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R / DIO • E'LECTRICIDADE • TELEVISÃO

TRANSISTORES
LiçXo Ng.1

INTRODUÇÃO

Esta e a primeira duma série de lições consagra


das ao transistor, esse novo dispositivo descoberto em
1948 e que, desde ai, tomou uma importância cada vez
maior no domínio da electrónica.
Durante os últimos anos da segunda guerra mundi
al e nos primeiros do apus guerra, os laboratórios da
companhia "Bell Telephone", nos Estados Unidos, desen-
volveram pesquisas intensas no domínio dos semi-conduto
res (germânio, silício, etc).
Este trabalho de pesquisa, dirigido por W.Shock-
ley., conduziu à descoberta do transistor. A primeira pu-
blicação relativa a este'facto apareceu em 1948, da auto
ria dos americanos Bardeen e Brattain. Esta publicação.—
abriu uma nova era na história da electrónica, criando
um novo método para amplificar e gerar sinais alternados.
- 2 - Lição N9.1

Ate aí, a válvula electrónica era o único elemento uti-


lizado para este fim.
Hoje, apenas alguris anos mais tarde, o transis-
tor e aplicado em numerosos ramos da electrónica, espe-
cialmente nos casos em que sepretendem equipamentos pe-
quenos e leves. A fig.l representa uma valvula clássica
de alimentação por pilhas, tipo DAF91, e um transistor
0071, comparados com uma caixa de fósforos. Esta foto-
grafia demonstra a superioridade considerável do tran-
sistor em relação h válvula, sob o ponto de vista das
dimensões.
Outra vantagem incontestável que o transistor
tem sobre a válvula electrónica e o facto de não neces
sitar consumo de energia para aquecimento. Na realida
de o trabalha , a frio, não
, . tem filamentos, e
isto representa,num rádio portattl,uma economia de
so sto
energia de pelo menos 6 watts, o que e muito importante
se nos lembrarmos que estes aparelhos são alimentados
por pilhas.
A somar a tudo isto, há ainda o facto dos tran
sistores trabalharem com baixas tensões de alimentação
(9 a 12 volts), o que dispensa as caríssimas
, . pilhas de
, .
alta tensão de 67,5 ou 100 volts,necessartas nos rádi-
os portáteis de válvulas.
Se a tudo isto juntarmos que o transistor tem
uma duração media cinco vezes maior que a válvula,pode-
remos sem receio concluir que este novo elemento tem um
vastíssimo futuro h sua frente e acabará, mais tarde ou
mais cedo, por substituir totalmente a válvula electró-
nica.
Antes de iniciar o estudo dos transistores, con
vem que o aluno releia, de forma a compreender totalmente,
as Lições de Electricidade Nos.l, 2 e 3, que tratam da
teoria atómica da meteria. De facto, se se pode estudar
rádio tendo apenas ideias vagas sobre a forma como os á
tomos se agrupam para constituir a meteria, não se pode
compreender como funciona um transistor sem ter ideias
absolutamente claras sobre este assunto.
Lição N9.1

Fig. 1

CONSIDERAOES SOBRE A CONSTITUIÇÃO DA MATÉRIA

Nas lições de Electricidade Nos. 1, 2 e 3 dissc;


mos que os átomos se agrupam entre si para formar mole-
culas. Dissemos ainda, como exemplos, que a molécula da
agua era composta por um átomo de oxigénio e dois de hi
drogenio, e que a molécula do sal era constituída por
um átomo de cloro e um átomo de sadio.
É natural que um ou outro aluno mais curioso te
nha nessa altura perguntado a si próprio porque e que,
no caso do sal,u6 átomo de cloro se unia a um de sódio,
e,no caso da água,um átomo de oxigénio necessitava de
se unir a dois de hidrogénio para formar uma molecula.É
agora altura de esclarecer este assunto.
Prova-se, matemática e experimentalmente, que
os átomos se unem entre si através dos electrões da ul-
tima Orbita de cadá um deles. Para que um átomo se pos
sa unir a outro, e necessário que ambos tenham na Ulti-
ma Orbita o mesmo número de electrões. É o caso do áto-
mo de cloro (1 electrão na Ultima Orbita) unindo-se
directamente ao átomo de sódio (1 electrão na Ultima
órbita) para formar uma molécula de sal.
- 4 - Lição No.1

Para que o oxigénio (2 electrões na Ultima cama-


da) se possa combinar com o hidrog é nio (1 electrão na til
tima camada), e necessário que cada átomo do primeiro se
una a dois átomos do segundo, formando-se então uma mole
cula de água,
Os electrões da Ultima Orbita dos átomos, que de
terminam a forma como eles se unem com os outros átomos,
chamam-se electrões de valência.
Chama-se monovalente a um átomo que tem um elec
trio na Ultima Orbita, bivalente ao que tem dois, triva-
lente ao que tem três, etc.

A estrutura cristalina

Dissemos, tombem nas lições de electricidade,que


os átomos se podiam unir segundo estruturas amorfas e
cristalinas. No primeiro caso os átomos aglomeram-se de
qualquer forma, dando origem a conjuntos irregulares e
baços. No segundo, os átomos agrupam-se em figuras geo-
métricas definidas, como e o caso, por exemplo, do ger
mânio.
A fig.2 representa um cristal de germânio, com-
posto por cinco átomos (A, B, C, D e E) dispostos,uns em
relação aos outros, duma forma tal que sobre eles se po
dem traçar as arestas dum cubo imaginário. Qualquer que
seja a quantidade de germânio que se considere, os bili
3es de átomos que a constituem tomam uns em relação aos
outros a disposição geométrica rígida representada na
fig.2. As linhas a traço cheio que nesta figura unem os
átomos entre si são imaginarias e representam apenas as
forças que os mantem nas suas posições.
C

Fig.2
Lição /s19.1 5

Um átomo de germânio e constituído 'por um nú-


cleo contendo 32 protões, sa volta do qual giram 32 elec-
trões distribuídos por 4 Orbitas (Fig.3). Como,para e-
feitos da união com outros átomos,apenas interessa con-
siderar os electrões de valência e afim de simplificar

..... ---.
--Ó--

/ .-- --.----,-,
/1,ar )e■\ \\
/ 0 jev .....------,, `Gt ), \
/ \ \ "\ ‘
N
1+2+ 44
+ I + t

N,,...-...........__•-- i
, --4.---- ---
Fig,3

os desenhos e a explicação dos fenómenos que se seguem,


passaremos, de agora em diante, a representar o átomo
de germânio apenas jom a Ultima órbita (4 electrões) e
um núcleo apenas com os protões que equilibram estes e-
lectrões (quatro). Ficam, portanto, eliminados, por não
interessarem para as explicações em curso, 28 electrões
e 28 protões (Fig.4).

Fig.4
Lição N9.1

Dentro deste critério, podemos representar o cris


tal de germanio apresentado na sua forma real na fig.2,
da forma esquemática planificada da fig.5.

Fig.5

Nesta figura torna-se perfeitamente claro que os


átomos estão ligados entre si pelos electrões de valên-
cia. Veja-se que cada electrão do átomo A equilibra um
dos electrões dos átomos B, C, D, E. Os restantes elec-
trões destes são, por sua vez, equilibrados pelos elec-
trões dos átomos dos cristais visinhos e assim sucessiva
mente. As linhas a ponteado representam as forças de uni
ão entre os electrões de valência.
Verifica-se assim que, num cristal, os electrões
da Ultima órbita de cada átomo estão aprisionados nas su
as Orbitas,não apenas pelo equilíbrio entre a atracção
do núcleo e a força centrifuga, mas também pelas forças
que os unem aos electrões dos outros átomos. Devido a es
ta rigidez de ligação, num cristal não existem electrões
livres, pelo que um corpo cristalino se comporta como um
isolador perfeito.

Germànio com impurezas de arsenio

Vejamos agora o que se passa quando, num cristal


de germânio,se substitui um dos átomos de germânio por
um de arsenio. O arsenio e um elemento pentavalente, is
to e, tem cinco electrões de valência na Ultima Orbita,
Lição N9.1 -7

equilibrados por cinco protões no núcleo. Como no caso


do germânio, desprezamos os restantes electrões que com
põem as outras Orbitas e os respectivos protões que os
equilibram.

Fig.6

A fig.6 representa um cristal de germânio conta


minado por um átomo de arsenio. Como se verifica, ape-
nasquatro electrões de valência do átomo de arsenio se
encontram ligados 'a estrutura do crista1.0 59. electrão
não e equilibrado pelas forças inter-atómicas e fica frit
gilmente seguro na sua órbita apenas pelas forças de e:—
quilbromecândpróioátm,se lc-
trão solta-se com facilidade para se lançar no espaço in
te'ratOmico constituindo um electrão livre.
Um corpo de germânio contaminado com impurezas
de arsenio e,portanto,condutor.

Germânio com impurezas de índio

O índio e um elemento trivalente, ou seja, con


tem apenas três electrões de valência na sua Ultima or-
bita.
Se introduzirmos um átomo de índio dentro da es
trutura dum cristal de germânio (Fig.7), este cristal
- 8 - Lição N9.1

Fig.7

fica desiquilibrado, pois os três electrões de valenci


a do índio ligam-se a apenas três dos quatro átomos de
germânio vizinhos, ficando o quarto átomo de germânio
por. equilibrar. Isto e, falta ao índio um electrão
de valência para que a estrutura do cristal fique per-
feita.
Acontece agora este facto importante: num cris-
tal, o eluilibrio de forças entre os atomos que o cons-
tituem e mais importante que o equilíbrio eléctrico dos
próprios átomos. Deste modo, o átomo de Índio, embora es
teja completo em relação a si próprio, mostra-se ávido
dum electrão que lhe permita permanecei? equilibrado den-
tro do cristal.
Desta avidez resulta o átomo do índio capturar
um electrão a um dos átomos de germânio que lhe estão
próximos; este, por sua vez, sentindo-se desfalcado,irá
capturar um electrão a outro átomo e,assim,sucessivamen
te.
Um átomo ao qual falta um electrão para ficar
equilibrado dentro da estrutura do cristal chama-se UMA
CAVIDADE.
Ao germânio cujos cristais estão contaminados
com átomos de arsenio chama-se Germânio N.
Lição N9.1 -9

Ao germânio cujos cristais estão contaminados


com átomos de índio chama-se Germânio P.

Características eléctricas do Germânio N

A introdução dum átomo de arsenio num cristal de


germânio cria uma situação contraditória no interior do
cristal: por um lado, para que o átomo de arsénio fique
perfeitamente equilibrado na estrutura atómica, tem que
expulsar da sua Ultima órbita um electrão; por outro la
do, expulsando um electrão,fica em desiquilibrio electri
co, pois o núcleo passa a conter um protão em excesso,is
to e, o átomo deixa de ser neutro para apresentar carga
eléctrica positiva.
Por isso, numa lâmina de germânio N passam-se
dois fenómenos fundamentais:
19. - Existência de electrões livres no interior
da substância;
29. - Existência dum campo electrostático positi
vo proveniente dos átomos de arsenio des-
falcados dum electrão.

Uma lâmina de germânio N representa-se como se


mostra na fig. 8: um rectângulo dentro do qual existem
sinais(-)que representam os electrões livres e sinais (+)
que representam os átomos positivos. Os átomos neutros,
que são a esmagadora maioria, não são representados por
que não intervem nos fenómenos.

O-0-
ED -(%
-é-é°
Fig.8
- 10 - Lição N0.1

Características eléctricas do Germânio P

Da mesma forma que o germânio N, o germânio P


contém uma situação contraditOria:por um lado, para que
o átomo de índio fique perfeitamente equilibrado na es-
trutura atómica, tem que captar mais um electrão para a
sua•Ultima Orbita; por outro lado, captando um electrão
fica em desiquilibrio eléctrico, pois o número de elec
trões fica superior ao de protões e o átomo deixa de
ser neutro para apresentar carga eléctrica negativa.
Desse modo, numa lâmina de germânio P passam-se
dois fenómenos fundamentais:

19. - Existência de "cavidades" no interior da


substância
29. - Existência dum campo electrostático nega-
tivo proveniente dos átomos de índio com
um electrão em excesso

Uma lâmina de germânio P representa-se como mos


tra a fig.9: um rectângulo, no interior do qual são in-
dicadas as "cavidades" com um sinal(+)e os átomos nega-
tivos de índio com o sinal(-).

A junção NP

Unindo por uma das suas faces uma lâmina de ger


mânio N e uma lâmina de germânio P, obtem-se um conjun-
to que se designa pelo nome de junção NP.
A primeira impressão que se tem quando se execU
ta esta junção e que os electrões livres de germânio N
se precipitam sobre as cavidades do germânio P e que o
Lição N10.1

Fig.10
conjunto fica instantâneamente neutralizado. Tal não su
cede porém e,na realidade, não há qualquer movimento de
partículas duma lâmina para a outra. Vejamos porque:
Os átomos positivos do germanio N criam um cam-
po electrostático positivo que repele as cavidades (po-
sitivas) do germanio P, impedindo-as de penetrar no ger
manio N. Por sua vez, os átomos negativos do germanio P
criam um campo electrostático negativo que repele os e-
lectrões livres do germanio N e os impede de penetrarem
no germânio P. Portanto, a tendência dos electrões li
vres e das cavidades de se precipitarem uns sobre os os
tros e impedida de se realizar pela.. existência dos res
pectivos campos electrostáticos que actuam como "fron-
teiras" na superfície de junção.

- 4-

Fig.11
A'junção NP como origem do semi-condutor
Para que se possa estabelecero trânsito de parti
culas duma lâmina para a outra e,portanto,necessario que
sejam removidos os campos electrostáticos que constituem
uma barreira -entre as duas lâminas.
- 12 - Lição N9.1

Podemos racilmente anular um campo electrostáti


co sobrepondo-lhe outro de sinal contrário.
Este campo electrostático a sobrepor pode ser
criado por uma fonte de tensão qualquer, uma pilha, por
exemplo, cujos pólos se ligam 'as lâminas de germânio.

Fig.l2 Fig.13

Se, como representa a fig.12, o pólo positivo da


pilha for ligado ao germânio N e o pólo negativo ao ger-
mânio P, as fronteiras electrostáticas na junção são re-
forçadas e a impossibilidade de trânsito das partículas,
duma lâmina para a outra, persiste.
Portanto, neste caso, a junção NP comporta-se co
mo um isolador e não circula corrente dum pólo para outro
da pilha.
Se, pelo contrário, como representa a fig.13, o
polo negativo da pilha for ligado ao germânio N e o polo
positivo ao germânio P, os campos electrostáticos na jun
ção são anulados ou, pelo menos, enfraquecidos (conforme
a tensão da pilha), e dá-se o livre trânsito de partícu-
las duma lâmina para a outra. Portanto, neste caso,a jun
Cão NP comporta-se como um condutor e circula corrente
eléctrica dum polo para outro da pilha.
Chama-se semi-condutor a um elemento que,como a
junção NP, e condutor num sentido e isolador no outro
sentido.

RCF 243 FÁSIIWE Lisboa

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