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Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa

Índice

Tramitação processual 2

Delimitação do objeto processual 3


O Pedido ..............................................................................................................4
Causa de pedir .....................................................................................................5

Relações entre objetos processuais 7


Relações de cumulação ........................................................................................7
Cumulação objetiva inicial ....................................................................................7
Cumulação simples ................................................................................................... 7
Cumulação alternativa ............................................................................................. 9
Cumulação subsidiária............................................................................................ 10
Cumulação objetiva sucessiva............................................................................. 12
Cumulação stricto sensu ........................................................................................ 13
Exceção perentória ................................................................................................. 13
Pedido reconvencional - Reconvenção .................................................................. 16
Dedução .......................................................................................................................... 23
Réplica ............................................................................................................................. 24
Reconvenção e ação ....................................................................................................... 24
Reconvenção e exceção .................................................................................................. 25
Reconvenção interveniente ........................................................................................... 25
Apreciação incidental ............................................................................................. 26
Objetos processuais anómalos............................................................................ 26
Pedido de prestações vincendas ............................................................................ 26
O Pedido genérico-Pedido certo ............................................................................ 29

A Coligação 30
Classificações ..................................................................................................... 32
Pressupostos da coligação .................................................................................. 34
Sistematização da Professora Paula Costa e Silva quanto ao objeto processual .... 37

Contestação 39
Noção ................................................................................................................ 39
Consequência da falta de requisitos.................................................................... 40
Modalidades de contestação .............................................................................. 41
Ónus de impugnação .......................................................................................... 43
Impugnação por negação ................................................................................... 45
Revelia............................................................................................................... 45
Efeitos da revelia operante .................................................................................... 46
Efeitos da revelia inoperante ................................................................................. 48
Articulados supervenientes ................................................................................ 50

Negócios processuais 51
Confissão ................................................................................................................ 52
Desistência da Instância ......................................................................................... 53
Transação ............................................................................................................... 55
Mediação ................................................................................................................ 56

A prova 57

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Procedimentos Cautelares 96
Pressupostos dos procedimentos cautelares: ...................................................... 98
Recursos .......................................................................................................... 116

Tramitação processual

1) Petição inicial  AUTOR

Entre a primeira fase e a segunda existe a citação (secretaria).

2) RÉU – contestação
 Revelia:
- Operante: ficam confessados os factos
- Inoperante: não ficam operados os factos

Na contestação:
 Defesa por:
o Exceção
 Dilatória – pressupostos processuais
 Perentória- factos extintivos, modificativos
o Impugnação
 De facto – quando contradizes
 De direito – isto não é mentira, mas não pode produzir
aquele efeito jurídico.
 Reconvenção – é uma modificação objetiva  modifica-se o objeto.
 Réplica: defender do pedido reconvencional

+ Articulados supervenientes – artigo 588º

3) Juiz – dois momentos:  Fase do saneamento e condensação


a. Artigo 590º, nº2

- Despacho pré-saneador: para suprir exceções dilatórias  é facultativa.

b. Audiência prévia:
 Tentativa de conciliação  se as partes chegarem a acordo dá-se um
negocio processual – Transação.
 Despacho saneador
o Artigo 591º, nº1, al. d) + 595º

 base instrutória

4) Julgamento
a. Audiência final – é aqui que se vai fazer a prova

Artigo 604º, nº2

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É aqui que temos basicamente a fase de instrução

b. Sentença

5) Recurso – só depois de esgotados todos os recursos é que pode haver trânsito em


julgado

- Alçadas

- Sucumbência

6) Executivo

Delimitação do objeto processual

No regime da disponibilidade privada, as partes têm o ónus de formular o pedido,


mas também de indicar a causa de pedir, ou seja, os fundamentos de facto do pedido formulado,
pois que o tribunal apenas pode proferir uma decisão de procedência ou de improcedência
considerando os factos invocados pelas partes. A disponibilidade das partes sobre o objeto
processual conduz a um ónus de formulação do pedido e de alegação da causa de pedir.

Na causa de pedir têm de existir os fundamentos concretos, entre aquilo que se pede e os
fundamentos pelo qual se pede. Aqueles factos são suficientes, é o direito material que os vai
determinar. Quanto aos factos que integram a causa de pedir e aqueles em que se baseiam as
exceções, devem ser alegados pelas partes e não podem ser investigados pelo tribunal – art. 5º
CPC – os factos complementares que resultem da instrução e decisão da causa só podem ser
utilizados pelo tribunal se a parte interessada der o assentimento art. 5/2/b) CPC, pelo que estes
factos também estão submetidos à disponibilidade privada.

 Exceção: o juiz pode considerar os factos instrumentais que resultem da instrução


e discussão da causa – artigo 5º, nº2, al. a) do CPC – deste modo o tribunal não
está vinculado a utilizar apenas os factos probatórios que foram invocados pelas
partes (Ac. RC 2/12/1998).

Elementos constitutivos do objeto do processo – 2 elementos:

 Pedido
 Causa de pedir

A petição inicial requer a exposição da causa petendi (art. 552º CPC), e a formulação do
pedido, e a identidade entre objetos processuais pressupõe a identidade da causa de pedir e do
pedido (art. 581/3 e 4º CPC).

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O Pedido
O pedido é a forma de tutela jurisdicional que é requerida para uma situação jurídica.

No âmbito do processo declarativo, essa tutela pode visar:

 A apreciação da existência ou inexistência de um direito ou de um facto;


 A constituição, modificação ou extinção da situação jurídica;

Na medida em que a situação jurídica se refere a um quid material (como por exemplo a
quantia pretendida ou o objeto reivindicado) ele constitui o objeto mediato do pedido.

Caraterísticas:

O pedido formulado pelo autor, deve referir-se à tutela de uma situação jurídica de direito
material.

Exemplo: o autor não pode requerer (apenas) o reconhecimento da


legitimidade processual do réu - esta situação equivale à falta do pedido e
origina a ineptidão da petição inicial – art. 186/2/a) CPC.

Em contrapartida, o réu pode formular um pedido relativo a um efeito meramente


processual.

Exemplo: o réu pede a absolvição do réu da instância com base na


verificação de uma exceção dilatória.

O pedido deve referir-se a um efeito jurídico, ou seja, a uma consequência extraída de


uma norma jurídica. Dado que o tribunal não está vinculado à qualificação jurídica fornecida pela
parte, esse órgão pode corrigir o pedido erradamente formulado por esta parte.

Exemplo: se o autor, numa ação de impugnação pauliana, em vez de


pedir a ineficácia do ato em relação a essa parte, tiver pedido a declaração de
nulidade ou anulação do ato jurídico impugnado, o tribunal deve corrigir esses
erros na qualificação e apreciar aquela ineficácia.

Quando formula o pedido, a parte requer uma certa tutela jurisdicional para uma
situação jurídica, ou seja, exige que a situação alegada pela parte tenha relevância jurídica e
possa obter, em abstrato, uma tutela jurisdicional.

Por isso, não é admissível um pedido através do qual a parte pede o cumprimento pelo
réu de uma conduta pertencente, por exemplo à ordem moral ou à ordem do trato social. Esta
possibilidade abstrata de tutela jurisdicional justifica, se existir despacho liminar, o indeferimento
liminar da petição inicial pela manifesta improcedência (ou melhor, insusceptibilidade de
procedência) do pedido formulado.

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Com exceção das situações em que é admissível a formulação de um pedido genérico –


artigo 556º CPC – o pedido deve ser certo – ou seja, deve referir-se a um objeto individualizado
e determinado.

Exemplo: a parte não pode pedir a revindicação de uma parcela de terreno


sem indicar a sua área ou sua demarcação e não pode requerer apenas a abstenção
de “todo e qualquer ato ofensivo de interesses1”, sem especificar a categoria
desses atos e interesses tuteláveis.

Identidade:

A identidade entre os vários pedidos depende da identidade dos efeitos jurídicos


decorrentes desses pedidos – artigo 581º, nº3 CPC: dois pedidos são idênticos quando os efeitos
produzidos pela sua procedência forem coincidentes, total ou parcialmente2.

Exemplo: são idênticos dois pedidos de condenação na realização de uma


mesma prestação, tal como o são, embora parcialmente, o pedido de apreciação
do direito de propriedade e o pedido de reivindicação do mesmo prédio, porque
a procedência deste implica a procedência daquele pedido. | art. 1311º CC.

O critério que define a identidade dos efeitos jurídicos (consequentemente, do pedido)


deve ser jurídico, o que pode implicar que essa identidade se verifique mesmo que o objeto
material seja distinto.

Exemplo: o pedido de reconstituição natural e o pedido de indemnização


do dano são pedidos idênticos, porque o efeito jurídico pretendido é o mesmo –
a reparação do prejuízo 566º CC.

Causa de pedir

 A causa de pedir é constituída pelos factos necessários para individualizar a


situação jurídica alegada pelo autor, ou seja, é composta pelos factos
constitutivos da situação jurídica invocada por aquela parte.

Função – A causa de pedir realiza uma função individualizadora, pois é constituída


pelos factos que individualizam a situação jurídica alegada pelo autor.

Assim, situações jurídicas individualizadas por diferentes causas de pedir


são sempre situações distintas.

Nas ações constitutivas, a causa de pedir é o facto que gera o direito potestativo que o
autor invoca e pretende exercer – artigo 581º, nº4, 2ªparte CPC. Deste modo, nas ações de
reivindicação (que são ações propostas por um proprietário que não é possuidor contra um

1
Ac. RE – 13/12/1984
2
Ac. STJ – 15/03/2001

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possuidor que não é proprietário – art. 1311º CC – a causa de pedir é o facto de resulta da
aquisição, originária ou derivada da propriedade.

A procedência da ação depende quer da verificação dos factos alegados por uma parte,
quer a não verificação dos factos excecionados pela contraparte.

Isto mostra que existe uma repartição do ónus de alegação entre o autor e o réu:

 Ao ator compete alegar aos factos constitutivos da situação jurídica – artigo


552º, nº1, al. d) CPC + art. 186º, nº2, al. a) CPC;
 Ao réu cabe invocar os factos impeditivos e extintivos daquela situação.

Pode assim concluir-se que nem todos os factos dos quais depende a procedência da ação
integram a causa de pedir, desta só participam os factos constitutivos da situação subjetiva
invocada pela parte, isto é, os factos essenciais – artigo 5º CPC.

A causa de pedir coincide necessariamente com um ou vários factos jurídicos (factos


juridicamente qualificados) – artigo 581º, nº 4, 1ªparte do CPC

Um facto é sempre algo construído a partir da realidade através de um certo critério


– por meio de um critério natural delimitam-se os factos naturais, através dos elementos da
previsão das normas jurídicas definem-se os factos jurídicos. Assim, um mesmo facto natural
pode constituir factos jurídicos distintos.

Exemplo: a morte de uma pessoa é valorada como um facto jurídico


distinto quando constitui fundamento para uma obrigação de indeminização do
culpado e quando desencadeia o fenómeno sucessório do de cuiús. 3

Os factos que constituem a causa de pedir devem preencher uma determinada previsão
legal, isto é, devem ser subsumíveis a uma norma jurídica, mas valem independentemente desta
qualificação, dado que ela não é vinculativa para o tribunal – artigo 5º, nº3 CPC.

Desta verificação resulta que não representa qualquer alteração da causa de pedir a
atribuição de uma diferente qualificação jurídica aos mesmos factos4 e não obsta ao
funcionamento das exceções de litispendência e de caso julgado a invocação num outro processo
da mesma causa de pedir com outra qualificação legal.

Os factos que integram a causa de pedir estão necessariamente referidos a um


determinado momento. Deste modo, causas de pedir constituídas por factos ocorridos em
momentos diferentes são causas de pedir distintas5.

Exemplo: se uma ação em que o autor pedia a execução específica de


um contrato-promessa, improcedeu por falta de interpelação da contraparte, nada
obsta a que possa ser proposta uma nova ação, entre as mesmas partes e com o

3
Pelo mesmo motivos vários factos naturais podem constituir um único facto jurídico , por exemplo: o
enriquecimento sem causa pressupõe factos naturais tão distintos como: o engano do merceeiro na
morada em que as garrafas de vinho deviam ser entregues e o consumo da bebida pelos moradores.
4
Ac.RP de 31/03/1998
5
Ac. STJ 2/1/1965

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mesmo pedido, fundada no incumprimento de uma interpelação posterior à


decisão daquela ação.

Relações entre objetos processuais

Relações de cumulação
Cumulação dos objetos – verifica-se quando, num mesmo processo, são apresentados
vários objetos processuais referidos a distintos efeitos jurídicos.

É a diferenciação entre estes efeitos que permite distinguir as hipóteses de cumulação


objetiva das situações de concurso de objetos processuais.

Para que o objeto seja possível é preciso que haja uma análise dos pressupostos de
admissibilidade desse objeto.

A cumulação objetiva pode ser:

 Inicial – verifica-se desde o começo da instância. É aquela que é apresentada


pelo autor na petição inicial da ação.
 Sucessiva – constitui-se durante a pendencia da causa. É aquela que enquadra
todas as hipóteses em que o objeto inicial da causa se cumula, por iniciativa do
autor ou do réu, qualquer outro objeto.

Quanto aos pressupostos processuais, estes devem ser aferido separadamente em relação
a cada um dos objetos cumulados.

Com isto, a cumulação pode ser desfeita por indeferimento liminar da petição inicial ou
pela absolvição do réu da instância quanto a um dos objetos cumulados, com o fundamento de
que, relativamente a ele, não se encontram preenchidos os pressupostos processuais.

À apreciação autónoma dos pressupostos processuais em relação a cada um dos objetos


constituem exceção aqueles que são indexados ao valor da causa – exemplo: patrocínio judiciário.

Também quanto à competência relativa se verifica uma exceção à apreciação autónoma


dos pressupostos processuais para cada um dos objetos cumulados. Isto porque a cumulação
objetiva só exige a competência absoluta do tribunal para apreciar todos os objetos cumulados –
artigos 554º, nº2 + 555º, nº1 CPC – pelo que o tribunal que é relativamente competente para
apreciar um dos objetos cumulados é-o igualmente para todos os demais objetos.

Cumulação objetiva inicial


Cumulação simples

 É aquela em que o autor requer a procedência simultânea de todos os pedidos


cumulados e a produção de todos os seus efeitos – artigo 555º, nº1 CPC.

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Exemplo – autor instaura uma ação pedindo a entrega de uma maquina e


o pagamento de uma indemnização pela mora na sua prestação. Se a ação for
julgada procedente, o réu deve realizar ambas as prestações.

A cumulação objetiva é uma faculdade que assiste à parte, mas nem é sempre assim que
acontece, pois em certas situações recai sobre a parte um ónus de cumulação de pedidos.

Na cumulação simples, os efeitos respeitantes a cada um dos pedidos deve ser diferente
não só juridicamente, mas também economicamente. Isto verifica-se no artigo 297º, nº2 quando
diz que cumulando-se na ação vários pedidos, o seu valor é a quantia correspondente à soma dos
valores de todos eles, o que pressupõe que cada um dos pedidos represente uma utilidade
económica diferente. Se assim não suceder estamos perante uma cumulação aparente.

Artigo 297º, nº2 – sanam-se os dois valores. Mas estes podem ser autonomizados porque
são estabelecidos os valores de cada um – isto permite que os pedidos sejam separados.

Pressupostos processuais – a cumulação simples exige a não exclusão por lei, a


compatibilidade processual e substantiva entre os objetos cumulados.

 Não exclusão – em certos casos, atendendo à natureza dos interesses envolvidos,


a lei exclui a cumulação de dois ou mais objetos num mesmo processo. É o que
acontece quanto às ações de investigação da maternidade e da paternidade.

 Compatibilidade processual – respeita à competência absoluta do tribunal e à


compatibilidade entre as formas processuais adequadas para os objetos
cumulados – artigo 555º, nº1, in fine + 37º, nº1 CPC. A cumulação só é
admissível se o tribunal for competente para todos os objetos apresentados.
A cumulação simples também exige que a forma do processo seja compatível
para todos os pedidos cumulados – artigo 555º, nº1, in fine. Ou seja, se um dos
objetos corresponder a um processo comum e outro a um processo especial, a
cumulação não é admissível, exceto se a tramitação dos processos não for
manifestamente incompatível e o juiz autorizar a cumulação – artigo 37º, nº2.
Outra exceção é ainda a cumulação que se constitua pelos pedidos de divórcio
litigioso (processo especial) e prestação de alimentos (processo comum).

 Compatibilidade substantiva – refere-se à concordância pratica dos efeitos


decorrentes dos objetos cumulados – artigo 555º, nº1, 1ª parte + 186º, nº2, al. c)
– causas de pedir e pedidos têm de ter uma correspondência. A cumulação não é
admissível se os efeitos resultantes de um ou de alguns dos objetos for
incompatível com os efeitos provenientes de outro(s) desses objetos.

 Conexão objetiva – o artigo 555º, nº1 não define, além destes pressupostos
anteriores, qualquer outro pressuposto de cumulação simples. Portanto, não é
exigida qualquer conexão entre esses objetos. Contudo, não quer dizer que não
seja desejável. A apreciação de pedidos completamente diferentes e autónomos
implica uma maior complexidade da instrução, discussão e julgamento,
justificando-se a aplicação analógica do artigo 37º, nº4 aos casos em que os

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objetos cumulados não apresentem entre si qualquer conexão em que a sua


instrução, discussão e julgamento conjunto possa comprometer a boa
administração da justiça.

Falta de pressupostos processuais

 Exclusão legal - Se forem cumulados vários objetos numa situação em que a lei
exclui essa cumulação, deve ser aplicado, por analogia, o artigo 37º, nº4. Se
todavia, o tribunal não for absolutamente competente para os objetos cumulados
ou a forma do processo não for compatível para todos esses objetos, as
consequências daquela cumulação ilegal são consumidas pela falta destes
requisitos.

 Incompatibilidade processual – esta resulta da incompetência absoluta do


tribunal ou da inadequação das formas do processo para algum dos pedidos
cumulados.

o Incompetência absoluta determina, se houver despacho liminar (226º,


nº4 + 590º) o indeferimento parcial da petição quanto ao objeto para os
quais o tribunal não é absolutamente competente. No momento do
despacho saneador, essa incompetência absoluta – que é uma exceção
dilatória (artigo 577º) determina a absolvição do réu da instância quanto
ao objeto para os quais o tribunal é incompetente.

o Incompatibilidade entre formas do processo – implica, se houver


despacho liminar, o indeferimento parcial da petição inicial quando ao
objeto para os quais a forma processual indicada pelo autor não for
adequada. No momento do despacho saneador, a inadequação forma – é
uma exceção dilatória inominada – determina a absolvição do réu da
instância quanto aos pedidos cuja forma não é adequada.

 Incompatibilidade substantiva – provem da falta de concordância prática entre


os efeitos por eles produzidos. Consequência: inaptidão da petição inicial – artigo
186º, nº2, al. c).

Cumulação alternativa

 A parte requer a procedência de todos os objetos cumulados, mas pretende obter


apenas, segundo a escolha do réu, a produção dos efeitos de um desses objetos –
artigo 553º, nº1

É por isso que o valor de uma ação em que são formulados pedidos alternativos é apenas
o do pedido de maior valor – artigo 297º, 3, 1ª parte.

Na cumulação alternativa, a parte requer a procedência de todos os objetos alegados não


se confundindo, por isso, com a situação em que a parte formula vários pedidos, sabendo que um

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ou vários não poderão proceder, mas deixando ao tribunal a opção pela procedência de um deles
ou alguns. Esta situação é inadmissível e conduz à inaptidão da petição inicial por indeterminação
do pedido – artigo 186º, nº2, al a).

Pressupostos processuais:

 Alternatividade substantiva – cumulação alternativa exige que os pedidos


formulados possam ser apresentados em alternativa. Esta alternatividade está
assegurada no caso dos direitos alternativos por natureza ou origem – artigo 553º,
nº1 – como é a hipótese das obrigações alternativas.

 Compatibilidade processual – apesar de a lei nada referir, a cumulação


alternativa deve exigir a compatibilidade processual entre os objetos alegados,
isto significa que são analogicamente à cumulação alternativa os pressupostos
exigidos pelo 555º para a cumulação simples – cumulação só é possível se o
tribunal for absolutamente competente para os todos os pedidos apresentados + a
forma do processo seja compatível para todos os pedidos cumulados.

 Conexão objetiva – não exige, como requisito autónomo, qualquer conexão


entre os objetos alegados. A própria relação de alternatividade substantiva
dispensa a necessidade de qualquer outra conexão entre esses objetos.

Falta de pressupostos:

o Falta de alternatividade – verifica-se quando os objetos não são alternativos. A


essa falta deve ser aplicada, por analogia, a consequência da contradição
substantiva na cumulação simples, que é a inaptidão da petição inicial – artigo
186º, nº2, al. c).

o Incompatibilidade processual – produz as mesmas consequências que se


verificam na cumulação simples – esta resulta da incompetência absoluta do
tribunal ou da inadequação das formas do processo para algum dos pedidos
cumulados.

Cumulação subsidiária

o É aquela em que o autor requer a procedência de um objeto – objeto principal –


e, subsidiariamente, a de um outro – objeto subsidiário  Artigo 544º

O valor da causa em que é apresentada esta cumulação é apenas o correspondente ao


objeto principal.

Nesta cumulação são apresentados vários objetos, mas o objeto apresentado


subsidiariamente só é apreciado se o objeto principal for julgado improcedente – portanto, a

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apreciação de um ou de vários pedidos está condicionada pela decisão de improcedência


sobre o objeto principal.

Porém, esta cumulação subsidiária não é uma cumulação condicional, isto é, não se
verifica apenas quando, atendendo à improcedência do pedido principal, houver que apreciar o
objeto subsidiário. Todos os pedidos estão pendentes desde o começo da instância, pelo que
aquela cumulação se verifica igualmente desde este momento.

Exemplos: O autor pede intentar uma ação de reivindicação de um


imóvel, e pode pedir subsidariamente, o reconhecimento do seu direito de
usufruto sobre o mesmo imóvel.6

O autor pode pedir, a título principal, que o réu seja condenado, com
fundamento no incumprimento do contrato-promessa, a restituir o sinal em dobro
e pode pedir, a título subsidiário, a declaração de nulidade daquele contrato e a
restituição das quantias recebidas pelo réu | Ac. RL 5/11/1987.

Pressupostos processuais:

 Compatibilidade substantiva - A cumulação subsidiária não exige


compatibilidade substantiva entre os objetos cumulados, isto é, não requer a
concordância prática dos efeitos do objeto principal e do objeto subsidiário, pois
que esses objetos podem ser contraditórios entre si – artigo 554º, nº2, 1ªparte
CPC.
 Compatibilidade processual – Exige a compatibilidade processual entre os
objetos cumulados – art. 554º, nº2, 2ªparte CPC – a qual respeita, como resulta
da remissão deste artigo para o artigo 37º, nº1, 1ªparte do CPC, à competência
absoluta do tribunal e à compatibilidade entre as formas do processo adequadas
para os objetos cumulados.
 Conexão objetiva – (aparentemente) entre o objeto processual e o objeto
subsidiário pode não existir qualquer conexão, porque tal relação entre esses
pedidos não se encontram previstos no artigo 554º, nº2. Porém, o 297º, nº3, 2ª
parte estabelece que o valor da ação em que é formulada uma cumulação
subsidiária é apenas o correspondente ao objeto principal, pelo que não se
justifica que, numa ação cujo valor é determinado pelo objeto principal, se possa
apreciar um objeto subsidiário totalmente diferente e autónomo daquele outro
objeto.

Apreciação dos pressupostos:

Tal como sucede em qualquer das modalidades de cumulação objetiva, a generalidade


dos pressupostos processuais é apreciada separadamente para o objeto principal e para o objeto
subsidiário. No entanto, como o objeto subsidiário só é apreciado se o objeto principal for

6
Em regra, a improcedência parcial do objeto principal não justifica a apreciação do objeto subsidiário.
Se numa ação de reivindicação, for reconhecida a propriedade do autor, mas não o dever de restituição
da coisa pelo réu art. 1311/2º CC, não há que apreciar o objeto subsidiário de reconhecimento do
usufruto.

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considerado improcedente, pode perguntar-se se, quanto ao objeto subsidiário, a apreciação dos
pressupostos processuais fica dependente daquela improcedência. A pendência do objeto
subsidiário desde o inicio da instância justifica que os pressupostos processuais relativos a esse
objeto devem ser apreciados nos momentos normais, que são o despacho liminar e o despacho
saneador, portanto, mesmo antes de se conhecer qual a decisão sobre o objeto principal.

Falta de pressupostos:

A cumulação subsidiária não é admissível se faltar a compatibilidade processual entre


os pedidos cumulados, isto é, verificando-se a incompetência absoluta do tribunal ou a
incompatibilidade entre as formas do processo para algum ou alguns dos objetos cumulados. Esta
falta de compatibilidade processual produz as mesmas consequências que se verificam em
idêntica situação na cumulação simples.

Cumulação objetiva sucessiva

 É aquela em que ao objeto inicial da ação é cumulado, por iniciativa de uma das
partes, um outro objeto – inclui todas as situações em que se constitui, durante a
pendência da ação, uma pluralidade de objetos processuais.

Pode ser de iniciativa da parte ativa ou passiva:

 Parte ativa – autor pode apresentar, no regime de cumulação simples,


alternativa ou subsidiária, um outro objeto e pode invocar, a par do objeto
inicial, um outro objeto concorrente  é a que mais se aproxima da
cumulação inicial, é a cumulação stricto sensu.

 Parte passiva – réu pode alegar uma exceção perentória ou deduzir um


pedido reconvencional, o que implica a apresentação de um objeto distinto
daquela que é invocado pelo autor.

 A exceção perentória é um facto impeditivo, modificativo e


extintivo do efeito jurídico pretendido pelo autor – 576º, nº 3
CPC – pelo que a sua alegação envolve a apreciação de um
objeto distinto daquele que foi invocado por esta parte.

 No pedido reconvencional, o réu formula um pedido autónomo


do pedido normal de defesa (absolvição do pedido), contra o
próprio autor da ação – 266º. O réu apresenta um objeto distinto
daquele que é invocado pelo autor.

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O artigo 267º permite que qualquer das partes requeira a apensação de ações que foram
propostas separadamente, quando entre elas se verifiquem os pressupostos do litisconsórcio, da
coligação, da oposição ou da reconvenção.

Cumulação sucessiva Modificação do objeto do processo

Verifica-se na apresentação de um novo Dá-se a substituição de um objeto por outro.


objeto a par do objeto inicial.
- Permanência de um único objeto.
- Pendência de vários objetos.

Cumulação stricto sensu

 Superveniência de factos suscetíveis de integrarem uma causa de pedir 


ocorrência desses factos após o momento normal da sua invocação em juízo –
superveniência objetiva – ou do conhecimento pela parte, após esse momento,
de factos já ocorridos – superveniência subjetiva.

Exceção perentória

 Consiste na invocação pelo réu de um facto que obsta à produção dos efeitos
decorrentes do objeto definido pelo autor e determina a absolvição, total ou
parcial, do pedido – artigo 576º, 3 + 571º, nº2, in fine.

A dedução desta exceção implica uma cumulação objetiva sucessiva, dado que o réu
delimita um objeto distinto daquele que é alegado pelo autor e cuja procedência impede a
produção dos efeitos pretendidos por esta parte.

- Na defesa por impugnação, o réu contradiz os factos articulados pelo autor ou nega
que deles possa decorrer o efeito jurídico pretendido por esta parte – artigo 571º, nº2, 1ª parte.

- Na defesa por exceção perentória, o réu não impugna os factos alegados pelo autor
nem a sua adequação aos efeitos pretendidos por esta parte, antes invoca outros factos que
constituem uma causa impeditiva, modificativa ou extintiva o direito invocado pelo autor – artigo
571º, nº2, in fine.

- Ou seja, o réu que alega a exceção perentória invoca certos factos


contra os factos apresentados e os efeitos requeridos pelo autor.

O réu não impugna a veracidade dos factos alegados pelo autor, mas opõe ao objeto
definido por esta parte um outro objeto cuja procedência obsta à produção dos efeitos pretendidos
por aquela parte.

 A exceção perentória é incompatível com essa impugnação, pelo que, quando


são cumuladas como formas de defesa do réu, uma tem de ser subsidiária da outra.

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Exemplo: o réu nega que tenha celebrado qualquer contrato com o autor,
só a título subsidiário é que pode alegar o cumprimento da obrigação que decorre
desse mesmo negócio.

Caraterísticas:

 Materialidade – são exceções materiais – artigo 576º, nº3 – as exceções


perentórias derivam de normas substantivas que definem efeitos contrários
àqueles que decorrem das normas que fundamentam os efeitos solicitados pelo
autor, isto é, aquelas exceções baseiam-se em contranormas e produzem contra-
efeitos. As exceções perentórias podem decorrer tanto de um direito como de
uma situação jurídica.

 Alegação – o réu que alega uma exceção perentória invoca um objeto distinto
daquele que é apresentado pela parte ativa e requer a sua procedência contra esta
parte, comportando-se como um autor. Neste sentido, a exceção perentória está
subordinada, assim como o objeto definido pelo autor, ao principio da
disponibilidade das partes – artigo 5º principio do dispositivo.
Assim, mesmo que os factos suscetíveis de constituir uma exceção perentória
constem do articulado apresentado pelo autor, o tribunal não pode extrair deles
qualquer consequência se o réu não requerer, com base nesses factos, a
absolvição do pedido. Salvo, a possibilidade do conhecimento oficioso dessa
exceção, caso em que o tribunal pode decretar a absolvição do pedido, ainda que
não seja requerida pelo réu.
A exceção perentória pode consistir tanto na invocação de factos dos quais o
réu extrai, no próprio processo, um efeito impeditivo, modificativo, extintivo
do objeto apresentado pelo autor, como na alegação de um efeito impeditivo,
modificativo ou extintivo que já se produziu antes da pendência da ação.

Como a exceção perentória produz um efeito extintivo, modificativo ou impeditivo do


efeito pretendido pelo autor, a sua dedução não implica qualquer alteração do valor da ação.

Modalidades:

A exceção perentória baseia-se na invocação pelo réu de um objeto cuja procedência


obsta aos efeitos pretendidos pelo autor. Atendendo aos efeitos sobre o objeto apresentado pelo
autor, a exceção perentória pode ter eficácia impeditiva, modificativa ou extintiva.

Exceção impeditiva – são aquelas que obstam ao preenchimento de uma previsão legal
e que, por isso, impedem uma certa consequência jurídica – apesar de se verificarem todos os
factos necessários para realizar uma determinada previsão legal, existem factos que obstam a essa
realização.

Exemplo: nulidade do negócio jurídico, erro na declaração, coação


moral, incapacidade acidental.

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São também exceções impeditivas aquelas que se referem a situações excecionais perante
determinado regime geral.

Exceções extintivas – são aquelas que destroem as consequências jurídicas decorrentes


do preenchimento de determinada previsão legal.

Exemplo: verificação de uma condição resolutiva, prescrição,


compensação, dação em cumprimento e pro solvendo, remissão da divida,
confissão.

A amplitude da eficácia extintiva pode variar significativamente. Em alguns casos, a


eficácia extintiva atinge o próprio autor, é o que acontece, por exemplo, com o pagamento da
dívida. Pode acontecer ainda que essa eficácia não extingue o direito do autor, mas somente a
possibilidade de exigir a realização a realização da prestação.

Exceções modificativas – são aquelas que determinam uma modificação do objeto


invocado pelo autor – esse objeto, que seria um, passa a ser outro depois da invocação da exceção.

Exemplo: condição suspensiva, direito de retenção.

A arguição desta exceção implica a absolvição do réu do pedido originário e uma


condenação, condicional, dessa mesma parte, em relação ao outro objeto. Portanto, as exceções
modificativas ao implicarem uma modificação do objeto da ação, determinam, de forma implícita,
a improcedência do pedido formulado pelo autor, embora não leve ao proferimento de uma
decisão de improcedência.

A circunstância da improcedência do pedido formulado pelo autor, mas não da


improcedência da ação, mostra que o artigo 621º não se refere à hipótese em que o réu invoca
uma dessas exceções, porque o preceito pressupõe o proferimento de uma decisão de
improcedência da ação.

Efeitos processuais:

Extensão da competência – o artigo 91º, nº1 estabelece a extensão da competência do


tribunal da ação para apreciar qualquer exceção invocada pelo réu. Isto é, se o tribunal comum é
competente para conhecer da questão colocada pelo autor, então também é para conhecer da
exceção deduzida pelo réu.

Exercício do contraditório – a alegação de uma exceção perentória permite que o autor


conteste a matéria da exceção num articulado próprio, que é a réplica – artigo 584º + 585º.

A falta de contestação pelo autor da exceção invocada pelo réu produz a admissão por
acordo dos respetivos factos – artigo 587º.

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Nada impede que o autor oponha uma contra exceção à exceção invocada pelo réu, e
assim sucessivamente.

Pedido reconvencional - Reconvenção

 A reconvenção consiste na formulação pelo réu de um pedido que é distinto do


pedido normal de defesa (que é absolvição do pedido) e cuja procedência é
requerida contra o autor - 266/1º CPC.
o Reconvinte – réu
o Reconvindo - autor

Quando o réu pede uma reconvenção não está a defender-se: está ao abrigo do princípio
do dispositivo a invocar uma pretensão de uma declaração judicial.

Exemplo: o autor propôs uma ação, pedindo a entrega do imóvel


comprado ao réu, este pode formular, através da reconvenção, o pedido de
pagamento do preço da venda.

É um dos institutos do objeto do processo, e é uma das formas de alterar


supervenientemente a configuração do objeto do processo.

A reconvenção justifica-se pela economia processual - não existe um ónus de


impugnação do pedido reconvencional no processo pendente e, por isso, o pedido pode ser
apresentado autonomamente num outro processo, mas dada a sua conexão com o objeto
apresentado pelo autor ou defesa deduzida pelo réu, torna-se aconselhável apreciá-lo na mesma
ação.

Exceção perentória Pedido reconvencional

Quando o réu invoca uma exceção perentória, O réu que formula um pedido reconvencional
o seu efeito é, se for procedente, o de obviar à visa obter – como qualquer autor – um efeito
procedência do objeto apresentado pelo autor, positivo que pode ser a apreciação de um
pelo que essa exceção produz efeito facto ou de um direito, a condenação da
circunscrito à improcedência da ação. contraparte na realização de uma prestação ou
a constituição de uma situação jurídica.

Apesar de conformar um objeto distinto do Implica, pelo contrário, uma apreciação de um


apresentado pelo autor, circunscreve-se ainda objeto autónomo e independente.
à área temática deste último objeto.

A sua invocação não determina qualquer A sua formulação, quando distinta do


alteração no valor da causa. deduzido pelo autor, implica a sua soma ao
valor inicial da ação.

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A exceção, como matéria de defesa que é, A sua formulação é sempre uma faculdade,
deve ser deduzida na contestação – artigo 573º que só fica precludida no caso de a
- logo, fica precludida a sua invocação em procedência da ação for incompatível com a
momento posterior ou em ação autónoma – procedência do objeto que poderia ter sido
artigo 573º, nº2. alegado através da reconvenção.

A sua formulação é um ónus – pode ser A sua formulação é uma faculdade - em nada
prejudicial para qualquer uma das partes: muda a situação do réu.
altera a situação do autor ou do réu.

Reconvenção – há uma modificação da instância, ou seja, na pendência da ação, no


momento em que é apresentada a contestação, vamos ter outra causa de pedir e outro pedido.

A reconvenção não é mais do que uma petição inicial invertida – é uma ação intenta do
réu contra o autor, o réu tem uma de várias hipóteses: além de negar: eu próprio (réu) intitulo-
me como autor.

Contudo, nem sempre o réu consegue apresentar uma ação na contestação – pois, por
vezes, esta possibilidade de o réu introduzir uma modificação objetiva do objeto do processo é
eventual.

Temos de ter no objeto do processo: um pedido e uma causa de pedir - faz tudo parte da
estratégia de cada uma das partes:

 O autor deduzir uma coligação ou cumulação de pedidos faz parte da sua defesa;
 Na contestação, o réu tem a possibilidade de apenas se defender – art. 571º CPC:

o Por impugnação – quando contradiz os factos articulados na petição –


quando há impugnação do réu, já não é possível exercer o contraditório
por parte do autor, porque a réplica só é admissível ao abrigo do art. 584º
CPC, quando seja prévia uma reconvenção por parte do réu, porque
existem factos novos.

o Por exceção - quando alega factos que obstam à apreciação do mérito da


ação, ou que servindo de causa impeditiva, modificativa (prescrição –
mudança de obrigação civil a natural), ou extintiva do direito invocado
pelo autor, determinam a improcedência total ou parcial do pedido.

o Também pode apresentar uma reconvenção – art. 266º CPC: o réu já não
está a defender-se: está ao abrigo do principio do dispositivo: querer uma
declaração judiciária. Reiterando a reconvenção: é eventual e tem de
surgir na contestação.

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Dado a reconvenção vir na contestação, esta deve ser feita devido à possibilidade de vir
a apresentar uma reconvenção. Caso contrário, se não houve contestação, o réu não poderá
formular a reconvenção.

Através da reconvenção pede-se a tutela judiciária - aquilo que o tribunal vai


declarar/decidir face à reconvenção, é o pedido reconvencional.

Na sentença – só pode pronunciar-se sobre os pedidos que lhe são feitos, com os pedidos
formulados. No caso julgado, formal ou material  sobre o pedido do autor na petição inicial ou
sobre o do réu na reconvenção. Não basta haver uma exceção – o réu terá, no final, uma sentença
como se fosse semelhante ao autor aquando da petição inicial.

Pressupostos processuais:

Dado a reconvenção ser um pedido autónomo do réu contra o autor, requer o


preenchimento de todos os pressupostos processuais.

Neste sentido, além dos pressupostos processuais gerais, a reconvenção requer ainda
uma conexão entre o objeto apresentado pelo autor e o pedido reconvencional formulado
pelo réu, bem como a compatibilidade processual com o objeto definido pelo autor e a
compatibilidade procedimental com a tramitação da ação.

Na reconvenção, falta o interesse processual sempre que o efeito pretendido através do


pedido reconvencional coincide com aquele que resulta da improcedência da ação.

Exemplo: o réu não pode utilizar a reconvenção para obter a declaração


da inexistência do direito de crédito alegado pelo autor, porque tal efeito decorre
necessariamente da improcedência da causa.

Os pressupostos extraídos pela doutrina são:

1. Conexão objetiva – verifica-se quando o pedido reconvencional emerge da causa


de pedir pelo autor (artigo 266º, nº2, al. a) – comparação entre a pretensão do
autor e do réu  exceção dilatória inominada: absolvição do autor do pedido
reconvencional e neste caso não é suscetível de sanação, não está previsto para
sanação como na coligação (art. 38º CPC). A absolvição do autor da instância
reconvencional: o réu pode instaurar uma ação autónoma com o objeto
reconvencional.

Exemplo: o autor instaura uma ação pedindo o cumprimento de


uma prestação contratual; o réu pode pedir, em reconvenção, a condenação
do autor a realizar a prestação sinalagmática que decorre do mesmo
contrato.

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A conexão objetiva também existe quando o pedido reconvencional provém do


fundamento da contestação apresentada pelo réu (defesa) – art. 266º, nº2, al.
a) in fine do CPC.

Exemplos:

- O autor pede a condenação do réu na realização de uma


prestação contratual: se o réu invocar a nulidade do contrato, pode pedir
através da reconvenção, a restituição do que prestou – art. 289º CC.

- Se o autor pedir a condenação do réu no pagamento de


determinadas prestações em dívida (num contrato de venda a prestações),
o réu pode excecionar os pagamentos das prestações requeridas e
reconvencionar o pedido de apreciação do pagamento da totalidade do
preço.

- Numa ação de ação de divisão de coisa comum, os réus podem


pedir a improcedência da ação e, em reconvenção, o reconhecimento da
sua propriedade sobre todo o imóvel – Ac. RC 9/01/2001.

Quanto às condições de admissibilidade do art. 266º, nº2 CPC – estabelece os fatores de


conexão entre o objeto da ação e o da reconvenção, que torna esta admissível:

 Alínea a): quando o pedido do réu emerge do facto jurídico que serve de
fundamento à ação ou defesa.

O pedido reconvencional pode fundar-se na mesma causa de pedir ou em parte da mesma


causa de pedir, que o pedido do autor. O pedido reconvencional pode fundar-se nos mesmos factos
(ou parcialmente) em que o próprio réu funda uma exceção perentória ou com os quais,
indiretamente impugna os alegados na petição inicial.

Exemplo: a condenação do réu no pagamento do preço da compra e venda, o réu pede a


condenação do autor na entrega da coisa, o mesmo contrato é causa de pedir do autor e
do pedido do réu.

 Alínea b): o pedido reconvencional pode fundar-se no direito a benfeitorias (art.


216º CC) ou despesas relativas à coisa cuja entrega é pedida (comodatário – art.
1138/1º CC, depositário e possuidor).

Ou seja, a conexão entre o objeto definido pelo autor e o pedido reconvencional também
está assegurada quando este último respeitar a benfeitorias ou despesas relativas à coisa cuja
entrega é pedida pelo autor.

Exemplo: O autor propõe uma ação de reivindicação de um imóvel, o réu pode formular
um pedido reconvencional do pagamento das benfeitorias realizadas no prédio
reivindicado – art. 1273º CC.

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 Alínea c): O pedido reconvencional pode ter como fundamento a compensação


dos créditos: nos casos em que não constituísse reconvenção, a compensação era
enquanto facto extintivo do direito uma exceção perentória – art. 571/2º CPC ex
vi do art. 847º CC, a compensação enquanto contra crédito não excede o crédito
do autor, situa-se no âmbito do pedido por este deduzido.

Ponto adicional: ligação entre a matéria da reconvenção e a matéria da compensação: foi


um ponto controvertido e debatido na doutrina e jurisprudência: imaginemos que o autor
apresenta uma ação contra o réu e pede-lhe 50.000 euros, o réu contesta dizendo que: “eu não
tenho de pagar 50.000 euros, porque és devedor de 100.000 euros”.

O instituto civil da compensação tem de ter uma determinada configuração processual.


Como é que qualifico então a compensação civil?

Até ao CPC 2013: havia a teoria do Prof. MTS – a compensação civil era sempre tratada
como reconvenção, se se invocasse em sede judicial, se for extrajudicialmente é uma exceção
perentória.

Miguel Teixeira de Sousa:

Quanto à dedução da compensação através da reconvenção, há que diferenciar entre:

o a invocação de uma compensação já efetuada num momento anterior à


propositura da ação (compensação extrajudicial). Na compensação
extrajudicial o réu afirma que o crédito invocado pelo autor já se encontra
extinto por uma compensação efetuada extrajudicialmente: essa parte alega por
isso uma exceção perentória – artigo 576º, nº3.

 e a realização, no próprio processo pendente, da compensação entre os créditos


(compensação judicial). Na compensação judicial: o réu pretende provocar a
compensação entre os créditos para conseguir essa compensação judiciária, tem
de se servir da reconvenção.

A Prof. Paula Costa e Silva refere que a compensação seria uma exceção perentória no
montante do crédito que igualava o contra crédito: no puro encontro de contas, sendo que na parte
do contra crédito que excedia o crédito, esse excesso era uma reconvenção – a compensação pura
era tratada como exceção perentória extintiva.

A tese da Professora Paula Costa e Silva é a da compensação-exceção, esta esteira


doutrinária e jurisprudência entende que a reconvenção só deve ser utilizada para obter a
condenação do autor quanto ao excesso do crédito do réu relativamente ao crédito do autor (neste
sentido também Vaz Serra e Anselmo de Castro).

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Ou seja, se o contra-crédito do réu for do mesmo montante ou


quantitativamente inferior ao crédito do autor, o réu deverá limitar-se a invocar a
compensação como exceção perentória.

O Professor Miguel Teixeira de Sousa argumenta que esta tese é incompatível com a
admissibilidade da compensação de créditos ilíquidos – art. 847º, nº3ºCC – dado que não é
possível aferir se um deles é quanto ao seu montante, maior ou menor que outro, o Professor
refere também que o tratamento da compensação como qualquer outra exceção perentória implica
que, não sendo alegada num processo pendente, funciona a preclusão estabelecida no art. 573º,
nº2 CPC, se o réu não alegar o contra crédito sobre o autor nessa ação, fica impossibilitado de o
fazer, pelo menos até ao montante em que os créditos são compensáveis, numa ação autónoma.

O réu sempre que quiser invocar uma compensação: art. 266º, nº2, al. c) CPC o articulado
é sempre tratado como reconvenção.

Veja-se um caso em que o réu invoca a restituição das benfeitorias, trata-se como já
vimos de uma reconvenção. O autor invocou o alegado pelo réu, dizendo que “eu não pago as
benfeitorias: porque a casa está danificada: então tens de me indemnizar: ou seja há uma
compensação das indeminizações pelas benfeitorias: a compensação tem de ser qualificada como
reconvenção na contestação. Sem ser na sede de réplica a compensação civil pode ser qualificada
como exceção perentória: não se pode amputar direitos das partes. Em sede de réplica ou
articulados supervenientes: tenho de conseguir qualificar a reconvenção por compensação com
outros instrumentos processuais.

 Alínea d): o mesmo acontece quanto à conexão objetiva, quando o pedido


reconvencional procura obter o mesmo efeito jurídico decorrente do pedido
formulado pelo autor.

Exemplo: se o autor instaura uma ação de divórcio, o réu pode pedir, em reconvenção o
decretamento do divórcio a seu favor, se o autor propõe uma ação de reivindicação de um
imóvel ao réu, o réu considerando que é ele o proprietário, pode pedir a reivindicação do
mesmo imóvel | Ac. RL 27/5/1997.

Falta de conexão objetiva:

A falta de conexão resulta da inexistência de uma relação ente o objeto definido pelo
autor e o pedido reconvencional do réu, e porque é uma exceção dilatória (embora inominada)
determina a absolvição do réu da instância reconvencional no despacho saneador – artigo 590º do
CPC: art 576º, nº2 + ex vi art. 278º, nº1, al. e) CPC.

2. Compatibilidade processual – A reconvenção só é admissível se o tribunal


competente para o pedido do autor for absolutamente competente para o pedido
reconvencional – art. 93º CPC, assim para que a reconvenção seja admissível, é

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necessário que o tribunal de ação seja material, hierárquica e internacionalmente


competente para apreciar a reconvenção.

Se este pressuposto falhar: exceção dilatória – absolvição do réu da instância –


art. 93º, nº1, in fine CPC.

Fonte legal: art. 266º, nº3 e 4º CPC + art. 93º CPC – tem as mesmas variantes da
coligação. Quanto á adequação das formas: as formas têm de ser iguais – o tribunal tentará
harmonizar as formas do processo, ou adequar.

Caso prático sobre a competência internacional:

Sobre a competência internacional do tribunal da ação para apreciar o pedido


reconvencional, há que considerar o disposto no art. 8/3º do Regulamento nº 1215/2012 de 12
de dezembro de 2012 – se o pedido reconvencional derivar do contrato ou do facto em que se
fundamenta a ação principal é competente para esse pedido o tribunal em que esteja pendente essa
ação, exceto se houver que respeitar a competência exclusiva referida no art. 24º do Regulamento.

Exemplo: o autor instaura uma ação no competente tribunal de Lisboa


(art. 7º, nº1, al. a) do Regulamento), em que pede o cumprimento de uma
prestação que, embora emergente de um contrato celebrado em Espanha, deveria
ser realizada nessa cidade; o réu, que é credor de uma prestação sinalagmática
que deveria ser cumprida em Madrid pode deduzir o respetivo pedido
reconvencional nessa ação, porque esse tribunal é internacionalmente competente
para o apreciar.

 A reconvenção só é admissível se a forma do processo adequada para o objeto


definido pelo autor for compatível com aquele que é a própria para o pedido reconvencional (art.
266º, nº 3 CPC).

Assim o pedido reconvencional não é admissível se a um dos objetos corresponder um


processo comum, e ao outro processo especial ou se para esses objetos forem apropriados
processos especiais distintos, salvo se o juiz puder adaptar as respetivas tramitações –
possibilidade de sanação.  compete ao juiz definir o procedimento a seguir em concretização
do principio da adequação formal – artigo 547º, nº2.

Consequências derivadas da incompatibilidade processual:

 Quanto à incompetência absoluta do tribunal da ação: absolvição do réu da


instância reconvencional no despacho saneador: art. 96º + 99 + 278/1/a) + 576/2º
+ 577/a CPC.

 Inadequação de forma de processo para o pedido reconvencional – é uma


exceção dilatória inominada: que gera absolvição do réu da instância: art 576º,
nº2 + ex vi art. 278º, nº 1, al. e) CPC.

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3. Compatibilidade procedimental – A formulação da reconvenção nalguns


processos especiais fica ainda dependente da sua compatibilidade com a
tramitação do processo, nomeadamente da possibilidade de resposta do autor
ao pedido reconvencional do réu.

Fonte legal - art. 583/1 CPC – por um lado e por outro lado os requisitos da
compatibilidade procedimental estão dispersos ao longo do CPC: a reconvenção tem que
obedecer a determinadas formalidades tal como a petição inicial observara - art. 552º CPC.

Reconvenção observa um conjunto de formalidades procedimentais, desde logo a


reconvenção tem de estar autonomizada na contestação: um documento na contestação, temos
de ter um pedido e uma causa de pedir, e identificar o valor da ação.

Falta de pressuposto processual – incompatibilidade procedimental:

Há formalidades que são suscetíveis de sanação, mas se faltar o pedido da reconvenção,


temos de fazer uma analogia à ineptidão da petição inicial – art. 186º CPC.

A incompatibilidade processual é uma exceção dilatória inominada, que conduz à


absolvição do autor da instância reconvencional – 566º, nº2 + 278º, nº2 CPC.

Dedução

A reconvenção não será admissível a não ser em sede de reconvenção, depois da


contestação não é possível proceder à reconvenção.

A reconvenção deve ser deduzida discriminadamente na contestação – art. 583/1º


CPC. Isto não significa que a reconvenção só possa ser formulada se houver contestação, mas
que, se a houver, a reconvenção deve ser deduzida separadamente nesse articulado e que se não
existir tal articulado, a reconvenção deve ser apresentada no prazo determinado para a contestação
(30 dias – art. 569º CPC).

A parte da contestação em que o réu deduz o pedido reconvencional deve ser equiparada
a uma petição inicial, pelo que lhe é aplicável o regime previsto no art. 552º CPC.

Para garantir a igualdade das partes e o principio do contraditório, a dedução da


reconvenção implica a possibilidade de resposta à contestação em qualquer das formas do
processo comum em que ela é admissível – artigo 584º + 585º.

A falta de contestação pelo autor dos factos alegados pelo réu como fundamento do
pedido reconvencional implica a sua admissão por acordo – artigo 587º + 574º

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Primeiro: 266º, nº2 CPC: elenca nas três alíneas quando é que é admissível ou não uma
reconvenção numa contestação na petição inicial: resulta os casos em que é admissível a
reconvenção há comparação da defesa do réu.

O que é que acontece se o autor não contestar através da réplica os factos alegados pelo
réu como fundamento do pedido reconvencional?

R: A falta de contestação pelo autor dos factos alegados pelo réu como fundamento do
pedido reconvencional implica, em regra, a sua admissão por acordo – art. 587/1 CPC, aplicando
os efeitos do art. 574/2º CPC.

O valor do pedido reconvencional soma-se ao valor inicial da ação, exceto se a


reconvenção não se referir a um pedido distinto daquele que é formulado pelo autor – artigo 299º,
nº2, 1ªparte.

Réplica

É a resposta do autor ao pedido reconvencional do réu – artigo 584º + 585º.

A réplica permite ao autor a apresentação de uma contestação, por impugnação ou por


exceção do pedido reconvencional – artigo 571º.

A réplica encontra a sua justificação no principio da igualdade das partes – artigo 4º.

A falta de réplica implica a revelia do reconvindo quanto a esse pedido – artigo 567º.
Sendo essa revelia inoperante nos casos previsto no artigo 568º, mas se for operante, determina a
confissão dos factos articulados pelo reconvinte como fundamento do seu pedido reconvencional
– artigo 567º, nº1.

Prazo – 30 dias nos termos do artigo 585º

A réplica pode ser objeto de recusa pela secretaria, nos termos do artigo 558º.

Falta de apresentação de réplica – artigo 587º  574º.

Reconvenção e ação

Em certos casos a apreciação da reconvenção depende da procedência da causa.

Exemplo – quando o réu pede o pagamento das benfeitorias realizadas na


coisa reivindicada – art. 266º, nº2, al. b) CPC – este pedido reconvencional só
pode ser apreciado se o réu for condenado a restituir a coisa – Ac. RP 20/01/1998.

A procedência da reconvenção também pode estar dependente da improcedência da


ação – art. 266º, nº6 CPC.

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Exemplo – a reconvenção que decorre da defesa do réu – art. 266º, nº2,


al. a) in fine CPC – só pode ser apreciada se a contestação proceder e a
reconvenção que se destina a obter o mesmo efeito que é pretendido pelo autor –
art. 266º, nº2, al. c) CPC – só pode proceder se improceder o pedido desta parte.

Quando a reconvenção é formulada como dependência da procedência ou improcedência


da ação a circunstância de essa reconvenção não chegar a ser apreciada, por não se verificar a
procedência ou improcedência da qual ela depende, implica a inutilidade superveniente da lide
reconvencional.

Exemplo: quando ao pagamento das custas: há que considerar, neste


última caso, o seguinte: se a reconvenção depende da procedência da ação, o autor
é responsável pelas custas relativas à reconvenção se esta não chega a ser
apreciada por a ação improceder, porque foi o autor que deu causa a esse pedido
reconvencional.

O pedido reconvencional não é afetado pela desistência do pedido formulado pelo autor,
exceto se a reconvenção for dependente da procedência deste pedido – artigo 286º, nº2

Reconvenção e exceção

A reconvenção pode consistir, em conjunto com a defesa por exceção perentória, uma
cumulação simples ou subsidiária.

O pedido reconvencional constitui com defesa de exceção perentória uma cumulação


simples, se for possível a procedência de ambos.

Exemplo: o autor propõe uma ação pedindo o cumprimento de um


contrato, o réu pode excecionar o dolo na celebração do contrato e
cumulativamente, pedir através de reconvenção, o pagamento de uma
indemnização pelos prejuízos sofridos.

O pedido reconvencional também pode ser um pedido subsidiário de um pedido de


absolvição que é baseado numa exceção perentória.

Exemplo: o autor instaura uma ação em que requer a condenação do réu


na realização de uma prestação contratual: o réu pode defender-se por exceção:
invocando a nulidade do contrato e subsidariamente, pode reconvir pedindo o
cumprimento da respetiva contraprestação.

Reconvenção interveniente

- Artigo 266º, nº1 CPC – a reconvenção é deduzida pelo réu contra o autor. Contudo, no
nº4 deste artigo prevê a reconvenção interveniente.

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Reconvenção interveniente – é aquela que é acompanhada da intervenção principal de


um terceiro na ação pendente e que está sujeita aos pressupostos desta cumulação subjetiva.

A reconvenção pode ser deduzida pelo réu não só contra o autor da ação, mas também
contra um terceiro, cuja intervenção no processo é provocada pelo réu reconvinte – 316º CPC.

Apreciação incidental

 É o pedido da parte para que, sobre uma questão prejudicial ou incidental, recaia
uma decisão com o valor de caso julgado material – artigo 91º, nº2 CPC.

A apreciação incidental requerida pelo réu chama-se reconvenção incidental.

Objetos processuais anómalos


Nestes objetos existem pressupostos processuais específicos.

Pedido de prestações vincendas

 O pedido de prestação vincenda é aquele em que a parte formula o pedido de


condenação da contraparte numa prestação cujo o cumprimento ainda não é
exigível – é aquele em que a parte requer uma condenação in futurum.
As ações condenatórias in futurum encontram-se genericamente previstas no
artigo 10º, nº3, al. b) do CPC, mas a sua admissibilidade está regulada no artigo
557º CPC.

MTS: autor formula pedido de condenação do reu numa prestação cujo cumprimento
ainda não é exigível; a parte requer uma condenação in futurum.

Consequências:

Para efeitos de determinação do valor da causa, o valor do pedido de prestações vincendas


cumula-se com o valor do pedido referido às prestações vencidas.

Neste caso, o credor perde o benefício do prazo?

Havendo uma obrigação a prestações, os prazos correm em benefício do devedor. Há uma


antecipação da data do cumprimento, é uma antecipação, é uma regra de antecipação por
condenação.

Admissibilidade:

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A ação de condenação in futurum é admissível sempre que a falta de título executivo no


momento do vencimento da prestação possa causar grave prejuízo para o credor – artigo 557º,
nº2, in fine do CC.

Tal pode decorrer, nomeadamente, de uma propalada contestação ou oposição do devedor


ao cumprimento da prestação no momento do seu vencimento.

Exemplo previsto na lei: trata-se da admissibilidade da ação para condenação in futurum


quando se pretenda obter um despejo de um prédio no momento em que findar o arrendamento –
art.557º, nº2 CPC.

Se a obrigação ainda não está vencida, a mera invocação pelo autor do seu direito de
crédito não lhe permite intentar uma ação exigindo o cumprimento da prestação, pelo que só
através da análise do interesse processual se pode determinar se o credor pode exigir a
condenação in futurum do devedor no cumprimento (futuro) dessa obrigação.

Análise ao artigo 557º, nº2 CPC:

Esta sentença só vai produzir efeitos quando o contrato de arrendamento findar. O


arrendamento é um contrato duradouro e há sobreposição de direitos, o direito quer antecipar os
conflitos jurídicos, é um contrato que no termo gera conflitos.

Quando a regra do art. 557º, nº2 CPC refere em “casos semelhantes” quais são os
índices de semelhança?

O autor tem de justificar que a impossibilidade de obter imediatamente a prestação, e


que lhe vai causar graves prejuízos, se ele conseguir demonstrar o interesse processual na
demonstração da tutela ele pode condenar o réu às custas, no regime geral.

A ação de condenação in futurum também é admissível quando, no âmbito de uma venda


a prestações, a parte, conjuntamente com a condenação relativa às prestações já vencidas mas não
cumpridas, pretender obter a condenação do comprador nas prestações vincendas – art. 557º, nº1
CPC.

Note-se que no art. 934º CC, a falta de pagamento de uma só prestação que não exceda
a oitava parte do preço só importa a perda de benefício do prazo relativamente às demais
prestações se existir convenção nesse sentido.

Não podemos confundir a condenação do pedido “in futurum” ( o autor diz: a


obrigação não é exigível) das sentenças de condenação “in futurum” (aqui o autor não revela
que a obrigação não é exigível, e não justifica o seu interesse processual específico, mas no
decorrer do processo descobre-se que a prestação não é exigível). Existe aqui um regime híbrido
quando à falta de interesse processual, ele ganha a ação mas paga as custas com o regime
comum, e com a improcedência da ação, se o réu mostrar que não é fundamentada.

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Distinção entre condenação do pedido in futurum e a sentença de condenação in


futurum e análise do pedido genérico.

O autor não diz quando instaura a ação que a obrigação não está vencida, não se preenche
o art. 557º CPC – ou seja aplica-se ao art. 535º CPC.

Condenação in futurum – interligar art. 535º CPC com o art. 610º CPC – o autor pede a
ação, o réu perde mas o autor paga as custas – nomeadamente, ver o art. 610º, nº3 CPC. (muda a
regra geral do art. 527º CPC).

Artigo 610º, nº1 CPC – “desde que o réu a conteste” – ligação com o art. 535º CPC - a
contestação exige o reconhecimento do réu ao dever de prestar , e se essa resistência não resulta
apenas da exigibilidade irá continuar a resistir ao dever de prestar.

As ações condenatórias in futurum são aquelas em que o autor pede a condenação do réu
no cumprimento de uma prestação ainda não vencida e, portanto, não exigível. É reconhecido
interesse processual para instaurar uma ação de condenação para o futuro nas situações previstas
no art. 557º CPC.

Assim o autor tem interesse processual quando a falta de título executivo na data de
vencimento da prestação puder causar grave prejuízo ao autor art. 557º CPC.

Exemplo: suponha-se que o comodatário divulga que não vai entregar a


coisa comodatada no momento do vencimento da obrigação de restituição da
coisa (art. 1135º, al. h) do CC) o autor pode intentar uma ação pedindo que o réu
seja condenado a restituir a coisa nesse momento.

O devedor não perde o benefício do prazo – art. 610º, nº1, in fine CPC, o direito
processual não transforma o direito material.

Art. 610º, nº2 CPC – o problema não é relativamente ao prazo, é relativamente à


existência da obrigação.

Neste nº2, o devedor assume que tem uma obrigação, e aqui não há interesse processual
e dá-se a inversão do pagamento das custas: é o autor que paga as custas, é a única consequência
da falta de interesse processual – Prof. PCS + Prof. Castro Mendes.

Miguel Teixeira de Sousa – (na ausência à absolvição da instância), o art. 610º CPC
revela que de facto a consequência da falta do interesse processual é a inversão do pagamento das
custas para o autor (art. 527º CPC).

A inexigibilidade da prestação deveria obstar à procedência da ação condenatória, exceto


quando tivesse sido requerida, dentro dos condicionalismos do art. 557º CPC, a condenação in
futurum.

No entanto, o art. 610º, nº1 e 2, al. a) CPC, contém uma exceção a essa improcedência,
pois que a inexigibilidade da obrigação nunca obsta à condenação in futurum do devedor, havendo
apenas uma diferença quanto ao pagamento das custas e dos honorários do advogado do réu: se o
réu contestar a existência da obrigação e o tribunal concluir que ela existe, mas não só é
exigível numa data futura, o réu é condenado in futurum – art- art.610/1º CPC e paga nos termas

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gerais as custas do processo art. 527º CPC, se o réu não contestar a existência da obrigação é
igualmente condenado a realizar a prestação no momento do seu vencimento – art. 610º, nº2, al.
a) CPC, mas as custas do processo e os honorários do seu advogado são da responsabilidade do
autor. (art. 610º, nº3 CPC).

Pode perguntar-se se o interesse processual exigido pelo art. 557/2ºCPC também é


imposto à parte demandada, isto é, se o réu só pode invocar contra o autor, através do pedido
reconvencional direitos ainda não exigíveis se estiverem preenchidas as condições referidas
naquele preceito.

O Pedido genérico-Pedido certo

 Pedido certo – é aquele cujo objeto é uma prestação individualizada ou


determinada.
o A prestação considera-se individualizada quando se reporta a um bem
concreto
 Pedido genérico – pedido deduzido contra o réu tem de ser determinado, para
que o réu possa defender – exceção a este principio: pedido genérico é admissível
nos termos do artigo 556º7

O lesado pode formular um pedido genérico nos casos do artigo 556º - é visto como um
pressuposto processual no sentido de, fora destes casos, não é permitido formular pedidos
genéricos.

Portanto, só nestes casos é que se admite que o autor apresente pedidos genéricos:

 Aqueles em que , não obstante a indeterminação, noa são prejudiciais ao


contraditório, pois, esse contraditória é exercido nos mesmos termos que seria
caso o pedido fosse determinado e não genérico
o Paula Costa e Silva – defesa deduzida pelo réu é defesa que atinge o
pedido deduzido pelo autor independentemente da concretização das
coisas a serem atingidas em fase executiva pela decisão proferida.
 Exemplo – restituição de uma biblioteca. Réu não tem de
discutir a restituição de cada livro.

Se for um pedido genérico, fora dos casos do artigo 556º, estamos perante uma exceção
dilatória inominada, que não é possível suprir:

 Há convite à determinação
 Se o autor não determinar, há absolvição do réu da instância.

7
Pedido genérico:
 Se for deduzido e ininteligível pode verificar-se a inaptidão da petição inicial, o que pode
fundamentar o indeferimento liminar da petição inicial.
 Se for inteligível, a petição inicial necessita de concretização ou individualização e o tribunal
pode convidar o autor a concretizar ou individualizar o pedido.

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Artigo 556º, nº2 + artigo 358º CPC  liquidar o pedido genérico – aqui já houve
instrução.

 Se não houver elementos para a concretização da obrigação o juiz condena numa


obrigação genérica. Atribui-se a competência de procedência ao tribunal que
condenou o réu no pedido, já condenou o pedido genérico, agora alguém em
substituição do réu, dar indiciação do que vai se entregue na ação executiva. Este
artigo remete para o processo de execução: art. 716/7º CPC – liquidação, antes
de chegar à execução: a lei permite sem diminuição das medidas de defesa o
recurso à condenação do pedido genérico.

A Coligação
A coligação pressupõe uma pluralidade de partes principais e uma pluralidade de
pedidos que são formulados diferenciadamente por cada um dos autores e contra cada um dos
réus – artigo 36º CPC.

A coligação contém:

 Uma cumulação de partes principais;


 Uma cumulação objetiva – tem de ser repartida por cada uma das partes ativas
ou passivas, isto é, tem de haver uma distribuição de vários pedidos por cada
um dos autores e réus.
o Exemplo – um autor pede contra um dos réus a anulação de uma doação
e contra o outro demandado a restituição dos bens doados, entretanto
transmitidos por aquele a este último.
 Se não houver essa distribuição, apesar de haver cumulação
objetiva, não há coligação, mas litisconsórcio, pois os vários
pedidos são formulados por todos os autores ou contra todos os
réus.8
 Exemplo: se um autor pede contra dois réus a entrega de
um automóvel e o pagamento de uma indeminização,
embora haja uma cumulação de pedidos art. 555º CPC,
não se conforma uma coligação, pois os pedidos não são
formulados discriminadamente contra partes distintas.
 Também existe um litisconsórcio, e não uma coligação, quando
os pedidos embora formalmente discriminados por várias partes,
apresentam um mesmo fundamento substantivo e são
essencialmente idênticos no seu conteúdo.

8
A distinção entre litisconsórcio e a coligação também tem sido tentada através da unidade ou pluralidade
de relações jurídicas: conforma-se um litisconsórcio se uma única relação jurídica respeita a vários
interessados, constitui-se uma coligação se são várias as relações jurídicas a vários interessados, mas este
critério é inaceitável desde logo porque ele colide com a admissibilidade da coligação, no próprio plano
do direito positivo, quando a causa de pedir (dos vários pedidos formulados) for a mesma e a única, o que
demonstra que à coligação pode subjacer uma única relação jurídica.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 30


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 Exemplo – uma ação respeitante ao pagamento de uma


dívida conjunta proposta contra dois devedores não se
verifica uma coligação, porque embora a obrigação
conjunta se possa desdobrar em duas obrigações
parcelares, os correspondentes pedidos são idênticos na
sua fundamentação e no seu conteúdo.

Além da pluralidade de parte, têm de existir pedidos que original de relações materiais
controvertidas diferentes:

 Se for uma pluralidade de pedidos que assentem na mesma relação material


controvertida não há́ coligação e somente cumulação de pedidos – onde a mesma
relação material origina um feixe de pedidos.
 Na coligação, os pedidos originam de relações materiais controvertidas que naõ saõ
as mesmas.

Pluralidade de pessoas no polo ativo + passivo existindo vários objetos – pluralidade


objetiva:

 Estrutura processual muito complexa que implica existirem mais requisitos de


admissibilidade – atendendo ao comando do artigo 20º, nº4 CRP – quanto mais
complexo for o processo, mais difícil é a instrução da causa, sendo mais difícil a
decisão em prazo razoável – é necessário justificar de forma acrescida
admissibilidade dessa estrutura, que pode colidir com esse artigo ao tornar o
processo mais complexo.
 Tem de se encontrar virtude na complexidade, para a instrução e decisão da
causa, sob pena de não a poder aceitar.

O que distingue a cumulação e a coligação?

A coligação envolve situações jurídicas mais complexas – condições de admissibilidade


– artigo 36º CPC.

Ou seja, a coligação tem sempre uma cumulação de pedidos, mas nem toda a cumulação
é uma coligação:

 Artigo 555º
 Artigo 37º, nº4 e 5.

Aquilo que distingue, consequentemente, os casos de coligação, por exemplo, dos


casos de litisconsórcio voluntário, conveniente em que a obrigação é parciária, é que na
coligação tenho objetos distintivos configurados a réus distintos, o que não acontece na obrigação
parciária.

Exemplo: num centro comercial, tenho uma pluralidade de bens e


serviços, um deles promove uma viagem de férias para um amigo e para mim.
Temos um marido uma mulher, no mesmo dia decidem ir compram um mega

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 31


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frigorífico mais uma aparelhagem (mais uma série de contratos entre cônjuges).
O centro comercial exige uma série de pagamentos que não foram efetuados, no
outro polo da relação jurídica existe uma série de partes na ação (parte do autor),
ou seja, na medida em que dou maior complexidade à instância, maior
complexidade dou na formulação dos pedidos.

Classificações
Quanto à parte em que se verifica, a coligação pode ser:

 Ativa: se a cumulação subjetiva existe entre vários autores;


 Passiva: se essa cumulação se constitui entre vários réus.
 Mista: se existe simultaneamente uma pluralidade de autores e de réus:

Quanto à origem, a coligação pode ser:

 Voluntária: quando se verifica por iniciativa de um ou vários autores, sem que


a falta de qualquer autor ou réu implique uma situação de ilegitimidade.
o Na coligação voluntária e, naturalmente apenas nesta modalidade, o
tribunal declara sem efeito o processo se entender, oficiosamente ou a
requerimento de qualquer um dos réus, que é preferível que as causas
sejam instruídas, discutidas, e julgadas em processos separados – art.
37/4º CPC9

 Necessária: quando todos os interessados se devem coligar ou devem ser


demandados no regime da coligação, sendo a falta de qualquer um deles motivo
de ilegitimidade da parte demandada ou é demandada desacompanhada das
demais.
o Exemplo – numa ação de indeminização pelo risco decorrente de um
acidente de viação, em que a lei limita o montante global das
indeminizações (art. 508º/1º CC), é necessária a intervenção de todos os
lesados, porque pode ser indispensável proceder a um rateio desse
montante global entre todos os prejudicados. A configuração desta
situação como uma coligação (e não como um litisconsórcio) resulta da
diversidade dos pedidos formulados, pois que cada um dos lesados
invoca um direito de indeminização específico, correspondente aos
danos por ele sofridos.

9
Exceção e a atípica e inominada ( ex vi art. 37/4º CPC – este é um pressuposto esquecido – isto não
pode impedir o juiz de proferir uma decisão em prazo razoável, pode haver inconveniente, temos um
pressuposto da inconveniência na instrução conjunta por retardamento da decisão da causa), o limite do
desejo está no art. 37/4ºCPC, sendo que o art. 535/1º CPC não dispõe uma conexão, o juiz pode em sede
cumulação simples citar o autor para escolher uma forma do processo – ratio art. 24º CRP.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 32


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Miguel Teixeira de Sousa – refere que quanto à coligação necessária a sua distinção
perante o litisconsórcio pode servir-se do seguinte critério prático: no litisconsórcio necessário
não é admissível a confissão, desistência ou transação parcial (art. 288/2º CPC) , este artigo dispõe
que esses atos só produzem efeito quanto a custas, em contrapartida, na coligação ainda que
necessária, é sempre admissível uma confissão, desistência ou transação parcial, quando relativa
a um dos peidos formulados por uma parte ou contra um dos réus. Portanto verifica-se uma
coligação sempre que a pluralidade de partes é necessária, mas é admissível uma confissão,
desistência ou transação parcial.

Quanto à cumulação objetiva:

A coligação contém uma cumulação objetiva, porque, sempre que se configura uma
coligação, o processo comporta vários objetos.

Coligação pode ser :

 Simples: é aquela em que se pretende a condenação a vários pedidos distintos e


se deseja a satisfação de todos os pedidos cumulados, em relação a pessoas
distintas.
 Alternativa: verifica-se quando, nomeadamente, em relação a obrigações
alternativas – artigo 543º, nº1 CC – se pede a condenação de cada um dos réus a
realizar, em alternativa uma prestação.

Quanto ao momento em que se constitui, a coligação pode ser:

 Inicial: verifica-se desde o início da ação;


 Sucessiva: constitui-se durante a sua pendência;

Coligação sucessiva:

 Modalidades:
o Intervenção principal de um terceiro:
 Intervenção espontânea – permite-se a participação de um
terceiro que possa coligar-se com o autor da causa – artigo 342º
CPC
 Intervenção provocada – a coligação sucessiva pode ser ativa
ou passiva – artigo 347º CPC – e é através dessa intervenção
provocada que se pode sanar a ilegitimidade do autor ou do réu
que numa situação de coligação necessária se encontra em juízo
desacompanhado dos demais interessados – artigo 261º CPC.
o Apensação de ações – reunião num único processo de ações distintas,
quando, entre elas, se verificarem os pressupostos da coligação.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 33


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Pressupostos da coligação
A coligação requer:

 Compatibilidade substantiva
 Compatibilidade processual
 Conexão objetiva entre os pedidos coligados.

 Compatibilidade substantiva:

A compatibilidade substantiva não é um requisito específico da coligação, mas da


cumulação objetiva que nela se contém – Paula Costa e Silva: aplica-se analogicamente o art.
555º do CPC à coligação para a compatibilidade substantiva.

A nulidade de todo o processo é diferente da exceção dilatória que advém do art. 36º
CPC. A cumulação objetiva está prevista no art. 555ºCPC ( compatibilidade substantiva – art.
186/2/c) CPC + art. 186/1º CPC + 577/b)) e este regime aplica-se na cumulação subsidiária
imprópria, na coligação, e na reconvenção.

Art. 578º CPC – esta exceção é de conhecimento oficioso e é sanável mediante o art. 38º
CPC. (Aplica-se analogicamente à coligação – posição da Prof. PCS).

A compatibilidade substantiva conforma-se diferentemente consoante a coligação


seja simples ou alternativa:

 Simples: a compatibilidade refere-se à não contradição entre os efeitos


decorrentes dos vários pedidos formulados – art. 555/1º + 186/2/c) CPC. Como
essa coligação contém uma cumulação simples, a compatibilidade substantiva
exigida nesta cumulação, também é requerida para a coligação, pelo que não é
admissível se os efeitos decorrentes de algum dos pedidos forem incompatíveis
com os efeitos relativos a um outro pedido.
o Exemplo: não se pode cumular o pedido de declaração de nulidade de um
contrato contra um dos réus com o peido de cumprimento de uma
prestação desse contrato contra um outro réu.
 Alternativa – a compatibilidade substantiva traduz-se na alternatividade entre os
pedidos formulados. Também nesta coligação valem os requisitos específicos da
cumulação objetiva, neste caso alternativa.

 Compatibilidade processual

A compatibilidade processual, como pressuposto da coligação, refere-se (art. 37º CPC):

 Competência absoluta do tribunal: assim a coligação não é admissível se o


tribunal não for material, hierárquica e internacionalmente competente para
apreciar todos os pedidos coligados.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 34


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o Estamos perante casos de incompetência absoluta – artigo 37º, nº1 CPC


+ art. 96/a) CPC + 577º/a) CPC + art.97/1º CPC + art. 99º CPC.
 É suscetível de sanação nos termos do art. 99/2º CPC

 Exigência de forma idêntica para todos os pedidos cumulados – admite-


se, no entanto, que a diversidade possa resultar exclusivamente do valor da
causa. Deste modo, a coligação não é admissível se a um ou alguns dos
pedidos corresponder processo comum e outros não.

Consequência de não verificação:

No momento do despacho saneador, essa inadequação formal, que é uma exceção


dilatória inominada, determina a absolvição da instância relativamente ao pedido ou pedidos
para os quais a forma do processo empregue não é apropriada – art. 576/2ºCPC.

Porque essa exceção respeita a interesses públicos relativos à boa administração da


justiça, aquela exceção inominada é de conhecimento oficioso – art. 578º CPC.

Tramitação compatível – art. 37/1º CPC + art. 38º CPC

 Conexão objetiva:

A conexão objetiva refere-se à existência de uma relação entre os vários pedidos


cumulados.

Como motivos de conexão objetiva entre os pedidos cumulados a lei estabelece os


seguintes:

 A identidade da causa de pedir dos vários pedidos: causa de pedir é a mesma


e única – art. 36/1/1º parte CPC  remete para o artigo 5º, tendo os mesmos
factos
o Exemplo: o autor pode demandar dois réus, pedindo contra um a
anulação de um contrato por coação e contra o outro uma indemnização
pela coação exercida.
 Pedidos estarem entre si numa relação de prejudicialidade ou dependência – art.
36/1/2ª parte CPC
o Exemplo: o autor pode pedir a anulação da doação de um automóvel e a
um outro a restituição do automóvel entretanto transmitido por aquele
demandado.
 Diferente causa de pedir, mas:
o A apreciação como causa de pedir dos pedidos formulados, de factos
essencialmente idênticos – art. 36º, nº 2, 1ª parte CPC
 Se os factos forem essencialmente os mesmos, a prova que é feita
sobre eles é a mesma, o que torna a instrução e a decisão mais

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 35


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rápida e possível de ser dada em tempo razoável – artigo 20º, nº4


CRP.
 Exemplo: dois contraentes demandam o réu pedindo a
anulação com base na usura – art. 282/1º CC, de dois
contratos semelhantes.
o A aplicação das mesmas normas jurídicas na apreciação da
fundamentação dos pedidos cumulados – art. 36º, nº 2, 2º parte CPC –
significa que há uma única regra de direito que está em causa na
pluralidade de pedidos.
 Exemplo o autor pode demandar dois réus que são arrendatários
de um mesmo imóvel, formulando contra cada um deles o pedido
de despejo com fundamento na demolição do prédio para
construção de um novo imóvel.
o A aplicação de cláusulas contratuais totalmente análogas na
apreciação da procedência dos pedidos cumulados – art. 36º, nº 2,3ª
parte – casos de processos de julgamento em massa para garantir que a
decisão é equivalente, havendo um conteúdo unitário da decisão quando
não há litisconsórcio necessário.
 Assegura-se que a decisão será equivalente para todos os casos
em que o problema (idêntico) se levante.
 Exemplo: vários consumidores podem instaurar uma
ação contra uma companhia distribuidora de eletricidade
uma ação em que pedem a declaração de invalidade de
uma cláusula contratual geral inserida nos contratos com
ela celebrados.
 Pedidos deduzidos quanto a uns baseiam-se na obrigação cartular e quando
a outros da respetiva relação substantiva – fundamentos são diferentes, pois
com o portador mediato invoca-se a obrigação cartular e com o portador imediato
invoca-se a obrigação subjacente.
o Caso que não se resolve pela litispendência, são casos de concurso de
títulos de aquisição da prestação (MTS) a que a lei dá corpo pela figura
da coligação. Não se é pago duplamente e depois na Execução há
extinção de uma das relações.

Essa conexão objetiva também é estabelecida pela lei em certos casos particulares. Assim,
os art. 1820º e 1872º CC permitem a coligação de investigantes em relação ao mesmo pretenso
progenitor respetivamente nas ações de investigação da maternidade e da paternidade.

1. É uma exceção dilatória a típica e nominada ( ex vi art.36º CPC – apenas para a


coligação – art. 577º, al. f) CPC.
2. Atendendo ao art. 38º CPC: se o autor não escolher a forma não há absolvição do réu
da instância face a todos os pedidos.
3. Exceção e a atípica e inominada ( ex vi art. 37/4º CPC – este é um pressuposto
esquecido – isto não pode impedir o juiz de proferir uma decisão em prazo razoável,
pode haver inconveniente, temos um pressuposto da inconveniência na instrução
conjunta por retardamento da decisão da causa), o limite do desejo está no art.
37/4ºCPC, sendo que o art. 535º, nº1 CPC não dispõe uma conexão, o juiz pode em

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 36


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sede cumulação simples citar o autor para escolher uma forma do processo – ratio
art. 24º CRP.

No caso de coligação e cumulação de pedidos, onde se instaura a ação?

 Artigo 82º, nº2 CPC – temos um critério eletivo

Quanto ao art. 82/2º CPC: se o autor ao cumular pedidos cuja apreciação sejam
territorialmente competentes diversos tribunais, pode o autor escolher qualquer deles para a
propositura da ação., desde que não estejam em causa nenhum dos critérios do artigo 104º, nº1,
al a):

 Se ambos estiverem presentes no artigo 104º, nº1, al a), então o critério volta a
ser o eletivo
o Exemplo – ambos no escopo do artigo 71º (para onde o artigo 104º, nº1,
al. a) remete) – é eletivo
 Se um estiver no artigo 104º, nº1, al. a) e o outro não, então aplica-se a regra
desse artigo
o Exemplo – um no escopo do artigo 71º e outro no do 80º - aplica-se o
artigo 71º, pois é onde o artigo 104º, nº1, al. a) remete.

Ainda quanto à extensão da competência: temos de ter em conta o art. 82º, nº2 CPC +
art. 82/3º CPC para as cumulações objetivas iniciais.

Quanto ao art. 82º, nº 3 CPC – quando se cumulem pedidos entre os quais haja uma
relação de dependência ou subsidiariedade, deve a ação ser proposta no tribunal competente para
a apreciação do pedido principal.

Sistematização da Professora Paula Costa e Silva quanto ao objeto


processual
A coligação superveniente, que pode acontecer, mas só acontecerá em casos extremos,
surge quando há reconvenções que não impliquem litisconsórcio, mas a constituição de uma
contraparte do terceiro – reconvenção que resulta de uma oposição.

 Raro: particularidade do direito português, é recente na nossa lei, é a que se


encontra no art. 39º CPC, as configurações destas regras são muitíssimas – a
condição de admissibilidade consta do art. 39º in fine CPC – dúvida
fundamentada numa relação controvertida – está em causa a legitimidade, são
casos análogos de litisconsórcio. Aqui o que é característico é saber quem é o
autor e o réu na propositura da ação, neste caso não se sabe quem é: o autor diz:
eu não sei quem é o verdadeiro titular da relação material controvertida: é
admitida a dedução subsidiária do mesmo pedido (réu principal), o réu é que é
subsidiário, tenho uma “ALTERNATIVA” na configuração da parte passiva,
porque não se sabe quem é o devedor desta concreta obrigação. Isso pode

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 37


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acontecer no caso de provocação de acidente em que não conseguimos


determinar quem é que efetivamente o responsável, vai ser a ação no seu decurso
que vai determinar quem é.
 Dedução de pedido subsidiário por autor ou contra réu diverso ou contra réu
diverso do que demanda ou é demandado a título principal – autores subsidiários
e, portanto, alternou a configuração, depois há autores e réus subsidiários – a
dúvida tem mesmo de ser muito grande: é que o que está em causa é o princípio
da igualdade e do contraditório.
 Discussão em torno de objeto processual. O processo não tem dois tempos: tem
tudo ao mesmo tempo, depois entra o esclarecimento da dúvida.

Como é que termina o processo? Com uma decisão. Mas que tipo de decisão e como se
obtém o conteúdo da decisão? Há decisões que são mais definitivas do que outras, umas são
proferidas num contexto de urgência e outras que não são. A primeira grande distinção: atendendo
aos dados do meu sistema processual:

A) A Urgência – 1 modalidade de decisão: se é urgente a decisão o procedimento é mais célere.


Na urgência exige-se a celeridade. – Os termos da relação, que vão contrapor a contextos de
não urgência e porque o contexto de não urgência podemos ter um procedimento que não é
caracterizado pela celeridade, mas a celeridade é um termo de relação, e este procedimento
há de ser aquele que serve de paradigma, o que é que eu posso encurtar? Temos de ter um
processo padrão: esta dicotomia vem do processo canónico em que eu tenho uma coisa
chamada: processus planarius e que no fundo são os processos que permitem ao juiz uma
comissão exauriente. (aqui formam caso julgado, porque a decisões por referência ao padrão
que nós conhecemos, então não formam caso julgado as decisões de urgência).

Divergência profunda com o Prof. MTS: porque é que aceitamos o efeito de


imutabilidade? Aceitamos porque: o processo que se percorreu foi o que achamos mais adequado:
criar juízos de certeza, acerca da realidade em cima da qual o juiz vai ter de proferir uma decisão
de direito: processo que permite ao juiz que permite conhecer a realidade: sobre essa realidade
ele consegue juízos de certeza, é porque o juiz consegue atingir um juízo de certeza (afastar as
dúvidas existentes). Nos casos de urgência o juiz não pode atingir um mesmo grau de certeza, a
urgência impede uma instrução plena. Aqui a palavra é probabilidade e não certeza. – Na certeza
– o juiz toma conhecimento de alguma coisa, através de uma apreensão dinâmica. –
Provavelmente a história foi assim, esta história é a mais verosímil perante os factos, este juízo
não se baseia em todos elementos possíveis de reconstrução dos factos.

Primeira aproximação à tutela cautelar e tutela principal. O princípio da autonomia


privada vigora no Processo Civil? Há autonomia privada na determinação do pressuposto
processual que é a competência – pactos de jurisdição.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 38


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Contestação
Noção
O segundo articulado é chamado de contestação – é a resposta do réu à petição inicial
formulada pelo autor  é a manifestação da posição do réu perante aquele articulado do autor.

A contestação pode ser entendida num sentido material ou num sentido formal:

 Sentido material – qualquer ato praticado pelo réu, no qual essa parte mostre a
sua oposição ao autor e ao pedido por este formulado – exemplo: o réu,
demandado numa ação de cobrança de divida, juntar um recibo que demonstra o
respetivo pagamento – pretende-se negar os factos alegados pelo autor.
 Sentido formal – é o articulado de resposta do réu à petição inicial do autor –
artigos 572º + 573º - contém, em regra, uma contestação em sentido material
(oposição ao autor e ao pedido por este formulado), mas pode não conter qualquer
contestação neste sentido material, é o caso de quando o réu confessa o pedido
deduzido pelo autor (artigo 283º) ou se limita a apresentar um pedido
reconvencional contra o autor, sem qualquer oposição (artigo 583º).

O réu pode optar por uma de duas atitudes: opor-se ou não se opor ao pedido do autor. A
não oposição pode expressar-se na omissão de qualquer conduta do réu, isto é, revelia, confissão
do pedido, ou ainda, confissão dos factos.

Prazo – artigo 569º, nº1 – 30 dias a contar da citação.

O decurso do prazo da contestação, como prazo perentório que é, faz precludir o direito
a contestar – artigo 139º, nº3.

Este articulado, sob do ponto de vista formal, tem um conteúdo semelhante ao da petição
inicial, assim podem igualmente distinguir-se três partes:

1. Intrito
2. Narração
3. Conclusão

Conforme do art. 572º CPC, na contestação deve o réu:

1. Individualizar a ação;
2. Expor as razões de facto e de direito por que se opõe à pretensão do autor;
3. Expor os FACTOS ESSENCIAIS em que se baseiam as exceções
deduzidas, especificando-as separadamente, sob pena de os
respetivos factos não se considerarem admitidos por acordo, por
falta de impugnação.

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4. Apresentar um rol de testemunhas – e requer outros meios de prova,


tendo havido reconvenção, caso o autor replique, o réu é admitido a
alterar o requerimento probatório inicialmente apresentado, no prazo de
20 dias a contar da notificação da réplica.

A) O réu deve identificar as partes e identificar o processo, indicando o respetivo número,


tribunal, mais concretamente, o juízo e secção e a instância por onde corre a ação. Estes
dois últimos elementos não eram conhecidos quando o autor apresentou a petição inicial,
porque só passaram a ser conhecidos após a distribuição.
Esta é a primeira parte e constitui o preâmbulo e costuma também designar-se por
cabeçalho ou introito.

B) Segue-se a narração que é a parte do articulado em que o réu expõe (narra) as razões de
facto e de direito por que se opõe à pretensão do autor. Deve ainda expor os factos
essenciais em que se baseiam as exceções que deduza, especificando-as
separadamente.

A lei impõe que se faça uma distinção de forma clara, entre a:

 Defesa por impugnação – a negação dos fatos que foram relativos pelo o autor
na petição inicial ou apenas a negação do efeito jurídicos que o autor deles
pretende retirar – indireta
 Defesa por exceção

Quer dizer que se o réu além de impugnar os factos articulados pelo autor, invocar
alguma exceção, deve destacar esta e nela expor factos essenciais que a fundamentam.

C) Segue-se então a conclusão – deve conter a formulação do respetivo pedido que pode ser
a absolvição da instância ou absolvição total do pedido.

Consequência da falta de requisitos


A falta de requisitos formais constitui fundamento para que a petição inicial seja
recusada pela secretaria, nos termos do art. 558º CPC.

A falta daqueles mesmos requisitos, que também devem constar da contestação, constitui
igualmente motivo para a recusa do seu recebimento por parte da secretaria. Estão, neste caso, os
requisitos referidos nas alíneas a), b), c), f) g) h) e i) do mencionado art. 558º CPC.

A recusa de recebimento pela secretaria pode levar o réu a reclamar para o juiz ou a
recorrer para a Relação – art. 559ºCPC.

Atendendo ao art. 572/c) - “quanto ao expor os factos essências – art. 5º CPC” – podemos
atender ao art. 552/1/d) CPC e fazer um paralelo para o art. 186/1/a) CPC, sendo que se a

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 40


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petição/contestação for inepta, é nulo todo o processo: art. 186/1 + 2º CPC e a consequência:
absolvição da instância: art. 577/b) CPC.

Modalidades de contestação
Modalidades – artigo 571º:

 Defesa por impugnação:


o Direta ou de facto – contradição (frontal, direta) pelo réu dos factos
articulados na petição inicial pelo autor – artigo 571º, nº2, 1ªparte. E,
portanto, o autor não pode obter o efeito jurídico que teve em vista
aquando da propositura da ação. Réu apresenta uma versão diferente do
autor. Os factos que não forem impugnados pelo réu serão considerados
como admitidos – artigo 574º, nº2.
 Exemplo: réu afirma que não comprou qualquer objeto ao autor
e, por isso, não lhe deve o preço.

o Indireta ou de direito – quando o réu afirma que os factos alegados pelo


autor não podem produzir o efeito jurídico pretendido por este – artigo
571º, nº2, 1ª parte, in fine. Pressupõe a aceitação dos factos alegados pelo
autor, ou pelo menos alguns deles, pois o réu apenas impugna a
qualificação jurídica fornecida pelo autor e os factos a ela ligados.
Oposição do réu para com o autor difere em relação ao regime jurídico e
não quanto à versão dos factos.
 Exemplo: réu aceita que celebrou com o autor o contrato alegado
por este, mas lhe atribuir diferente qualificação legal e dele
extrair distintas consequências jurídicas.

 Defesa por exceção: invocação de factos que obstam à apreciação do mérito da


ação ou que, servindo de causa impeditiva, modificativa ou extintiva do direito
invocado pelo autor, importam a improcedência, total ou parcial, do pedido –
artigo 571º, nº2, 2ª parte + 576º, nº3 – ou seja, o réu não nega a realidade dos
factos articulados pelo autor, nem contradiz o efeito jurídico que procura extrair
desses factos, o réu opõe-lhe contra factos.
o Réu alega ou a falta de um pressuposto processual, ou opõe uma exceção
perentória.

A defesa por exceção abrange quer a exceção dilatória quer a exceção perentória.

Este modo de defesa supõe a alegação de factos novos, e o réu pode fazê-lo seguindo uma
de duas vias:
a) O réu alega factos que obstam à apreciação do mérito da causa, invocando,
por exemplo, a litispendência ou a falta de determinado pressuposto processual
como, por exemplo, a ilegitimidade ou a incompetência do tribunal em razão da
matéria – exceções dilatórias.

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b) O réu alega factos que determinam a improcedência, total ou parcial do


pedido quando, por exemplo, o autor pede o pagamento de uma dívida e o réu,
sem negar a existência do direito de crédito do autor, alega que a dívida está
prescrita ou que já foi paga.
Em ambos os casos estamos perante defesa indireta, visto que, o réu não ataca diretamente
a causa de pedir, mas antes serve-se de um novo facto ou inutiliza a instância (exceção dilatória)
ou inutiliza o pedido (exceção perentória – absolvição total ou parcial do pedido).

Exceções perentórias:

 São factos impeditivos: os que obstam a que o direito do autor se tenha


validamente constituído. Consideram-se como tais os factos que constituem
motivos legais da invalidade do negócio jurídico, como por
o Exemplo: o erro, dolo ou coação
 São factos extintivos: os que tenham produzido a extinção do direito do autor,
depois de validamente formado.
o Exemplo: o pagamento, o perdão, a renúncia, a caducidade.
 São factos modificativos: os que alteram os termos do direito do autor como
acontece no caso de ter sido mudado o percurso de uma servidão de passagem
assim como no caso da concessão de moratória ao devedor (alterando assim a
data do vencimento da obrigação) etc.

Princípio da concentração da defesa:

O réu deve concentrar toda a sua defesa na contestação.

Neste sentido, dispõe o art. 573º, nº1 CPC que, toda a defesa deve ser deduzida na
contestação, excetuados os incidentes que a lei mande deduzir em separado.

Trata-se do princípio da concentração ou de preclusão – os factos que não forem


alegados dentro do prazo para a apresentação da defesa já não o poderão ser. Fica precludida a
sua invocação para além desse prazo: não poderá ser atendido os meios de defesa que o réu venha
a legar posteriormente e se tais factos viessem a ser considerados na fundamentação da decisão,
isso constituiria um vício da sentença que conduziria à sua nulidade por excesso de pronuncia
– art. 615º, nº1, al. d) in fine CPC.

Para não correr o risco de preclusão dos meios de defesa, o réu não poderá limitar – se a
invocar certa exceção dilatória, mas terá ainda de alegar todos os outros meios de defesa (direta
ou indireta) ao seu alcance. Na verdade, se a exceção viesse a ser improcedente, teria deixado
escapar a única oportunidade que lhe concede para defender.

O réu não pode limitar-se a arguir, por exemplo, a incompetência do tribunal ou a falta
de um qualquer pressuposto, mas deve impugnar também os factos alegados pelo autor, se for
caso disso, para evitar o risco de preclusão desse modo de defesa. Esta defesa, que se pode dizer
eventual, costuma iniciar-se com a expressão “à cautela….” Que é bem elucidativa quanto à
preocupação demonstrada.

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Na contestação – deve o réu individualizar a ação expor razões de facto e de direito


porque se opõe à pretensão do autor e expor os factos essenciais em que se baseiam as exceções
deduzidas especificando-as separadamente – art. 572º CPC.

Através do princípio da concentração pretende-se obrigar o réu a agir de boa-fé: com esta
mesma finalidade se obriga o réu a fazer nítida separação entre a defesa por impugnação e a
defesa por exceção – para que a contraparte não seja apanhada desprevenida.

Ónus de impugnação
Outro princípio da defesa que o réu deve observar na contestação é o que consiste no ónus
de impugnação dos factos articulados pelo autor – ao contestar deve o réu tomar posição definida
sobre os factos que constituem a causa de pedir invocada pelo autor – art. 574º, nº1 CPC.

Consideram-se admitidos por acordo os factos que não forem impugnados, salvo se
estiverem em oposição com defesa considerada no seu conjunto, se não for admissível a confissão
sobre eles ou se só puderem ser provados por documento escrito: a admissão dos factos
instrumentais pode ser afastada por prova posterior – art. 574/2º CPC, ainda os artigos art. 354/b)
e art. 364/1º CC.

Ou seja, a não impugnação dos factos essências articulados pelo o autor equivale a uma
confissão tácita. Significa, portanto, que tais factos não terão de ser objeto de prova, pois o réu
já os admitiu – isto é, concordou com o autor acerca da realidade desses mesmos factos.

Todavia, se o réu assume na contestação uma posição de defesa que, no seu conjunto, é
de oposição à versão apresentada pelo autor , falta a base da presunção de que existe tal
concordância acerca dos factos.

No que diz respeito aos factos instrumentais, se não forem impugnados também são
considerados admitidos por acordo, mas ainda poderão ser objeto de prova, o que quer dizer que
a sua admissão não se consolidou de modo definitivo.

A necessidade de impugnação estende-se aos factos essenciais alegados pela parte


contrária em qualquer outro articulado.

 Segundo dispõe o art. 587/1º CPC a falta de apresentação da réplica ou a falta


de impugnação de novos factos alegados pelo réu tem o efeito previsto no art.
574º CPC.

Desvios à regra que impõe o ónus de impugnação:

O art. 574/2º CPC ressalva duas situações em que apesar de não impugnados os factos
não são considerados como admitidos pelo réu o que equivale a dizer terão de ser objeto de prova
pelo autor:

 Quando os factos estão em oposição com a defesa considerada no seu conjunto;

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 43


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Considera-se suficiente a impugnação quando o réu, embora não tenha tomado posição
sobre cada um dos factos articulados pelo autor, apresentou uma narração que está em
contradição com a que foi exposta na petição inicial.

Exemplo – se o autor imputar ao réu a prática de certos atos quando este


se encontrava em determinado local, basta que o réu alegue que nunca lá esteve
para se considerarem impugnados todos os factos cuja imputação se tem de
considerar dependente da sua presença nesse local.

Estando a narração dos factos feita pelo réu na contestação em contradição com a que
consta da petição inicial, significa que o réu não admite a posição do autor.

Neste caso, embora, o réu não tenha impugnado cada um dos factos articulados pelo autor,
assume uma posição que é incompatível com a posição deste no processo. Quer dizer que, em vez
de impugnar cada um dos factos, impugna a versão do autor no seu conjunto.

 Quando não é admissível a confissão dos factos

Não podem considerar-se admitidos por acordo mesmo que não impugnados, os factos
sobre os quais não é admissível confissão. É o que se verifica com ao factos relativos a direitos
indisponíveis – art. 354/b) CC.

Não podendo tais factos ser confessados pela parte, não faria sentido que a falta de
impugnação pudesse conduzir à sua admissão por acordo, doutro modo através de não
impugnação as partes alcançariam um meio de disporem de direitos que a lei subtraiu à vontade
dos respetivos titulares.

Estando em causa direitos indisponíveis, os factos alegados pelo autor terão sempre de
ser objeto de prova.

 Quando os factos só puderem ser provados pro documento escrito

Também não se consideram admitidos por acordo os factos que embora não impugnados,
só possam ser provados por documento escrito.

Sendo exigido por lei que se faça prova, não poderá ser feita por outro meio e, portanto,
não pode ser pela admissão por acordo resultante de não impugnação do facto – art. 364/1 do CC

Exemplo: a prova do casamento só pode ser feita por meio de certidão


passada pelo registo civil, não pode ser substituída na ação de divórcio por acordo
das partes – quer dizer que se a autora alegar na petição inicial que é casada com
o réu e este nada disser a tal respeito na contestação, nem por isso se considera
provado o casamento entre ambos. A prova só poderá ser feita pro meio de
documento escrito.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 44


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Impugnação por negação


Se o réu declarar que não sabe se determinado facto é real, a declaração equivale a
confissão quando se trate de facto pessoal ou de que o réu deva ter conhecimento e equivale a
impugnação no caso contrário – art. 574º, nº3 CPC.

Na verdade o réu pode não estar em condições de tomar posição definida perante todos
os factos articulados na petição inicial. É o acontece quando ignora determinados factos em
relação aos quais é suposto que não deva ter conhecimento. Neste caso, não poderá nega-los,
embora também os não admita. Basta alegar que não sabe se tais factos são ou não verdadeiros
(reais, como refere o preceito). Tudo é diferente se o réu não podia desconhecer dos factos, neste
caso à declaração de desconhecimento não é atribuído o sentido de negação quando se trata de
factos pessoais ou de que o réu deva ter conhecimento.

O que o réu não pode ignorar um facto cuja prática lhe é imputada. O mesmo se passa
quanto a um facto pessoal: só pode nega-lo ou confessá-lo.

A declaração de que não sabe se o mesmo é verdadeiro não vale como impugnação.

Exemplo – se o autor alegar que a porta de sua casa foi destruída pelo réu
à machadada ou se alegar que o réu provocou um ferimento por lhe ter batido
com um pau, não vale como impugnação a afirmação do réu que desconhece se
o facto é ou não real. Esta afirmação não pode ser tida como impugnação.
Tratando-se de um facto pessoal, o réu só pode tomar uma de duas posições: ou
o confessa ou nega. Nunca poderá alegar que desconhece se o facto é ou não
verdadeiro.

Se o fizer esta posição vale como confissão de facto.

Situações de negação – quando se trata de um facto que nem é pessoal nem é daqueles
que o réu não podia ignorar.

O ónus de impugnação, isto é, o dever de tomar posição definida perante os factos não é
aplicável aos incapazes, ausentes e incertos, quando representados pelo MP ou por advogado
oficioso. Também não lhe é aplicável o preceituado no número anterior – art. 574/4º CPC.

Revelia
Análise da Prof. PCS | Juiz Jorge Pais do Amaral e Prof. Miguel Teixeira de sousa

 A composição da ação pode ser decisivamente influenciada pela omissão de um ato


processual – trata-se da revelia do réu, que consiste na abstenção definitiva de
contestação.

A revelia significa a omissão de um ato processual ou a falta de comparência em juízo –


artigo 7º, nº3 + artigo 385º, nº1 + artigo 594º, nº2.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 45


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Artigo 566º CPC – critica:

 As modalidades de citação não dão as garantias que davam nas garantias do


citando antigamente – as evoluções são sempre no sentido de mais celeridade: maior
eficácia: isto quer dizer o quê? Processos julgados mais depressa? Porque é que que
é que isto é relevante? Tudo para a revelia: o autor não pode esperar, tem de ter a
adjudicação do direito, a citação tem de ser cada vez mais simples.

Resulta do art. 566º CPC a possibilidade ocorrerem dois tipos de situações quando se
verifica que o réu não apresentou contestação:

1. Revelia absoluta: o juiz tem de controlar a citação, pois o réu além de não
contestar, não constituiu mandatário nem teve qualquer intervenção no
processo.

 Aqui neste caso, dado que o réu não se manifestou por qualquer forma,
torna-se necessário averiguar se foi regularmente citado. A completa
inércia do réu leva o tribunal a ter dúvidas quanto ao seu conhecimento
acerca da pendência da ação. Por isso, o tribunal deve verificar não só
se a citação faltou, mas também se foram observadas as formalidades
legais.

 Detetando qualquer irregularidade no ato da citação, o juiz ordenará que


esse ato seja repetido, se a citação tiver sido efetuada com observância
das regras previstas na lei, a falta de contestação provocará a revelia
absoluta do réu.

2. Revelia relativa: o juiz não tem de controlar a legalidade do ato de citação,


o réu embora não tendo contestado, constituiu mandatário, deduziu alguma
forma de oposição ou teve qualquer intervenção no processo.

 O réu neste caso evidenciou, pelo seu comportamento no processo, que


tomou conhecimento de que foi proposta a ação contra si. Embora não
tenha contestado a ação, juntou procuração passada a advogado, junto
documentos, escolheu domicílio ou interveio por qualquer outra forma
de processo.

Efeitos da revelia operante

Seja a revelia absoluta ou relativa os seus efeitos na composição da ação são os mesmos
– o efeito é o de se formar prova por ausência da contestação relativamente aos factos
formados pelo autor, forma-se prova por ausência – que prova é essa?

A) Confissão tácita dos factos: o Código diz-nos que é uma confissão ficta – é um meio de
prova, a confissão como meio de prova é aceitação de prova favorável à contraparte e
desfavorável para a outra – a questão na revelia: há uma ausência de declaração, sendo
que o que se discute é: aquilo é uma declaração de ciência ou de vontade? A Prof. PCS

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 46


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refere que: forma-se prova ou consideram se provados os factos por ausência de


contestação por parte do réu.

Sistematizando: se o réu não contestar, tendo sido ou devendo considerar-se citado


regularmente na sua própria pessoa ou tendo juntado procuração a mandatário judicial no prazo
da contestação, consideram-se confessados os factos articulados pelo autor | art. 567/1 CPC.

 Isto quer dizer que o réu é condenado?: NÃO! Basta que o autor não tenha invocado
os factos relevantes para a propositura da ação e decisão de mérito – a revelia pode
ser até mais inteligente que dimensiona: a mas a situação de haver confissão de factos
– leva-nos a dizer que há uma eficácia condenatória semi-plena:

Quando a revelia tem este efeito ELA DIZ-SE OPERANTE: quando tem como efeito a
confissão dos factos. A revelia, portanto, opera o efeito de serem tidos como confessados pelo o
réu os factos alargados pelo autor na petição inicial.

É chamada revelia operante. Significa isto que os factos constantes da petição inicial,
porque não controvertidos, isto é, porque não impugnados, são considerados admitidos por
acordo, e por esse motivo, já não necessitam de se provados.

Apesar de o réu não ter apresentado contestação, mesmo assim pode o juiz providenciar
pelo suprimento de qualquer irregularidade ou deficiência da petição inicial nos termos do art.
590º/1 CPC.

B) Simplificação do processo: a revelia operante provoca uma alteração na estrutura normal


do processo. Não tendo havido contestação, já não há lugar a mais articulados.

NÃO se realizará a AUDIÊNCIA PRÉVIA: art. 592/1/a) CPC.

Não tendo sido a ação sido contestada, não haverá necessidade de o juiz proferir despacho
destinado a identificar o objeto do litígio e a enunciar as questões essenciais de facto que
constituem o tema de prova, conforme resulta, a contrario sensu, do disposto no art. 596/1º CPC.

Será proferido despacho saneador destinado a conhecer imediatamente do mérito da


causa – art. 595/1/b) CPC.

C) Decisão de mérito: a sentença é proferida antecipadamente em relação aos casos em qje


foi apresentada constestação. Não há necessidade de realizar audiência de discussão e
julgamentom visto qye o sfactos alegados pelo autor se consideram confessados, e por
isso, não há necessidade de provas.

Na fundamentação da sentença serão tomados em consideração os factos provados, que


são a totalidade dos factos com interesse para a decisão, que foram alegados pelo autor – art.
607º/3º CPC, a esses factos será aplicado o direito.

A sentença não será necessariamente de condenação do réu no pedido. Casos há que,


apesar de se considerarem provados todos os factos que constituem a causa de pedir, é proferida

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 47


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sentença de absolvição do réu da instância pelo conhecimento oficioso de alguma exceção


dilatória.

O efeito cominatório derivado da revelia não pode obstar a que o tribunal cumpra o dever
de conhecer das exceções dilatórias, com lhe impõe o preceituado no art. 578º CPC.

 Por outro lado pode acontecer que os factos alegados pelo autor apesar de se considerarem
provados, por efeito da revelia, sejam insuficientes para julgar procedente a ação. Neste
caso o réu será absolvido do pedido.

 Se a resolução da causa revestir manifesta simplicidade , a sentença pode limitar-se à


parte decisória, precedida da necessária identificação das partes e da fundamentação
sumária do julgado – art. 567/3º CPC.

É deste modo, simplificada a atividade do juiz, em consequência do desinteresse


manifestado pelo juiz.

Efeitos da revelia inoperante

Casos de revelia INOPERANTE: uma outra situação: capacidade judiciária – podia


acontecer que ninguém fizesse nada: para além destes efeitos putativos todos e ainda há mais um,
a revelia que se encontra no menor é inoperante, a lei ainda protege o incapaz declarando
inconsequente do ponto de vista da ação a revelia.

Nem sempre se verificam os efeitos da revelia operante. Existem as eceções previstas no


art. 568º CPC. A revelia inoperante surge nos casos em que a falta de contestação não determina
que se considerem confessados os factos articulados pelo autor na petição inicial.

ART. 568º CPC:

a) QUANDO HAVENDO, VÁRIOS RÉUS, ALGUM DELES CONTESTAR, RELATIVAMENTE AOS


FACTOS QUE O CONTESTANTE IMPUGNAR;

Neste caso a defesa apresentada por um dos réus aproveita aos que não contestaram. Isto
acontece tanto no caso de litisconsórcio necessário como no litisconsórcio voluntário.

Considerou o legislador que não faria sentido que na mesma ação, os mesmos factos
pudessem ser considerados como não provados em relação a um dos réus, porque os impugnou e
como provados em relação aos restantes réus, que não ofereceram contestação.

Além disso não deve retirar-se aos réus a possibilidade de delegar em um deles o
encargo de contestar no interesse de todos.

Porém a revelia é afastada em relação aos factos impugnados pelo contestante. Quanto
aos factos não impugnados por este aplicar-se- à o disposto no art. 574/1 e 2º CPC. Por outras
palavras , o réu revel apenas beneficiará dos efeitos da contestação do co – réu em relação aos
factos pro este impugnados, como se compreende.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 48


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b) QUANDO O RÉU OU ALGUM DOS RÉUS FOR INCAPAZ, SITUANDO-SE A CAUSA NO ÂMBITO
DA INCAPACIDADE, OU HOUVER SIDO CITADO EDITALMENTE E PERMANEÇA NA SITUAÇÃO
DE REVELIA ABSOLUTA.

Esta exceção aproveita o incapaz quando a causa se situar no âmbito da incapacidade. A


lei procura , deste modo proteger os incapazes contra falta de contestação tal como o faz quando
ao ónus de impugnação, nos termos do disposto no art. 574/4º CPC.

Se a incapacidade diz respeito apenas à prática de certos factos, a exceção tem o âmbito
da incapacidade decretada.

A exceção aproveita também o réu que tenha sido citado editalmente, sempre que não
apresente contestação no prazo legal, não constitua advogado ou não tenha intervenção no
processo dentro do mesmo prazo, permanecendo, portanto, na situação de revelia absoluta
prevista no art. 566º CPC. – Quando a citação foi feita editalmente – art. 155/ e 6 – justifica-se a
inoperância da revelia por se ficar na dúvida sobre se o réu tomou ou não conhecimento da ação
proposta contra si. Na maior parte dos caos o réu não chega a ter conhecimento. Se porém,
constituir advogado ou tiver qualquer intervenção no processo dentro do prazo previsto para a
contestação já não beneficiará da exceção, porque se concluirá que tomou conhecimento da ação
a tempo de contestar.

c) QUANDO A VONTADE DAS PARTES FOR INEFICAZ, PARA PRODUZIR O EFEITO JURÍDICO
QUE PELA AÇÃO SE PRETENDE OBTER.

Nas ações de investigação de maternidade ou de paternidade, de impugnação de


paternidade, de anulação de casamento, de divórcio ou de separação de pessoas e bens os factos
articulados pelo autor não se consideram confessados mesmo que o réu regulamente citado na sua
própria pessoa, não deduza contestação, porque o que interessa é apurar por todos os meios
disponíveis a verdade dos factos.

Ratio: pretende pois a lei evitar que as partes consigam indiretamente um efeito que não
poderiam obter pela via de negócio jurídico.

d) QUANDO SE TRATE DE FACTOS PARA CUJA PROVA SE EXIJA DOCUMENTOS ESCRITO.

Exigindo a lei um documento escrito para prova de determinado facto, não pode a falta
de contestação ser considerada suficiente para que tal facto seja tido como provado – art. 364º
CC.

POR EXEMPLO: se a lei exige a celebração de escritura pública para o contrato invocado
pelo autor na petição inicial, a falta de contestação não pode conduzir à prova de que se realizou
esse mesmo contrato. Por outras palavras: a falta de contestação não é suficiente para que a
alegação feita pelo autor, quanto à realização do contrato, seja tida como prova que este se
realizou por escritura pública.

§ REVELIA PARCIAL: Para que HAJA COLIGAÇÃO: se a causa de pedir for a mesma, o
juiz não pode relativamente ao mesmo facto – com alguns réus em revelia – aos que estão revelia
aproveita ação dos que estão em revelia.

É a coerência decisória que impõe esta decisão: há uma instabilidade nas regras das
compartes: ainda que inoperante a revelia tem efeitos no processo: não na composição da ação
mas na tramitação processual: porque a existência da revelia inoperante implica que vai ter sido

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 49


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produzida prova, os factos estão sob necessidade de instrução, não há aquela fase saneamento
prévia, não existe audiência prévia.

Ainda que inoperante há efeitos no processo: na revelia operante o salto processual é


muito maior: porque não há INSTRUÇÃO: não quer dizer que não há contestação imediata:

Pouco importa a minha conduta porque estes factos nunca podem levar à consequência
que o autor pretende – esta é a conduta na composição da ação.

§ REVELIA DO AUTOR AO PEDIDO RECONVENCIONAL: já analisamos a revelia do réu:


agora iremos ver quando está em causa a revelia do autor ao pedido reconvencional: como não
admitimos esta figura: neste caso quando o autor não responde à reconvenção mas não é revelia:
temos de remeter para o art. 592/1/a) do CPC neste caso não queremos a revelia do autor, o que
ele faz é que não cumpre o ónus de impugnação especificada – assim sendo admitimos por acordo
os factos alegados pelo réu no pedido reconvencional.

Articulados supervenientes
São utilizados para a alegação de factos que, dada a superveniência, não puderam ser
invocados nos articulados normais – artigo 588º

Superveniência pode ser:

 Objetiva – quando os factos ocorrerem posteriormente ao momento de


apresentação do articulado da parte – artigo 588º, nº2, 1ª parte
 Subjetiva – quando a parte só tiver conhecimento de factos ocorridos depois de
findar o prazo de apresentação do articulado – artigo 588º, nº2, 2ª parte.

Através deste articulado pode ser invocado uma nova causa de pedir ou uma nova
exceção.

Prazo – o artigo 588º, nº3  o facto superveniente pode ocorrer ou ser conhecido da
parte ainda na fase dos articulados ou em momento posterior da tramitação da ação.

depois da apresentação do articulado superveniente e se o recebimento deste não for


recusado pela secretaria – artigo 558º, aplicado analogicamente – o juiz profere despacho sobre a
sua admissão, devendo rejeitá-lo ou aceitá-lo, nos termos do 588º, nº4:

 quando rejeite – pode ter por fundamento quer a culpa da parte na apresentação
extemporânea do articulado, quer a sua negligência grave no desconhecimento
do facto
 quando aceite – o tribunal ordena a notificação da parte contrária para que
responder no prazo de 10 dias – artigo 588º, nº4, 2ª parte.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 50


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Negócios processuais

Introdução Professora Paula Costa e Silva:

 Quanto ao pacto de jurisdição: o pacto é válido ou inválido, o juiz está vinculado


ao conteúdo do pacto para a determinação da competência, e encontram-se negócios
processuais que tem natureza de atos constitutivos e determinam o juiz a proferir uma
sentença homologatória, do ato constitutivo pelas partes.

Quanto à composição da ação:

- A distinção entre os atos das partes é fundamental – a distinção entre:

 Postulação – o juiz vai verificar se o sistema jurídico permite a


consequência consoante os elementos que o autor dá;
 Constituição – no ato constitutivo não vai ser preciso este processo.

O ato de postulação é o ato de pedir, e o ato de pedir desencadeia o exercício da função


jurisdicional, que se traduz em resolver um conflito.

A contraposição a estes atos que são a maioria no processo, vamos encontrar atos que
vinculam o juiz, que são os atos de constituição, neste caso eu não peço, neste caso eu submeto
para homologação, significa que o juiz não pode controlar se aquilo que está como solução diria
para o caso.

No ato constitutivo: significa que o juiz não vai exercer a função jurisdicional, pois foi
estipulado um, através do negócio processual: tanto no caso como o outro vai haver uma decisão
final: o conteúdo desta decisão forma-se como: quanto que no primeiro caso a decisão é uma
decisão de heteronomia, é o juiz que dita o que vai acontecer, no segundo caso a decisão hologa,
aquilo que resulta do efeito material de um negócio processual que eu celebrei.

E QUE NEGÓCIOS PROCESSUAIS SE PODEM CELEBRAR NO CONTEXTO DO PROCESSO:


ESTE PROBLEMA É MAIS AMPLO, ESTES NEGÓCIOS SÃO PARALELOS AOS NEGÓCIOS
PROCESSUAIS?

Quem propôs este distinção é um autor alemão que analisa o regime de vícios e da
interpretação e pergunta se se aplicam aos atos de postulação?. Esta distinção vem de um autor
Goldchmidt, Dez Procezess als Rechtslge. – O processo é uma cadeia ordenada de atos, e
existe sempre o conflito entre o réu e o autor – a processo é um estado expetativa (aquilo que
projeto para o conteúdo da decisão), qual é o a projeção ao conteúdo provável da decisão?.

O Processo é comunicação – tem de haver persuasão do tribunal: o contraditório é a


hipótese que eu dou à parte a possibilidade de persuadir a outra parte.

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Na postulação: quando apresento uma testemunha – estou a persuadir, a qualificação do


ato não passa no primeiro critério, é que o ato de apresentar a testemunha ou um documento, não
é um ato postulativo, porque não está a pedir, está a persuadir, mas entra nos atos de postulação.

Ainda quanto aos atos constitutivos e postulativos (postula, postulatum – peço, rogo,
requeiro) postular é sinónimo de pedir – é importante o ato de postulação provoca o exercício
da função jurisdicional, aquilo que se pretende só é possível com a decisão, é o juiz que nos atribui
o direito. “Dá-me os factos que eu dou – te o direito” a parte pede, e põe em marcha o poder
jurisdicional, mas depende do conteúdo da decisão , o que significa que a após a postulação segue-
se o exercício da função jurisdicional, o juiz vai decidir, há sempre decisão, nada disso acontece
no ato constitutivo: onde se suprime o exercício da função jurisdicional: determinando o juiz a
absolver o ato de extinção da ação, absorvendo esse ato da autonomia privada.

Ora o juiz Condena ou Absolve? – é isto que irá estar na sentença, tenho de arranjar uma
fundamentação para dizer que cada um destes conteúdos vai ser ditado pelo negócio processual,
os pactos de competência não têm este impacto.

§ NEGÓCIOS PROCESSUAIS: incidem sobre o pedido, aquilo que se pediu na postulação,


cruzamento entre o postulativo e o constitutivo, o juiz tem de retirar as consequências que o direito
atribui ao negócio revelado, se o autor desiste do pedido, o tribunal não tem alternativa, absolve
o réu do pedido, o efeito é AUTOMÁTICO (PREVALECE O PRINCÍPIO DO DISPOSITIVO).

 Ora os negócios processuais são atos processuais de carácter negocial que


constituem, modicam, ou extinguem uma situação processual. Podem ser atendendo
ao momento da sua conclusão:

I. PREPARATÓRIOS: que são concluídos antes da propositura da ação (ex: pacto de


jurisdição);
II. INTERLOCUTÓRIOS: são realizados durante a pendência da causa;

Confissão

Qual é a diferença entre confessar um facto e um pedido?

Exemplo:

A é do Sporting e odeia pessoas do Benfica. A propõe uma ação contra B que é


Benfiquista e diz:

1. B É DO BENFICA;
2. EU ODEIO PESSOAS DO BENFICA;
3. ESTAR NA PRESENÇA DE PESSOAS DO BENFICA, CAUSA-ME DANOS, PORTANTO, EU QUERO
UMA INDEMINIZAÇÃO DE B.

CONFESSAR UM FACTO: significa B dizer que é verdade que é do Benfica. Confessar


todos os factos era se B dissesse que é do Benfica, que A é odeia pessoas do Benfica, e que, de
facto, A tem danos quando está na sua presença.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 52


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 Porque a confissão torna indiscutível um facto que era potencialmente controvertido,


porque a confissão é a declaração que uma parte faz na verdade de um facto
desfavorável , a confissão é um meio de prova assim sendo a natureza dessa confissão
como sendo negocial é muito discutível, a declaração que está em causa é uma declaração
de ciência, até na natureza eles não se aproximam.

CONFESSAR O PEDIDO: Era B dizer que A tem direito à indeminização;

SERÁ QUE A CONFISSÃO DE TODOS OS FACTOS IMPLICA A CONFISSÃO DO PEDIDO?

Não!

Exemplo: continuando com o exemplo anterior: O B confessar todos os factos não


significa que B esteja a dizer que vai pagar uma indeminização a A. B pode confessar todos os
factos na esperança de que o tribunal tenha bom sensu e saiba aplicar a lei, saiba que B não está
a violar nenhum direito subjetivo, e portanto não há direito de indeminização nos termos do art.
483º CC. O facto de se confessar todos os factos, não significa que isso não conduza à
condenação do réu no pedido.

Se a confissão do pedido equivale ao réu dizer “ o autor tem direito àquilo que está a
pedir” – a decisão do juiz será a condenação do réu no pedido.

Em sede de sistematização podemos dizer o seguinte:

§ A CONFISSÃO DO PEDIDO:

1. É um negócio unilateral pela qual o réu reconhece o fundamento do pedido


formulado pelo autor. Esta pode ser total ou parcial consoante o âmbito do
reconhecimento realizado pelo réu. – art. 283/1º CPC.

2. A confissão do pedido não pode ser submetida a qualquer condição. Mas quanto à
confissão de um pedido subsidiário: art. 554/1º CPC – deve entender-se que
normalmente ela só vale para o caso do pedido principal vir a improdecer.

3. PROF. MTS: vem dizer que em termos de interpretação de negócio jurídico: devemos
entender que a confissão de um pedido depois da condenação do réu, equivale ao próprio
dizer “eu estou satisfeito com a sentença, não vou recorrer”, diz o professor que o réu não
deve ainda assim, confessar sempre que esses atos reproduzam o conteúdo da decisão
proferida, justificando com a falta de interesse processual.

Desistência da Instância

 É um negócio unilateral através do qual o autor renuncia à obtenção da tutela


jurisdicional requerida.

Esta desistência não marca qualquer posição do autor quanto à situação jurídica por ele
alegada em juízo, significa apenas que essa parte desiste de procurar tutelar essa situação no
processo pendente.

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A desistência da instância apenas faz cessar o processo pendente – art. 285/2º CPC:
isto é extingue a instância sem nada definir quanto à situação jurídica tutelada. Importa
assim tutelar os interesses do réu quanto à expetativa de obtenção de uma decisão de mérito
favorável. É isso que justifica que a eficácia da desistência da instância fique dependente de
aceitação do réu – art. 286/1º CPC. Essa concordância deve ser comunicada pelo réu ao tribunal.
O réu pode ter interesse que a ação seja resolvida.

EXCEÇÃO: se o réu não contestou, se tivesse em revelia: pode sempre haver desistência
da instância mesmo sem consentimento, até à sentença podemos sempre dizer que o autor pode
desistir da instância sem consentimento do réu (quando este não contesta), porque se o réu tivesse
alguma coisa a dizer, tinha contestado.

É por isso que do lado do réu é sempre preciso consentimento da desistência da


instância.

 ORA: Na desistência da instância, a desistência da instância também é um negócio


processual (extingue-se a instância sem decisão de mérito), o que significa que não há
condenação nem absolvição.
 Essa diferença interessa, se aqui não há composição da ação, os autores podem intentar o
mesmo pedido numa outra ação, não impede a repetição do julgamento da ação.

Na desistência do pedido não é assim, não pode haver repetição, o Prof. MTS entende
que na desistência do pedido assim como na confissão do pedido se atinge o DIREITO MATERIAL:
desistir do direito que invoca contra o réu, a PCS não sabemos se o direito existe ou não existe
para isso é que servia o Processo, até esse momento movimentamos dentro do princípio da
aparência, extraprocessual , a Prof. PCS refere que o que está em causa nestes negócios é a
supressão da faculdade da accionalidade da pretensão – não se pode mais acionar esta
pretensão – não pode confundir a procedência ou a improcedência, não há juízo de concordância
prática.

MTS – há um apoio na letra legal, mas a PCS diz que esta é a formulação mais correta.

I. Porque é que depois da sentença ter sido favorável ao réu, o autor desistir da
instancia é abuso?

1- Primeiro porque a contestação não é um dever, mas sim um ónus, e permitir isso teria
implicações práticas muito relevantes especialmente de cariz pecuniário.

II. Se a desistência da instância depende da aceitação do réu, pode-se dizer que o réu
ao aceitar a desistência esta sempre a renunciar ao seu pedido reconvencional?

Segundo o Prof. MTS não podemos ler a aceitação do réu da desistência da instância
como renúncia ao pedido reconvencional: só podemos retirar da aceitação do réu uma renuncia
ao seu direito reconvencional nos casos em que o pedido reconvencional está na dependência do
pedido principal: Ai é óbvio se o pedido reconvencional depende do pedido principal, o réu aceita

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a desistência está obviamente a renunciar ao pedido reconvencional: se os dois pedidos forem


completamente autónomos, diz o Prof. MTS que não se pode ver na aceitação da desistência uma
desistência do pedido reconvencional.

A desistência da instância não cessa o direito do autor de voltar a propor a ação


atrvés da aplicação do art. 285/2º CPC – os efeitos retroagem até ao início.

§ DESISTÊNCIA DO PEDIDO:

É um negócio unilateral atrvés do qual o autor reconhece a falta de fundamento do pedido


formulado. Deferentemente da desistência da instância a desistência do pedido representa o
reconhecimento pelo autor de que a situação jurídica alegada não existe ou extinguiu-se.

A desistência do pedido pode ser total ou parcial – art. 283/1º CPC.

Art. 286/2º CPC: A desistência do pedido é livre: mas mantém-se o pedido


reconvencional a não ser que este fosse dependente do pedido formulado para o autor; Na
desistência do pedido não pode o autor voltar a propor uma nova ação: art. 285/1º CPC.

PORQUE É QUE A DESISTÊNCIA DO PEDIDO NÃO EXIGE ACEITAÇÃO DO RÉU, MAS A


DESISTÊNCIA DA INSTÂNCIA EXIGE?

 A desistência do pedido é sempre favorável ao réu: o réu ganha sempre mais com a
desistência do pedido do que como estaria se o autor não tivesse desistido do pedido. A
desistência da instância , o réu até pode ter interesse que aquele problema seja resolvido
ou até que vai ganhar.

Transação

Não está prevista no CPC , mas no CC | art. 1248/1 – nos contratos em especial, a
transação: é um negócio processual que é celebrado com vista a por termo a um litigio, que tem
como característico o facto das partes se comporem através de reciprocas vantagens: dizem ao
juiz as partes: o réu fica a dever 799 ao autor, o autor fica de entregar x ao réu, o juiz vai ter de
condenar e absolver por referencia a postulação originaria na ação.

As partes determinam um litígio mediante recíprocas concessões, as concessões podem


envolver extinção, modificação dos direitos no direito controvertido. Os negócios processuais
são atos constitutivos, o juiz fica vinculado ao conteúdo daquilo que foi objeto sob revertido à
sua apreciação.

Sede das matérias: negócios como confissão de pedido, desistência a ação, e transação e
que efeitos têm estes negócios no processo? O art. 283 e ss CPC – rege o principio da autonomia
privada , e tem os efeitos dos diferentes negócios, a regra mais relevante é a que esta no art. 285
CPC, que distingue a desistência do pedido (porque se pronuncia sobre o mérito impede a
reiteração), a desistência da ação (impede a prossecução da isntância – não versa sobre o mérito).

OUTRA REGRA:

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Analisando o art. 291º CPC que está relacionado um dos problemas mais
interessantes dentro dos negócios processuais: a aplicação das causas de invalidade dos
negócios jurídicos as estes negócios processuais: tenho de atacar a própria decisão que
homologou.

O problema é que a este negócio processual segue uma decisão, se o negócio deixa de
existir, a decisão é afetada através dos negócios processuais: qual é o verdadeiro elemento da
caixa da pandora: não sabemos se as situações jurídicas sobre as quais recai o negócio processual:
se existem ou não estas situações: o tribunal não versa sobre a sua existência: desistindo do
pedido o autor: existia ou não as situações jurídicas: destruímos a decisão e parece que que
voltamos ao estado de dúvida e de incerteza: continuamos sem saber se aquelas situações
materiais efetivamente existiram ou não.

Intercalar: a parte não revela ao tribunal as negociações, mas a transação não são as
negociações mais sim o resultado final: temos de verificar se há legitimidade para a transacção
e verificar que aquele direito em concreto que é suscetível de negócio processual: exemplo: não
posso renunciar o direito a alimentos, instaurada uma ação de alimentos: posso renunciar os
alimentos jã passados, mas não pode renunciar ao direito de prestação de alimentos, porque o
direito a alimentos não é suscetível a negócio processual.

A AUTO COMPOSIÇÃO SUPÕE SEMPRE: esta aferição analítica – neste sentido eu tenho
de perguntar se aquele direito admite a intervenção da autonomia privada, o direito ao
divórcio não admitia a confissão de pedido , porque não havia na altura divórcio por mútuo
consentimento. Era inegociável? Não, porque havia um regime jurídico do perdão: a desistência
do pedido era admissível: é importante porque infelizmente que só são arbitráveis as situações
jurídicas disponíveis: esta é uma conceção sintética, e não analítica, temos de olhar para o caso
concreto nestes termos. Pode divorciar-me pelo tribunal arbitral? Não porque estamos perante
direitos pessoais, e estes direito não podem ser suscetíveis de litigância no tribunal arbitral, mas
uma partilha já poderá ser litigado, porque estamos perante direitos patrimoniais.

É preciso ter uma visão analítica: e não sintética. Temos de interpretar pretensão a
pretensão e não o direito ou regime jurídico na globalidade.

Mediação

Noção: permitir que as partes afastadas da intervenção de um tribunal, de um decisor,


sejam através da intervenção de um terceiro mediador, levadas a conseguirem compor-se. Um
exemplo: campo de ampliação penal – bens iminentemente pessoais: valor das coimas aplicadas
aos administradores dos bens e a inibição do exercício de administração: se pensarem que a
maioria dos criem pela pena que é aplicada permite a cumulação em multa: há uma décalage
imensa: o tipo de crime que vai a tribunal – a punibilidade e a discrepância na aplicação das
multas.

Por exemplo os crimes de autodeterminação sexual: compreendeu-se que a vítima


precisa para a sua recuperação : ela tem de ter domínio sobre o agente.

A aplicação da pena no processo criminal não consegue restaurar psicologicamente a


vítima: recupera de uma lesão de encontrar uma situação se ela achar que tem poderes sobre o

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 56


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seu agressor: em concurso com o processo crime , tenha de haver um processo de mediação. Além
da vantagem do processo criminal em si: tem a possibilidade de restaurar a estado da vítima.

Conflitos de vizinhança: o vizinho toca piano até às 21:30h: e o vizinho de baixo já não
suporta o ruído: a intervenção de terceiros é importante para haver mediação, e assim forma-se
uma autocomposição da resolução de litígios.

O Processo Civil criou uma figura intraprocessual: o juiz apercebendo-se que o conflito
está numa tabela de conflitos em que as pessoas se conseguem autocompor: consegue-se abdicar
do processo judicial para a mediação.

Havia uma alternativa antes da mediação: o juiz tenta aproximar as pessoas e conciliá-
las: não contamos ao juiz tudo aquilo que contamos a terceiro que nos pode ajudar a decidi-la mas
que pode ajudar que a decisão favorável: logo se elas se não conseguirem conciliar o juiz vai ter
de decidir: portanto o juiz vai tender afeiçoar o que ouviu na face da conciliação, portanto o juiz
pro vezes prefere remeter para a fase de mediação: o juiz não sabe o que aconteceu na face da
mediação.

O CPC integra a mediação na audiência prévia, mas aqui há um registo dos factos pelos
quais as partes não se conciliaram, neste sentido o juiz consegue assegurar melhor o princípio da
imparcialidade com a mediação.

Em princípio as valências necessárias escapam ás competências técnicas do juiz: os


conflitos familiares são absolutamente evidentes, a regulação da responsabilidade parental:
chegar ao conflito não é fácel: nem sempre é o jurista que o consegue, é o técnico que melhor
colocado está. Há uma visão mirabolista da mediação: os vários diplomas que recaiem da
isntitucionalizam deste meio: é muito barato. O processo de mediação na Alemanha é mais caro,
porque é mais eficiente, porque causa dos técnicos.

A estatísticas revelam que há muito baixas taxas de sucesso na mediação, estamos muito
baixas taxas porque os recursos são extremamente baixas: sistema suíço de justiça: a Suiça
apostou fortemente na mediação, antes de chegar a tribunal judicial têm de ser subtidas a um
processo de mediação, de entre os cplitos que não podem começar da mediação, as taxas de
sucesso são altíssimas: criou-se uma verdadeira justiça de paz. Nem todos os tipos de conflitos
conseguem recorrer ao processo de mediação. Há zonas em que a mediação não funciona.

A prova
NOÇÃO: A PROVA É A ATIVIDADE REALIZADA EM PROCESSO TENDENTE À FORMAÇÃO DA
CONVICÇÃO DO TRIBUNAL SOBRE A REALIDADE DOS FACTOS CONTROVERTIDOS. ART. 341ºCC,
isto é a atividade que visa formar na mente do julgador a convicção que resolve as dúvidas sobre
os factos carecidos de demonstração. Os meios de prova são os elementos que fornecem a
informação que permite a formação da convicção do tribunal sobre a realidade dos factos.

INTRODUÇÃO/PROBLEMÁTICA: Prof. PCS:

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 57


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 Quem interroga as testemunhas nas séries da televisão? Vejamos numa sala de tortura,
o banco para o interrogatório pertence ao médico: sendo que o juiz é o titular o
interrogatório: e a qualquer momento o juiz avoca a testemunha, o juiz é o destinatário
da prova no sistema romano-germânico.
 No sistema anglo-saxónico: o juiz é a parte passiva, os advogados é que interpelam as
testemunhas.

E se o direito aplicado à causa é o direito inglês? As regras processuais – e probatórias


podem pôr em causa a aceitação da decisão num determinado Estado, já aconteceu na Suíça,
porque o sistema federal não aceita as regras probatórias anglo-saxónicas.

A prova é uma avaliação a alguma coisa que reconstitui o que se passou, e como é a
avaliação daquilo que se tem passado? O problema é que não conseguimos híper racionalizar
estes juízos.

Aqui há um espaço de subjetividade: outro domínio: há zonas em que prova é diabólica,


sem prova não há decisão que possa ser favorável: como é que o direito lida quando a prova é
diabólica? É que vamos descobrir.

FUNÇÃO: a prova tem por função transformar atrvés de elementos racionais e


controláveis a incerteza, sobre um facto numa decisão sobre a veracidade ou falsidade. Como os
factos são alegados em juízo, a função da prova é a demonstração – ou melhor, a demonstração
convincente, de uma afirmação de facto. Dado que a verdade desta afirmação depende da sua
correspondente realidade ou seja da sua corroboração ou falsificação dos factos, a prova de uma
afirmação de facto pressupõe a formação da convicção do julgador sobre a correspondência
entre o afirmado e o acontecido.

Para a demonstração de verdade de um facto pode ser necessário utilizar certas regras
técnicas ou científicas. Se estas regras não forem de conhecimento comum e não integrarem a
experiência normal da vida, a parte e o tribunal podem socorrer-se da prova pericial – art. 358º
CC.

Esta prova destina-se a realizar a prova atrvés de pessoas com especiais conhecimentos
técnicos e científicos, que são os peritos.

Para efeitos de prova: considera-se qualquer facto jurídico isto é qualquer facto que
integra uma previsão legal. Neste sentido podem constituir objeto de prova, enquanto factos
jurídicos, não só os acontecimentos suscetíveis de serem determinados no tempo e no espaço (que
são os factos materiais), mas também os factos hipotéticos (como a situação do lesado se não
tivesse existido a lesão), e ainda estados anímicos (que constituem estados psíquicos) relativos
por exemplo à vontade (com a intenção do agente), ao conhecimento (como situação de erro do
declarante) e ao sentimento (com a amizade ou a cólera).

O OBJETO DA PROVA: pode recair sobre factos positivos (que são aqueles que se referem
a uma ação ou a algo que aconteceu) ou negativos ( que são relativos a uma omissão ou a algo
que não sucedeu). A prova também pode incidir sobre um facto simples, (como por exemplo a
velocidade do automóvel causador do acidente), mas frequentemente há a necessidade de provar
um facto complexo (como por exemplo a comunhão duradoura de vida em condições análogas às
dos cônjuges referida noa rt. 1871/1/c) CC).

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DIREITO PROBATÓRIO:

1. Direito probatório material:

A prova é regulada pelo direito probatório, que pode ser material ou formal. O direito
probatório material respeita à delimitação do objeto da prova, à repartição do ónus da prova, à
admissibilidade dos meios de prova e aos critérios de avaliação da prova.

Segundo uma tradição herdada da pandectista oitocentista, que se fundamenta na


importância dps aspetos regulados pelo direito probatório material para o exercício dos direitos
subjetivos aquele direito probatório encontra-se regulado na legislação civil : art. 341º a 396º CC,
embora a ele se refiram também alguns preceitos da legislação processual;

Meios de prova:
1. TÍPICOS/ATÍPICOS: consoante se encontrem previstos na lei ou dela não sejam
conhecidos, São os seguintes os meios de prova típicos:
a) A CONFISSÃO: ART. 352º A 361º CC;
b) OS DOCUMENTOS: ART. 362 A 387º CC;
c) A PERITAGEM: ART. 388 A 389º CC;
d) INSPEÇÃO JUDICIAL: ART. 390º CC + 391º.
e) AS TESTEMUNHAS ART. 292 A 396º CC
f) E AINDA A APRESENTAÇÃO DE COISAS.

Os meios de prova atípicos: são aqueles que não estão previstos na lei o que podem ser
utilizados sem observância do procedimento probatório: os poderes inquisitórios do tribunal
permitem a utilização da prova atípica.

Nos termos do art. 345/2º CC as partes podem admitir um meio de prova diverso dos
legais quando o objeto do processo não for um direito indisponível e não haja violação de
razões de ordem pública;

 PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA E CONSTITUENDA;

Alguns meios de prova preexistem em relação ao processo em que vão ser utilizados: é o
caso de por exemplo, do documento que titula a divida cujo o pagamento é requerido pelo autor
na respetiva ação de cumprimento;

Outros meios de prova forma-se no próprio processo pendente: pense-se por exemplo, na
prova testemunhal.

As provas que preexistem à sua utilização em processo chamam-se pré-constituídas,


aquelas que só se formam no decurso da ação denominam-se provas constituendas; art. 415/2º
CPC.

2. Direito probatório formal:

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 59


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O direito probatório formal refere-se à apresentação e ao modo de produção da prova em


juízo, isto é ao procedimento probatório. Este procedimento probatório.

Este procedimento regula a utilização dos meios prova admissíveis para a demonstração
da realidade dos factos. O regime do direito probatório formal consta da legislação
processual: art. 423º a 526º CPC.

 MODALIDADES DE PROVA:

1. PROVA DIRETA;

A prova pode ser direta ou indireta. A prova direta é aquela em que é demonstrado o
próprio objeto da prova (facto x controvertido e deve ser provado, e a prova incide sobre o facto
x).
2. PROVA INDIRETA;

A prova indireta é aquela em que o thema probandum é indiretamente provado, isto é,


demonstrado através da mediação de um outro facto (o facto y é controvertido e deve ser provado,
a prova recai sobre o facto z, do qual se infere o facto y).

A PROVA INDIRETA é realizada através de factos instrumentais e apresenta duas


modalidades:
1. Prova POR PRESUNÇÕES LEGAIS: que é aquela em que o facto instrumental constitui base
de presunção legal;
2. A prova prima facie: prova indiciária ou de primeira aparência, que é aquela em que o
facto provado permite deduzir o objeto da prova atrvés do curso típico dos
acontecimentos.

PRESUNÇÕES LEGAIS:

a) ILIDÍVEIS: presunções iuris tantum estas admitem prova em contrário do facto


presumido.
b) INILIDÍVEIS: estas excluem mesmo a prova em contrário de um facto. – art. 350/2º
CC.

As presunções permitem a inferência de um facto de um facto de um outro facto (que é o


facto instrumental provado – art. 349ºCC. A operação que conduz do facto provado ao facto
presumido é apenas gnoseológica: o juiz é levado a inferir para a lei um facto desconhecido de
um outro que é conhecido.

É por isso que as presunções legais não são meios de prova, dado que não formam a
convicção sobre a realidade de um facto, mas antes meios de dispensa de prova (do facto
presumido).

O fundamento das presunções legais, encontra-se na normalidade das coisas, isto é «, no


que acontece normalmente. Torne-se como exemplo a presunção da titularidade do
correspondente direito real com base na posse de uma coisa é normalmente titilar de um direito
real sobre ela que se estabelece a presunção daquela titularidade.

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Quando funciona uma presunção legal, a parte invoca um certo facto e prova um facto
diferente, que é um facto instrumental em relação àquele facto. Ou seja, a parte pode invocar o
facto presumido e provar o facto instrumental , porque deste se infere, por presunção legal – art.
349º + 350º CC, aquele facto presumido.

 PROVA PRIMA FACIE:

A prova prima facie baseia-se no curso típico dos acontecimentos e assenta nas
presunções naturais ou judiciais – art. 349º e 351º CC é do que segundo a experiência da vida
acontece normalmente que é possível inferir a veracidade do facto que deve ser provado. A prova
de primeira aparência assenta, por isso, em regras ou máximas de experiência que permitem um
“juízo crítico incidente sobre factos conhecidos”

Embora as presunções naturais não sejam, dado o seu casuísmo, legalmente catalogáveis,
a lei pode tipificar algumas presunções, que, por serem ilidíveis mediante contraprova (e não
atrvés da prova em contrário: art. 350/2ºCC) podem ser qualificadas como presunções naturais: é
o que se encontra no art. 1871/2ºCC, quanto às presunções de paternidade dado que este preceito
admite que uma contraprova qualificada (porque se exige que a dúvida seja séria) é suficiente
para ilidir a presunção a paternidade.
 Esta prova é normalmente utilizada especialmente para a demonstração da relação
entre uma causa e um efeito (ou entre um efeito conhecido e a sua possível causa) e
para a prova da conduta negligente. Assim por exemplo a circunstância de o incêndio ter
começado junto de uma instalação elétrica que se encontrava em mau estado faz presumir
que ele se deveu a um curto-circuito, se o autor da ação de indeminização por acidente
de viação invocar o excesso de velocidade da contraparte como causa do acidente, pode
provar esse excesso pelo comprimento do rasto dos pneus deixado na via pública durante
a travagem, se um mineiro sofre de silicose a experiência comum permite estabelecer
uma conexão entre a atividade profissional e esta doença, se o automóvel que provocou
o acidente circulava de noite sem luzes, pode inferir-se que houve negligência do
condutor.
 A prova prima facie pressupõe uma dupla operação, antes do mais o tribunal deve
verificar a adequação causal entre o facto instrumental e o objeto da prova, isto é deve
certificar-se da aptidão daquele facto para a inferência do facto que constituiu o thema
probandum. Depois, caso admita essa adequação, deve apreciar e avaliar, nos termos
gerais, a prova realizada quanto ao facto instrumental.

As presunções naturais não podem ser utilizadas nos casos em que não é admitida a
prova testemunhal: art. 351º CC. Com esta remissão – para os art. 393º e 395º CC pretende
excluir -se a utilização daquelas presunções para a prova de factos que só podem ser provados
documentalmente ou de factos contrários a outros que se encontram plenamente provados pro
documento ou por outro meio com força probatória plena. – Como por exemplo a confissão
judicial escrita ao abrigo do art. 358/1º CC.

 GRAUS DE PROVA;

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§ NOÇÃO:

A finalidade da prova é a formação da convicção do tribunal sobre a realidade de um


facto. Segundo o grau de convicção exigida pelo tribunal – isto é, segundo a exigência respeitante
á fundamentação desta convicção – pode distinguir-se a prova stricto sensu, a mera justificação
e o princípio de prova;

£ EQUIVALÊNCIA DO MEIO:

O grau de prova não depende dos meios de prova utilizados pelas partes, pois que
qualquer destes meios é suscetível de fundamentar qualquer convicção do tribunal. Assim por
exemplo a prova pericial é apta a formar no espírito do julgador uma convicção tão firme como a
prova documental;

Os meios de prova regem-se pelo princípio da equivalência ou substituição mútua.

§ MOMENTO DA RELEVÂNCIA:

O grau de prova estabelece a medida da convicção que é necessária para que o tribunal
possa julgar determinado facto como provado. Ele releva apenas depois da produção e da
apreciação da prova: só após o tribunal considerar que a parte cumpriu o ónus da prova
relativamente a certo facto é que importa verificar se essa prova é suficiente para que o facto
possa ser dado como provado.

Prova stricto sensu

É a que se fundamenta na convicção da realidade do facto – exige uma convicção que não é
compatível com a admissão de que a realidade pode ser distinta daquela que se considera provada.

Fundamento

Esta prova não impede que o tribunal forme a sua convicção com base na probabilidade
estatística da realidade do facto. O que é relevante é que o grau de convicção permita excluir,
segundo o padrao que na vida prática é tomado como certeza, outra configuração da realidade que
foi considerada provada.

A prova de um facto com fundamento numa regra de probabilidade não implica que o tribunal
considera que esse facto é provável, mas que o facto é verdadeiro – emvez de uma afirmação do
tipo “o facto x é provável”, o que é decidido pelo tribunal é que o facto x está provado – o que é
equivalente a ser verdadeiro.

Portanto, a probabilidade fundamenta a apreciação da prova, mas não é transposta para o facto
dado como provado. Um fato considerado provado com base numa regra de probabilidade é um
facto verdadeiro e não um facto provavelmente verdeiro.

Ex: a realização de um teste de ADN permite estabelecer a filiação com alta probabilidade,
mas o tribunal declara que o autor é filho do réu ou da ré – e não que o é provavelmente.

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São vários os preceitos que se referem a uma prova que, apesar de se basear numa
probabilidade, não admite dúvida do tribunal – ex: 217/1 CC + 1839/2

Mera justificação

Basta-se com a demonstração de que o facto é verosímil ou plausível, ou seja, só exige que o
tribunal forme a convicção da probabilidade do facto.

Enquanto a prova stricto sensu exige uma convicção sobre a realidade do facto, a mera
justificaçao requer apenas o convencimento da plausibilidade do facto – o que é plausível é
provável com uma certa margem de incerteza ou dúvida, pelo que a mera justificação exige do
tribunal, não uma convicção sobre a realidade do facto, mas sobre a sua probabilidade – a
probababilidade aqui é o próprio quid sobre o qual incide a convicção do tribunal.

Admissibilidade

A mera justificação só é suficiente nas situações previstas na lei – porque é um grau de prova
menos exigente.

É o que acontece, atendendo à celeridade exigida para o seu decretamento e ao seu caráter
provisório, nas providências cautelares que apenas exigem uma probabilidade séria de existência
do direito – 387/1 + 1884/2 CC. É também o que se encontra no reconhecimento pelo tribunal da
averiguação oficioso da viabilidade da açao de investigação da maternidade ou paternidade, no
renascimento da presunção de apternidade através da prova de que no período legal da conceçao
existiram relações entre os cônjuges que tornam verosímil a paternidade do marido (1831/1 CC).

A mera justificação assenta numa certa probabilidade sobre a verificação de um acontecimento


e, por esse motivo, encontra-se frequenteente prevista quando é exigida ao tribunal uma certa
prognose sobre um acontecimento futuro – ex: providencias cautelares quanto à probabilidade
séria do reconhecimento do direito na respetiva açao

Princípio de prova

O começo da prova é o menor grau de prova – vale apenas como fator corroborante para a
prova de um facto.

Admissibilidade

O princípio da prova não é suficiente para estabelecer qualquer proa, mas pode coadjuvar, em
conjugação com outros elementos, a prova de um facto.

Ex: quando o regime de produção de prova no processo onde a prova foi realizada oferecer às
partes garantias inferiores às do processo onde se pretende invocar essa prova, os depoimentos e

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perícias produzidos naquele primeiro processo só valem no segundo como princípio de prova –
421.º.

Ex2: a oposição à execução suspende o processo de execução quando o opoente tiver


impugnado a assinatura do documento particular que serve de título executivo e tiver apresentado
um documento que constitui princípio de prova da não genuidade dessa assinatura – 733.º.

Deve também valorar-se como princípio de prova a recusa da parte em prestar depoimento ou
esclarecimentos – 357/2 CC + 418.º. Esta conduta é livremente apreciada pelo tribunal, mas não
é suficiente para determinar, por si, qualquer resultado probatório.

Inadmissibilidade

Por vezes a lei exclui o próprio vaor de princípio de prova – 1603/1 CC estabelece que a prova
da maternidade ou paternidade realizada no processo preliminar de publicação não vale sequer
como começo de prova em açao de investigação de maternidade ou paternidade; os arts 1811 e
1868 dispoem que as declarações prestadas durante o processo de averiguação oficosa da
maternidade ou paternidade não constituem sequer princípio de prova em qualquer outra açao.

§ PROFESSORA PAULA COSTA E SILVA:

Quanto aos graus de prova, de facto dizem respeito aos graus de convencimento do juiz–
a lei faz depender possibilidade de o juiz decidir de forma legitima ou lícita que um certo facto
deve ser considerado provado,
1. PROVA STRICTO SENSU – o juiz tem de ter a certeza (de um ponto de vista externo o juiz
tem de justificar a certeza, porque é que atingiu aquele grau de certeza, fazendo uma
valoração, isto não tem nada a haver com a verdade10) quanto à versão de facto para que
possa comprovar o facto. Para adjudicar desta forma processual: é necessário que atinja
um grau de certeza.

Ora a prova stricto sensu é aquela que se fundamenta na convicção da realidade do


facto, isto significa que a prova stricto sensu exige uma convicção que não é compatível com
a admissão de que a realidade pode ser distinta daquela que se encontra provada.

A prova stricto sensu não impede que o tribunal forme a sua convicção com base na
probabilidade estatística da realidade do facto. O que é relevante é que o grau de
convicção permita excluir segundo o padrão que na vida prática é tomado como certeza,
outra configuração da realidade que foi considerada como provada.

10
A verdade não permite classificações: formal ou material? Verdade: no processo – precisamos da
palavra. O grande vigarista chega a um aaldeia doente: os dois irmãos ficamna dúvida: hospitalizar o
doente ou expulsar o fraudolento? Os irmãos socorreram a um monge, ele vai fazer um interrotatório
ao vigarista, o vigarista é tão manipulador que consegue converte ro padre a oecador, ele foi
santificado: a jsutiça terrena divina ele foi considerado um santo, o que Deus lhe fez depois da morte,
nós não sabemos. Ou seja somos humanos: juiz humano: falível, poderá ser manipulado, poderá ser
enganado, é contigente. A certeza é tida através dos concretos meios de rpova, esta certeza é suscetível
de derrota.

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São vários os preceitos legais que se referem a uma prova que apesar de se basear
numa probabilidade, não admite qualquer dúvida do tribunal: Assim por exemplo o art. 217/1
CC define a declaração negocial tácita como aquela que deduz os factos que a revelam com
toda a probabilidade e o art. 1839/2º CC exige que o autor de uma declaração de impugnação
da paternidade prove que de acordo com as circunstâncias, a paternidade do marido da mãe é
manifestamente improvável.

A derrota da certeza probatória advém do caso julgado.


2. PROVA DE PRIMEIRA APARÊNCIA – é o grau exigido nas providências cautelares (tensão
enorme com o MTS) o tribunal não poderá dizer que “tem certeza” para julgar o pedido
procedente, os factos estão com a adjudicação: a probabilidade e a história a ser assim é
elevado, mas tem a certeza ? Não mas não tenho de ter, é muito mais provável que a
história seja assim, do que de uma maneira contrária, a derrotabilidade da probabilidade
é maior como é óbvio.

O tribunal só tem aquela prova e só dispõe daquela prova, quando dizemos na


providência cautelar: basta um juízo de probabilidade, não quer isto dizer que o juiz não
consiga um grau de certeza (inversão do contencioso): a PROF. PCS: temos aqui uma decisão
que forma caso julgado.

Ora enquanto a prova stricto sensu exige uma convicção sobre a realidade do facto,
a mera justificação requer somente o convencimento da verosimilhança ou plausibilidade
do facto. O que é verosímil ou plausível é provável com uma certa margem de incerteza ou
de dúvida, pelo que a mera justificação exige ao tribunal, não uma convicção sobre a realidade
do facto, mas sobre a sua probabilidade.

Prof. MTS: enquanto a prova stricto sensu a probabilidade do facto é um meio para
a aformação da convicção do tribunal, na mera justificação essa probabilidade é o próprio
quid sobre o qual incide a convicção do tribunal.

A mera justificação porque é um grau de prova menos exigente que a prova stricto
sensu só é suficiente nos casos previstos na lei. É o que acontece à atendendo à celeridade
exigida para o seu decretamento provisório, nas providencias cautelares , que exigem
apenas uma probabilidade séria da existência de um direito - art. 387º CC.

3. PRINCÍPIO DE PROVA: é um indício de prova: não no sentido do meio de prova: alguma


coisa pode vir a considerar-se provada? No inicio de prova: como é que faço a prova de
uma pessoa está doente? Em primeiro lugar temos de atender ao atestado médico: e se
não tiver de um estado médico? Provavelmente através de decurso dos acontecimentos
podemos chegar à conclusão que o agente está doente, por exemplo, não foi as aulas
durante um período de tempo, depois não aparece no escritório (…). Mas este meio de
prova não tem autonomia probatória, mas juntando aquele início com outras coisas
podemos ter o facto como provado.

VEJAMOS NA PRÁTICA:

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1. E se for parte na causa, a testemunha não comparece? Inicio da prova: a ausência da parte
pode ser prejudicada, é um início de prova relativamente à prova que a beneficia. EU não
posso partir da resistência da parte (falta de cooperação da parte) e dizer: está provado
que.. nas ações de investigação da paternidade: a ciência não nos dá a certeza, a ciência
dá-nos a probabilidade;

2. O réu recusa-se a fazer o teste do ADN? Posso declarar então que o réu é o pai da criança?
Não, poderá ser apenas um início de prova: nos casos de falta da cooperação da parte
poderá levar a uma coisa pior: inversão do ónus da prova: a contraparte fica obrigada
a destruir o facto que se deu como provado.

INVERSÃO DO ÓNUS DA PROVA dá-se ou poderá dar-se quando existe a violação da


cooperação judicial por uma das partes, normalmente o requerido, nestes casos temos de interligar
com a prova inicial: os tribunais entendem que recusa em cooperar com o tribunal também
depende do caso concreto: vejamos: a recusa é legítima (os tribunais sempre entenderam assim),
porque interfere com a liberdade e integridade física (abrir a boca no caso do teste de ADN?).
Temos de perguntar no caso concreto se a recusa é legitima no sentido de ponderar qual o valor
que prevalece no conflito: como é óbvio que neste caso a reconhecimento da paternidade
prevalece, porque a violação da integridade física neste caso nem se põe.

Adoções falsas: este mecanismo consiste numa facilidade numa inversão do ónus da
prova neste caso.

Não podemos confundir graus de prova - prova legal tabulada . regime de prpva livre
apreciação da rpova : prova legal e a contraprova: CC a regra é que que toda a prova é libvremente
apreciada pelo juiz: quer dizer que o juiz quando a prova está a ser produzida é livre como decide
se acredita ou não na prova, o juízo que o juiz faz sobre a sua própria convicção é um juízo
motivado racionalmente: como é que cereta trpova foi avaliada pela credibilidade? Há casos em
que não é assim: há casos em que a lei tabela o valor de uma rpova: o juiz não pode antepor o seu
covnenciomento processual ao meio de prova: se o facto em concreto puder condiserar-se provado
a que a lei da força probatória pelna: o juiz não pode dizer : mas eu não acho que é assim? (então
tem de fazer prova em contrário – demosntrar que certo documento é falso – perante uma prova
plena: ) prova do cotrário -. Destrui a força probatória daquela meio – o juiz tem de receber a
destruição do meio de rpova.

Contraprova: não tem de fazer prova do contrário: força probatória bastante: não tenho
de fazer prova do contrário apra destreuir a rpova:t tenho de criar dúvida na mente do juiz: isto
basta com a criação da dúvida: o juiz tem de fundamentar a decisão: o advogado que destrói a
testemunha: não atacamos o facto: mas atacamos a própria testemunha – e a sua credibilidade,
não foi fazer prova em contrário: mas criou dúvida no processo.

Graus de prova NÃO CONFUNDIR com força dos meios probatórios – disntiguem na
pelna com a destruição, na bastante com o lançamento da duvida no decicor:

Acertar os factos e quais são os factos relevantes neste processo? Depois adjudicamos o
direito: por isso é que os professores podem ir para o Supremo.

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 DIREITO À PROVA

I – ENQUADRAMENTO

O direito de acesso à justiça e aos tribunais e o direito ao processo equitativo asseguram


às partes a produção da prova dos factos favoráveis e a contradição da prova realizada pela outra
parte.

As partes têm o ónus de apresentar o rol de testemunhas, de requerer quaisquer outras provas
e de alterar os requerimentos probatórios que tenham apresentado nos articulados (598/2),
estando-lhes garantida, em contrapartida, a audiência contraditória em matéria probatória – 415.º.

O direito à prova não afasta os importantes poderes probatórios do tribunal. Assim, nos termos
do 411.º (que permite que o tribunal realize ou ordene as diligencias que considere
necessárias), o tribunal pode, pex, requisitar informações, pareceres técnicos, plantas,
fotografias, desenhos ou qualquer documento necessário ao esclarecimento da verdade (436/1),
ordenar a prova pericial (477 e 487/2), determinar a inspeção judicial (490/1) e ordenar a
notificação de uma pessoa que não foi indicada como testemunha (526/1).

Limites

O direito à prova cede perante provas il´ciitas e provas proibidas: as ilícitas são as obtidas de
forma ilegal ou cuja produção constitui um ilícito; as provas proibidas são aquelas que, apesar de
não serem il´ciitas, não podem ser produzidas em processo.

Provas ilícitas

Serão provas ilícitas, pex, todas as aquelas que são conseguidas pelos métodos previstos no
32/8 CRP (aplicadas por analogia ao processo), como é o caso do depoimento de um detetive
particular cuja atividade desrespeitou a privacidade da pessoa observada e, em geral, todas as
situações em que a prova tenha sido obtida com desrespeito da intimidade e da dignidade da
pessoa humana.

São igualmente ilícitas as provas cuja produção em juízo constitui, ela própria, uma ilicitude
– ex: quebra do segredo profissional ou junção de diário íntimo

Em regra, estas provas não podem ser valoradas pelo tribunal. Contudo, o 32/8 CRP considera
que a prova só deve ser qualificada como nula quando a intromissão na vida privada, no domicilio,
na correspondência ou nas telecomunicações deva ser considerada abusiva. Assim, não é nula a
prova que resulta da junção de uma cassete que contém a gravação das declarações ameaçadoras
que uma das partes proferiu para que ficassem gravadas no serviço voice-mail da outra; também
não é prova ilícita a fotografia, obtida acidentalmente por um dos cônjuges, que mostra o outro
numa cena amorosa com terceiro.

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Provas proibidas

Também implicam uma proibição de valoração.

Ex: a prova testemunhal não é admitida para provar um facto contrário àquele que se encontra
plenamente provado por doc (393/2 CC)

Ex2: as declarações proferidas no processo de averiguação oficiosa da maternidade ou


paternidade não podem ser utilizadas numa posterior açao de reconhecimento de maternidade ou
paternidade

Consequências

Dever de colaboração

Todas as pessoas, ainda que não sejam partes na causa, têm em matéria de prova o dever de
prestar a sua colaboração para a descoberta da verdade, respondendo ao que lhes for perguntado,
submetendo-se às inspeções necessárias, facultando o que for requisitado e praticando os atos que
forem determinados (417/1).

Este dever de cooperação é expressão do dever de colaboração com a administração da justiça


(202/3 CRP + 9/1) e pode concretizar uma obrigação de informação (573 CC), de apresentação
de coisas e de documentos.

A violação deste dever conduz à aplicação de várias sanções, nomeadamente a condenação


em multa e o recurso aos meios coercitivos que sejam admissíveis (417/2/1ª pparte), como a
apreensão de documentos e a comparência da testemunha sob custódia.

No caso de o recusante ser uma das partes na causa, o valor da recusa é livremente apreciada
pelo tribunal, excepto se ela implicar a inversão do ónus da prova – 417/2/2ª parte + 344/2 CC).

O direito à prova cede perante interesses superiores – é por isso que é legítima a recusa de
colaboração se a obediência importar violação da integridade física ou moral das pessoas
(417/3/a), intromissão na vida privada ou familiar, no domicílio, na correspondência ou nas
telecomunicações (alínea b) ou violação do sigilo profissional ou de funcionários públicos ou do
segredo do Estado (alínea c).

Dever de motivação

O direito à prova implica um correlativo dever de omtivaçao da decisão de facto através de


argumentos legais e racionais – este dever enquadra-se no dever geral de fundamentação das
decisões judiciais (205/1 CRP + 154.º) e constitui um elemento essencial para o controlo da
correção da decisão pelo próprio tribunal, pelas partes e pelo eventual tribunal de recurso.

Nesta motivação, o tribunal deve especificar os fundamentos que conduziram à formação da


sua convicção sobre a veracidade ou não veracidade de certo facto. Pex, é necessário que o
tribunal indique os fatores que corroboram a credibilidade atribuída a uma testemunha, sendo

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 68


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certo que para tal fundamentação nunca pode bastar uma remissão genérica para a prova
produzida pelas partes ou investigada pelo tribunal.

II – CONTRATOS PROBATÓRIOS

Os contratos probatórios são os negócios processuais pelos quais as partes regulam os factos
carecidos de provaou a repartição do ónus da prova de um determinado facto ou indicam os
meios de prova admissíveis para a prova de um certo facto – podem então ser contratos sobre o
objeto da prova, o ónus ou os meios.

Conteúdo

Objeto da prova

Os contratos sobre o objeto da prova definem quais os factos sobre os quais deve recair a
produção de prova das partes. Normalmente, as partes indicam em simultâneos os factos que
admitem por acordo e aqueles que consideram controvertidos, restringindo naturalmente o objeto
da prova a estes últimos.

Tais contratos probatórios são possíveis no âmbito do chamado processo civil simplificado –
2/1 DL 211/91

Ónus da prova

Estes estão previstos no 345/1 CC, invertendo a repartição legal do ónus e atribuem o risco da
falta ou insuficiência da prova à parte que não é legalmente onerada.

Ex: as partes acordam que, no caso de mau funcionamento da coisa vendida, cabe ao vendedor
a prova da inexistência de qualquer defeito.

Meios de prova

Os contratos sobre os meios de prova podem admitir um meio de prova diferente daqueles que
estão legalmente previstos para a prova do facto ou excluir um meio de prova legalmente
admissível para essa prova (345/2 CC). As partes podem convencionar, pex, que determinado
facto, apesar de para ele ser admissível a prova testemunhal, só pode ser provado
documentalmente.

As partes podem convencionar que a comprovação da autoria e integridade de um documento


eletrónico pode ser realizada através de uma assinatura digital que não satisfaz os requisitos legais
(3/4 DL 290-D/99).

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Requisitos

Requisito comum

Os contratos probatórios apresentam certos requisitos que são comuns a todos eles e outros
requisitos que são específicos de alguns deles.

É requisito comum a todos os contratos probatórios a circunstância de só poderem recair sobre


situações jurídicas disponíveis (345/1 e 2 1ª parte).

Requisitos específicos

Os contratos sobre o ónus da prova e os meios de prova não podem agravar sensivelmente a
posição probatória das partes (345/1 e 2/1ª parte CC) - ou seja, à parte onerada não pode ser
ecessivamente dificultada a prova do facto, porque isso pode traduzir-se na própria dificuldade
de exercer o correspondente direito.

Além disso, os contratos sobre os meios de prova não podem contrariar disposições legais de
ordem pública (345/2 CC). São de ordem pública e, por isso, inderrogáveis, todos os poderes
probatórios do tribunal (436/1 + 477 + 489/2), a forma ad substantiam (220 + 364/1 e 393/1 CC),
a indamissiblidade de prova testemunhal em substituição de doc ad substantiam ou ad
probationem (393/! CC) e ainda as inabilidades para depor como testemunha – 495 e 496.

Pelo mesmo motivo, estão excluídos os acordos pelos quais as partes definem o valor
probatório de um meio de prova – 358+371 + 376 + 377 + 389 + 391 + 396 CC.

Os contratos sobre o objeto da prova não podem dispensar o documento escrito legalmente
exigido para a prova do facto.

Eficácia

Os contratos probatórios, quando válidos, são cinvulativos tanto para as partes que os
celebramcomo para o tribunal em causa.

Este deve respeitar o objeto de prova definido pelas partes, os meios de prova por elas
convencionados e observar, numa situação de non liquet, a repartição convencional do ónus da
prova.

 ÓNUS DA PROVA

I – MODALIDADES

ÓNUS DA PROVA OBJETIVO

O ónus da prova preenche uma função distinta consoante seja entendido em sentido
objetivo ou subjetivo. Em sentido objetivo respeita às consequências da não realização da prova,
isto é, da falta de convicção do tribunal sobre a realidade de um facto. Esta é a situação de non
liquet.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 70


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A dúvida insanável sobre um facto pode verificar-se tanto em processos nos quais vigora
o princípio da disponibilidade das partes sobre o objeto do processo – como sucede no direito pt
(5/3) – como em processos submetidos à inquisitoriedade do tribunal. Mesmo que seja concedido
ao tribunal o poder de investigar os factos relevantes para a decisão da causa, podem surgir
dúvidas irredutíveis sobre a realidade desses factos, que devem ser superadas através das regras
do ónus da prova objetivo.

Qual a importância das regras sobre o ónus da prova objetivo?

Esta importância decorre da circunstância da situação de dúvida insanável sobre a


realidade dos factos não isentar o tribunal do dever do proferimento de uma decisão (8/1 CC).
Assim, atendendo a este dever de adminstraçao de justiça mesmo no caso de non liquet, há que
determinar o conteúdo da decisão sobre o facto – essa é a função das regras relativas ao ónus da
prova objetivo.

Estas regras não permitem solucionar as situações de non liquet, ou seja, não resolvem a
dúvida do tribunal, mas definem qual a decisão que o tribunal deve tomar apesar da dúvida sobre
a realidade do facto. Por isso, são regras de decisão: perante a dúvida irredutível sobre a realidade
do facto que é pressuposto da aplicação de uma norma jurídica, o tribunal decide como se
estivesse provado o facto contrário.

Ex: autor afirma que entregou ao réu certa quantia monetária; se o tribunal não adquirir
a convicção da veracidade desta afirmação, decide como se estivesse provado que o autor não
entregou qualquer quantia ao réu.

Isto implica uma ficção jurídica – perante a falta de prova do facto, o tribunal ficciona
que se encontra provado o facto contrário e toma-o como fundamento da sua decisão – em vez de
deixar em aberto a aplicação de uma norma pela impossibilidade de saber se os factos que
integram a sua previsão se verificaram realmente, o tribunal recusa a aplicação da norma com o
fundamento ficcionado e que esses factos não se verificaram.

Como se aplica o 414?

No 342 CC o que a lei diz é que quem tem o ónus da prova é a parte que alega o facto (a
exceção é a conclusão – aquilo de que se tem de fazer prova é dos factos em si que estão
subjacentes à exceção). Se a lei é tao clara, como é que pode haver dúvidas sobre quem tem o
ónus da prova?

Por vezes é difícil ver quais são os factos extintivos, impeditivos e modificativos. Se eu não
consigo qualificar o facto ao abrigo dessa regra já não consigo aplicar o 342 – tenho dúvida
relativamente à repartição do ónus de prova. Para evitar a impossibilidade de decidir, o 414 diz
que a dúvida resolve-se contra a parte a quem o facto aproveita.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 71


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Mas se eu não sei que natureza tem o facto como é que sei a quem ele aproveita? Em caso de
dúvida os factos devem ser considerados como constitutivos do direito – casos de non liqued

O destinatário da regra não são as partes mas sim o juiz.

O 414 vai também dizer que não pode haver dúvida e por isso tenho de ter uma regra. Tenho
de ir ao direito material saber quem é o beneficiário da regra – se não o sei qualificar é
constitutivo.

Quando é que se resolve a dúvida?


 Alguma doutrina diz que é logo no início da instrução
 PCS: 413 “provas atendíveis” e não admissíveis – se diz “atendíveis” o
destinatário é o juiz. Portanto, todas estas regras têm uma direção. Atendíveis para considerar os
factos como provados – o 413 diz que o juiz tem de atender a todas as provas produzidas no
processo independentemente da parte que as produziu.

O nome deste princípio é aquisição processual:


 O juiz tem de atender a todas as provas atendíveis independentemente de quem
as pronuncie.
 O ónus da prova só funciona no momento da decisão. Antes de aplicar as regras
da sanação tem o princípio da aquisição. As regras referidas só se vao aplicar perante factos não
provados!
 O juiz vai perguntar: este facto que não foi provado que natureza tem? Contra
quem reverte a decisão? - 414 perante factos em que aprova é duvidosa e o juiz não sabe como
responder em matéria probatória – a prova não permitiu desempatar a versão. O juiz tem de ter a
certeza da história (não admite como boa versão alternativa àquela).

Ónus da prova subjetivo

Refere-se à determinação da parte onerada com a prova do facto, isto é, à repartição do


ónus da prova pelas partes da açao. Estas regras definem a atuação das partes em juízo, sendo
por isso regras de conduta.

Ao contrário do ÓNUS DA PROVA OBJETIVO – cuja aplicação se estende aos processos


regidos pela disponibilidade das partes e pela inquisitoriedade judiciária – o ónus da prova
subjetivo só se aplica aos processos submetidos a essa disponibilidade  isto porque define a
conduta probatória da parte e delimita o âmbito do conhecimento do tribunal (5.º/3).

Por isso, os poderes inquisitórios do tribunal diminuem a importância do ónus da prova


subjetivo.

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Como funcionam?

Entre o ónus de prova subjetivo e objetivo existe a seguinte relação: a decisão de um


non liquet, de acordo com a regra do ónus da prova objetivo, acompanha a repartição determinada
pelo ónus da prova subjetivo, pois que o tribunal, ao ficcionar como provado o facto contrário
daquele que devia ter sido provado, decide contra a parte onerada com a prova.

II – REPARTIÇÃO

A repartição do ónus da prova condiciona a atividade probatória da parte, pois que em


coadunação com o ónus de alegação, incumbe à parte o ónus da prova relativamente aos factos
cuja subsunção a uma norma jurídica lhe atirbui um efeito favorável.

Critérios gerais

Os factos constitutivos devem ser provados pela parte que, com fundamento neles, alega uma
situação jurídica – 342 CC, e a prova dos factos impeditivos, modificativos ou extintivos incumbe
à parte contra a qual é invocada uma situação jurídica (342/2 CC).

Desta regra resulta uma importante consequência: não é a parte que nega os factos invocados
pela contraparte que está onerada com a prova de que esses factos não são verdadeiros, mas a
parte que os alega que tem esse ónus.

Os factos impeditivos, modificativos ou extintivos devem ser provados pela parte que, com
esse fundamento, nega a situação subjetiva afirmada pela contraparte (342/2).

Também quanto a estes factos vale a regra de que é sobre a parte que os alega em seu benefício
que recai o ónus da prova – porque não seria aceitável que recaísse sobre a parte que invoca uma
situação jurídica o ónus de provar que não só estão preenchidos todos os elementos constitutivos,
como também não se verificam nenhuns factos impeditivos, modificativos ou extintivos

Ex: o mutuante que pede a restituição da quantia mutuada deve provar o respetivo contrato de
mútuo, mas não tem de demonstrar que esse contrato não está inquinado por nenhum vício
atinente à capacidade dos outorgantes, à forma da sua celebração ou à formação e emissão das
declarações negociais.

Só perante a situação concreta se pode determinar se o facto é constitutivo ou extintivo da uma


situação jurídica. Se na previsão da norma se integra um facto impeditivo, modificativo ou
extintitvo, esse funciona como constitutivo da situação subjetiva decorrente daquela norma.

Ex: na açao de apreciação do pagamento de uma dívida, deve ser provado pelo autor esse facto
extintivo da obrigação, que relativamente à situação alegada é um facto constitutivo.

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Factos negativos

Ainda que o facto constitutivo, impeditiv, modificiativo ou extintivo seja um facto negativo,
continua a aplicar-se, quanto à sua prova, a regra do 342/1 e 2: a prova cabe a quem invoca o
direito ou exceção.

Ex: na açao de resolução do contrato baseada no incumprimento da obrigação, incumbe ao


autor provar este inadiplamneto do devedor

Ex2: na açao de ESC pertence ao autor provar a falta de causa justificativo do locupletamento

No entanto, há que ponderar que a prova de um facto negativo pode ser bastante complicada
– suponha-se que, com vista à resolução do contrato com fundamento no inadimplemento do
devedor, há que provar esse incumprimento – se a prestação consistir num non facere, a proa do
incumprimento é fácil, bastando pex mostrar a obra que o devedor se obrigou a não realizar; se
porém consistir numa prestação de dare ou de facere, não é fácil demonstrar o incumprimento,
dado que se nalguns casos o que não sucedeu pode deixar conseq visíveis, nem sempre é assim.

Ex: se o médico não tratou a tempo o seu paciente, o agravamento do estaod de saúde do
doente é visível

Ex2: se o comprador não pagar o preço devido, não ocorrem em regra quaisquer alterações ao
mundo exterior

Atendendo à dificuldade de prova de alguns factos negativos, importa verificar se se justifica


construir para eles uma exceção à distribuição do ónus da prova imposta pelo 342 CC. É claro
que a exceção não pode valer nas hipóteses em que o facto negativo cosnstitui o próprio objeto
do processo – o que sucede nas açoes de simples apreciação negativa, dado que isso teria como
consequência deslocar o ónus da prova do demandante para o demandado, o que seria contrário
à repartição do ónus probandi determinada pelo 343/1.

Nos restantes casos, na ausência de qualquer previsão legal, parece difícil ir além de solicitar
ao tribunal alguma razoabilidade na apreciação da prova do facto negativo.

Apreciação negativa

Como nas açoes de simples apreciação negativa a alegação dos factos constitutivos dasituaçao
negada pelo autor compete à parte passiva, é o réu a parte onerada com a demonstração desses
factos constitutivos (343/1 CC), cabendo ao autor, nos termos gerais, a prova dos factos
impeditivos, modificativos ou extintivos da situação jurídica para que é requerida a apreciação
negativa – 584/2.

Portanto, a regra do 343 CC não isenta o autor de provar os factos que invoca como
fundamento do seu pedido de apreciação negativa.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 74


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Ex: na açao negativa de servidão, cabe ao autor provar os factos que fundamentam a
inexistência ou extinção da servidão e ao réu demonstrar os factos dos quais resulta a sua
constituição.

Isto significa que, nas açoes de simples apreciação negativa, a solução fornecida, quanto à
repartição do ónus da prova, é a de distribuir a prova dos factos por ambas as partes, consoante a
sua relevância para a procedência ou improcedência da açao.

Esta repartição do ónus da prova nas açoes de simples apreciação negativa compreende-se
mais facilmente lembrando que o réu deve utilizar a reconvneçao para pedir, caso deseje, a
apreciação positiva do direito negado pelo autor (266/2/a) – ou seja, para que o réu obtenha o
reconhecimento do dirieto negado pelo autor, não basta que impugne o pedido do autor, pois que
a improcedência de uma açao de apreciação negativa não implica o reconhecimento de qualquer
situação jurídica, mas apenas o não reconhecimento da inexistência da situação jurídica.

Ex: a improcedência da açao de apreciação negativa da paternidade implica que não é


reconhecido que o réu não seja filho do autor, mas não determina o reconhecimento de que o é
efetivamente.

Critérios especiais

Em caso de dúvida, o 342/3 CC estabelece que os factos devem ser considerados constitutivos
do direito – esta solução justifica-se porque pretende impor a prova à aprte que alega a situação
subjetiva e não àquela que a nega.

Prazo de caducidade

Algumas das situações em que se poderiam suscitar dúvidas sobre a qualificação do facto são
resolvidas pela lei. Assim:
a) Nas ações que devam ser propostas dentro de certo prazo a contar da data em que
o autor teve conhecimento de certo facto, caberá ao réu a prova de o prazo já ter decorrido (343/2).
Quer dizer, o prazo de propositura da açao é considerado pela perspetiva do seu decurso e, por
isso, é qualificado como um facto extintivo, pelo que pex incumbe ao réu provar que já
decorreram dois anos a contar da data em que o cônjuge ofendido ou o seu representante legal
teve conhecimento do facto que fundamenta o pedido de divórcio – 1786/1 CC.

Condição e termo

Se o direito invocado pelo autor estiver sujeito a condição suspensiva ou a termo inicial, cabe-
lhe a prova de que a condição se verificou ou o termo se venceu, mas se o direito estuver sujeito
a condição resolutiva ou a termo final, incumbe ao réu provar a verificação da condição ou o
vencimento do prazo – 343/3 CC.

Portanto, a condição suspensiva e o termo final são qualificados como factos extintivos e, por
isso, tratados também quanto ao ónus da prova como exceções peremptórias.

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Inversão

Verifica-se a inversão do ónus da prova quando não é sobre a parte normalmente onerada com
a prova do facto que recai o ónus de o demonstrar, mas sobre a contraparte que incide o ´nus de
provar o facto contrário.

Se o ónus da prova se inverte, este não acompanha o ónus de alegação, pois que a prova não
incumbe à parte favorecida com a demosntraçao do facto e onerada com a alegação, mas à parte
que pode beneficiar do facto contrário. O ónus da prova ivnerte-se nos casos do 344 CC.

A inversão implica uma modificação do thema probandum, pois que a prva exigível a cada
uma das partes é a contrária daquela que pode ser imposta à contraparte.

Ex: se a inversão do ónus da prova recai sobre um facto constitutivo do direito alegado pelo
autor (ex a culpa do réu no incumprimento), incumbe ao demandado provar o contrário desse
facto constitutivo – inexistência de culpa ou uma causa de exclusão da culpa.

A eventual dificuldade de prova não cosntitui, em si mesma, fundamento para a inversão do


ónus probandi. Porém, a lei não permanece completamente insensível a esta dificuldade,
procurando preveni-la através de duas soluções:
a) Estabelecimento de presunções legais, portanto dispensando da prova os factos
presumidos (350/1 CC), o que se traduz num benefício para a parte onerada com a prova do facto
presumido
b) Permissao do julgamento seguando a equidade em situações em que a prova do
facto é difícil ou mesmo impossível – ex: avaliação de danos não patrimoniais (496/3) ou
indemnização devida pela rutura de promessa de casamento (1594/3 CC).

Presunções legais

O ónus da prova inverte-se quando haja uma presunção legal, pois que a parte que tem a seu
favor a presunção escusa de provar o facto a que ela conduz – à parte só incumbe provar o facto
probatório (que constitui base da presunção), porque da prova desse facto deduz-se o facto que
cosntitui o thema probandum.

À contraparte incumbe a ilisao da presunção, que consiste na demonstração de que, apesar da


prova do facto probatório, o facto presumido não é verdadeiro.

Ex: a ilisao da presunção da titularidade do direito baseada na posse implica a prova de que
apesar da parte ser possuidor da coisa, não é titular de qualquer direito real sobre ela.

Frustração da prova

O ónus da prova também se inverte quando uma das partes tiver culposamente tornado
impossível a prova à parte onerada – 344/2.

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Ex: médico, demandado numa açao de responsabilidade civil, destruiu a ficha clinica de que
o autor se poderia servir para fazer prova da inadequação do tratamento – é ao médico que
incumbe fazer prova da sua adequação à situação clínica do demandante.

A impossibilidade culposa da prova exige uma conduta negligente ou dolosa da parte, que
pode verificar-se antes ou durante a pendência do processo onde a prova devia ser realizada.

Quanto à mera negligencia, poder-se-ia objetar que a inversão do ónus da prova constitui uma
sanção demasiado pesada para o comportamento da parte – mas deverá atender-se a que essa
inversão é determinada mais como uma consequência da situação objetiva – que é a
impossibilidade da contraparte usar certo meio de prova – do que como uma sanção para a conduta
negligente da parte.

A inversão do ónus sanciona mais o resultado causado do que a conduta causadora.

Há que demarcar a situação em que a parte torna impossível a produção da prova pela
contraparte por culpa própria, da eventualidade em que a aprte se recusa a depor ou a prestar
informações ou esclarecimentos (357/2).

Esta distinção impõe-se pelas diferentes consequências definidas para cada uma dessas
situações – enquanto aquela impossibilidade culposa determina a inversão do ónus da prova
(344/2/1ª parte CC), a recusa do depoimento ou do esclarecimento é livremente apreciada pelo
tribunal para efeitos probatórios (357/2 CC).

Ambas as situações têm expressão no 417/2, pelo que o preceito é aplicável nos dois casos.
Assim, pex, se a parte recusa entregar um documento que provadamente se encontra em seu
poder, a remissão do 430.º para o 417/2 deve ser entendida como feita para a inversão do ónus da
prova imposta pelo 344/2 CC.

Em contrapartida, a recusa do depoimento pela parte é, como se dispõe no 357/2 CC,


livremente apreciada pelo tribunal, pelo que a referencia à livre apreciação do 417.º/2/2ª parte se
refere a essa mesma hipótese.

Liberação do ónus da prova

Inverte-se quando haja dispensa ou liberação do ónus da prova – 344/1 CC, que se verifica
quando a lei declara certo um facto até À prova do contrário.

Ex: a parte que pretende provar a boa ou má fé da posse pode demonstrar, em sua substituição,
o caráter titulado ou não dessa posse (1260/2), recaindo sobre a contraparte o ónus da prova do
facto contrário – ou seja, a prova de que apesar do título ou da sua falta, a posse é de má ou boa
fé.

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APRECIAÇÃO DA PROVA

I – CRITÉRIOS LEGAIS

A prova, enquanto atividade destinada a efetuar, perante o tribunal, a demonstração


convincente de certos factos, é realizada através dos meios de prova – elementos sensíveis ou
percetíveis nos quais o tribunal pode alicerçar a convicção sobre a realidade do facto.

Na avaliação da prova realizada através desses meios de prova, é possível a consagração de


um sistema de prova legal ou prova livre.

Prova legal

No sistema da prova legal, o valor da prova realizada através de um dos meios de prova está
legalmente prefixado, pelo que o tribunal está vinculado a atribuir a essa prova o respetivo valor
legal. Este valor pode ser positivo ou negativo:
 Positivo: quando a lei impõe que o tribunal atribua à prova realizada determinado
valor
 Negativo: quando a lei proíbe a a atribuição de qualquer valor à prova produzida

Valor positivo

A lei pode atribuir à prova produzida um valor tarifado ou fixo, que é variável consoante a
prova que for suficiente para impugnar aquela prova. Neste contexto, é possível distinguir as
seguintes modalidades de prova:
a) Prova bastante: a impugnação da prova é conseguida através da contraprova,
que consiste na colocação em dúvida da veracidade do facto (346.º CC).

Ex: valor probatório da letra e assinatura de um documento particular, cuja autenticidade pode
ser questionada com a mera impugnação pela parte contra quem o documento é apresentado (374
CC), ou seja, com a criação no espírito do julgador de dúvidas sobre essa autenticidade.

b) Prova plena: a impugnação da prova realizada só pode ser obtida mediante a


prova do contrário, isto é, através da demonstração da não veracidade do facto (347 CC)

Ex: os documentos autênticos fazem prova plena quanto aos factos que referem como
praticados pela autoridade documentadora (371/1 CC) e, por isso, a sua força probatória só pode
ser ilidida com base na sua falsidade (372/1 CC), nomeadamente através da prova de que o notário
atestou algo que não se verificou.

Também as presunções iuris tantum, que só podem ser ilididas mediante a prova em contrário
(350/2), têm o valor de prova plena

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Ex: a presunção de culpa do devedor (799) só pode ser ilidida mediante a prova da inexistência
dessa culpa no incumprimento da obrigação

c) Prova pleníssima: não é admitida contraprova nem prova do contrário. Aqui


integram-se as presunções inilidíveis (350/2 CC).

Ex: a prova de que o terceiro adquiriu o direito posteriormente ao registo da açao de simulação,
quando a este haja lugar, faz presumir a má fé daquele adquirente (243/3)

Ex2: a prova de que a posse foi adquirida por violência implica sempre a má fé do adquirente

Note-se que a contraparte pode impugnar, independentemente do tipo de presunção, a prova


do facto probatório e, assim, embora sem ilidir a presunção, impugnar, mesmo por contraprova,
a sua base.

Ex: presunção de má fé do terceiro que adquiriu o direito após o registo da açao de simulação
não pode ser ilidida, mas pode provar-se que o interessado adquiriu antes do registo e, com isso,
impugnar a própria base da presunção.

Valor negativo

A lei pode proibir a atribuição de qualquer valor probatório a um determinado meio de prova
– é pex o caso das provas ilícitas, designadamente as obtidas mediante tortura, coação, ofensa da
integridade física ou moral da pessoa.

Prova livre

Neste sistema o valor a conceder à prova realizada através dos meios de prova não está
legalmente prefixado, dependendo da convicção que o julgador formar sobre a atividade
probatória da parte – 655/1 (ver).

Admissibilidade

A prova realizada através de alguns meios de prova é avaliada segundo o princípio da livre
apreciação – é o caso da prova pericial (389 CC), a inspeção judicial (391) e a prova testemunhal
(396).

Também são livremente apreciados pelo tribunal a confissão judicial não escrita e a confissão
extrajudicial não constante de documento, feita a terceiro ou contida em testamento (358/3 e 4),
o reconhecimento não confessório (361), o documento escrito a que falta algum dos requisitos
exigidos pela lei (366), os juízos pessoais do documentador cosntantes de doc não autentivo
(371/1), a importância dos vícios exteriores do documento para a sua força probatória (371/2 e
376/3) e ainda a recusa de depoimento ou de esclarecimento pela parte (357/2 + 519/2).

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 79


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A livre apreciação está excluída quando a lei exija, para a exitencia ou prova do facto, qualquer
formalidade especial (655/2).

Ex: a prova livre não é admitida para a prova de trnasmissao da propriedade de um imóvel,
porque esta alienação exige escritura pública (875 CC).

Avaliação

Na impossibilidade de submeter a apreciação da prova a critérios objetivos (como os que


exigem uma demonstração por leis científicas), a lei apela à convicção intima ou subjetiva do
tribunal. Esta convicção exigida para a demonsrtaçao do facto deve respeitar as leis da ciência e
do raciocínio e assenta frequentemente em regras ou máximas de experiencia.

Algumas destas regras correspondem ao senso comum e baseiam-se na normalidade das


coisas, mas outras referem-se a conhecimentos específicos na área da ciência, da técnica, da
indústria ou do comércio.

Ex: tribunal conclui que se certo homem e mulher vivem maritalmente um com o outro, que
mnatêm relações sexuais um com o outro, o que se pode constatar pelo comportamento normal
entre pessoas normais

Ao contrário dos factos relevantes para a decisão da causa, as regras de experiência podem ser
usadas pelo tribunal, ainda que não sejam alegadas pelas partes. Elas integram o acervo de
conhecimentos necessários para a avaliação da prova, pelo que o tribunal não pode ficar
dependente da posição das partes – não releva a falta de alegação das máximas de experiência
pelas partes e não vale quanto a essas máximas o ónus de impugnação, pelo que nunca se
consideram admitidas por acordo.

A expressão da relevância destes factos para apreciação da prova e da sua subtração à


disponibilidade das partes é a faculdade de o tribunal ordenar oficiosamente a prova pericial (579
e 589/2 – ver).

A convicção do tribunal extraída das regras de experiência é uma convicção argumentativa –


convicção demonstrável através de u argumento.

A regra de experiência que o tribunal pode utilizar para fundamentar a sua convicção sobre a
prova realizada é a mesma que pode ser usada pela parte como argumento para a formação dessa
convicção – ou seja, a regra de experiência que pode convencer o tribunal da veracidade do facto
é a mesma que pode ser usada para a fundamentação da decisão desse órgão sobre a apreciação
da prova.

Algumas regras da experiência são retiradas da experiência comum – a prova de que uma
pessoa se encontrava em determinado lugar num certo momento permite inferir que ela não se
poderia encontrar em qualquer outro sítio (prova de alibi).

Outras regras implicam conhecimentos específicos, que devem ser fornecidos ao tribunal
através da prova pericial – ex: testes de ADN

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 80


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Estas regras da experiência também relevam na modalidade de presunções judiciais na


avaliação da prova prima facie.

Ex: se o autor instaurar uma açao de indemnização em que alega a negligencia do cirurgião
demandado, a prova da existência de uma compressa e de vários instrumentos cirúrgicos no corpo
do autor pode demonstrar, segundo as normais regras da experiência, a negligência daquele
médico.

Ex2: se o autor foi atropelado quando circulava pelo passeio, pode presumir-se que a culpa do
acidente pertence ao condutor do veículo.

NOTA: é importante não confundir estas regras da experiência com preconceitos ou pré-juízos
– caso da coutada do macho ibérico.

Valor

A prova livre, apesar de resultar da livre convicção do juiz, tem necessariamente um valor
(embora não predeterminado legalmente): se o tribunal formar a convicção sobre a realidade do
facto, a prova realizada cede perante contraprova (346 CC) – por isso, a prova livre é sempre
prova bastante.

II – VALORAÇÃO DA PROVA

Prova documental

Consiste na apresentação de um objeto elaborado pelo homem com o fim de reproduzir


ou representar uma pessoa, coisa ou facto (362.º)

Assim, são documentos os registos fotográficos, fonográficos, escritos, desenhados,


tecnológicos ou de qualquer outra espécie que representem ou reproduzem uma pessoa, coisa ou
acontecimento, bem como todos os sinais que patenteiam uma certa realidade ou exteriorizam
uma ideia ou pensamento.

Documentos escritos

São os que corporizam, em escrita normal ou cifrada, uma declaração de ciência ou de


vontade. Estes documentos podem ser autênticos ou particulares (363/1):

 Autênticos: aqueles que são exarados por autoridades públicas,notários ou outros


oficiais públicos dotados de fé pública (363/1) – ex: escritura pública, justificações notariais…

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 Particulares: são todos os demais documentos


 Autenticados: os que são confirmados pelas partes perante o notário
 Reconhecidos: a letra e assinatura (ou só a assinatura) são
confirmados pela aprtes perante o notário (363/3)
 Simples: os que apenas contêm a assinatura do autor ou de outrem a
seu rogo – 373/1

Quando a lei exigir, como forma ad substantiam, documento autêntico, autenticado ou


particular, esse meio de prova não pode ser substituído por qualquer outro ou por documento que
não seja de força probatória superior (364/1 CC).

Se resultar da lei que o documento é exigido apenas para prova da declaração (ad
probationem), esse documento pode ser substituído por confissão expressa, judicial ou
extrajudicial, desde que nesse caso a confissão conste de documento de igual ou superior valor
probatório (364/2).

Valor probatório

Na avaliação da prova realizada através de um documento escrito, há que distinguir entre duas
realidades:
 Força probatória formal: respeita ao valor probatório do documento como
documento, ou seja a autenticidade ou genuinidade do documento apresentado.

A força probatória formal dos documentos autênticos é a de prova plena, presumindo-se que
o documento provém da autoridade ou oficial público a quem é atribuído (370CC).

Esta presunção só pode ser ilidida através da prova do contrário (370/2), ou seja a prova de
que o documento não provém da autoridade ou oficial público a quem é atribuída a sua autoria,
mas o tribunal também pode excluir aquela presunção quando for manifesta, pelos sinais
exteriores do documento, a sua falta de autenticidade – 370/2.

 Força probatória material: refere-se ao valor probatório atribuído aos factos


praticados ou atestados pela entidade documentadora.

Esta força é também a de prova plena, só cedendo perante a prova do cntrário através da
demonstração da falsidade do documento (371 + 372/2). A falsidade documental inclui a falsidade
material, se no documento se considera praticado pela entidade responsável qualquer ato que, na
ralidade, não o foi, ou ideológica, se nele se atesta como tendo sido objeto da perceção da
autoridade ou oficial público qualquer facto que não se verificou.

Assim, a falsidade material não pode ser confundida com a falta de autenticidade ou
genuididade do documento – ex: o notário refere que reconheceu a identidade dos contratantes, o
que na realidade não aconteceu – o documento é genuíno mas materialmente falso

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 82


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Importa referir que só estão abrangidos pelo valor da prova plena os factos praticados ou
atestados pela entidade documentadora (371/1). Essa força probatória só abrange a prática ou
atestação do facto – ou seja, só fica provado que foi praticado ou atestado determinado facto pela
entidade documentadora -, pelo que ela não se estende à veracidade de qualquer desses factos.

Ex: vendedor afirma perante o notário que recebeu o preço da coisa vendida e se o notário
atesta a declaração, o valor de prova plena só abrange o facto do vendedor ter emitido a declaração
e do notário o ter atestado – não abrange o facto do vendedor ter efetivamente recebido o preço
da coisa.

Ex2: o atestado de residência passado pelo Presidente da Junta de Freguesia baseia-se nas
ifnroamçoes prestadas por dois comerciantes e não em factos de conhecimento direto e funcional
do atestante, pelo que apesar de ser documento autêntico, não goza de força probatória plena nos
termos do 371/1, estando por isso sujeito à livre apreciação do tribunal.

Daqui decorre que temos de distinguir entre duas situações:


 Se a entidade documentadora refere como praticado um determinado facto que
não praticou (situação de falsidade material) ou atesta um facto que não se verificou perante ela
(falsidade ideológica), o documento é falso e só pode ser atacado mediante a arguição da respetiva
falsidade – 372/1 e 2
 Se a entidade documentadora atesta um facto que perante ela foi declarado mas a
declaração não corresponde à verdade, o documento não é falso, mas o seu conteúdo não
corresponde à verdade. Este conteúdo não está coberto pelo valor de prova plena (excepto se for
um facto confessório – 358/2 CC), pelo que a sua impugnação não tem só de ser feita através da
alegação da falsidade do documento, mas pode também ser realizada através de qualquer meio de
prova (como as testemunhas).

Os documentos particulares têm um valor probatório distinto consoante sejam autenticados ou


não. Os autenticados são aqueles cujo conteúdo é confirmado pelas partes perante o notário
(363/3) – estes têm a força probatória dos documentos autênticos, pelo que fazem prova plena
quanto aos factos praticados ou atestados pela entidade documentadora.

Os documentos não autenticados mas assinados têm força probatória formal quando a letra e
assinatura (ou apenas a assinatura) forem, expressa ou tacitamente reconhecidas pela parte contra
a qual o documento for apresentadoo – 374/1 CC. Daqui reitra-se uma força probatória material
plena quanto às declarações atribuídas ao seu autor – 376/1 CC, que só pode ser impugnada pela
prova da falsidade do documento.

Acerca da forma de impugnar a letra ou assinatura do documento, temos de distinguir três


situações:
a) Se elas estiverem reconhecidas presencialmente, têm-se por verdadeiras e só
podem ser impugnadas mediante a arguição da sua falsidade – 375.º/1 e 2
b) Se só estiverem reconhecidas por semelhança, a sua impugnação basta-se com a
contraprova (346.º), porque esse vale apenas como juízo pericial (375/3), portanto livremente
apreciável (389)

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c) Se não estiverem reconhecidos notarialmente, a parte contra quem o documento


é apresentado pode limitar-se a impugnar a veracidade da letra ou da assinatura ou a declarar que
não sabe se são verdadeiras, incumbindo à parte que apresentar o documento a prova da sua
veracidade (374/2).

Os documentos particulares não assinados (ainda que escritos) são livremente apreciados pelo
tribunal.

Ex: as cotas (notas que não conta da execução de certos atos de expediente da secretaria do
tribunal) correspondem a documentos particulares sujeitos à livre apreciação do tribunal.

No entanto existem exceções a esta regra:


 Os registos e outros escritos onde habitualmente alguém tome nota dos
pagamentos que lhe são efetuados fazem prova contra o seu autor, se indicarem inequivocamente
o recebimento de algum pagamento (380/1)
 A nota escrita pelo credor ou por outrem segundo instruções dele, em esguimento,
à margem ou no verso do documento que ficou em poder do credor, ainda que não esteja datada
nem firmada, faz prova do facto anotado se favorecer a exoneração do devedor – 381/1
 Os livros de escrituração mercantil

Todos estes fazem prova plena contra o autor, que tem o ónus de realizar a prova do contrário
(380/1 + 381/3/1ª parte + 44.º/2 CCom

As certidões de teor (que são as que transcrevem literalmente o original) extraídas de


documentos arquivados nas repartições notariais ou noutras repartições públicas, quando
expedidas pelo notário ou por outro depositário público autorizado, têm a força probatória dos
respetivos originais – 383/1. Esta força probatória pode ser invalidada ou modificada pelo
confornto com o respetivo original – 385/1 CC.

As públicas-formas (cópias de teor, total ou parcial, extraídas de documentos estranhos ao


arquivo do notário) têm a força probatória do respetivo original, se a parte contra a qual forem
apresentadas não requerer a exibição deste original – 386/1.

Requerida esta apresentação, as públicas-formas perdem a força probatória do original se este


não for apresentado ou, se o for, não se mostrar conforme com elas – 386/2.

As fotocópias de documentos arquivados nas repartições notariais ou noutras repartições


públicas têm a força probatória das certidões de teor, se a sua conformidade com o original for
atestada pela entidade competente para expedir estas últimas – ou seja, têm a força probatória dos
originais (387(1 e 383/1 CC.

As fotocópias de documentos estranhos aos arquivos públicos têm o valor da pública-forma,


se a sua conformidade com o original for atestada pelo notário, ou seja, têm a força probatória

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 84


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dos respetivos originais – 387/2 e 386 CC). A fotocópia de fotocopia vale como fotocópia do
original se a fotocópia copiada se encontrar legalizada.

As fotocópias particulares – aquelas cuja conformidade com o original não está atestada por
uma autoridade – fazem prova plena dos factos e das coisas que representam, se a parte contra
quem forem apreesnetadas não impugnar a sua exatidão (368 CC). Assim, enquanto o valor
probatório das cópias oficiais só é ilidido mediante o confronto com o original (385, 386 e 387
CC), o valor probatório das cópias particulares é destruído com a mera impugnação da sua
exatidão pela parte contra quem forem apresentadas – 368.º.

Reproduções mecânicas

As reproduções fotográficas ou cinematográficas, os registos fonográficos e, de um modo


geral, quaisquer reproduções mecânicas de factos ou de coisas fazem prova plena dos factos e das
coisas que representam, se a parte contra quem forem apresentadas não impugnar a sua exatidão
(368.º). Neste caso, incumbe à parte que apresenta o doc o ónus de provar a sua exatidão.

Documentos tecnológicos

São aqueles cuja elaboração, reprodução ou transmissão resultam do uso de meios


tecnológicos. A determinação do seu valor probatório levanta vários problemas.

Os telegramas cujos originais tenham sido escritos e assinados, ou apenas assinados, pela
pessoa em nome de quem são expedidos, ou por outrem a seu rogo, são considerados documentos
particulares – 379.º.

Assim, os não assinados pela pessoa em nome de quem são enviados ou por outrem a seu rogo
(ex: telegramas telefonados) não possuem essa força probatória. Excetuam-se, porém, no âmbito
das relações comerciais, os telegramas que não assinados pelo expedidor, se provar terem sido
expedidos ou mandados expedir pela pessoa designada como expedidos, os quais têm a força
probatória reconhecida aos documentos particulares – 97/1 CCom. Por analogia isto vale para os
telexes.

Qual o valor probatório dos documentos transmitidos por telecópia (ou telefax)?

Não existindo qualquer preceito específico, temos de distinguir duas situações:


 A telecópia é oficial (enviada por notário ou outro depositário público
autorizado): a sua força probatória é a do original (383/1)
 A telecópia é particular: o seu valor probatório é o de prova plena dos factos e
coisas que representa, mas ssa força é ilidida com a mera impugnação da sua exatidão (368.º).

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 85


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Os documentos eletrónicos são aqueles que são emitidos por um computador ou por um seu
terminal com base em dados armazenados na sua memória ou numa memória central – ou seja,
são os documentos que reproduzem estes dados de uma forma que pode ser percebida pelos
sentidos.

Neste contexto, importa considerar o correio eletrónico, que é cada vez mais utilizado como
forma de comunicação quer entre particulares e os serviços públicos, quer entre os particulares.

Qual o seu valor probatório?

O valor é distinto consoante seja aposta uma assinatura digital por uma entidade credenciada
ou se foi transmitido sem qualquer assinatura digital. Em concreto, o valor probatório dos
documentos é o seguinte:
 Foi aposta uma assinatura digital por uma entidade credenciada e o conteúdo é
suscetível de representação como declaração escrita: tem a força probatória do documento
particular assinado (376CC)
 Foi aposta uma assinatura digital por uma entidade credenciada mas o conteúdo
não é suscetível de representação como declaração escrita (ex: fotograia): tem a força probatória
do 368.º CC
 Se não foi aposta uma assinatura digital por uma entidade credenciada: fica
sujeito à livre apreciação do tribunal

PROVAS CONSTITUENDAS

Prova por confissão

Consiste no reconhecimento pela parte da veracidade de um facto desfavorável e


favorável à parte contrária - 352.º CC + 472 CPC

A confissão só é eficaz se for feita por pessoa com capacidade e poder para dispor do
direito a que o facto confessado se refere (353/1) – ex: o credor confessar o recebimento da
prestação contratual realizada pelo devedor, a confissão equivale à disposição do seu direito de
crédito e, por isso, exige aquela capacidade e disponibilidade.

A confissão não é admissível se for declarada insuficiente por lei ou recair sobre facto cujo
reconhecimento ou investigação a lei proíba (354/a) CC), como sucede pex quando a lei exige,
como forma da declaração negocial, documento autêntico, autenticado ou particular (364/1CC).

A confissão também não é admissível se recair sobre factos relativos a direitos indisponíveis
(354/b) CC), como pex os que se referem ao estado das pessoas ou se incidir sobre factos
impossíveis ou notoriamente inexistentes – 354/c).

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 86


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Modalidades

Quanto ao modo de realização, a confissão pode ser judicial ou extrajudicial (355/1 CC). A
confissão judicial é a que é feita em juízo, quer de forma espontânea, se for realizada por iniciativa
do confitente, quer de maneira provocada, se realizada em depoimento de parte (552) ou em
resposta a esclarecimentos pedidos pelo tribunal (265/3 + 462 CC).

A confissão extrajudicial é aquela que é feita fora do processo – 355/4.

QuantoQao conteúdo, a confissão pode ser:


q  Simples: o facto é reconhecido sem reserva ou condição ou sem a invocação de
qualquer facto suscetível de afetar o seu efeito
 Qualificada: o facto é reconhecido com outra qualificação ou eficácia jurídica –
ex: a parte reconhece que recebeu a quantia pretendida pelo autor, mas como doação e não como
mútuo
 Complexa: conjuntamente com o reconhecimento do facto a parte alega um outro
que destrói o efeito da confissão – ex: a parte reconhece o recebimento da quantia mutuada, mas
invoca que já a restituiu ao credor

Características

A confissão é irretratável e indivisível. A irretratabilidade significa que a confissão, uma vez


realizda, não pode ser retirada (567/1) – com exceção da confissão feita nos articulados, enquanto
a parte contrária a não tiver aceite especificadamente – 567/2

Da indivisibilidade decorre que a confissão só pode ser acite ou rejeitada na integra – 360CC.
Assim, o autor ou réu que quer aproveitar-se da parte da confissão que lhe é favorável tem de
aceitar também a parte que lhe é desfavorável, embora possa fazer prova contra a parte da
confissão que lhe é desfavorável – 360CC.

Ex: se o réu confessar que comprou um automóvel ao autor, mas que já pagou o preço, o autor
não pode aceitar a confissão dessa compra e rejeitar a afirmação do pagamento daquele preço,
embora possa provar que esta última afirmação não é verdadeira.

Valoração

O valor da confissão é diferente, mediante a confissão seja judicial ou extrajudicial. Assim:


 A confissão judicial tem valor probatório distinto consoante seja:
 Escrita: valor de prova plena contra o confitente (358/1 CC)
 Não escrita: valor de prova livre (358/4); por isso, ainda que o
depoimento da parte seja prestado na audiência final, ele deve ser reduzido a escrito para que dele
se possa extrair força probatória plena

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 87


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 A confissão extrajudicial depende do meio pelo qual é comunicada ao


tribunal:
 Exarada em doc autêntico ou particular: considera-se provada
nos termos aplicáveis a estes documentos (369 a 372 e 273 a 379) – no entanto, terá força
probatória plena se dirigida à contraparte ou a um seu representante (358/2) e força probatória
livre, se feita a terceiros ou contida em testamento (358/4)
 Não escrita: tem o valor de prova livre (358/4)
 Provada por testemunhas: livremente apreciada pelo tribunal
(358/3CC)

Declarações de parte – art 466.º CPC

Mesmo até ao início das alegações orais em prmeira instância, as partes podem requerer que
querem depôr. Mas esse depoimento é só sobre os factos em que tenham sido intervenientes ou
tenham conhecimento direto.

É controvertido – se o autor depõe sobre factos que lhe aproveitam, vai “influenciar”, tentando
ele próprio fazer prova. Por isso, durante muito tempo isto não foi admitido, sendo apenas
admitido para fazer prova em benefício da outra parte (confissão). Isto evoluiu e consagrou-se
esta norma.

Isto pode ser útil em duas situações:


 Criativa: acidente de viação em que só temos os condutores e um deles fica
inconsciente, pode ser importante a outra parte depor – confiamos que a parte seja idónea
 : A está a fiscalizar e gerir uma obra. A dada altura é preciso pôr um painel de
azulejos e pediu uma grua xpto. A diferença é que há uma estrada e se não for a xpto tem de ser
cortar o trânsito para fazer o ângulo, se não o painel cai. A pede uma grua e aparece a outra, sem
tido sequer pedido à câmara para cortar a estrada.

Prova pericial

Consiste na perceção e apreciação de factos através do parecer de uma pessoa especialmente


qualificada num certo domínio técnico ou cientifico, que é o perito (388). A prova pericial é
utilizada quando seja necessário recorrer a regras de experiência que não são conhecidas do
tribunal ou quando os factos relativos a pessoas não devam ser objeto de inspeção judicial – 388
+ 612/1

Valoração

Pode ser requerida pelas partes (475 + 487/1) ou oficiosamente pelo tribunal (477 + 487/2).

É livremente apreciada pelo tribunal – 389 + 489.

Prova por inspeção judicial

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Consiste na perceção direta e imediata pelo tribunal dos factos relativos a coisas ou a pessoas,
apesar de, quanto a estes últimos, ela não poder ser usada quando haja que salvaguardar a
intimidade privada e familiar e a dignidade da pessoa humana (390 CC). O tribunal pode solicitar
a assessoria técnica para a sua elucidação sobre a averiguação e interpretação dos factos que se
propõe observar – 492/1.

A força probatória desta prova é livremente fixada pelo tribunal (391 CC).

Prova testemunhal

Consiste no depoimento de uma pessoa que emite uma declaração de ciência relativa a um ou
a vários factos.

É admissível em todos os casos em que não seja direta ou indiretamente afastada (392). Está
excluída nas seguintes situações:
 Contra ou em substituição do conteúdo de doc autêntico ou particular – para
prova de convenções adicionais ou contrárias ao conteúdo desses documentos (394/1 C)
 Contra meio de prova com força probatória plena – 393/2 CC
 Contra documento exigido pela lei ad probationem ou ad substantiam (393/1)
 Para demonstração, pelos próprios simuladores, do acordo simulatório e do
negócio dissimulado (394/2CC) – isto pode traduzir consequências iníquas, nomeadamente
porque ela favorece que um dos simuladores, conhecendo aquela limitação imposta à sua
contraparte, se aproveite dessa circunstância para retirar certos benefícios. Assim sendo, admite-
se uma interpretação restritiva do 394/2 para que a prova testemunhal possa ser utilizada para
determinar o alcance dos doc referidos à simulação ou para completar ou consolidar o começo da
prova que neles se possa fundar.

Há uma zona cinzenta que não constitui crime de perjúrio, mas depende da perceção da
realidade de cada um – é uma questão subjetiva.

Valoração

É apreciada livremente pelo tribunal (396.ºCC). Dada a falibilidade do testemunho, a prova


testemunhal exige do tribunal a mais arguta perspicácia na sua apreciação.

Prova por apresentação de coisas

Consiste na exibição de uma coisa móvel ou imóvel, tratando-se da coisa móvel que possa ser
depositada na secretaria do tribunal, é aí colocada à disposição da contraparte para exame e
fotografia – 416.º/1.

Se a ocisa for imóvel ou não puder ser depositada na secretaria, a parte contrária é notificada
para exercer essas mesmas faculdades de exame ou fotografia – 416/2

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 89


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Valoração

É livremente apreciada pelo tribunal.

Qual a natureza jurídica?


 Antunes Varela: é um meio de prova autónomo, diferene da prova documental,
porque não é um documento nem se junta ao processo
 Lebre de Freitas: devemos distinguir entre prova real e prova pessoal, e entre
meios de prova representativos (ilação de realidade de facto quando se extrai a partir do primeiro
através de um registo ou confissão) e meios de prova indiciários (a ilação da realidade é retirada
a partir de indícios de que o facto polatório é indiciador). Considera que o 416.º contém um meio
de prova real indiciário.

Artigo 494 CPC – o constá (?)

Era para ver as imperfeiçoes de um arranjo de cozinha – é um relatório com as fotografias. O


equivalente em Portugal são os agentes de execução – podem ser solicitadores ou advogados mas
têm funções públicas no processo executivo, são os braços direitos armados do tribunal para que
o juiz só veja questões declarativas e não forças executivas

Valor extraprocessual da prova

A prova realizada num processo pode ser usada, por iniciativa das partes, num outro processo
pendente entre as mesmas partes: o resultado da prova por confissão, por peritos e por
testemunhas pode ser apresentado num outro processo – 421.º.

Exclui-se desse valor extraprocessual a prova documental, dada a facilidade da sua produção
no processo pendente e a prova por inspeção judicial, atenta a insusceptibilidade do tribunal que
a reaizou transmitir a sua eprceçao para outro tribunal.

No entanto, quanto à confissão importa referir que a cofnissao feita num processo só vale
como judicial nesse processo – 355/3 CC.

Como hipótese especial de valor extraprocessual da prova, importa considerar a situação


prevista no 279/3: quando o réu tenha sido absolvido da instância por uma exceção dilatória que
não seja a incompetência absoluta do tribunal, a ineptidão da PI, a falta de personalidade
judiciária, a incapacidade judiciária ou a ilegitimidade da parte, podem ser aproveitadas na nova
açao as provas produzidas no primeiro processo.

Condições

Só é amdissível se estiverem preenchidas determinadas condições:

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 90


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a) O processo em que as provas foram produzidas não pode excluir a possibilidade


de aprovietmento noutro processo – 363/4: as provas realizadas nos procedimentos cautelares
nunca podem ser usadsa noutros processos
b) Tem de ter sido observada a audiência contraditória no processo em que foram
produzidas – 421.º/1, pelo que, se o réu tiver permanecido revel no processo em que a prova foi
produzida, ela não pode ser utilizada em nenhum outro processo.
c) As garantias das partes no processo onde a prova foi realizada não pode ser
ingerior às do processo em que se pretende fazer valer a prova produzida
d) O processo em que foi realizada não pode ter sido anulado na parte referente à
prova que se pretende invocar no outro processo

III – FALTA DE PROVA

Nos processos regidos pela disponibilidade das partes, o ónus da prova objetivo coincide
com o subjetivo – a dúvida sobre a realidade de um facto é resolvida contra a parte a quem o facto
aproveita (346 CC + 414), ou seja, é resolvida contra a parte nerada com a sua prova – 342/1 e 2
CC

Assim, perante a falta ou insuficiência da prova, o tribunal ficciona a prova do facto contrário
e decide com base nele.

Ex: ao autor da açao de indemnização incumbe a prova do dano (342/1 CC), pelo que se o
autor não provar esse facto, o tribunal decide como se estivesse provada a inexistência de qualquer
prejuízo.

Concretização

É o tipo de açao declarativa instaurada pelo autor que determina aordem da apreciação pelo
tribunal da prova quanto ao facto constitutivo e impeditivo, modificativou ou extintivo.

Se o autor instaura uma açao de apreciação positiva, de condenação ou constitutiva, cabe-lhe


a prova do facto constitutivo da sj alegada e apenas perante esta prova se devolve à parte passiva
a prova do facto impeditivo, modificativo ou extintivo – 342/1 e 2CC.

Por isso, a posição probatória do réu depende da prova produzida pelo autor. Se este não prova
o facto constitutivo, a açao é julgada improcedente (346CC), mesmo que o réu não prove qualquer
facto impeditivo, modificativo ou extintivo. Porém, se o autor realiza a prova do facto
constitutivo, o réu pode:
 Impugnar por contraprova ou por prova em contrário
 Provar, em correspondência com o respetivo ónus de alegação, o facto
impeditivo, modificativo ou extintivo da sj invocada pelo autor – 342/2

Se o autor não realiza a prova do facto constitutivo, a açao e julgada improcedente, o réu é
absolvido do pedido e fica estabelecida a inexistência desse facto constitutivo e não a existência
de qualquer facto contrário ou incompatível.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 91


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Ex: se o autor não prova o facto constitutivo do direito de propriedade sobre a coisa
reivindicada, fica determinado que ele não é o proprietário, mas não fica decidido que o
demandado o é.

Ao autor de uma açao de apreciação negativa cabe a prova da inexistência da sj ou do facto


impeditivo, modificativo ou extintivo desta situação e somente perante esta prova se devolve à
contraparte a prova do facto constitutivo dessa situação – 342/2 + 343/1.

Esta solução decorre do ónus de alegação da causa de pedir que incide sobre o autor nessas
açoes de simples apreciação, o que, dada a regra da correspondência entre o ónus da alegação e o
ónus da prova, significa que os respetivos factos nela invocados devem ser provados pelo autor.

Ao réu, só cabe o ónus da prova dos factos constitutivos da sj negada pelo autor se aquela
parte pretender que, sendo a açao jugada improcedente, se reconheça a prova da existência da sj
(e não apenas a falta de prova da inexistência dessa situação), devendo para tal formuar o
correspondente pedido reconvencional.

Se o autor não prova o facto impeditivo, modificativo ou extintivo que alega como causa de
pedir, a açao é julgada improcedente (346CC). Porém, neste caso só fica decidida a falta de prova
da inexistência da sj (e não a prova da exist~encia), pelo que o autor pode propor uma outra açao
com fundamento num outro facto impeditivo, modificativo ou extintivo da situação negada.

Ex: o autor instaura uma açao de negação de uma servidão com fundamento no não so durante
20 anos – 1569/1/b) CC. Se o autor não prova esse facto, a açao é julgada improcedente, mesmo
que o réu não prove qualquer facto constitutivo da servidão.

Porém, se o autor não consegue provar o facto que invoca como causa de pedir mas o réu
prova o facto constitutivo da sj alegada na reconvneçao, a açao é julgada improcedente e fica
estabelecida a existência da situação negada pelo autor.

Ex: autor propõe açao de apreciação negativa da paternidade com fundamento na falta de
convivência com a mae do menor, Se o autor não provar a falta de convivência e o réu alegar a
existência de escrito de pai, fica assente a paternidade.

Critérios especiais

A lei fornece alguns critérios especiais no julgamento no non liquet, que se caracterizam por,
diferentemente do critério geral, o tribunal não decidir a dúvida sobre o facto contra aparte
oenrada com a prova. Alguns desses preceitos determinam a presunção de um facto:
 94/2 + 926, 1145, 1252/2, 1359/2 CC

No entanto, estas presunções não devem ser equiparadas a presunções legais, uma vez que não
é habitual que a lei refira que estas presunções se destinam a resolver umasituaçao de incerteza
sobre o facto presumido. Portanto, a dúvida a que se alude nesses precietos só pode ser a que
decorre de uma contraprova que é oposta a uma prova – 346CC

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Se assim é, então as presunções referidas não invertem o ónus da prova quanto ao facto
presumido, limitando-se a estabelecer qual o reflexo que a contraprova produz na prova realizada
sobre o facto – ex: o 11245/1 estabelece que em caso de duvida o mútuo se presume oneroso – se
a parte provou o facto oneroso e a contraparte impugna por contraprova, não é suficiente porque
na dúvida é sempre considerado oneroso

Isto permite afirmar que não há distinção entre os preceitos que estabelecem aquelas
presunções e os que, não contendo referência literal a presunções, resolvem de forma semelhante
certas sit de dúvida sobre um facto.

A lei define alguns critérios especiais de resolução de non liquet:


 Se numa açao de indemnização não puder ser averiguado o montante dos danos,
o tribunal deve fxá-los com base na equidade – 566/3 CC
 Se numa açao de demarcação não for possível determinar os limites dos prédios
ou a área pertencente a cada proprietário, a demarcação faz-se distribuindo o terreno em litigio
por partes iguais – 1354/2
 Se, no incidente de liquidação, a prova produzida pelos litigantes não for
suficiente para determinar o quantitativo da obrigação exequenda, o tribunal deve completá-la
mediante indafaçao oficiosa

**Quando o documento é formaldiade ad substantiam – o meio de prova não pode


sr substituído por qualquer outro nem por outro documento que não tenha força
probatória superior (364/1 CC) – impossibilidade de prova e improcedência da açao ou da
exceção

**Documento em falta é exigido como formalidade ad probationem ou seja, para


proa da declaração (364/2), a solução pode ser diferente, podendo o documento ser
substituído por convicção expressa, judicial ou extrajudicial, tendo esta última de constar
de doc de igual ou superior força probatória.

 PROF. DIOGO CASTANHEIRA PEREIRA: QUANTO À PROVA:

1. ÓNUS DA PROVA OBJETIVO/SUBJETIVO;


2. Âmbito dos princípios da prova e consequência do incumprimento destes
princípios; - IMPORTANTE: imaginem que apresento uma ação a pedir a
insolvência do réu e um dos meus argumentos é o réu não tem a contabilidade
organizada, se cabe ao autor fazer prova deste facto, conseguir fazer prova que o
réu tem contabilidade organizada, depende de um documento do réu: o autor pede
ao tribunal que ordene ao réu a juntar CONTABILIDADE: PROVA EM PODER
DA PARTE CONTRÁRIA: o réu recusa a juntar esta documentação;
3. Força probatória e os juízos de conhecimento do tribunal;
4. Meios de prova; - ler o código:

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§ PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES DO DIREITO PROBATÓRIO


FORMAL

 Aquele que parece ser o mais importante princípio processual que se precipita
sobre o denominado DIREITO PROBATÓRIO FORMAL É O PRINCÍPIO DA
OFICIOSIDADE: OU DE LIVRE INICIATIVA DO TRIBUNAL: o que se traduz na
atribuição de importantes poderes instrutórios ao tribunal.

O tribunal por sua iniciativa, pode determinar a prestação de informações por


parte de serviços administrativos – art. 418/1º CPC, bem como requisitar informações ,
pareceres técnicos, plantas e desenhos, objetos ou outros documentos julgados
necessários ao esclarecimento da verdade: art. 436º CPC, ordenar a realização de
per´ciia por mais do que um perito – art. 468º /1/a) CPC.

Pode ainda ordenar a competência pessoal de qualquer das partes para


prestação de depoimento – art. 452º CPC. Também ordenar a comparência de peritos
para prestarem esclarecimentos sobre o relatório pericial na própria audiência final – art.
604º CPC.

Estes poderes inquisitórios podem, recair sobre factos instrumentais, mesmo que
não tenham sido articulados pelas partes – art. 602/2/f CPC, e art. 5/2º CPC, mas já não
sobre factos essenciais que não tenham sido articulados.

Corolário destes poderes inquisitórios, é a imposição as partes e a terceiros


de deveres jurídicos de cooperação – art. 7º CPC + art. 417º CPC.

Vale dizer que: as partes ou quaisquer terceiros, têm o dever jurídico de prestar a
sua colaboração para a descoberta de verdade. Para o efeito deverão responder ao que
lhe for perguntado: deverão submeter-se às inspeções necessárias, deverão facultar o que
lhes for requisitado, bem como deverão participar os atos que lhe forem determinados.

A recusa em colaborar não implica necessariamente que o facto se tenha pro


provado contra o recusante (se for parte). Não ocorre uma imediata inversão do ónus da
prova: a lei determina apenas que neste caso, o tribunal aprecia livremente o valor da
recusa para efeitos probatórios: art. 417/2/2ªparte do CPC: + art. 344/2º CPC. Todavia
o ónus da prova inverte-se se a parte recusante culposamente tornou impossível a prova
da contraparte.

Há limites que a lei impõe ao dever de colaborar para a descoberta da verdade ,


no sentido em que se torna por vezes inexigível o cumprimento desse dever de
cooperação. Quer dizer que a recusa em colaborar é legítima quando essa colaboração:
art. 417º CPC/3.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 94


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a) implicar a violação da integridade física ou moral das pessoas:


b) Quando implica a intromissão na vida privada ou familiar, no domicílio ou nas
telecomunicações.
c) Quando envolve envolve violação de segredo profissional de funcionário público
ou do Estado. – no caso de sigilo profissional: estas decisões somente podem ser
tomadas após ser ouvido o organismo representativo da profissão em causa
(Ordem dos Médicos, Ordem dos Advogados, Ordem dos Estrangeiros).

O tribunal pode e deve verificar a legitimidade da recusa à luz das anteriores


justificações: aplicando-se o disposto no Código de Processo Penal: ou seja: invocada a
escusa, havendo dúvida fundada sobre a legitimidade, o juiz decide , depois de proceder
às averiguações necessárias.

 QUANTO AO PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO: também está presente na fase da


instrução:

Art. 415º/1º CPC: prevê com efeito que as provas não são admitidas nem
produzidas sem audiência contraditória: da parte a quem hajam sido opostas: por
exemplo: a parte deve ser notificada da apresentação de documentos (provas pré-
constituídas), pela contraparte conjuntamente com o último articulado ou depois dele –
art. 427º CPC. Quanto às provas contituendas a parte deve ser notificada para todos os
atos de preparação e produção de prova – e será admitida a intervir nesse mesmo ato –
art. 415º CPC.
 QUANTO AO PRINCÍPIO DA IMEDIAÇÃO: - OCORRIDA NA AUDIÊNCIA FINAL:

Segundo este princípio o julgador deve ter por um lado o contacto mais próximo
e direto possível com as pessoas ou com as coisas que servem de meios de prova: e por
outro lado as pessoas devem situar-se na relação mais direta possível: com os factos a
provar, uma vez que são os veículos ou os instrumentos entre o julgador e a fonte de prova
. Só este contacto direto permite captar um acervo de sinais significativos sobre a
realidade dos factos.

Isto significa que os atos de produção das provas constituendas tenham lugar
perante o tribunal (tribunal de juiz singular ou perante o tribunal coletivo: nos casos em
que mesmo na sanções ordinárias , este se constitui para julgar a matéria de facto)
excetuados os casos em que a produção de prova seja antecipada - art. 419º CPC.

E quer isto também dizer que o tribunal deve recorrer à fonte de prova que tenha
esta mais perto dos factos cuja veracidade ou inveracidade é suscetível de ser
demonstrada.

Aquele CONTACTO DIRETO (o mais direto possível com as pessoas e as coisas que
servem de fontes de prova: princípio da imediação) postula dois outros princípios: o PRINCÍPIO
DA ORALIDADE e o PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 95


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O PRINCÍPIO DA ORALIDADE: traduz a ideia de que a produção de prova testemunhal e de


depoimento de parte

Procedimentos Cautelares

Encontra-se previsto nos artigos 362º ss.

Nem sempre a regulação dos interesses conflituantes pode aguardar o proferimento da


decisão do tribunal que resolve, de modo definitivo, aquele conflito. Por vezes, torna-se
necessário obter a composição provisória da situação controvertida antes do proferimento da
decisão definitiva.

Essa composição justifica-se sempre que ela seja necessária para assegurar a utilidade da
decisão e a efetividade da tutela jurisdicional – artigo 2º, nº2, in fine + 20, nº1 CRP.

Exemplo – se o devedor está a dissipar o seu património, é indispensável


impedir a continuação dessa conduta, porque, se assim não acontecer, o credor,
mesmo que venha a obter uma sentença condenatória, perdeu, entretanto, a
garantia patrimonial do seu crédito.

A composição provisória realizada através dos procedimentos cautelares pode


prosseguir uma de três finalidades:

1. Ela pode justificar-se pela necessidade de garantir um direito – caso do exemplo


acima expresso;
2. De definir uma regulação provisória
3. De antecipar a tutela pretendia ou requerida.

Esta provisoriedade resulta quer da circunstância de elas corresponderem a uma tutela


que é qualitativamente distinta daquela que é obtida na ação principal de que são dependentes
(artigo 364º), quer a sua necessária substituição pela tutela que vier a ser definida nessa ação, ou
seja, quando na ação principal se reconhece o direito acautelado ou tutelado através da
providência, esta, em regra, não subsiste e é substituída pela tutela definitiva atribuída nessa ação.

Exemplo – os alimentos provisórios decretados no procedimento cautelar


(artigo 384º) são substituídos pelos alimentos definitivos reconhecidos na ação
principal.

Exceção a esta substituição – ARRESTO (artigo 391º), dada a possibilidade da sua


conversão em penhora durante a ação executiva (artigo 762º)

 Quanto ao arresto, os regimes das providências cautelares permitem a apreensão


efetiva de coisas, nomeadamente permite que quando o credor tendo um justificado
receio de perder a garantia patrimonial do seu crédito, requerer o arresto de bens do
devedor.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 96


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O objeto do procedimento cautelar não é a situação jurídica acautelada ou tutelada, mas,


consoante a sua finalidade, a garantia da situação, a regulação provisória ou a antecipação da
tutela que for requerida no respetivo procedimento.

O decretamento da providência não retira o interesse processual na solicitação da tutela


definitiva e não há qualquer contradição – artigo 364º, nº4 – entre a concessão daquela
antecipação através do decretamento da providencia e a recusa da tutela definitiva na ação
principal.

Essa distinção entre os objetos da providencia cautelar e da ação principal também


justifica que a solicitação daquela providencia não implique a pendência do próprio direito
acautelado ou tutelado. É por essa razão que entre o procedimento cautelar e a ação principal
nunca se pode verificar qualquer exceção de litispendência e que a decisão proferida no
procedimento cautelar não é vinculativa na ação principal.

Paula Costa e Silva – vem dizer que há decisões que são tendencialmente definitivas e
outras que são tendencialmente provisórias – estamos, portanto, a contrapor o procedimento
principal e o procedimento cautelar, sendo certo que estes institutos são definidos com contornos
diferenciados – a história do direito marcou a definição deste instituto.

Com isto, no Direito português, a tutela é de urgência – artigo 363º - ou seja, há que
justificar a urgência na obtenção de tutela, para que não seja a parte remetida para a ação principal.

A tutela cautelar convive tipicamente com uma tutela principal, a tutela é cautelar de
uma forma instrumental, sendo que é a uma tutela que se obtém através de uma tutela principal –
art. 364º CPC – exceto se for decretada a inversão do contencioso, o procedimento cautelar é
dependência de uma causa que tenha por fundamento o direito acautelado e pode ser instaurado
como preliminar ou como incidente de ação declarativa ou executiva.

Exemplo: pegando num procedimento cautelar específico: imaginemos


que uma criança carece de alimentos (art. 384º CPC): até demonstrar que aquela
pessoa deve alimentos, qual é o valor dos alimentos que a criança carece e que a
outra parte pode prestar? Até chegar à decisão final para a atribuição de
alimentos, a criança não come?

Nesta situação de urgência pode pedir-se o decretamento provisório


do direito a alimentos aguardando depois a tutela da ação principal: nesta
ação a tutela urgente mantém-se ou é revogada - antecipamos um efeito da ação
final cujos pressupostos dependem das circunstâncias que a cada minuto se
verificam: é fácil elaborar os casos concretos em que a tutela principal já não se
justifica.

Dentro do regime da tutela cautelar podem manter-se um estado de coisas que permitirá
subsequentemente satisfazer um interesse que venha a ser reconhecido ao autor na ação principal:
a isto se chamam as providências conservatórias (art. 362ºCPC)

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 97


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Exemplo: abrindo-se a sucessão o agente pedia uma descrição que


paralisava o património do de cuiús. Não podia substituir o efeito útil, o cabeça
de casal não podia destratar coisas sem que o tribunal tivesse conhecimento.

A tutela só pode ser tratada se houver uma proporcionalidade – ou seja, para preservar,
na esfera do requerente, se houver um excesso na tutela que atribuo não posso decretar aquela
concreta tutela. assim, na tutela cautelar ao invés do processo principal, não vigora o principio do
dispositivo, mas antes o principio do inquisitório – o juiz vai decidir sobre uma situação de
urgência.

Professora Paula Costa e Silva – refere que é exatamente a urgência que justifica a
possibilidade de o tribunal decretar outra tutela, por isso é que o principio do dispositivo não
opera em pleno nestas situações.

A tutela cautelar funda-se numa espécie de uma prova sumária – não se tem de fazer uma
prova exauriente, o que significa que o resultado desta providência é um resultado sumário e o
tribunal não tem de ter a certeza que o direito existe: a parte tem de fazer prova de uma aparência
boa do direito.

A concessão de uma providência cautelar depende da formulação de um juízo de


probabilidade acerca da verificação do direito invocado pelo requerente e da existência de uma
situação de perigo que exija uma tutela provisória e imediata.

Em suma:

 Na ação principal – que é a própria situação que é acautelada ou tutelada


através da providência cautelar – há que apreciar os factos constitutivos da situação
jurídica alegada
 No procedimento cautelar – importa averiguar os fundamentos da
necessidade da composição provisória através do decretamento da garantia, da
regulação transitória ou da antecipação da tutela.

Com isto, o decretamento de uma providência cautelar não especificada – enquanto


medida destinada à tutela provisória de um direito e à sua efetivação prática, mas que implica
igualmente uma grave ingerência na esfera jurídica do requerido – só é admissível quando se
verifique o preenchimento dos seguintes requisitos processuais.

Pressupostos dos procedimentos cautelares:

 Periculum in mora

A necessidade de composição provisória decorre do prejuízo que a demora na decisão


da causa e na composição definitiva provocaria na parte cuja situação jurídica merece ser
acautelada ou tutelada.

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A finalidade especifica das providencias cautelares é, portanto, a de evitar a lesão grave


e dificilmente reparável de um direito proveniente quer da demora na tutela da situação jurídica,
quer pelos danos que possam advir dessa conduta.

Exemplo - o credor que, não estando munido de um título executivo,


intenta uma ação declarativa contra o pretenso devedor com vista ao
reconhecimento judicial do seu crédito e, entretanto, toma conhecimento de que
este, em virtude da mais que previsível execução coerciva do seu património, se
prepara para o ocultar ou dissipar.

Nestas circunstâncias, a impossibilidade de recurso, em tempo útil, a uma providência


cautelar destinada a garantir patrimonialmente o crédito implicaria, na prática, que a sentença que
viesse a ser proferida na ação declarativa se tornasse perfeitamente inútil.

Assim, a tutela cautelar surge inevitavelmente associada a uma tutela preventiva e


urgente, já que a providência cautelar não pode ser decretada se não existir qualquer perigo ou
ameaça grave e irreparável quanto à proteção de um direito.

O periculum in mora é, pois, “a verdadeira causa ou fundamento que autoriza a adoção


de qualquer medida cautelar”.

O periculum in mora, enquanto “paliativo das demoras do processo”, constitui um


requisito processual de natureza constitutiva da providência cautelar concretamente requerida, já
que a falta desse requisito obsta, por via de regra, ao decretamento efetivo da providência, e
traduz-se no prejuízo que pode advir para o requerente em consequência da demora na tutela
definitiva do seu direito.

O periculum in mora refere-se ao perigo no retardamento da tutela jurisdicional,


procurando-se evitar que, por causa do tempo necessário para o julgamento definitivo do mérito
da causa, o direito que se pretende fazer valer em juízo acabe por ficar irremediavelmente
comprometido. Caberá assim ao requerente “provar que não pode aguardar a decisão do
processo principal sem sofrer um prejuízo de consequências graves e irreparáveis.

O periculum in mora – é constituído por dois elementos essenciais:

1. A demora – o procedimento cautelar visa “proteger o justo receio de alguém se


ver prejudicado por uma conduta de terceiro, inquietação que poderia ser
agravada de forma efetiva, com as delongas normas dum pleito judicial”.
2. Dano decorrente dessa demora – a providência cautelar só pode ser decretada
desde que esse seja grave e irreparável ou de difícil reparação, isto é, quando não
seja viável a reintegração do direito de forma específica, ou por equivalente no
decurso de um juízo de mérito.

Na verdade, tratando-se de uma tutela cautelar decretada muitas vezes sem audiência da
parte contrária, não se poderia conceber que fosse qualquer lesão a justificar a ingerência na esfera
jurídica do demandado, acaso lhe produzindo dano de que não pudesse ser ressarcido em caso de
injustificado recurso à providência cautelar.

Os requisitos da gravidade e da dificuldade da reparação são cumulativos.


Consequentemente, ficam afastadas da tutela cautelar as lesões que sejam facilmente reparáveis

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 99


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ou que, apesar de serem irreparáveis ou de difícil reparação, não revistam uma gravidade
suficientemente forte que justifique o recurso à tutela cautelar.

 Fumus boni iuris

O recurso á tutela cautelar implica, desde logo, que o requerente se arrogue titular de
um direito, e que se encontre um risco de sofrer um lesão grave de um direito, e que este se
encontre em risco de sofrer uma lesão grave e irreparável o ou de difícil reparação11. Na
realidade só é admissível o decretamento de uma providência cautelar desde que seja provável
a existência de um determinado direito do requerente que careça de tutela urgente.

Por razões que se prendem com os limites intrínsecos decorrentes da sumariedade da


cognição cautelar, para que a providência possa ser deferida é suficiente um juízo de mera
aparência do direito (art. 365º/1, 368/1, 388/2, 392/1, e 405º/1 do CPC), ou seja basta que se
encontre indiciariamente provado12, que o direito do requerente existe e de que está em risco
de ser violado ( art. 362/1º, 365/1º, 368/1º, 391/1º, 392/1º, 403º/1, e art. 405/1º CPC), sendo
por isso, provável que venha a obter êxito na ação principal de que a providência cautelar, em
regra depende.

Em suma: “não se exige uma prova da realidade jurídica, mas penas


manifestações externas, não se requer um direito certo, mas um direito aparente, um
fumus boni iuris.

Exatamente por isso, salvo se requerer a inversão do contencioso (a PCS diz que não
é necessário haver requerimento para a inversão do contencioso), o requerente da providência
cautelar deve identificar a ação que vai propor, indicando a causa de pedir e o pedido a ser
formulado nessa ação, por forma a que o juiz da causa possa valorar a probabilidade de
acolhimento, em sede principal, do direito que o requerente pretende acautelar e controlar a
efetiva instrumentalidade da providência em relação à decisão a ser proferida na ação
principal.

Sacrifica-se pois a “segurança jurídica em nome da celeridade indispensável à


efetivação da tutela do direito material a ser resguardado pela via jurisdicional” . 13

 Interesse processual

11
Ac TRL de 18/10/2006 e de 23/05/2007, segundo os quais apenas as lesões graves e irreparáveis ou
de difícil reparação merecem a tutela consentida pelo procedimento cautelar comum.
12
Quanto ao âmbito da prova indiciária, o Ac. do STJ de 04.10.2000 no qual se decidiu que a prova
indiciária reconduz-se à prova da existência provável e verosímil dos requisitos legais de que depende o
decretamento de uma providência cautelar.
13
Assim o julgador, com base nos factos sumariamente alegados, deve fazer um juízo de prognose,
“apoiado em simples critérios próprios do homo prudens , em presunções naturais ou da experiência,
quanto à probabilidade de o direito de que o requerente se arroga titular vir a ser tutelado na ação
principal de que a providência depende.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 100


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A providência cautelar só pode ser concedida se o requerente não tiver ao seu


alcance qualquer meio processual menos gravoso que lhe permita proteger de igual
forma o direito que pretende acautelar.

Em sede cautelar o requerente da providência só terá interesse processual


se alegar e provar, pelo menos de forma indiciária, que é titular de um direito, que
esse direito do ou está na iminência de ser violado e de que existe a necessidade de se
proceder à sua reintegração, ainda que de forma provisória. Por via disso, o julgador
deve apreciar o interesse em agir do requerente da providência cautelar não só em
função do direito de que este se arroga titular, mas também através de uma análise
geral do ordenamento jurídico, de modo a apurar se existe uma outra medida
processual menos gravosa que permita uma tutela igualmente eficaz do direito
ameaçado. Trata-se consequentemente, de um importante mecanismo de proteção do
requerido contra o decretamento de eventuais providências cautelares injustificadas,
designadamente nos casos em que o requerente não tenha interesse em agir.

 Proporcionalidade

Funus boni iuris sumarium conditio” a urgência é mais uma vez comparativa com a
situação normal. Não pode esperar pela decisão final pericilum in mora

A) RAZÃO DA SUA EXISTÊNCIA;

O art. 2/2º CPC: garantindo o direito de acesso aos tribunais, atribui ao titular de um
direito a possibilidade de propor a ação adequada a fazê-lo reconhecer em juízo e a prevenir ou
reparar a sua violação. Porém, a ação demora um período de tempo mais ou menos longo, mesmo
que todos os prazos sejam respeitados.

O caminho para a obtenção de uma decisão judicial definitiva, é por via de regra, longo
sinuoso e moroso. Com efeito pode suceder, que por motivos relacionados com a excessiva
litigância judicial ou com a própria complexidade da causa, o período de tempo medeia entre a
propositura da ação e o trânsito em julgado da sentença que ponha termo definitivo ao litígio não
se compadeça com a necessidade de acautelar a satisfação do direito de autor.

Na verdade a demora constitui um defeito constitucional, um custo inevitável” do


processo judicial. Ora a segurança e a certeza da decisão judicial que pressupõem um processo
dominado pelos os princípios do dispositivo, do contraditório e do inquisitório devem ser
harmonizadas com a necessidade de se garantir a efetividade dessa decisão, já que nada vale obter
uma sentença materialmente justa, se esta não for temporalmente exequível.

A harmonização destes dois valores, é no entanto uma “obra difícil, uma vez que o
objetivo deste processo é realizar tutela jurisdicional efetiva plena, certa e definitiva, e, ao mesmo
tempo, realizar tutela que seja efetiva. E a dificuldade apresentada resulta do facto de a demora
natural do processo institucionalizado ser, ela própria, apta para anular todo o efeito útil da

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 101


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sentença, por mais certa e definitiva que a sentença seja, e por mais contraditório que tenha sido
o processo , prejudicando, por conseguinte quem dele se serve.

Em suma: “o tempo é um fator de corrosão dos direitos”, pelo que se torna necessário
oferecer “meios de combate á força corrosiva do tempo- inimigo”, isto é, meios adequados a
prevenir a violação do direito ou a garantir a sua efetividade. Deste modo, a ordem jurídica deve
neutralizar o prejuízo irreparável ou de difícil reparação decorrente da duração normal do
processo, evitando que esse facto produza um dano ao autor que pretende ver reconhecido o seu
direito.

É exatamente neste contexto que as providências cautelares, enquanto medidas de


natureza sumária e urgente, visam antecipar ou garantir o efeito útil do reconhecimento de um
direito, ou como refere o art. 2/2º CPC ”acautelar o efeito útil da ação” – neutralizando os
prejuízos que possam advir para o interessado na tutela do seu direito em consequência da demora
normal e inevitável do processo, isto é, da “passagem irreversível do tempo”.

As providências cautelares são um instrumento adequado a assegurar e garantir a


efetividade da tutela jurisdicional, constituindo, dessa forma a garantia da garantia judiaria,
representada pela ação definitiva.

 De facto, as PROVIDÊNCIAS CAUTELARES ASSEGURAM A DEFESA PREVENTIVA DO


DIREITO, ou seja a “função declarativa preventiva não autónoma do processo civil, pelo
que constituem um “instrumento processual privilegiado para a proteção eficaz de
direitos subjetivos ou de outros interesses juridicamente relevantes”

No que é que se traduz:( a parte não pode esperar o tempo do decretamento de tutela
penal, não pode esperar na tutela antecipatória nem a conservatória) . Se a parte tem fazer apenas
prova da aparência do direito e esse a providência cautelar deve lhe ser decretada a partir do
momento m que é feita a prova sumaria e o juiz atinge o valor da probabilidade, a prova o grau
de prova que se exige ligada a probabilidade é a prova prima facie – de primeira aparência .

Esse tempo de demora suscetível de acarretar consequências tais que a decisão que vier
a ser proferida já não tenha qualquer efeito útil.

Dito de outro modo: o reconhecimento da existência de um direito pode demorar tanto


tempo que a decisão, quando proferida acaba por perder o efeito prático, tornando-se meramente
platónica. Por isso a parte final do nº2 do art.2 prevê além das ações “os procedimentos
necessários para a acautelar o efeito útil da ação”.

São os procedimentos cautelares a que aludem os art. 362º ss CPC.

COM OS PROCEDIMENTOS CAUTELARES tem-se em vista a emanação duma providência


que, até última alteração do CPC, era sempre provisória ou interina, porque destinada a durar
somente enquanto não fosse proferida decisão definitiva na ação principal já proposta ou a propor
posteriormente.

Como se sabe, a demora do julgamento final e definitivo, na ação é dentro de limites


razoáveis, um facto normal impossível de remover. Mas essa demora pode em certas
circunstâncias criar um estado de perigo (periculum in mora) porque pode expor o titular do

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 102


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direito a danos irreparáveis, pode na verdade suceder que até à altura da emanação da decisão
final se produzam ocorrências graves, suscetíveis de comprometer a utilidade e a eficácia da
sentença.

ADELINO DA PALMA CARLOS: define procedimento cautelar como:

1. Sendo o que se destina a evitar um prejuízo grave – periculum in mora: que ameaça um
direito subjetivo;
2. Prejuízo tão iminente que não pode esperar pela solução final de uma ação declarativa ou
executiva (ação principal) instaurada ou a instaurar em curto prazo, e que exige a adoção
de medidas urgentes depois de um breve exame e instrução da causa summaria cognitio.
3. Durante o qual o juiz tem de convencer-se apena da probabilidade ou verosimilhança da
existência do direito fumus boni iuris, e do perigo invocados.

Atualmente, a alteração legislativa quebrou o tradicional princípio segundo o qual o


procedimento cautelar ´+e sempre dependência de uma causa principal proposta pelo requerente;

Quando a convicção do juiz ultrapassa a mera probabilidade da existência de um direito


e se julga apto para decidir o litígio sem necessidade de uma segunda discussão, na ação principal,
pode dispensar o requerente desde que este o solicite, do ónus de propor a ação principal;

 A providência cautelar em certos casos, VISA GARANTIR UM DIREITO: é o acontece


quando o devedor está a dissipar os seus bens e por isso, se torna necessário pôr fim, com
brevidade, a essa situação para que o credor não veja como inútil a sentença condenatória
que lhe vier a ser favorável, por , por nessa altura já se encontrar exaurido o património
do devedor;
 Quando se procura uma DECISÃO PROVISÓRIA RÁPIDA: antes da decisão definitiva,
por ser o único meio de evitar certo perigo. É o que se verifica com a atribuição de
alimentos provisórios , pois se o requerente tivesse de esperar pela decisão dos
alimentos definitivos , arriscar-se-ia a morrer de fome antes de a ver proferida.

A decisão proferida na providência cautelar que, antes da última alteração legislativa,


era sempre tida como provisória pois devia durar somente até ser decidida a ação principal,
atualmente , em certos casos, pode ser considerada como a solução definitiva, tornando
desnecessária a instauração de uma ação principal: nos casos em que é decretada a
inversão do contencioso.

B) CLASSIFICAÇÃO QUANDO À FINALIDADE;

De um modo geral, os procedimentos cautelares “ou visam assegurar os


resultado da ação, mantendo o status quo para que ele se não altere em condições tais
que não seja suscetível de reintegração, ou antecipando a realização do direito que venha
eventualmente a ser reconhecido, dada a urgência na efetivação”.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 103


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Conforme resulta do art. 362/1 CPC: podem ser requeridas


as seguintes providência consoante a sua finalidade:

• Estas providências visam manter a situação de


facto anterior por forma a prevenir uma
alteração que se antevê como prejudicial.
Todas elas têm por finalidade manter a situação
1. PROVIDÊNCIA existente pro forma a que o direito do requerente
conserve a sustibilidade de reintegração;
CONSERVATÓRIA • São conservatórias: o ARRESTO, O
ARROLAMENTO, O EMBARGO DE OBRA NOVA E
A SUSPENSÃO DA DELIBERAÇÕES SOCIAIS;

• Como o termo também sugere, visam obstar a


que se verifiquem prejuízos ocasioandos pela
demora da decisão definitiva, constituindo uma
antecipação provisória dos efeitos da ação
2. PROVIDÊNCIA principal.
• Têm por outras palavras carácter antecipatório
ANTECIPATÓRIA dos efeitos da ação principal. Estão neste caso os
ALIMENTOS PROVISÓRIOS, O ARBITRAMENTO DE
REPARAÇÃO PROVISÓRIA E A RESTITUIÇÃO DA
POSSE.

C) PROVIDÊNCIA CAUTELARES ESPECIFICADAS E NÃO ESPECIFICADAS;


Vários procedimentos cautelares encontram-se especificados, ou seja, indicados no CPC.
São os seguintes:

 Restituição provisória de posse | art. 377º a 379º CPC;


 Suspensão de deliberações sociais | art. 380 a 383º CPC;
 Alimentos provisórios | art. 384º a 387º CPC
 Arbitramento de reparação provisória | art. 388º a 402º CPC;
 Arresto | art. 391º a 396º CPC
 Embargo de obra nova | art. 397º a 402º CPC;
 Arrolamento | art. 403º a 409º CPC;

Porém como facilmente se compreende, os procedimentos cautelares especificados ou


nominados, não contemplam todas as situações possíveis. Por isso, para a acautelar um risco de
lesão não especialmente prevenido naquelas disposições legais, pode ser requerida uma
PROVIDÊNCIA CAUTELAR COMUM (NÃO ESPECIFICADA OU INOMINADA) que seja adequada à
situação concreta;

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 104


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POR OUTRAS PALAVRAS: a lei define várias providências cautelares específicas mas na
impossibilidade de prever todas as situações que possam desencadear, admite a possibilidade de
ser requerida uma providência cautelar diferente das previstas no CPC, uma providência
cautelar comum.

Como se compreende a providência cautelar comum só poderá ser requerida quando a


situação não for suscetível de ser acautelada por alguma das providências que se encontram
tipificadas na lei – art, 362/3º CPC.

Quer isto dizer só poderá lançar-se mão de providência cautelar comum se não houver
providência cautelar especificada (nominada) que seja adequada à situação concreta.

Nos termos do art. 362/1º CPC: a providência cautelar comum pode ser decretada se além
de existir a aparência do direito, haja fundado receio de que outrem cause lesão grave e
dificilmente reparável a esse direito (art. 368/1º CPC).

Impõe-se porém, ao juiz que se recuse a decretar a providência quando o prejuízo dela
resultante para o requerido exceda consideravelmente o dano que com ela o requerente pretende
evitar – art. 368/2º CPC.

Em suma para que possa ser decretada uma providência cautelar não especificada:
devem encontrar-se preenchidos os seguintes pressupostos:

a) PROBABILIDADE SÉRIA DA EXISTÊNCIA DO DIREITO;


b) FUNDADO RECEIO DA SUA LESÃO;
c) FALTA DE PROVIDÊNCIA CAUTELAR ESPECIFICADA QUE PREVINA O CASO
CONCRETO;
d) QUE O PREJUÍZO RESULTANTE DA PROVIDÊNCIA NÃO EXCEDA O VALOR DO DANO
QUE COM ELA SE PRETENDE EVITAR;

D) CARÁCTER INSTRUMENTAL E EM PRINCÍPIO PROVISÓRIO;

Através da providência cautelar procura-se defender o presumido titular do direito contra


os prejuízos que lhe podem advir em consequência da normal demora da decisão definitiva. Quer
dizer, ao ser decretada uma providência cautelar em princípio a decisão é provisória e procura-
se garantir a utilidade e a eficácia da decisão definitiva a proferir na ação principal. É com este
sentido que se pode falar do carácter instrumental da providência cautelar;

 “Se faltar o periculum in mora , se o requerente da providência não se encontrar pelo


menos na iminência de sofrer qualquer lesão ou dano, falta a necessidade de composição
provisória e a providência não pode ser decretada.

Quer dizer: esse periculum in mora é um ELEMENTO CONSTITUTIVO DA


PROVIDÊNCIA REQUERIDA, pelo que a sua inexistência obsta ao decretamento
daquela ”.
14

14
Prof. Miguel Teixeira de Sousa – Estudos sobre o Novo Processo Civil, pág. 232

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 105


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 A AMEAÇA DO PERICULUM IN MORA autoriza o tribunal a apreciar preliminarmente e


sumariamente uma relação jurídica substancial que há de ser objeto de exame mais
profundo e demorado.

 Quando o procedimento cautelar é dependência da causa principal, esta terá por


fundamento o direito cautelado. Quer dizer, a providência requerida deve ter por objeto
acautelar o interesse jurídico que se pretende ver reconhecido ação principal.

Assim a providência cautelar em que se pede a prestação de alimentos provisórios


será dependência da ação de alimentos definitivos; a providência cautelar em que foi decretada
a suspensão de uma ou mais deliberações sociais será dependência da ação da anulação da ou das
deliberações sociais.

NEM O JULGAMENTO DA MATÉRIA DE FACTO, NEM A DECISÃO FINAL PROFERIDA NO


PROCEDIMENTOS CAUTELAR , TEM QUALQUER INFLUÊNCIA NO JULGAMENTO DA AÇÃO
PRINCIPAL – ART. 364/4º CPC.

 A circunstância de a decisão proferida no procedimento cautelar não se impor à decisão


a proferir na ação respetiva justifica-se pela diferente dignidade e finalidade das duas
decisões:

1. Enquanto a decisão a proferir na ação visa definir o direito só depois de uma averiguação
com respeito pelos princípios e garantias devidos;
2. A decisão proferida no procedimento cautelar, visando cautelar o EFEITO ÚTIL (art.2/2º
CPC) , pode basear-se apenas em meros juízos de probabilidade. O requerente pode
limitar-se a indicar prova sumária do direito ameaçado (art. 365/1 CPC).15

 RACIOCÍNIO PROFESSORA PAULA COSTA E SILVA:

 Processo: a tutela cautelar no sistema jurídico português é instrumental do processo


principal, a uma providência cautelar segue-se um processo principal – o processo
principal faz caducar a providência cautelar. (certo)

A instrumentalidade vai pressupor a existência na ordem jurídica de duas decisões:

I. A decisão cautelar e a expetável decisão do processo principal: e se o juiz ao


invés de conseguir dizer que a história é provável, o juiz diz que tem a certeza que a
história foi daquela maneira: só pode ser desta forma: faz sentido a caracterítica da
instrumentalidade? Faz sentido uma nova ação? Porque a nova ação só se justifica
porque a primeira decisão é provisória por natureza, há que confirmar através de um
processo que me permita adquirir um juízo de certeza: mais uma vez o juízo de
certeza: é em face das provas que temos no processo.

15
Ac. STJ de 12/06/1997

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 106


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 Voltamos á pergunta inicial e essencial da Professora PCS: Quando há certeza faz


sentido após uma providência cautelar intentar uma nova decisão?

Há divergência doutrinária: o segundo processo,nestes casos, a nossa lei passou no


CPC no sistema central a permitir a dispensa da propositura da ação principal quando o juiz
alcance a certeza, quanto àquele direito que a parte tinha de fazer prova de aparência:
conseguiu chegar-se a um verdadeiro direito e não uma mera aparência: o processo não tinha
qualquer efeito útil: então relativamente à inversão do contencioso: é evidente que no
esquema normal quem tem de propôr a ação para que a tutela não caduque é o requerente
na tutela, nos casos em que o juiz atinge o grau de certeza, é o requerido na providência que
tem de intentar uma ação: é ele que tem de contradizer a certeza a que o juiz chegou.

E) O PROCEDIMENTO CAUTELAR PODE SER PRELIMINAR OU INCIDENTE


DA AÇÃO:

EM PRINCÍPIO A “PROVIDÊNCIA CAUTELAR TEM UMA VIDA NECESSARIAMENTE


LIMITADA: SÓ DURA ENQUANTO NÃO É PROFERIDA A DECISÃO FINAL”.

Exceto se for decretada a INVERSÃO DO CONTENCIOSO, o procedimento cautelar é


dependência da ação que tenha por fundamento o direito acautelado, e pode ser instaurado como
PRELIMINAR OU COMO INCIDENTE DA AÇÃO DECLARATIVA OU EXECUTIVA – art. 364º/1 CPC.

Quando o procedimento é requerido antes (isto é como preliminar), o processo será


apensado ao da ação principal logo que esta seja proposta.

Se a ação vier a correr noutro tribunal para aí é remetido o apenso, ficando o juiz da ação
com exclusiva competência para os termos subsequentes à remessa – art, 364/2º CPC. É por isso
que a indetificação do procedimento cautelar instaurado como preliminar deve ser referida pelo
autor quando propuser a ação principal.

A partir da remessa do procedimento cautelar para o tribunal onde corre a ação principal
para ser apensado a esta, só o juiz da ação tem competência para se pronunciar sobre quaisquer
questões naquele suscitadas.

Como facilmente se compreende o procedimento cautelar requerido preliminarmente fica


sujeito á distribuição e a ação principal, depois de proposta também vai á distribuição. É pela
distribuição que a fim a de repartir com igualdade o serviço judicial, se designa a secção, a
instância e o tribunal em que o processo há de correr ou o juiz que há de exercer as funções de
relator – art. 203º CPC.

Sendo o procedimento cautelar requerido na pendência da ação principal, como incidente


desta, não será sujeito à distribuição , pois terá de correr como apenso da ação principal. (art.
364/3º CPC).

F) INVERSÃO DO CONTENCIOSO E CONSOLIDAÇÃO DA DECISÃO:

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O princípio segundo o qual os procedimentos cautelares podem deixar de depender da


ação que teria como fundamento o direito acautelado, se for decretada a inversão do
contencioso.

§ ANÁLISE DA PROFESSORA COSTA E SILVA:

O nosso CPC criou um sistema de tutela cautelar globalmente mais eficiente, desde logo
porque em certos casos, se propõe que a decisão cautelar não caduque, produzindo-se os seus
efeitos indefinidamente no tempo, sem necessidade de confirmação por decisão a proferir em
ação principal,- cremos que aquilo que acaba por se alcançar é uma solução mais complexa e
menos eficiente do que aquela que o nosso sistema já continha.

Refere-se ao regime constante do art. 16º do Regime Processual Experimental –


quando esteja verificado um pressuposto comum a ambas as propostas: a obtenção pelo tribunal
de um juízo de certeza, quanto à existência do direito cautelado. Perante este juízo de certeza –
na expressão do art. 369º CPC convicção segura acerca da existência do direito acautelado, no
mesmo modelo proposto pela Comissão a parte requerente da

Quer isto dizer que a providência cautelar decretada pode consolidar-se como
composição definitiva do LITÍGIO, e, portanto, o requerente fica dispensado de propor a ação
respetiva.
 Conforme dispõe o art. 369/1º CPC: mediante requerimento, o juiz, na decisão de
propositura da ação principal se a matéria adquirida no procedimento lhe permitir formar
convicção segura acerca da existência do direito acautelado e se a natureza da
providência decretada for adequada a realizar a composição definitiva do litígio.

Para compreendermos esta alteração legislativa não podemos perder de vista que o
procedimento cautelar exige uma maior celeridade e portanto tem de ter uma estrutura mais
simplificada e mais rápida.

Por isso, quando decreta uma providência cautelar, o juiz não tem a mesma exigência
quanto à prova acerca da existência e da violação do direito do requerente, visto que o tribunal,
em princípio não emite um juízo definitivo, MAS APENAS UM JUÍZO PROVISÓRIO.
 Sendo assim, será suficiente para que possa ser decretada a providência cautelar a
PROBABILIDADE SÉRIA DA EXISTÊNCIA DO DIREITO (sem necessidade de alcançar um
elevado grau de certeza) e que se mostre suficientemente fundando o receio da sua lesão
| art. 365/1 e 368/1º CPC.

Trata-se portanto de uma apreciação sumária – summaria cognitio – da existência de um


direito, contentando-se o juiz com a aparência desse mesmo direito – fumus boni iuris.

Não se exige a prova completa, sobre a existência da situação jurídica que se pretende
acautelar. Essa exigência não seria compatível com a celeridade própria da providência cautelar
e além disso, constituiria uma repetição própria da providência cautelar, e além disso constituiria
uma repetição da prova que teria de ser exigida na ação principal.

Porém tudo muda de figura, se o requerente solicita a inversão do contencioso e o juiz do


procedimento cautelar adquire a convicção segura acerca da existência do direito que tem de ser
acautelado. Agora estamos perante um juízo mais profundo do que o da simples prova sumária.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 108


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O juiz terá de formar a convicção segura do direito que a providência se destina a


acautelar e não apenas a convicção da procedência da providência. Esta sua convicção deve ter
a consistência suficiente para fundamentar a solução definitiva do litígio.

Só nestas circunstâncias, o legislador alcança o convencimento de que não sentido exigir


do requerente a repetição da prova no âmbito da ação principal. PODE POR ISSO, DISPENSÁ-LO
DO ÓNUS DE PROPOR A AÇÃO PRINCIPAL.

 Como resulta do referido no art. 369º CPC essa dispensa só é possível desde que se
verifiquem CUMULATIVAMENTE TRÊS REQUISITOS:

A) QUE A MATÉRIA DE FACTO PROVADA NO PROCEDIMENTO CAUTELAR PERMITA AO JUIZ


ADQUIRIR A CONVICÇÃO SEGURA ACERCA DA EXISTÊNCIA DO DIREITO ACAUTELADO;

O PRIMEIRO REQUISITO só pode ter sido o resultado de o requerente não se ter limitado
a apresentar prova sumária do direito que se arroga e da ameaça que sobre este direito impede.
Quer dizer: o requerente foi certamente além daquele mínimo que é exigido pelo art. 365/1º CPC,
para uma decisão provisória.

Para poder requerer a inversão do contencioso, teve de se preocupar em fazer prova


suficiente para formar a convicção do juiz acerca do direito acautelado;
B) QUE A NATUREZA DA PROVIDÊNCIA DECRETADA SEJA ADEQUADA A REALIZAR A
COMPOSIÇÃO DEFINITIVA DO LITÍGIO;

NO QUE QUE CONCERNE AO SEGUNDO REQUISITO: é necessário ter em conta que nem
sempre a providência é de molde à composição definitiva do litígio.

A este respeito, dispõe o nº4 do art. 376º CPC que o regime de inversão do contencioso
é aplicável com as devidas adaptações, à restituição provisória da posse, á suspensão de
deliberações sociais, aos alimentos provisórios, ao embrago de obra nova, bem como à demais
providências previstas na lei avulsa cuja natureza permita realizar composição definitiva do
litígio.

Estarãoportanto excluídas as providências cautelares de cariz manifestamente


conservatório como são o arresto e o arrolamento, e também as providências baseadas numa
decisão precária e limitada quanto ao universo dos danos ressarcíeis.

Enquadra-se neste último caso o arbitramento de reparação provisória.


C) Antes de tudo porém exige-se que a inversão do contencioso seja requerida
(DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA ENTRE MTS E PCS); - A PROF. PCS ACHA QUE NUMA
QUESTÃO DE POLÍTICA LEGISLATIVA – DEVIA SER OFICIOSA – NÃO É O QUE E ESTÁ O
CÓDIGO.

A dispensa de ónus de propor a ação principal não depende da iniciativa do juiz. Deve
ser solicitada pelo requerente atrvés de requerimento. É ele que tem de avaliar se lhe interessa ou
não requerer a consolidação da decisão cautelar, ou seja, a sua potencial definitividade.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 109


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O requerimento tem de ser apresentado até ao encerramento da audiência final , o que


significa que o requerimento pode ser feito mesmo depois dos debates – art, 369/2º CPC. É claro
que neste caso, ao requerido deve ser dada a palavra para se pronunciar sobre o assunto.

O REQUERIMENTO está sujeito ao contraditório: do requerido. No caso de procedimento


cautelar sem contraditório prévio, o requerido terá oportunidade de se opor ao pedido servindo-
se da oposição a seguir ao decretamento da providência cautelar, sendo a matéria da inversão do
contencioso, apreciada em conjunto com a referida oposição.

A inversão do contencioso, significa que o ónus de propor a ação principal se inverte ,


passando para o requerido, se quiser impugnar a existência do direito acautelado. O requerente
somente foi dispensado do ónus de propor a ação principal.

Trata-se portanto de uma dispensa de ordem processual;

A decisão cautelar proferida consolida-se se o requerido não propuser a ação, ou tendo-


a proposto, se não for demonstrado que essa decisão não podia ter vocação de definitividade.

Durante a discussão concomitante com a atividade preparatória da legislação que veio a


dar forma ao novo CPC, deparámos com duas posições diferentes no que concerne ao ónus da
prova na ação proposta em consequência da inversão do contencioso.
1. Defendiam uns que tendo sido determinada a inversão do contencioso isso significa
que o ónus da prova dos factos alegados continua a caber ao requerente do procedimento
cautelar que, agora na ação, tem a posição de réu.

Trata-se portanto de uma ação de simples apreciação negativa, sendo assim, o


ónus a prova pertence ao réu, (isto é ao requerente do procedimento cautelar) e não ao
autor (o requerido no procedimento cautelar) conforme resulta diretamente do
preceituado no art. 343/1º CC.

Quer dizer o requerente só não tem de propor a ação , mas continua a caber-
lhe o ónus de prova dos factos em que assenta o direito que invoca. Por isso só tirará
proveito da inversão do contencioso, se o requerido não propuser a ação principal;

2. OUTROS POREM TINHA UMA POSIÇÃO DIFERENTE: em seu entender nos termos do art.
371/1º CPC o fim da ação é o de impugnar a existência do direito acautelado, o que
significa que cabe ao autor (requerido no procedimento cautelar) o ónus de provar a
ilegalidade ou inadequação da decisão que decretou a providência e a considerou como
sendo a composição do litígio tendencialmente definitiva;

Certamente esta dualidade de pontos de vista não apssou despercebida ao legislador final:
e por isso tendo em vista tornar o preceito mais claro veio a acrescentar algo sobre as regras do
ónus da prova; que haja decretado a providência do ónus da prova, d

Agora no nº1 do art. 371º CPC: determina que , sem prejuízo das regras sobre a
distribuição do ónus da prova, logo que transite em julgado a decisão que haja decretado a
providência cautelar e invertido o contencioso é o requerido notificado, com a advertência de que
querendo, deve intentar a ação destinada a impugnar a existência do direito acautelado nos 30

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 110


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dias subsequentes à notificação, sob pena de a providência decretada se consolidar como


composição definitiva do litígio;

A inversão do contencioso não implica a inversão das regras de distribuição do ónus da


prova previstas no art. 342º do CC.

Sendo estas de natureza substantiva, não estão dependentes da posição que as partes
ocupam no processo. Perante uma ação de simples apreciação negativa, cabe ao réu (requerente
da providência cautelar) nos termos do art. 343/1º CC, a prova dos factos constitutivos do
direito que se arroga.

A providência decretada também se consolida como composição definitiva do litígio


quando, depois de proposta a ação, o processo estiver parado mais de 30 dias por negligência do
requerente ou o réu for absolvido da instância e o autor não propuser nova ação em tempo de
aproveitar os efeitos da propositura da anterior. – art. 371/2º CPC.

O alcance e efeitos da absolvição da instância estão previstos no art. 279/1º CPC. O nº2
deste preceito prevê o modo de manter os efeitos civis derivados da propositura da ação em que
o réu foi absolvido da instância por sentença transitada em julgado.

G) CADUCIDADE DA PROVIDÊNCIA DECRETADA

Como facilmente se compreende, nos casos de inversão do contencioso, se o requerido


propuser ação destinada a impugnar a existência do direito invocado pelo requerente e a ação for
julgada procedente, por decisão transitada em julgado, isso determina a caducidade da
providência decretada – art. 371/3º CPC.

Se o direito acautelado estiver sujeito a caducidade, esta interrompe-se com o pedido de


inversão do contencioso, reiniciando-se a contagem do prazo a partir do trânsito em julgado da
decisão que negue o pedido art. 369/3. (por exemplo as ações possessórias – art. 1282º CC).

Isto significa que mesmo depois do pedido de inversão do contencioso, o direito


continua a estar sujeito à caducidade.

H) URGÊNCIA DOS PROCEDIMENTOS CAUTELARES:


A indispensável celeridade dos procedimentos cautelares conduz a que nunca haja lugar
á citação edital – art. 366/4º CPC. Segundo este preceito, o juiz deve dispensar a prévia audiência
do requerido, quando verificar que a citação pessoal deste não é viável.
 A MOROSIDADE DAS DILIGÊNCIAS NECESSÁRIAS à confirmação da ausência do
requerido em parte incerta iriam pôr em risco a pretendida urgência e o respeito pelos
prazos previstos no art. 363/2º CPC.
 A mesma exigência de celeridade dá aos procedimentos cautelares o carácter de urgentes,
precedendo os respetivos atos qualquer outro serviço judicial não urgente – art. 363º/1
CPC.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 111


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 Como consequência desta URGÊNCIA, os respetivos prazos processuais não se suspendem


durante as férias judiciais – art. 138/1 in fine CPC.

Tendo em vista esta exigência de celeridade, os procedimentos cautelares devem ser


decididos em primeira instância, no prazo máximo de 2 meses ou se o requerido não tiver sido
citado, de 15 dias – art. 363/2º CPC.

O requerido não é citado, como já ficou dito, nos casos previstos nos art. 366/1º, 378 e
393/1 CPC.

I) CONTRADITÓRIO DO REQUERIDO:
O respeito pelo princípio do contraditório, está previsto no art. 3/1 in fine do CPC.

Aí de determina que o conflito de interesses que a ação pressupõe não pode ser resolvido
sem que o réu ou o requerido seja devidamente chamado a juízo para deduzir oposição. Este
princípio que é considerado a trave mestra de todo o sistema não pode ser perdido de vista no
desenvolvimento de qualquer atividade processual.

Segundo este princípio, cada um das partes, é chamada a deduzir as suas razões (de
facto de direito) a oferecer as suas provas, a controlar as provas do adversário e a discretear sobre
o valor e resultado de uma e outras.

Porém logo no nº2 do mesmo art. 3º CPC se prevê a possibilidade de em casos


excecionais previstos na lei se poderem tomar providências contra determinada pessoa sem que
ela seja previamente ouvida.

Em casos excecionais podem encontrar-se precisamente os procedimentos


cautelares: a summaria cognitio justifica que possam ser decretadas certas providências
cautelares sem prévia audição do requerido. Casos existem em que é mesmo proibida a audição
do requerido. É o que acontece na restituição provisória da posse, no caso de esbulho violente,
art. 378º e também art. 1279 CC e no caso do arresto art. 393º CPC.

Noutros casos é permitido mas não é imposto, que a providência seja decretada sem
audiência do requerido: art. 366/1 CPC.
 Nos termos do art. 366/1º CPC a audiência da parte contrária só será dispensada se
essa formalidade puser em risco sério o fim ou a eficácia da providência requerida,
o que pressupõe que o juiz terá de avaliar essa probabilidade no caso concreto que lhe
depara.

Em termos gerais, a dispensa da observância do princípio do contraditório tem,


portanto, carácter excecional pois só é admitida nos casos em que se possa colocar em risco
sério o fim ou eficácia da providência.

Devemos ter em conta porém que os caso excecionais a que alude o nº2 do art.3º CPC,
apenas permitem que a contraparte não seja previamente ouvida, o que é bem diferente de não
ser ouvida, na verdade quando a providência é decretada sem a prévia audição do requerido , o
princípio do contraditório não será definitivamente postergado, visto que será observado em

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 112


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momento ulterior, dando então oportunidade ao requerido de se defender, impugnando a decisão


por meio de recurso ou deduzindo oposição.

 PROFESSORA PAULA COSTA E SILVA: em total oposição com o prof. MTS . há


probabilidade vai opor se a certeza, muita atenção quando falamos de certeza: é perante
os elementos disponíveis dentro do processo: o juiz não decide com base em
factualidades e fora dos casos que estão fora do processo, o seu universo são os factos
que ele tem dentro do processo: é a esta realidade que se aplicam as palavras de
probabilidade e certeza:

O Prof. MTS não aceita que uma decisão de providencia cautelar no âmbito da inversão
do contencioso , não admite que se forme caso julgado, a PCS analisa a decisão em si, e admite
que não obstante que possa haver impugnação da inversão do contencioso, admite que ao atingir
um grau de certeza , então poderá formal caso julgado material.

Quais os efeitos retroativos da decisão que impugnou a inversão do contencioso?

- Se tiver efeitos retroativos: então é o Prof. MTS que tem razão;

- Se não tiver efeitos retroativos: a Prof. PCS tem razão.

O código não resolve: Prof. Diogo tenderá a dar razão à Porf, PCS. Para não desproteger
o recorrente da providência cautelar.

Que grau de probabilidade o juiz atingiu naquele concreto processo? conversa entre
Cristo e Pilatos: problema da prova: aquilo que leva ao julgamento de cristo: JNRJ – o governador
pilatos não podia aceitar o REX, (não haviam reis em roma – mas só imperadores), cristo morre,
era preciso punir porque ele desafia o poder político: em contraposição a ROMA. Quem és tu?

Qual é o grau de convicção do tribunal? O tribunal tem a certeza absoluta que as coisas
não podiam ter acontecido de maneira diferente? Não, mas a história é a história que vejo possível
sobre os factos que foram provados neste processo: não no mundo aberto, mas no mundo do
concreto de processo.

§ SISTEMATIZAÇÃO + AULA TEÓRICA:

Professora Paula Costa e Silva: não formam o caso julgado material porque não compõe
o conflito, são meramente instrumentais, a composição lá dirá na ação principal. Exemplo
impreciso: o tribunal decretou o arresto dos bens do devedor: mas ele é mesmo devedor? Neste
caso ainda não analisámos a legitimidade e os pressupostos processuais, o conflito vai ser
resolvido depois: o tribunal atribui alimentos provisórios : efetivamente o direito alimentos
existe? Mas no procedimento cautelar ainda não sabemos, por isso é que não se pode formar
caso julgado material, o argumento não é um bom argumento:

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 113


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Nunca há caso julgado sobre aquilo que não se decide, mas sobre aquilo que se decidiu,
qual é o efeito de decisão?

Que efeito tem aquela concreta decisão, as decisões cautelares, têm de ser maleáveis, o
juiz decide sempre sobre uma prova sumária, a possibilidade de alteração tem de estar sempre
em cima da mesa, são decisões que têm esta particularidade: é a instabilidade e probabilidade,
enquanto o caso julgado pressupõe a certeza e estabilidade, é incompatível com as
características naturais do procedimento cautelar a noção e o regime do caso julgado material.
(Regra Geral).

AGORA QUANTO AOS ALIMENTOS PROVISÓRIOS: qual é a decisão que recai sobre
alimentos provisórios?– está mais próxima daquilo que vai ser a ação principal relativamente a
um caso de arresto.
 Será mesmo necessária uma ação principal, quando essa ação vai apenas reiterar a ação
cautelar, quando a decisão cautelar recai sobre uma ação idêntica ? Qual a reação do
requerido? Portanto inverte – mos o contraditório – passa a ser o requerido a inverter.
Onde estava o requerente na providência passamos a ter o réu na ação principal, o réu vai
tentar destruir a decisão da ação cautelar.

O PROBLEMA DO ART. 376/4º CPC: O REGIME DA INVERSÃO DO CONTENCIOSO


SÓ SE APLICA ENTÃO ÀS MEDIDAS CAUTELARES PREVISTAS NO ART.?

Não é tecnicamente rigoroso: A prof. excluir a possibilidade de que uma decisão que
compõe um conflito face a uma ação cautelar que não é antecipatória: como é que poderia haver
uma antecipação da decisão sobre o direito de crédito por a providência conservatória?

Esta é a posição da nossa lei e da maior parte da doutrina, a PCS – só em concreto é que
posso saber em que dados dispõe o tribunal face aqueles que será – não posso excluir uma
incompatibilidade substantiva quanto a posição creditícia e debitória face a uma ação cautelar.
NÃO HÁ UM INCOMPATIBILIDADE PELA NATUREZA DAS COISAS.

Não se restringia a inversão do contencioso às providências antecipatórias, era em


todas as providências cautelares, só o juiz em concreto é que perante a prova que é produzida nos
pode dizer, se está ou não em condições de proferir uma decisão sobre o direito de crédito e
sobre o arresto, o juiz acaba por ter os mesmo elementos na ação cautelar – é uma
incongruência fazer um corte na inversão do contencioso, o juiz pode decidir de imediato – a Prof.
Não concorda ninguém esta antecipar nada, o juiz esta a decidir em que determinou determinada
convicção para decidir um conflito.

Esta decisão de restringir o contraditório foi tímida, porque o regime do art. 16 do


processo experimental: contencioso administrativo, foi o CPC que andou a reboque do contesiso
administrativo.

Qual é a evolução peregrina do contencioso administrativo: a parte tem de requer que


haja inversão do contencioso, tem de estar proposta uma ação principal para que o juiz possa

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 114


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inverter. Mas o processo é a apenas a soma das partes? Como é que isto fica em termos de
responsabilidade processual? A ação principal não é necessária e quem paga as custas? É pouco
razoável face ao princípio do dispositivo, não há razão para que a parte que não queira a inversão
do contencioso, a parte prejudicada. O requerido terá depois forma de se opor.

É UMA análise casuística: não por motivações face à natureza das coisas. Há outros
valores em concurso com o princípio do dispositivo: PCS. Através do art. 369º CPC – verificamos
e depois vamos encontrar a ação principal no art. 371º CPC está também no art. 370º CPC
(meios de impugnação da decisão que inverteu o contencioso)

§ Inversão do contencioso – dicussão profunda com o Prof. MTS, se observarmos as


regras em que se regula esta matéria vão interessar nos os art. 369 a 371º CPC, aquilo que
resulta destas regras é o seguinte:

i. A decisão de inversão tem de ser tomada pelo juiz ouvidas as partes, sabemos nós
que o juiz só pode decretar a inversão do contencioso quando tiver certeza do direito
acautelado, o que é que diz o art. 370 CPC a parte requerida na providência cautelar
pode impugnar a decisão de inversão do contencioso.
ii. Quando impugna a própria decisão proferida, o juiz quando a providencia cautelar
(decreta a tutela pedida e ao inverte o contensioso, portanto ela é estável) – a parte
não impugna a inversão do conteis oso sem impugnar a decisão da providência
cautelar.

Eu impugno dois atos distintos: atribui os alimentos e não tenho dúvida, tenho a certeza
que este direito existe, quando a parte impugna a inversão do contesioso: é não há elementos no
processo para o juiz chegue a um patamar de certeza, a parte está a impugnar uma certeza.

O art. 371º CPC a parte requerida no procedimento cautelar em que houve inversão do
contesioso pode agora instaurar uma ação para destruir a providência cautelar, esta ação vai
demonstrar que afinal o direito acautelante não existia. Qual é a incongruência deste regime
segundo a Prof. PCS – a decisão prevista no art. 370 , é uma decisão proferida em recurso, e ainda
que assim não fosse a decisão proferida por um tribunal que não é requerida ela forma caso
julgado se não for requerida.

O art. 371º CPC, é uma peculiaridade: tem uma ação destinada a destruir uma decisão
instaurada perante um tribunal inferior, quando o tribunal superior disse que havia direito
acautelante. Temos um conflito hierárquico, ainda temos um conflito entre a formação de
estabilidade da decisão e a destruição desta estabilidade – devia-se ter suprimido o art. 370º
CPC, se a parte quer impugnar , impugna tudo. A própria técnica da providência cautelar conhecia
a via da dupla impugnação: cabendo à parte escolhar:

A consequência: se o tribunal atinge um modo de certeza: essa era a bela intenção, essa
foi consagrada de uma forma pobre – a lei dispõe que só pode ser decretada a inversão quando
a tutela permitir compor um litígio, se eu peço um arresto a tutela é conservatória – a
providência requerida não permite.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 115


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Prof. Paula Costa e Silva: problema mais grave: temos uma dificuldade explicativa:
andamos a ter de brincar com as palavras quando se quer introduzir os verdadeiros problemas:
ilude-se um problema técnico que se viola o caso julgado formado, manipula-se esse problema
escondendo-se pelas palavras.

Recursos

Impugnação de decisões

Artigo 628º CPC

Recursos Reclamação

Pedido de revisão da legalidade ou Pedido de requeriação feita pelo


ilegalidade da decisão final pode ser feita mesmo órgão judicial e sobre a mesma
por um órgão judicial diferente, superior situação sobre o qual se decidiu.
hierarquicamente.
Exemplo: reclamação sobre a
Pode ser: seleção dos termos da prova – artigo 615º,
nº4.
 Ordinário: antes de trânsito em
julgado da sentença - estão
inseridos na marcha do
processo
o Apelação: matéria de
facto e de direito - artigo
662º
o Revista: matéria de
direito - artigo 674º, nº1;
671º, nº1 e 2; 678º per
saltum
 Extraordinário: interpor
depois de transito em julgado
– artigo 688º a 695º:
o Representam a
renovação de uma
instância extinta.

Direito Processual Civil II Ana Patrícia Gonçalves 116

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