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IMPACTOS DA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA EM


SISTEMAS DE SISTRIBUIÇÃO (Junho 2019)
Arthur F. Costa, Instituto Federal de Goiás, Itumbiara

 Neste contexto, este artigo tem por objetivo simular e avaliar


Abstract— Este artigo tem o objetivo de apresentar quais são os os impactos da inserção de sistemas fotovoltaicos em um
impactos causados pela inserção de sistemas fotovoltaicos (SFV) modelo de distribuição teste do IEEE (Kersting, 2001). As
sem armazenamento numa rede de distribuição IEEE de 13 simulações foram realizadas no OpenDSS, software de
barras. Para a realização dos testes foram inseridas curvas de simulação para sistemas elétricos de energia elétrica. (Sexauer,
cargas (industrial e residencial), bem como os dados referentes ao 2016).
modelo de geração fotovoltaica. Os sistemas fotovoltaicos foram
Assim, os testes realizados tiveram o intuito de verificar a
inseridos nas barras 611, 641 e 671, sendo que a última possui
perfil industrial. A efeito de comparação foram estabelecidos dois quantidade de energia produzida pelos sistemas fotovoltaicos e
casos, o primeiro cenário apresenta o sistema teste sem a conexão determinar quais foram os impactos causados após a sua
da geração distribuída. Já o segundo caso, apresenta a inserção de inserção na rede, bem como avaliar as tensões nas barras onde
geração fotovoltaica nas barras. Como resultado, observou-se uma os sistemas fotovoltaicos foram inseridos e qual o seu efeito na
redução na potência entregue pela subestação, bem como a saída da subestação.
elevação da tensão nas barras durante o período em que os
sistemas fotovoltaicos injetaram potência ativa na rede. Outro 2. GERAÇÃO SOLAR FOTOVOLTAICA
aspecto notório é que apesar da conexão da geração distribuída,
tensões nas barras e a potência entregue pela subestação não
mudaram no horário de ponta, justamente por a injeção de Das mais diversas formas de energias renováveis existentes,
potência ativa por parte dos SFVs não coincidirem com os horários os sistemas solares fotovoltaicos se destacam, já que sua
de maior consumo. distribuição geográfica a torna mais espalhada do que as outras
fontes.
Index Terms—OpenDSS; IEEE test cases; distributed Neste contexto, a geração distribuída com sistemas
generation; photovoltaic solar energy; power system simulation; fotovoltaicos torna-se um excelente exemplo para se mensurar
irradiance; smart grids.
quais são os devidos impactos que a geração distribuída causa
na rede de distribuição.
A produção de energia elétrica a partir do Sol é baseada no
1. INTRODUÇÃO
efeito fotoelétrico. Quando uma placa de silício é tratada e
exposta à irradiância solar, uma diferença de potencial é gerada
A energia solar no Brasil apresenta vigoroso crescimento e, em seus terminais. Ao associar-se várias placas em série temos
maiores tensões e ao associar-se em paralelo, obtemos maiores
segundo estimativas da Aneel, no Brasil, até o ano de 2024 correntes. Como não possui elementos rotativos, os sistemas
serão instalados mais de 1,2 milhão de sistemas fotovoltaicos. fotovoltaicos não geram ruídos durante o funcionamento e,
Outro estudo, realizado pela Bloomberg New Energy Finance também, não deixam resíduos no meio ambiente. (Abreu et al.,
(BNEF), prevê que até 2040 os sistemas de geração fotovoltaica 2010).
somarão potência total de 90GW no país. Em Goiás, a criação Segundo dados do International Energy Agency (IEA), em
de um programa que inclui redução da carga tributária, oferta 2017 o mercado mundial de células fotovoltaicas quase
de linhas de financiamento e simplificação do processo de alcançou o patamar de 100 GW. Na América do Sul, o Brasil
licenciamento, é apenas um dos mais diversos incentivos que a instalou, no ano de 2017, cerca de 910 MW, enquanto que o
geração fotovoltaica vem recebendo no país (Fotovolt, 2017). mercado chileno cresceu significantemente, atingindo cerca de
Com o crescimento da geração distribuída, aliado com o 668 MW. Assim, observa-se que a utilização de painéis
expressivo potencial de aproveitamento da energia solar no fotovoltaicos em telhados de casas e outras edificações têm se
Brasil, observa-se que há a necessidade de estudos que analisem tornado algo bastante habitual.
os impactos associados a este tipo de geração. A geração
distribuída tem o intuito de aumentar a eficiência energética,
bem como reduzir as perdas técnicas, além de propiciar a 2.1 Modelo do Sistema Fotovoltaico no OpenDSS
redução de impactos ambientais. Porém, a sua intermitência de
produção é um desafio para o seu uso. (Radatz, 2015). O OpenDSS disponibiliza um modelo para simulações de
geração fotovoltaica, o PVSystem Element Model, que é
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composto por uma representação de uma célula fotovoltaica e


seu inversor, de forma a serem usados para analisar os impactos
na distribuição.
Este modelo é útil para simulações com tempo maior ou igual
a 1s. O modelo assume que o inversor é capaz de encontrar o
ponto de máxima potência (MP) do painel rapidamente. Isto
simplifica a modelagem de componentes individuais, (Painel
Fotovoltaico e o inversor) e deverá ser adequado para a maior
parte dos estudos relacionados a interconexão com a rede de
distribuição (Dugan, 2013).
No modelo apresentado na Figura 1, a potência ativa
(P) é função da irradiação, temperatura, eficiência do conversor,
tensão da rede e da Potência nominal do painel no ponto de
máxima potência (Pmp). A Pmp é definida a uma temperatura,
normalmente 25°C, e uma irradiação de 1,0 kW/m² (Radatz, Fig. 2. Curva de irradiação utilizada nas simulações.
2015). Também, é importante inserir a curva característica de
eficiência do inversor de acordo com a potência de operação. A 3. INSERÇÃO DA GERAÇÃO FOTOVOLTAICA NO
potência reativa é especificada por um valor fixo, ou SISTEMA DE DISTRIBUIÇÃO
atribuindo-se um fator de potência unitário. Neste trabalho,
Para simular os efeitos da inserção de geração fotovoltaica

Fig. 3. Representação do sistema IEEE 13 barras com geração distribuída


Fig. 1. Modelo do Sistema Fotovoltaico utilizado pelo OpenDSS incluída.
(Dugan, 2013). no sistema de distribuição, foi escolhida a rede de teste IEEE
consideraremos o fator de potência unitário. 13 barras. Apesar da rede possuir um número pequeno de
barras, sua configuração permite testes válidos para as
principais análises realizadas em um sistema de distribuição. A
2.2 Curva de Irradiação e Temperatura rede é composta por linhas trifásicas aéreas e subterrâneas
desbalanceadas, ramais monofásicos, bifásicos e trifásicos,
Para a realização das análises temporais é necessário o uso cargas desbalanceadas, bancos de capacitores shunt, dois
de curvas de irradiação e temperatura. Os dados das curvas de transformadores trifásicos de distribuição, além de um
irradiação e temperatura foram extraídos de Radatz (2015). A regulador de tensão (Radatz, 2015).
figura 2 exemplifica a curva de irradiação utilizada nos testes. A figura 3 contém o diagrama unifilar do sistema IEEE 13
barras, onde há a representação das barras nas quais os sistemas
fotovoltaicos foram inseridos. Optou-se por simular a inserção
de sistemas fotovoltaicos em barras onde há carga conectada.
Dentre as barras escolhidas, apenas a barra 671 apresenta o
perfil industrial, enquanto que as barras 646 e 611 apresentam
perfis residenciais.

A barra 650 representa o barramento da subestação. O


sistema possui também bancos de capacitores, conectados nas
barras 611 e 675 que estão em constante funcionamento.

3.1 Metodologia
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A partir da implementação do sistema de 13 barras no


OpenDSS, vários cenários da inserção de painéis fotovoltaicos
foram analisados. Para realizar a análise, foram utilizadas
curvas de cargas residencial e industrial, que foram obtidos de
Radatz (2015).
Este artigo aborda o comportamento da tensão nas barras ao
variar a inserção de sistemas fotovoltaicos. Em um primeiro
momento, foi testado o caso base, isto é, sem a adição de
sistemas fotovoltaicos. Os dados obtidos a partir deste caso
serviram como uma referência, afim de ser comparado com as
demais situações. Um segundo teste realizado, foi o da inserção
de sistemas fotovoltaicos nas barras 611, 646 e 671.
É importante lembrar que nas simulações as cargas são
alimentadas tanto pela subestação quanto pelos painéis
fotovoltaicos. Para a conexão dos sistemas fotovoltaicos nas
barras que foram analisadas foi feito uso de um transformador

Fig. 5. Comparativo das potências entregue pela subestação antes e


depois da inserção de geração distribuída na fase C.

4.1 (i) Caso base

O objetivo deste caso é avaliar quais são os comportamentos


da tensão nas barras onde posteriormente serão adicionados os
painéis fotovoltaicos e, também, a potência elétrica fornecida
pela subestação.
Sem a inserção de painéis fotovoltaicos na rede, apenas a
subestação fornece energia para as cargas. A partir das
simulações realizadas, observa-se que a potência em cada uma
das fases apresenta valores distintos. Conforme já era esperado,
isso mostra que o circuito é desequilibrado.
Fig. 3. Curvas de carga industrial e residencial usadas na simulação. Outro aspecto importante a ser observado é a tensão em cada
uma das barras onde serão conectadas as gerações distribuídas.
elevador. Posteriormente, esses valores serão utilizados para comparar

4. RESULTADOS

Nesta seção são apresentados os resultados obtidos, bem


como as consequências para os diferentes cenários: (i) caso base
(sem sistemas fotovoltaicos); (ii) com sistemas fotovoltaicos
conectados nas barras 611, 646 e 671.

Fig. 4. Tensão na barra 671 antes da inserção da geração distribuída.

com os casos nos quais a geração distribuída é adicionada a


rede. A figura 4 mostra as tensões na barra 671, em que a carga
é desequilibrada e de perfil industrial.
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para um cenário sem a presença de painéis fotovoltaicos


conectados na rede.

5. CONCLUSÃO

A partir das simulações e resultados obtidos, é possível


identificar os impactos da inserção de geração distribuída na
rede de distribuição, inclusive considerando a intermitência da
geração. O modelo do OpenDSS mostrou-se útil para a
realização das simulações de ambos os cenários, com e sem
geração distribuída.
Como resultado, notou-se uma melhora nas tensões das
barras onde os sistemas fotovoltaicos foram inseridos e,
também, pode-se observar uma redução da potência fornecida
pela subestação durante o período em que a geração distribuída
injetou potência ativa na rede.
Fig. 6. Comparativo das tensões na barra 671 antes e depois da
Fig. 1. Magnetization as a function of applied field. Note that “Fig.” is
Nos instantes de maior consumo, a tensão nas barras
inserção geração distribuída na fase C. permaneceu inalterada frente aos valores de tensão obtidos
abbreviated. There is a period after the figure number, followed by two spaces.
anteriormente no cenário sem a geração fotovoltaica. Uma
4.2 (ii) Sistemas Fotovoltaicos conectados nas barras 611, 646 explicação para esse fenômeno está no período de injeção de
e 671 potência ativa fornecida pela geração distribuída não coincidir
com o horário de ponta do sistema. Para sanar tais problemas, é
Neste novo cenário, as cargas são alimentadas tanto pela necessário realizar novas simulações e estudos, de forma a
subestação como pelos sistemas fotovoltaicos conectados na avaliar alternativas de armazenamento de energia, afim de
rede. O sistema fotovoltaico foi conectado nas barras através de atenuar a intermitência da geração dos sistemas fotovoltaicos.
um transformador elevador.
Após a inserção da geração distribuída na rede, observa-se 6. REFERÊNCIAS
que a potência ativa fornecida pela subestação é menor que no
caso base (i) nos horários em que há irradiação. Sobre a
potência reativa, não há variação, já que o sistema fotovoltaico [1] J. Reis, “Avanços da geração fotovoltaica
possui fator de potência unitário ao longo do dia, ou seja, a distribuída no Brasil,” Fotovolt. nº 13, Editora
potência reativa nula. Na figura 5, é visível a queda da potência Aranda, São Paulo., SP, Brasil, 2017.
ativa entregue pela subestação após a inserção da geração
distribuída no sistema de 13 barras. [2] Radatz, Paulo Ricardo Radatz de Freitas.
Através da figura 5, pode-se concluir também que no período Modelos avançados de análise de redes elétricas
no qual não há irradiação, o sistema fotovoltaico não fornece inteligentes utilizando o software OpenDSS, São
potência, implicando na não injeção de potência no período de Paulo, 2015.
ponta do sistema. Como resultado, não há redução na potência
fornecida pela subestação. [3] Kersting, W. H. (2001). Radial distribution test
Quanto a tensão na barra 671, ao comparar os resultados das feeders, Power Engineering Society Winter
simulações, observa-se que as tensões continuam Meeting, Vol. 2, IEEE, pp. 908-912.
desequilibradas devido ao fato do sistema fotovoltaico fornecer
uma potência trifásica equilibrada, ou seja, a potência é idêntica [4] Sexauer, J. (2016). Introdução ao OpenDSS,
em cada fase. Observa-se, também, um pequeno aumento na Electric Power Research Institute, Inc.
tensão nesse ponto, apesar do sistema fotovoltaico conectado
nessa barra ser de pequeno porte. A figura 6 ilustra as diferenças [5] G. Masson, I. Kaizuka (2018). “2018 Snapshot
observadas ao comparar as tensões na barra 671 antes e após a of Global Photovoltaic Markets,” IEA PVPS
inserção da geração distribuída.
Na barra 646, observou-se que houve uma nítida elevação da [6] Abreu, Y. V. d., Oliveira, M. A. G. d. and
tensão durante o horário em que o sistema fotovoltaico injetava Guerra, S. (2010). Energia, economia, rotas
potência na rede, apesar da geração distribuída que está tecnológicas, Textos selecionados.
conectada nessa barra ser de pequeno porte. A tensão continuou
desequilibrada, também, devido ao sistema fotovoltaico [7] Dugan, R. C. (2013). Reference guide, The Open
fornecer uma potência trifásica equilibrada. Distribution System Simulator (OpenDSS),
De modo similar aos demais cenários, na barra 611 houve Electric Power Research Institute, Inc.
uma perceptível elevação de tensão durante o período onde a
geração distribuída injetou potência ativa na rede, momento no [8] Anzanello Júnior, José David & Beust, Júlia &
qual houve irradiação solar. Após esse período, a tensão Haffner, Sérgio. (2017). Análise de
começou a cair, voltando a patamares anteriormente obtidos
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Microgeração Fotovoltaica em um Sistema de


Distribuição utilizando o OpenDSS.

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