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Epistolas paulinas A) Introducao a epistolas paulinas Dos 27 livros do Novo Testamento, pode-se ob- servar que 21 ~ ou talvez.24-~ podem ser chamados de epistolas ou cartas. Os titulos de 21 indicam uma carta de alguém para alguém (por exemplo, Episto- la de Paulo aos Romanos), de alguém (Epistola de Tiago), ou para alguém (Epistola aos Hebreus). O terceiro Evangelho e Atos tém declaragées introdu- trias que também caracterizam uma carta. © Apo- calipse tem muitos aspectos de uma carta, mas ele, provavelmente, pertence & classe de literatura deno- minada apocaliptica. ‘Assim como nio teria havido nenhuma carta sem o Jesus hist6rico, certamente nfo teria havido necessidade de um Evangelho escrito se 0 poder © a influéncia do Cristo ressurreto jé nio tivessem sido conhecidos e sentidos na vida daqueles que formavam a comunidade crist& antiga. Foi para essas comunidades primitivas que as cartas, os depésitos literérios mais antigos da Igreja, foram escritas e tiveram tamanha influéncia sobre a Igreja emergente. Jesus, como 0s outros mestres fimosos do mun- do antigo, nao debxou escritos. A mais antiga litera- tura que o cristianismo tem & a que foi escrita por homens que foram seus seguidores, ¢ a literatura mais antiga foi escrita como cartas a congregagdes especificas, com problemas especificos. Essas cartas foram escritas desde cerca de 45 d.C. até o final do primeiro século, © propésito de cada carta foi aju- dar no crescimento espiritual de pequenos grupos de cristios espalhados pelo Império Romano. Cada carta teria sido levada por um irmao de confianga até seu destino, ida na assembleia ¢ depois guarda- a, para futura referéncia e uso. As vezes a carta era compartilhada com igrejas irmas. Frequentemente, cépias eram feitas, de maneira que outras igrejas pu- dessem também ter um beneficio permanente das instrugées. A carta era em forma de rolo e podia ser guardada facilmente com quaisquer outras cartas ou porgées do Antigo Testamento que a igreja fosse 0 bastante afortunada de possuir. As igrejas primitivas preferiam, contudo, a comunicago oral do ensino apostélico & forma escrita. ‘Com o passar do tempo, todavia, o prestigio desses escritos primitivos dos apéstolos aumentou e as geragdes posteriores de cristaos se voltaram para esses escritos primitivos como sendo autoridade em doutrina e pritica, Essa aceitagdo foi especialmente acelerada quando a primeira e a segunda geragdes de crentes morreram. As igrejas cristis, entio, comega- ram a dar maior importancia aos escritos auténticos do testemunho ensino apostélico, tanto 20 teste- munho do Jesus histérico quanto as implicagSes teo- logicas e éticas do impacto de se tornar um seguidor do Cristo Ressurreto. Paulo e sua importancia Apés 0 término do ministério terreno de Jesus (cf At 1:3-11), todo o trabalho por Ele desenvolvido em trés anos precisava continuar. O préprio Mestre consciente disso outorgou aos seus discfpulos o Espi- rito Santo,a terceira pessoa da Trindade, como Con- solador, Aquele que iria impulsionar os discipulos a divulgar 0 Reino de Deus e a Salvasio mediante a Graga (cf. At 1:12-26). Seria necesséria a edificagao da Tgreja, confor- me predita por Jesus: Também eu te digo que tu & Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minka igreja, e 4s portas do inferno nao prevalecerdo contra ela (Mt 16:18), comprada por Ele no Calvirio (cf. Rm 3:24- 25) e constituida como Sua representante na Terra. Portanto, a partir do capitulo 2 de Atos dos Apés- tolos, comeca a sexta Dispensagio: da Graga ou da Igreja, este € 0 tempo guardado no coragao de Deus tem que as portas do Evangelho foram abertas para He os gentios.A conversio de Saulo, pela visio espiritual, €a providéncia de Deus, através do Espitito Santo, para que a salvag2o mediante o sacrificio de Cristo chegasse aos gentios com muito mais rapidez: Mas 0 Senhor the disse: Vai, porque este € para mim um ins trumento escolbide para levar o meu nome perante os _gentios e reis, bem como perante os filbos de Israel; pois eu Ihe mostrarei quanta lhe importa sofrer pelo mew nome (At 9:15-16). E impossivel nfo colocar demasiada énfase na vida € obra de Paulo quanto ao seu efeito sobre 0 cristianismo, Paulo € o autor de cerca da metade do Novo Testamento. Dos 27 livros do Novo Testa~ mento, pelo menos 13 foram escritos por este tini~ co homem, e quanto aos 14 livros restantes, Paulo tem grande influéncia sobre Lucas — que escreveu os dois volumes: Evangelho de Lucas e Atos dos apés- tolos ~ e de algum modo esti por tris da Epistola 03 Hebreus. Quando se reconhece que a maioria de suas cartas foram escritas antes de qualquer um de rnossos Evangelhos canénicos, pode-se prontamente ver que Paulo, através de suas cartas, exerceu grande influéncia sobre 0 movimento cristio primitivo in- teiro, Embora suas cartas tenham sido escritas para localidades € pessoas especificas, os problemas que ele tratou eram universais em carter e em principio. O conselho que ele dava e suas interpretagbes teo- logicas e éticas dos ensinos do Senhor Jesus Cristo tornaram-se doutrinas bsicas do cristianismo. Em- bora tenha havido outros homens de grande influén- cia na formagio da dire do cristianismo, nenhum exerceu maior influéncia que Paulo de Tarso. Breve histérico ‘A primeira mengio de Paulo na Biblia esté em Atos 7:58, no apedrejamento de Estevio: E, Jangan- do-o fora da cidade, 0 apedrejaram. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem chamado Saule. Defrontamos com um homem sujeito as leis judaicas da politica enviesada pelos maiorais da religio, os sumos sacerdotes. Acatava as suas dire- trizes ¢ estava de pleno acordo com as perseguigdes 03 que seguiam o “Caminho”, como eram chama- dos os cristios da época (cf. At 8:1-4). Nessa fase de 296 sua vida, scu nome era Saulo, temido pelas investidas contra os discipulos (At 9:1-2), preocupado em asso- lar a igreja, entrava pelas casas, e arrastando homens e mulheres, encerrava-os, no cdrcere. Saulo, judeu, nascido em Tarso da Cilicia (At 223), criado na mesma cidade e instruido aos pés de Gamaliel, segundo a exatidao da lei de nossos an- tepassados, sendo zeloso para com Deus, assim como todos v6s 0 sois no dia de baje, declarava ele em sua defesa ao ser preso por judeus no Templo (At 22:3). Gamaliel foi na sua época um dos maiores mestres da lei, respeitado por todos (At 5:34). Paulo tinha também o direito de cidadio romano, talvez. porque seu pai tivesse a cidadania romana (At 22:28). Por sua conversio (At 22:1-21), tornou-se apéstolo Pau- Jo, instrumento de Deus para propagar o Evange- Iho aos gentios e fazer consolidar as bases da Igreja nascente, Escreveu epistolas inspiradas pelo Espitito Santo, nas quais estio fundamentadas as doutrinas do Senhor Jesus & sua Igreja. O temperamento de Paulo se mostra bastante saliente quando nos defrontamos com a praticida- de do seu evangelho. Jamais ficou retido em assun- tos sem importancia, mas anunciou a Cristo como ‘Unico Salvador, a salvagao através da Fé, sem tirar os colhos da Cruz no Calvirio, visio central dos seus es- critos. Tampouco procurava se vangloriar, mas a sua gloria estava em Cristo Jesus nas cousas concernentes a Deus (cf. Rm 15:16-20). Ojudeu Paulo Come judeu, Paulo era um monoteista inflexi- vel (cf. G1 3:20; Rm 3:30) e rejeitava severamente a religiio pagi (Gl 2:8), a idolatria (Co 10:14, 21) e a imoralidade (Rm 1:26). Ele menciona o Antigo Tes- tamento como a Sagrada Escritura (Rm 1:2; 4:3),a Palavra de Deus divinamente inspirada (II Tm 3:16). ‘© método de Paulo, de interpretagio do Antigo Tes- tamento, 0 coloca na tradigio do judaismo rabinico. Como rabino judeu, Paulo partilhava inques- tionavelmente da fé judia na centralidade da Lei. ‘Mesmo quando cristio, ele afirmou que a Lei € es- piritual, santa, justa ¢ boa (cf, Rm 7:12, 14). Paulo ‘nunca questionou a origem divina e a autoridade da Lei. A Lei para um fariseu era tanto a Lei escrita de Mbisés como as “tradig6es orais dos pais" (GI 1:14). (O judaismo tinha perdido o sentido da revelagio de Deus e a sua fala através da voz viva da profecia. A doutrina judaica da revelagao centralizava todo 0 co- nhecimento de Deus e sua vontade na Lei. O Espirito Santo havia partido de Israel com os «iltimos profetas, mas nio era mais necesséria nenhu- ma palavra de Deus, tudo estava contido na Lei. A teoria judaica tracava a tradigo oral a partir de Moi- sése da Lei escrita. Na Torta revelagio era completa e final. Uma revelacio progressiva era desnecessiria ¢ impossivel. Deus no agia mais nos eventos histéri- cos, entretanto, um poderoso ato de Deus permane~ cia no futuro, quando ele manifestaria seu poder real para destruir seus inimigos, redimir Israel e estabele~ cer definitivamente seu reino neste mundo. Saulo,o judeu, participava da esperanca judia da vvinda do Messias, de uma forma ou de outra, para destruir seus inimigos, redimir Israel e estabelecer fo Reino de Deus. Esta esperanga, que remonta 20s profetas do Antigo Testamento, continuou sendo a estrutura bisica do pensamento de Paulo como cris- tio, As cartas de Paulo refletem 0 modo de expressio que estava emergindo tanto na literatura apocaliptica ‘como na rabinica das duas eras. A expresso com- pleta s6 ¢ encontrada em Efésios 1:21, onde os dois, séculos sucessivos designam o alcance do futuro sem fim: acima de todo principado, ¢ potestade, ¢ poder, ¢ domtnio, e de todo nome que se possa referir, ndo sé no presente século, mas também no vindouro, Este século chegard ao fim com o dia do Senhor (cf.1'Ts 5:25 11 ‘Ts 2:2), que, para Paulo, era também o dia do nosso Senhor Jesus Cristo (cf.1 Co 1:8; II Co 1:14; F11:6), quando aconteceri a Parousia ou “Vinda de Cristo” (EIT 2:19; Ts 2:1; 1 Co 15:23). Ocristao Paulo ‘Algo aconteceu para realizar uma transforma- 40 completa na opinio de Paulo. Isto pode ser ana~ lisado a luz dos seguintes aspectos da missio aposté- lica de Paulo: + Paulo proclamou Cristo, que havia antes sido perseguido por ele; Epistolas paulinas 2 + Paulo estava convicto de que era sua missio particular levar 0 evangelho aos gentios; + Paulo pregou a justificagao pela fé em contraste e sem levar em consideragio os labores da Lei. Surpreendentemente, esta mudanga completa de opiniao ocorreu quase que instantaneamente,com a experiéncia no caminho de Damasco. A conversio de Paulo apresentou um problema para o estudo his- t6rico que tenta explicar tal experiéncia em termos cde uma experiéncia humana familiar. Os trés relatos em Atos (cf. 9:1-9; 22:6-16; 26:12-18) concordam que Saulo viu uma luz brilhante no céu, que ele caiu por terra, que ele ouviu uma voz, que se identificava ‘como Jesus e que ficou cego. A aparigao de Jesus pro- vou a Paulo que a proclamagio crista estava correta, aque Jesus havia se levantado dentre os mortos e que Ele, portanto, era o Messias, ¢ nfio apenas Messias, mas também o Filho de Deus: E logo pregava, nas sinagogas, a Jesus, affrmando que este é 0 Filho de Deus (At 9:20). Em todos os trés relatos da conver- so de Paulo, o exaltado Jesus identificou-se com os cristdos: Eu sou Jesus, a quem tu persegues (At 95). Isto demonstrou que a Igreja, que Saulo estava perseguindo, era de fato 0 povo do Messias. Mas se ‘um, que nido observa a Lei como os fariseus, era des- crito como 0 povo do Mesias, entio a salvagio nto poderia ser encontrada através da Lei; ela tem que ser dadiva do Messias. E seguia-se que, se a salvagéo messifinica havia sido outorgada aos judeus & parte da Lei, entio esta salvacdo tem que ser universal em seu escopo e ser a dadiva de Deus a todos os homens. Eis aqui a légica interna que subjaz. ao apelo a Paulo ppara ser 0 apéstolo aos gentios, que lhe chegou atra- vés do Jesus Ressurreto. O judafsmo tem que estar errado em entender a Lei como um caminho para a retidio, Foi esta certeza que trouxe a Paulo & convic~ g40 de que Cristo era o fim da Lei, como caminho paraa retidao: Porgue o fim da lei é Cristo, para justi- a de todo aguele que cré (Rm 10:4). ‘Assim, toda a esséncia da teologia de Paulo - Jesus como 0 Messias, o evangelho para os gentios, a justificagdo pela f& contra os feitos da Lei — est contida em sua experiéncia no caminho de Damasco, 297

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