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NA FILOSOFIA E NA
TEORIA SOCIAL CRÍTICA
os sentidos do trabalho subordinado na
cultura e no poder das organizações
O DIREITO DO TRABALHO
NA FILOSOFIA E NA
TEORIA SOCIAL CRÍTICA
os sentidos do trabalho subordinado na
cultura e no poder das organizações
EDITORA LTDA.
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Setembro, 2014
Bibliografia.
14-08154 CDU-34:331
Índice para catálogo sistemático:
1. Direito do trabalho 34:331
Prefácios................................................................................................................................. 11
Capítulo 3 — A Ética Moderna e as Respostas aos Desafios Morais, a Partir de uma Regu-
lamentação Normativo-Coercitiva e de Absolutos Universais ..................................... 57
3.1. Moralidade e eticidade modernas. A visão de Zygmunt Bauman ................................... 57
3.2. A filosofia como ciência das condições a priori de qualquer ciência. A ideologia e a
Hegemonia na superação das contradições — Althusser, Marx e Gramsci. A crítica
marxista ao direito segundo Enoque Feitosa .................................................................. 62
3.3. O direito como instrumento a serviço da dominação. A legitimação do poder no discurso
da soberania e nas práticas dos aparelhos e instituições sociais. A visão de Michael
Foucault em Stéfano Toscano.......................................................................................... 68
Capítulo 7 — Os Sentidos do Trabalho para Além da Cultura e do Poder nas Organizações 117
7.1. Os valores de uma empresa pós-taylorista. A ética empresarial no contexto de uma
ética cívica. A versão de Adela Cortina ........................................................................... 117
7.2. O trabalho em sua dimensão ontológica. Os sentidos objetivo/subjetivo do trabalho ... 120
7.3. Os distúrbios físicos e metafísicos decorrentes do emprego ou do desemprego ............. 124
Referências............................................................................................................................. 167
(1) Professor Titular da Faculdade de Direito do Recife. Livre Docente da Faculdade de Direito da Universidade de São
Paulo. Pesquisador 1-A do CNPq.
Foi com enorme orgulho que recebi o convite de meu amigo e mestre, o Professor
Everaldo Gaspar Lopes de Andrade, de prefaciar (mais uma) obra de referência de sua
autoria, intitulada O direito do trabalho na filosofia e na teoria social crítica: os sentidos do
trabalho subordinado na cultura e no poder das organizações.
Everaldo Gaspar, além de uma magnífica figura humana — Procurador do Ministério
Público do Trabalho (com quem tive a honra de compartilhar complexas negociações
trabalhistas, eu na condição de assessor do movimento sindical), músico de raro talento,
professor dotado de um enorme senso crítico e autor de qualificada produção teórica, pois
que entrecruza um firme conhecimento do direito do trabalho com uma refinada crítica
da alienação, repensando suas categorias centrais e mostrando — da mesma maneira que
Marx — que não há entrada já aberta para a ciência(3).
Este livro é resultado de todo um percurso intelectual centrado na crítica ao trabalho
subordinado, e na mesma esteira de outra obra que ousou, com todo êxito, questionar os
paradigmas da dogmática jurídica voltada ao mundo do trabalho. Refiro-me à relevante
obra de Gaspar, Direito do Trabalho e Pós-modernidade: fundamentos para uma teoria geral,
datada de 2005, de inestimável valor, reconhecimento não apenas meu, mas, já na época
da publicação, também do eminente catedrático de Direito do Trabalho na Universidade
de Deusto e, na ocasião, presidente do Tribunal Superior de Justiça do País Basco, na
Espanha, o professor Manuel María Zorrilla Ruíz.
(2) Advogado. Graduado, Mestre e Doutor em Direito pela UFPE. Doutor em Filosofia pela UFPB. Professor-Adjunto III,
lotado no Centro de Ciências Jurídicas da UFPB, lecionando na Graduação em Direito e nas pós-graduações (mestrado
e doutorado) em Direito e em Filosofia. É Pós-doutor em Filosofia do Direito (UFSC) e atualmente é o Coordenador
do Programa de Pós-Graduação em Ciências Jurídicas. É líder do Grupo de Pesquisa / CNPq “Marxismo e Direito”.
(3) A epígrafe é extraída de uma carta escrita por Marx em 18 de março de 1872. A carta acabou por servir de prefácio
à edição francesa, em fascículos, de O capital. Ver: MARX, Karl. O capital. São Paulo: Abril, 1983. Livro I, p. 23.
(4) Para Marx, na contramão de toda rendição ao empirismo, o estágio mais avançado de qualquer fenômeno é a chave
para entender seus estágios mais primitivos: a economia moderna é a chave para compreender a economia antiga
ou — aqui, se valendo de uma figura forjada por ele — “a anatomia do homem é a chave para [entender] a anatomia
do macaco”. MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. São Paulo: Expressão, 2007. p. 262.
(5) A chamada ‘consciência jurídica’ cumpre papel chave na sociabilidade capitalista, na medida em que representa em
nível ideológico a ‘concepção jurídica do mundo’, fenômeno tipicamente moderno visto que nada mais foi do que a
substituição da ‘concepção teológica do mundo’ para justificar e efetivar o controle social. Para essa questão remeto
o leitor a: FEITOSA, Enoque. O discurso jurídico como justificação. Recife: UFPE, 2009, passim; ENGELS, Friedrich.
O socialismo jurídico (compilado e publicado por Karl Kautski). São Paulo: Ensaio, 1995. p. 24-25.
(6) Note-se que o uso do termo “dogmático”, no que se refere ao direito, nada tem de inocente e visa, notadamente, no
âmbito do ensino e reprodução desse saber, a inculcar a ideia de que as chamadas “verdades jurídicas” são eternas,
imutáveis e inquestionáveis.
No âmbito acadêmico, é um tanto comum que o valor de uma obra seja avaliado
pela capacidade demonstrada por aquele que a oferece ao mundo de levantar questões
consideradas pertinentes e relevantes e, tanto mais, talvez, pelas propostas teóricas e
metodológicas que foram mobilizadas para que os objetivos almejados pudessem ser
atingidos total ou, ao menos, parcialmente.
(7) Literalmente, nas palavras do próprio Marx: O que pressupomos são estudiosos que desejem aprender algo de novo
e queiram, portanto, também pensar por conta própria. MARX, Karl. O Capital (Livro I). São Paulo: Abril, 1983. p. 12.
(8) Mestre em Sociologia pela Universidade Federal da Paraíba. Doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco
(2010). Professor da Universidade Católica de Pernambuco e da Faculdade Marista do Recife.
Esta obra segue os caminhos percorridos pelos estudos que venho desenvolvendo
nestes últimos quinze anos, sobretudo a partir dos livros Direito do Trabalho e Pós-mo-
dernidade. Fundamentos para uma teoria geral (2005) e Princípios de Direito do Trabalho.
Fundamentos teórico-filosóficos (2008). Logo, compõe uma trilogia que se propõe, a partir
de novas pautas hermenêuticas, a avançar nas pesquisas e formulações teórico-filosóficas
envolvidas com um tema emblemático, profundo, instigante e que acompanha a própria
história da humanidade: o trabalho e suas dimensões. Pretende, especialmente, proble-
matizar e desconstruir a versão consolidada pelo Direito do Trabalho, que elegeu, como
a priori de suas teorizações, uma única forma de trabalho ou de labor: o trabalho livre/
subordinado/assalariado.
Como se trata de uma obra que procura seguir caminhos, os leitores podem sentir
falta de autores que aqui não foram citados, mas o foram naquelas duas outras obras
que mencionei. Além de entender desnecessária a reprodução de grande parte daquela
bibliografia, confesso: não teria condições de abarcar todo o universo literário que se
ocupa deste tema.
Sem pretender aprofundar a distinção formulada por Hannah Arendt (1993) — entre
labor e trabalho — ou concordar com ela sobre as observações que faz, na citação abaixo,
acerca da compreensão marxiana sobre o labor —, houve, em todas as etapas históricas,
um claro desprezo pelo labor, em comparação com as atividades políticas, artísticas,
filosóficas etc. Isso desde os tempos que precederam o aparecimento da cidade-estado,
os inimigos vencidos — que se tornavam escravos —, os operários do povo, os artesãos.
Aristóteles passou a considerar escravos aqueles que já nasceram como tal — como pro-
priedade viva — e mesquinhas todas as atividades que levavam o corpo ao desgaste. Nesta
fase, as ocupações não políticas eram tratadas com desprezo, como sinal de servilidade,
ou melhor, alheias às condições da vida humana(9).
(9) Para uma melhor compreensão sobre os sentidos da condição humana e a diferença entre labor e trabalho, em Arendt,
consultar: ADEODATO, João Maurício Leitão. O problema da legitimidade. No rastro do pensamento de HANNAH
ARENDT. Rio de Janeiro: Forense, 1989. Ver principalmente o Capítulo VI em que o autor procura discorrer sobre “a
ação e a vida activa” (Ibidem, p. 113-131). Para ele, “importante característica do labor, como visto, é estar ligado
a um sentido de dor e sofrimento. Por isso mesmo é uma atividade necessária, realizada porque não há outro jeito.
Daí a famosa justificação da escravidão proposta por Aristóteles: como nota Arendt, ‘Ao contrário do que ocorreu em