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Intelectuais e minorias em A expedigéo de Montaigne Henrique Roris Aarestrup Alves Resumo No romance A expedigio Montaigne, de Anconia Callado, 0 processo de aculturagio dos indigenas ao Brasil é ratada de manciea sing or qu comp ig nas, Nesse contest este trabalho pretende identifica ecatseteriaa al- guns intelectuais no romance, analisndo suas relagbes com a minoria indigena lado teflete sobre ‘0 romance A expedigao Montaigne, Anconio C: a siruagio da cultura indigena na sociedade latino-ameri temporinea, especificamence na brasileira, transmitindo su: culty sobre 0 iereversivel processo di io. Através do contato entre 0 perso~ nagem Vicentine Beirio, am incele fran val brasileiro impregnado de cult cesa, ¢0 indigena camaiu Ipa ago da cultura indigena pela ocidental. Ali ‘© autor empirico mostra o grau de contam 1agem, permeada de palavedes € rermos chulos, além dos recursos do humor e da ironia perceptiveis em varias passagens da alidade, modificada pelos valores ocidentais capicalistas. E para ilustrar 0 pro- cesso de “transcultu rrativa, explicca como a cultura indigena encontra-se, n 40” desenvolvido no pais, © autor empirico caracteriza © personagem Beieio como um intelectual impregnado de eulcura européia, © Mestre em Literaturas de Lingua Portugucst = PUC Minas. Cad CEU a Pega eh WO, 5-19 see DOT 0 sip es mas que, a0 mesmo tempo, valoriza fanaticamente a cultura dos indios xin- nos. Callado, porém, parece ridicularizar a sagem do intelectual estran= iro idealista € utépico, ao identifics-la com o personagem Vieentino Beitio, qu ata lavar seu “mal estar” através de uma “descolonizagio” do Brasil, sem perceber a ireversibilidade do processo de culturagio. Assim sendo, o escti- tor Antonio Callado, ao escrever esse romance, caracteriza-sea si mesmo como tum intelectual que procura refletir sobre os problemas dos indigenas de seu tempo, e sobre 0 préprio papel do intelectual diance dessas questées, a0 mes- ‘mo tempo em que busca influenciar tanto politica quanto socialmente essas realidades da sociedade brasileira, através do trabalho litersrio com as ideias ¢ a responsabilidade puiblica envolvida nesse proceso. © romance A expedigio Montaigne fz referéncias a0 filésofo francés Michel Eyquem de Mo: signe, através do préprio titulo e de algumas passa- gens. A imagem desse intelectual, mais precisnmente um busto, acompanka Viccntino Beirio em suas andangas, como um objeto de vencragio reapcitado ¢ idolatado religiosamente: Deva ser um santo qualquer, de ignja ou de macuonba, como o Sao Jorge enfiando 4 Langa na goela do lagartdo, porque o Vicntino Beirto, quando vin el, o boneco, cedhando 0 Taatuari,ficon asin dura, primciro, empertigndo, depois abaivon a cabera, mito no peito, dizendo: — O senhor de Montaigne pare sinha visto logo que devia ser algun Noso Senbvo, (J. (Callado, 1982, p. 95-96) Pode-se perccher a reveréncia ¢ respeito de Beirio para com a imagem de Montaigne, 0 qual representa um modelo de intelectual a ser seguido, uma fonte de inspiragio para o personagem. De fato, o filésofo francés, que vivew de 1533 a 1592, integrante do secto do rei Carlos IX, escreveu alguns ensaios sobre aborigenes americanos, chamados de antarticos. No capitulo XXXI de seus ensaios (Montaigne, 2000, p. 192), intitulado Dos canibais, Montaigne questiona as conviegdes etnocentristas européias a respeito dos povos “primiti- america vos", langando a pergunta “quem seriam os selvagens’, 0s indig nos ou 0s europeus? Pode-se perceber que as ide século XVI se identificam com as propostas e conviegbes do personagem Vi- deste fildsofo francés do 10 dT Ingles minors on A expe de Mon centino Beirio, que pretende “descolonizar” 0 Brasil, devolvendo o pats para o dominio indigena, Além disso, outras caracteristicas intelectuais de Montaig- ne patecem servir também aos propésitos de Beirio, quando defende e acolhe cultura indigena. Através de seus ensaios, Mom 1¢ utiliza a escrita como insteumento de trabalho, além de se posicionar poliscamente de forma contraditéria 20 defender a cultura dos indios americanos, ¢ nio a cultura ocidental que © © perso igem Vicentino Beirio, no romanee, ¢ guiade por um desejo de resgatar a cultura das indios do Alto Xingu, de forma a “descolonizae” 0 ocidental branea da cultura brasileira, € Brasil, ou seja, eliminar a influénci restituir aos indigenas a sua condicio original. Beirio pretende formar uma guerritha de indios xinguanos, para “botar os brancos de joclhos por terem descabacado Iracema” (Callado, 1982, p. 30), ou seja, deseja promover uma reagio tardia dos {ndios xinguanos ao processo de colonizagio, através até da . como se fosse possivel “descontaminar” esses indigenas cura ocidental com a qual tiveram contato durante séculos. Beirso possui uma imagem romantica e idealizada da cultura indgena, como se os camaiuris eos outros povos indige emporineos, de uma maneira geral, valorizassem ade ea purera de sua cultura, Durante todo o romance, a postura de Ipavu ilusera a forga de um processo de aculturagio que nfo pode ser anulado pelo projeto de Vicentino Beirio, justamente porter sido instalado no pals hi muitos séculos. A proposta do personagem, qual se mostra inviivel nesta + nfo leva em consideragio o fato de os ini ‘ncias marcantes da cultura indigena na prdpria irae brasileira Vicentino Beirgo torna-se um exemplo desse processo, pois ele mes- ‘mo, um intelectual criado pela cultura ocidental, assimilou valores da culeara indigena, mesmo que de uma forma exag Apesar de Beitio ser desvalorizado por Ipavu, existe uma passagem do romance que earseteriza nitidamente o personagem como uum incelectual, si- edade, pois vivia assedindo por repérte- tuando-0 como uma referéncia na sox res pela midia de um modo gera: Tak CET ae "Bale Hizey Wy p9-19y at 2000 if

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