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John Donne

(1572-1631)

Prelecção sobre a sombra

Espera, que uma prelecção eu vou te ler,


Amor, sobre o amor e sua filosofia.
Nessas três horas de nosso lazer,
Aqui vagando, um par nos precedia
De sombras, que eram por nós mesmos projectadas;
Ora o sol está a pino sobre nós, tu vês,
E nossas sombras, sob nossos pés;
E tudo se reduz à brava claridade.
Assim, ao que nosso amor infante crescia,
Nossas sombras, o nosso disfarce, sumia
De nós e nossos medos; mas avança o dia.
Nenhum amor atinge o seu mais alto grau
Enquanto a vista alheia teme, como um mal.

A menos que o amor no zénite haja parado,


Produziremos novas sombras do outro lado.
Se as primeiras servem a nos ocultar,
Aos outros cegando; estas, a actuar
Atrás de nós, é qual a nós mesmos cegar.
Se nosso amor definha e declina no poente.
Tu a mim e eu a ti, falsamente,
Nossas acções deixamos se disfarcem
Entre nós. As sombras da manhã se desfazem;
Estas crescem sempre mais, todavia,
Pois, ai! se o amor se esvai, curto é o seu dia.
O amor é uma luz sempre crescente e constante;
Seu primeiro minuto após meio-dia é noite.

Tradução de
Aila de Oliveira Gomes

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