Você está na página 1de 8

Curso de implementação de Sistemas de

HACCP

Módulo VII – Igualdade de género em postos de trabalho

Formadora: Raquel Carvalheira


Porto, Outubro de 2010
1. Enquadramento conceptual
Qual a diferença entre sexo e género?
Na nossa vida frequentemente somos confrontados com concepções do que
significa ser homem e mulher, pensamos que as diferenças biológicas entre
os sexos implicam determinados comportamentos e características
psicológicas.
É importante fazer a distinção entre os conceitos de sexo e género, para
permitir uma melhor compreensão do que é biológico e do que é social, que
determina o modo de ser e de se comportar de cada pessoa, pela
socialização e educação, e a construção da identidade de cada ser humano,
seja mulher ou homem.

Sexo

Diferenças biológicas entre homens e mulheres, que são universais e não se


alteram.
(Cf. Gender In Development Programme (2001) Learning & Information Pack
Gender Analysis. United Nations Development Programme. Pp. 68)

Género

Refere-se às diferenças sociais entre homens e mulheres.


É a representação social do sexo biológico. Tem por base representações
(crenças, ideias e valores) em torno do sexo biológico.
Atributos sociais que são aprendidos ou adquiridos durante a socialização
enquanto membro de uma dada comunidade; sendo estes atributos
comportamentos aprendidos, podem e variam ao longo do tempo e entre
culturas. Género refere-se aos atributos sociais, papéis, actividades,
responsabilidades, poderes e necessidades relacionadas com o facto de se
ser homem (masculino) e de se ser mulher (feminino) numa dada sociedade
e num dado tempo, enquanto membro de uma comunidade específica
dentro de uma sociedade. As identidades de género da mulher e do homem
determinam a forma como são entendidos e como se espera que pensem e
ajam.
(Cf. Gender In Development Programme (2001) Learning & Information Pack
Gender Analysis. United Nations Development Programme. Pp. 68)

É "a representação social do sexo biológico, determinada pela ideia das


tarefas, funções e papéis atribuídos às mulheres e aos homens na
sociedade e na vida pública e privada. É uma definição da feminilidade e da
masculinidade que é específica de uma dada cultura e por isso varia no
tempo e no espaço".
(A abordagem integrada da igualdade de género "mainstreaming". Relatório
Final de Actividades do Grupo de Especialistas para uma Abordagem
Integrada da Igualdade (1999) Lisboa: Edição Conselho da Europa, CIDM,
Gabinete da Ministra para a Igualdade, Presidência do Conselho de
Ministros. Pp. 14)

Faz-se então uma distinção entre sexo e género e procurar avaliar-se como
é realizada a construção das identidades por parte dos dois géneros, para
permitir a optimização e a Igualdade de oportunidades de Género - todos os
seres humanos são livres de desenvolver as suas capacidades pessoais e de
fazer as suas opções, de forma independente do papel que lhe tenha sido
atribuído pela sociedade na qual vivem.

Apesar do reconhecimento jurídico e político desta igualdade, na prática


persistem factores de desigualdade no emprego e nas formas de
participação cívica e política, com reflexos negativos sobre as mulheres.

A mudança para a igualdade de Género começou com o chamado


Movimento Feminista, durante o qual se acentuava a igualdade de direitos
civis e políticos (igualdade nas condições de trabalho decorrentes do
contexto da Revolução Industrial e o movimento sufragista, pelo direito ao
voto), havendo hoje uma tendência para acentuar a diferença, ou seja, a
diversidade, que não suponha hierarquização.

Papéis Sociais de Género

"Papéis de género são comportamentos aprendidos numa dada sociedade,


comunidade ou grupo social que fazem com que os seus membros
percepcionem certas actividades, tarefas ou responsabilidades como
pertencentes a homens ou a mulheres, valorizando-os de forma diferente”.
(ILO (s/d) Woman, training and work. Notes for a strategic conceptual
glossary. Disponível em
http://www.cinterfor.org.uy/public/english/region/ampro/cinterfor/temas/gen
der/doc/glossary/ii.htm)

Papéis sexuais

O "papel sexual constitui-se como norma que proscreve determinados


comportamentos e prescreve outros e que é apreensível ao nível dos
estereótipos sexuais sendo os actores sancionados socialmente pela
adopção de comportamentos não consonantes com o seu papel sexual"
(OLIVEIRA, J. e AMÂNCIO, L. (2002) "Liberdades condicionais. O conceito de
papel sexual revisitado".
Sociologia, Problemas e Práticas n.º 40. CIES/ISCTE. Oeiras: Editora Celta,
Pp. 46)
Divisão Sexual do Trabalho

"Divisão do trabalho remunerado e não remunerado entre homens e


mulheres, tanto na vida pública como privada”.
(Comissão Europeia (s/d) "A Igualdade em 100 Palavras" Glossário de
termos sobre igualdade entre homens e mulheres. Comissão Europeia)

Em todas as sociedades, há tarefas e responsabilidades tradicionalmente


atribuídas ou às mulheres ou aos homens. É a distribuição das actividades
com base no sexo aprendida e claramente perceptível a todos os membros
de uma sociedade.
(Cf. Gender In Development Programme (2001) Learning & Information Pack
Gender Analysis. United Nations Development Programme. Pp. 68)

2. O género e a igualdade
O princípio da igualdade é um princípio fundamental da Constituição da
República Portuguesa de 1976. Revisões posteriores reforçaram alguns
aspectos desse princípio, em particular a revisão de 1997 (Lei Constitucional
n.º 1/97, de 20 de Setembro).

Destacam-se abaixo alguns dos seus artigos mais relevantes:

Artigo 9º – Tarefas fundamentais do Estado

São tarefas fundamentais do Estado:


• Garantir a independência nacional e criar as condições políticas,
económicas, sociais e culturais que a promovam;
• Garantir os direitos e liberdades fundamentais e o respeito pelos
princípios do Estado de direito democrático;
• Defender a democracia política, assegurar e incentivar a participação
democrática dos cidadãos na resolução dos problemas nacionais;
• Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade
real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos
económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a
transformação e modernização das estruturas económicas e sociais;
• Proteger e valorizar o património cultural do povo português,
defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e
assegurar um correcto ordenamento do território;
• Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e
promover a difusão internacional da língua portuguesa;
• Promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território
nacional, tendo em conta, designadamente, o carácter ultraperiférico
dos arquipélagos dos Açores e da Madeira;
• Promover a igualdade entre homens e mulheres.

Artigo 13º – Princípio da igualdade

Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de
qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência,
sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou
ideológicas, instrução, situação económica ou condição social.

Artigo 47º – Liberdade de escolha de profissão e acesso à função


pública

Todos têm o direito de escolher livremente a profissão ou o género de


trabalho, salvas as restrições legais impostas pelo interesse colectivo ou
inerentes à sua própria capacidade.
Todos os cidadãos têm o direito de acesso à função pública, em condições
de igualdade e liberdade, em regra por via de concurso.

Artigo 58º – Direito ao trabalho

Todos têm direito ao trabalho.


Para assegurar o direito ao trabalho, incumbe ao Estado promover:
• A execução de políticas de pleno emprego;
• A igualdade de oportunidades na escolha da profissão ou género de
trabalho e condições para que não seja vedado ou limitado, em
função do sexo, o acesso a quaisquer cargos, trabalho ou categorias
profissionais;
• A formação cultural e técnica e a valorização profissional dos
trabalhadores.

3. A Igualdade de oportunidade e o género


O que são estereótipos de género?

A divisão de tarefas numa sociedade não é aleatória, obedece a uma


estrutura e organização e o sexo é um elemento natural que determina a
divisão de papéis na sociedade. A maioria das sociedades considera que
algumas tarefas, funções, atitudes, comportamentos e expectativas são
próprias da mulher e outros do homem. Através destas regras nas relações
sociais de sexo, as actividades de âmbito privado - doméstico têm sido
confinadas como femininas e as de âmbito público como masculinas.

Esta crença transformou-se num pensamento de que cada sexo tem


características inatas para o desenvolvimento de certos papéis
determinados – são os estereótipos de género (imagens fixas das
características ou comportamentos de certos segmentos da sociedade).

Qual a influência dos estereótipos de género na igualdade de


oportunidades entre mulheres e homens?

Durante o processo de socialização da criança para integração numa


sociedade, esta é influenciada pelos modelos estereotipados existentes
nessa sociedade e encorajada a empenhar-se no comportamento
convencional associado ao género. A este nível, a educação tem um papel
fundamental, dado que pode impedir a perpetuação deste tipo de ideias, de
imagens uniformes.
As diferenças de oportunidades entre mulheres e homens estão assentes
em estereótipos de género que têm legitimado, ao longo dos tempos, a
supremacia dos homens face às mulheres. Uma educação de qualidade
seria a que potenciaria semelhanças, respeitando e capitalizando as
diferenças, para concretização dos princípios e ideais consagrados na
legislação nacional e internacional.

Quadro jurídico de reconhecimento da igualdade de direitos entre mulheres


e homens:

Internacional:
• Declaração Universal dos Direitos do Homem (1945)
http://www.unhchr.ch/udhr/lang/por.htm
• Convenção das Nações Unidas sobre a Eliminação de Todas as
Formas de Discriminação contra as Mulheres (1979)
http://www.gddc.pt/direitos-humanos/textos-internacionais-
dh/tidhuniversais/dm-conv-edcmulheres.html

Nacional:
• Revisão da Constituição da República Portuguesa (1997) –
http://dre.pt/comum/html/crp.html
4. RECOMENDAÇÕES PARA UMA LINGUAGEM
INCLUSIVA
Nos documentos recomenda-se:

• O emprego dos dois géneros (feminino e masculino) sempre que não


saibamos se o destinatário é homem ou mulher (ex: Exm.ª Senhora e
Exm.º Senhor; impresso para a/o cliente);
• A alusão aos dois géneros gramaticais, começando pela menção ao
género feminino (ex: as e os funcionários convocados...);
• O uso do termo cônjuge, para designar tanto a mulher como o
marido;
• A referência à mulher e ao homem em todos os tipos de trabalho e
funções profissionais;
• A menção os dois géneros separados por uma barra oblíqua quando
não existir um só vocábulo abstracto ou neutro (ex: a/o interessada/o;
licenciada/o; o/a trabalhador/a; reunião de pais e mães);
• A utilização da arroba na forma escrita para referenciar os dois
géneros, como uma "soma" de a + o (ex: @s funcionári@s).

Em vez de... Usar...

Os portugueses O povo português, a nação


portuguesa, as portuguesas e os
A língua materna portugueses
Os cidadãos A língua de origem
Os eleitores A cidadania
Os políticos O eleitorado, as eleitoras e os
Os directores eleitores
Os assessores A classe política
Os técnicos A direcção, as directoras e os
Os delegados sindicais directores
O homem A assessoria, as assessoras e os
Os direitos do homem assessores
O indivíduo O pessoal técnico, as técnicas e os
O interessado técnicos
Nascido em A representação sindical
O titular da conta O ser humano, a humanidade, a
Homem/mês mulher e o homem
Os negros Os direitos humanos, os direitos das
Os adultos pessoas, os direitos da mulher e do
Os jovens homem
Os meninos A pessoa
Os irmãos A pessoa interessada
Os descendentes Data de nascimento ou natural de
Os habitantes Titular da conta
O juiz decidirá Trabalho/mês
O agredido A raça negra
Aqueles que conduzem As pessoas adultas
Um dos que A juventude
Algum dos presentes As crianças, a infância, as meninas e
Cada funcionário deverá registar a os meninos
entrada As irmãs e os irmãos
Precisa-se de estagiário A descendência
Reunião de pais A população, as habitantes e os
Os professores habitantes
Os alunos Decidir-se-á judicialmente
Os leitores A vítima
Autor desconhecido Quem conduz, as pessoas que
conduzem
Uma das pessoas que
Alguma das pessoas presentes
Deverá ser registada a entrada
Estágio disponível
Reunião de responsáveis
O corpo docente, as professoras e os
professores
O corpo discente, as alunas e os
alunos
O público leitor, as leitoras e os
leitores
Autoria desconhecida

5. Bibliografia e sites utilizados

• ExpressARTE. Manual da Formanda para a igualdade de género –


Recursos didácticos para aprender a ser mais

• Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical


Nacional (CGTP-IN) (2008).Guia para a aplicação de uma metodologia
de avaliação do valor do trabalho sem enviesamento de género

• http://www.empregoemalta.com/jov_detalhe.php?seccao=20&id=102

• http://www.caritas.pt/cr/noticias_all.asp?
caritaid=22&noticiaid=2580&dossierid=37

Você também pode gostar