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MODERNIDADE
RESUMO
RESUMO
1. Referencial Teórico:
Como referencial teórico deste estudo, apresentaremos a seguir a conceituação de
hospitalidade, pós-modernidade e pós-turismo, além do entendimento sistêmico que nos
guia.
Para Camargo (2004), a hospitalidade é o ritual básico do vínculo humano, aquele
que o perpetua nessa alternância de papéis. Exatamente como a dádiva encarna, a
hospitalidade também é um fato social. A dádiva é um ato isolado. Inscreve-se em processo
que compreende três momentos que se repetem indefinidamente: dar, receber e retribuir.
O ato de dar, receber e retribuir são os três deveres que ele entendeu como uma
chave explicativa das relações sociais nas sociedades arcaicas. O contato humano não se
estabelece como uma troca, como um contrato, o autor diz que começa com uma dádiva,
que implica um novo receber e retribuir, gerando dons e contradons, em um processo sem
fim.
A noção de hospitalidade decorre como um conjunto de leis não escritas que
regulam o ritual social e cuja observância não se limita aos usos e costumes das sociedades
ditas arcaicas ou primitivas.
A dádiva desencadeia o processo de hospitalidade, seja ou não precedida de um
convite ou de um pedido de ajuda. O ato de convidar alguém para ir à sua casa, oferecendo
abrigo e comida a alguém que esteja precisando, são dádivas expressas por gestos que se
encontram dentro da dinâmica do dar-receber-retribuir.
Oferecer uma dádiva ou hospitalidade é sacrificar algo que se tem em favor do
donatário ou do hóspede. O simples ato de agradar ao hóspede implica abrir mão de algo
que se tem em favor dele, podendo ser apenas tempo, moeda tão cara na vida moderna ou
até mesmo um café já passado.
Receber algum presente é receber uma dádiva, portanto quem recebe a dádiva
deve manifestar alegria, mesmo não gostando do presente ou até mesmo sentindo que
assume um débito para com aquele que doou. Porém, quem recebe deve retribuir o dom, a
dádiva.
A hospitalidade evoca a idéia de algo desejável, mas um tanto fora de moda: algo
como uma atitude positiva em qualquer código ético, mas que, nas prateleiras do nosso
imaginário, parece estar relegada ao lado dos antigos livros de boas maneiras.
Segundo Camargo (2004, pg. 25),
Esta talvez seja uma pista importante para os estudos da ética nos
cursos de lazer, turismo e hotelaria. Mais do que uma ética aplicada
dever-se-ia falar da hospitalidade e suas leis não escritas como uma
ética em si mesma.
2. Procedimentos Metodológicos:
O objetivo deste artigo é analisar se os hotéis, inseridos no sistema turístico, estão
preparados para receber o sujeito na pós-modernidade, o pós-turista. A hipótese inicial é
que os hotéis estão preocupados apenas em vender o seu estabelecimento para os turistas e
não estão preocupados em mostrar a beleza, os atrativos turísticos e culturais que as cidades
em que se encontram possuem, fazendo assim, realmente, parte do sistema turístico.
Para este trabalho, usaremos como metodologia de pesquisa o estudo de caso
comparativo. Usaremos também o questionário como instrumento de pesquisa.
A cidade de Porto Alegre, conforme o órgão oficial de Turismo, dispõe de oitenta e
três hotéis1, divididos entre cinco categorias de preço, a primeira categoria é até R$60,00, a
segunda é até R$100,00, a terceira categoria é até R$159,00, a quarta categoria é até
R$189,00 e a quinta categoria é a cima de R$190,00.
A escolha dos dois hotéis que iremos comparar, chamados de Hotel A e Hotel B foi
feita através do site oficial da Prefeitura de Porto Alegre, sendo escolhidos dois hotéis da
quarta categoria, de R$159,00 até R$189,00.
3. Análise da realidade:
De acordo com a aplicação de quatro questionários, dois em cada um dos hotéis
citados no capítulo anterior, percebemos que em um dos hotéis existe o cargo de Guest
Relations, porém a pessoa que ocupa este cargo não se sente totalmente preparada para dar
informações sobre a cidade: Não por completo2. Os demais informantes disseram que se
sentem preparados para dar informações sobre a cidade, seus atrativos turísticos e sua
programação, sendo que um deles, sente falta de receber informações das atividades
relacionadas.
Analisando os demais questionários, percebemos que os hotéis não dão
treinamento para as pessoas que prestam estes serviços, de informações aos hóspedes,
chamados de Concierge ou Guest Relations, são pessoas que auxiliam na compra ou troca
de passagens aéreas, que indicam bons restaurantes, cinemas, teatros, enfim, passeios para
conhecer a cidade. Visto que, são os próprios recepcionistas que exercem esta função.
Em relação a um possível treinamento dos funcionários para a prestação de
informações sobre a cidade, ou ainda, sobre os componentes do sistema turístico,
observamos algumas diferenças. Para o hotel B, não existe uma periodicidade em ações
nesse sentido, no entanto, estimulam os funcionários a participarem de formações
oferecidas por outras entidades, como por exemplo, o Escritório Municipal de Turismo,
órgão da Prefeitura Municipal de Porto Alegre3. De acordo com o informante: Não
efetivamente (oferecem treinamento). Mas de tempos em tempos o hotel oferece o passeio
linha turismo para os funcionários e uma palestra com o pessoal do escritório de turismo
1
Disponível em http://www.portoalegre.rs.gov.br/
Acessado em 10 de Setembro de 2007 ás 15:15min.
2
As falas dos entrevistados aparecerão, ao longo do texto, grifadas em itálico.
3
Atualmente, o Escritório Municipal de Turismo foi transformado em Secretaria de Turismo.
sobre dicas de turismo em POA. Para a outra informante, do Hotel B, a informação vem
oposta, visto que, de acordo com a informante: Sim. Sempre temos treinamentos técnicos e
somos orientados pelos nossos supervisores.
Analisando o hotel A, podemos perceber que os dois colaboradores informaram
que não é o próprio hotel que oferece este treinamento específico, porém informam que
existe uma certa parceria com os treinamentos oferecidos pelo Convention & Visitors
Bureau, pelo Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares. De acordo com a
informante: O hotel diretamente não, mas já foram oferecidos dois treinamentos pelo
Sindicado de hoteleiros, bares e restaurantes de Porto Alegre sobre o turismo na cidade
onde alguns funcionários participaram! O segundo informante nos diz: Não oferece
nenhum treinamento oficial fora os que são feitos em parceria com o Convention Bureau,
porém a formação nesse sentido é diária e contínua por parte dos gestores.
Uma das perguntas feitas durante o questionário foi se o hotel em que o sujeito
trabalha possui o serviço de concierge ou guest relations, em caso afirmativo, porque
consideram importante a existência deste cargo na empresa e em caso negativo, explicar
porque acham que é desnecessário este tipo de profissional dentro da empresa. De acordo
com o informante do hotel A: Não vejo necessidade destes, devido ao fluxo de hóspedes e
de suas necessidades no hotel em que trabalho. O segundo informante do hotel A, nos diz
que: Estes cargos não existem uma vez que o hotel se trata de um hotel midscale e não
uperscale, acreditamos também que os serviços que já oferecemos suprem as necessidades
dos clientes tendo em vista que possuímos uma das maiores ocupações de Porto Alegre.
Segundo a informante do hotel B: Procuramos através do Guest Relations fornecer um
serviço diferenciado aos hóspedes VIPS e habitues. Além de termos a preocupação de
oferecer aos demais hóspedes uma pessoa voltada diretamente as suas necessidades.
Tais pensamentos e atitudes que não valorizam a formação de funcionários, ou
mesmo descartam a implantação de um cargo específico, representam a idéia presente nos
estabelecimentos analisados de que Porto Alegre não é uma cidade turística. Para os
informantes o seu hotel é voltado para o público executivo. Essa afirmação acarreta em um
descaso quanto a oferecer opções de lazer, em uma visão equivocada dos empreendedores.
No modelo pós-industrial são apresentados novos requisitos para ser competitivo
em mercados intensamente disputados, como a diferenciação dos produtos e serviços, a
descentralização de decisões nas empresas e no setor e na parte ecológica que se desdobrou
na estratégia de desenvolvimento sustentável.
O conceito de hospitalidade torna-se parte muito importante na práxis-turística,
pois adquire dimensões estratégicas, visto que, o modelo pós-industrial estrutura-se a partir
dos movimentos sociais e culturais, nos quais o desenvolvimento de novas tecnologias
desempenha um papel cada vez mais importante, conseqüentemente afetando o
comportamento da demanda, o desempenho empresarial, a função do setor público, o papel
das comunidades locais e a estrutura dos produtos e serviços.
O entendimento de que o hospede executivo não visa satisfazer outros desejos, ou
seja, que apenas querem hospedar-se, segundo Camargo (2004), está equivocado, devido à
chegada do pós-turista. As próprias empresas vão ter que se adequar a esta nova demanda,
onde este novo sujeito está à procura de serviços diferenciados, este não quer apenas uma
cama para descansar, mas sim opções de lazer, facilidades, informações e principalmente,
comodidade.
Pensar apenas no meio de hospedagem segmentado demonstra ainda que os hotéis
carecem de uma visão sistêmica. Pois, como vimos anteriormente com Camargo (2004), as
próprias cadeias hoteleiras internacionais estão mudando conceitos antigos de padronização
formal para uma padronização focada para o seu cliente, criando seu próprio estilo para a
empresa, funcionários e para seus hóspedes, como por exemplo, o uniforme que seus
funcionários utilizam, estão mais modernas e adaptadas as modas de hoje, juntamente com
as músicas que tocam nos hotéis, os brindes oferecidos aos hóspedes compõem um estilo de
hospitalidade.
Segundo Beni (1998), as empresas hoteleiras, quando comparadas a outros tipos
de empresas, apresentam-se menos propensas a automação, devido ao tratamento pessoal e
ao calor humano que são essenciais da prestação dos serviços hoteleiros. Porém de acordo
com estes relatos dos entrevistados, percebemos que os hotéis não estão acolhendo o seu
cliente, enquanto ser-humano, pois falta hospitalidade, falta se colocar no lugar do hóspede,
o hóspede é visto como um “sujeito-hóspede” e não como um “sujeito-humano”. O pós-
turista quer muito mais do que os serviços já oferecidos atualmente.
No hotel A, existem alguns elementos de lazer, como fitness center, sauna e piscina
térmica, citados nos questionários, já no hotel B, podemos perceber que não existe nenhum
elemento de lazer, visto que, a academia é um acordo feito com uma academia externa, que
fica ao lado do hotel, onde os hóspedes podem utilizar. Este é um ótimo exemplo, pois
demonstra que o hotel está preocupado em oferecer um serviço com qualidade, rapidez e
eficiência, porém, não percebe que o turista pós-moderno busca novos horizontes, maior
conforto, maior variedade de serviços e mesmo que o principal motivo da viagem seja
trabalho, ele também busca entretenimento, diversão, lazer.
Como já visto anteriormente com Camargo (2004), a hospitalidade em um hotel se
processa a margem da cidade, pois os hotéis só estão preocupados com que o cliente ou
hóspede, retorne ao seu hotel, mesmo que este não tenha conhecido ou até mesmo gostado
da cidade em que se encontra. Na hospitalidade de negócios, isto até pode ser viável, mas
como vimos com o sujeito pós-turista, este pode até estar fazendo a viagem com o principal
motivo o trabalho, porém, ele também quer lazer, diversão, cultura, e neste caso, as cidades
que não estiverem prontas para atenderem a este novo público, que não forem hospitaleiras,
vão acabar se prejudicando.
Ainda seguindo com o autor e com o exemplo citado anteriormente, vemos nas
próprias respostas dos informantes que a cidade carece de informação e divulgação. De
acordo com o informante do hotel A: Acredito que Porto Alegre ainda está muito carente
de materiais de divulgação da cidade, turismo e gastronomia. O Hotel oferece apenas
mapas, folders de restaurantes e, dicas de eventos que estão acontecendo oferecidas pelos
recepcionistas quando solicitado. O segundo informante do hotel A nos diz que: Somente
aqueles fornecidos pelo Convention Bureau, além disso, existe um quadro na recepção
chamado concierge que dá as dicas de lazer da cidade e um livro chamado chave da
cidade que explica tudo sobre as conveniências que o hóspede pode precisar.
No hotel B, os informantes seguem com o mesmo caminho que os informantes do
hotel A, informando que a cidade carece de materiais de divulgação. De acordo com o
informante do hotel B, quando questionado sobre se no hotel em que trabalha possui algum
material de divulgação da cidade de Porto Alegre, e no caso afirmativo, quais são eles, o
informante nos diz que no hotel em que ele trabalha existem: Mapas da cidade, pontos
turísticos, ônibus turístico, folders e guias de alimentação entre outros. E a outra
informante do hotel B, respondendo a esta mesma questão, nos diz que: Sim, display da
displaycard e outros folders exposto.
Apesar dos informantes declararem que se sentem aptos a prestarem informações
sobre a cidade, nota-se que não há uma preocupação dos próprios hotéis em oferecer este
tipo de serviço diferenciado, visto que estes só querem proporcionar os mínimos serviços, o
necessário, o básico, não pensando no seu próprio futuro, pois acreditam que, com os
serviços que são prestados atualmente, já superam as expectativas dos clientes.
Acreditando no que Camargo (2004) apresenta, as cidades não estão prontas para
receber o pós-turista. Elas não estão pensando no sujeito como ser - humano, como
hóspede, turista, que busca novos horizontes, novos desafios, e sim como um meio que traz
dinheiro para seus estabelecimentos.
4: Referências Bibliográficas
BOFF, Leonardo. Virtudes para um outro mundo possível, vol II: convivência, respeito e
tolerância. Rio de Janeiro: Vozes, 2006.