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Departamento de Geografia
Niterói
2019
Resumo
As chuvas têm acometido a cidade do Rio de Janeiro desde sua origem. No entanto,
nos últimos anos elas têm se intensificado devido a mudanças climáticas. Este
trabalho irá investigar quais foram os bairros dessa cidade que mais foram afetados
com as chuvas nos anos de 1996 e 2019, identificando-os espacialmente. Em
seguida, eles serão analisados por meio de dados obtidos da literatura e de órgãos
responsáveis dados sobre cobertura vegetal, tipo de rocha, tipo de solo,
geomorfologia, Índices pluviométricos, Notificações na Defesa Civil, fotos e de
ocupação. Nesse sentido, esses dados foram representados principalmente a partir
de mapas variados, com intuito de caracterizar aspectos físicos do município e de
localizar as áreas mais atingidas. Nossos resultados mostram que há uma correlação
entre o perfil de uso/cobertura do solo e os desastres naturais na cidade do rio de
janeiro; que o tipo de solo de cada localidade é crucial para o desencadeamento de
deslizamentos ou enchentes e que há uma conjunção de fatores climatológicos,
topológicos, geomorfológicos e de ocupação que facilitam as suas ocorrências.
Percebemos assim a importância de um planejamento urbano eficiente e consciente,
e de gestores preparados para lidar com crescente taxa e intensidade de eventos
extremos na cidade do Rio de Janeiro.
Introdução
Revisão de Literatura
1.1 - Relevo
É constituído predominantemente por rochas gnáissicas, pré-cambrianas, de
constituição variada, geradas após a colisão dos continentes, América e África. São
gnaisses de origem orto e paraderivados, que ocorrem associados a migmatitos ou
que, frequentemente, gradam a migmatitos, conforme mostra a Figura 1. Estas rochas
são penetradas por intrusões graníticas que ocorreram, mais provavelmente, durante
o Cambriano e Ordoviciano (Heilbron et al., 1995). Todo este conjunto é cortado por
diques de rochas básicas e alcalinas, relacionadas ao magmatismo Meso-Cenozóico.
Com a erosão e soerguimento da crosta, as rocha gnáissicas que estavam a
mais de 20 km de profundidade, chegaram à superfície e passaram a sofrer os
processos intempéricos. O gnaisse facoidal, mais resistente ao intemperismo do que
os outros tipos formados no mesmo evento colisional, destaca-se na paisagem da do
município do Rio.
No relevo muito acidentado dos maciços da Tijuca e Pedra Branca, os pontões
são Afloramentos de Rocha e Neossolos Litólicos, solos rasos onde geralmente a
soma dos horizontes sobre a rocha não ultrapassa 50 cm, estando associados
normalmente a relevos mais declivosos, característica dos solos onde estão a
população de baixa renda no município do rio de janeiro e uma das consequências
dos movimentos de massas em encostas; da mesma forma os esporões e ilhas
rochosas.
1.2 Geomorfologia
O município do Rio de Janeiro possui características geográficas que
possibilitam a ocorrência de precipitações pluviométricas intensas. Sua topografia é
delineada por três maciços: Gericinó-Mendanha ao norte, maciço da Tijuca a leste e
o maciço da Pedra Branca a oeste. As demais áreas da cidade são planícies, com
uma altitude média de 20m, colinas e morros, conforme ilustra a figura 2.
O maciço da Pedra Branca apresenta um alto potencial de vulnerabilidade a
eventos de erosão e movimentos de massa. Tais eventos são desencadeados
também pela degradação da cobertura vegetal decorrente da forte pressão urbana a
que o maciço é submetido, principalmente em suas vertentes leste (expansão da
malha urbana de Jacarepaguá) e norte (expansão da malha urbana de Bangu e
Campo Grande) (DANTAS, 2001). Nesta, a cobertura florestal foi completamente
substituída por cobertura de gramíneas.
Figura 2- Geomorfologia do Município do Rio de Janeiro.
1.2 - Solo
Os acentuados desnivelamentos relativos tornam comum a identificação de
toposseqüências segundo uma escala hipsométrica, influenciadas por diferenças do
material originário. São elas: Latossolos (Amarelo e Vermelho-Amarelo) e
Cambissolos nas cristas dos maciços com altitudes superiores a 300 m; Argissolos
(Amarelo e Vermelho-Amarelo) e Chernossolo Argilúvico/Luvissolo Háplico nas
encostas com altitudes entre 40 e 300 m; e Argissolos (Amarelo e Vermelho-Amarelo)
moderadamente drenados, Planossolos, com alta capacidade de retenção de água
disponível; Neossolos Flúvicos, solo pouco profundo suscetível à movimentos de
massa; Gleissolos, ocorre em ambientes de solo com exposição prolongada ou
permanente a água (baixadas, várzeas e depressões) drenagem deficiente, estrutura
maciça e baixa porosidade, fazendo com que haja acúmulo de água durante as
chuvas; e Organossolos em altitudes inferiores a 40 m, em obediência aos desníveis
dentro da baixada sedimentar, como demonstra a figura 4 (LUMBRERAS,1999).
figura 4- Mapa semidetalhado de solo do município do Rio de Janeiro. Fonte: Adaptado - Embrapa
1.3 - Clima
O clima no município do Rio de Janeiro é do tipo tropical, quente e úmido, com
variações locais, devido às diferenças de altitude, vegetação e proximidade do
oceano; a temperatura média anual é de 22º centígrados, com médias diárias
elevadas no verão (de 30º a 32º); as chuvas variam de 1.200 a 1.800 mm anuais.
Já nos maciços, segundo a classificação de Koppen é tropical de altitude (Cf)
com temperaturas variando de valores médios máximos em 25ºC em fevereiro e
mínimo de 19ºC em junho, resultando em uma média anual de 22º C. A temperatura
máxima pode atingir 35ºC durante o verão e o mínimo excedendo 10ºC durante o
período de inverno. A precipitação anual média oscila entre 2.000 e 2.500mm,
podendo atingir picos de 3.300mm em anos muito chuvosos e picos negativos de
1.600mm em anos mais secos. A maior parte das chuvas se concentra nos 4 primeiros
meses dos anos. A maior pluviosidade que ocorre no verão é uma resposta direta ao
impacto causado pela frente polar Atlântica, alterando a dinâmica habitual da
atmosfera. A orientação e a altitude do maciço faz com que o relevo funcione como
um anteparo aos ventos úmidos provenientes do Oceano Atlântico na sua vertente sul
determinando o surgimento de correntes convectivas de origem orográfica nas
escarpas montanhosas e fundos de vale. A vertente norte e noroeste, por sua vez,
apresentam condições climáticas desfavoráveis (mais seco), e uma ocupação urbana
mais intensa. A vegetação nessas áreas apresenta-se composta em grande parte, por
floresta degradada e gramínea, caracterizando uma crescente degradação. Zaú
(1995) estudando áreas submetidas a degradação na vertente norte do maciço da
Tijuca demonstra que essas áreas apresentam maiores taxas de erosão e condições
pouco desenvolvidas do subsistema de decomposição e estruturação do solo
(Negreiros, 2006).
1.4 - Vegetação
Baseado nas áreas de reservas, nos remanescentes de mata nativa e na
vegetação regional, caracterizou-se cinco tipos diferentes de agrupamentos vegetais:
as formações florestais (floresta tropical subperenifólia, floresta tropical
subcaducifólia, floresta tropical caducifólia, floresta perenifólia de várzea, floresta
subperenifólia de várzea), a campina de várzea, a campina halófila, a restinga e os
mangues (LUMBRERAS, 1999).
Ao longo do tempo com a aceleração da urbanização, a transformação de
florestas para vegetação rasteira e a retirada da vegetação, além do solo ficar mais
exposto e vulnerável à infiltração, existe também o fator do clima, pois este sofre
significativas alterações nas características com a falta da cobertura vegetal, essa
mudança pode ser observada no mapa de uso e cobertura do solo no período de 1996
e 2017 na figura 5 e 6 e a regressão dessas áreas na tabela 1. Através da
evapotranspiração o local pode sofrer alterações na mudança da temperatura.
Figura 5- Uso e cobertura da terra - município do Rio de Janeiro, 1996. Fonte: adaptado do Data Rio
Figura 6 - Mapeamento do Uso/Cobertura do solo da cidade do Rio de Janeiro - 2015. Fonte: Data Rio.
Para este trabalho foram utilizados dados e mapas oferecidos pelo sistemas
de dados da prefeitura do Rio de Janeiro, do Data.Rio com informações estatísticas,
GEO-RIO, MapBiomas, INEA -RJ, UFRJ, Embrapa, Alerta Rio ( Dados de
pluviosidade). A partir deles, foram gerados mapas, gráficos, tabelas, estudos e
pesquisas com foco na Cidade do Rio de Janeiro. Os softwares utilizados na
confecção de mapas foram o ArcMap 10.4 e o QGIS 3.2.2. Em alguns mapas foi
utilizado um sistema de referência de coordenadas geográficas e em outros foram
utilizadas coordenadas projetadas UTM. Além disso, foi realizado o tratamento de
dados estatísticos no software Microsoft Excel 2016. Para a obtenção de informações
gerais sobre os eventos extremos na cidade do Rio de Janeiro, foram consultados
jornais eletrônicos de massa.
Resultados
Figura 7 - A forte chuva interditou o túnel dos Dois Irmãos, também em 1996. fonte: Agência O Globo.
Já no ano de 2019 os bairros que mais sofreram com as chuvas intensas foram:
Guaratiba, com alagamento no Jardim Maravilha; Leme, com deslizamento no morro
da babilônia; Jardim Botânico e Gávea, que foram inundados. A precipitação média
desse mês foi de 244,9mm, 105,8mm menor que de 2010 (Alerta Rio). No entanto,
mesmo assim a chuva repercutir efeitos desastrosos.
O Jardim Maravilha está localizado na zona oeste da Cidade do Rio de Janeiro,
no bairro de Guaratiba. Apresenta vegetação de Mata Atlântica no maciço preservado
a oeste e fragmentos de vegetação ripária a leste. A partir da visualização de imagens
de satélites recentes, observou-se que o bairro é constituído de ruas com padrão
espacial regular e de casas de pequeno porte (figura 8). A figura 9 apresenta o mesmo
bairro alagado no ano de 2019.
Figura 8 - Padrão espacial da ocupação do Bairro Jardim Maravilha (RJ). Fonte: Site Pessoal de
Marcondes Lucena.
Figura 12 - Carros embaixo d’água no bairro Jardim Botânico (RJ). Fonte: G1 Globo.
À seu oeste e noroeste se situa o Parque Nacional da Tijuca, área composta
por floresta secundária advinda de ações de reflorestamento, promovida pelo Major
Archer em 1862. Além disso, é composta também por mata regenerada que data do
período do Brasil Império. (Conti, 2004; Conti, 2008). A geologia do local é de material
de Aluvião (áreas aterradas), com escarpa de morro próxima com o tipo de rocha
leptinito com microlina, quartzo, plagioclásio, granada e biotita (IPP). Além disso, os
solos do Jardim Botânico são argissolo vermelho-amarelo, principalmente nas
encostas (Embrapa). A geomorfologia da parte baixa é composta de uma planície
fluviomarinha e de uma encosta de maciço litorâneo. A ocupação é distribuída pela
parte baixa de planície e também pelo morro por onde passa a rua Pacheco Leão.
Num período de somente 4 horas, na noite do dia 8 de abril de 2019, choveu 13,6 mm
a mais do que a média de chuva para abril (136 mm), valor que corresponde a 110%
da média. (Alerta Rio). Pelo menos uma pessoa morreu nesse dia.
Discussão
Referências
Anexos
Anexo 1.
Anexo 2. Área medida em hectares (ha). Fonte: Adaptado do MAPBIOMAS
Anexo 3.