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Animal dotado de mente X Seres humanos

A humanidade assim se proclama por partir do princípio de que somos humanos, no entanto em
que ser humano nos diferencia dos outros animais? Em uma de suas aulas a excelente filósofa
Lucia Helena Galvão, nos traz um apontamento que norteia a reflexão aqui proposta “Animal
dotado de mente, ele potencializa os instintos de sobrevivência e se torna um predador
perigosíssimo, mas não atinge o estágio humano, pois ser humano está para além de sobreviver
e procriar”.

Nessa medida precisamos divisar que o fato de sermos animais dotados de mente não nos obriga
a reagir apenas a partir da premissa animal de ataque e defesa, é fundamental que possamos
compreender o que nos impede de fazer essa transição, é que estamos na maioria das vezes
convictos de que nossos desafios estão em batalhas externas, sendo que nosso maior inimigo
repousa dentro de nós, acobertado em nossa ignorância sobre nós mesmos enquanto indivíduos
e enquanto espécie. Nossas lutas e resistências habitam em nós, conectado em aliados externos,
que nos confundem e nos fazem muitas vezes acreditar que a “culpa” por nosso sofrimento é
de origem externa, pois assim nós negamos a responsabilidade sobre nossa própria vida.

Projetamos em nomes e formas externas a nós desde o clima, até comportamentos de outras
pessoas a causa por nossos problemas, negamos a causa real que é nossa ignorância sobre nós
mesmos, nessa medida quanto menos consciência pessoal maior a facilidade de atribuir a causas
externas nossa infelicidade.

No entanto, não raro podemos observar pessoas se comportando de maneira diferente diante
da mesma situação, então o que faz uma agir de modo X e outra agir de modo Y? A forma como
cada pessoa se relaciona com o mundo define sua forma de reagir, e a reação depende de uma
ação anterior, ou seja, de acordo com o estímulo externo ativamos respostas internas e só
podemos ativar em nós o que está disponível, portanto se estou convicto que o mundo é
assustador não tenho disponível o acolhimento, apenas a fuga ou o ataque.

Nesse caso o acolhimento seria uma habilidade que não cabe ao animal dotado de mente diante
de uma situação ameaçadora, por conta de para um animal dotado de mente ou não, a reação
diante da ameaça é de ataque ou fuga, para que o acolhimento seja uma alternativa, uma outra
base de relação com o mundo precisa estar ativada, e enquanto humanos estamos ainda
embrionários, mesmo nesses tempos tão modernos tecnologicamente.

É importante esclarecer que o fato da técnica/tecnologia estar avançada, avançamos apenas em


conhecimento do externo ao qual atribuímos o foco de interesse como uma forma intuitiva de
aprender sobre nós mesmos, no entanto como predadores dotados de mente, enxergamos a
dominação do externo como uma forma de consolidação do poder da espécie sobre o sistema,
o home domina a natureza, no entanto continuamos lutando ferrenhamente com algo externo
que cada vez que achamos que finalmente a batalha está ganha, o inimigo se transforma em
outro perigo, e assim vamos buscando eliminar fora, o ego adoentado ao qual nos apegamos
como se fosse uma relíquia de família que sem ela não temos mais identidade.

É importante que reconheçamos que para crescer precisamos nos reiventar, soltar crenças
padrões e logicas que nutriam um paradigma de guerras internas e externas como se
estivéssemos em um habitat extremamente hostil, no qual ou nos tornamos os caçadores
persecutórios de ameaças ou seremos exterminados num rompante que nos pegará de
surpresa, precisamos assumir nossa responsabilidade em crescer enquanto pessoas e enquanto
espécie, porque a sobrevivência de nossa espécie e das próximas gerações dependem das
escolhas de agora, no agora honramos nossa ancestralidade e celebramos a perpetuação de
nossa espécie, pela busca de novas rotas evolucionais baseadas em paz.

Sobre paz também é fundamental salientar que paz não é ausência de conflito, não significa
submissão ou passividade, construir cultura de paz implica em reconhecer que somos mais que
animais dotados de mente, somos os co-criadores do que chamaremos de humanidade, quando
nos dedicarmos a exerce-la, ser humano não é algo que podemos definir antes de ser, só
podemos definir humanidade quando nos dispusermos a elabora-la de maneira consciente e
responsável, assumindo nosso poder sobre nós mesmos e sobre nossos inimigos internos, que
não nos convidam a fracassar e sim a superar nossas limitações para que possamos subir de
nível na espiral da vida.

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