Toda vez que um adolescente apresenta um comportamento violento, questiona-se o motivo para tal rebeldia. Pais perguntam-se onde erraram e a sociedade fica escandalizada, tentando encontrar respostas para ações tão violentas. Muitas vezes, esse comportamento está relacionado à própria estrutura social e as pessoas não percebem isso e, quando percebem, preferem não apontar os responsáveis para evitar o comprometimento. Esses questionamentos, relacionados ao que levam um adolescente que tem, aparentemente, uma família estruturada, que tem, à sua disposição, uma escola organizada, boa e conceituada, alimentação sadia e variada, acesso aos meios de comunicação, como por exemplo, à internet e uma vida desejada por qualquer adolescente de classe baixa, a praticar atos criminosos, são apresentados, não de forma clara, mas como se ficasse uma interrogação ao final, no filme Elefante. Este filme, de Gus Van Sant, apresenta o cotidiano de uma escola pública norte-americana, destacando o comportamento e os conflitos da adolescência: sexo, educação, beleza, preconceito, inclusão e exclusão social. Este último apresenta-se como causa para o planejamento e execução de um massacre, despertando a sociedade para uma reflexão acerca da violência praticada no universo escolar. Quando se pensa nesse universo, imagina-se um ambiente voltado para a construção de pensadores críticos, capazes de se posicionarem diante dos outros e de uma dada realidade. Mas a escola assume, realmente, esse papel? Ou está mais voltada para a formação de pessoas preparadas para responder a um modelo socioeconômico estabelecido numa dada formação social? O filme Elefante revela que a escola está assumindo, prioritariamente, o segundo papel e, embora, como já foi dito, revele uma realidade escolar norte-americana, pode servir de reflexão para a nossa realidade, pois a violência não escolhe classe social, raça, cultura ou país. Dessa forma, a escola deve repensar a função como instituição favorecedora da educação e, refletindo sobre o filme, uma educação favorecedora das relações entre indivíduos, já que a rejeição por parte dos colegas foi o motivo maior para que as personagens centrais planejassem, de forma fria e sem levantar suspeitas, o massacre. Mas não se deve responsabilizar somente pela educação o ambiente de ensino, sabendo que a educação não começa e nem termina nele. É necessário também pensar no papel da família. A sociedade americana prepara seus jovens para saírem de casa, para se tornarem independentes, enquanto, na nossa, pais e mães são obrigados a deixar seus filhos para trabalhar, ausentando-se do lar, para garantir a sobrevivência da família ou para garantir uma educação razoável aos seus herdeiros. Assim, observa-se o distanciamento entre pais e filhos, uma ausência justificada pela necessidade do ter e, por isso, a falta de tempo para conhecer, realmente, os filhos e ajudá-los no processo de formação cidadã. O filme Elefante, no entanto, não avança em explicar o comportamento dos adolescentes assassinos e nem apresentar os responsáveis, ou seja, não responsabiliza, de forma clara, nenhuma instância social, mas deixa, no ar, um alerta para que a sociedade possa pensar na real situação da educação e sua contribuição para promover uma das características fundamentais do ser humano: a relação com o outro, para o desenvolvimento da subjetividade. Observa-se, portanto, que não foi à toa que este filme ganhou o Festival de Cannes em 2003, pois desenvolve um conteúdo social merecedor de atenção e cuidados. E, em vez de a sociedade se perguntar escandalizada por que ele fez isso, deve promover a reflexão dos motivos desencadeadores para tanta violência juvenil.