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Professor Titular da FCAV/UNESP – Jaboticabal, SP, Pesquisador do CNPq,
Membro do INCT/CA - rareis@fcav.unesp.br;
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Pós Graduando em Zootecnia, FCAV/UNESP-Jaboticabal.
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Pesquisador da Apta Regional Alta Mogiana - Colina,SP, Prof. Convidado do
Programa de Pós-graduação da FCAV/UNESP
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MSc. Zootecnista, Bellman Nutrição Animal.
1 – Introdução
A partir da ultima década do século XX a agropecuária brasileira passou
por profundas transformações frente à nova ordem econômica mundial. Apesar
dos recentes avanços obtidos no manejo nutricional e sanitário dos rebanhos,
apenas uma parcela dos pecuaristas investe na intensificação dos sistemas de
produção. Assim, grande parte dos 174 milhões de hectares ocupados por
pastagens no país está degradada ou sofrem algum estagio de degradação,
devido, principalmente, a má utilização e manejo (Anualpec, 2008).
A intensificação na utilização das pastagens torna-se vantajoso, pois
permite diluir os custos fixos, através do aumento na taxa de lotação e redução
no tempo de abate. O manejo intensivo, associado à adubação, suplementação
estratégica e potencial genético animal, representam as práticas que
promovem maior produtividade em sistemas de produção de bovinos em
pastagens.
O ano de 2010 foi finalizado com sucesso pelo setor prodututivo de
carne bovina, tendo sido até mesmo denominado como o “ano da carne”. As
cotações bateram recordes e o preço da arroba do boi gordo, segundo o
CEPEA (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) apresentou
uma valorização de aproximadamente 20%. Essa valorização foi acompanhada
por sinais de aumento da demanda nacional e externa por carne bovina,
impulsionando os preços do boi e da carne.
Para atender a demanda mundial de carne bovina em 2050, que deverá
ser quatro vezes maior que a atual, o efetivo do rebanho mundial, 1,5 bilhões
de cabeças, deverá aumentar em torno de 100% e o número de animais
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3 – Qualidade da Forragem
3.1 – Fração fibrosa e valor nutritivo de plantas forrageiras
Os carboidratos são os principais constituintes das plantas,
correspondendo de 50 a 80 % da MS das forrageiras e representam a principal
fonte de energia para os ruminantes. As características nutritivas dos
carboidratos das forrageiras dependem dos açúcares que as compõem, das
ligações entre eles estabelecidas e de outros fatores de natureza físico-
química. Assim, os carboidratos das plantas podem ser agrupados em duas
grandes categorias conforme a sua menor ou maior degradabilidade, em
estruturais e não estruturais, respectivamente (Van Soest, 1994).
A natureza e a concentração dos carboidratos estruturais da parede
celular são os principais determinantes da qualidade da forragem. A parede
celular pode constituir de 30 a 80 % da MS da planta forrageira, onde os mais
importantes carboidratos encontrados são a celulose, a hemicelulose e a
pectina. Além disto, podem constituir a parede celular componentes químicos
de naturezas diversas dos carboidratos, tais como tanino, proteína, minerais,
lipídeos e lignina (Hatfield et al., 2007).
Com o avançar da maturidade, verificam-se aumentos nos teores de
carboidratos estruturais e redução nos carboidratos não estruturais o que
depende em grande parte das proporções de caule e folhas. Isso se reflete na
digestibilidade da forragem, que declina, especialmente de maneira mais
drástica nas gramíneas do que nas leguminosas (Reis e Rodrigues, 1993).
As gramíneas tropicais apresentam baixos teores de carboidratos
solúveis e amido (frações A e B1), raramente superiores a 20% dos
carboidratos totais (Vieira et al., 2000). A fração indisponível C é dependente
do teor de lignina, portanto plantas com idade fisiológica mais avançada
apresentam maiores teores dessa fração. O aumento da fração C promove
redução da porção potencialmente degradável da fibra (B2), devido às
interações entre a lignina e a hemicelulose (Caballero et al., 2001).
Os componentes que compõem a fração B2 e C formam a fibra insóluvel
em detergente neutro (FDN). A FDN constitui o conceito analítico de fibra
desenvolvido por P. J. Van Soest na década de 1960, a qual apresenta os três
componentes principais: a celusose, hemicelulose e lignina. A FDN possui
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Urina
Uréia
Acúmulo
NH3 utilizado
Figura 2. Representação esquemática do desajuste dos principais eventos no
por microorganismos
rúmen (Adaptado de Davies et al, 2005).
Tempo
Alternativas estratégicas para melhorar o sincronismo entre
disponibilidade de energia com a liberação de NH3 para uma melhor eficiência
microbiana é desejável, por esse motivo tem sido alvo de pesquisas das
grandes áreas de nutrição e manejo de pastagens. Desta forma, o objetivo
central da suplementação da dieta de animais em pastejo é o equilíbrio nas
relações energia/proteína que permitam ao animal expressar seu desempenho
de forma bioeconomicamente viável, o que nas condições tropicais apresentam
características muito peculiares.
onde ocorre o surgimento dos primeiros perfilhos que são aquosos, tenros,
ricos em nitrogênio não protéico, com baixo conteúdo de matéria seca. Verifica-
se assim, uma rejeição da forragem remanescente do período seco pelos
animais, que preferem as novas brotações, ainda escassas e insuficientes para
atender o consumo (Paulino et al., 2002b).
Quando o objetivo é o abate de animais no final do período chuvoso
subseqüente é necessário manter um plano nutricional crescente e para isso o
fornecimento de suplementos nesta época deve ser mantido, de acordo com a
qualidade e quantidade da forragem. Os animais devem receber suplementos
na ordem de 3 a 4 g/ kg PC. A utilização de suplementos nesta fase passa pelo
questionamento de qual nível de PB deve ser incluído para melhor eficiência
econômica e produtiva. Neste contexto, Moraes et al. (2006) concluíram que a
suplementação apenas com energia não atende as exigências de compostos
nitrogenados para ganhos elevados na transição seca-águas. O fornecimento
de proteinados na faixa de 3 g/ kg PC com 24% de PB proporcionaram a
melhor resposta produtiva com ganhos médios diários que chegaram a 1
kg/dia.
No período das águas, as estratégias de suplementação mudam, porém
os objetivos são os mesmos, manter um plano nutricional ascendente para
terminação dos animais. Neste período, as forragens são classificadas como
de média a alta qualidade, com teores de compostos nitrogenados acima do
mínimo recomendado para plena atividade das bactérias que utilizam os
carboidratos estruturais. Deste modo, o foco não está apenas na utilização
eficiente da forragem disponível, haja vista que na seca não possui
crescimento e sim utilização da forragem acumulada durante o diferimento, à
suplementação entra como uma ferramenta de auxilio ao manejo do pastejo
priorizando maior ganho por animal e por área.
O manejo correto das pastagens aliado a suplementação estratégica
pode ensejar ganhos superiores a 1,0 kg/dia. A terminação durante o período
das águas torna-se vantajoso pela menor necessidade de suplementação para
atingir altos desempenhos. A suplementação neste período deve ser de acordo
com a qualidade da forragem, pois geralmente não possui limitação
quantitativa. Para isso suplementação entre 1,5 a 3 g/ kg PC podem ser
implementados.
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suplementados em relação aos que receberam sal mineral, na fase da recria Dif term: diferença
do ganho dos animais suplementados em relação aos que receberam sal mineral, na fase da
terminação
7 - Considerações Finais
Nos sistemas de produção com base na utilização de pastagens de
gramíneas tropicais, é fundamental o ajuste entre a disponibilidade de
nutrientes às exigências dos animais durante todo o ciclo de produção. Em
função das variações quanti-qualitativas observadas ao longo do ano, a
associação do manejo das pastagens com vistas a propiciar alta quantidade de
forragem com matéria seca potencialmente digestível é imprescindível.
O abate de animais precoces em pastagens exige um planejamento
nutricional eficiente para atingir as metas preconizadas. O entendimento das
complexas interações existentes entre o consumo e a digestibilidade da
forragem em resposta a suplementação da dieta dos animais em pastejo
permite o planejamento da suplementação, considerando os aspectos relativos
às características do suplemento, as quantidades a serem fornecidas e a época
do ano a ser adotada. As interações entre qualidade, quantidade de forragem e
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8 – Referencias bibliográficas
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