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CERS – Direito Constitucional
Aula 3.
Profª. Flavia Bahia

FENÔMENOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL INTERTEMPORAL

REVOGAÇÃO GLOBAL
No Brasil, entre um ordenamento constitucional novo e as normas constitucionais anteriores, em regra,
sempre se operou o fenômeno da revogação global, que significa dizer que a Constituição nova revoga a Cons-
tituição que a antecedeu, deixando esta última de produzir seus efeitos jurídicos. Como são normas de mesma
hierarquia e versam igualmente sobre matéria constitucional, aplica-se o princípio geral do direito no sentido de
que a lei nova revoga completamente a anterior.
O fenômeno é simples de entender se considerarmos a instabilidade da vida política do país, num con-
texto que sempre oscilou entre regime ditatorial (civil ou militar) com a pseudodemocracia. Nada impede, entre-
tanto, que com base na liberdade jurídica do poder constituinte originário, outro fenômeno venha a ser adotado
no Brasil.
Quanto à extensão a revogação poderá ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação). Portanto, quando
uma nova Constituição é promulgada, salvo disposição em sentido contrário, haverá a revogação total no texto
constitucional anterior.

DESCONSTITUCIONALIZAÇÃO
A desconstitucionalização ocorre quando a nova Constituição dispõe que alguns dispositivos da ordem
constitucional anterior serão mantidos válidos perante o novo ordenamento, mas não sob a forma de Constituição,
e sim sob a forma de norma infraconstitucional. Não é um fenômeno automático e, para acontecer, dever á vir
expresso no novo texto da Constituição.

A VACATIO CONSTITUTIONIS

A vacatio constitutionis é o período de tempo entre a publicação de uma nova Constituição e a sua entrada
em vigor. Não é, em regra, adotado no país, muito embora a Constituição de 1967, promulgada no dia 24 de
janeiro de 1967, o tenha estabelecido expressamente: “Art. 189. Esta Constituição será promulgada, simultanea-
mente, pelas Mesas das Casas do Congresso Nacional e entrará em vigor no dia 15 de março de 1967”.
Ressalte-se que a Constituição de 1988 entrou em vigor na data da sua promulgação, não estabelecendo
o referido fenômeno. Não existindo uma cláusula estabelecendo a vacatio, entende-se que a vigência é imediata,
a partir da sua promulgação.
Durante a vacatio constitutionis toda norma que tenha sido criada e que contrarie as normas constitucio-
nais já existentes será inválida, ainda que esteja de acordo com a Constituição promulgada, mas não em vigor.
De outro lado, as leis que tenham sido promulgadas nesse período em conformidade com as regras constitucio-
nais vigentes valem enquanto durar a vacatio, mas ficam revogadas com a entrada em vigor do novo texto cons-
titucional, caso não estejam em conformidade material com a nova Constituição.

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RECEPÇÃO E NÃO RECEPÇÃO
A recepção é um fenômeno de natureza material porque não analisa o processo legislativo que funda-
mentou a elaboração da norma, fixando-se na verificação de seu conteúdo, pois, se o olhar da Constituição sobre
o ordenamento anterior fosse muito rigoroso, pouquíssimas seriam as normas efetivamente recepcionadas. Além
do que, a norma que vai reger o processo legislativo é a que existia no momento de sua elaboração (tempus regit
actum), e não as normas de uma Constituição futura. Por isso, a recepção vai analisar o conteúdo da lei, se este
for compatível com os princípios e as regras da nova Constituição, vai ser mantida, não sendo compatível, será
afastada, deixando de produzir seus efeitos jurídicos. A recepção é um fenômeno automático.
As normas anteriores, incompatíveis formalmente com a nova Constituição, serão por ela recebidas se
houver compatibilidade material e passarão a ter status formal determinado pelo novo ordenamento constitucio-
nal. Podemos citar como exemplo, o Código Tributário Nacional – CTN, que foi feito sob a forma de lei ordinária
e a Constituição de 1988 determina que as normas gerais tributárias sejam tratadas por lei complementar. As
normas não compatíveis materialmente com a nova Constituição, não serão recepcionadas. Em face da incom-
patibilidade material da norma pré-constitucional com a nova Constituição, a lei anterior deixará de produzir seus
efeitos jurídicos por força da revogação.
Importante destacar que o parâmetro de recepção ou de não recepção não se esgota na Constituição
originária, mas abrange também as normas constitucionais derivadas.

REPRISTINAÇÃO
De acordo com o art. 2º, § 3º, da Lei de Introdução às normas do Direito brasileiro, uma lei validamente
revogada não volta a produzir efeitos jurídicos com a revogação da lei que a revogou. Esse é um fenômeno
salutar de sucessão legislativa no país. A sociedade muda e as normas precisam acompanhá-la, sob pena de
descompasso temporal entre a realidade e as leis.
Entretanto, conforme a parte inicial do dispositivo da lei sob nossa análise, é possível que mediante dispo-
sição expressa, a lei nova, revogadora de outra, que revogou a que a antecedeu “repristine” (restaure os efeitos
jurídicos) de uma norma já revogada, realizando o fenômeno da repristinação.

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