar, ele ainda não havia tido a oportunidade de reencontrar Lucas que até
participou da missão de sua busca, mas as circunstâncias impediram o contato
frente a frente. Lucas então foi fazer uma surpresa para e encontrar o amigo.
- Olá Paulo. Como tem passado?
- Lucas! Que bom vê-lo. – falava Paulo com água nos olhos – Quando eu
estive em tratamento, Fabrício me disse que você trabalhava nesta morada e
inclusive me acompanhou quando cheguei. Naquela ocasião não pude percebê-lo.
- Logicamente, Paulo. As coisas não acontecem por acaso. Você necessitava
de um maior equilíbrio para poder reencontrar aqui na vida astral alguém que você
teve um recente contato na vida carnal.
- Acho que você tem razão Lucas. E você? Como está?
- Muito feliz com trabalho daqui. A cada dia que passa, entendo um pouco
mais os pormenores da vida maior. Em um primeiro momento, podemos ficar
confusos e até relutarmos sobre os porquês das coisas, mas a sabedoria nos vem
em mente com o passar do tempo, e tudo é superado.
- Espero chegar nesse nível, meu amigo Lucas. Assim como você, eu era
bem jovem na Terra, e por vezes não consigo aceitar ainda o que aconteceu
comigo. Por que nosso avião explodiu?
200
Carlos Eduardo Milito
201
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 53
Na noite daquele sábado, Clarice fez questão de fazer uma festa de noivado
além daquilo que Laerte e Emília desejaram. Ela chamou amigos da alta
sociedade, pessoas influentes da época e outros figurões. Aproveitou a cerimônia
para mostrar a todos que havia superado a morte do marido e de quebra, sua filha
mais velha estaria bem encaminhada com uma família tradicional dona de um
próspero comércio de roupas.
Quando uma amiga ou outra perguntava sobre Clara, Clarice dizia que sua
filha estaria em Paris e ficaria lá por alguns anos. Dona Lourdes, a pedido de
Laerte, nem tocava no assunto Clara para Clarice. Desde quando Clara decidiu
partir, Laerte instrui sua mãe para que ignorasse completamente o assunto para
poupá-las de discussões e até por em risco a amizade das duas senhoras.
Tudo transcorreu normalmente e os jovens se presentearam com as alianças e
já comunicaram que a data do casamento seria vinte de outubro daquele ano. O
acontecimento seria aguardado com muita expectativa por todos.
/ / /
202
Carlos Eduardo Milito
/ / /
No dia seguinte pela manhã, Clarice acordava na mansão com a filha, muito
satisfeita com a festa de noivado da noite anterior. Tudo havia saído conforme
planejado. Muita pompa, muito brilho, e muita pose por parte dela, apesar da
família Silveira não ter o poder financeiro que ela gostaria que tivessem.
Laerte logo foi ao encontro de Emília e os dois conversavam:
- Como passou de ontem para hoje meu amor? – perguntou Laerte
- Passei bem. Minha única tristeza é a ausência de Clara – respondeu Emília
- Temos que aprender a conviver com isso, querida. Nós temos ido todos os
sábados para lá sem sua mãe saber. Só não pudemos ir ontem por causa do
nosso noivado.
- Eu sei da sua boa vontade Laerte, mas fico triste com essa estória. De nada
adianta mamãe freqüentar assiduamente a sua igreja.
- A situação entre ela e Clara é difícil sim, e ainda mais agora com sua irmã
grávida! Não vejo como as duas poderiam se reaproximar.
- Esquece isso Laerte! Você reparou que Clara está bem resolvida com esse
assunto. O convívio dela com Dona Benedita esta lhe fazendo bem. Ela parece
estar conformada com isso, e se mamãe souber ou não que ela espera um filho,
isso para ela não importa.
- Melhor assim, Emília. Mas no que depender de mim para ajudar, farei com
o maior prazer.
- Obrigado pela suas palavras, querido Laerte.
203
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 54
Albuquerque já tinha perdido a noção dos dias que estava sob o comando de
Mestre Lúcifer. Já passavam dezessete dias desde sua chegada e ele ainda não
havia conseguido se desvencilhar daquele lugar. O pesadelo era constante. Não
havia uma luminosidade que pudesse distinguir o dia da noite. Tudo parecia ser
muito sombrio e sofrimento de Albuquerque tirava qualquer força para que ele
pudesse reagir.
Na manhã daquela sexta-feira, Olga recebeu a permissão do Governador do
Palácio da Cura para poder interceder pelo seu filho Marcos Albuquerque. Ela,
juntamente com mais três serventes daquele Palácio, estariam em uma expedição
para tentar dar alguma sustentação ao ser sofredor. Chegaram lá com um veículo
astral e não eram percebidos por ninguém. Conforme eles caminhavam por aquela
paisagem tétrica, uma névoa branca os acompanhava. Aquilo, não deixava de ser
uma proteção que eles tinham por estar em um local de muito mais baixa
freqüência do que eles estavam acostumados. Chegaram enfim perto de Marcos
que nada percebeu e continuava jogado no chão como um indigente. Olga então
estendeu sua mão direita e colocou sob a cabeça de seu filho:
- Querido Marcos. Não poderei te levar para minha morada mas é preciso
que você reaja! Você tem condições de sair daqui sim meu filho. Pelo menos por
ora você poderá voltar do local de onde você partiu. Reaja com o poder da mente
e diga que quer sair. Use todas as suas forças meu querido. Que pena que você
sempre desprezou os poderes do nosso criador vivendo no ceticismo. Mas use ao
menos o poder da mente que não deixa de ser uma essência divina. Reaja
Marcos! Nós da Morada Universo Solar viemos em Missão de Auxílio. De todos os
seres que habitam hoje esse setor, somente você é que tem atributos de poder
sair daqui. Reaja, meu querido, Reaja!
Após aquelas palavras, Olga permaneceu com as duas mãos juntas na altura
da face e com os olhos fechados por pelo menos uns dez minutos. A névoa
branca que rondava o grupo de Olga começou a ganhar maior densidade. Uma
claridade parecia tomar conta daquele ambiente. Até o odor desagradável que era
intrínseco de lá pareceu dar lugar a suaves aromas silvestres. Passados alguns
minutos, a expedição da Morada Universo Solar foi embora de lá.
Albuquerque percebeu uma sensação um pouco diferente. Parecia se sentir
mais forte. Não se afligia e nem se amedrontava com as coisas feias que via por
lá. Agora um pouco mais refeito ele se lembrou de quando usou seus poderes
204
Carlos Eduardo Milito
/ / /
De volta ao Palácio da Cura, Olga foi visitar o seu paciente especial. Plínio
apresentava uma excelente recuperação. Já tinha consciência de muitas coisas,
pois havia passado quase três meses desde a sua chegada. Em breve seu
205
As Moradas e os Segredos de Maria
tratamento estaria encerrado. Ele já sabia que o seu filho Marcos Albuquerque se
encontrava no plano astral e viva em regiões de baixa freqüência. Sabia também
que Olga estava tentando ajudá-lo na medida do possível. Os dois então
conversavam:
- Novidades do nosso filho?
- Querido Plínio, não se exalte. Tudo caminha conforme as vontades do
grande Arquiteto do Universo. No que eu puder interceder por ele, saiba que eu
faço. Você não pode ficar apreensivo com esse assunto.
- Eu sei Olga. Mas você sabe que é difícil eu me controlar. Sei que só vou
poder vê-lo quando eu tiver em perfeito equilíbrio. Estou ciente de como tudo
funciona por aqui, mas você tem que entender que gosto de saber as notícias
sobre ele. Só isso. Mesmo que as notícias não sejam boas.
- O meu querido. Só estamos querendo te poupar para que você fique bom o
quanto antes. Estas possíveis desavenças só atrapalham o seu progresso.
- Não há problemas meu amor. Já percebi que a dor também é um
aprendizado. Estou preparado. Me diga. Como ele está?
- Pois bem Plínio. Você tem que saber mesmo. Eu havia te falado que ele
está em regiões de baixa freqüência assim como você ficou por muitos anos. É
isso que vem acontecendo com ele sim, só que ele se aventurou em zonas mais
sombrias ainda por cultivar muito ódio e então tentamos intervir para que ao
menos ele retornasse a região original. E isso nós conseguimos.
- Como somos cegos Olga! Só de pensar que eu vivia assim até há pouco
tempo atrás...
- Você vivia em regiões de baixa freqüência mais por ignorância do que por
ódio. Assim como fiz por Marcos há pouco, eu tentava fazer por você sem que
você me visse.
- Eu sei disso Olga. Eu sou muito grato, meu amor!
- Eu fazia minhas preces e vibrações por anos e você parecia uma muralha.
Eu conseguia algum sucesso quando você por vês ou outra, em momentos de
maior fraqueza, se arrependia por atitudes terrenas e até mentalizava algo
superior.
- Assim como nosso filho, eu fui muito cético na Terra. Depois que te perdi,
definitivamente, eu não acreditava em mais nada, e me apeguei ao trabalho.
Marcos cresceu e eu passei muito dessa minha descrença para ele. Olga! Eu fui
culpado pela educação religiosa dele. Sinto-me arrependido! O quão ignorante eu
fui! Imagino que se ele está assim agora, em parte foi por culpa minha. Preciso
que você me perdoe por isso.
206
Carlos Eduardo Milito
- Não se amargure Plínio. A pluralidade das existências nos dará uma nova
chance se assim desejarmos.
- O que você quer dizer com isso, Olga?
- Poderemos em uma nova vida compensar nossos erros. Poderemos nos
redimir. O sistema é perfeito Plínio. Estamos vivendo um intervalo celestial. Até
chegarmos à plenitude como alma, ou seja, até atingirmos o nível próximo do
Mestre dos Mestres, teremos que repetir inúmeras existências terrestres pela
eternidade. É como uma pedra bruta de diamante que precisa ser lapidado. Todos
nós, filhos do grande Arquiteto do Universo somos assim: Temos a essência
divina. Precisamos no entanto nos lapidarmos! Os intervalos celestiais tal como
vivemos agora têm a sua importância, mas somente a experiência dotada de
roupagem carnal é que nos faz galgar degraus na escalada evolutiva.
- Você quer dizer que poderíamos voltar a Terra juntamente com Marcos?
- Sim. Exatamente. Você não gostaria de tê-lo como filho novamente? Você
não o ama o suficiente para isso, meu amor?
- Lógico que eu amo Marcos. Mas como seria isso?
- Pode ser confuso para você entender agora, mas teríamos que renascer
primeiro. Você iria na frente, depois de alguns anos eu. Mais para frente nós nos
conheceríamos de novo, teríamos nossa estória de amor e constituiríamos uma
família sendo ele nosso primeiro filho. Até lá ele estaria com o seu ódio no coração
um pouco mais arrefecido e então, provavelmente liberto da comunidade a qual
ele hoje está.
- Olga meu amor! Tê-la como esposa novamente é uma dádiva! Ter Marcos
como filho novamente é uma dádiva! O pouco tempo que estou aqui notei o quão
bela é esta morada e tudo que a cerca. Estaria disposto a ficar aqui muito tempo
estudando, trabalhando e evoluindo, mas voltar a Terra com essa missão é algo
tão especial que aceito de coração aberto. Terei a oportunidade de reparar meus
erros incutindo novos conceitos na educação de Marcos, pois rogarei em preces
para que isso aconteça.
- O grande Arquiteto do Universo seja louvado por você aceitar isso Plínio.
Você sabe que nossas memórias serão preservadas, mas mesmo assim as
nossas essências permanecerão nos nossos inconscientes, e então será possível
transmitirmos nossos conhecimentos aos nossos filhos vindouros.
- Teremos mais filhos além de Marcos?
- Tenho conversado bastante com o Governador do Palácio da Cura e
pedindo conselhos sobre a nossa volta a Terra e ele diz que há, como se diz por
alguns seres de lá, uma “ligação cármica” entre Marcos e Joel e isso precisaria
ser dissipado com uma nova existência carnal dos dois na mesma família. Por
207
As Moradas e os Segredos de Maria
outro lado há também outra “ligação cármica” entre Joel e Ernesto, até mais forte
do que a de Marcos. Se os três forem nossos filhos vindouros teríamos a chance
extirpar todo esse veneno a ainda nós como pais teríamos uma missão de
expiação e sofrimento por eles.
- Seria uma existência de muitas dificuldades, Olga, mas teríamos uma boa
oportunidade de galgarmos vários degraus.
- Exatamente Plínio. Como é bom que você já esteja retomando suas
faculdades da “vida plena”. Joel e Ernesto hoje encontram em zonas
completamente obscuras e sombrias e se você realmente concordar com esse
“sacrifício voluntário” que estou propondo a nos submetermos, nós estaremos na
verdade, seguindo a cartilha da nossa Guardiã Mor, a querida Maria, que nas suas
recentes materializações prega com suas palavras a chamada Penitência.
- Querida Olga. O amor que sinto por você é a mola propulsora para que eu
aceite qualquer sacrifício. Não importa qual que seja a palavra usada como
simbologia pela nossa querida Maria para isso. O que importa é que o significado
disso resulte em um benefício para alguém, não é verdade?
- Isso mesmo Plínio. Se você concorda mesmo, teremos uma bela missão
pela frente. Creio que hoje mesmo nosso Governador irá lhe falar que a partir da
próxima semana você deixará este Centro de Recuperação e irá morar em uma
das vilas do Palácio da Educação. Nesses próximos meses você fará várias
reciclagens nesse Palácio enquanto aguardará sua partida. Assim que você
estiver ainda mais forte poderemos visitar nossos entes queridos e tentar ainda
interceder para o bem de Marcos. Controle sua ansiedade e estude bastante
nesses meses.
- É com muita alegria que recebo todas essas notícias, meu amor. Deus seja
louvado por todas essas transformações e pelo progresso da vida.
208
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 55
209
As Moradas e os Segredos de Maria
210
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 56
211
As Moradas e os Segredos de Maria
/ / /
Clara, grávida de dois meses nem sentia o efeito da gravidez. Não tinha
engordado e ainda não mostrava a barriga. Ela sentia-se muito feliz e conversava
com Dona Benedita na sua casa:
- Eu estaria completamente feliz se eu pudesse ir ao casamento da minha
irmã Emilia no mês que vem. Sei que se eu aparecer por lá poderei ser enxotada
como um cachorro.
- Não se amargure Clara. O que importa nesse dia é você fazer vibrações
positivas para o casal e pedir a Deus toda a alegria do mundo para eles. Na hora
que a cerimônia estiver acontecendo faça isso Clara.
- Mas eu queria estar lá!
- Minha querida, você sabe que escolheu outro caminho a trilhar. Pode ter
certeza que você irá encontrar muita felicidade nesse caminho. Você não vai ao
casamento, mas se quiser, estará lá presente com suas vibrações. Saiba que essa
pompa toda que está sendo preparada não é de plena vontade do casal. Eles
consentiram para agradar a sua mãe. Esse casamento é uma vitrine para toda a
sociedade paulistana. A real felicidade se dá não com a cerimônia que encanta e
emociona a todos. A real felicidade se dá dia após dia na vida conjugal do casal. E
isso é para poucos. É algo que se consegue por merecimento. Veja só você minha
jovem: Você se uniu a Genésio contra a vontade de sua mãe, fugiu de casa para
isso, e aqui está em plena harmonia. Eu vejo que trilhará o caminho da felicidade
ao lado do meu filho. E nem casada no papel você está! Por outro lado, existem
casamentos acontecendo todos os dias pelo mundo, e a maioria deles após algum
tempo trilha um caminho de incertezas e até mesmo de trevas. A vida maior
explica isso como ligações de resgate, onde essas almas são obrigadas a ficar
juntas por débitos do casal contraído em outras vidas. Pense que você não vai ao
casamento da sua irmã, mas isso é só uma data. O “casamento” dela se dará
todos os dias depois que ela efetivamente se casar, e você poderá desejar-lhe
felicidades sempre que vê-la.
- Dona Benedita, como a senhora é sábia! Suas palavras são um bálsamo
para mim. Eu juro que não vou ficar triste por não ir ao casamento.
212
Carlos Eduardo Milito
- Ótimo minha querida. Espero que você esteja falando isso com o coração e
não com somente com a boca. Alguns atos da sua mãe são por total ignorância e
você tem conhecimento disso. Saiba que o dia que você perdoar sua mãe você
terá a oportunidade de galgar alguns degraus aqui nesta vida.
- Dona Benedita, eu não sei como agradecer tantas palavras e conselhos
seus. Posso ter perdido minha mãe, mas agora ganhei a senhora como minha
mãe e isso foi um presente de Deus.
- Oh minha filha, não fala assim que você me mata de emoção. Eu é que
ganhei uma nora de ouro.
As duas se abraçaram comovidamente com água nos olhos. Estavam felizes
por tudo de bom que acontecia nas suas vidas. Elas sempre seriam companheiras
e aliadas.
/ / /
213
As Moradas e os Segredos de Maria
/ / /
Enquanto Leandro conversava com os pais, Dona Dora juntamente com Lucas
estavam ali presentes emanando radiações positivas e bons fluídos para ele.
Logicamente nenhum dos três percebeu a presença deles, mas a sensação de
bem estar e serenidade era sentida por todos. Lucas ficou feliz por eles não se
recordarem dele com tristeza. O tempo passava e as feridas começavam a
cicatrizar. Havia novas perspectivas de vida para todos que ali estavam. Assim, a
tristeza que por ventura poderia pairar no ar, dava lugar às expectativas pelas
coisas diferentes que estariam por vir.
214
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 57
Na noite daquela sexta-feira Olga foi visitar Plínio que estava em uma das
belas casas na imensa vila do Palácio da Educação acomodado juntamente com
mais dois simpáticos senhores.
- Olga meu amor! Que bom te ver!
- Vim saber como você está. Como estão as aulas?
- Estou ótimo e as aulas são de grande valia para qualquer ser habitante de
nossa morada.
- Que bom Plínio. O Governador do Palácio da Educação tem conversado
com o Governador do Palácio da Cura, onde estou, sobre você. Eles têm elogiado
muito o seu esforço, Plínio.
- Na verdade minha querida, você foi o grande incentivo que eu tive nessa
vida astral por tudo o que está acontecendo de bom comigo. Reencontrá-la após
quarenta e cinco anos foi algo revigorante. Isso tudo somado com as reciclagens
e lembranças de outras vidas resultou nessa nova pessoa que vocês me vêem
agora.
- Suas atitudes são dignas de elogio, Plínio. Continue com esse empenho e
essa energia, preparando-se para o seu breve retorno.
- Com certeza, meu amor. Estou ciente que estarei por mais alguns meses
apenas nesse intervalo celestial e quero aproveitar ao máximo todos os
ensinamentos que a mim couber.
- Isso mesmo. E antes de você partir, poderemos, se você achar que deve,
visitar Marcos nas zonas obscuras para ao menos você dizer um até logo a ele.
Saiba que ele não nos perceberá, pois sua freqüência é outra. Mas serão
importantes tanto as nossas presenças como as nossas vibrações para ele.
- Logicamente querida. Irei sim. Estou totalmente a par do sofrimento que ele
vem passando. Também tenho rogado aos céus para que ele se liberte disso.
- Não cabe a nós meu amor, podermos tirá-lo de lá. Mas cabe a nós a função
de mostramos o caminho da verdade através de vibrações, tanto aqui à distância,
como lá, frente a frente.
- Então Olga, quando chegar o momento de irmos visitá-lo, me avisa. Estarei
a espera.
- Será daqui a algumas semanas. Esperemos então sem ansiedade!
/ / /
215
As Moradas e os Segredos de Maria
Naquela mesma noite, Dona Dora conversava com Lucas sobre as visitas que
fizeram recentemente para seus familiares.
- Estou feliz por Leandro, Luquinhas! – exclamava Olga – Desde que todos
os amigos da Terra começaram a orar por ele, rapidamente o Palácio da
Comunicação se manifestou e mandava expedições de ajuda para ampará-lo. Ele
melhorou bem e é outra pessoa.
- Temos que continuar esse trabalho de sustentação. Nossas visitas por lá
tem sido importantes nesse processo.
- Isso também, com certeza. Mas nossos entes lá da Terra têm que continuar
apegados a fé para que continue havendo toda essa sinergia.
- Agora mais do que nunca, com essas lições de Maria é que nós vemos a
importância da prece – concluía Lucas – Ela insiste para aquelas crianças que o
terço tem que ser rezado. Isso é simples de entender: A prece é a melhor forma
de diálogo dos terrestres conosco. Há todo um ritual para isso. Há todo um
respeito, pois para quem vive com roupagem carnal não faz idéia do lado de cá.
Então, a fé de cada um tem que ser estimulada.
- E agora meu neto, em mais alguns dias nossa querida Guardiã Mor irá dar
uma prova convincente de tudo que ela prega. Será o acontecimento deste século!
Tudo que ela falou até hoje nas suas aparições será estudado, interpretado e
seguido. Os efeitos não serão imediatos, mas conforme o tempo passar, suas
palavras ganharão força e credibilidade.
- Nobre missão a dos pastorinhos então minha vó! Eles é que serão seus
mensageiros.
- A princípio sim, mas na sua primeira aparição a nobre senhora deu a
entender que apenas a interlocutora ficaria na Terra por mais tempo. Vamos
aguardar.
- O que importa minha vó, é a grandeza desse momento. O planeta Terra
terá a grande oportunidade de redenção. Seus habitantes poderão entender a
grandeza do que existe além da vida por lá. Abençoados são aqueles que
vivenciam esses dias por lá.
- É uma tentativa louvável da nossa cúpula divina, no entanto as almas
desvirtuadas estão por toda parte. Estão por aqui, em setores de baixa freqüência,
estão também vagando na Terra em regiões nevoentas, e principalmente
habitando algum corpo físico com diferentes tipos de roupagem. Assim é
necessário o envolvimento de um grande contingente de pessoas para que estas
pobres almas sejam atingidas e sensibilizadas. Isso é um trabalho de décadas por
lá. Tudo está começando agora, mas não deverá terminar jamais. É preciso que
isso fique marcado.
216
Carlos Eduardo Milito
- Então pelo que entendo, o nosso trabalho de Sustentação não fica restrita
as arquibancadas em forma de flor. O trabalho continua, não é mesmo?
- Isso mesmo. Diremos que o trabalho do Mundo Astral começa agora: Os
Segredos de Maria foram revelados a apenas uma interlocutora que irá demorar
para mostrá-los por completo para a humanidade terrestre. Ai entrará a nossa
ajuda com vibrações para tentar intuí-la no que melhor fazer e quando fazer.
- Louvado seja o Mestre dos Mestres por consentir esse presente ao Planeta
Terra.
- Louvado seja. Isso era necessário Lucas. Em breve teremos a prova física
que os habitantes terrestres precisam para que esse trabalho comece a ser
divulgado. Faltam poucos dias para isso. Esperemos então sem ansiedade –
concluía Dona Dora sorrindo por falar uma frase muito habitual na Morada
Universo Solar.
217
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 58
Ainda era madrugada. Nas primeiras horas daquela manhã chuvosa, uma
grande multidão chegava às proximidades da Cova de Iria. As pessoas
continuavam chegando e a chuva insistia em cair. E assim foi durante toda aquela
manhã, onde mais e mais fiéis chegavam e preenchiam todos os espaços daquele
terreno plano. Perto do meio dia, os expectadores passavam de sessenta mil
pessoas.
As condições para todos que ali estavam não eram as mais adequadas. O
sábado era frio e toda aquela chuva havia transformado o solo em um verdadeiro
lamaçal. Todos estavam ensopados e mesmo assim aguardavam rezando a
chegada de Maria. Apesar de todas as controvérsias, a notícia das aparições
anteriores fez com que o número de simpatizantes se multiplicasse.
Paralelamente a tudo isso, o ambiente astral também estava ali montado. A
arquibancada em forma de flor parecia ainda maior e mais bela. Seus assentos
em forma de pétalas eram como uma rosa gigante desabrochada onde seu centro
era o palco de onde Maria apareceria. Os governadores de todos os Palácios da
Morada Universo Solar estavam ali presentes bem como de outros habitantes de
lá. Representantes de todas as moradas de luz também ali se encontravam e se
confraternizavam. Para todos os serem providos apenas de roupagem astral
aquela seria uma oportunidade de verem o Mestre dos Mestres na forma de
menino. O momento seria sublime.
Na visão das três crianças que ali estavam surgiu em meio a uma névoa
esbranquiçada a figura da belíssima mulher que ainda não havia se identificado
para eles. Acompanhada por uma claridade onde feixes de luz eram emanados a
partir de sua imagem, ela mostrava a mesma fisionomia um pouco triste de
sempre. Mesmo assim, ela conseguia transmitir uma tranqüila expressão de amor.
Seus cabelos escuros estavam cobertos por um manto orlado de ouro que
também cobria a maior parte do seu corpo. Seus traços de beleza celestial
complementavam aquele maravilhoso cenário.
As primeiras palavras de Maria faziam um pedido que naquele local fosse
construída uma capela em sua homenagem. Foi pedido também que as crianças
continuassem a rezar o terço diariamente assim como das outras vezes. Ela ainda
respondeu o já conhecido questionamento de Lúcia sobre algumas pessoas
enfermas onde a resposta era que algumas delas conseguiriam alcançar a cura e
outras não.
218
Carlos Eduardo Milito
219
As Moradas e os Segredos de Maria
220
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 59
Era o primeiro Sábado após a última aparição da mãe do Mestre dos Mestres
na Terra e era o dia da palestra semanal de Mestre Jonas. Os habitantes da
Morada Universo Solar aguardavam com muita alegria aquele momento. O
Governador chega ao grande auditório do Palácio da Sustentação com o já
conhecido semblante de paz para transmitir sua mensagem de meditação:
- Bom dia meus amigos e amigas! Estou feliz em vê-los novamente. Como
têm passado? Gostaram das aulas que tiveram com nossa Guardiã Mor? Tivemos
momentos ímpares de aprendizado, meus queridos. O Planeta Terra acabou de
ter uma prova concreta da vida que existe do lado de cá. O momento crucial foi a
imagem de Maria juntamente com José e seu filho quando menino na Terra.
Aquela linda imagem foi vista por nós além das três crianças que ali estavam. Os
demais seres terrestres viram a chamada dança do sol.
Após uma ligeira pausa, Mestre Jonas prosseguiu:
- O Planeta Terra é o chamado mundo de expiação. Mas não por isso é que
a fé tem que deixar de ser praticada por lá. Muito pelo contrário. Agora com esta
prova contundente, mais do que nunca! Eu me lembro que a palestra semanal a
qual eu dei o primeiro recado sobre a vinda de Maria eu falava para vocês
meditarem sobre a palavrinha fé. Os terrestres então têm a grande oportunidade
de começarem um novo ciclo a partir das revelações de Maria.
Mestre Jonas, que gostava sempre de parar um pouco de falar para ver a
expressão de cada um ali presente, fez uma ligeira pausa e prosseguiu:
- Vamos tentar entender as partes dos segredos de Maria. É muito simples.
Foi falado na primeira parte a visão do inferno ou purgatório. Para nós a
explicação se resume nas moradas de baixíssima freqüência que temos pelo
universo. Por lá vivem seres astrais sofredores e perturbados que estão muito
distantes do caminho de luz e da verdade. A conotação que essa revelação terá
na Terra poderá dar a entender a sensação de que isso seja definitivo para aquele
que for merecedor disso pela sua conduta de vida quando na roupagem carnal.
Após uma ligeira pausa, Mestre Jonas prosseguiu:
- Não é bem isso que acontece. A única coisa que temos de definitivo é a
nossa vida. Muitos de nós aqui, em outras oportunidades também estávamos
vivendo em regiões nevoentas e obscuras. Muitos vivem na Terra achando que se
nasce apenas uma vez por lá, se cresce e se morre, havendo talvez um senhor
barbudo do lado de cá para julgar se chegando aqui a pessoa vai para céu ou
221
As Moradas e os Segredos de Maria
para o inferno até o dia do juízo final. Por isso volto a falar novamente na
palavrinha fé. Não importa se o ser da Terra pensa assim e acredita ou não nisso.
O que importa é que ele siga os ensinamentos do Mestre dos Mestres, praticando
a caridade, a benevolência e amor ao próximo. Se houver erros, e por ventura
este ser terrestre se desvirtuar e tiver como destino uma “região nevoenta”, ou o
“Inferno” como é entendido por lá, há logicamente como se remediar desta
situação. O tão por lá falado juízo final está na consciência de cada um de nós.
Conforme evoluímos e galgamos degraus na escala evolutiva, nos tornamos
críticos e fazemos diariamente esse “juízo final”.
Mestre Jonas parou um pouco de falar, observava a todos e depois
prosseguiu:
- A segunda parte do segredo de Maria, justamente mostra o caminho de
como se evitar essas regiões de baixa freqüência, ou ainda, o que tem que ser
feito para se remediar para quem hoje está vivendo perturbado nessas regiões. A
devoção ao Imaculado Coração de Maria mencionada pela nossa Guardiã Mor, é
uma simbologia como forma de despertar essa palavrinha fé que venho
mencionando. A cura, ou “salvação”, para os irmãos desprovidos de roupagem
carnal se resume no que falei agora pouco: A prática dos ensinamentos do Mestre
dos Mestres.
Após nova pausa Mestre Jonas prosseguiu:
- A terceira parte do segredo de Maria é a que mais tem que nos preocupar.
Trata-se da possibilidade de uma guerra ainda pior do que a atual. Os homens da
Terra estão aprimorando cada vez mais os armamentos e chegará o momento que
poderá haver um simples artefato de destruição de grandes massas. O nosso
trabalho do lado de cá se resumirá nos próximos anos de influenciar os
governantes das principais nações a preservarem a paz. Toda a simbologia usada
por Maria ao revelar a terceira parte do seu segredo mostra como os seres da
Terra poderão sofrer se não mudarem o seu modo de agir.
Todos os presentes no auditório ficaram com uma fisionomia preocupada.
Mestre Jonas prosseguiu:
- Vejam só então a grande responsabilidade destas três crianças, ou melhor,
da interlocutora que viverá mais do que as outras. Apesar do milagre do sol, elas
continuarão sofrendo bastante, pois nem todas as milhares de pessoas que ali
estavam presentes viram o espetáculo. Quando Maria na sua primeira aparição
perguntou a elas se estariam dispostas a sofrer por esta causa foi justamente por
isso: A Igreja Católica será o veículo dessas revelações, no entanto isso não será
de imediato. Até que consigam ganhar credibilidade perante os homens elas
continuarão sofrendo pressão e isso levará tempo. Além do que, a terceira parte
222
Carlos Eduardo Milito
do segredo dará margens a várias interpretações. Talvez por esse motivo ele
demore a ser divulgado.
Mestre Jonas novamente fez uma ligeira pausa para depois prosseguir:
- O mais importante, contudo é que aquele local das aparições será sagrado
para o mundo. Primeiramente será construída uma capela que no futuro dará lugar
a uma imponente basílica com nome de Nossa Senhora de Fátima. O que talvez
nem todos os humanos irão concordar no futuro é que essa santa mulher trata-se
da mãe do Mestre dos Mestres, para eles conhecido como Jesus Cristo. Isso na
verdade para nós é o quarto segredo de Maria, que foi revelado na sua última
aparição.
O semblante de todos que estavam ali presentes ganhou um brilho todo
especial após Mestre Jonas ter confirmado os quatro segredos de Maria. Uma
semente estava plantada. Um ícone de fé estava sendo criado. Por fim Mestre
Jonas concluiu:
- Vamos agora meus queridos, fechar os olhos e elevar nossos pensamentos
ao Mestre dos Mestres e agradecer a ele por isso que estamos vivenciando agora.
Construam então a sua imagem mental todo de branco, de braços abertos e
sorrindo para vocês. Agradeçam a oportunidade de aprendizado que tiveram com
a visita de sua mãe Maria.
A mesma sensação do ambiente parecer estar sendo tomado por uma neblina
com cada vez maior densidade era por todos sentida. O agradável aroma de flores
silvestres tomou conta do auditório. Mestre Jonas pediu para que todos
permanecessem assim por alguns minutos. A sensação coletiva de prazer e bem
estar era evidente. Passados alguns minutos todos começaram a voltar
vagarosamente seus pensamentos para lá conforme ordenado pelo Governador.
Em seguida ele fez as saudações de despedida e agradeceu a presença de todos.
223
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 60
A tarde daquele sábado estava repleta de gente no Mosteiro São Bento para a
celebração do já anunciado casamento de Emília e Laerte. Tudo havia saído
conforme Clarice queria. Tudo com muita pompa e muito luxo. A decoração da
igreja estava impecável e havia muitos convidados importantes. O jovem casal,
para não contrariar Clarice, fez tudo que ela desejou. E ela providenciou tudo nos
mínimos detalhes, desde as músicas que tocavam na igreja até os pormenores da
recepção onde os convidados eram aguardados para um fino jantar. Até mesmo a
ausência de Clara era algo que ela saberia explicar respondendo com ar soberano
sobre as falsas andanças de sua filha em Paris.
Alguns habitantes da Morada Universo Solar estavam lá para abençoar aquele
casamento que eram Lucas, Dona Dora, Olga e Plínio além de outros
companheiros. Durante a cerimônia, esses seres ficaram todos no altar, flutuando
uns cinqüenta centímetros do chão. Na hora que os noivos ficaram de joelhos na
frente do padre, todos eles também abençoaram com o mesmo gesto feito por ele.
Além de assistirem à belíssima cerimônia, os seres desprovidos de roupagem
carnal tiveram a chance de reencontrar mais uma vez os seus entes queridos.
Olga e Plínio viram sua neta, Lucas reencontrou seus irmãos, seus pais e Emília,
e Dona Dora pôde rever sua filha e seus netos.
Após o casamento, as famílias Silveira e Albuquerque se cumprimentavam
com emoção. Aquele havia sido um ano de muita dificuldade para as elas e aquele
era um momento de muita felicidade que fazia com que todos ali esquecessem os
feridas passadas. Era o começo de uma nova era.
/ / /
224
Carlos Eduardo Milito
225
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 61
226
Carlos Eduardo Milito
227
As Moradas e os Segredos de Maria
228
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 62
/ / /
229
As Moradas e os Segredos de Maria
/ / /
Como era feito todos os anos na Morada Universo Solar, uma grande multidão
estava no Vales das Flores sendo liderada por Mestre Zeus, o Governador do
Palácio Divino. Ele iria fazer uma pequena palestra e por fim iria transmitir
vibrações ao Mestre dos Mestres pela data especial. Representantes de todos os
Palácios por lá estavam.
230
Carlos Eduardo Milito
- Meus queridos companheiros. É com muita alegria que estamos aqui mais
um ano para celebrarmos a data de Natal. A missão terrestre do nosso Guardião
Mor, o venerado Mestre dos Mestres, que ocorreu há quase dois mil anos é
comemorada em todo o Planeta Terra e também nas moradas celestiais que
circundam o sol que nos ilumina. Este precioso momento de amor ao próximo é
vivido por vários dos nossos amigos terrestres, no entanto, isso deveria prosseguir
por todos os dias do ano. Nessa época estamos em festa por que eles praticam
pensamentos mais afinados com os nossos. Ocorre que, passando essa data, a
vida cotidiana de todos volta ao normal e assim cada um deles volta seus
pensamentos nos seus universos particulares.
Mestre Zeus sempre com sua fisionomia alegre fez uma pequena pausa e
prosseguiu:
- Aproveitemos esse momento então, para vibrarmos para que essa atitude
dos seres terrestres perdure por todo o ano, pois as orações por lá são intensas
assim como os pensamentos emanados por milhares de criaturas providas de
roupagem carnal. Nesse dia é percebida uma ponte luminosa entre o nosso
Palácio da Comunicação e o Planeta Terra, que é justamente o resultado dessas
preces e vibrações. É como um arco-íris com cores mais vivas e um brilho
prateado. As escrituras da Terra mostram que o nosso Guardião Mor nos ensinou
o real significado da fé quando revelou como falar com o Criador através da
oração. Nosso Palácio da Comunicação faz essa coleta de preces e rogativas e
então distribui aos seres mais elevados de todo o universo.
Mestre Zeus fez outra pausa e depois prosseguiu:
- É necessário então que esse amor emanado pelos terrestres nessa data
tão especial perdure sempre. É necessário que eles mantenham o chamado
“diálogo” com as criaturas elevadas do universo. É necessário que a fé seja
cultivada continuamente. É necessário que os homens cheguem à plenitude da
vida trilhando o caminho da luz e da verdade conforme ensinou o Mestre dos
Mestres quando habitou o corpo de Jesus na Terra.
Em seguida, Mestre Zeus pediu para que todos fechassem os olhos e
imaginassem o Guardião Mor todo de branco e com os braços abertos. Aquele
ambiente foi tomado por uma densa e perfumada névoa branca e um som de uma
melodia celestial de indescritível beleza. Aquele cenário de vibrações combinado
com a música celestial emocionou profundamente todos que ali estavam.
Lágrimas escorriam teimosamente da face de muitos dos presentes. Por fim
Mestre Zeus encerrou:
- O Mestre dos Mestres nos agradece pelas vibrações e pede para que todos
os seres providos ou não de roupagem carnal sigam os seus ensinamentos.
231
As Moradas e os Segredos de Maria
232
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 63
233
As Moradas e os Segredos de Maria
234
Carlos Eduardo Milito
luxuosa para estar naquelas condições. Sentiu pena daquele menino que viva em
condições muito piores que o outro que ele tinha visto nas primeiras horas daquele
dia. Sentiu-se indiferente pela raça de Genésio e Dona Benedita, pois seu espanto
maior foi pela simplicidade do casebre e da condição deles. Sentiu-se envaidecido
por ser avô de dois netos com traços bonitos. Mestre Zuzo surgiu na sua frente.
- E então? Gostou do que viu?
- Não sei o que dizer. Tudo isso aqui é muito precário, mas nunca vi tamanha
felicidade da minha filha Clara.
- Pois é Marcos. Seus descendentes continuam suas vidas
independentemente de você. Vamos embora então. Esses ambientes tranqüilos
não nos servem para nada.
- Mas são meus familiares, Mestre Zuzo. O senhor até me concedeu essas
saídas minhas. Deixa eu viver esse meu momento!
- Tudo bem Marcos. Estou só querendo te mostrar o que é útil. Além do mais,
se eu te deixar muito tempo sozinho vagando pela Terra há sempre outros grupos
que podem te influenciar e te levar para outro canto desse nosso universo.
- Eu imagino Mestre, mas pode ficar tranqüilo que eu volto para a sede assim
que eu sair daqui.
- Está bem Marcos. Mas se você não se opuser, eu te espero e então
voltarei com você.
- Certo. Ficarei só mais um pouco por aqui.
Passados mais alguns minutos Albuquerque e Mestre Zuzo foram embora.
Dona Benedita disse para seu filho e sua nora que estava com um pouco de mal
estar até há pouco tempo atrás e agora havia melhorado. Questionada pelo seu
filho qual o motivo disso ela respondeu que não era nada. Aquilo era apenas uma
indisposição passageira. No seu íntimo ela sentiu a presença do pai de Clara
juntamente com outra pessoa ali. Preferiu ficar quieta por se tratar de uma data
tão especial. Não queria impressionar.
235
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 64
236
Carlos Eduardo Milito
- Se você estivesse na minha pele talvez pensasse diferente. Mas não vamos
mais discutir esse assunto.
Lourdes dali para frente evitaria qualquer conversa relacionada com a filha de
Clarice. Todas as notícias que ela saberia da menina seriam trazidas por Laerte e
Emília que costumavam visitá-los de vez em quando.
/ / /
/ / /
237
As Moradas e os Segredos de Maria
238
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 65
/ / /
Dona Dora foi procurada por Olga naquela noite. A idéia era trazer o menino
Júlio para o Palácio da Transformação e através do instrumental existente no
239
As Moradas e os Segredos de Maria
240
Carlos Eduardo Milito
241
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 66
242
Carlos Eduardo Milito
- Deixa-me em paz, criatura medonha! Não sei quem é você e o que você
quer.
- Não sabe quem eu sou? Eu sou o Ernesto!
- Você? Assim? Com essa aparência medonha? Está irreconhecível! Você
que nos trouxe para cá seu maldito! Eu não vou te perdoar nunca! Por que você
fez isso? Você queria se libertar ao me matar? Veja o que você fez. Estamos nas
profundezas do inferno!
- Você mereceu Joel! Você nunca foi flor que se cheire. Vivia me expulsando
da sua fazenda. Não aceitava minhas argumentações.
- Isso não justifica Ernesto. Você acabou com a minha vida. Eu te odeio!
Você com esse rosto medonho e deformado está tendo o que merece.
Ernesto respondeu com uma sonora gargalhada e depois falou:
- Você acha que estou preocupado com a minha aparência Joel? Eu quero
mais é ficar assim mesmo. Assim posso te aterrorizar sempre que eu passar por
aqui. Vou me unir então a outras criaturas medonhas como eu e ficar te
torturando.
- Eu te odeio Ernesto. Pode ter certeza que irei me vingar de você assim que
eu tiver alguma chance.
- Estou morrendo de medo Joel. Não tente medir forças comigo que você
perde.
Joel e Ernesto continuaram se atacando por muito tempo com discussões
improdutivas. Conforme iam discutindo a platéia ia aumentando onde todos os
seres de baixa freqüência que ali habitavam se aglutinavam e se deliciavam com
aquilo. Uma densa névoa preta com um odor quase que insuportável rodeava
aquele ambiente e alimentava todos os seres ali presentes. Passado muito tempo
é que cada um deles resolveu tomar seu rumo.
243
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 67
244
Carlos Eduardo Milito
- Que assim seja Silvio. Já basta o meu filho Joel que ainda sofre muito em
regiões nevoentas. Os meus netos precisam ter melhor esclarecimento para que
não cometam os mesmos erros de Joel.
- Creio que tudo está encaminhado Angelina. Márcia é uma criatura doce e
meiga e Júnior também é um bom garoto.
- Eu sinto por Joel. Ele está completamente cego e surdo para tudo que há
de belo no universo. O ódio dele o mantém nas trevas.
- É preciso esperar – disse Sílvio – Tudo tem o seu momento certo. Chegará
o dia em que Joel despertará assim como seu marido também despertou.
- Meu marido ficou por mais de quinze anos com os perambulantes terrestres
para depois de uma passagem no Palácio da Cura retornar para a Terra. Hoje ele
é um garoto de dez anos e mora no Recife.
- Então Angelina. Veja que ao longo da eternidade as coisas se acomodam.
Cabe a cada um de nós abreviarmos ou não o sofrimento e nem todos tem a
consciência necessária para isso.
Os quatro adentraram o veículo astral que saiu rasgando o céu de Jundiaí. O
belíssimo casamento prosseguiu com toda a pompa e depois todos os convidados
foram recebidos em um salão próximo da igreja para uma festa que se estendeu
noite adentro.
245
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 68
Olga já sabia que naquela semana iria partir. Na noite daquela segunda-feira
recebeu duas amigas em sua casa no Palácio da Cura por pedido de seu
governador:
- Prazer, Olga! Meu nome é Angelina e esta aqui é Adelaide. O Governador
do seu Palácio pediu para que viéssemos aqui conversar com você.
- Muito prazer. Sejam bem-vindas a esta casa. Eu já aguardava esse
momento. Vocês habitavam a Morada Caminho da Terra, não é isso?
- Sim exatamente – disse Adelaide sorrindo – Fomos transferidas
temporariamente para cá. Atuaremos no Palácio da Cura nos próximos anos. E
paralelamente a isso, faremos as intervenções por Marcos, Joel e Ernesto.
- Nobre incumbência minhas amigas. Os três necessitam de muitas
intervenções. Desde quando Marcos chegou, venho tentando interceder por ele. E
quando foi traçada minha nova missão terrestre comecei a interceder por Joel e
Ernesto também.
- Da mesma forma que você, Olga, eu e Adelaide também temos laços
existenciais com essas criaturas sofredoras – disse Angelina com um semblante
triste – Fomos mães deles na nossa última experiência terrestre. Joel era meu
filho e Ernesto filho de Adelaide. Por isso que fomos designadas para continuar
intervindo por eles.
- Que maravilhoso. Esses acontecimentos da vida celestial me enchem de
emoção. Vocês podem ficar tranqüilas, pois no que depender de mim serei uma
mãe muito dedicada lá na Terra – falou Olga sorrindo.
- Sabemos disso Olga. O governador de seu Palácio conversou conosco e
falou muito bem de você.
- Eu e Plínio que agora se chama Júlio teremos uma belíssima missão. É
preciso que o ódio cultivado entre os três seja totalmente desfeito.
- Estamos aqui Olga para dizer que você pode partir em paz que faremos
várias intercessões e vibrações para que os corações dos nossos filhos possam
ficar um pouco mais próximos da luz. O mínimo que conseguirmos que isso
aconteça já será gratificante.
- É exatamente o que eu penso. Sempre atuei desta forma nesses anos.
Consegui um progresso com Plínio e para isso levei onze anos. Esse é um
processo gradativo. A soma de mínimos esforços acabará sensibilizando os
corações sofredores dos três.
246
Carlos Eduardo Milito
- Isso mesmo Olga. Fique então tranqüila e siga em paz sua missão.
- Que o Mestre dos Mestres seja louvado por permitir que vocês estejam
sempre atentas. Desejo a vocês muito progresso na nossa Morada.
- Que assim seja Olga.
/ / /
Passados alguns dias e Olga foi chamada para sua missão. Era uma sexta-
feira, dia vinte e seis de janeiro. Já era noite. Durante aquela tarde ela havia se
despedido de Fabrício e de todos os amigos mais íntimos. Naquela conversa da
tarde com Fabrício comentou da sua alegria.
- Chegou minha hora Fabrício. Estou galgando mais um degrau na infinita
escadaria da vida maior. Nem gosto muito de despedidas. Gosto de dizer até
breve, pois nos encontraremos na eternidade.
- Exatamente Olga. O que são cem ou duzentos anos no prisma da vida
celestial? Esse número pode ser assustador para algum amigo nosso provido de
roupagem carnal. Isso realmente é um sopro na eternidade.
- Por isso mesmo, querido Fabrício que digo “até breve”. Ficaremos “algum
tempo” sem nos vermos – sorriu Olga.
- Mas não nego que nesse período sentiremos sua falta sim, Olga. Além de
você ser uma pessoa maravilhosa, seus préstimos foram sempre apreciados nesta
casa.
- Sim, mas Adelaide e Angelina darão conta do recado. Chegaram há poucos
dias e trabalharão aqui por muito tempo.
- É verdade Olga. Uma das leis no universo é a lei da transformação. Nada é
definitivo. É errado cultivarmos por aqui em um mundo astral esse sentimento de
saudosismo, pois involuntariamente podemos prejudicar alguém que já partiu.
Temos sabedoria suficiente para saber que nos reencontraremos pela eternidade
na grande caminhada em rumo à divindade.
- Isso mesmo Fabrício. Continuem trabalhando com afinco para o progresso
do nosso Palácio e na nossa Morada. Até breve então – sorriu Olga e deu um
grande abraço no seu amigo Fabrício.
Naquela noite então, Dona Dora juntamente com outros serventes do Palácio
da Transformação cuidaram de todos os pormenores para a volta de Olga na sua
nova missão terrestre. Enquanto isso na Terra, Márcia e Lúcio que haviam se
casado no último final de semana, vinham namorando por todas aquelas noites e
o momento da fecundação então estava próximo. Márcia ficaria grávida de uma
linda menina que se chamaria Beatriz.
247
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 69
17 de Outubro de 1.930
248
Carlos Eduardo Milito
- Talvez esteja um pouco doente sim, Junior. Mas isso não impede que ela te
dê alguns conselhos. Vá lá sim, e conte isso a ela. Talvez ela possa te ajudar.
- Acho que vou fazer isso mesmo. E ainda hoje.
Naquele mesmo dia, Júnior foi encontrar Dona Benedita na sua casa. Clara o
recebeu, pois apesar de serem vizinhas, ultimamente ela sempre estava presente
para poder dar cuidados especiais para sua sogra. Júnior então foi recebido por
toda a presteza naquele dia.
- Olá Seu Júnior. Tudo bem com o senhor? – questionou Clara
- Tudo bem Clara. Desculpa o incômodo, mas eu gostaria de falar com Dona
Benedita. Ela pode me atender?
- Não é incômodo nenhum. Ela está deitada descansando um pouco e logo
poderá vir.
- Tem certeza que não incomodo? Eu posso voltar outra hora. O que tenho a
tratar não é um assunto urgente.
- Imagina, Júnior. Sente-se que vou chamá-la. Com licença.
Após alguns minutos, Dona Benedita entrou na sala com um semblante
cansado, porém muito solícita em ajudar o rapaz.
- Olá Júnior – disse Dona Benedita – Que bom ver o patrãozinho do meu filho
cada vez mais bonito. Como você vai?
- Estou bem Dona Benedita. Estou te incomodando. Não é verdade?
- Não se preocupe. Andei muito resfriada a ainda sinto falta de ar. Sabe
como é? Já estou com sessenta e quatro anos e sabemos que minha caminhada
nesta vida está mais para o fim do que para o começo. Mas diga, meu filho. O que
te traz aqui?
- É que eu tive um pesadelo com meu pai há algumas semanas atrás e não
consigo tirar isso da minha cabeça.
- Chegue mais perto de mim, meu filho.
Dona Benedita levantou-se com alguma dificuldade, e já de pé levou suas duas
mãos na direção da cabeça de Júnior e fechou os olhos. Mostrando uma
expressão de tristeza enquanto seus olhos estavam fechados, continuou suas
vibrações para depois de aproximadamente um minuto dizer.
- Seu pai precisa de ajuda no plano onde vive. Ele realmente não está bem.
O que cabe a nós aqui na Terra é rezarmos, meu querido Júnior. É importante a
prática da fé, e por isso que oração tem um poder muito grande, apesar do
ceticismo de muitos. Ore bastante por ele, meu filho.
- Fiquei muito impressionado com aquele sonho, Dona Benedita. Parece que
havia alguém se atracando com ele, como dois animais selvagens.
249
As Moradas e os Segredos de Maria
- Ore pelo seu pai e também por Ernesto que foi o causador de toda essa
tragédia.
- Como posso fazer isso Dona Benedita? Vou orar para aquele que tirou a
vida do meu Pai? Isso é loucura.
- Isso parece loucura por que você não consegue enxergar as coisas além
dessa vida. Na verdade o sonho que você teve foi um retrato do que vem
acontecendo com seu pai e o seu agressor no plano que eles vivem. É preciso
que o ódio no coração deles seja vencido. As orações são um poderoso
instrumento, pois são como ondas magnéticas. Elas juntamente com o empenho
de nossos irmãos invisíveis dotados de luz é que poderão convertê-los para a
trilha do bem. É importante então que as preces sejam para os dois.
- Confesso que é difícil para mim, aceitar isso, Dona Benedita.
- Entendo sua dificuldade. Para quem vive aqui na Terra a compreensão
disso tudo depende da fé de cada um e isso muda de pessoa para pessoa.
Perceba então meu filho, que se você orar pelos dois, de coração, mesmo que
não concorde com o que eu digo, você terá a grande chance de galgar alguns
degraus na escala evolutiva. Isso irá contar muitos pontos para você. Além do
mais, se todo esse magnetismo esfriar esse ódio mútuo deles, seja lá onde eles
estiverem, isso poderá evitar novos pesadelos seus não é verdade? Se somente
Joel fosse beneficiado por preces ou intervenções de irmãos invisíveis e Ernesto
ficasse desamparado, ele iria continuar irradiando coisas ruins para o seu pai. É
preciso que ação seja conjunta.
- Acredito nisso. Mas por que Ernesto fez isso com meu pai? Sabemos que o
ele que tomou iniciativa do primeiro disparo.
- Não fique voltando ao passado com esses assuntos. Para que procurar
razão pelo que aconteceu? O que adianta isso? Pense no que tem que ser feito
daqui para frente. O tempo passou e vocês cresceram. Sua irmã casou e vocês
seguiram a vida de vocês adiante. Se preocupe com o futuro.
- É que tudo isso me incomoda, e com esse pesadelo que tive, eu quis de
fato compreender o porquê de tudo isso.
- Não tem necessidade. Para que mexer em feridas já passadas? Isso não é
útil. É melhor assim meu querido.
- Eu até acho que a senhora tem razão, mês senti que esse assunto
incomoda também o Pedro pela suas expressões.
- Já falei meu querido. Deixe essas feridas de lado. Pedro já trabalha lá
praticamente desde moço. Ele acompanhava cada passo do seu pai e morreria
com qualquer que fosse o segredo que prejudicasse ainda mais a sua imagem.
250
Carlos Eduardo Milito
/ / /
251
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 70
/ / /
Naquela noite Angelina estava feliz, pois durante o dia havia acompanhado os
seus netos e suas bisnetas. Percebeu Júnior mais maduro ao ouvir atentamente
252
Carlos Eduardo Milito
/ / /
/ / /
253
As Moradas e os Segredos de Maria
254
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 71
24 de Outubro de 1.930
/ / /
Dona Benedita desde o último final de semana não estava se sentindo bem.
Por insistência de seu filho Genésio e de sua nora Clara, ela havia ido ao hospital
de Jundiaí. Os médicos então haviam diagnosticado que a sua gripe havia
evoluído para uma pneumonia, e por bem, resolveram interná-la no último sábado.
Ela ficou estável no final de semana, porém na segunda-feira piorou muito para
surpresa de todos. Naquele dia então, permaneceu muito sonolenta e
praticamente o tempo todo de olhos fechados.
Clara e Genésio estavam lá desde o final de semana e acompanhavam a
evolução do seu quadro. Augusto e Ângela resolveram encontrar seus pais e sua
avó naquela manhã, e no caminho, o menino conversava com sua irmã.
- Temos que estar preparados para tudo, Ângela.
- Por que você fala assim? – disse Ângela – Deixa de pensar coisas ruins.
- Você é nova e só tem dez anos, Ângela, mas a vovó te ensinou muitas
coisas. Você não tem que achar que morrer é uma coisa ruim.
- Você acha que a vovó está assim tão mal?
255
As Moradas e os Segredos de Maria
- Eu não acho nada – disse Augusto – Eu só acho que pelo que nós
aprendemos com ela, temos sim que estar preparados para tudo.
- Mas Augusto! A vovó não pode nos deixar.
- Isso não somos nós que decidimos. É claro que nós queremos que ela não
vá, mas não cabe a nós essa decisão. O que podemos fazer agora, é rezarmos
por ela.
/ / /
256
Carlos Eduardo Milito
/ / /
/ / /
257
As Moradas e os Segredos de Maria
258
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 72
Quase cinco anos se passaram desde a chegada de Dona Benedita. Por ser
uma criatura de muita luz, ela desde o início trabalhava com muita resignação e
muito amor. Conseguiu rapidamente recuperar a memória de outros intervalos
celestiais e de vidas anteriores. Sempre em suas vidas terrestres ela se
preocupava com causas sociais e trabalhava em prol do próximo. Talvez por esse
motivo, Mestre Sócrates havia requisitado sua presença para trabalhar em seu
Palácio nesse intervalo celestial.
Dona Benedita então, era uma educadora muito bem conceituada daquele
palácio. Desde a volta de Orlando para a Terra há pouco mais de três anos, ela
assumiu todas as suas funções, fazendo palestras, dando cursos e reciclagens
para todos aqueles que eram designados para isso. Suas aulas eram
maravilhosas e encantavam desde o mais simples até o mais elevado dos seres.
Por vez ou outra ela ainda fazia questão de visitar seus entes na Terra. Seu
filho Genésio já estava com quase quarenta anos e ainda levava uma vida simples
apesar de ter conseguido comprar algumas terras na região. Sua esposa Clara
continuava sempre com seu semblante feliz e apaixonada por Genésio. Augusto e
Ângela já estavam dois adolescentes. O menino de dezoito anos seguiu
literalmente os passos da avó e ainda foi mais adiante, fazendo muitas caridades,
atendendo doentes, receitando ervas e aconselhando rezas para todos. Dona
Benedita sempre o intuía. Quando ela não podia ir pessoalmente, se conectava a
ele por pensamento influenciando positivamente o rapaz para que ele continuasse
sempre a fazer aquilo. E a menina Ângela de quinze anos também seguia os
passos do irmão. Eram todos uma família feliz e equilibrada.
/ / /
Naquele mesmo dia, Adelaide e Angelina conversavam sobre suas visitas nas
zonas de baixa freqüência:
- Adelaide, minha querida. Somente agora após doze anos de nossos
préstimos é que parece que Marcos está aceitando nossas intervenções.
- Louvado seja o grande Criador do Universo. – disse Adelaide - Nossos
filhos ainda estão sob as influências dos sofredores, mas Marcos, diferentemente
deles está há um passo de despertar.
259
As Moradas e os Segredos de Maria
/ / /
/ / /
260
Carlos Eduardo Milito
261
As Moradas e os Segredos de Maria
derramado uma só lágrima. O momento que ele vivia ele recordava de tudo que
havia feito como membro da comunidade de Mestre Zuzo. O choro era de
arrependimento. Aquilo era misturado ainda com o sentimento por ter abandonado
completamente seus familiares, pois por nenhuma das vezes que foi a Terra, foi
para fazer algo produtivo por seus familiares. Tudo foi visto com muita indiferença
e com a total ausência de amor.
Mestre Zuzo ficou estático, pois sabia que havia estranhos invisíveis por lá. Ele
estava com um grande ódio e começava a gritar incessantemente para que
Marcos parasse de chorar e não amolecesse seu coração. As duas senhores
então ficaram esplendorosamente visíveis para os dois e em meio a uma névoa
esbranquiçada e acompanhada de uma alva e ofuscante luz, tomaram Marcos
pelos braços, uma de cada lado. Em seguida, começaram lentamente a se elevar,
até que os três foram subindo e subindo tanto que desapareceram dos olhos de
Mestre Zuzo. Marcos havia deixado a comunidade Transeuntes das Trevas.
/ / /
No dia seguinte pela manhã, a menina Beatriz de doze anos acordava muito
feliz e tomava café junto com sua mãe, Márcia, seu pai Lúcio e suas duas irmãs
mais novas. Ela contava sobre um sonho lindo que havia tido:
- Sonhei que estava brincando com duas amigas e que no sonho a gente até
voava mamãe. Ela falavam assim para mim: Nós conseguimos! Nós conseguimos!
Então eu tentei fazer igual e também consegui voar.
- Que sonho interessante minha filha – disse Márcia – Mas você sabe que
nós não conseguimos voar, não é mesmo?
- Sim mamãe. Só achei o sonho bonito. Só isso.
- E suas amigas? Alguém que conheço da escola?
- Não lembro mamãe. Acho que não eram da escola. Mas no sonho eu sei
que eu as conhecia.
- Muito bem. Sonhos são sonhos e a realidade é que vocês têm que tomar
logo esse café para não perderem o horário da escola. Certo meninas? – interveio
Lúcio com o ar brincalhão de sempre.
- Certo papai! Já estamos terminando.
A menina Beatriz durante aquela noite havia captado formas pensamento de
suas duas amigas Adelaide e Angelina que haviam conseguido tirar Marcos
Albuquerque da comunidade e por isso é que acordava feliz e que teve o sonho.
Olga, agora Beatriz, teve então seu pedido atendido. Marcos estava livre da
comunidade Transeuntes das Trevas.
262
Carlos Eduardo Milito
/ / /
263
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 73
264
Carlos Eduardo Milito
/ / /
Clarice não vinha se sentindo bem. Nas últimas semanas ela vinha sentindo
muito cansaço e falta de ar e por isso havia se afastado completamente do seu
trabalho. Ficava na sua casa. Seu genro Laerte assumia por completo todas
funções dos negócios da família Albuquerque. Após muita insistência da sua filha
Emília, ela foi procurar um médico. Foi diagnosticado um problema coronário que
iria requerer cuidados dali para frente. Ela decidiu então que Laerte seria o homem
forte dos negócios, pois ela compareceria por lá eventualmente.
- Mamãe. Daqui para frente vê se a senhora sossega né? – falava Emília
para sua mãe Clarice.
- Você sabe que desde quando perdemos o seu pai o trabalho para mim era
uma terapia. Agora estou sendo obrigada a diminuir o ritmo.
265
As Moradas e os Segredos de Maria
- Ainda bem mãe! Você sabe que Laerte é um executivo exemplar. Pode ficar
tranqüila com ele no comando dos negócios.
- Eu sei disso Emília. Mas eu sempre gostei de estar presente.
- Mamãe. A senhora continuará como membro do Conselho. Quando houver
a necessidade de uma decisão importante, logicamente a senhora irá opinar. O
dia a dia dos negócios o Laerte toca.
- Ainda bem que ele incorporou e espírito empresarial.
- Lógico, mamãe. Este tino para negócios é de família. Veja o pai dele, que
também fez o comércio de roupas crescer muito nos últimos anos. E o Leandro
também segue os passos do pai.
- É verdade. E por falar nele, parece que o Leandro nem quer saber de
casar, não é mesmo filha?
- Parece que não. Ele já está com quarenta anos, teve várias namoradas,
mas não quer deixar os pais. Os dois têm saúde frágil e ele quer se manter
sempre prestativo.
- Tenho conversado sempre com Lourdes e ela esta bem.
- Mas Afonso requer maiores cuidados. Leandro é muito preocupado com os
dois, e então, na minha opinião ele nunca sairá de casa.
- Que coisa hein filha? Minha amiga Lourdes também acha isso.
As duas continuavam conversando e falaram sobre o orgulho da família que
era o único filho de Emília. Naquele ano, Júlio iria completar dezoito anos e Emília
e Laerte pretendiam prepará-lo para que um dia ele assumisse os negócios da
família. Ele era um bom rapaz, muito estudioso, inteligente e tratava
carinhosamente todos os seus familiares. Agora então como Júlio, Plínio que na
existência anterior construiu todo aquele império, votaria a ter de volta por herança
no futuro tudo aquilo que deixou na sua vida anterior.
266
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 74
267
As Moradas e os Segredos de Maria
268
Carlos Eduardo Milito
- Isso nós não sabemos. Aquelas duas ilustres senhoras que te ajudaram a
trazê-lo para cá estão trabalhando por eles. Angelina foi a mãe de Joel, assim
como Adelaide foi a mãe de Ernesto.
Albuquerque encheu os olhos de água ao saber que as duas eram mães dos
dois que por tantos anos ele odiava. Ele pensava intimamente em como poderia
duas senhoras tão bondosas terem filhos com índoles tão diferentes delas. Mas
instantes depois, ele recordava alguns ensinamentos que já havia tido por ali onde
as características de personalidade tem essência na alma não havendo influência
genética para isso.
Dona Benedita se despediu e a alguns metros à frente, Fabrício aguardava
Albuquerque para que eles retornassem ao Centro de Recuperação do Palácio da
Cura. Os dois seguiram juntos enquanto Dona Benedita tomou o seu rumo.
Albuquerque ainda não sabia dos planos traçados para ele, pois ainda não
entenderia a grandeza da missão envolvendo todos os personagens.
269
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 75
Lucas foi avisado por Dona Dora que seu pai chegaria ao mundo astral
naquele dia. Era segunda-feira e ele já vinha apresentando problemas de saúde, e
então, sofreria um derrame cerebral fulminante naquela manhã. Diferentemente de
outras criaturas que chegavam ao mundo astral diariamente, Afonso despertaria
junto aos perambulantes terrestres. Desta forma ninguém da Morada Universo
Solar poderia estar naquela missão de resgate.
- É uma pena que o papai tenha tido uma vida tão cética lá na Terra. Ele
acompanhava minha mãe em missas, mas sua crença era nula.
- É mais fácil lidarmos com seres dessa região do que outros de regiões de
baixa freqüência. Poderemos trazê-lo para cá em um futuro não muito distante.
- É verdade vó. Mas o que eu acho mais importante, é dar uma sustentação
para meus familiares que irão chorar a perda dele.
- Intimamente eles já estão preparados para isso, Luquinhas. E há também
um ingrediente que existe para qualquer ser humano que deixa sua roupagem
carnal: É o chamado ingrediente do tempo. Esse precioso instrumento faz com
que as pessoas aceitem e assimilem qualquer perda. É como um cicatrizante para
uma ferida.
- Sim, mas não custa ficarmos atento a eles, nem que for em pensamento.
- Lógico, Lucas. Esse é o nosso papel.
/ / /
270
Carlos Eduardo Milito
Foi com muita tristeza que o enterro de Afonso foi realizado no dia seguinte
pela manhã. Ele iria completar sessenta e sete anos em poucos meses se não
tivesse partido do Planeta Terra.
/ / /
271
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 76
Foi com muita tristeza que todos os habitantes da Morada Universo Solar
receberam a notícia do início da segunda guerra mundial naquela sexta-feira. A
invasão da Polônia pela Alemanha Nazista foi um marco de um evento que se
entenderia por exatos seis anos.
Mestre Jonas convocou todos os seus súditos para uma breve conversa no
Vale das Flores. Ele tinha em mente formar equipes de auxílio para expedições
periódicas nas terras européias. Em constantes conversas com todos os
Governadores da Morada Universo Solar bem como outros líderes de outras
Moradas Celestiais, eles chegaram a conclusão que seria necessário um grande
contingente de seres de luz para amparar todos aqueles que estariam envolvidos
em futuras tragédias. Independentemente das decisões dos homens providos de
roupagem carnal que colocou o Planeta Terra novamente em mais uma Guerra,
era necessário um plano de ação efetivo por seres astrais.
Depois de explicar sobre a Guerra que iniciava e alguns outros pormenores,
Mestre Jonas assim falava nos seus dizeres finais:
- Meus queridos irmãos. A Guerra é um fardo pesadíssimo. Não é hora, no
entanto, de lamentarmos. Precisamos agir em trabalhos de auxílio, juntamente
com seres de outras moradas vizinhas a nossa. Em breve, vou designar vários
líderes para esse trabalho. É sempre importante frisar que em um campo de
guerra nossos grupos irão se deparar com energias de baixa freqüência, pois
sempre há aqueles seres perturbados e desprovidos de luz que se alimentam de
tragédias e desgraças humanas. É preciso então, muita coragem e equilíbrio para
essas árduas missões.
Mestre Jonas fez uma ligeira pausa e depois continuou:
- Para encerrar, vou apenas mencionar a vocês o porquê os segredos de
Maria ainda não foram revelados aos nossos amigos terrestres. O grande
Arquiteto do Universo sabe o que faz. Há vinte e dois anos atrás as aparições de
Maria cultivaram uma semente de esperança na Europa, e nessa época havia
uma guerra por lá. O que aconteceu até agora, foi que a Igreja Católica já
reconhece como dignas de crédito as aparições da nossa Guardiã Mor e um ícone
de fé foi instaurado. Imaginem vocês, meus queridos se a terceira parte do
segredo fosse revelada aos homens, tal como vimos Maria dizer aos pastorinhos?
Mestre Jonas observou o semblante de todos ali presentes e continuou:
272
Carlos Eduardo Milito
/ / /
273
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 77
274
Carlos Eduardo Milito
de olhares emocionados e lágrimas por parte das duas. Clarice arrumou forças
sobre humanas e mesmo com o soro no braço esquerdo sentou-se na cama para
dar um abraço em Clara.
- Por que Clara? Por que você nos abandonou? – indagou Clarice
- Mamãe. Por quantos anos eu esperava esse momento. Sempre estive de
coração aberto para recebê-la.
- Foram mais de vinte anos, Clara! Uma vida! Por quê?
- Mamãe, a senhora fechou as portas para mim, mas isso já é passado. Hoje
tenho uma família linda. Tenho filhos grandes e somos muito felizes.
- Sempre quis o teu bem, minha filha! Quis o melhor para você.
- Por formas tortuosas mamãe, descobri meu caminho. Criei meus filhos com
extrema simplicidade. Submeti-me a todas as suas repreensões aceitando tudo
resignadamente.
- Como você queria que eu reagisse? Eu fiz o eu achava certo.
- Lógico mamãe. Tudo isso já é passado e maior parte da minha vida, estou
vivendo como uma pessoa pobre, mas confesso que durante todo esse tempo vivi
muito feliz.
- Mas por que Clara? Por que fez isso?
Clara chegou lá imaginando que o discurso da sua mãe seria diferente, onde
ela até pudesse pedir perdão pelo que fez. Não era isso que estava acontecendo.
As poucas palavras que trocaram até aquele momento fez Clara perceber que sua
mãe, mesmo que inconscientemente ainda condenava seus atos de vinte e dois
anos atrás. Então naquele momento Clara novamente lembrou-se de Dona
Benedita e falou:
- Fui impulsiva sim mamãe e peço o seu perdão por isso. É difícil tentar te
explicar o amor que sinto por Genésio, meu marido. É algo que transcende nosso
corpo, nossas aparências, nossas vaidades e nossas riquezas. Há algo mais
nessa ligação minha e de Genésio que foi base para a construção de uma família
linda e equilibrada. Dessa forma, por de traz das nossas raças opostas há uma
mesma essência divina e bela. Como seria bom, mamãe, se a senhora pudesse
enxergar da forma que eu enxergo as coisas hoje. Creio que a vida difícil
juntamente com a fé que aprendi a cultivar nesse meu lar me fez entender muitas
coisas da vida maior. Tudo isso aqui é uma passagem. De nada adianta
guardarmos ressentimentos e levarmos tudo isso conosco quando partirmos
daqui. Eu sei que também errei e peço sinceramente desculpas pelos meus erros.
Se a senhora não me perdoar entenderei a aceitarei isso resignadamente, por que
entendo o lado da senhora como mãe.
275
As Moradas e os Segredos de Maria
Clara observou sua mãe deitada com água nos olhos e continuou calmamente
a falar:
- Da mesma forma, mamãe, se a senhora pedisse perdão para mim eu
também te perdoaria por ter fechado as portas da sua casa. Tenho certeza que
todo esse meu sofrimento por ter me afastado da senhora foi um aprendizado para
mim. Veja só as minhas rugas mamãe: Eu ainda não completei quarenta anos,
mas sou uma mulher sofrida e sei que aparento mais idade, mas não me importo
com isso. O que dou importância nessa vida, mamãe, é do aprendizado que nós
daqui levamos. Vamos nos perdoar então mamãe. É um ato nobre que fará bem
as nossas almas.
Naquele momento Clarice foi tomada por uma emoção tão profunda que teve
seu estado agravado. Não conseguia falar nenhuma palavra sequer. Clara
prontamente chamou uma enfermeira que logo fez uma primeira análise e disse
que Clarice teria que descansar e não poderia mais passar por fortes emoções.
Clarice adormeceu sendo observada por suas duas filhas.
Do lado de fora do quarto estavam lá Augusto e Ângela, aguardando a sua
mãe Clara acabar de ter a conversa com sua avó. Augusto tinha muita esperança
em conhecê-la. Tanto ele como Ângela logo de criança souberam de toda a
verdade, mas sua mãe sempre preservou Clarice, procurando nunca condená-la
pela decisão de anos atrás. Naquela época, Dona Benedita também endossava as
palavras da sua nora.
Clara abriu a porta e pediu para os filhos entrarem. Clarice dormia a base de
sedativos e os netos rejeitados puderam conhecê-la. Mesmo sendo assim nessas
circunstâncias, eles ficaram felizes em pelo menos poder estar lá presentes.
Augusto ainda chegou bem junto de sua avó e fez uma prece para que ela fosse
amparada e não sofresse. Após alguns poucos minutos, os três se despediram de
Emília e seguiram o seu rumo.
/ / /
276
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 78
277
As Moradas e os Segredos de Maria
- Clara minha irmã. Por quantas vezes nesses anos eu pensava em ajudá-los
e mamãe sempre atenta aos mínimos centavos dos nossos negócios. Ela se quer
por uma só vez mencionou o nome de algum de vocês.
- Não posso julgá-la, mas creio que ela estava completamente cega para
isso. Se é que eu tive toda a culpa nessa estória, eu tive a chance de pedir perdão
a ela nos seus últimos minutos de sua consciência.
- Que coisa né Clara? Eu acho que ela que deveria pedir perdão a você.
- Não sei. Ela tinha as razões dela. E essa minha dúvida se ela me perdoou
ou não eu não vou poder saber enquanto eu viver. Confesso a você que isso me
entristeceu um pouco sim, mas tenho que enfrentar. Por outro lado, deixei claro
que da minha parte de coração aberto ela estaria perdoada por qualquer coisa.
- Clara, eu me orgulho de tê-la como irmã. Aquela menina determinada de
anos atrás está agora uma mulher madura e de uma índole muito boa.
- Emília, somos que nem uma árvore que durante a vida aqui na Terra vamos
crescendo e podemos nos tornar mais belas ou menos belas dependendo do local
onde crescemos. Sempre estive cercada de pessoas maravilhosas que me
ajudaram a ser o que sou hoje.
- Que bom Clara que você pensa assim.
/ / /
278
Carlos Eduardo Milito
/ / /
Afonso havia sido resgatado naquele mesmo ano e agora era um servente do
Palácio da Sustentação, juntamente com Estela e sua Tia Marta. Após ter ficado
quase três anos junto com os Perambulantes Terrestres, ele foi trazido para a
Morada Universo Solar por seu filho Lucas e Dona Dora. Sua felicidade por ter
Lucas e Dona Dora como referências para o aprendizado era tamanha, que ele
procurava ser um bom seguidor de todos os conselhos que eram dados. Após
chegar ali, compreendeu muitas coisas e costumava aceitar todas as explicações.
Intimamente pensava que quando viveu na Terra era completamente cético e até
se envergonhava com isso. Lucas em visita ao pai percebeu seus sentimentos:
- Pai, pare de se fixar no passado. Você tem que viver seu futuro para
reparar suas falhas. Muitos dos terrestres são totalmente céticos e querem uma
prova física do nosso lado. Não se envergonhe por ter sido assim também.
- Lucas meu filho. Perdoe-me por tudo. Durante anos eu tive o exemplo em
casa com a sua avó presente, mas eu não dava ouvidos a ela. Eu perdi a chance
de me conscientizar nas belezas da fé.
- Não se culpe pai. O que importa é que mesmo não acreditando em nada do
que há deste lado, o senhor foi uma pessoa que praticava o bem. Foi um bom pai,
criou seus filhos muito bem, foi um homem de família exemplar e no seu trabalho,
além de ter tratado bem seus funcionários, procurava ajudá-los sempre que
possível. Isso conta muito.
- Como foi bom poder reencontrá-lo meu filho.
- Assim são os caminhos da vida eterna. As perdas temporárias da vida
carnal são sofrimentos obrigatórios que durante a eternidade são compensadas
pelos sucessivos reencontros.
- E por que ninguém pode saber de tudo isso Lucas? As coisas não seriam
melhores lá na Terra se tivéssemos a certeza absoluta da vida que existe desse
lado?
- Querido Pai. Isso vai contra a lei universal.. Se todos os terrestres vivessem
lá sabendo da continuidade que existe por aqui, suas missões carnais perderiam o
sentido você não acha? A fé de cada um é que abre a mente das pessoas.
Poucos têm uma visão além dos olhos humanos e essas criaturas sofrem muito
por ver coisas que nem sempre gostariam de ver. Com o passar do tempo você
vai entender que o sistema é perfeito meu pai. Você resgatará sua memória de
outras vidas e outros intervalos celestiais tal como este. Então você poderá tirar
novas conclusões de muitas coisas. Tente não cair muito em indagações. É
279
As Moradas e os Segredos de Maria
normal você querer saber de tudo, mas aqui temos que saber sempre esperar o
momento certo para tudo.
- Às vezes me pairam muitas dúvidas na cabeça meu filho.
- Isso é normal meu pai. Você acabou de sair do Palácio da Cura faz só
alguns dias. Tudo será esclarecido no seu devido tempo.
- Está certo Lucas. Saberei aguardar o momento de tudo.
- Ótimo pai.
Depois de alguns instantes, Lucas se despediu, pois tinha outras tarefas a
executar. Ele prometeu que voltaria em breve para visitar seu pai.
/ / /
Júnior, o filho mais velho de Joel já estava com trinta e sete anos. Ele havia se
casado dois anos atrás com uma moça da região de Jundiaí que se chamava
Selma. Desde então não conseguiam ter filhos. Após muita insistência de sua
esposa, Júnior foi investigar e descobriu que era estéril. Talvez por esse motivo,
continuavam então a morar na fazenda. Talvez no futuro, se eles amadurecessem
a já cogitada idéia de adoção, poderiam residir na cidade.
Já Márcia sua irmã mudou-se para a cidade de São Paulo, pois os negócios
advocatícios do marido prosperavam e a maioria dos seus clientes encontrava-se
na capital paulista. Sua filha mais velha, Beatriz já estava com dezesseis anos e
pretendia continuar estudando em São Paulo. Bianca de catorze anos e Bárbara
de doze também apreciaram a idéia.
/ / /
280
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 79
Clarice despertava de um longo sono. Sua sensação inicial era de ter dormido
muito. Sua última lembrança foi a conversa que havia tido com sua filha Clara.
Depois adormeceu e não lembrava mais de nada. Seu desejo era continuar
conversando com sua filha, mas isso não foi possível.
Após despertar, Clarice se via em uma senzala. Os raios de sol entravam por
entre aquela janela. A aparência daquele local a fazia se lembrar de sua infância
tal como eram as fazendas na virada do século. Naquela época, a abolição da
escravatura era recente e nas fazendas existentes havia senzalas como aquela.
Clarice então levantou da cama onde estava e se viu sozinha naquele
ambiente. Resolveu sair caminhando pelos arredores, abrindo a porta e saindo de
lá. Tal foi o seu espanto que notou um grande número de senzalas igual aquela de
onde acabava de sair. Nem em uma grande fazenda ela se lembrava de ter visto
tamanha quantidade de casas.
O local parecia agradável. O dia estava bonito. Havia uma boa quantidade de
vegetações, árvores, riachos e sons de pássaros cantando por ali. De repente ela
começou a perceber homens e mulheres caminhando nas cercanias daquele local.
Todos com a aparência de escravos tanto pelos traços físicos como pelos
vestuários. Lá estavam homens, mulheres e crianças. A diferença é que todos
mostravam um semblante feliz, diferentemente da época da escravidão no Brasil.
Para Clarice, o dia agradável pareceu ter mudado completamente. Ela não
compreendia o que estava acontecendo. Ela nunca admitiu para ninguém, mas na
sua última vida na Terra tinha uma grande repulsa por pessoas da raça negra.
Agora ela estava vendo uma cena que mexia com seu íntimo. Sua aflição é que
talvez fosse obrigada a ter que abordar alguém dali para tentar conseguir alguma
explicação. Sua situação era embaraçosa. Teria que enfrentar o preconceito.
Um simpático senhor negro e com barba branca que aparentava ter uns
sessenta anos de idade surgiu na frente dela e se apresentou:
- Prazer minha senhora. Meu nome é Alceu. Sou o responsável por esta
comunidade que é chamada Morada Zumbi dos Palmares.
- Por que me trouxeram aqui? Eu estava bem no hospital. Eu nem consegui
conversar direito com minha filha Clara.
- Fique calma, Senhora. Chegará o momento adequado que você poderá
rever sua filha. É preciso saber esperar.
- Mas onde estou? Que lugar é esse?
281
As Moradas e os Segredos de Maria
282
Carlos Eduardo Milito
Alceu parou de falar por alguns instantes, com suas duas mãos tomou
carinhosamente as mãos de Clarice para dizer:
- Mais vale alguém que tem pensamentos elevados, faz caridades, se
preocupa com o próximo, tem amor no coração, e principalmente sabe perdoar, do
que aquelas assíduas pessoas que freqüentam suas igrejas, rezando e se
comungando, mas, no entanto, não seguem os ensinamentos do Mestre dos
Mestres. O perdão minha Senhora, é um dos mais louváveis atos que existe.
Temos que começar a praticá-los dentro da nossa própria casa como exercício
para ocasiões ainda mais difíceis. Sua filha Clara viverá seus últimos anos lá na
Terra sem saber se foi perdoada por você. Somente no momento que reencontrá-
la na eternidade da vida é vocês poderão resolver essa rusga entre vocês duas.
Posso afirmar que desde muito tempo atrás ela estava esperando por isso.
Clarice caiu em lágrimas. Chorou de arrependimento por sua filha. Seus
sentimentos estavam embaraçados. Acabava de tomar ciência que não vivia mais
na Terra, e se via presente em uma comunidade que não era do seu agrado. Por
outro lado não teria mais ninguém a recorrer por lá. As palavras de Alceu
entravam profundamente em seu interior. Naquela última conversa que teve com
sua filha ela até pensava em reatar contatos, mas não estaria disposta a conhecer
sua família. Ela percebeu então que se levasse aquela idéia adiante não estaria
exercendo um ato de perdão por completo. Por isso continuava a chorar.
Alceu deixou ela extravasar bastante sua tristeza para depois continuar a falar:
- O convício que você terá na nossa aconchegante Morada irá te ajudar a
cicatrizar as suas feridas. Nossa comunidade é pequena, mas estamos em
constante sintonia com outras moradas celestiais que trilham o caminho da luz.
Digamos que na escala hierárquica nós somos uma das mais próximas à Terra.
Você ficará ainda nessa casa onde você despertou, e assim que estiver mais
fortalecida irá fazer nobres trabalhos de auxílios.
Alceu se despediu e a deixou a vontade. Após ouvir todas aquelas palavras,
Clarice preferiu manter-se em silêncio, voltou para sua senzala e deitou-se na
cama de onde despertava. Mergulhada em pensamentos confusos em um misto
de tristeza e remorso, adormeceu.
283
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 80
284
Carlos Eduardo Milito
- Isso mesmo, Mestre Jonas. Então vejam nossa missão: Temos que fazer o
mundo sair desse cenário de Guerra para depois cultivarmos todos esses
conceitos de fraternidade para os terrestres. E voltando a falar do terceiro
segredo, podemos ainda com nossas intervenções influenciar o homem para que
Planeta Terra não sofra graves conseqüências pela ignorância de uma minoria.
- Continuemos a trabalhar então, Mestre Zeus – disse Mestre Jonas – Nós e
todos os nossos súditos para o bem do Planeta Terra.
Os Governadores continuavam a dialogar e comentavam as próximas ações
em missões de auxílio dos campos europeus em função da guerra. Haveria ainda
muito trabalho pela frente.
285
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 81
A guerra que assolava a Europa já havia completado dois anos e durante todo
esse período, as expedições das moradas celestiais eram freqüentes nas frentes
de batalha. Lucas era o líder de um dos grupos de Mestre Jonas e juntamente
com Paulo Ribeiro, estavam sempre em trabalho ativo.
Na manhã daquele domingo, a missão era a oitenta quilômetros na cidade
polonesa de Lodz. O local era conhecido como Chelmno, uma região muito bonita
cercada por florestas e rios. Ali seria utilizado como um dos campos de
concentração para o extermínio sistemático de pessoas.
Ao chegar aos arredores daquele lugar, Lucas explicou aos seus comandados:
- Meus queridos. É com muita tristeza que venho comunicar que a partir de
hoje temos uma das mais árduas missões nessa guerra. Durante décadas
algumas mentes humanas residentes aqui na Europa vêm cultivando o Anti-
Semitismo. Os líderes desta guerra estão decidindo exterminar todos os Judeus
que residem neste continente.
Lucas, que estava comandando um grupo de dez pessoas, observou a
fisionomia de todos para depois prosseguir.
- Nosso objetivo então será dar todo o apoio as pessoas que perderem a
roupagem carnal tão logo isso ocorra. Observem estas centenas de seres
terrestres. Este grupo já foi dividido daqueles que serão utilizados como escravos
em fabricas e empresas industriais nas proximidades daqui. Vejam que aqui estão
os considerados mais fracos incluindo mulheres e crianças. Daqui há alguns
instantes eles serão levados para a câmara de gás.
Todos os comandados de Lucas mostraram uma expressão de muita tristeza
ao ouvir aquelas palavras, porém continuaram atentamente a ouvir o líder daquele
trabalho.
- Vejam vocês que há centenas de grupos astrais como os nossos aqui
presentes. São grupos de diversas moradas celestiais que darão toda a
sustentação a este lamentável episódio da história. Estes grupos de luz agirão
como nós, fazendo o trabalho de recepção destes nossos irmãos sofredores. Mas
observem também que aqui há grupos de regiões cinzentas do universo que se
alimentam dessas tragédias da guerra. Estes irmãos sofredores não conseguem
nos enxergar e terão como cenário apenas as coisas materiais encontradas por
aqui e tudo que daqui restar tal como os corpos sem vida que forem deixados por
este campo de concentração.
286
Carlos Eduardo Milito
Enquanto isso não muito distante dali estava um grupo dos Transeuntes das
Trevas comandado por Zé Trovão. Um dos seus integrantes era Ernesto que ouvia
as explicações de seu líder.
- Como vocês já sabem este aqui é o cenário ideal para buscarmos os
nossos alimentos. Vejam vocês que estes dois anos foram magníficos aqui na
Europa. Esta guerra não terminará tão cedo, então teremos algum tempo ainda
para nos deliciarmos.
Apesar de Joel pertencer a essa mesma comunidade, ele estava em outro
grupo que era liderado por Magrão, pois ele evitava trocar palavras com Ernesto.
Magrão por sua vez explicou ao seu grupo:
- Prontos para se divertir? Daqui a pouco começará o espetáculo. Aproveitem
bastante, que onde há extermino em massa é de onde tiramos maior quantidade
de alimentos para nós. Isto aqui é como um banquete.
Adelaide e Angelina que acompanhavam seus filhos encaravam aquilo com
muita tristeza. Os dois ainda viviam em zonas de baixa freqüência e com aquela
guerra, todas essas regiões obscuras pareciam que ganhavam mais força. Aquilo
tudo que acontecia na Europa era como um combustível para esses grupos.
Angelina observava o seu filho Joel no grupo liderado por Zé Trovão e notava
que o seu semblante não era de alguém que estava completamente feliz com
aquilo tudo. Ela então chegou próximo a ele encostando as suas duas mãos sob a
sua cabeça e disse:
- Joel meu filho. Como eu gostaria que você me percebesse. Estou há muitos
anos de tempo em tempo intervindo por você. Arranque esse ódio do seu coração
e siga um caminho de luz. Você já saiu de freqüências ainda piores quando viveu
por anos naquele mar de fogo. Para que se alimentar de desgraças humanas?
Para que?
Conforme a cena do extermínio ia avançando onde pessoas inocentes eram
levadas nuas para as câmaras de gás e sendo cruelmente executadas Joel
começou a chorar. Foi tomado por um desespero nunca sentido desde quando
chegou ao mundo astral. Entre muitas lágrimas e soluções ele rezava:
- Isto tudo não é possível. Eu não agüento mais ver tanto sofrimento assim.
Meu Deus vem me ajudar. Tem que existir alguma força superior neste Universo.
Estou sofrendo muito meu Deus! Por que ainda tenho que sofrer? Já vivi anos no
inferno e agora ainda continuo sofrendo. Mãe! Eu quero ajuda mãe! Venha me
buscar!
Angelina se emocionou. Em todos aqueles anos Joel nunca havia mencionado
o seu nome ou de outra pessoa que ele tinha vivido na Terra. Ele estava
sensibilizado por tudo aquilo e parecia que abria seu coração. De repente Joel
287
As Moradas e os Segredos de Maria
começou a ver na sua frente uma névoa branca que pouco a pouco foi ganhando
densidade até surgir a imagem de Angelina na sua frente. Joel caiu em prantos e
abraçou forte a sua mãe. Entre soluços e lágrimas falou:
- Mãe. A senhora me ouviu?
- Eu nunca te abandonei Joel. Eu sempre estive do seu lado tentando te
fazer despertar. Chegou o momento de você me perceber.
- Perdi a noção do tempo. Posso dizer que tenho sofrido muito por todos
esses anos. Sinto-me cansado minha mãe.
- Joel venha comigo. Eu te levarei para um lugar onde você possa se
recuperar. Você tem muitas lesões na sua roupagem astral. É chegada a hora de
você conhecer os caminhos da luz.
- Então existe mesmo Deus, minha mãe?
- Lógico que sim. Mas para compreendê-lo é necessário muito trabalho para
que então atinjamos um nível de evolução que permita esse atributo a nossa
mente. Se vier comigo poderei te ajudar muito meu querido.
- Mas e meu grupo? Irei sem avisar Magrão? E os outros?
- Cada um tem o seu momento de despertar. Essa comunidade de baixas
freqüências te prendeu a ela por laços invisíveis que acabaram de se desfazer.
Você estava preso a eles assim como esteve preso ao Mestre Lúcifer há alguns
anos atrás. Preocupe-se agora em ir embora que eles não conseguem nem nos
enxergar como comunidade astral. Por exemplo, você consegue me ver agora,
pois acabou de entrar na minha sintonia de pensamentos. Eles diferentemente
nem percebem minha presença e assim que eu te envolver para te levar daqui não
perceberão a sua presença também.
Joel ficou pensativo observando sua mãe quando ela disse.
- Venha meu querido. Vamos sair deste lugar com energias tão pesadas. Há
grupos de diversas moradas de luz trabalhando por aqui. Infelizmente não
podemos fazer nada pela comunidade a qual você pertencia. Todos terão o seu
momento certo para o despertar. Não se apegue mais a eles. Saia dessa sintonia
meu querido.
- Está bem, minha mãe. Rogo para que me leve embora.
Ao final daquele dia de extermínio, todos os grupos das moradas de luz que
deram sustentação àquele trabalho levaram as criaturas que acabaram de perder
sua roupagem carnal em diversos setores em moradas circundadas pelo Sol que
ilumina a Terra.
Naquela noite, já na Morada Universo Solar, Angelina e Adelaide conversavam
nos arredores do Centro de Recuperação do Palácio da Cura.
288
Carlos Eduardo Milito
289
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 82
290
Carlos Eduardo Milito
291
As Moradas e os Segredos de Maria
292
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 83
Laerte havia conhecido Lúcio por indicação dos diretores do Banco quando
decidiu contratar um escritório de advocacia somente para tratar de assuntos
trabalhistas. Em pouco tempo tornaram-se amigos até que naquele Sábado Laerte
fez questão de convidá-lo juntamente com toda sua família para um jantar na
mansão da Av.Paulista.
Assim que se conheceram Júlio e Beatriz ficaram deslumbrados um com o
outro. Ele agora tinha vinte e três anos e era o braço direito do seu pai nos
negócios da família. Já Beatriz era a filha mais velha de Lúcio e havia completado
dezoito anos em meados daquele ano. Todas as filhas de Lúcio e Márcia tinham
uma beleza toda especial, mas Beatriz era a que chamava mais a atenção. Dona
de um olhar meigo e de traços bem definidos conquistou o coração de Júlio.
Durante aquela agradável noite, Júlio apesar de ter se encantado mais com
Beatriz, tratou também as outras duas bonitas moças da mesma forma: Com
muita educação e com muito carinho tentando não demonstrar sua preferência por
Beatriz. As pessoas mais velhas que ali estavam, tal como Lúcio, Márcia, Laerte e
Emília conversavam alegremente na sala de visitas enquanto Júlio mostrava para
as belas moças suas coleções de livros na Biblioteca.
O que acabava de acontecer agora sem que ninguém soubesse era o
reencontro de Plínio e Olga. Plínio agora vivendo como Júlio havia se encantado
com Olga, agora como Beatriz. Aquilo seria somente o começo de uma linda
estória de amor.
/ / /
Se Emília parecia que já estava encaminhando o seu filho Júlio para um futuro
matrimônio, o mesmo ocorria com sua irmã Clara onde seus dois filhos também
namoravam sério. Augusto namorava Soraya que era menina de origem bem
humilde e trabalhava na cidade de Jundiaí enquanto Ângela namorava com
Jurandir que trabalhava na fazenda de Júnior. Da mesma forma que o primo
abastado, o casal de irmãos também já estava na idade adulta e desejava que a
família aumentasse.
/ / /
293
As Moradas e os Segredos de Maria
Leandro morava sozinho com sua mãe que já passava dos setenta anos de
idade e sempre requeria maiores cuidados. Dona Lourdes depois que ficou viúva
via sua saúde ainda mais debilitada. A presteza do seu filho caçula dava a ela um
conforto que a motivava a viver.
Lucas por vez ou outra, sempre acompanhado por Dona Dora fazia visitas ao
seu irmão e sua mãe. Quando isso acontecia Lourdes e Leandro
inconscientemente sentiam um grande bem estar.
/ / /
Naquela noite após o jantar na casa de Emília e Laerte seu filho Júlio
conversava com o pai.
- Pai, eu não poderia imaginar que Dr.Lúcio que presta serviços para nós
tinha filhas tão bonitas.
- É verdade Júlio. Mas pelo que notei,você se encantou mesmo foi por
Beatriz, não é verdade?
- Não nego pai que ela balançou meu coração. Apesar de ter somente
dezoito anos mostrou-se com muita maturidade. Conversamos vários assuntos. As
três moças foram muito cordatas e de boa conversa.
- Fico feliz meu filho. Você está com vinte e três anos, já tem muitas
responsabilidades e o dia em que pretender se casar conseguirá manter sua
família.
- Vamos deixar o tempo dizer isso meu Pai.
/ / /
294
Carlos Eduardo Milito
295
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 84
/ / /
Joel havia sido resgatado há mais de três meses e ainda estava em estado
latente. Ele dormia do Centro de Recuperação do Palácio da Cura e estava sob
cuidados de Fabrício. Albuquerque que se encontrava equilibrado e estava prestes
296
Carlos Eduardo Milito
a voltar para Terra havia sido poupado dessa notícia. Para ele, Joel ainda estaria
sob influência dos Transeuntes das Trevas. Por vez ou outra Joel acordava, sentia
algum mal estar e voltava a adormecer. Todos os anos de estadia no Vale do
Horror bem como outros tantos anos de convivência no Vale das Trevas o deixou
com várias lesões na sua roupagem astral. Angelina conversava com Fabrício.
- E o meu filho. Como vai a recuperação dele?
- É preciso ter paciência Angelina. Creio que mais alguns meses ele poderá
caminhar pelas cercanias do nosso Centro de Recuperação e aos poucos ficará
bom.
- Que intervalo celestial penoso, não é Fabrício.
- Minha querida, sabemos que ele é que provocou tudo isso. Poderia ainda
ser pior. Veja só você os nossos irmãos que lutam no Centro de Regeneração que
é ainda mais penoso do que este.
- É verdade! Vamos vibrar para que Joel melhore o quanto antes.
- Sim, com certeza. Além de tudo ele terá que voltar a Terra no final do ano
que vem.
- Eu sei. Minha amiga Olga, hoje como Beatriz o receberá como segundo
filho já que Marcos irá partir em dois meses.
- Que missão bonita que nossa amiga Olga terá. Tenho boas recordações
dela quando esteve aqui conosco.
- Teremos ainda a eternidade pela frente para reencontrá-la pelos intervalos
celestiais.
- Isso mesmo Angelina. Que assim seja.
297
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 85
A pedido de Mestre Jonas, Lucas, Dona Dora e Afonso tinham uma missão
especial naquele dia. Eles iriam receber Dona Lourdes que seria a próxima
habitante daquela Morada. Ela ira então naquele Domingo deixar sua roupagem
carnal. Nos últimos meses ela já vinha com a saúde muito debilitada e seu filho
Leandro ficava muito atento a tudo. Chegava então o momento dela partir.
Logo pela manhã, ela foi levada pelo filho na Santa Casa de Misericórdia, pois
estava se sentindo fraca e com falta de ar. Ela então foi internada para exames de
rotina e na própria enfermaria do hospital veio a falecer. Leandro chorava muito,
no entanto arrumou forças para avisar a todos os familiares sobre o ocorrido.
Enquanto isso, os seres astrais ali presentes agiam. Lucas retirou a roupagem
astral que estava junto ao já falecido corpo de Lourdes. Ele a tomou
carinhosamente puxando-a com suas duas mãos. Dona Dora e Afonso apenas
observavam a cena. Lourdes mostrava sua roupagem astral com um olhar perdido
como se estivesse hipnotizada. Os quatro então saíram daquele cenário e
seguiram para a Morada Universo Solar. Lourdes ficaria descansando alguns dias
em uma das vilas do Palácio da Sustentação.
Após acomodarem Lourdes em seu leito em uma das casas da mesma vila
onde Afonso vivia, Lucas conversava com seu Pai:
- Agora mamãe deverá dormir alguns dias para depois despertar.
- Que bom meu filho que ela teve melhor destino que o meu. Para chegar
aqui fiquei vagando junto aos perambulantes terrestres por algum tempo.
- Cada um dos seres terrestres que por aqui chegam, tem um destino
diferente meu pai. Para alguns há percalços maiores e para outros nem tanto.
Com algumas exceções, tudo é fruto do que foi cultivado na última existência na
Terra. Creio que mamãe apesar de não ter seguido fielmente os conselhos de
vovó, teve uma missão terrestre exemplar nos criando com muito amor e sempre
pregando a fraternidade. Dessa forma foi reservado para ela um caminho de luz
nesse início de intervalo celestial. Mais alguns dias ela despertará, e então
Madalena será designada a dar ela as primeiras palavras, assim como fez comigo
há muitos anos atrás quando aqui cheguei.
- Muito interessante, meu filho. E por que não um de nós para a recebermos?
- É mais adequado no caso dela manter a sua roupagem astral em perfeito
equilíbrio e parar isso, é importante evitar fortes emoções ligadas a última vida
dela lá na Terra. Veja você que nossa recepção já foi feita, porém ela não nos
298
Carlos Eduardo Milito
percebeu, pois estava em estado latente, como alguém que está hipnotizado. Ela
não nos viu, porém sentiu nosso carinho, mesmo nesse estado.
- E você meu filho? Como foi sua chegada aqui?
- Como eu já disse, não há uma regra para a chegada do mundo carnal. No
meu caso, pela forma brusca de como eu perdi a roupagem carnal eu continuava
consciente como se nada tivesse acontecido e assim eu nem percebia a transição.
Logicamente então, não havia nenhum familiar que eu já soubesse que não vivia
mais na Terra para não mexer com minhas emoções de imediato. Fui recebido por
Madalena, Mestre Jonas e Antero que hoje vive como Augusto, filho de Clara e
Genésio. Depois que cheguei aqui, adormeci por alguns dias para depois tomar
conhecimento das coisas.
- Interessante meu filho. Então esperemos que sua mãe tenha um bom
despertar por aqui.
- Isso com certeza acontecerá, meu Pai.
/ / /
299
As Moradas e os Segredos de Maria
300
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 86
/ / /
O astral estava em festa, pois duas almas gêmeas haviam se unido novamente
em um mundo carnal. Na hora da bênção do Padre no altar, havia um grande
número de habitantes da Morada Universo Solar. As amigas de Olga, agora
Beatriz estavam lá presentes: Angelina e Adelaide com um semblante de muita
felicidade. Também estavam presentes, Afonso, Dona Dora e Lucas que faziam
parte da família de Laerte, pai do noivo. Já da família de Emília, mãe do noivo
estava lá presente somente Albuquerque que teve permissão especial para esse
evento, pois ele regressaria em breve para a Terra justamente como filho daquele
casal que ali estava. Por determinação do Mestre Sócrates, seu governador,
Clarice ainda não poderia passar por tais emoções então não foi a terra. Já da
família de Márcia, mãe da noiva, Joel ainda continuava em estado semi latente no
Palácio da Cura e então desconhecia tudo que ocorria na terra com seus
descendentes.
Dona Lourdes que também fazia parte dos ascendentes de Júlio ainda não
podia excursionar por muito longe de onde ela estava, pois ainda não havia
301
As Moradas e os Segredos de Maria
alcançado o equilíbrio necessário para isso. Sua chegada ao astral era muito
recente.
O motivo de alegria dos ascendentes dos noivos era por que aquele
casamento se tratava da união de duas almas que já haviam ficado juntas por
outras vezes durante a eternidade e isso não era sempre que acontecia com
descentes diretos.
Marcos Albuquerque aproveitou ainda aqueles momentos para ver e rever
seus pais. O que iria acontecer com ele era algo especial. Ele seria filho dos
mesmos pais que lhe conceberam no século anterior. Só que agora ele iria viver
uma nova vida. Depois de muito sofrimento nesse intervalo celestial, ele enfim
parecia haver encontrado o caminho de luz e a coroação daquela nova fase que
ele estava vivendo foi vislumbrar seus pais casando nessa nova vida. Ele se
emocionou ao ver a troca das alianças e observava os gestos de Júlio, seu olhar,
seus sorrisos e por de traz de tudo aquilo, ele concluía que semelhança era
notável. Plínio o seu pai estava ali diante dele e aquilo o sensibilizava ainda mais e
dava a certeza a ele o grande Arquiteto do Universo era bom por dar a eles uma
nova chance de reencontro.
/ / /
302
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 87
303
As Moradas e os Segredos de Maria
- Está sim, e será cobrado por isso no seu próximo intervalo celestial. Por
isso, aceite todos os percalços que virão na sua nova vida. Pratique o bem
incondicionalmente, e ame a todos como se fossem seus filhos.
- Com certeza, Mestre Klaus. O sentimento que me acomete nesse instante é
muito difícil de eu explicar. Quando estamos na Terra amamos os filhos acima de
tudo e agora, deste lado da vida, pude observar que por um lado todos os meus
descendentes estão se encaminhando e vivendo felizes, e por outro lado eu serei
um motivo da felicidade deles, onde vejo uma das minhas próprias filhas além de
meu neto desejando que a família crença.
- São os laços eternos como bênção do nosso grande Arquiteto.
Mestre Klaus encaminhou Albuquerque aos cuidados de Dona Dora para que
começasse o trabalho de miniaturização. Ele teve naquele mesmo dia a
oportunidade de se despedir dos amigos e de Clarice para depois partir. Como a
maioria das pessoas falava quando voltava a Terra em novas missões carnais ele
também disse a famosa frase “Até a eternidade” para todos de quem havia se
despedido. Naquela madruga então, Júlio e Beatriz receberiam Albuquerque como
filho. Em poucos dias o casal saberia que teria o seu primeiro filho.
304
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 88
305
As Moradas e os Segredos de Maria
306
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 89
307
As Moradas e os Segredos de Maria
- Que coisa não hein meu filho? O que será que falta para esses
governantes?
- Falta muito meu pai. O Planeta Terra é um mundo de expiações e irá
demorar a evoluir. Independentemente disso, nosso trabalho por aqui continua.
Tenho ido diariamente aos campos de batalhas da guerra em duras missões. Eu
juntamente com Paulo lideramos equipes de socorro aos aflitos.
- Nobre tarefa, meu filho! – Disse Lourdes. Continue essa criatura linda que
você é.
- Pare de me ver com esse ar materno, Dona Lourdes – brincou Lucas –
Vocês também tem nobres tarefas por aqui. Todo bom trabalho é digno minha
mãe.
- É verdade meu filho. É verdade!
/ / /
Enquanto isso, Beatriz se sentia a mulher mais feliz do mundo por razão da
gravidez. Antes mesmo dele nascer já estava destinado que ela seria mãe de três
filhos e por esse motivo sua felicidade era ainda maior por viver aquele momento.
Seu inconsciente talvez registrasse essas informações. O destino já traçado no
intervalo celestial começava a se desenhar. Os seus três meses de gravidez eram
vividos intensamente por ela.
/ / /
Augusto e Soraya viviam muito bem no casebre que era de Dona Benedita e
que ficava ao lado de onde viviam seus pais Genésio e Clara. Já havia passado
mais de três meses da data do casamento e o jovem casal comentava inclusive a
respeito de tentarem um primeiro filho
- Soraya meu amor, controle sua ansiedade. Estamos só há três meses
casados e logo chegará o momento de você ficar grávida.
- Eu sei meu bem, mas é que eu adoro crianças e não vejo a hora de
também termos o nosso filho . Até seu primo Júlio será pai.
- Eu acho que você não deveria pensar nos outros casais, meu bem. Cada
um tem o seu tempo. Eu acho que eu nem deveria ter te contado que a esposa do
meu primo Júlio está grávida. Acabei sabendo das coisas por que tenho o
ajudado a vender a produção da fazenda.
- Está certo, meu amor. Chegará a nossa vez sim.
308
Carlos Eduardo Milito
/ / /
309
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 90
24 de Outubro de 1.943
/ / /
310
Carlos Eduardo Milito
- É preciso que seja assim meu filho. Somente no próximo intervalo celestial
é que você poderá estar se reciclando nessa nossa Morada. Você precisa ainda
extirpar todo o ódio que ainda há no seu coração.
- Minha mãe. Desde quando eu cheguei aqui eu procurei não pensar
naqueles que eu não me dava bem na Terra. Eu afirmo que estou indiferente por
tudo o que aconteceu.
- Você está apenas encobrindo uma ferida que ainda está aberta, meu filho.
Somente uma missão carnal irá cicatrizar essa ferida.
- Eu não desejo mais o mal a ninguém, minha mãe. Eu sofri muito por todos
esses anos. O mar de fogo que me queimava e os seres horrendos que gemiam
por toda a parte me fizeram mudar. Então eu gostaria de ter mais tempo aqui para
poder usufruir de toda a beleza deste lugar.
- Chegará o momento do seu merecimento para isso, Joel. Conseguimos
trazê-lo para cá depois de muitos anos. O que você tem que entender agora, é
que se faz necessário uma nova missão na Terra.
- Mas agora que eu estava retomando minha consciência. – falava Joel com
a voz embargada – Me arrependo de tudo que eu fiz. Agora que eu acordei do
pesadelo e estou em tratamento tenho logo que partir? Meu Deus. Agora tenho
consciência que deixei meus filhos jovens e minha esposa Inês terei que voltar
novamente a carne? Eu queria mais algum tempo!
- O alcance da beleza celestial é para todas as criaturas do universo. Desde
aquela mais elementar até a mais nobre. Chegará seu tempo do justo convívio
nesta morada e até em outras moradas ainda mais elevadas do que a nossa. O
fato é que nesse instante será de muita valia você voltar a Terra em uma nova
missão. Pense o seguinte meu filho: Você agora tem mudado sua forma de pensar
e sente remorso por seus entes que deixou na Terra, não é isso? Tem pensado na
sua esposa e nos seus filhos que você deixou por lá, não tem? Pois então Joel.
Você terá com sua volta a carne a grande chance de redenção. Voltando, poderá
dar muita alegria a esta mesma família que deixou.
- Como isso seria possível, meu Deus?
- Vamos fazer o seguinte Joel. Vamos fazer uma visita a todos os seus entes
que depois te explico melhor.
- Visita? Agora? Vou rever minha esposa e meus filhos?
- Sim. Eu já havia comentado essa possibilidade com o nosso Governador, o
Mestre Artur, e ele mesmo foi quem achou válida essa idéia.
- É tudo o que eu quero agora mãe. Quero ver como estão os meus meninos
e minha esposa.
311
As Moradas e os Segredos de Maria
312
Carlos Eduardo Milito
- Isso mesmo Joel. Veja então que belo menino que é o Marcelo, seu
bisneto.
- Com certeza. A família apresenta traços bonitos. – disse Joel com um
semblante de tristeza, que depois continuou a falar – Meu Deus! Estou muito
arrependido pelo que fiz. Eu poderia estar ai com eles, não acha?
- Já te falei meu filho, não se amargure.
- Eu sei disso mãe. É difícil me controlar. Havia um véu me escondendo a
verdade da vida maior. Parece que agora começo a ter noção das coisas.
- Muito bem Joel. Vou te falar uma coisa meu filho. Sua neta Beatriz pretende
ter mais filhos. O seu marido é um sujeito de posses e eles desejam ter uma
família grande. Se você voltasse como filho deles poderia reparar seus erros
anteriores. Imagine a alegria que você poderia dar a seus entes com sua
chegada? Pare para pensar nisso Joel.
- Filho de Beatriz? Eu? Preciso refletir sobre isso, minha mãe.
- Então reflita com carinho, Joel. Vamos voltar agora para nossa Morada,
pois você está protegido por essa camada magnética que se desgasta com as
emoções. É de bom tom retornarmos.
- Está certo minha mãe. Fiquei feliz com a visita.
Joel e Angelina voltaram para sua Morada e todos aqueles acontecimentos
mexeram com o íntimo dele. A possibilidade de voltar na sua própria família o
deixava feliz, mas por outro lado ele ainda não queria partir. Por decisão dos seus
superiores, Joel não saberia naquele final de intervalo celestial que Marcos
Albuquerque, já nascido como Marcelo, e Ernesto seriam seus irmãos.
/ / /
313
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 91
314
Carlos Eduardo Milito
Aquilo fez com que Ernesto aumentasse ainda mais sua comoção por estar
assistindo tanta atrocidade. Ele não queria se mostrar esmorecido para seus
liderados, no entanto as duas bondosas senhoras ainda insistiam:
- Amoleça seu coração, meu filho. Abra sua mente para coisas mais sublimes
deste universo!
Zé Trovão percebia que algo estava errado com seu Mestre e logo interveio:
- Mestre Ernesto. O que está havendo? Estou sentindo você diferente.
- Não sei Zé Trovão. Acho que este novo artefato produzido pelo homem da
Terra está me deixando assim. Não me sinto bem!
- Como isso é possível Mestre? Não somos humanos.
- Não sei Zé Trovão. Mas vai passar.
- Mestre, isso tudo é alimento para nós! Anime-se. Veja que banquete – disse
Magrão com um semblante feliz.
- São as malditas energias de seres invisíveis a nós que estão tentando me
amolestar. Vou tentar afastar isso.
- Cuidado Mestre Ernesto. Lembre-se que desde a época de Mestre Zuzo,
por vezes nós acabávamos perdendo alguém para outros grupos. Não deixe isso
acontecer. Precisamos de você, Mestre Ernesto.
- Não vai acontecer nada. Eu já falei que isso passa.
Naquele instante acabava de chegar naquele local uma grande expedição da
Morada Universo Solar, liderada por Lucas. Surpresas, as duas senhoras
perguntaram assim que eles chegaram:
- Olá Lucas! Você por aqui?
- Olá minhas queridas. Esse fato que acaba de acontecer na Terra é de
profundo lamento. Eu vim por que há vários grupos nesta região em trabalho de
auxílio e estou aqui para tentar ajudar no que for preciso.
- Que bom Lucas. Estamos por aqui também e o que precisarem de nós,
estamos a disposição.
- Agradeço. Eu sei que vocês estão aqui por causa de Ernesto não é
mesmo?
- Sim Lucas. É também um trabalho difícil desaprisioná-lo desse grupo. Note
só ali adiante como eles estão alheios a nós e a tantas coisas bonitas.
- Continuem a vibrar exatamente como vocês fizeram antes de chegarmos.
Faça ele se emocionar bastante e então peço para Madalena e Paulo que vieram
comigo envolvê-lo em uma barreira magnética que irá hipnotizá-lo. Então ele
poderá ser levado ao Palácio da Cura em profundo sono.
Adelaide e Angelina continuavam vibrando e rezando por Ernesto. Elas faziam
aquilo com toda a força até que Ernesto chegou para os súditos e falou:
315
As Moradas e os Segredos de Maria
316
Carlos Eduardo Milito
três terão agora uma belíssima missão de resgate. Não pense então no tempo que
Ernesto ficará ainda entre nós. Pense na eternidade da vida e que com absoluta
certeza nos próximos intervalos celestiais o reencontro será mais duradouro e
feliz. Entendo perfeitamente sua posição de mãe, mas é necessário resignação
minha cara Adelaide.
- Você tem razão Lucas. Trazemos da terra esses sentimentos em relação ao
tempo e quando paramos para pensar, isso é uma pura bobagem, pois o tempo
aqui tem outra característica. Irei então ampará-lo nesses meses vindouros
mostrando a ele os caminhos da vida maior.
Naquele dia, Ernesto havia sido encaminhado para o Centro de Regeneração,
onde ficaria em sono profundo por algumas semanas e em pesados tratamento da
sua roupagem astral.
317
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 92
318
Carlos Eduardo Milito
- Exatamente. – concluiu Mestre Zeus - Temos que passar isso aos nossos
súditos que vêm trilhando o caminho da luz. É preciso nos desdobrarmos sempre
influenciando os governadores para que paz prevaleça. Apesar do Planeta Terra
ser um mundo de expiação, cabe a nós esse árduo trabalho. Temos que entender
que na escala evolutiva, a Terra como planeta também estará no futuro em
condições ainda melhor. A lei da evolução serve para tudo: Para os seres
desprovidos de roupagem carnal, para os seres terrestres e também para os
planetas.
319
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 93
320
Carlos Eduardo Milito
321
As Moradas e os Segredos de Maria
/ / /
No final daquele dia todo o trabalho de Dona Dora foi acompanhado por
Adelaide e por alguns amigos do Palácio da Transformação. Durante a noite um
espetáculo todo especial acontecia naquele Palácio. Vários seres miniaturizados
assim como Ernesto partiam dali enfeitando a noite estrelada. Todos partiram
juntos como pontos luminosos, no entanto, cada um tinha um destino diferente.
Eles chegariam em diferentes cidades e até em diferentes países.
Na mansão da Av. Paulista, Beatriz e Júlio dormiam abraçados após mais uma
noite de amor. Seus filhos menores repousavam em quartos vizinhos sob a
vigilância de babás. Os demais moradores daquela casa também descansavam:
Laerte e Emília em outro quarto e Leandro que também vivia ali. Logicamente
ninguém percebeu a chegada de Dona Dora com o mais novo integrante daquela
família. Beatriz então ficaria grávida do seu terceiro filho.
322
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 94
10 de Julho de 1.947
Em uma noite de quarta-feira Lucas conversava com Dona Dora a respeito dos
acontecimentos dos últimos anos com todos os seus entes lá da Terra:
- O filho mais novo de Beatriz está para completar um ano. É agora uma
criança muito feliz e nem parece que quando esteve no intervalo celestial ficou
rodeado por seres tão perturbados.
- O renascimento é uma dádiva, Luquinhas. Creio que Edgar que antes era o
Ernesto começou muito bem sua jornada na Terra. Mas é cedo ainda para que os
traços da sua já conhecida personalidade floresçam.
- Sim vó. Mas sabemos que Angelina e Adelaide ficarão sempre em estado
de vigília pelos três. Para nós, isso é habitual e no mundo deles isso por vezes é
classificado como a presença de um “anjo da guarda”.
- Isso mesmo Luquinhas. E nós, ao contrário dos três irmãos que tiveram um
intervalo celestial de algumas décadas, devemos apenas retornar a Terra no
próximo século. Temos ainda muitas missões por aqui, e assim, cabe a nós
também ajudá-los quando necessário.
- O importante é estarmos sempre nos reciclando e trabalhando em função
do próximo. É uma pena, minha vó, que lá na Terra os humanos ainda não se dão
conta de tudo isso. A prática da caridade é um ato nobre que raramente é seguido
por eles.
- É exatamente por isso que muitos seres terrestres ficam estagnados. Eles
jogam fora a oportunidade da nova vida que foi a eles concedida. São tristes estes
números meu neto, mas são reais. A grande maioria da humanidade fica
praticamente inerte. É como uma pirâmide. Poucos evoluem bastante e grande
base permanece praticamente parada.
- E os nossos entes que ainda estão lá? Será que estão aproveitando a
oportunidade?
- Vamos por partes então, meu neto. Veja só: Seu irmão Leandro enquanto
seus pais estiveram por lá fez a lição de casa. Dedicou-se ao extremo a eles. Não
casou por esse motivo. Vale lembrar que no começo da sua existência ele tinha
propensões aos vícios. Desde quando ele era adolescente eu intervinha por ele,
pois ele havia trazido pequenas lesões na sua roupagem astral, que não foram
totalmente sanadas e então era necessário um acompanhamento de nossa parte.
Digamos que ele se purificou nos anos dedicados aos seus pais.
Dona Dora fez uma pequena pausa e prosseguiu:
323
As Moradas e os Segredos de Maria
- Seu irmão Laerte também tem uma índole boa, no entanto não conseguiu
galgar tanto espaço assim como Leandro. Quando mais moço ele teve os
conselhos de Dona Benedita, porém depois que se casou, preocupou-se muito em
trabalhar para tocar o império da família, e deixou a parte fraternal de lado. Lógico
que ele foi um bom pai, uma pessoa trabalhadora, honesta e com muitas
qualidades, mas o que eu exponho aqui é o quanto cada um aproveitou até o
momento a existência terrestre.
- Isso reforça a tese da doação total em função de nosso semelhante.
- Assim deveria ser meu neto. E as dificuldades são colocadas nas vidas de
todos os humanos justamente por isso. A necessidade inicial é da sobrevivência.
Então a grande maioria das pessoas se atira ao trabalho. É preciso saber
administrar o tempo para que ao menos um pequeno gesto de benevolência em
favor do próximo seja realizado todos os dias. Nós daqui observamos que na
Terra o espírito fraternal aumenta bastante em época natalina. Isso deveria ser de
forma continuada.
- É verdade minha vó. E os outros que ainda estão por lá? Será que estão
aproveitando a chance?
- Todos evoluem lentamente. Alguns mais e outros menos. Veja você meu
neto a estória das filhas de Albuquerque. Emília que casou com seu irmão
conseguiu galgar alguns degraus até o momento, pois é uma mãe dedicada, uma
avó exemplar e sempre na medida do possível tentou ajudar ao próximo. Já Clara
que abriu mão de toda a sua riqueza, conseguiu galgar ainda mais espaço, pois o
ato de renúncia tem que ser considerado. Por ter conseguido criar seus filhos na
mais extrema simplicidade e sempre mostrando o caminho do bem, ela teve uma
missão carnal de grande valia. O mesmo ocorreu com Genésio. Posso dizer ainda
que seus filho Augusto e Ângela estão no mesmo caminho.
- E a sua neta Joana provavelmente também está, não é minha vó?
- Essa menina que agora tem quatro anos também terá uma grande chance
de evoluir mais do que outros seres. Veja você que quando Clarice viveu como a
toda poderosa da família Albuquerque, se mostrava religiosa, no entanto não
praticava corretamente os ensinamentos do Mestre dos Mestres. Por isso sua
existência ficou praticamente estagnada no âmbito evolutivo. Agora como Joana,
tudo será diferente. Ela será criada e educada para que venha praticando
caridade.
- Interessante, minha vó. Veja a senhora que a semente que Dona Benedita
deixou naquela família perdura até hoje com todos os descendentes.
- Daí a importância da difusão dessas boas maneiras indistintamente para
todos os povos, todas as raças e todas as camadas sociais. Essa é uma das
324
Carlos Eduardo Milito
formas de fazermos com que o planeta Terra um dia deixe de ser o conhecido
mundo de expiações.
- E em relação aos filhos de Joel? Como eles estão aproveitando essa
missão carnal?
- O filho mais velho, o Júnior está hoje com quarenta e cinco anos e a grande
frustração que ele carrega nesta vida terrestre é de não poder ter tido filhos.
Novamente eu volto a falar em lesões que permaneceram de outra vida terrestre.
Tudo foi provocado por ele mesmo, onde os abusos sexuais lesaram a região
genital da sua roupagem astral. Mesmo com todo o tratamento que ele teve no
último intervalo celestial, as seqüelas ainda sobreviveram e permanecem até hoje.
Diríamos que sua missão é de resgate. Dai então a explicação da sua grande
paixão pelas três sobrinhas, filhas de sua irmã Márcia.
- Minha avó. Márcia também vive uma missão de total dedicação para as
filhas. Ela e Lúcio sempre estiveram bem engajados nos propósitos familiares.
- Isso mesmo. Em resumo meu neto. Todos galgam. Cada um em um ritmo,
em busca da evolução. Márcia e Lúcio preservam a união familiar e se doam
inteiramente para os descendentes. Eles têm uma família grande, hoje com três
filhas e três netos e no futuro a família continuará a crescer. Veja só que
interessante então a sina do irmão Júnior que é sozinho com a esposa. Em
compensação sua irmã encabeça uma bela árvore genealógica. Estes contrastes
não são por acaso. Tudo se explica. Os atos de Júnior em vida anterior
provocaram isso.
- Por isso que nós que estamos deste lado vemos o sistema como perfeito
minha avó. Pudera o homem da Terra algum dia usufruir de tais atributos e torná-
lo um pouco melhor. Temos então que continuar vibrando muito para esse mundo,
minha avó! Temos que fazer todos os humanos seguirem os conselhos da nossa
Guardiã Mor, Maria, para que ele se regenere.
- Sim meu neto. Continuemos a trabalhar então fortemente. Nossa missões
celestiais é que faz o equilíbrio do Universo. As aparições de Maria no começo de
século foram ganhando pouco a pouco credibilidade e no futuro arrastarão
multidões de seres humanos em correntes de fé. Quem sabe não será uma
esperança de melhorarmos um pouco este pobre planeta? Aguardemos!
325
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 95
12 de Setembro de 1.947
Angelina conversava com sua amiga Adelaide após mais um intenso dia de
trabalha no Palácio da Cura.
- Então a esposa de Joel está entre nós agora? – perguntava Adelaide com
uma expressão de alegria.
- Sim chegou faz uma semana. O mundo astral a recebeu mais uma ilustre
personagem. Inês, que foi minha nora, foi também uma fiel esposa para o meu
filho Joel. Já estava com setenta e sete anos. Apesar de sua idade elevada, ela
não apresentava problemas de saúde e faleceu de repente com um aneurisma
cerebral.
- Melhor para ela, mas não para os entes que ela deixou por lá.
- Isso mesmo. Sabemos que existem pessoas que ficam agonizando por
anos e então a família vai se preparando para a partida, no entanto há casos
repentinos como o de Inês. Mas o fato amenizador é que ela já tinha uma certa
idade.
- De fato existem rompimentos mais chocantes pela Terra. Por exemplo,
quando um pai ou uma mãe perde um filho de repente. Mas sabemos que quando
isso acontece, há alguma razão muito forte por de traz de tudo isso. Há alguma
pendência de outras vidas que são carregadas. Isso geralmente é uma expiação
mais para os parentes que ficam do que para a pessoa que retorna para cá. Mas
e os descendentes de Inês? Como estão passando?
- Creio que assimilaram bem a perda. Os filhos foram os que mais sentiram a
partida dela, no entanto as netas já sofreram menos. Beatriz tem sua família, e
suas duas irmãs estão mais ligadas nos seus respectivos romances do que na
avó.
- E os “nossos” meninos, ou ainda, e os bisnetos de Inês? Como vão?
- Eles são muito pequenos ainda para entender tudo que se passa, mas
posso te assegurar que estão bem. Marcelo o mais velho que agora tem quatro
anos soube que a sua vovó era idosa e agora virou “estrelinha”. A mesma estória
foi contada para José que tem três anos. Parece que assimilaram bem. O mais
novinho, o Edgar, ficou alheio a isso.
- É interessante Angelina! Estamos falando agora dos meninos pelos quais
tanto lutamos para tirar das regiões obscuras. Agora estão juntos em uma nova
família. E sabemos que durante o intervalo celestial eles mal se falaram. Agora
convivem juntos. São os desígnios da vida eterna.
326
Carlos Eduardo Milito
- Isso é maravilhoso. É uma chance de redenção que eles estão tendo agora.
Tomara que eles aproveitem.
- Irão aproveitar, minha amiga. Temos só que ajudá-los durante os próximos
anos, e estar preparadas para tudo, pois “nossos filhos” da última vida não
conseguiram retornar para lá com a roupagem astral totalmente curada.
- Estou ciente, Adelaide. Esperemos o momento e aceitemos com resignação
o que for de destino dos dois. Talvez apenas Marcelo tenha melhor sorte nessa
vida.
- Desde o último intervalo celestial, Marcos Albuquerque foi mais receptivo às
nossas intercessões. Por esse motivo, teve maior tempo de preparo e pôde ainda
trabalhar para uma boa causa em sua estada no Palácio da Cura.
- Não pensemos então o que será deles nessa vida carnal. Pensemos em
continuar atuando e vigiando para que eles sejam sempre intuídos para o bem.
- Isso mesmo Angelina. E como eu já disse: Temos que ajudá-los nos anos
vindouros para que enfrentem qualquer dificuldade.
327
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 96
01 de Março de 1.950
/ / /
Os filhos do casal Júlio e Beatriz até aquele momento pareciam ser crianças
normais, até que algumas semanas antes àquele dia o filho mais novo, Edgar, que
agora tinha quatro anos amanheceu com uma febre muito alta. No início ele foi
tratado como se estivesse com uma gripe, no entanto após uma nova internação
foi diagnosticado uma doença que naquela época ainda não havia vacina para sua
prevenção. Era a conhecida Poliomielite, ou paralisia infantil.
Aquele pequeno menino de quatro anos ficou com uma grave seqüela da
doença o que resultou na paralisia da perna esquerda. Ele havia então, perdido
seus principais movimentos e viveria assim por toda a sua vida.
/ / /
328
Carlos Eduardo Milito
/ / /
Naquela altura, Laerte estava com cinqüenta e nove anos e já havia delegado
todo o poder das empresas em nome de seu filho Júlio. Agora, ele apenas faria
parte do conselho de Administração do grupo. Sua esposa Emília o apoiava sobre
a decisão. Eles pretendiam se dedicar mais para os netos, e agora, com a notícia
do problema de Edgar eles ficaram tão sensibilizados a ponto de desejarem estar
sempre presentes com o neto.
329
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 97
/ / /
330
Carlos Eduardo Milito
331
As Moradas e os Segredos de Maria
do pai do seu marido ficará para vocês e conseqüentemente para eles. Laerte o
pai de Júlio tem apenas o irmão Leandro que ficou solteiro e assim como Laerte já
está ficando velho. E se eu e Bianca não casarmos, por parte da nossa família,
todos os bens de mamãe ficarão para seus filhos. E o nosso tio Júnior também
não terá filhos.
- Era exatamente isso que José falava para Edgar. Falava que tudo ficaria
para os três, inclusive as Terras de Jundiaí que pertenciam ao nosso avô Joel que
nem conhecemos. Diziam ainda que essas terras são vizinhas as terras da minha
sogra, que por sua vez herdou dos seus pais. Essas terras na verdade eram do
avô do meu marido. Eram de Marcos Albuquerque.
- Deixa pra lá, Beatriz. Coisas de jovens.
- Tudo bem Bárbara, mas ao que me assusta é a imaginação desses dois.
Eles não pensam em trabalho, em estudo, mas pensam em tirar partido dessas
facilidades proporcionadas pelos dividendos desses bens materiais. Realmente eu
e o Júlio temos que ter muito pulso firme para domar esses meninos.
- Fique calma Beatriz, e como você mesma nos diz sempre. Peça proteção a
Deus para que tudo corra bem.
- É verdade! Vocês têm razão. Sempre peço ajuda nas minhas orações, e
continuarei fazendo isso.
/ / /
Joana, a filha de mais velha de Augusto estava com vinte e quatro anos de
idade. Desde pequena, ela não se aceitava por ter nascido pertencente a raça
negra. Apesar de toda a educação calcada nos ensinamentos cristãos que seus
pais puderam proporcionar, ela por vezes se rebelava e ainda sentia na pele o
preconceito por ser diferente de muitas amigas. Seu irmão mais novo Juarez
sempre conversava com ela e tentava fazê-la esquecer dessas coisas.
- Joana, você tem que mudar esse seu modo de pensar – disse Juarez.
- Como posso mudar se às vezes percebo que algumas pessoas me olham
com desprezo só por causa da minha cor.
- Talvez isso seja algo da sua cabeça minha irmã. E mesmo que aconteça,
você tem que aprender a conviver com isso.
- Lá vem você falando que nem o papai. Sr.Augusto é todo cheio de
resignação. Ele é o Sr. Caridade. O Sr.Deixa pra lá. Não venha com o discurso
dele.
332
Carlos Eduardo Milito
- Quer saber minha irmã? Ele está certo. Ele me conta que aprendeu muito
com sua avó quando era menino. Dona Benedita, a mãe do Vô Genésio era uma
santa mulher.
- Tudo bem, Juarez, mas isso não faz mudar minha forma de pensar. Não
aceito muitas coisas. Sinto-me diferente de todos vocês. Vocês aceitam tudo. As
coisas não são bem assim.
- Está bem Joana. Você tem seu jeito de pensar e eu respeito. Creio que o
tempo e o sofrimento irão fazê-la mudar.
- Sai pra lá meu irmão. Que sofrimento que nada! Está rogando praga para
mim?
- Não é isso. O que eu quero dizer, é que mesmo o preconceito que
enfrentamos e ainda devemos enfrentar nas nossas vidas nos fará mudarmos. De
que adianta nos revoltarmos com isso? Mudará alguma coisa? A mudança tem
que ser no nosso interior. Somos todos iguais, minha irmã. Você tem que aceitar
isso. Deixe os outros.
Joana ficou pensativa e emudeceu. Preferiu não argumentar mais com seu
irmão. Lembrou-se ainda que que seus primos Vitor e Paula, filhos da sua tia
Ângela também tinham o discurso similar ao de Juarez. Então ela refletiu e pela
primeira vez achou estar mesmo agindo de forma errada. O que acontecia ali é
que Joana, que na vida anterior foi Clarice, começava naquele dia de fato a se
aceitar como ela era.
/ / /
Dona Benedita comentava com Inês sobre os entes que viviam na Terra.
- Inês. Você já está há quase vinte anos nesse intervalo celestial e deu para
observar o quanto nossas famílias já ramificaram não é mesmo?
- É verdade. Meu marido voltou como Edgar, ou seja, ele é bisneto dele
mesmo – falou Inês entre gargalhadas.
- Isso acontece em inúmeras famílias na Terra. Veja o caso de Júlio que
antes era Plínio. Também é um caso similar. Outro exemplo é Marcelo que antes
era Marcos Albuquerque.
- Tudo isso é maravilhoso. Esses laços familiares se entrelaçando durante as
gerações, e com isso a possibilidade de evoluirmos como pessoas.
- Exatamente. Fiquei sabendo também que Pedro e Dona Flora que também
trabalharam para você também estão conosco.
333
As Moradas e os Segredos de Maria
334
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 98
335
As Moradas e os Segredos de Maria
- Perdoar do que Antonieta? Você não fez nada. Saiba que eu sempre te
amei! Eu saberia que chegaria o dia nessa eternidade onde nos reencontraríamos
e ficaríamos muito felizes com isso. Hoje é chegado esse dia.
- Enrico meu amor. Como é bom ouvir de você essas palavras. Nada como o
tempo e o aprendizado para nos deixar mais sábios. Tenho aprendido que somos
que nem uma pedra bruta de diamante e a cada existência na terra e a cada
intervalo celestial nós somos constantemente lapidados.
- É uma boa analogia comparando com os minerais do planeta Terra. Vamos
então continuar trabalhando com afinco para nos “lapidarmos” ainda mais. Se for
permitido pelos nossos Governadores, pedirei para quando eu renascer eu poder
estar ao seu lado em uma nova missão carnal.
- Também é meu desejo Enrico. Vamos aguardar a seqüência natural das
coisas.
- Com certeza. O importante disso tudo é que em uma nova missão carnal,
nós consigamos ter uma existência com grande proveito do ponto de vista
evolutivo. Mas vamos aguardar tudo isso com muita calma e continuarmos
trabalhando.
/ / /
Naquele mesmo dia, Angelina conversava sobre Adelaide sobre os entes que
viviam na Terra:
- Angelina minha amiga, você tem nova notícias do seu neto Júnior?
- Ele ainda vaga junto com os perambulantes terrestres. Desde quando
chegou a quase quatro anos não conseguiu ainda enxergar o caminho da luz. Sua
irmã Márcia que chegou há dois anos teve um acolhimento melhor junto a nossa
Morada.
- Continue então, minha amiga, intercedendo por seu neto.
- Lógico que sim. O fato de ele não poder ter tido filhos o debilitava bastante
na sua velhice e quando despertou deste lado da vida, ainda não percebia a
transição. Lentamente conseguiremos sucesso.
- Que bom Angelina. No caso de Márcia pelo menos ela já está em
treinamento no Palácio da Educação.
- Exatamente. Não só ela como o marido Lúcio também. Ainda bem que as
três filhas souberam entender que a vida é assim mesmo e superaram a partida
dos pais.
- O tempo minha amiga, sempre é o remédio para as perdas lá na Terra.
Perder por exemplo um pai ou uma mãe é doloroso sim, mas com o passar dos
336
Carlos Eduardo Milito
anos isso é assimilado por todos, agora, veja você o caso de Edgar que sofre com
sua deficiência até hoje e é discriminado. O rapaz já está com trinta e seis anos e
carregará isso por toda sua vida.
- É preciso resignação Adelaide. Veja José que tem trinta e oito anos e foi
acometido por um derrame há três anos. Ele perdeu todos os movimentos do lado
esquerdo e parece que ficará com essa lesão os restos dos seus dias.
- É verdade. Edgar e José estão pagando pelos erros de Ernesto e Joel, ou
seja, estão pagando pelos erros que eles mesmos cometeram. Então, se por um
lado o tempo estanca uma perda material, por outro ele dita o tamanho do
sofrimento de uma chaga incurável.
- Exatamente. E nossa querida Olga que vive como Beatriz está tendo uma
missão de expiação. Dos três filhos, dois estão praticamente inválidos.
Provavelmente esses dois não deverão mais casar, se bem que Edgar até que já
teve chance.
- Concordo minha amiga. José dificilmente se casa. Até sua fala foi
comprometida. Júlio seu pai já tentou fazer de tudo, mas parece que não solução
para o caso dele. Edgar quem sabe ainda pense em casamento. Mas o Marcelo,
já está casado há quatro anos e está muito feliz ao lado de Sandra, sua esposa. E
depois de tanto tentarem ter um filho conseguiram finalmente. E não era por
problema de idade, pois ela é dez anos mais jovem que ele.
- Isso mesmo Adelaide. O problema é que a moça tem apenas um ovário e a
missão dela é ter somente um filho. Por sinal, o menino Vinícius acabou de
completar um ano.
- Nosso companheiro de trabalho Fabrício foi designado para ser esse único
filho de Marcelo. Nessa vida ele se chama Vinícius. Lembra-se da alegria dele
quando soube dessa sua nova missão.
- Lógico que me lembro. A ligação de Fabrício com Olga era muito intensa.
Os dois trabalharam juntos no Palácio da Cura e havia muito carinho entre eles. O
que vai acontecer agora é que os dois irão trocar muito amor como avó e neta.
Nessa vida de Beatriz, antes Olga, e agora mãe de Marcelo terá esse único neto
para alegrar seus dias de sofrimento que ainda terá.
- Ela escolheu esse caminho e saberá enfrentar. E nós deste lado a
ajudaremos, pois continuaremos nosso trabalho de vibrações para todos eles.
/ / /
Dona Benedita encontrou seu filho Genésio nas cercanias de uma das escolas
do Palácio da Educação e falou:
337
As Moradas e os Segredos de Maria
338
Carlos Eduardo Milito
339
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 99
Marcelo Albuquerque Silveira estava no seu auge com seus cinqüenta e dois
anos. Ele administrava todos os negócios da família que foi passando de geração
para geração e, por consentimento de suas tias e de seus irmãos, unificou as
terras da Fazenda Terra Nova com as da Fazenda São Paulo. Seu filho Vinícius
então, seria o único herdeiro de tudo, pois nem suas tias, nem seus irmãos tinham
constituído família. Havia um funcionário com o nome de Heitor que administrava
tudo aquilo, pois Francisco que era filho de Pedro e Flora e por muitos anos havia
administrado a Fazenda São Paulo, já estava muito idoso com oitenta e sete anos
e vivia ali de favor, pois por muitos anos se mostrou um excelente funcionário.
Agora ele ainda permanecia lúcido e só auxiliava em pequenas tarefas.
Naquele domingo Marcelo estava com seu filho Vinícius de catorze anos, sua
esposa, seus irmãos e seus pais na Fazenda onde passaram o final de semana.
Toda vez que eles resolviam ir para a lá em família, Marcelo juntamente com os
irmãos Edgar e José iam antes de helicóptero devido à condição física dos dois.
Então eles saíam diretamente do campo de marte e não demoravam mais do que
dez minutos para chegar na fazenda. Os demais preferiam ir de carro. Sandra era
muito solícita e fazia questão de levar sempre seus sogros além do seu filho
Vinícius
Esta facilidade de ir a fazenda de helicóptero, virou rotina para os três irmãos
toda vez que iam nessas terras. E ainda, por morarem em São Paulo em uma
luxuosa casa que era muito próxima ao Campo de Marte, isto seria um facilitador a
mais. Em meados dos anos oitenta, a família resolveu trocar a mansão da Av.
Paulista por uma outra localizada no Jardim São Bento. Naquela residência
moravam então Júlio e Beatriz, os três filhos, o neto e a nora.
Em torno das dez horas da manhã daquele dia, Marcelo havia saído com o
filho e foram ao centro de Jundiaí a procura de algum comércio aberto para
comprarem ingredientes que faltavam para um almoço que seria preparado por
Beatriz. No exato instante que Marcelo estava fora de casa, José começou a
passar muito mal, e pelos sintomas, tudo indicava um princípio de enfarte. Júlio
apesar dos seus setenta e sete anos de idade tomou as rédias da situação.
Sabendo que seu filho Marcelo estava ausente, logo contatou o Hospital Albert
Einstein em São Paulo dizendo que em poucos minutos um helicóptero estaria
pousando no seu heliponto com um paciente requerendo cuidados especiais.
340
Carlos Eduardo Milito
Júlio chamou o piloto Sérgio que estava hospedado muito próximo da casa
principal daquela fazenda e disse que tinham uma emergência. O próprio piloto,
sem nenhuma ajuda, tomou José pelo colo e o acomodou no helicóptero. Ele
queria ir só, no entanto Edgar interveio:
- Sérgio. Eu vou com você.
- Deixa disso Sr.Edgar. Eu levo seu irmão diretamente ao hospital. Pode
confiar em mim.
- Não se trata de confiança. Tem que ter alguém da família lá e posso muito
bem ser essa pessoa. Posso ter dificuldade de locomoção, mas com essa bengala
eu vou para onde eu quiser.
- Não se preocupe Sr. Edgar. Eu cuido de tudo.
- Deixe Edgar ir, Sérgio. Acho que ele pode ajudar sim. Não vamos polemizar
isso agora, pois temos pouco tempo. – disse Júlio em tom áspero – E por sinal
também vou.
- Dr Júlio. Tudo bem se seu filho quiser ir, mas sua presença não é
necessária agora. Descanse e fique por aqui. Deixa que mandarei notícias
constantemente.
- Como não é necessária minha presença, Sergio? Vamos deixar de
polemizar e acabar logo com isso. O tempo está passando. Vamos os três.
- Vocês é que mandam. Se acomodem então e vamos embora.
Passados dois minutos o helicóptero decolou em direção a São Paulo, para o
hospital Albert Einstein. Beatriz que ficou lá em companhia de sua nora e de Heitor
conseguiram avistar no céu aquela nave desaparecer no horizonte em poucos
minutos. Naquele exato momento Marcelo entrou com o filho e sentiu um clima
ruim vendo sua mãe chorando.
- O que foi mãe? O que está havendo?
- Seu irmão José. Ele saiu daqui muito mal. Tivemos que pedir para Sérgio
levá-lo de helicóptero para São Paulo.
- E o papai? E o Edgar?
- Também foram para acompanhar. Seu pai tomou as rédias de tudo. Não
conseguimos segurar Edgar e muito menos seu pai.
- Meu Deus. E para onde eles foram?
- O destino é o Hospital Albert Einstein em São Paulo.
- Vamos embora todos. Agora.
/ / /
341
As Moradas e os Segredos de Maria
/ / /
342
Carlos Eduardo Milito
seus setenta e dois anos de idade ela ainda esbanjava muita saúde e jamais
imaginaria uma tragédia daquelas proporções. Suas irmãs Bianca e Bárbara
ficariam hospedadas na casa de Beatriz por algumas semanas para tentar
confortá-la.
Marcelo se desdobrava muito para amparar a mãe pela perda dos filhos e do
marido e além disso, tinha que estar atento ao seu filho Vinícius de catorze anos
que também gostava muito do avô e dos tios. Sandra também ajudava bastante
dando todo o carinho a sogra, ao marido e ao filho.
Os dias seguiam com muita dor, no entanto os seres de luz das Moradas
Celestiais estavam sempre por perto para dar o equilíbrio a todos que ali ficaram.
Márcia e Lúcio que eram membros da Morada Estrelas Reluzentes visitavam
quase sempre a filha Beatriz e o restante da família para ampara-los através de
vibrações. Angelina e Adelaide também faziam também esse mesmo trabalho de
sustentação dos que ficaram na Terra.
343
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 100
344
Carlos Eduardo Milito
- Mas pode ter certeza disso – disse Bianca – Tanto Edgar como José
sofreram bastante nessa vida. Pense que esse sofrimento agora se estancou, e
aonde quer que eles estejam, devem estar melhores.
- É verdade. Vou continuar trocando idéias com meu neto para me animar.
/ / /
/ / /
345
As Moradas e os Segredos de Maria
346
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 101
347
As Moradas e os Segredos de Maria
- Minha querida mãe. – falou José com água nos olhos se dirigindo a ela e
dando um abraço apertado. – Só tenho a agradecer o que você vem fazendo por
nós por todos esses anos.
- Tudo foi feito por amor meu filho.
Da mesma forma, Edgar abraçou a mãe com muita emoção e disse:
- Mãe! Perdoe-me por eu ter desvirtuado do caminho da verdade.
- Você não tem que pedir perdão a mim, meu filho. O seu remorso, seu
arrependimento e todo o sofrimento que você passou estão colocando você
novamente na trilha do bem.
Os cinco continuaram lá por um longo tempo conversando e planejando seus
próximos trabalhos celestiais que teriam pela frente. Conversaram também sobre
Júlio que diferentemente dos dois irmãos, logo se engajou em laboriosos trabalhos
no Palácio da Educação. Aquele dia então, marcava o começo de uma nova era
para José e Edgar.
348
Carlos Eduardo Milito
CAPITULO 102
Dona Benedita chamava Clara para uma conversa no início daquela sexta-
feira:
- Minha querida, como você já sabe, Joana chegou à nossa Morada há
exatos quatro meses. Ela se recuperou muito bem após ter sofrido tanto com sua
doença terminal lá na Terra. Ela se foi jovem, pois sua missão durou cinqüenta e
sete anos. Neste exato momento, ela está de Setor de Arquivos do Palácio da
Transformação se lembrando da vida na qual foi sua mãe Clarice, além do seu
penúltimo intervalo celestial. É chegado então o tão aguardado momento de
reencontro.
- Meu Deus. Que emoção!
- E o Genésio irá te acompanhar, pois além de vocês terem sido avós dela na
última vida na Terra, foi mostrado a ela também outras ligações de outras vidas.
- Eu não tenho palavras para agradecer esse momento, Dona Benedita.
- Não é necessário agradecer. Vamos ao encontro de Joana.
Joana acabava de se levantar da mesa onde estava o globovisor e com água
nos olhos disse a Dona Dora.
- Como eu fui injusta com Clara. Apesar de eu tê-la como avó na minha
última existência, o que está mais forte na minha mente agora, são os fatos
ocorridos na vida anterior a esta última. Eu daria tudo para revê-la e pedir o seu
perdão.
- Minha querida, a pluralidade das existências nos permite isso sim. O seu
arrependimento pelo que fez é um bom sinal. O reconhecimento dos erros
anteriores nos engrandece.
- E onde está Clara? Ela vive aqui conosco ou ela já voltou.
- Ela está mais próxima do que você imagina, minha querida Joana.
Naquele exato momento, surgiram na frente de Joana, Clara acompanhada de
Genésio e Dona Benedita. Joana se pôs a chorar e após longos minutos abraçou
Clara e falou:
- Perdoe-me Clara. Perdoe-me por tantos erros minha filha.
- Lógico que eu te perdôo, minha querida. Os que eu mais esperava nesses
anos todos de intervalo celestial era este momento mágico minha querida mãe.
Quando eu tive você como neta lá na Terra, eu não poderia imaginar que por de
traz da adorável Joana, era você quem ali estava. Eu sempre te amei, minha
querida.
349
As Moradas e os Segredos de Maria
- Não tenho palavras para expressar minhas emoções por saber que você
me perdoou.
- Pare de chorar, minha mãe.
- Você está linda com essa sua roupagem astral, minha filha.
- Acho que isso não tem muita importância por aqui. Resolvi manter minha
aparência quando eu tinha em torno de quarenta anos na minha última existência.
Mas acho que a senhora está muito bem com essa roupagem astral da sua última
existência como Joana – disse Clara para descontrair o ambiente e quebrar um
pouco aquele clima emotivo.
- Você acha mesmo, minha filha?
- Acho sim, mas volto a te dizer que isso pouco importa. Aqui os conceitos
são outros e os enfoques são outros.
- Vou me manter com esta roupagem astral. Depois de tanto sofrimento, e de
início titubear, tive orgulho de ser negra. Foi uma ótima experiência que tive na
Terra.
- Ótimo, mamãe. Também tive muito orgulho de ter sido escrava há duas
existências. Agora que a senhora já superou esses preconceitos poderá em breve
trabalhar em prol da evolução de nossa morada e do universo.
- Com certeza minha filha. Saberei esperar o momento certo.
/ / /
Naquele mesmo dia, Júlio conversava com Emília após um longo dia de
trabalho.
- Mãe. Minha querida esposa Beatriz está de volta já faz um mês e eu
gostaria muito de poder vê-la. Retomei minhas memórias das vidas passadas,
pois já estou aqui há quatro anos, e tenho o desejo muito grande em rever o
grande amor da minha vida.
- Controle sua ansiedade meu filho. Em breve, Beatriz irá retomar suas
memórias de vidas anteriores e vocês se reencontrarão. Ela ainda necessita de
mais algumas semanas, pois sofreu muito nos seus últimos anos na Terra. Desde
a sua perda juntamente com a perda dos seus filhos, ela começou a ficar
debilitada. E de dois anos para cá, com a doença de Marcos ela piorou de vez. Ela
rogava em preces para que seu filho Marcelo não morresse antes dela. Veja que
ela foi atendida, pois pelo tipo de leucemia que ele sofre, era para já ter chegado
aqui.
- Realmente a minha querida Olga, hoje como Beatriz, sofreu muito nesses
seus últimos anos. Que bom que agora ela está bem!
350
Carlos Eduardo Milito
351
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 103
/ / /
352
Carlos Eduardo Milito
caído. Dizia ter acontecido uma tragédia, pois quando menino, presenciou a
explosão do avião do seu tataravô Marcos Albuquerque. O mais intrigante dessa
estória é que no local onde caiu o helicóptero era impossível ouvir o barulho aqui
da fazenda.
- São mistérios da vida, Sr Heitor. E quando vocês tiveram a confirmação do
acidente do helicóptero? Qual foi a reação do velho?
- Às vezes eu achava que ele não falava mais coisa com coisa. Até disco
voador ele dizia ter visto. Ele veio com uma estória que quando menino ouviu por
de traz da porta uma conversa dos seus pais dizendo que o acidente do avião do
seu tataravô havia sido planejado pelo seu outro tataravô Joel. Daí ele falava que
esse novo acidente era para fechar o círculo.
- Nem vamos tentar entender isso, Heitor. E mesmo que quiséssemos,
Francisco não está mais aqui não é mesmo? – disse Fabrício entre gargalhadas.
- É verdade, patrãozinho.
353
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 104
Por um pedido de Mestre Jonas, Júlio ainda não havia reencontrado Beatriz.
Desde o final de Janeiro ela já havia retomado a sua consciência e sabia que era
Olga na vida anterior. Então, o casal que havia vivido como Plínio e Olga já estava
com a memória do passado resgatada. Eles só não haviam se encontrado ainda.
Os dois também já sabiam que seu filho Marcelo ali estava desde o início do ano.
E naquele dia especificamente, Marcelo por estar se recuperando muito bem,
foi presenteado por Mestre Klaus que pediu para que ele fosse levado para o
Setor de Arquivos do Palácio da Transformação onde ele teria a memória das
vidas anteriores também resgatadas.
Enquanto Marcelo estava dentro da sala do Setor de Arquivos, bem defronte
ao prédio que abrigava aquele setor Júlio transitava pelo local em companhia de
seus filhos Edgar e José. Naquele instante, surgiu na sua frente a figura de Beatriz
mais deslumbrante do que nunca. Ela apareceu para os dois filhos e o marido com
a aparência no auge dos seus quarenta anos de idade, com uma fisionomia
radiante de alegria.
A emoção pairou naquele ambiente. Júlio foi de encontro a Beatriz e a chamou
pelo nome marcante da outra vida.
- Olga, meu amor! Que saudades!
- Plínio. Estamos juntos novamente. Eu não disse a você que nos
encontraríamos pela eternidade!
Em seguida, Olga olhou para os filhos Edgar e José e também falou:
- Meus queridos. Que bom vê-los também. Como é bom saber que vocês já
estão em perfeito equilíbrio – falou Beatriz com água nos olhos e em seguida
abraçou os dois com muito carinho.
- É bom para nós poder vê-la assim tão bem minha mãe – disse José.
- Mãe a senhora esta bela como sempre – disse Edgar.
- Estou muito feliz por poder estar aqui, meus filhos.
Alguns instantes depois daquela belíssima e emocionante cena, saiu de dentro
do formoso prédio que abrigava o Setor de Arquivos, o filho Marcelo
acompanhado de duas distintas senhoras: Emília e Clarice, que foram suas filhas
quando ele viveu como Marcos Albuquerque.
Júlio e Beatriz não resistiram à emoção. Choraram bastante. Naquele
momento da vida celestial, as vidas se entrelaçavam. Júlio juntamente com Beatriz
abraçaram Marcelo com toda a força. Naquele momento eles reviveram Olga e
354
Carlos Eduardo Milito
355
As Moradas e os Segredos de Maria
CAPITULO 105
356
Carlos Eduardo Milito
357
As Moradas e os Segredos de Maria
olhos do Governador. Antes dele autorizar o início das músicas divinas que
estariam por vir ele encerrou:
- Muito bem meus queridos, vamos agora encerrar esse nosso encontro ao
som dessas melodias celestiais que dedicaremos a nossa querida Guardiã Mor, a
chamada Nossa Senhora de Fátima pelos amigos da Terra, que é a nossa Santa
Maria, mãe do Mestre dos Mestres, chamado de Jesus Cristo por nossos amigos
da Terra.
Na frente de toda aquela multidão começou a surgir um palco em forma
inclinada onde pouco a pouco surgiam os músicos que se acomodavam em
diversos níveis daquele cenário. De certa forma, aquilo lembrava a arquibancada
de quando a Guardiã Mor aparecia para as crianças em Portugal. Só que desta
vez, cada um dos presentes portava um instrumento. Após a chegada de dezenas
de músicos com os mais variados instrumentos, outros componentes começavam
a preencher os últimos espaços daquele palco inclinado. Estes não portavam
nenhum instrumento, pois apenas iriam compor um grande coral para completar
aquele espetáculo.
Em poucos instantes a música começou a tocar. Com indescritível beleza,
aquela melodia tocava o coração de todos que ali estavam. Não era possível
comparar suas notas e sua harmonia com qualquer coisa ouvida na Terra. Tudo
era de magnífica beleza. Os sons produzidos pelos músicos e pelo coral
formavam um imenso arco íris celestial, onde a partir dali, aquilo saia em forma de
vibração para o Planeta Terra. Não era por acaso que o Vale Musical fazia parte
do Palácio da Comunicação. O intuito ali, era irradiar coisas boas não só para o
Planeta Terra, também como para todas as moradas da sua vizinhança.
As músicas prosseguiam e os seres celestiais se emocionavam a cada nota
que ouviam. Seus efeitos surtiam para eles tais como preces provindas dos seres
da Terra. O momento era mágico e proporcionava muita alegria para todos que ali
estavam. Intimamente cada um deles agradecia ao grande Arquiteto do Universo
pela dádiva da vida.
358
Carlos Eduardo Milito
EPÍLOGO
359
As Moradas e os Segredos de Maria
360