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REGÊNCIA I
indicações de estudo
c) Quanto maior for o tamanho do gesto do regente maior será o volume sonoro do grupo;
d) O Gesto inicial (levare)realizado antes do grupo iniciar a execução deve indicar com
precisão o andamento da peça;
e) A postura do regente ao colocar-se diante do grupo deve emanar a atmosfera sonora
que se buscará através da execução musical.
BINÁRIO 1
O primeiro exercício desta série, em sua primeira parte, tem como objetivo
trabalhar a marcação das pulsações em compasso binário e, para tanto, o estudante
deverá utilizar o desenho de marcação do compasso iniciando com precisão o primeiro e
o segundo tempo deste.
Inicialmente o exercício se encontra em uníssono e as pequenas frases terminam
sempre com um som que preenche todo o compasso. Nessa circunstância de marcação
da unidade de compasso o estudante deverá marcar apenas o primeiro tempo, sentindo
interiormente a passagem do segundo tempo. O mesmo fenômeno de percepção
silenciosa deve ocorrer nos compassos de pausa.
A segunda parte apresenta uma imitação rigorosa e visa iniciar o desenvolvimento
de independência das mãos, buscando fazer com que o estudante escute o processo
imitativo e o guie com naturalidade. Finalmente, há um trecho harmonizado à duas vozes
que deve ser utilizado para que o estudante desenvolva sua percepção de sons
simultâneos e posso conduzi-los buscando sempre a expressão musical.
À medida que o estudante desenvolver a fluência na condução, do ponto de vista
do domínio da execução dos gestos de condução, é necessário que este desenvolva a
busca por um sentido musical que deve ser originário do exercício e transformando-se em
indicações interpretativas de dinâmica e/ou agógica.
Optamos por não colocar nenhuma indicação de interpretação para que o
estudante tenha espaço para descobrir os possíveis sentidos musicais que qualquer
realização musical, por mais simples que seja, deve conter
BINÁRIO 2
O Segundo exercício proposto busca trabalhar, inicialmente, a marcação da
unidade de tempo, sem a necessidade de que seja marcado o segundo tempo do
compasso. Em um segundo momento o exercício enfatiza a marcação do segundo tempo.
No compasso 21 há um pequeno exercício que visa desenvolver a concentração através
de uma entrada específica na voz mais grave e, finalmente, Trabalha-se a marcação do
primeiro e do segundo tempo com alternância das vozes.
EXERCÍCIO BINÁRIO 3 e MELODIA
A atividade artística de canto coral pode ser considerada um campo fértil para uma
reflexão sobre relações de dominação estabelecidas pelas instituições e estruturas sociais de
uma comunidade. A autoridade do regente sobre a organização de um grupo coral e a
execução de obras musicais podem ser analisados como reflexo do pensamento hegemônico
de uma determinada cultura dominante, quando o regente se propõe apenas a reproduzir
um pensamento musical institucionalizado. Ao mesmo tempo, pode tornar-se uma forte
ferramenta de intervenção pedagógica, desencadeando um processo de ensino-
aprendizagem que supera o plano da simples execução musical artística. Essa ação
pedagógica, tomada de forma integrada com a atividade musical, pode vir a ser uma ação
mediadora de tomada de consciência, por parte de todo o grupo de cantores, acerca de seu
papel social, tornando-o emancipado do poder e controle do regente.
Zander (1987, p. 154) afirma em seu livro sobre regência que “a responsabilidade do
regente como autoridade é grande, porque com sua capacidade deve ser o guia, a alma e a
vida de seu agrupamento”.
Cuidar da integração e integridade desse grupo exige habilidades do regente que vão
além do simples conhecimento da linguagem musical. É necessário compreender também as
relações humanas numa perspectiva de valorização e respeito das individualidades pelo e
para o “bem-estar do grupo”. Aspectos da vida social dos cantores e de suas experiências
cotidianas interferem diretamente na execução musical. Nesse sentido, para Zander (1987),
o significado atribuído ao regente em ser “a vida” de um agrupamento coral, acredito
referir-se ao papel desempenhado por ele na condução das relações sociais do grupo e de
sua formação. Mas e a alma? O que significaria ser a “alma de um coro”?
Toda obra de arte pressupõe em seu processo criativo e realizador o fenômeno da
interpretação ou ato de interpretar1. A interpretação poderá partir do autor da obra, que
interpreta a realidade para recriá-la ou do observador que busca interpretar o seu sentido,
muitas vezes atribuindo uma nova perspectiva ao que se foi criado. No caso da execução de
uma peça musical por um grupo coral, a sua interpretação fica, na maioria das vezes, sob a
responsabilidade do regente. Cabe ao regente a transformação das obras musicais
moldando-as significativamente e singularmente a cada nova execução a ponto de aproximar
o cantor da essência musical da peça apresentada e, dessa forma, ser elemento
fundamental e modificador da expressão impressa na interpretação dos cantores. Nessa
perspectiva, acredito que Zander aponta o regente como “alma” de um coro por possuir o
poder interpretativo sobre a execução da obra musical.
O domínio e a imposição da ordem pelo regente podem ser percebidos pelos cantores
como um ato quase divino e heróico, e como afirma Lebrecht (1948, p. 18), causando um
“fulgor etéreo em suas mentes e permitindo o uso e o abuso de poder pelo regente em
benefício pessoal”.
Mas como fica a poder interpretativo da obra por parte dos cantores? Acredito que
para um grupo coral contemporâneo a execução musical deverá estar centrada em uma
abordagem dialógica entre os cantores do coro e seu regente.
Até o momento, podemos compreender que o regente possui um poder sobre os seus
cantores podendo ou não transformá-los em meros instrumentos dos quais se serve para
alcançar propósitos determinados. No entanto, seria possível encontrar na atividade de
canto coral uma pedagogia do questionamento da experiência, pelos integrantes, na
construção de uma obra artística, assim como as implicações em suas vidas das experiências
musicais vividas? Essa pergunta desafia diretamente a figura central do regente apontando
uma mudança de paradigma em seu papel no grupo, colocando-o não somente como um
(re)criador musical, mas também como um educador.
Outro ponto a se observar, como exemplo de ação mediadora por parte do regente,
são as situações que envolvem a organização corporal dos cantores nos ensaios e
apresentações. Regentes preocupados apenas com uma emissão sonora limpa, perfeita, na
maioria das vezes sonoramente “asséptica2” de seu grupo coral, optam por manter os
cantores estáticos e desprovidos de movimento, condicionando seus movimentos ao
movimento preciso e coordenado das estruturas do aparelho fonador. A voz de cada cantor e
suas nuances são modeladas na busca de uma sonoridade hegemônica determinada pela
percepção musical do regente. Neste caso, movimentações expressivas naturais do corpo dos
cantores, na maioria das vezes involuntárias e associadas ao sentimento e prazer de cantar,
parecem comprometer o resultado sonoro limpo final.
Referências Bibliográficas