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Lt ENCONTRO DE Ter eaon any Dve0 60 oy IMAGENS DE SONHOS: EXPOSICAD AUDIOVISUAL LOVE-ANDUJAR NO MASP, 1971. hais Lopes Caman sta € a primeira exposicao realizada pelos fotégrafos George Love? e Claudia Andujar? em colabora- [0 como Masp e seu diretor, Pietro Maria Bardi, A esta se seguem vérias outras iniciativas em torno de pratica fotogréfica nas quais a participacao da dupla é fundamental, entre elas 0 Laboratério e 0 Departamento de Fotografia mantidos pelo museu. Aimporténcia de entender esta primeira experiéncia audiovisual proposta por eles vem da hipdtese {de esta ter sido pioneira tanto em sua forma de apresentagao como na inovago técnica das imagens e de ‘seus melos de exibicdo, Procurando contribuir com a escrita da histéria das exposicdes no Brasil, bem como para a compreensao das mudancas de paradigma da fotografia através da andlise de sua expografia, Neste sentido se faz necessério entender o contexto no qual estas obras eram apresentadas, € 05 discursos institucionais que corroboraram para a legitimagao dessas novas praticas artisticas, Entendendo ‘0 momento de exposi¢0 como importante interlocugao das obras com diferentes agentes sociais, e @ ins- tituico museolégica como pega fundamental das complexas relades de circulagao, recepgao e consumo ‘que se estabelecem neste processo. Nessa linha interpretativa, 0 museu, na sua qualidade de instituicao normalizadora, ¢ 2s, por meio de estratégias padrdes de legitimacao para diferentes préticas artist stades Unidos, era formado em fllosofia, economia e matemiti George Leary Love (1931-2995), natural de Charlote, plicada pela New School of Social Research de Nova lorque. Chega 20 Brasil em 1966, Ver Angelo Manjabosco ( * Nascida na Suga, estudou Humanidades na Universidade de Nova Yorke se decica& pinturaabstrata, Chega 30 Brasil em 1955 com va. Ver tografar como forma de se comunicar com as pessoas que enc: sis Chateaubriand e Lina Bo Bard, dt Pietro Maria Bardi (2900-1999) fundou © Masp juntament insttugSo desde a 1a InauguracSo, em 1947, até 1990, quando se afasta do museu. Ver P. M, Bardi (1992), [ARTE EM CONFRONTO: EMBATES NO CAMPO DA HISTORIA DA ARTE - 2018 diversas, especialmente pelas exposigdes que realiza, pelas publicagbes que organiza o\ endossa, e pela politi corporacao de obras adotada para seu acervo (COSTA, 2008, p. 132) Antes de se envolverem com as atividades do museu, Cléudia e George figuraram no staff de foté- grafos da Editora Abril entre 1986 e 19715, trabalhando em diversas revistas, tals como Claudia, Bondinho e Realidade, A revista Realidade, talvez tenha registrado uma das maiores contribuigdes da dupla em pubti- cagdes brasileiras: a edi¢do especial sobre a AmazGnia (Fig. 01), na qual trabalharam conjuntamente com uma equipe de fotdgrafos que inclufe Maureen Bisilliat®, Amancio Chiodi, entre outros No ensaio publicado pela revista em outubro de 1971, a sensibilidade e poética de Claudia ganham destaque, a imagem da capa e 0 miolo da revista so de sua autoria, As imagens reas publicadas por Love também causam grande impacto visual. George Love logo fica conhecido no meio editorial pelas pesquisas que desenvolvia dos processos fotomecénicos empregados na producao gréfica da época’, o dominio téc- nico e os experimentalismos marcam suas imagens. Colaboravam também com revistas técnicas de fotografia como a Novidades Fotoptica e Revista de Fotografia® (Fig, 02), das quais George foi editor de fotografia, Tais revistas funcionavam como um impor- tante canal de comunicacao e troca de experiéncias entre os interessados em fotagrafia, “som, cinema, ética e recursos visuais”’, Haviam foruns de discussao entre 0 pUblico e a equipe das revistas sobre questiona- mentos técnicos da rea. Ensaios de fotdgrafos reconhecidos, antincios de equipamentos, de lojas especia- lizadas e textos de cunho didatico e analitico tomavam as paginas dessas publicagbes. Tal movimento entre fot6grafos, laboratérios, revistas especializadas e publica interessado, leva a crer que 0 desenvolvimento da fotografia artistica s6 foi possivel com o desenvolvimento de um circuito em torno do fazer fotogréfico: a oferta de materiais - c&meras, filmes, lentes, projetores, equipamentos de som - a divulgacdo das produgées e pesquisas por meio de publicagdes e exposicdes em museus e galerias de arte Claudia jd havia contribuide em outras 0 idades com publicagBes da editora, & provavelmente por intermédio dela que en Bisilat mantém uma i ‘com o casal Love-Andujare também com o Masa entre as décadas de 1970 e ;ganizam em 1971 a Expo silera. Exp8e no museu pela primeira vez em 1966 xperimentagdes gréfcas d we traziam a marca das propostas da Associagdo de Nellografla, Ver Ang Manjabosco (2036). O ensaio de Claudia Andujar apresentado na exposicdo do Masp em 1971, foi publicado no primeiro nimero da revista, se tr nando importante registro da série visto que no houve eatdlogo da exp Este era osubtitulo da Revista de Fotografia. Ver Claudia Andujar (1971) [ARTE EM CONFRONTO: EMBATES NO CAMPO DA HISTORIA DA ARTE - 2018 Evy Na documentacao do Arquivo Histérico sobre @ exposi¢ae Audiovisual Love-Andujar de 1971, encon- tramos muitas matérias de jornal veiculadas na época, em detrimento de dacumentos mais técnicos ou conceituais sobre as escolhas para a montagem das imagens e do aparato expositivo, au até mesmo textos de apresentagao da exposicao elaborados pelo museu. Apesar de nao se aprofundarem nestas questoes as reportagens apontam para a originalidade das propostas. Andujar apresenta o ensaio fotogrético que fez com Sdnia, “moca mulata vinde da Bahia” e que ten- tava a carreira de modelo em So Paulo, Se conheceram entre editoras e estidios fotogréficos frequentados por ambas. Este trabalho foi realizado com 10 rolos de cromos de 36 poses, um fundo infinito, em uma sessao de apenas 3 horas, “muito pouco para um trabalho to importante pra rim?" Durante 0 ensaio a fot6grafe oferece a SOnie alguns discos para escolher, depois de ouvir varios, repete uma nica cango, a misica “I had a dream” de John B, Sebastian, uma das favoritas de Claudia, A gravagao era um audio ao vivo da apresentacao do cantor no Festival de Woodstock realizado em 1968, Sonia nao entendia a letra da can¢ao, porém a mesma a inspirava a assumir poses oniricas, como se esti- vvesse no tal sonho cantado por Sebastian e que depois seria revelado por Claudia. O ensaio nasce audiovi sual Depois de feitas as fotos “de forma simples e direta’, teve inicio “a fase mais complexa e criativa embora jé totalmente calculada”. Claudia passa a trabalhar os cromos fazendo cortes, revelando em posi- tivo e negativo e refotografando-os com ajuda de um aparetho conhecide como Repronar™, que permite a Utilizagao de filtros de diferentes cores, a manipulago da exposi¢ao e a sobreposicao de camadas, Projeta 0s slides reconstruidos do corpo de Sonia fazendo a transi¢ao entre as imagens de acordo com “o ritmo do viol8o, as mudangas de harmonia, o sentido de certas palavras, a forma de Sebastian as cantar", chegando uma sequéncia ideal de 90 slides" O desejo de conhecer 0 proprio corpo motive Claudia a buscar no corpo de outra mulher sua esséncia € possivel também como mulher, ao realizar um ensaio estético sobre as formas fisicas femininas, esteja procurando uma identificagao reflexa e idealizada que desconheo em meu préprio corpa"™. ‘As manipulagies e sobreposigdes de camadas servem ao propésito de perda do referencial, reve- lando algo de universalizante a respeito do ser feminino no mundo. A questo dos gestos, dos contornos traduzidos em formes e cores, projetando imagens de um sonho. Um sonho que evocava ideais dos Ver Claudia Andujar (1971, p. 23). logo No Lugar do outro (2015) Claudia Andujar (1971, p. 33) ® Desta sequéncia apontada por Claudia, apenas 24 imagens foram publicadas no primeiro nimera da Revista de Fotografia e 16 foram expostas no IMS-Ri em 2015, Ver Andujar (1971) ecatélogo “no lugar do outro” (201 Claudia Andujar (1971, p. 23)

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