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BUBER
ensaios
cadernos inúteis
da casa de Gestalt
1
A vivência do sentido ontológico
da inutilidade amalgama-se com a
vivência da drmática da ação, do
desdobramento do possível, da
possibilidade, da criação.
Como condito sine qua non da ação
compreensiva e musculativa. Da
criatividade, da poiese.
Da existência.
2
3
O objeto deve consumir-se,
para tornar-se presença.
M. Buber.
Fatal mesmo é
crer na fatalidade;
M. Buber.
4
CONTEÚDO
DA MUSICALIDADE DA PINTURA SEM COISAS, À ESTÉTICA
VIVÊNCIA ONTOFENOMENOLÓGICA DA AÇÃO -- SEM OBJETO,
NEM SUJEITO --, PRÉ REFLEXIVA, NA PRODUÇÃO DA OBRA DE
ARTE. Impressionismo, Expressionismo, e a libertação da
ação... ............................................................................................. 8
DIAPOIESE. A DRAMÁTICA GESTALTIFICATIVA DA
DIALÓGICA DA AÇÃO. .................................................................. 17
O PRÉ DIALÓGICO A disposição estética como
pressuposto pré-dialógico ........................................................... 31
INTERDIÁLOGOS DA SINCRONIA DO DIÁLOGO DA
ESTÉTICA DO CLIC. À DIACRONIA DA ESTÉTICA DIALÓGICA
COM O REGISTRO. ....................................................................... 39
ESTÉTICA DA FOTOGRAFIA ............................................... 39
DIALÓGICA .......................................................................... 45
DIALÓGICA DA ESPERANÇA Dialogicidade, Superação e a
Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico Existencial ............ 50
DIALÓGICA E ARTE DRAMÁTICA DA IMPROVISAÇÃO
VISLUMBRE-E-ATO DO POSSÍVEL PROPULSIVO Sobre o sentido
e importância do improvisativo na concepção e método da
Gestalt Terapia e da Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico
Existencial.................................................................................... 59
GESTALTERAPIA: DIALÓGICA DA PROVOCAÇÃO* ............ 68
DIALÓGICA, HERMENÊUTICA E ESTÉTICA DO CONFLITO
Conflito, Mediação, e Facilitação Psicológica da resolução de
conflitos em Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico
Existencial.................................................................................... 74
DA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL
DIALÓGICA DE PAULO FREIRE Crítica, Empírica, Experimental,
Estética e Poiética..................................................................... 104
AS CONDIÇÕES FACILITADORAS BÁSICAS COMO
PRINCÍPIOS DE MÉTODO FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL: II. A
RELAÇÃO EMPÁTICA. Empatia e Dialogicidade. ...................... 134
ONTOLÓGICA DA PRESENÇA E DA ATUALIDADE ........... 141
E JESUS EMPATIZOU COM A TERRA 1 ............................ 175
5
E JESUS EMPATIZOU COM A TERRA 2 Eu sou a videira de
Israel........................................................................................... 186
FATAL MESMO É CRER NA FATALIDADE. Dialogicidade,
Superação, teoria e prática da Psicologia e Psicoterapia
Fenomenológico Existencial*.................................................... 195
O DECURSO PROGRESSIVO DAS COISAS, A FATALIDADE, E
O SEU DOGMA ............................................................................ 209
O ARBITRÁRIO E A ARBITRARIEDADE ............................. 211
O EU EGÓTICO, COISIFICADO, DO RELACIONAMENTO EU-
ISSO. ........................................................................................... 213
ATUALIDADE, DECISÃO, LIBERDADE/DESTINO,
CONVERSÃO, SUBJETIVIDADE, PESSOA.................................. 216
EGÓTICO E PESSOA .......................................................... 223
A INTERPRETAÇÃO – A HERMENEUTICA --, e a
EXPERIMENTAÇÃO EM BUBER ................................................. 229
IMPASSIBILIDADE. RESSENTIMENTO, EGOTISMO E
ARBITRARIEDADE NOS PERPETRADORES DE MASSACRES ... 233
DIAPOIESE E DIALÓGICA DO DIAGNÓSTICO MÉDICO .... 264
O ONTOLÓGICO, E O ÔNTICO;A PESSOA, E O EGÓTICO; A
LIBERDADE, E O DESTINO;O DIALÓGICO, E A ARBITRARIEDADE
.................................................................................................... 267
A FATALIDADE, O DECURSO, E O DOGMA DO DECURSO
PROGRESSIVO DAS COISAS ...................................................... 269
O COISIFICADO EU EGÓTICO DA RELAÇÃO EU-ISSO. .. Erro!
Indicador não definido.
ATUALIDADE, DECISÃO; LIBERDADE/DESTINO;
CONVERSÃO, SUBJETIVIDADE, PESSOA.................................. 271
O ARBITRÁRIO E A ARBITRARIEDADE ............................. 279
A FATALIDADE, O DECURSO PROGRESSIVO DAS COISAS, E
O SEU DOGMA ............................................................................ 282
O COISIFICADO EU EGÓTICO DA RELAÇÃO EU-ISSO. .. Erro!
Indicador não definido.
ATUALIDADE, DECISÃO; LIBERDADE/DESTINO;
CONVERSÃO, SUBJETIVIDADE, PESSOA.................................. 284
O ARBITRÁRIO E A ARBITRARIEDADE ............................. 292
6
HISTÓRIAS DE SOTEGUI KOUYATÉ ................................. 295
O DESENCANTAMENTO, E O ENCANTAMENTO DAS COISAS
.................................................................................................... 299
PAULO FREIRE, MAIS FENOMENOLOGIA E DIÁLOGO .... 300
A INTERPRETAÇÃO – A HERMENEUTICA --, e a
EXPERIMENTAÇÃO EM BUBER ................................................. 302
7
DA MUSICALIDADE DA PINTURA SEM COISAS, À
ESTÉTICA VIVÊNCIA ONTOFENOMENOLÓGICA DA
AÇÃO -- SEM OBJETO, NEM SUJEITO --, PRÉ
REFLEXIVA. NA PRODUÇÃO DA OBRA DE ARTE.
Impressionismo, Expressionismo, e a libertação da
ação...
Para D. Alzira,
minha simpática vizinha,
e minha competente e entusiasmada
professora de História da Arte.
8
Pela inflexibilidade da prescrição de produção da obra de arte
como uma cópia fiel da natureza, como uma cópia fiel do objeto. A
prescrição objetivista. Como a presunção da produção da obra de
arte como um objetivismo.
10
Com o Impressionismo o objeto, a coisa a ser copiada,
esfumaçou-se, entrou em combustão, dissolve-se em contornos
desfocados.
E começa a ceder explicitamente à infusão potente da
multifacetada e efêmera vivência do possível. Começa a ceder à
infusão da hermenêutica do possível, da produção estética, e
poiética, artística. Propiciada, como metodológica, pelo
privilegiamento, e pela afirmação, da vivência ontofenomenológica.
11
Mas, para eles, a ciência de que se valiam era, ainda, a ciência
reflexiva, objetivista, extensional, e explicativa.
Ciência que efetivamente não lhes ajudaria na detonação da
arte do objeto, em privilégio de uma arte da atualidade, da presença
do desdobramento do possível. Do dialógico, e da possibilidade do ser
no mundo.
Nietzsche, por seu lado, saiu-se magistralmente da armadilha...
Quando percebeu que, era a ciência que efetivamente lhe daria
suporte; mas, em específico, a ciência como cognição compreensiva,
e implicativa, a ciência afirmativa, a ciência como ciência alegre, e
emotiva, a sua gaya scienza.
E não a ciência positivista, a ciência objetivista...
12
expressiva, Expressionista --, no quadro clássico do expressionista
norueguês Edvard Munch (1863 – 1944).
13
E não coisas que se relacionam, na inestética, e na inatividade,
inércia, de suas respectivas impossibilidades. Na impossibilidade de
sua inatividade, num relacionamento impossível.
15
como presente, e como possível. Como ação. E como ator. Como
criador.
BIBLIOGRAFIA
BUBER, Martin Eu e Tu.
CARDINAL, Roger O Expressionismo. Rio, Jorge Zahar, 1984.
GOMBRICH, E H, A história da arte. LTC, Rio de Janeiro,
RJ, 2013.
HEIDEGGER, Martin Ser e Tempo.
16
DIAPOIESE.
A DRAMÁTICA GESTALTIFICATIVA DA DIALÓGICA DA
AÇÃO.
Afonso H L Fonseca, psicólogo
18
O não ser objeto. Como diria Buber. E isto significa ser
eminentemente, própria e especificamente, pré-reflexiva, e pré-
conceitualmente.
Nem sujeito. Este, apenas um objeto. Sujeito que, em seu sub-
jeito, é apenas um objeto... Fidedigno a sua objetividade, não se
nega como tal.
19
É vivência da movimentação existencial rítmica da errância pela
multiplicidade de plexos de possibilidades, gestalts, da implicação
musculativa, e compreensiva. Da dialógica da poiese, diapoiese,
dialógica, da dramática da ação.
Temos assim dois aspectos fundamentais da momentaneidade
instantânea da vivência da dialógica da diapoiese da ação. Ela não é
objetiva. Nem é subjetiva -- o que daria no mesmo. Ela é pré-
reflexiva.
E, em sua multiplicidade implicativa, a dialógica diapoiética da
ação é pré-conceitual.
Atualização de possibilidades, ela é movimento, movimentação.
Ela é moção. Movimentação existencial, compreensiva, e musculativa.
20
performance, uma performática, uma formação, criação . Que a
constitui formatividade da ação como uma performance.
É performativa, é performance, porque, enquanto vivência pré-
reflexiva e pré-conceitual do episódio da ação, é o trânsito de um
percurso. O percurso formativo, performativo, da gestaltificação.
Como atualização de possibilidades.
E é performativo porque, terceira margem, é – na duração do
episódio poiético e estético da ação -- o percurso vivencial, poiético e
estético, portanto, que medeia entre o anúncio gestaltificativo do
projeto da ação e sua conclusão e fechamento.
22
São estas condições da diapoiética e da dialógica da ação,
condições do modo ontológico de sermos, no qual vivemos a poiética
e a lógica ontológica, fenomenológica, dialógica, da dramática da
ação.
23
GESTALTERAPIA:
DIALÓGICA DA PROVOCAÇÃO
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo
CENTRO DE ESTUDOS DE PSICOLOGIA E PSICOTERAPIA
FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL
Rua Alfredo Oiticica, 106 Farol. 57032-010 Maceió Al 082-2218175/2318191
e-mail: affons@uol.com.br
http://www.Terravista.pt/FerNoronha/1411
1997 2
24
GESTALTERAPIA:
DIALÓGICA DA PROVOCAÇÃO*
* Texto publicado na Revista de Gestalterapia, São Paulo, 1997 e na Revista Somos de
Gestalterapia, Montevidéo, 1998.
PROVOCAÇÃO
25
normalmente. Esta aversão simples e automática a estes termos
decorre naturalmente dos mecanismo de domesticação da
agressividade saudável que desenvolveram-se na cultura da
Civilização Ocidental. Mecanismos que nos fazem perder
simbolicamente dentes e garras, e nos transformam em dóceis
animais de rebanho, como já observava Nietzsche.
26
comportamento diz respeito ao assimilado, ao que é comum à
particularidade da pessoa e é compartilhado por outros.
27
De modo que a provocação gestáltica favorece
fundamentalmente à expressividade, à existencialização do vivido
único e irrepetível, a fenomenação, na potência de sua atualidade.
Favorece assim a uma ruptura pontual com os padrões do mero
comportamento. A situação gestáltica pretende-se eminentenmente
assim uma situação provocativa. O getalterapeuta pretende-se,
assim, um provocador. O que interessa é exercer-se como
provocador, neste sentido, no contexto, no âmbito e duração da
relação pontual com o cliente. Subentendido, naturalmente, que isto
nada guarda de hostilidade ou hostilização, de grosseria.
DIALOGICIDADE E PROVOCAÇÃO
29
expressivamente, ator da emergência (em ambos os sentidos)
da difereça de si... Possibilitando assim a ruptura da repetitividade,
da mesmidade, da fatalidade pretensa, do comportamento mero e
medíocre.
7 Op. Cit.
30
O PRÉ DIALÓGICO
A disposição estética como pressuposto pré-dialógico
31
Ambos os modos de sermos são ontológicos, no sentido da
Ontologia, característicos e definidores do ser humano. E têm cada
um, e a alternância entre eles, qualidades ontológicas
caracteristicamente definidoras.
32
possibilidade, da potência e do sentido, da formação e da forma,
performação, em sua performance. Abrem-nos, ao dialógico, à
ventura, e à alegria de super-ação, promovidas pela potência
formativa do possível, do poiético, do eu-tu, do dialógico.
33
Na momentaneidade do modo dialógico de sermos, eu-tu,
estamos para aquém do modo eu-isso de sermos, no qual vigora
caracteristicamente a dicotomia sujeito-objeto. O modo de sermos
eu-tu é a momentaneidade de um modo de sermos
caracteristicamente impregnado de nossa implicação com uma
alteridade, o tu. Mas tudo que o tu não é objeto...
34
ser simplesmente usada, ao modo de ser de um objeto, até porque
estamos fora do modo de sermos da dicotomia sujeito-objeto...
35
enquanto tais, as possibilidades que o âmbito de nossa interação
faculta.
36
De forma que o que permite a alternância e a superação da
impermeabilização entre o eu-isso e o eu-tu; entre o não dialógico e
o dialógico, é, basicamente, uma ética. Ou seja, a est-ética, estética,
a ética da estesia. Que é especificamente, nesse caso, uma pré-
dialógica.
37
disposição estética é a ética que nos faz transitar do não dialógico ao
dialógico. No âmbito do dialógico, a estética é a ética, a
metodológica, que permite a iluminação da fonte do possível que
somos em nossa ontológica. E que permite a abertura à potência do
possível, em sua atualização, que igualmente somos. Esgotada em
coisa a potência do possível, teremos voltado à condição, ao tempo, e
ao movimento da coisidade. E à latência sonsa da disposição estética.
38
INTERDIÁLOGOS
DA SINCRONIA DO DIÁLOGO DA ESTÉTICA DO CLIC.
À DIACRONIA DA ESTÉTICA DIALÓGICA COM O
REGISTRO.
ESTÉTICA DA FOTOGRAFIA
39
Surpreeendo-me aparentemente parado, quando vejo esta
foto...
Aparentemente aguardando que o pequeno pinguim complete o
seu trajeto, e, finalmente, mergulhe... O pinguim está parado. E eu
espero que ele caia. O pinguim está parado, e realizo,
complementarmente, o movimento de sua queda. E mergulho.
Mas é só uma foto... Não é um filme...
O pinguim não vai cair de seu pulo a meio caminho instalado na
foto...
Paralisado na ação do instante, instantaneamente ativa-nos em
sua paralisia...
Tal é a grandeza dialógica da estética da arte fotográfica, tal é
a grandeza da arte de Sebastião Salgado...
40
a performática da improvisação dramática da vivência do
desdobramento de possibilidades, do desdobramento da ação...
Até a momentaneidade instantânea do clic.
Que, especificamente, é o desportamento da ação.
Nunca comportamento. (Como observava Hannah Arendt.
acerca da diferença entre comportamento e ação).
Desde o início – anteriormente mesmo ao início, pret ação, inter
pret ação --, a dramática da momentaneidade instantânea do clic é
diálogo. É dia logos. É logos, é sentido.
Sentido que se constitui como esfera hermenêutica
intermediária de produção de ação, e de sentido -- de inter ação, na
vinculação eu tu. Eu e tu que, na sua intrínseca vinculação,
interagem como forças formativas. Um tu e um eu, possíveis, um eu-
tu possível, em suas atualizações. Dramáticos, imprevisíveis,
incontroláveis, improvisativos.
Nem objetivos, nem subjetivos, mas própria e especificamente
jetivos. Porque pressão, ex-pressão, ex-pulsão, de forças, potentes,
possíveis, possibilidades, ação.
Um tu e um eu, a sua ação, a sua fenomenática, a sua
formativa performática, criativa, a sua criação. Não causais, não
causados, nem causativos, não práticos, nem pragmáticos, inúteis, e
despropositais.
Irreais. Porque possíveis. Possíveis em ação... Atualização.
Acontecer.
Em tudo diversos da realidade do acontecido, que é a realidade.
A acontecida e inerte realidade da coisa.
41
Porque o drama do clic, a performática do clic, na dialógica,
cria, constitui uma forma. Forma na qual se constitui e se instala uma
diferença possível. Um tu instalado na coisidade.
Um tu de tal modo instalado, que em sua potência, em sua
possibilidade, se constitui como provocação...
A foto é um fato, é uma coisa. Que como tal contém em si
instalada uma provocação. Um incúbo dialogante.
Como ensinava Caieiro, no seu Menino Jesus...
A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as coisas.
Aponta-me todas as coisas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
(...)
Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo o universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
É curioso, porque o ser humano do ser no mundo é também
assim. Um ente especificamente emprenhado de pres-ente, de
possível, de possibilidade... Um ente, inatual, impregnado de
presença, e de atualidade. Um ente fatal que possui um íncubo
dialogante. Um acontecido que perene e permanentemente gesta o
acontecer.
Para dar conta desta condição, Heidegger diria que o homem é
ôntico e ontológico. O ser hermenêutico por excelência.
Ser no mundo, mundo do ser, a foto é isso.
Um ente, uma coisa, um acontecido, dialogante. Incubada de
um acontecer dialogante nela instalado pela arte da performática do
clic...
Ou seja, a foto é um fato que instalado contém um tu potente,
e pontualmente provocativo. Um tu que se oferta à estética
prédialógica, e dialógica -- de quem sabe ver, e, em específico, de
quem pode ver. Visualizar, visar, improvisar, improvisualizar. E criar.
Tal como improvisou o artista, tal como improvisualizou, e
criou, quando de sua improvisativa dramática na performance do
clic.
42
E, quem pode ver é, estética e inesperadamente,
improvisativamente, atingido, pela provocatividade de um tu
dialogativo. Que a dramática do artista fotógrafo instalou na coisa
foto, no fato foto. E que se oferece como logos dialogativo, na
instantaneidade momentânea.
Oferece-se o tu, assim, potente presença dialógica, porque o
artista fotógrafo efetiva e caprichosamente percorreu a duração da
vivência do movimento -- moção, emoção -- da temporalidade do
acontecer de um encontro dialógico.
E guardou-o, na culminação de seu clic. Instalou-o, na foto. No
fato, na coisa. Com a virulência mansa, ou revolta, de sua
provocatividade.
É esta provocatividade dialógica, do tu instalado na coisa, que
nos sequestra da experiência ôntica do tempo acontecido; para a
temporalidade ontológica do acontecer. Esta provocatividade de que a
foto está impregnada, de que a foto é prenhe. A provocatividade do
tu. Que nela instalou a arte da fotografia.
Provocatividade que nos sequestra, da experiência do tempo
coisa, para a temporalidade do eterno retorno do diálogo e do
dialógico, como diria Buber.
43
Da instantaneidade momentânea de distintos momentos
dialógicos. O seu, quando da performática do clic; e o do inspectador
posterior.
44
DIALÓGICA
46
Além do mais, o modo ontológico de sermos, não é o modo de
sermos da utilidade. Já que não há sujeito, sujeitado, para o uso de
objetos, objetados; não há objetos como úteis, e sujeito para utilizar
os úteis objetos...
47
E não objetos.
48
Mas não quer, de modo algum, dizer falta de ação, falta de
possível, falta de possibilidade, falta de força.
49
DIALÓGICA DA ESPERANÇA
Dialogicidade, Superação e a Psicologia e Psicoterapia
Fenomenológico Existencial
50
Quando o homem não pôe à prova, no mundo, o a priori da
relação, efetivando e atualizando o Tu inato no Tu que ele encontra,
então ele se introverte. Ele se manifesta ao contato como o Eu não
natural, impossível objeto, isto é, ele se desvela alí onde não há lugar
para a revelação. Assim instaura-se um confronto consigo mesmo que
não pode ser relação, presença, reciprocidade fecunda mas somente auto
contradição.
(Martin Buber – EU E TU, p. 82)
51
DIALÓGICA DA ESPERANÇA
52
existência, na concretude de sua existência. É esta entrega e
afirmação que é uma entrega à possibilidade do retorno potente da
vida enquanto retorno da vontade de viver, que potencializa o devir e
a possibilidade da transformação das condições dadas.
53
de abertura e afirmação da existência, mesmo que, como sabemos,
isto signifique em certos momentos a abertura para e a própria
afirmação do sofrimento e das finitudes inevitáveis, inerentes à
existência. A abertura e afirmação, a assunção, do desconhecido e do
misterioso, igualmente inevitáveis na vida humana.
54
concretude de nossa existência enquanto ser-no-mundo, de modo
que possamos abrirmo-nos para uma vivência natural dos dialógicos
momentos de relação Eu-Tu em nossa existência como ser-no-
mundo. Na vivência ativa desses momentos é que reside a
possibilidade de decisão, a esperança e a possibilidade plástica de nós
mesmos e do mundo, a possibilidade existencialmente artística de
plasmarmos a nós mesmos e ao mundo que nos diz respeito.
55
Assim é que não é muito dizermos que a psicoterapia
fenomenológico-existencial, em particular tal como ela se caracteriza
na Gestalterapia e na Abordagem Centrada na Pessoa, é, 6
56
E dirá (Buber 1979 p. ), ainda, como mencionamos acima:
57
BIBLIOGRAFIA
58
DIALÓGICA E ARTE DRAMÁTICA DA IMPROVISAÇÃO
VISLUMBRE-E-ATO DO POSSÍVEL PROPULSIVO Sobre o
sentido e importância do improvisativo na concepção e
método da Gestalt Terapia e da Psicologia e
Psicoterapia Fenomenológico Existencial
Afonso H Lisboa da Fonseca, psicólogo1.
1 Laboratório
de Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico Existencial. Maceió, AL. Brasil.
affons@uol.com.br http://www.geocities.com/eksistencia/
59
Grosso modo, o empirismo do vivido fenomenal é, e permite, a
improvisação. Como âmbito dialógico no qual o possível, o ato, a ato
ação, se vislumbram, são possíveis e, efetivamente, se desdobram.
De fato, apenas no âmbito da improvisação, o vivido e o seu
empirismo, e o desdobramento vivido de possibilidades, a
interpretação e hermenêutica fenomenológico existenciais, são
possíveis.
60
portanto, na fundamentação filosófica, concepção e método de uma
abordagem de psicologia e de psicoterapia fenomenológico
existencial.
61
Num dado momento a ação seria, metaforicamente, como
levantar-se na ponta dos pés. Não podemos permanecer na ponta
dos pés. Daí que precisamos da reflexão e do comportamento.
62
4 HEIDEGGER, M. ibid.
63
com a outridade do possível, pré-compreensão, que se dá
como e na im pró vis ação, e que é ação, ato de possibilidade, no
âmbito deste nosso modo de ser vivencial, fenomenal, fenomenativo.
64
(im) neste modo de ser, e privilegiar (pró) este modo de ser, no qual
podemos prefigurar e prover,
65
Não como um sub-jectum, mas como um jectum que pro-
jecta-se na imediaticidade, im-pro-vis-ação de seus possíveis
emergentes e/ou urgentes, propulsivos, projetativos. Na
imediaticidade da dialogicidade da relação eu-tu, diria Buber.
66
provisação, no âmbito de sua concepção e método, de uma dialógica
e arte dramática da
67
GESTALTERAPIA: DIALÓGICA DA PROVOCAÇÃO*
68
PROVOCAÇÃO
69
A ação guarda fundamentalmente algo de fenomenal, algo de
autoria original e singular, momentânea, pontual e pontualmente
vivida, algo de unicidade, de irrepetibilidade, de dialógico. O
comportamento diz respeito ao assimilado, ao que é comum à
particularidade da pessoa e é compartilhado por outros.
70
encaminhar-se para uma habitualidade orgânica e saudável,
compatível com as possibilidades, necessidades e carecimentos da
pessoa e do mundo que lhe diz respeito.
3 I CHING – O Livro das Mutações, São Paulo, Pensamento, 1983. Tradução de Richard
Wilhelm. P.99.
71
DIALOGICIDADE E PROVOCAÇÃO
72
Qualquer terapeuta ou psicólogo fenomenológico existencial
efetivo vê-se uma hora envolvido pelo insight e perplexidade de
Clarice. Porque é esta a matéria prima e o substrato fundamental de
seu trabalho.
Gestalt.
Abordagem Rogeriana.
Introdução;
1.
Aporia, Instalação, Fatalidade e Fatalismo do Conflito;
2.
A mediação e a facilitação da superação, e da resolução, como
experiência estética do conflito -- à ventura dos devires de suas
possibilidades. O Grupo Vivenciativo.
74
2.7. O Grupo Vivencial como recurso experimental ontológico,
fenomenológico existencial dialógico e hermenêutico para a
mediação e facilitação da resolução de conflitos;
2.8. O Grupo e o tempo;
3.
Conclusão
75
Introdução;
A metodologia da mediação e da facilitação da resolução de
conflitos da psicologia e psicoterapia fenomenológico existencial --
Gestal’terapia, Abordagem Rogeriana – se fundamenta, em seus
princípios de concepção e método, na própria mediação e facilitação
da dinâmica existencial do conflito, privilegiando o modo ontológico de
sua vivência fenomenológico existencial, dialógica, e estética.
Esta metodologia busca, em particular, propiciar condições
relacionais, condições de inter ação, de inter atividade, condições de
espaço, e de tempo; condições empáticas, condições de
experimentação, e de interpretação, fenomenológico existenciais –
condições, enfim, dialógicas.
Condições para uma relativização da facticidade, e do fatalismo,
do conflito; para uma relativização da realidade ôntica, da realidade
coisificada, de instalação das aporias do conflito. De instalação do
conflito no não dialógico, no anti dialógico; no não ontológico, no não
hermenêutico de sua movimentação criativa e produtiva, enquanto
interação de forças, enquanto interação de possibilidades, que
continuamente engendra novas e novas possibilidades.
A metodologia propõe como mediação, às partes conflitantes,
em sua relação conflituosa, o tempo e o espaço, a oportunidade, para
a experiência da vivência, inclusive do conflito, no modo
fenomenológico existencial dialógico de sermos, modo de sermos da
presença, e da atualidade (atualização, inerente à presença),
fenomenológico existenciais dialógicas.
De modo que a experiência, e a experimentação, a
interpretação fenomenológica, da vivência desta presença e
atualidade, em sua inerente potência criativa – a partir da vivência do
modo de sermos de sua potência atual, da potência de suas
possibilidades --, possa mediar a natural facilitação da atualização, da
superação, e resolução, do conflito. Diluindo a instalação de sua
realidade ôntica, no fluxo do movimento da multiplicidade de suas
potências, da multiplicidade de suas possibilidades. Possibilidades estas
que intrinsecamente impregnam continuamente o modo vivencial de
sermos, ontológico, fenomenológico existencial, e dialógico.
O grupo vivencial, constiuído pelos facilitadores e pelas partes
conflitantes -- e que pode ser apoiado pela forma da entrevista diádica
--, é, assim, o instrumento, por excelência, para a mediação, e para a
facilitação da resolução de conflitos da psicologia e psicoterapia
fenomenológico existencial – Gestal’terapia, Abordagem Rogeriana.
76
1.
Aporia, Instalação, Factidade e Fatalismo do Conflito;
77
No limite, é esta angústia da estase e da paralisação que, mais
uma vez, remete-nos ao devir do modo fenomenológico existencial, e
dialógico, de sermos; que nos remete ao modo de sermos do possível,
da possibilidade, e de sua atualização.
Nas suas formas produtivas, o conflito é sempre, também, o
conflito de diferentes possibilidades, na concorrência que as leva a
afirmarem-se em suas forças. Em sua vivência, o conflito também move
as relações, e tem, assim, o caráter produtivo de promover a novidade,
de promover o possível, e a atualização de sua potência.
Um nível de conflito, e da sua angústia de sua aflição, na
coisificação, é sempre inevitável, assim. E diretamente proporcional a
sua vivência ativa e presente, nos fluxos e contra fluxos de suas inércias
e da atualização de suas possibilidades.
78
A aporia, não obstante, é, também, o ponto onde as potências,
os possíveis se detonam, mais uma vez. É o ponto a partir do qual nos
remetemos ao modo de ser da vivência das possibilidades, o modo de
sermos do possível, modo de sermos no qual vivenciamos
intrinsecamente possibilidades, modo de sermos do presente, da
atualidade, fenomenológico existencial, e dialógico. Modo de sermos
na vivência do qual as possibilidades argumentam e dialogam, na
contínua geração plural de novas possibilidades.
O método aporético, a-por-ético, a a-por-ética, se pauta, assim,
pela vivência intuitiva, fenomenológico existencial, afirmativa, da
aporia. Pela vivência afirmativa da sua estagnação; e pela vivência
afirmativa da emergência da potência de novos possíveis, de novas
possibilidades. Poderíamos dizer, baseado na mesma formulação de
Buber, da entrega à concrescência da existência1.
A potência desta emergência, e da metodologia aporética, é
diretamente proporcional ao modo como podemos vivenciar, ao modo
como podemos atualizar, afirmativamente, a impotência multiplamente
conflituosa, aflitiva, afligente, e angustiante, da aporia
1
BUBER, Martin Eu e Tu. São Paulo, Moraes, 1982.
79
Assim, a progressiva realização, a progressiva coisificação, do
conflito -- e do relacionamento intrapessoal, interpessoal, ou inter grupal
-- só conduz, naturalmente, à acentuação do conflito. Na medida em
que estas se dão na ausência da vivência do possível, na ausência da
vivência de possibilidade; na ausência da ação, e da atualização,
pessoal e coletiva, que é a vivência da possibilidade e do seu
desdobramento, própria ao modo ontológico, fenomenológico
existencial, de sermos.
Desta forma, o conflito é um momento adensado da
multiplicidade de fluxos e perspectivas existenciais.
Momento que naturalmente se resolve na vivência implicativa
fenomenológico existencial e dialógica das aporias, e de sua
superação pontual, na abertura do concurso e da concorrência das
possibilidades, que são próprias ao modo ontológico, fenomenológico
existencial de sermos.
De modo que, para além da vivência angustiante da
estagnação e das aporias, da inércia paralítica, da instalação do
conflito, a metodologia fenomenológico existencial da mediação da
facilitação da resolução dos conflitos propõe o modo de sermos
fenomenológico existencial a poiese, a vivência poiética.Da ética da
vivência do modo de sermos das possibilidade. O modo estético de
sermos, fenomenológico existencial e dialógico.
A vivência da infusão da instalação do conflito pelo concurso e
concorrência de novas potências, de novas possibilidades. Cujos
desdobramentos reencetam o fluxo existencial, a atualização, a ação,
a criação.
A desinstalação, e a superação do conflito. Desde que possamos
atualizá-lo, vivenciá-lo como ação, como atualização. Que
intrinsecamente se dão como constituintes do modo de sermos da
temporalidade fenomenológico existencial e dialógica, da vivência
inter ativa das aporias que se instituíram na instalação ôntica e real do
conflito.
81
Na exacerbação da experiência de instalação real de seu modo
ôntico, o conflito se instala em sua condição de fato; e não mais como
acontecer; o conflito se instala em sua condição de acontecido, em sua
facticidade.
O efetivamente existencial, o efetivamente ontológico,
fenomenológico existencial e dialógico, estético, é, inteiramente,
acontecer.
Porque é inteiramente ação, atualização, como desdobramento
das possibilidades, de que é propriamente impregnado.
Ou seja, é o antípoda do fato, do factual, do acontecido.
O não existencial, o modo ôntico de sermos é -- enquanto fato,
enquanto realidade, enquanto coisidade -- possibilidade atualizada,
exaurida, realizada, coisificada, acontecida, feita, fato.
De forma que, o modo existencial, ontológico, de sermos é
acontecer; enquanto que o modo ôntico de sermos é acontecido, é
fato.
A realidade do conflito, a sua instalação -- em sua aporia – o seu
enrijecimento, é instalação e realidade ônticas. À medida que se
desenvolve, e se fataliza, o conflito é cada vez mais da ordem da
realidade, da ordem do fato, do factual. De modo que este seu
fortalecimento é cada vez mais factual, cada vez mais fatal.
E, cada vez mais, a exclusão da oportunidade da experiência e
experimentação, pelas partes, do conflito em sua modalidade
alternativa -- ou seja, a experiência e experimentação do conflito no
seu modo ontológico, fenomenológico existencial e dialógico, no seu
modo estético – a exclusão desta oportunidade, potencializa a paralisia
do conflito em sua realidade, instalação e aporia.
De um modo tal que permite a constituição, e potencializa a
constituição, de uma dogmática -- segundo Buber, a dogmática do
decurso das coisas –, segundo a qual só esta modalidade da realidade,
da instalação, da fatalidade e do fatalismo do conflito é factível.
O conflito, que é factual, neste seu momento, é constituído, e
passa a sê-lo cada vez mais, como fatalidade, como fatalismo.
Buber2 esclarece a ontologia da fatalidade, e do dogma da
fatalidade, o dogma do decurso das coisas, como predomínio da
realidade, como predomínio excludente do modo eu-isso de sermos,
não dialógico, como predomínio do decurso das coisas.
Muito própriamente, Buber adverte, que, a única coisa que pode
vir a ser fatal ao homem é crer na fatalidade...
2
BUBER, M. EU E TU
82
Porque -- esclarece ele --, basta a momentaneidade da vivência
da imersão, sempre disponível, no modo alternativo de sermos, em
nosso modo ontológico de sermos -- dialógico, fenomenológico
existencial, estético, eu-tu --, para que a rigidez do factual, a rigidez do
fatal; para que a rigidez da fatalidade, para que o dogma do decurso -
- que a fatalidade potencializa, e que à fatalidade potencializa --
possam dissolver-se no movimento da ação, no movimento atualizativo
da potência de suas possibilidades.
A elaboração da vivência do modo ontológico de sermos, como
modo de sermos da vivência do desdobramento de possibilidades,
dissolve, assim, a realidade, a instalação ôntica, o caráter factual, a
fatalidade, o fatalismo do conflito.
Diante do conflito instalado, em sua realidade ôntica, factual,
resta-nos, assim, a alternativa: sucumbir progressivamente à afligência
da factualidade, da fatalidade do conflito; ou permitir e promover a
experiência e a experimentação de sua vivência dialógica; a
experiência e experimentação de sua ontológica, a experiência e a
experimentação da interpretação de sua hermenêutica, a vivência da
conflituação no modo fenomenológico existencial, estético e dialógico
de sua vivência.
É no privilegiamento desta experiência e experimentação que se
centra a concepção e a metodológica do Grupo Vivencial. A
concepção e a metodológica da Abordagem Fenomenológico
Existencial de psicologia e psicoterapia; da Gestal’terapia, e da
Abordagem Rogeriana.
2.
A mediação e a facilitação da superação, e da resolução,
como experiência estética do conflito -- à ventura dos
devires de suas possibilidades. O Grupo Vivenciativo.
83
O Grupo Vivencial naturalmente demanda as suas condições, ou
seja, tempo e espaço, disposição e disponibilidade para a sua
experiência e experimentação.
84
vivenciado e interpretado -- fenomenológico existencialmente,
esteticamente, hermeneuticamente, experimentalmente,
dialogicamente, dramaticamente--, na imediaticidade de sua forma
própria e específica de acontecer.
Como vivência, pessoal/coletiva, que disponibiliza, enquanto
experiência, e experimentação, fenomenológico existenciais, o campo
vivencial das possibilidades, e das possibilitações. Campo estético,
portanto, dramático, fenomenológico existencial, e dialógico --
vivência, e vivência do desdobramento de suas possibilidades. Vivência
que, própria e eminentemente, se dá como ação, como atualização.
De Possibilidades que, simultaneamente, são possibilidades próprias e
específicas do grupo, no processamento conjunto de sua experiência
coletiva, da experiência coletiva de seus subgrupos, e de seus
participantes individuais.
Numa experiência e experimentação, assim, que são, em
importantes de suas dimensões -- na integridade e integração do grupo,
na integridade participativa do processamento vivencial --, experiência
e experimentação, não simplesmente das partes segregadas, mas
experiência e exprimentação, interpretação: dramática, do grupo e da
vivência de seu processamento experimental, em seu con-junto.
Esta experiência e experimentação fenomenológico existenciais e
dialógicas do conflito são, assim, a experiência e a experimentação do
conflito no privilegiamento do modo de sermos de sua vivência estética.
Ou seja, no modo de sermos da vivência de sua estesia. Como
abertura à experiência pré-reflexiva, pré-comportamental, pré-
pragmática, fenomenológico existencial dialógica, na qual prevalece a
experiência vivencial, a experiência de corpo, de sentidos; a
experiência estésica, estética.
Própria e especificamente, a Estética é uma Ética (O termo, aliás,
já o diz).
A ética que subjaz à concepção e à metodológica da psicologia
e psicoterapia fenomenológico existencial; a ética que subjaz à
concepção e metodológica da Gestal’terapia e da Abordagem
Rogeriana enquanto tais.
De modo que, quando propomos o grupo vivencial como
metodológica de mediação e de facilitação da resolução de conflitos,
propomos, às partes conflitantes, um deslocamento do modo da
experiência do conflito meramente na forma ôntica de sua realidade e
instalação, um deslocamento da experiência do conflito meramente na
forma ôntica de sua facticidade. Propomos a afirmação do conflito, e a
vivência do conflito em sua forma estética, vivencial, e dialógica, que
permite a diluição de sua realidade em suas possibilidades, a sua
superação, assim, e a movimentação de suas resoluções.
85
O que caracteriza a experiência estética, fenomenológico
existencial, compreensiva, dramática, dialógica, é que, como diz Buber,
toda ela é ação, é atualização; ou seja, toda ela é impregnada de
possibilidades, e do desdobramento de possibilidades.
De modo que a vivência estética do conflito permite relativizar e
sair da paralisia afligente da instalação ôntica do conflito, do conflito
como realidade, como isso, como acontecido. Propiciando e
potencializando o modo de sermos no qual vivenciamos a infusão de
possibilidades e de possibilitação, e dos seus desdobramentos, em
ação, atualização, interpretação. Infundindo, assim, a vivência do
conflito de potência, de possibilidades, de atualização, de movimento.
86
Processamento momentâneo, então, no qual o compartilhar
interativo da produção de sentido, de ação, se constitui como campo
compreensivo e compartilhado de desdobramento de possibilidades, e
de ação.
Assim, no modo dialógico de sermos -- fenomenológico
existencial, vivencial, ontológico, e estético --, o movimento eu-tu/tu-eu,
é, própria e especificamente, um movimento de imediata implicação
inter-ativa, e poiética.
Movimentação na qual há um compartilhamento do processo, in-
tensional, eminentemente compreensivo, de produção de sentido, e de
ação. Um processo inter-ativo, eminentemente implicativo, que se dá
como vivência de um campo compreensivo compartilhado do
desdobramento de possíveis, do desdobramento de potências, do
desdobramento de possibilidades, de vontades de possibilidades; no
que entendemos como ação -- um campo fenomenológico e
existencial, dialógico, estético, e de vivência ontológica.
O objetivo da concepção e da metodologia da psicologia e
psicoterapia fenomenológico existencial – Gestal’terapia, Abordagem
Rogeriana – o seu objetivo na vivência da mediação e da facilitação
da resolução de conflitos, seja na experiência grupal, ou na experiência
da relação diádica, é o de criar a oportunidade, o tempo e o espaço,
que se abrem e privilegiam a temporalidade própria da vivência
dialógica.
Quando propomos o grupo vivencial como recurso para a
mediação e para a facilitação da resolução de conflitos, propomos
exatamente porque no grupo vivencial nos abrimos e privilegiamos a
vivência do modo dialógico de sermos, a vivência da experiência e da
experimentação dialógicas.
No âmbito da experiência dialógica, os participantes, e os seus
sub-grupos, podem efetivamente inter-agir.
Não, simplesmente, na experienciação sectária, e impotente, da
teorética do conflito: com a mera definição e experiência conceitual,
abstrata e estática de suas instâncias, por cada uma das partes. Na
impotência aflitiva e angustiante da ausência da vivência de
possibilidades e de possibilitações.
Nem, simplesmente, no mecanicismo, igualmente impotente, de
nosso modo comportamental. Nem na mera esterilidade das
pragmáticas.
Os participantes e os seus subgrupos podem inter-agir,
efetivamente, no processo poiético de produção de possibilidades e de
sentidos, a partir da dialógica, (eu-tu) da inter-ação de suas alteridades.
E podem interagir como sistema integrado, o processo grupal, de
produção de possibilidades e de atualização.
87
De modo que o conflito, vivenciado pelas partes conflitantes na
momentaneidade da experiência do modo dialógico de sermos, tende
a ter a sua realidade, a estagnação de sua instalação, a sua
factualidade, a sua fatalidade e fatalismo, transformados, diluídos -- na
vivência da emergência compartilhada, dialógica, de suas
possibilidades e possibilitações.
O campo dialógico constitui-se como, propicia e promove, o
compartilhamento entre as partes deste campo da emergência do
desdobramento de possibilidades.
A vivência do conflito pode ser, então, atualizada.
O staus quo do conflito pode ser diluído em possibilidades, pode
ser superado, e o conflito deslocado, movimentado, eventualmente
resolvido – como elaboração da dialógica da integração tensional das
partes conflitantes, no âmbito integrativo do processamento da
experiência e da experimentação da vivência grupal. A vivência do
processo poiético de emergência de suas possibilidades e
possibilitações, a vivência, pelas partes conflitantes, da experiência da
diluição da realidade da instalação factual do conflito -- em suas
possibilidades -- a vivência de suas superações, e resoluções, pode ser
atualizadas.
Na mediação, e na facilitação da resolução de conflitos, a
vivência dialógica pelas partes conflitantes -- no âmbito da experiência
de processamento do grupo vivencial --, permite que as partes
conflitantes momentaneamente constituam -- alternativamente à
normalidade de sua experiência conflitiva -- uma dimensão de vivência
compartilhada de experiência e de experimentação. Uma experiência
e experimentação de vivência do processo grupal como uma
totalidade integrativa, compartilhada e solidária, ainda que tensional.
Uma totalidade e totalização dialógicas, inter-ativas, atualizativas.
Neste sentido, o que caracteriza a concepção e a metodológica
das psicologias e psicotrerapias fenomenológico existenciais dialógicas -
- Gestal’terapia, Abordagem Rogeriana – é, exatamente, o
propiciamento metodológico desta experiência do campo dialógico,
como vivência grupal. Pelo privilegiamento em sua prática da
experiência ontológica, da experiência estética -- fenomenológico
existencial dialógica. Seja no âmbito do grupo vivencial, seja no âmbito
da forma de relação diádica em que este pode se configurar.
2.3. Compreensão.
O modo de sermos da experiência estética, da dialógica, da
aporética, da interpretação, hermenêutica, fenomenológico
existencial;
88
A compreensão é característica, e, própria e eminentemente,
intríseca, ao modo ontológico de sermos.
A compreensão é experiência estética, a experiência estética é
compreensiva. A experiência estética é vivência imediata de corpo e
de sentidos, e esta vivência é, própria e eminentemente, compreensiva.
A compreensão é intrínseca, portanto, ao modo fenomenológico
existencial e dialógico – eu-tu -- de sermos; é intrínseca à experiência e
à experimentação fenomenológico existenciais, é intrínseca ao
empirismo fenomenológico existencial, é intrínseca à interpretação
fenomenológico existencial; e, portanto, é intrínseca à hermenêutica
fenomenológico existencial: hermenêutica própria e especificamente
compreensiva. A compreensão é intrínseca ao modo ontológico de
sermos, à vivência ontológica.
O que caracteriza o aspecto compreensivo do modo ontológico,
fenomenológico existencial e dialógico de sermos é que ele é,
especificamente, vivência empírica. Vivência, que -- como todo
vivencial, fenomenológico existencial, e dialógico -- é vivência
imediata, pré-reflexiva, pré-conceitual, pré-teórica, pré-
comportamental, pré-pragmática, pré-realista, pré-realidade.
Vivência que é anterior à representação; uma vez que, na
verdade, a representação é re(a)presentação. E, intrinsecamente, a
compreensão é, própria e especificamente, a-present-ação. Dá-se no
modo pres-ente de sermos – o modo pré-coisa de sermos.
E o que é que se dá, o que é que, na vivência compreensiva,
acontece como apresentação ?
Pela abertura para o Ser, que é própria ao modo ontológico de
sermos, inexoravelmente abrimos o campo do possível, o campo da
potência, o campo das possibilidades, o campo da ação, da
atualização – que são, segundo Heidegger, o campo do
desdobramento compreensivo das possibilidades, da poiese. São, assim,
as possibilidades em seu desdobramento que se apresentam, que se
presntificam, como compreensão.
O desdobramento das possibilidades as constitui como conhecer
– as possibilidades se apresentam com conhecer, como sentido.
De modo que, segundo a sua potência, é a vivência das
possibilidade e do seu desdobramento -- na ação, na atualização, na
interpretação compreensiva fenomenológico existencial – que se
constitui como conhecer.
O conhecer dá-se, assim, como apreensão – apreensão que é a
constituição do sentido do ato de conhecer. Conhecer compreensivo,
uma vez que o sentido das possibilidades em seus desdobramentos se
89
constitui como apreensão, se constitui com(a)preensão – se constitui
como cum-preensão... compreensão.
A vivência de possibilidade e do seu desdobramento, a ação, é,
assim, intrínseca ao, e constituinte do modo compreensivo de sermos;
como, de resto, é intrínseca, e constituinte de toda a experiência e
experimentação do modo fenomenológico existencial, dialógico; modo
ontológico, e estético, de sermos.
A vivência, o conhecer, compreensivos, é eminentemente
conhecimento implicativo, é implicação.
Ou seja, ele se dá como logos, dia-logos, como dialógica. Como
vivência eu-tu. Como vivência, portanto, que não é da ordem do
relacionamento sujeito-objeto.
Afirmar isso é uma redundância, uma vez que tudo que a relação
eu-tu não é é relação sujeito-objeto.
De forma que o conhecer que a possibilidade constitui em sua
vivência, e na vivência de seu desdobramento, é conhecimento, é
cognição; mas, em particular, é o conhecimento e a cognição como
apreensão – conhecimento cum(a)preensão – o conhecimento
compreensivo momentâneo próprio à vivência da dialógica da da
relação eu-tu.
Na qual se dá, de modo inextrincável, a movimentação da
implicação com a alteridadade radical de um tu -- que se dá, na
vivência dialógica, como possibilidade, e possibilidade em
desdobramento, na ação, no acontecer, da inter ação.
Não é conhecimento teórico, ex-plicativo, mas conhecimento
vivencial, conhecimento artístico, conhecimento dionisíaco, implicativo,
compreensivo. O conhecer de uma consciência embriagada, dissoluta
em sua embriaguês, e que evolui em sua potência criativa, não para a
abstração, e para a clareza abstrativa do conceitual, mas para perder-
se na embriaguês do confusional de sua auto superação.
E ste e-vento, esta e-ventualidade inter ativa, à-ventura -- que é,
assim, da ordem do presente e da presença, da atuação e da
atualidade -- escoa-se para a coisificação, para a entificação, para a
ontificação, e para a inação. Perdendo, inevitavelmente, neste seu
escoamento -- decaimento, para Heidegger --, o caráter de sua
dialógica, o seu caráter imediato de implicação inter ativa com a
alteridade radical de um tu. Deixa, progressivamente, de ser da ordem
da implicação para, progressivamente, se constituir na ordem da ex-
plicação.
Nesta forma ex-plicativa, a experiência pode se constituir com
teorética, como comportamento, no âmbito da causalidade e da
dicotomia sujeito-objeto; no âmbito da subjetividade, no âmbito da
90
objetividade, no âmbito de inter subjetividade; no âmbito da utilidade,
no âmbito da prática, da pragmática, do fato – feito --, e da realidade.
Todo este modo ôntico de sermos -- eu-isso, factual, real -- não é
caracterizado pela compreensão, não é da ordem da compreensão,
nem é da ordem da implicação -- implicação que intrinsecamente se
constitui no âmbito da compreensão.
O modo ôntico de sermos é, própria e especificamente, da
ordem da ex-plicação... O modo de sermos no qual estamos ‘fora’ do
desdobramento inter ativo da implicação com a alteridade radical de
um tu. O modo de sermos no qual estamos fora da implicação com o
possível e com a possibilidade, em seus desdobramentos e constituição
compreensivos.
91
A experiência estética, a dialógica, a hermenêutica
compreensiva – a interpretação, compreensiva – são aspectos da
experiência ontológica, fenomenológico existencial, dialógica. De
modo que são, todas elas, da ordem da inter ação, da ordem da
compreensão, e da ordem da implicação.
A implicação que é característica, portanto, da vivência, significa
a implicação, o movimento da vinculação necessária, pontual e
momentânea, inter ação, entre a alteridade de um eu, e a alteridade
de um tu. Que se dão como possibilidades em processo de atualização,
processo este que se desdobra como inter ação.
De modo que a vivência do conflito na forma ôntica de sua
instalação, na forma ôntica de sua realização, na forma ôntica da
coisificação de suas aporias, no seu caráter de ex-plicação, é
característicamente improdutiva. Porque nesta forma de sermos da
explicação, não vivenciamos o campo de possibilidades que é
característico do modo ontológico, e compreensivo, de sermos. Não
vivenciamos a implicação de momentos de vivência eu-tu possíveis e
potentes. Não vivenciamos a inter ação, a ação, a atualização, que
são característicos do modo estético de sermos, modo ontológico,
compreensivo, fenomenológico existencial e dialógico.
92
A vivência afirmativa da aporia permite a abertura da
experiência e experimentação da vivência do possível, das
possibilidades, e de sua atualização.
De modo que a apor-ética, o método aporético, é a disposição
para privilegiar primaria e afirmativamente a vivência fenomenológico
existencial dialógica da aporia, na intensidade e na intensificação
próprias de seu momento, momentum.
A vivência da concentração da intensidade da aporia
tipicamente conduz à superação de sua estagnação, ao
restabelecimento do fluxo do possível, à abertura do campo de novas
possibilidades.
A aporética se dispõe à afirmação da ação, à afirmação da
potência do possível, e de seus desdobramentos, na ação. Até que esta
ação encontre a sua limitação, a sua finitude, a sua aporia. Seja pelas
finitudes de suas potências. Seja pelo concurso e concorrência de
novas possibilidades. A insistência e a persistência na vivência da
finitude da aporia, com suas implicações próprias, permite a abertura e
emergência de novos campos de possibilidades, dando origem a novos
possíveis, e a novas aporias, a serem experienciadas e experimentadas.
A instalação do conflito é a instalação, e a estagnação, de sua
aporia: a instalação ôntica, factual, da aporia. Ou seja, a instalação da
aporia no modo em que ela não pode efetivamente ser vivenciada, e
resolvida, superada.
De modo que, quanto mais as partes conflitantes se recusem à
experiência da vivência ontológica, fenomenológico existencial
dialógica, da aporia de seu conflito, e dos fluxos de sua superação,
mais o conflito, em sua coisificação, tende a se acentuar enquanto tal,
a se cronificar, e a se instalar.
A apor-ética e o método aporético da concepção e da
metodológica das psicologias e psicoterapias fenomenológico
existenciais – Gestal’terapia, Abordagem Rogeriana -- se propõem,
então, a reunir as partes conflitantes em um experiência vivencial –
grupal, ou inter individual -- que permite a vivência afirmativa
compartilhada da aporia conflitual, em suas intensidades
fenomenológico existenciais e dialógicas próprias. Possibilitando, assim a
restauração do fluxo da vivência em direção aos limites da aporia, aos
limites de sua superação, na produção criativa, pelo sistema e pelo
processo grupal, das possibilidades alternativas de sua superação, pelo
conjunto do grupo como um todo, conjunto que engloba as partes
conflitantes, na encarnação estética de sua elaboração
fenomenológico existencial dialógica.
93
2.6 Hermenêutica do conflito.
Para além de suas aporias, o conflito é prenhe de possibilidades.
Antes da abertura dos campos de possibilidades e de
interpretação de suas possibilidades, as próprias aporias são potências,
são possibilidades, a serem fenomenológico existencialmente
interpretadas. E só nesta forma fenomenológico existencial de sua
interpretação elas podem ser afirmadas, e esvaídas, superadas. O que
envolve o deslocamento da mera experienciação de sua instalação
ôntica, para a sua vivência estética, fenomenológico existencial
dialógica. Vivenciadas as aporias, novas possibilidades podem emergir,
e se oferecer ao processamento da interpretação, da heremêutica
fenomenológico existencial.
Estas possibilidades são, assim, detonadas nos limites de suas
aporias. São possibilidades a serem fenomenológico existencialmente,
estéticamente, interpretadas, na medida de sua urgência e
emergência, na medida de sua potência, presença e atualidade.
Dada a adequada ambiência, essas possibilidades podem ser
interpretadas pelos próprios agentes do conflito. Na medida em que
estes efetivamente puderem se constituir como tais – ou seja, como
agentes. Ou seja, na medida em que puderem dispor do espaço e do
tempo da experiência hermenêutica experimental em que se constitui a
vivência.
É esta interpretação, fenomenológico existencial dialógica, das
aporias do conflito, e das dinâmicas e fluxos de suas possibilidades, por
parte de seus próprios agentes, que pode se constituir como um fluxo
de atualização criativa do conflito, e que pode romper ou diluir, em
suas possibilidades, as barreiras da instalação de suas aporias, da
instalação de sua realidade; e conduzir o conflito para além de seu
status-quo, na sua superação pela vivência da emergência e
atualização.
A Hermenêutica é a arte da interpretação3.
No caso, interpretação compreensiva, fenomenológico
existencial, dialógica. Que é como se constitui o tempo característico
da vivência. A experiência da vivência fenomenológico existencial
dialógica é a experiência da vivência de possibilidades e do
desdobramento destas.
Esta vivência de possibilidades e do seu desdobramento –
processamento que é própria e eminentemente estético,
compreensivo, pré-reflexivo, fenomenológico existencial dialógico – é o
que entendemos como interpretação, e como hermenêutica,
compreensivas.
3
Palmer,
94
Assim, quando propomos a experiência do grupo vivencial para
as partes conflitantes, estamos oferecendo a oportunidade de uma
experiência de saída da realidade e da instalação, da factualidade e
da fatalidade, da aporia, do conflito, para uma experiência de diluição
na hermenêutica de suas possibilidades ativadas, e em desdobramento.
De modo que, em termos essenciais, a experiência grupal
fenomenológico existencial e dialógica é, própria e eminentemente, a
experiência da vivência, individual e coletiva, do desdobramento de
possibilidades -- no que entendemos como ação, como interpretação
fenomenológico existencial.
O que define e caracteriza o espaço e o tempo, o processo, do
grupo vivencial fenomenológico existencial dialógico como espaço,
tempo e processo eminente e especificamente hermenêuticos. O
espaço e o tempo, própria e especificamente, de uma hermenêutica
fenomenológico existencial dialógica. Compreensiva. Não explicativa.
Implicativa.
Aplicado assim à mediação e à facilitação da resolução de
conflitos, o grupo vivencial fenomenológico existencial dialógico
permite que as partes em conflito interpretem fenomenológico
existencial e dialogicamente o conflito. O que efetivamente os constitui
como agentes do conflito.
Que podem, numa vivência compreensiva eminentemente
hermenêutica, interpretar as suas aporias; ao tempo em que podem
interpretar, compreensivamente, as suas possibilidades emergentes.
95
da vivência do possível, da vivência da possibilidade, da potência; que
se desdobra, e se desdobra como ação, atualização.
De forma que este modo fenomenológico existencial e dialógico
de sermos – que é estésico, que constitui a vivência estética, que é
estético -- é todo ele ação, atualização, na temporalização e
espaciação de sua duração.
Estésico, e estético é, pois, o modo sensível e afetivo de sermos, o
modo fenomenológico existencial dialógico, modo vivencial de sermos:
e, integralmente, é intrinsecamente o modo de sermos da ação, da
atualização.
Em sua potência propulsiva, de vivência momentânea e de
desdobramento de possibilidades, este modo ontológico de sermos
potencializa-se como devir, como vir a ser, como ação, atualização --
individual e coletivamente. E como superação da aporia, a porização,
o acesso, mais uma vez, à potência, à possibilidade, vontade de
possibilidade.
O Grupo Vivencial, assim como a sessão inter individual, vivencial,
fenomenológico existenciais dialógicos, primam, conceitual, e
metodologicamente, pela constituição, e priorização, da experiência e
experimentalidade da vivência estética – fenomenológico existencial
dialógica como vivência grupal. Pela aporética estética, pela vivência
estética de suas aporias, e do vir a ser das potências de suas
superações.
Conceitual, e metodologicamente, o Grupo Vivencial, e a sessão
diádica – uma modalidade de grupo vivencial --, abrem mão de
posturas científicas, de posturas teoréticas, de posturas explicativas, de
posturas moralistas, de posturas técnicas, de posturas pragmáticas, de
posturas comportamentais, de posturas realistas... Em privilégio de uma
estética. Em privilégio da experiência e experimentação vivenciais,
fenomenológico existenciais, dialógicas como experiência grupal.
Simplesmente porque os modos de sermos daquelas posturas não
são da ordem do modo de sermos próprio e específico da
compreensão e da ação (Modo de sermos cum(a)preensão: modo de
sermos com apreensão da possibilidade e do seu desdobramento).
Modo de sermos da vivência da experiência da possibilidade, da
potência, do possível, da vontade de possibilidade, e do seu
desdobramento, na experimentação e experiência da ação,
atualização. Modo de sermos da superação, da criação, da alegria.
Conceitual e metodologicamente, assim, o Grupo Vivencial,
alternativamente, privilegia, abre-se, e cria condições, para a vivência
estética fenomenológico existencial, dialógica -- o modo próprio de
sermos no qual vivenciamos possibilidade, potência, devir, e o seu
natural desdobramento em ação.
96
De modo que são um espaço e tempo privilegiados para a
vivência do destravamento do conflito, enclausurado em sua
comportamentalidade e em sua teorética explicativa; para o
destravamento de sua aporia, de sua instalação real.
Pela imersão em conjunto das partes conflitantes numa
experiência coletiva grupal. Que, pelo seu caráter fenomenológico
existencial estético, aporético, se constitui, própria e especificamente,
como uma vivência compartilhada de secretação compartilhada de
possibilidades compartilhadas; e de secretação da ação, da
atualização, que se constitui como devir da propulsão do possível, e da
atualização, da ação; para além da instalação das aporias do conflito;
para além de sua estagnação, e estanquização, dissolvendo a
instalação realizada destas aporias nas possibilidades que podem
emergir da vivência compartilhada da estética do conflito.
Assim, a vivência grupal fenomenológico existencial dialógica,
gestáltica, rogeriana, é uma ambiência original e privilegiada para a
mediação e para a facilitação da resolução de conflitos.
Os grupos assim constituídos podem variar. Desde pequenos
grupos diádicos – um facilitador, e um cliente --, passando por grupos
com três ou mais participantes, com um facilitador; e grupos maiores,
chegando mesmo aos grandes grupos. Para cada um deles se
providenciam as condições adequadas para a instauração pontual e
momentânea da temporalidade e da espacialização de sua vivência
estética, fenomenológico existencial, dialógica.
Desta forma, a concepção e a metodológica da psicologia e da
psicoterapia fenomenológico existencial dialógica – Gestal’terapia,
Abordagem Rogeriana – privilegiam o modo de sermos que
potencializa naturalmente o modo ontológico de sermos de superação
da aporia do conflito, e de sua instalação realizada. Privilegiam a
elaboração, a prevalência, e o desdobramento, da vivência
fenomenológico existencial, dialógica –, seja pessoalmente, inter
individualmente, grupal, ou inter grupalmente.
Recusando-se, assim, ao privilegiamento -- na abordagem da
pessoa, ou na abordagem do grupo, ou das relações inter grupais -- de
uma abordagem teorética, ou científica, explicativa e moralista;
recusando-se a uma abordagem técnica, recusando-se a uma
abordagem comportamental, ou a uma abordagem pragmática;
recusando-se a uma abordagem realista; a concepção e método da
psicologia e psicoterapia fenomenológico existencial – Gestal’terapia,
Abordagem Rogeriana – privilegiam, na vivência pessoal, na vivência
inter pessoal, na vivência grupal, o modo ontotológico, o modo
dialógico, o modo fenomenológico existencial de sermos.
O modo ontológico, modo dialógico, de sermos, é, própria e
especificamente, como vimos, o modo estético de sermos. O modo de
sermos da experiência estética. Que é o modo de sermos da
97
experiência fenomenológico existencial, poiética: a experiência de
vivência imediata de corpo e de sentidos, modo de sermos da
sensibilidade e da afetividade, que é da ordem da experiência pré-
reflexiva, e pré-conceitual, de vivência de possibilidades, e de vivência
do desdobramento de possibilidades. No que entendemos como ação,
atualização: poiese, poiética, estética.
De modo que, quando propomos a abordagem fenomenológico
existencial dialógica da Gestal’terapia e da Abordagem Rogeriana,
para a mediação, e para a facilitação da resolução de conflitos,
propomos – à pessoa, ao grupo, aos inter grupos, -- um relativização da
experiência da instalação ôntica -- não estética, não poiética, e não
dialógica -- do conflito – ,uma relativização da experiência explicativa,
do conflito, da experiência teorética, moralista ou comportamental do
conflito. Propomos uma relativização da factualidade, e da fatalidade,
do fatalismo, do conflito. E a imersão das partes conflitantes na
experiência e experimentação dialógicas.
Trata-se de uma permissão, enquanto oportunidade de vivência,
à momentaneidade da experiência e da experimentação de uma
estética do conflito.
Ou seja: propomos a permissão, como processo pessoal e grupal,
à temporalidade da elaboração, pessoal, grupal, de uma situação e do
processamento de uma vivência coletiva e individual, que privilegia, e
se pauta, pela vivência do modo ontológico de sermos. Modo de
sermos fenomenológico existencial, dialógico, poiético. Que, em sua
vivência, é, eminente e ontologicamente, modo de sermos de vivência
de possibilidade, e de vivência do desdobramento de possibilidades.
Propomos o processo hermenêutico de inter-pret-ação
fenomenológico existencial, dialógica, de inter-ação interpretativa,
pessoal e/ou grupal: ação, atualizção. Que -- à força da potência de
sua ventura estésica, do seu devir, da vida à ventura, do possível, -- é
sempre superação.
Superação que pode, efetivamente, ser gestada, e efetivamente
criada e vivenciada, pela(s) pessoas e pelo(s) grupo(s), pelas partes
conflitantes. E que é superação -- movimentação pela potência da
possibilitação, da atualização -- das aporias do conflito. Superação
compartilhada do próprio conflito, em suas possibilidades,
possibilitações, e devires. Deslocamento e diluição, em suas
possibilidadese possibilitações, da realidade da instalação do conflito
nas sua formas ônticas e factuais.
98
No essencial, a vivência grupal é a momentaneidade de um
tempo. Da temporalidade ontológica, compartilhada, em sua inter
atividade implicativa, como experiência grupal.
À medida que, como experiência e experimentação grupais,
sobre o funcionamento ôntico explicativo – teorético, ou
comportamental, pragmático – diferencia-se e prevalece o modo
compreensivo implicativo de vivência, fenomenológico existencial,
dialógica, estética, e hermenêutica, instala-se como vivência a
duração da temporalidade ontológica.
Que se configura como temporalidade das possibilidades, em
seus intrínsecos desdobramentos: em suas intrínsecas atualizações. O
tempo faz-se ao largo de sua condição cronométrica, e passa a ter a
própria ação, a própria atualização, a própria temporalidade da
vivência do desdobramento das possibilidades, como indício, como
referência, e como critério.
O tempo ontológico é um tempo das intensidades, um tempo
pautado pelas intensidades. Diferente do tempo cronométrico, que que
é monótono e se pauta pelos limites e intervalos calculativamente
definidos. O tempo ontológico fenomenológico existencial, dialógico,
hermenêutico -- temporalidade estética -- violenta, diminui, sobrepassa,
e dilui, os intervalos e os limites calculativos do tempo cronométrico.
A temporalidade ontológica é pulsativa, animado pela
atualização das possibilidades. É o presente, a atualidade e a presença.
E se esgota em sua atualização criativa, cedendo, mais um vez, lugar
ao eterno retorno do tempo cronométrico.
Assim, o tempo ontológico inexoravelmente destina-se no tempo
cronométrico. Sua duração, não obstante, é antinômica e incompatível
com os padrões calculativos e ônticos deste.
De modo que, constituir e elaborar a experiência e a
experimentação do Grupo Vivencial é constituir e elaborar, atualizar, a
vivência da momentaneidade de sua temporalidade própria. Que tem,
dentro de limites razoáveis, critérios próprios de explicitação e de
conclusão.
Ou seja, é preciso ter tempo, ôntico, disponível. A temporalidade
ontológica, fenomenológico existencial e dialógica, estética, e
hermenêutica, ainda que possa se enquadrar em limites razoáveis, e
careça desses limites, tem um tempo próprio de explicitação e de
conclusão. Não pode, assim, ser simplesmente constrangida,
inviabilizada, ou impregnada pelas demandas do tempo ôntico.
O grupo vivencial requer, assim, tempo disponível para a
constituição e experimentação de sua temporalidade própria.
99
3.
O conflito, suas formas improdutivas, e as formas improdutivas
da mediação;
101
instalação, pela interdição da possibilidade de sua vivência produtiva e
criativa.
Quanto à funcionalidade, é evidente que o que almejamos não é
a funcionalidade do conflito, mas, mais propriamente, o que almejamos
é a sua disfunção, superação e resolução. Pela força de seus possíveis.
Esta disfunção do conflito decorre da diluição da instalação de
sua realidade, da realidade de sua instalação ôntica, na elaboração e
atualização de suas possibilidades, das possibilidades que se geram e
regeneram na vivência de seu modo dialógico, estético,
fenomenológico existencial e dialógico.
Um outro aspecto extremamente importante quando
consideramos a vivência ontológica fenomenológico existencial, é que
estamos tratando sempre, na momentaneidade do modo de sermos
desta vivência, de vivência de possibilidade, e vivência do
desdobramento de possibilidades. O possível é antinômico com a
vivência do real, que a ele se contrapõe. Na verdade, o possível
atualizado se constitui em realidade, realiza-se. De modo que o acesso
ao campo das possibilidades, como vivência ontológica, exige que nos
descolemos da vivência do real, para desfrutarmos, especificamente,
da vivência da possibilidade e de sua atualização, que constitui a
ação.
Ontológicamente, não somos seres do real, mas seres da
possibilidade. A realidade é progressivamente inóspita para o humano,
como observou Heidegger, até que ele possa experimentar e inspirar na
fonte do possível.
De modo, que, ao contrário do que possa parecer, uma postura
realista não condiz com a postura da vivência grupal, da mesma forma
que não convém com a postura da mediação e facilitação
fenomenológico existencial dialógica da resolução de conflitos.
Poder-se-ia dizer antão: e é uma postura irrealista, então, que é
pertinente? Não exatamente isto. À medida em que se começa a
insistir, e começa a persistir, enquanto experiência grupal, a vivência
fenomenológico existencial, esta começa progressivamente a
caracterizar-se como a vivência ativa, produtiva; como a vivência da
ação, como vivência de possibilidades e da atualização de
possibilidades. Que desloca-se do que podemos entender como
experiência da realidade, para caracterizar-se, cada vez mais, como
vivência poiética, vivência estética, fenomenológico existencial
dialógica, que se constitui muito mais como vivência de possibilidade, e
de sua atualização; do que como vivência da realidade.
102
O conflito é sempre um momento particular da vida pessoal, da
vida inter pessoal, grupal e inter grupal. Sua evidência, sua explicitação,
sua superação, e resolução são evidências de saúde psicológica e
social. Mas o conflito é um momento, um momentum, dos fluxos da
existência pessoal, um momento dos fluxos das relações interpessoais,
grupais, e inter grupais.
Sua progressiva realização, e instalação, trazem consigo o
sofrimento, e a redução desta vitalidade. Esta instalação se dá na
medida em que a experiência das partes conflitantes, em sua
individualidade e em seu conjunto, se detém e se demora na
experiência de seu modo ôntico, de seu modo factualizado, fatal,
acontecido; eximindo-se, ou se privando, das formas, formações,
performações, figurações, atualizações, criatividade, do modo de sua
vivência ontológica, de sua vivência estética, fenomenológico
existencial, dialógica.
A concepção e a metodologia de mediação, e da facilitação da
resolução de conflitos das psicologias e psicoterapias fenomenológico
existenciais empenham-se no sentido da criação de condições
pessoais, interpessoais, grupais, inter grupais, para a respectiva vivência
atual da experiência do conflito em sua forma ontológica, em sua
forma fenomenológico existencial, dialógica.
Esta vivência permite a vivência do conflito ao modo de sua
experiência estética, vivencial – corpo, vivido, sentidos --, criativa. O que
permite a vivência pelos participantes, e conjuntos destes, das
elaborações e desdobramentos fenomenológico existenciais dialógicos
das possibilidades da tensão e da situação conflituosa. E, com isso, a
dissolução em suas possibilidades da fatalidade e da instalação do
conflito. E a sua superação.
BIBLIOGRAFIA DE REFERÊNCIA
BUBER, Martin EU E TU.
HEIDEGGER, Martin SER E TEMPO.
PALMER, R. HERMENÊUTICA.
103
DA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL
DIALÓGICA DE PAULO FREIRE Crítica, Empírica,
Experimental, Estética e Poiética
Introdução
104
sua ética radical, de não participação nos sofisticados mecanismos de
2
105
Por outro lado, é importante entender que em sua operativida-
de cognitiva a Dialética é eminentemente, própria e especificamente,
dialógica. A praxis histórica dialética não é ação e „reflexão‟, mas a-
ção e ação. Ou seja, ela é toda ela empírica, compreensiva, e implica-
tiva. Vale dize, dialógica. Uma vez que a crítica, que seria a reflexão,
na verdade não é teórica, nem prática. Mas ativa, compreensiva, im-
3
2. Ética
106
a. À guisa de introdução à questão ética em Paulo Freire.
b. História e ética
c. Ética: Estética
d. Ética: Poiética
3. Dia Logos
107
e em especial, reconhecer a sua alteridade radical, o seu processo
radical de produção autônoma de sentido, e de ação.
108
2. Ética
b. História e ética
109
carecimento e possibilidade intrinsecamente humanos para a supe-
ração. Mesmo quando as condições históricas determinam o abjeto, 8
110
ca. E, em assim sendo, são Estéticos. O diálogo e o dialógico, como
vivência e atualização de possibilidades, que é ação, a atualização, é
poiético; e para isto é estético.
111
crença na e ação da utopia, e da poiese do inédito possível e viável
da história, nas constrições históricas do ser menos. Pela simples a-
tualização da potência da ação como conhecimento e muscularidade,
e pela negação dos mandatos de ser inerte, e impotente.
112
uma implicação ética e metodológica básica e natural, um princípio
congênito, o princípio radical e conseqüente da disposição para o en-
contro inter humano, ou seja: a disposição decidida e franca para a
estética do Diálogo, para a Dialógica Inter Humana; para, junto com
ele, e na inter ação, pensar, agir, interagir, como únicas formas pos-
síveis e lícitas. Trata-se, assim, de reconhecer a sua alteridade e a
sua humanidade, trata-se da relação e da dialógica com ele enquanto
alteridade absoluta.
d. Ética: poi-ética
114
Originalmente, o estésico é nome de um vento que sopra na
Grécia numa determinada época do ano, e que impulsiona as velas
dos navios. Eis aí a origem do conceito, de estésico, de estesia, e, no
limite, de estética: a ética da estesia. A pulsão do possível que impul-
siona a ação, no modo dialógico e fenomenológico existencial de ser-
mos, modo estético de sermos, foi entendida por analogia, como
devir (de vento), como similar ao vento estésico -- que impulsiona as
velas dos navios. Daí ser designada como estesia a vivencia de corpo
e de sentidos, que permite a vivência da pulsão das possibilidades,
impulsionando a ação, a atualização. Por isso, pela vivência das pos-
sibilidades e do seu desdobramento, este é o modo de poiético de
sermos -- em que vivenciamos a estesia, a ação decorrente da atuali-
zação de possibilidades.
3. Dia Logos
115
Vivemos na cotidianidade do modo eu-isso de sermos. É o mo-
do de sermos da repetição, e do acontecido em nossas vidas; o modo
de sermos da dicotomia sujeito-objeto, da objetividade, modo de
sermos da causalidade, dos úteis e das utilidades, do uso; e o modo
de sermos do realizado e da realidade. Que se opõem ao modo de
sermos, eu-tu, do possível e da possibilidade.
116
O modo ontológico, fenomenológico existencial, estético, de
sermos é o modo de sermos em que somos presença. A presença,
pres-ença, se define como o modo, ontológico, pré-coisa, de sermos.
O modo de sermos, em que -- eu-tu, dialógica fenomenoló-gico
existencial --, somos vivência de possibilidades, e do desdobra-mento
destas; antes que este desdobramento nos conduzam a entificação,
ou seja, à esfera dos entes, das coisas, eu-isso. O modo ontológico
de sermos, eu-tu, dialógico, fenomenológico existencial, é um modo
pré-ente, presente, presença; de sermos como o vir a ser da ação de
atualização do possível.
117
em sua potência, possibilidade, e possibilitação, ação, enquanto tal.
Uma relação eu-tu. Cuja dinâmica estética, e poiética, se dá como a
movimentação implicativa de um eu em direção a um tu, enquanto
alteridade radical; e vice versa.
118
proposital da poiética, do desdobramento, da atualização, de possibi-
lidades; o estético desproposital da ação, que se dá fora do modo de
sermos das relações de uso e de utilidade.
119
concreto. E a necessidade do movimento de pensamento numa nega-
ção do empírico: que é negação da negação, para a elucidação das
determinações históricas não empíricas que configuram a concretude
histórica da totalidade social.
120
Cultivar, desdobrar, atualizar estes possíveis em suas potências
-- que só se dão empiricamente, na dialógica do encontro; é, própria
e especificamente, o caráter Experimental, no sentido fenomenológico
existencial, da ética, da estética, e da metodológica dialógica da a-
bordagem feireana.
121
O dialógico, âmbito eminentemente da ação, é, portanto, empí-
rico, e experimental.
122
para tentar e arriscar. Porque esta disposição, é própria do devir, é
própria da ação, é própria da superação, é própria e necessária à cri-
ação. Que ontologicamente nos caracterizam como humanos.
123
De modo que, própria e eminentemente dialógica, na relação
inter-humana, estética e poiética da ação, a abordagem freireana é
própria e especificamente empírica e experimental em sua ética e em
sua metodológica. Porque essas são as condições do conhecimento
como ação, e da ação como conhecimento, da ação e do conhecimen-
to que nos modificam, e que modificam o mundo como atualização do
possível que nos é ontologicamente imanente. Porque o Diálogo é, e
só pode ser, empírico e experimental; no sentido fenomenológico e-
xistencial, estético, e poiético.
125
O caráter intrínseco do interesse na constituição do dialógico --
como emergente e emergência da própria relação dialógica, como
emergente e constituinte do próprio campo dialógico --, não exige,
naturalmente, igualdade, ou similaridade das partes.
126
nológico e existencial. E sem a consideração radical pela alteridade do
parceiro, sem o interesse dialógico que se pode com ela constituir.
127
da mulher e do homem Brasileiros; uma educação para a potenciali-
zação do possível, e do devir, para a ação como conhecimento e cria-
ção ativos; no âmbito da educação formal e informal; como educação
para a saúde; como educação ambiental e para a sustentabilidade,
27
128
Um dos aspectos mais interessantes, importantes, e determi-
nantes da Abordagem de Paulo Freire -- de sua ética: poiética, estéti-
ca, de sua ética dialógica; de sua concepção, e metodológica --, é
que ele entendeu, e foi conseqüente com relação ao seu entendimen-
to de que o conhecer é um processo própria e especificamente ativo;
ou seja, o conhecer é um processo de ação, de criação, de atualiza-
ção, no sentido própria e especificamente fenomenológico existencial
e dialógico do ato; o conhecer, o aprender é um processo eminente-
mente ativo, atualizativo, criativo, produtivo. Ou não o é conhecer e
aprender.
129
tologicamente epistemogênico, o educando -- como ser que aprende
produzindo conhecimento --, pode, efetivamente, produzir conheci-
mento, e aprender, e agir. Própria e especificamente, na momenta-
neidade pontual da vivência do modo de sermos fenomenológico
existencial dialógico, no qual vivemos possibilidades, e vivenciamos o
desdobramento próprio dessas possibilidades; nas suas formas me-
ramente compreensivas, e/ou compreensivas e motoras do que en-
tendemos como ação, atualização.
130
objeto, numa relação que, não obstante, se constitui na implicação do
modo eu-tu de sermos.
131
co, de sermos. Por mais que este tenha a sua importância. Que não é
a da vivência de possibilidades, e da ação.
132
De modo que a Abordagem de Paulo Freire -- consciente, e eti-
camente --, destinada a seres que, ontologicamente, aprendem em
um processo ativo de produção de conhecimento, e que só desta
forma aprendem; destinada, assim, a seres epistemogênicos, os hu-
manos; a Abordagem de Paulo Freire privilegia o modo de sermos da
ação, o modo de sermos da experimentação, da interpretação com-
preensiva, fenomenológico existencial dialógica. A dialógica do modo
compreensivo de sermos, na relação com a natureza não humana, na
relação inter humana, na relação com o sagrado.
CONCLUSÃO
133
AS CONDIÇÕES FACILITADORAS BÁSICAS COMO
PRINCÍPIOS DE MÉTODO FENOMENOLÓGICO
EXISTENCIAL: II. A RELAÇÃO EMPÁTICA. Empatia e
Dialogicidade.
134
O fundamental é que o cliente não seja entendido como objeto
de conhecimento abstrato, mas afirme-se e confirme-se na relação
comigo como um parceiro efetiva e fenomenalmente vivido,
dialogicamente, no confronto com, e privilegiamento de, sua
alteridade viva, ativa e autônoma. Que ele não objetificado,
assepticamente, teorizado ou simplesmente conhecido
reflexivamente, por este seu parceiro num evento da vida,
eventualmente terapeuta.
2 Cf. BUBER, Martin EU E TU, São Paulo, Summus, 1983. e DO DIÁLOGO E DO DIALÓGICO, São
Paulo, Perspectiva, 1985. Formatado: Português (Brasil) Formatado: Português (Brasil)
136
De modo que a empatia não tem a ver com um tornar-se
similar, igual, ao cliente, ou vice-versa. Não tem a ver com uma
redução das diferenças entre eu e ele. Muito pelo contrário, a empatia
nutre-se fundamentalmente da diferença, configura-se basicamente
como processo de diferenciação, no qual as diferenças se encontram,
confrontam-se, e são recriadas, como diferenci/ação. 5
137
A relação empática é, assim, fundamentalmente marcada pelo
que Buber chamava de Dialogicidade.3
3.op. cit.
138
Ora, nos fluxos e contra-fluxos da relação terapêutica, existe
uma dimensão particular da objetivação do TU do terapeuta à qual o
cliente é particularmente sensível e vulnerável: o terapeuta é
pessoalmente afetado à medida em que se abre para a relação com o
cliente enquanto TU. Este afetamento específico, como vimos, implica
de um modo particular, a recriação do EU do terapeuta. Recriação
que se dá pontual e especifica e necessariamente na relação com o
cliente particular. É a participação deste EU assim recriado na relação
com o cliente, a sua objetivação, que configura-se como o próprio
núcleo do que chamamos de resposta e ação empáticas do terapeuta.
O cliente é particularmente sensível a esta forma de objetivação e do
ser e estar do terapeuta. Desta forma particular de ser do terapeuta
que é para ele efetivamente terapeuta como TU, como um outro que
dialogicamente com ele se relaciona.
139
benigno, saudável e produtivo, criativo, potencializador de vínculos
saudáveis.
140
ONTOLÓGICA DA PRESENÇA E DA ATUALIDADE
CONCLUSÃO
INTRODUÇÃO.
141
como acontecer, como atores, co-mo atualidade e presença – ao
modo da consciência pré-reflexiva, compreensi-3
142
pelo logos – da consciência pré-reflexiva, onto-lógica, fenomeno-
lógica, dia-lógica; compreensiva e implicativa.
143
representativa, ex-plicativa – que não é consciência implicativa, que
não é implicação.
144
são preendidas, compreendidas, compreensão, como consciência pré-
reflexiva, como sentido, como logos. Fenomeno-logos, onto-logos. O
modo de sermos com-preensão – do logos, do sentido. Apresen-
tação.
145
aspectos definidores dos seres), é o modo de sermos que é
característico e definidor deste ser humano que somos, devimos.
PRESENÇA
147
Que é dialógica eu-tu; e que, pour cause, é pré-objetivo, e pré-
subjetivo. Não sendo, naturalmente, intersubjetivo.
148
dialógica, da presença -- não é da ordem da realidade, da ordem do
modo de sermos real, coisificado, acontecido; não é da ordem da
relação sujei-to-objeto, nem da utilidade. Estas são as condições do
possível, as codições da possibilidade.
ATUALIDADE
149
A Atualidade a intrínseca característica de ação, que impregna
este mo-do ontológico de sermos. A característica de que a vivência
ontológica da mo-mentaneidade instantânea do modo ontológico de
sermos -- fenomenológico existencial e dialógico -- é toda ela
impregnada da vivência de possibilidades; sendo, assim, impregnada
do intrínseco desdobramento de possibilidades (Já que as
possibilidades só existem em desdobramento -- Deleuze). Desdobra-
mento compreensivo de possibilidades que é a Ação propriamente
dita. O Ato, a Atualidade.
150
compreensiva, e implicativa, é, portanto, o modo de sermos do pre-
sente (pret-ente, pré-ente), e da presença.
151
ONTOLOGIA, ATUALIDADE, PRESENÇA. Empatia.
152
atualidade, à atualização, àção; inerentes a este modo de sermos da
presença ontológica. 12
153
especificamente movimento da ação, atuação, atualização, vivência
compreensiva, e implicativa, do desdo-bramento de possibilidades.
De um modo tal, que o modo de sermos compre-ensivo e implicativo
do desdobramento da ação, do desdobramento das possi-bilidades, é,
própria e especificamente, o modo de sermos da moção, da emo-ção.
O modo de sermos da sensibilidade emocionada, o modo de sermos
no qual se constitui o que entendemos como emoção.
Podemos assim falar que somos animados pela ação, por uma
tendên-cia atualizante.
155
Neste sentido, a existência da possibilidade é sempre existência
como pressão. Como jatação, como jetação, como projeto, como
projetação. (Aristó-teles, Brentano, Heidegger). Daí, a característica
específica do modo ontológi-co de sermos, como contínua tendência,
tendência da possibilidade para a a-ção, tendência atualizante.
157
De modo que a vivência dos desdobramentos das possibilidades
-- que se dá no modo de sermos da presença --, a ação, a
atualização, a atualidade, a interpretação compreensiva, a
experimentação, igualmente compreensiva, se dão, sempre, como a
vivência compreensiva – plic, em Grego – de plexos de
possibilidades, plexos de forças em desdobramento. Que se
constituem como vivência, como consciência pré-reflexiva, como
fenomeno logos, como dia lo-gos. Como compreensão, enfim.
158
vivência de suas totali-dades, enquanto totalidades que se dão
diferentemente da soma, e mesmo da configuração, de suas partes.
159
Esta vivência compreensiva, e implicativa, do desdobramento
de possibi-lidades é o que chamamos interpretação (especificamente)
compreensiva (Hei-degger). Não a explicativa. Fenomenológico
existencial e dialógica.
160
Podemos ver, assim, que a experimentação fenomenológico
existencial, compreensiva, implicativa, que se dá na atualidade e na
presença, tem uma natureza radicalmente distinta da experimentação
explicativa, teorética, e cien-tífica. Nesta são, exatamente, os
elementos de incerteza e de risco que são, cuidadosa, e às vezes
obsessivamente, evitados.
161
coletiva -- é compatível com as premissas do que entendemos como
ação, atualização, e do que eles entendiam como operação da
tendência atua-lizante.
162
lógica fenomenológico existencial dialógica, ou seja, a sua
impertinência ao modo de sermos dos úteis e das utilidades. E uma
metodologia compatível com o seu caráter de vivência e de vivência
do desdobramento de possibilidade, o seu caráter experimental e
hermenêutico de ação, de atualização, o seu caráter de atualidade e
de presença. Ou seja, compatível com o seu caráter intensional de
vivência compreensiva e implicativa, vivência do desdobramento da
ação, e do acontecer. Distinta do caráter de acontecido, e de coisa,
do modo explicati-vo de sermos da realidade, extensional.
163
caráter alheio à causalidade, à utilidade, e à reali-dade, o facilitador
carece de se constituir dialógica e implicativamente, compre-
ensivamente, na própria dialógica da vivência grupal. E ser e atuar
como partí-cipe desta dialógica da presença e da atualidade. 21
164
causalidade; em sua utilidade; em seu valor pragmático, pragmético,
em sua realidade, como acontecido, como coisa instalativa.
166
vivência da presença e da atualidade, portanto. Mais própria e
especifi-camente, a questão da atualização, da atualidade, que são
intrínsecas à pre-sença.
167
compreensivo e implicativo de sermos; obstruem a atualização das
possibilidades, o seu devir, e a supera-ção.
168
Este movimento, esta mudança, que é o processamento
constituinte da compreensão, a compreensão enquanto
desdobramento da possibilidade, a ação, é sempre moção, emoção. E
motivação.
169
Razão de ser do interesse dos preconizadores de uma
Educação, de uma Pedagogia, e de uma aprendizagem, ontológicas --
como Paulo Freire, e Carl Rogers -- por uma concepção e metodologia
fenomenológico existencial e dialógica, ativa, hermenêutica e
experimental.
170
da atualidade. Carl Rogers foi um pioneiro nesta aplicação, quando
utilizou a metodologia de sua abordagem de trabalhos com grupos
para a mediação e negociação para a facilitação da reso-lução de
conflitos.
171
Este é, pois, o sentido do Grupo Vivencial, e o sentido de sua
metodolo-gia, como metodologia de mediação para a facilitação da
negociação e da re-solução de conflitos.
CONCLUSÃO
172
Bibliografia de Referência
BUBER, Martin EU E TU.
HEIDEGGER, Martin SER E TEMPO.
PALMER, Richrd HERMENÊUTICA.
173
174
E JESUS EMPATIZOU COM A TERRA 1
176
Se, por acaso, o isolamento o toca, a ligação é mais
forte, e é somente do seio desta ligação, que ela fala aos
outros.
Em vão, procurais reduzir este EU a um mero poder em
si ou este TU a algo que habita em nós e uma vez mais
procurar desatualizar o atual, a relação presente, ambos, EU e
TU, subsistem.
Cada um pode dizer TU, sendo assim um EU, cada um
pode dizer Pai, sendo assim Filho: a atualidade permanece.
Tomai e comei,
Rodeai e desfrutai,
Convertei e consumi,
Envolvei e devorai:
177
Este é o meu corpo morto.
Este é o meu cadáver.
Este corpo (pegri) se estende e vagueia neste mundo.
Por fim ele perde força e calor.
Lede os sinais vós mesmos:
O meu futuro, vosso futuro é ser comida – lachma, dom da
sabedoria --
para o que vem depois de vós. –
179
densas impregnados do cheiro de muitos homens, e a
vista dos morros obstruída por fios que falam.
Onde está o arvoredo? Desapareceu.
Onde está a água? Desapareceu.
É o final da vida e o inicio da luta para
sobreviver.
Como é que se pode comprar ou vender o céu, o
calor da terra? Essa Ideia nos parece um pouco
estranha. Se não possuímos o frescor do ar, e o brilho
da água, como é possível comprá-los.
Cada pedaço de terra é sagrado nas tradições de
meu povo. Cada ramo brilhante de pinheiro, cada
punhado de areia das praias, a penumbra na floresta
densa, cada clareira, e inseto a zumbir, são sagrados
na memória e na experiência de meu povo. A seiva que
percorre o corpo das árvores carrega consigo as
lembranças do homem vermelho...
Essa água brilhante que escorre nos riachos e
rios não é apenas água, mas o sangue de nossos
antepassados.
Se lhes vendermos a terra, vocês devem se
lembrar de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas
crianças que ela é sagrada, e que cada reflexo nas
águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e
lembranças da vida do meu povo. O murmúrio das
águas é a voz dos meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede.
Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas
crianças.
Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem
lembrar e ensinar para seus filhos que os rios são
nossos irmãos e seus também. E que, portanto, vocês
devem doar aos rios a bondade que dedicariam a
qualquer irmão.
180
necessita. A terra, para ele, não é sua irmã, mas sua
inimiga e, quando ele a conquista, extraindo dela o
que deseja, prossegue seu caminho. Deixa para trás os
túmulos de seus antepassados e não se incomoda.
Rouba da terra aquilo que seria de seus filhos, e não se
importa... Seu apetite devorará a terra, deixando
somente um deserto.
Eu não sei...
Os nossos costumes são diferentes dos seus. A
visão de suas cidades fere os olhos do homem
vermelho. Talvez porque o homem vermelho seja um
selvagem e não compreenda.
Não há um lugar quieto nas cidades do homem
branco. Nenhum lugar onde se possa ouvir o
desabrochar de folhas na primavera, ou o bater de
asas de um inseto.
Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e
não compreendo.
O ruído das cidades parece somente insultar os
ouvidos.
E o que resta de um homem, se não pode ouvir o
choro solitário de uma ave, ou o debate dos sapos ao
redor de uma lagoa, à noite?
Eu sou um homem vermelho, e não compreendo.
O índio prefere o suave murmúrio do vento
encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpado
por uma chuva diurna, ou perfumado pelos pinheiros.
181
Para todas as coisas, na verdade, há um tempo
para ir à dianteira, e um tempo para seguir à
retaguarda; um tempo para a respiração lenta e um
tempo para a respiração acelerada; um tempo de
aumento de força e um tempo de decadência; Um
tempo para estar de cima e um tempo para estar
debaixo.
O sábio, portanto, evita todos os extremos,
excessos e extravagâncias.
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
Eu estou apaixonado
Por uma menina terra
Signo de elemento terra
Do mar se diz terra à vista
Terra para o pé firmeza
Terra para a mão carícia
Outros astros lhe são guia...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
183
Lots of clear air
Enormidades de ar claro
Lets save the Earth
Salvemos a terra
What a wonderfull thing
Que coisa maravilhosa
Let it be forever green
Deixemo-la para sempre verde
184
Where is the sea
Onde está o mar
Where is the place good for you, good for me
Onde está o lugar bom para ti, e bom para mim
Let’s save the Earth
Salvemos a terra
What a wonderfull thing
Que coisa maravilhosa
Let the bird fly, let the bird sing
Deixemos o pássaro voar, deixemos o pássaro cantar
(Let them sing Luísa)
(Deixemo-los cantar Luísa)
Let it be forever green
Deixemos para sempre o verde ser
Where is the Paradise
Onde está o paraíso
I’ve made for you
Que fiz para ti
Where is the green
Onde está o verde
And where is the blue
E onde está o azul
Where is the house
Onde está a casa
I’ve made for you?
Que eu fiz para ti?
185
E JESUS EMPATIZOU COM A TERRA 2
Eu sou a videira de Israel
186
Aí, encontraria uma cultura pulsante, encabeçada por Dionísio,
e que, alegremente, dava-se à putaria dionisíaca, com a alegria, a
seriedade, e um fervor, verdadeiramente religiosos.
Só conhecendo algo da Grécia Dionisíaca, pode-se entender o
delicado da questão.
E de o fundador de um império religioso distinguir-se de
Dionísio. E de todo o complexo lascivo ligado, com pura e divina
ingenuidade e inocência, à videira dionisíaca...
Desde imemoriais tempos pré-históricos -- quando ainda eram
coletores e caçadores, em Creta, antes de Minos e Micenas, antes do
Minotauro, e de tudo, os gregos -- já influenciados pela Ásia Menor,
fascinam-se pela videira, e por sua impressionante metáfora da
indestrutibilidade da vida.
(Citação).
Acompanhavam o drama de seu fenecimento anual.
Até transformar-se em mero cipódo deus, de , seco.
Aguardavam com apreensão o seu ressurgimento, o seu
retorno.
Podado pelo malvado bode.
Que, como os homens, e os Titãs, eram os assassinos de
Dionisio.
Nascidos da fuligem dos Titãs -- capangas de Réia, que
buscavam trucidar o broto incestuoso de Zeus, com perséfone, sua
filha --, os homens carregam herança da condição ambígua dos que
trucidaram Dionísio.
Os Titãs, assassinos do deus, comeram-no impiedosamente –
menos uma parte -- tornaram-se, em parte, Dionísio. Ao consumi-lo.
Antes de serem incinerados pelo raio raivoso de Zeus.
Logo com quem foram se meter...
187
Não sem os compungidos cantos da Tragédia – o canto por um
bode... (Káreni).
Cortado em pedaços.
E cozido no leite.
O leite das nutrizes de Dionísio. (Kareni).
Já que se alimentou do Deus. O bode é, em parte, o Deus.
188
Ereto... Ortho Dionísio...
Não me pergunte...
Foi ele próprio quem fez a relação, acossado pelos antigos, e
pelo Império Romano.
Foi ele quem se comparou à videira...
Foi ele quem se referiu à embriaguez, como o amor...
Depois de ensinar sobre, e comer, o pão, o trigo, a terra, e o
corpo -- foi ele próprio quem tomou o cálice em suas mãos santas, e
disse: ...
Bebei...
E ainda, enigmaticamente, este é o símbolo da nova aliança.
189
Dizia-se que o pedaço do Bode que não era ritualmente cozido
era o coração. Que era conduzido numa cestinha para os rituais
sagrados da religião dionisíaca.
Era o pênis.
Rejeitado em Roma.
Ça va...
190
Sem machismo, a ressureição de Dionísio era a ressureição do
pênis. Aprés su petit mort.
Havia suas zelosas sacerdotisas.
Seitas secretas, as nutrizes de Dionísio. Nutrizes da ressureição
de Dionísio.
191
É DE FAZER CHORAR
Luiz Bandeira
É de fazer chorar
Quando o dia amanhece
E obriga o frevo a acabar
Óh quarta-feira ingrata
Chega tão depressa
Só pra contrariar
É de fazer chorar
Quando o dia amanhece
E obriga o frevo a acabar
Óh quarta-feira ingrata
Chega tão depressa
Só pra contrariar
Quem é de fato
Um bom alagoano ;-)
Espera um ano
E se mete na brincadeira
Esquece tudo quando cai no frevo
E no melhor da festa vem a quarta-feira
Ah!
Lá estão os Dionisios...
Os garçons que serviram no Carnaval. Se organizando para
sair, no Bacalhau do Batata.
Não há como conter o riso, e a alegria...
Eles estão ali para afirmar, alegremente, que são homens, que
são vida, ressuscitada.
E que no próximo ano tem mais...
Mesmo que alguns, ou muitos, não estejam.
192
Não importa, ninguém pensa nisso.
193
Mas torna-se problemático o movimento Católico surgido na
França (Ah, logo na França...), em torno do Sagrado Coração de
Jesus. E que deitou raízes no Brasil.
Com todo o respeito, seria o coração mesmo; ou seria um
simbolismo mais explícito da ressureição da vida indestrutível?
194
FATAL MESMO É CRER NA FATALIDADE.
Dialogicidade, Superação, teoria e prática da
Psicologia e Psicoterapia Fenomenológico Existencial*
* Capítulo de FONSECA, Afonso H. L. - TRABALHANDO O LEGADO DE
196
A Filosofia Dialógica da Relação de M. Buber, como
fenomenologia e como ontologia da relação, e do humano, tem um
poder singular para a compreensão do processo e do que podemos
entender como produção dos efeitos da psicoterapia.
Muito além da mera conceituação das palavras princípio Eu-Isso
e Eu-Tu, ou da tola confusão de palavra com verbalização, mesmo
que sub vocal, que tão frequentemente se lhe atribui --, a filosofia da
relação oferece-nos preciosas perspectivas.
Não apenas para a formulação, ou para a compreensão, de um
método de psicoterapia, ou de psicologia, mas, fundamentalmente,
para uma compreensão acerca do como o humano, no seu mero ser
como devir, foge, supera, desvencilha-se, do dado e do estabelecido.
Como o ser humano transcende o determinado -- o útil,
cotidiano e inevitável mundo e vida do Isso, mundo, e vida, da
coisificação e da coisidade, da fatalidade, do decurso inalterável das
coisas. Através da criação e re-criação de si e do mundo, que
naturalmente lhe permite a possibilidade natural do evento da
relação, do dialógico, na sua superabundância de forças, e de
plasticidade.
É tardia a dedicação específica de Buber ao processo da
psicoterapia ou do trabalho psicológico. O que lhe ocupava era a
ontologia da relação, e do humano. Era o processo de (auto)
engendramento do ser (devir) do humano, e do humano mundo. Era
a ontologia da humana pertinência à natureza não humana. Era a
dialógica com o sagrado.
Com uma compreensão do dialógico, e de suas possibilidades,
na vida e no mundo humano, Buber nos oferece uma perspectiva de
compreensão do que naturalmente pode ocorrer de melhor no
processo da psicoterapia, ou do trabalho psicológico de base
fenomenológico existencial.
Antes de ser processo, ou efeito, psicoterapêutico, todavia, a
possibilidade das forças e a possibilidade plástica do dialógico na vida
e no mundo humano são, naturalmente, uma dimensão fundamental,
e natural potencialidade, latência constante, do processo e das forças
da existência.
Ou seja: a mudança, a irrupção da criatividade existencial, a
superação cri-ativa de um indesejável decurso, que se tornou
aparentemente inevitável, que trás o cliente ao consultório, e que é
possibilitada pela vivência do dialógico, é uma possibilidade natural,
uma necessidade, da existência. Sempre latente e naturalmente
atualizável, na medida em que possamos intuí-la e afirmá-la.
De modo que Buber deixa claro para nós que o que vemos de
melhor no processo da psicoterapia, ou do trabalho psicológico, o
melhor do crescimento humano, a mudança terapêutica, a superação,
a potencialização da criatividade existencial -- a partir da mobilização
de uma super-abundância de forças --, é, na sua efetividade, a
natural implicação da humana abertura para o dialógico, a sua
afirmação, a atualização do sempre latente e disponível potencial
197
para a relação. A assunção plena da concretude da existência, em
sua contingência, afetividades e devires.
Buber nos mostra, de um modo cristalino, como a relação, o
dialógico, borra a consistência da dureza do mundo e da vida do isso,
do mundo e da vida coisificados, e de seus poderes, funde
estanquização e estagnação tensa do mundo e da vida coisificados, e
infunde-lhes movimento, plasticidade renovada, dinamismos,
possibilidades, libertação de suas potencialidades.
Como a relação, e o dialógico, suspendem a gravidade da força
de rolo compressor do decurso aparentemente 3 inalterável das
coisas, e dela engendra novas formas e possibilidades.
Mostra, também, como -- num esgotado e estereotipado eu,
carente de atualidade --, o dialógico e a relação infundem a
possibilidade do devir, a possibilidade de sua própria super
abundância renovada de forças, de cor e brilho.
E tudo isto, evidentemente, não é privativo da psicoterapia ou
do trabalho psicológico, de um método, abordagem, ou situação
determinada.
De fato, trata-se apenas da natural atualização da sempre
presente, não importa o quanto negligenciada e enfraquecida,
potencialidade humana para o dialógico, e para a ação, para a relação
(eu-tu).
4
BUBER, Martin EU E TU, São Paulo, Cortez & Moraes, 1979. 2ª
Ed.
198
Tematiza, a seguir, a latência sempre presente do dialógico na
vida humana, a importância da preservação da força de sua
possibilidade e potencialidade, neste mundo e vida coisificados.
E a implicação do enfraquecimento e perda desta possibilidade.
Aborda, de modo brilhante, o modo como a relação dialógica
pode converter as implicações decorrentes da coisificação ilimitada da
vida e do mundo, a causalidade ilimitada, o decurso inalterável das
coisas, a fatalidade, a crença na inalterabilidade do decurso e da
fatalidade.
199
1. COISIFICAÇÃO, COISIDADE, E A POSSIBILIDADE
DA RELAÇÃO NO MUNDO DAS COISAS.
Buber coloca:
200
3 op. cit. p.54.
6
op. cit. p.20.
7
Op. Cit p.43.
8
Op. Cit.
201
Na possibilidade do dialógico reside, especificamente, o poder
humano de regeneração, de recriação. E de ordenamento criativo do
mundo das coisas.
**
Parênteses e grifos nossos.
11
op. cit p. 44-5.
202
Funções que permitem ao homem utilizar as coisas, utilizar o
mundo e a vida coisificados, para a sua conservação, para o
provimento e facilitação de sua vida.
O aperfeiçoamento da função de
experimentação e de utilização realiza-se,
geralmente, no homem em detrimento de seu
poder de relação.12
12
Op. Cit.45-6.
13
Op. Cit. P59
*
Observar que Buber utiliza este termo, experimentação, no sentido
objetivista. Da relação com o objeto.
14
Ibid.
203
O Espírito em sua manifestação humana é a
resposta do homem a seu Tu. ...
O homem vive no espírito na medida em que
pode responder a seu Tu. Ele é capaz disto quando
entra na 7 relação com todo o seu ser. Somente
em virtude de seu poder de relação é que o
homem pode viver no Espírito.9
15
Op. Cit. 59.
204
Muito mais eu não sei. Se isto religião, então
ela é simplesmente tudo, o simples todo vivido na
sua possibilidade do diálogo.16
16
Notas Biográficas.
17
BUBER, M. Eu e tu. p
18
Op. Cit. P59.
205
Tudo o que (...) se transformou em Isso,
tudo o que se consolidou em coisa entre coisas,
recebeu por sentido o destino de se transformar
continuamente.
Sempre de novo -- tal foi o sentido da hora
em que o espírito se apoderou do homem e lhe
mostrou a resposta.
O objeto deve consumir-se para se tornar
presença, retornar ao elemento de onde veio para
ser visto e vivido pelo homem como presente.19
Buber entende desta forma tanto a vida individual do homem
quanto a sua vida coletiva:
19
Op. Cit. p
20
Op. Cit
21
Op. Cit. P.
206
2. IMPLICAÇÕES HUMANAS DA PERDA DA
POSSIBILIDADE DA RELAÇÃO NO MUNDO E NA VIDA
COISIFICADOS.
Esta potencialidade sempre latente de relação no mundo e na
vida coisificados, a possibilidade de sua transformação é frustrada, na
medida em que, perdendo ou enfraquecendo esta possibilidade da
latência da relação dialógica a eles inerente, nos conformamos e nos
submetemos à vida e ao mundo coisificados, e tendemos conferir-
lhes um caráter absoluto e excludente:
CAUSALIDADE
Diferentemente do momento de relação, o mundo e a vida
coisificados, o mundo do Isso, são constituídos por objetos, por
coisas, que se dão limites umas às outras. E que permitem uma
organização espácio-temporal, que possibilitam a organização do
mundo humano, o conhecimento, a elaboração dos artefatos
humanos, a cultura, os usos, a linguagem, a ciência.
22
Op Cit. P. 47.
23
op. cit. pp. 56-7. Grifos nossos.
207
O mundo do dialógico é o mundo não causal da atualidade e da
atualização de presenças.
24
op. cit. p. 58
25
op. cit. p.64.
208
O DECURSO PROGRESSIVO DAS COISAS, A
FATALIDADE, E O SEU DOGMA
209
Assim, o nome do destino será mal
empregado; assim atribuir-se a ele o nome destino
será um erro, pois o destino não é uma campânula
voltada sobre o mundo dos homens.
Ninguém o encontra senão aquele que parte
de sua liberdade.
O dogma do decurso inelutável das coisas
não deixa, porém, lugar à liberdade, nem para a
sua revelação mais concreta: a conversão* 20
210
O ARBITRÁRIO E A ARBITRARIEDADE
Buber comenta:
26
op. cit. p. 70. Grifo nosso.
27
op. cit. p. 69.
211
Ele não tem o grande querer, este é
substituído pelo arbitrário. ele é totalmente inapto
à oferta ainda que possa vir a falar dela. Tu o
reconheces pelo fato de ele nunca se tornar
concreto. Ele intervém, constantemente e sempre,
com a finalidade de„deixar que as coisas
acontecerem‟.
Como se poderia, te diz ele, deixar de
auxiliar o destino, deixar de empregar os meios
acessíveis exigidos para esse fim?22
O homem arbitrário, incrédulo até a medula,
não pode perceber senão incredulidade, e
arbitrário; escolha de fins e invenção de meios.
O seu mundo é privado de oferta, e de
graça; de encontro (diálogo), e de presença.
Entravado nos fins e nos meios.
Este mundo não pode ser diferente. O seu
nome é fatalidade.
Assim, em sua auto-suficiência, ele é
engolfado, simples e inextrincavelmente, pelo
irreal.
E ele sabe disso.
Sempre que sobre si se concentra -- e é por
isso mesmo que ele empenha o melhor de sua
espiritualidade para impedir ou, ao menos, ocultar
-- esta lembrança.
Mas, se a lembrança de sua decadência, de
seu Eu inatural e de seu Eu atual, permitir alcançar
a raiz profunda, que o homem chama desespero,
e de onde brotam a autodestruição e a
regeneração, isto já seria o início da conversão*. 28
28
op. cit. p. 71.
212
O EU EGÓTICO, COISIFICADO, DO RELACIONAMENTO
EU-ISSO.
29
op. cit. p. 03.
213
para ele, conhecer-se significa fundamentalmente
sobretudo estabelecer uma manifestação efetiva
de si, e que seja capaz de iludi-lo, cada vez mais
profundamente. E, pela contemplação e veneração
desta manifestação, procura uma aparência de
conhecimento de seu próprio modo de ser,
enquanto que o seu verdadeiro conhecimento
poderia levar ao suicídio ou à regeneração.
(...) O egótico ocupa-se do „meu‟: minha
espécie, minha raça, meu agir, meu gênio.
O egótico não só não participa como também
não conquista atualidade alguma.
Ele se contrapõe ao outro e procura, pela
experiência e pela utilização, apoderar-se do
máximo que lhe é possível.
Tal é a sua dinâmica: o pôr-se à parte
e a tomada de posse. Ambas as operações se
passam no Isso, no que não é atual.
O sujeito, tal como ele se reconhece, pode
apoderar-se de tudo quanto queira, que daí ele
não obterá substância alguma, ele permanece
como ponto, funcional, o experimentador, o
utilizador, e nada mais.
Todo o seu modo de ser múltiplo ou a sua
ambiciosa „individualidade‟ não podem lhe
proporcionar substância alguma.30
30
op. cit. p. 74-76.
31
op. cit. p. 74-76.
214
Quanto mais o homem e a humanidade são
dominados pelo egótico, mais profundamente o eu
é atirado na inatualidade.
Nestas épocas a pessoa leva, no homem, na
humanidade, uma existência subterrânea e velada
e, de algum modo, ilegítima -- até o momento em
que ela será chamada.
Anteriormente27, Buber discute como o Eu pode perder a sua
atualidade.
215
ATUALIDADE, DECISÃO, LIBERDADE/DESTINO,
CONVERSÃO, SUBJETIVIDADE, PESSOA.
32
op. cit. p. 60-1.
216
E mais ainda: a obrigação de deixá-lo logo
depois incessantemente, lhe está intimamente
ligada ao sentido e 16 ao destino desta vida. (...)
O que aqui se chama necessidade não o
apavora. Pois, lá, no santuário. ele conheceu a
verdadeira. Isto é, o destino. 29
Decisão e relação (eu-tu) estão para Buber, assim,
intimamente associadas.
33
Op. Cit.
217
Decisão e liberdade conjugam-se na concepção que Buber faz
do destino.
34
op. cit. p. 61-2.
218
Nele o homem, contentando-se com um
mundo de objetos que não lhe podem mais tornar-
se presença, sucumbe.
A causalidade fugaz intensifica-se, até
tornar-se uma fatalidade opressora e esmagadora.
35
35
op. cit. p. 64-5.
36
Op. Cit.
219
O dogma do decurso não te deixa no
tabuleiro senão uma opção: observares as regras
ou te retirares.
Aquele porém que realiza a conversão
derruba todas as peças.37
E arremata, brilhante:
37
op. cit. p. cit p.66.-7.
38
op. cit. p.67-8. 36 op. cit. p. 68.
*
Arbitrário. Proposital, causal, pragmático. Que não se dá e decide no dialógico, da relação eu-
tu.
220
também o mundo do Isso -- que, ainda há pouco,
esmagava, com sua força espantosa, a fraca força
do homem --, é constrangido a submeter-se
àquele que o conhece em seu ser... 36
A seguir contrapõe:
39
op. cit p. 69.
221
Não acontecerá aquilo que a sua resolução
imagina, mas o que aconteceu, não acontecerá
senão na medida em que ele resolver querer aquilo
que ele pode querer.
Ser-lhe-á necessário sacrificar aquele
pequeno querer, escravo, regido pelas coisas e
pelos instintos, em favor do grande querer que se
afasta do “ser determinado”, para ir ao destino.
Ele não intervém mais. Mas nem por isso
permite que aconteça pura e simplesmente.
Ele espreita aquilo que por si mesmo se
desenvolve, o caminho do ser no mundo. Não para
se deixar levar por ele, mas para atualizá-lo, como
ele deseja ser atualizado; pelo homem de quem
ele necessita, por meio do espírito humano e do
ato humano, com a vida do homem e com a morte
do homem.
Ele crê, disse eu, o que equivale dizer: ele se
oferece ao encontro. 40
Diferentemente do homem que vive no arbitrário,
40
op. cit. pp 69-70.
41
op. cit. p. 71.
222
EGÓTICO E PESSOA
223
termos -- usados quando se trata da mais elevada
relação, e que pode ser aplicada a todas as
relações --, „a semente permanece nele‟.
É este o domínio da subjetividade, onde o Eu
toma consciência tanto de seu vínculo como de sua
separação.
A autêntica subjetividade só pode ser
compreendida de um modo dinâmico, como
vibração de um Eu no seio de sua verdade
solitária.
É aqui, também, o lugar onde irrompe e
cresce o desejo de uma relação, cada vez mais
elevada, e absoluta. O desejo de uma participação
total com o Ser.
Na subjetividade amadurece a substância
espiritual da pessoa.
A pessoa toma consciência de si como
participante do ser, como um ser-com, como um
ente.
O egótico toma consciência de si como um-
ente-que-é-assim, e não-de-outro-modo.
A pessoa diz: „Eu sou‟.
O egótico diz: „eu sou assim‟.
„Conhece-te a ti mesmo‟, para a pessoa
significa: conhece-te como ser.
Para o egótico: conhece o teu modo de ser.
Na medida em que o egótico se afasta dos
outros ele se distancia do Ser.
Com isso não se quer dizer que a pessoa
„renuncie‟ ao seu modo de ser específico, mas
somente isso: este não é somente o seu ponto de
vista, mas a forma necessária e significativa de
ser.
Ao contrário, o egótico se delicia com o seu
modo-de-ser específico, que ele imaginou ser o
seu.
Pois, para ele conhecer-se significa
fundamentalmente estabelecer uma manifestação
efetiva de si, e que seja capaz de iludi-lo, cada vez
mais profundamente.
E, pela contemplação e veneração desta
manifestação, procura uma aparência de
conhecimento de seu próprio modo-de-ser.
Enquanto que o seu verdadeiro conhecimento
poderia levar ao suicídio ou à regeneração.
A pessoa contempla-se o seu si-mesmo,
enquanto que o egótico ocupa-se com o seu „meu‟:
minha espécie, minha raça, meu agir, meu gênio.
224
O egótico não só não participa como também
não conquista atualidade alguma.
Ele se contrapõe ao outro e procura, pela
experiência e pela utilização, apoderar-se do
máximo que lhe é possível.
Tal é a sua dinâmica: o pôr-se à parte e a
tomada de posse.
Ambas as operações se passam no Isso, no
que não é atual.
O sujeito, tal como ele se reconhece, pode
apoderar-se de tudo quanto queira, que daí não
obterá substância alguma. Ele permanece como o
ponto funcional, o experimentador, o utilizador e
nada mais.
Todo o seu modo de ser múltiplo ou sua
ambiciosa „individualidade‟ não podem lhe
proporcionar substância alguma. 42
42
op. cit. pp. 73-6.
225
Afinal, ele é o Eu da relação absoluta. Na
qual o homem atribui a seu Tu o nome de Pai. De
tal modo que, ele mesmo não é senão o Filho,
nada mais que filho.
Quando profere Eu, ele só pode ter em
mente o Eu da palavra-princípio sagrada, que se
tornou absoluta para ele.
Se, por acaso o isolamento o toca, a ligação
é mais forte, e é somente do seio desta ligação,
que ele fala aos outros. 43
Por fim, comentando a personalidade de Napoleão (certamente
por que escrevia no início do século, senão teria exemplos mais
recentes e terríveis), Buber fala de um terceiro tipo de modo de dizer
Eu. Que não é nem o do egótico, nem o da pessoa. E ao qual ele
chama de Tu demoníaco:
43
Op. Cit.
44
op. cit. pp. 79-80.
226
Ele se manifesta ao contato com o Eu não
natural, impossível objeto, isto é, ele se desvela ali
onde não há lugar para a revelação.
Assim instaura-se o confronto consigo
mesmo que não pode ser relação, presença,
reciprocidade fecunda mas somente
autocontradição.
O homem pode tentar interpretá-la como
uma relação -- por exemplo, uma relação religiosa
--, para escapar do horror de ser seu espectro.
Ele deverá, sem cessar, descobrir a falsidade
desta interpretação.
Aqui se situa o limite da vida.
Aqui, algo irrealizado refugia-se numa
aparência demente de realização.
Por ora ele tateia, de um lado para o outro,
nos labirintos onde se perde cada vez mais. 45
Aponta para uma alternativa, todavia:
45
op. cit. pp. 73-6.
46
Op. Cit. P.
47
cf. VON ZUBEN, Newton A,. op. cit. p. 163, nota 8.
227
Para a psicologia e para a psicoterapia -- em particular para as
chamadas fenomenológico-existenciais --, as perspectivas de Buber
configuram-se sempre como interessantes, e profundas,
possibilidades de aprendizagem, e de esclarecimento.
228
A INTERPRETAÇÃO – A HERMENEUTICA --, e a
EXPERIMENTAÇÃO EM BUBER
229
Mas, a qualidade de vida começa a precarizar-se, qundo se
enfraquece a possibilidade da alternância eu-isso, eu-tu. E o modo
ôntico eu-isso se instala como predominante.
O modo eu-isso é o modo de sermos de constituição do
acontecido. De constituição do feito. Do fato, da fatalidade.
E a causalidade é constituinte da fatalidade.
O divinamente poiético modo de sermos em que não vigora a
causalidade, e a utilidade, o propósito, a fatalidade, a coisidade, é o
modo dialógico, eu-tu, de sermos. Modo près-ente, pré-coisa, de
sermos.
O Modo ente, ôntico, de sermos, é o modo de sermos da
coisa.
Coisa é o que não é mais possibilidade, momentâneamente.
De modo que, enquanto tal -- ligado à fatalidade, à coisidade, à
causalidade --, o modo eu-isso de sermos é o modo no qual cresce o
decurso coisificado das coisas. Mecanicamente movido pela inércia da
causalidade.
Sem originalidade, e movido à repetição.
E o modo de sermos em que se extingue a possibilidade da
vivência da atualidade, e da presença do encontro dialógico, em sua
imediaticidade.
E, proscrito o encontro, e seus efeitos e processos, cresce o
arbítrio.
230
Constituintes, essenciais, da hermenêutica, da interpretação; e
da experimentação fenomenológicas.
Relação, liberdade, decisão, e destino estão vinculados.
Enquanto que se relacionam fatalidade, causalidade, e arbítrio.
Buber comenta,
Assim como liberdade e destino estão
interligados, também o estão o arbitrário e a
fatalidade.
Liberdade e destino, porém, são
comprometidos, mutuamente, para instaurarem,
juntos, o sentido.
231
Ele espreita aquilo que por si mesmo se
desenvolve, o caminho do ser no mundo. Não para
se deixar levar por ele, mas para atualizá-lo, como
ele deseja ser atualizado; pelo homem de quem
ele necessita, por meio do espírito humano e do
ato humano, com a vida do homem e com a morte
do homem.
Ele crê, disse eu, o que equivale dizer: ele se
oferece ao encontro. 48
48
BUBER, Martin Eu e Tu, São Paulo, Cortês, 1985. pp 69-70.
232
IMPASSIBILIDADE. RESSENTIMENTO, EGOTISMO E
ARBITRARIEDADE NOS PERPETRADORES DE
MASSACRES
233
A CONSCIÊNCIA DOS PERPETRADORES DE MASSACRES
.................................................................................................... 257
OS PERPETRADORES DE MASSACRES, E A BRUTALIDADE
DE SEUS MASSACRES, NÃO SÃO ALGO EM SI. TRATA-SE, MAIS
PROPRIAMENTE, DE UM SINTOMA SOCIAL. ............................ 259
CONCLUSÃO ...................................................................... 260
INTRODUÇÃO .................................................................... 261
234
IMPASSIBILIDADE.
RESSENTIMENTO, EGOTISMO E ARBITRARIEDADE
NOS PERPETRADORES DE MASSACRES
INTRODUÇÃO
Uma das características básicas, definidoras, dos perpetradores de
massacres é a sua impassibilidade. São impassíveis. Sua frieza e decisão
covardes, a firmeza de suas atitudes, a firmeza de seus argumentos, de suas
argumentações, a firmeza de sua racionália, pode impressionar ao desavisado.
A questão dos perpetradores de massacres, e de seus covardes
massacres, é uma questão eminentemente ontológica.
Na verdade, a sua impassibilidade apenas evidencia a rigidez do
ressentimento cronificado e venenoso, a rigidez da arbitrariedade e do
egotismo. Tipicamente, o ressentimento e a arbitrariedade de quem
egóticamente se encistou na fatalidade do modo eu-isso de sermos, modo não
dialógico de sermos do fato. De quem se encistou na ética do modo coisa de
sermos. E doentia e incontornavelmente se cronificou, assim, na ética do não
dialógico, na ética do egotismo e da arbitrariedade. Ou seja, na ética da
destrutividade e da violência. Mediante uma recusa primária da ontológica da
estética, da ética, do diálogo; da ética do modo dialógico, eu-tu, de sermos.
A violência é o antípoda de diálogo. A ética da violência é o oposto polar
da estética do diálogo, característico e intrínseco ao ontológico modo eu-tu de
sermos, e à natural alternância entre os modos eu-tu e eu-isso de sermos.
Outro aspecto importante a considerar é o de que o perpetrador de
massacres não é um ser em si. Mas um sintoma social. Um sintoma de
tendências culturais que se esmeram pela negação do corpo, pela negação
dos sentidos, pela negação da vivência fenomenológica, pela negação da
vivência estética, pela negação da vida – cuja vivência é eminentemente
estética. Condição intrínseca e primária à vivência da dialógica do modo eu-tu
de sermos. Potencializando, com esta negação, a interdição da vivência do
modoeu-tu de sermos, potencializando a interrupção da alternância entre o
modo eu-tu e o modo eu-isso de sermos. Condicionando a fixação no modo
não dialógico de sermos; potencializando, com esta fixação, o niilismo
ressentimento, egotista, arbitrário, destrutivo e violento da cronificação do
modo coisa de sermos.
Buber49, além de descrever e comentar as características do modo
dialógico de sermos, do modo ontológico, eu-tu de sermos, comentou
49
BUBER, Martin EU E TU.
235
magistralmente, como frequentemente o faz, a fatalidade, o egotismo e a
arbitrariedade. Cronificação no modo eu-isso de sermos, não dialógico, anti
dialógico, fatalidade, egotismo e arbitrariedade consequentes, destrutividade e
violência consequentes.
Buber não comentou a força que dinamiza e move esta violência, e a faz
chegar a níveis estarrecedores e inimagináveis. Desde os massacres
genocidas, ao longo da história, até os massacres de grupos. A força, ou a falta
de força, que move os seus perpetradores é a mesma.
Nietzsche50 elucidou e comentou a força -- o niilismo ressentimento, a
vontade negativa de potência, tantas vezes tão impressionante -- que dinamiza
a violência condicionada e direcionada pelo egotismo e pela arbitrariedade.
Decorrentes estes da cronificação do modo eu-isso de sermos, não dialógico;
decorrentes do enfraquecimento do modo ontológico de sermos, e do
consequente enfraquecimento da natural alternância entre o modo eu-tu de
sermos, o modo dialógico de sermos; e o modo de sermos eu-isso. Com o
consequente encistamento e cronificação, e intensificação da cronificação,
neste modo coisificado de sermos. Com a destrutividade e a violência
concomitante.
CONCLUSÃO
Assim, a impassibilidade violenta dos perpetradores de massacres não
tem segredos. Resulta do seu crônico encistamento no modo coisa de sermos.
Encistamento crônico resultante da supressão da alternância entre os modos
eu-isso -- modo coisa de sermos --, e o modo eu-tu, modo dialógico, de
sermos. Com a fixação no modo eu-isso.
O modo eu-tu de sermos é o modo eminentemente, própria e
especificamente, dialógico de sermos. O modo não coisa, presente e atual, de
sermos. Da vivência intrínsecamente dialógica de possibilidades, do
desdobramento de possibilidades, da ação dialógica.
Na pontualidade da momentaneidade instantânea da vivência deste
modo de sermos, o outro não é coisa. O eu não é coisa. O outro e nós mesmos
não somos um isso. E a relação com o tu se gera e se regenera como uma
relação de produção compartilhada de (logos) sentido. Onto logos, fenomeno
logos, dia logos.
O modo eu-isso de sermos, apesar de ser uma dimensão natural e
importante dos modos de sermos, não é dialógico, não é um modo de sermos
de produção compartilhada de sentido. É um modo de sermos no qual um eu
impermeável se relaciona com um isso impermeável. Ambos coisificados. Não
sendo a relação de vivência da ação, a relação de vivência do desdobramento
de possibilidades.
Não sendo, assim, a relação de produção intrínseca e intensa de
sentido, na relação com o outro, é o modo de sermos do egotismo e da
arbitrariedade. Que, pela sua cronificação e isolamento, pode nutrir e
50
NIETZSCHE, Frederich, Assim Falava Zaratustra. Genealogia da Moral. Para Além
doBem e do Mal.
236
potencializar, não só o egotismo e a arbitrariedade, mas nutrir e potencializar o
ressentimento, o ódio vingativo egotista e arbitrário contra o outro.
A condição para relação eu-tu, a condição para a relação dialógica, é a
disposição para a experiência estética. O modo de sermos da relação eu-tu é,
especificamente, o modo estético, ético, e poiético, de sermos.
O enfraquecimento da vivência do modo eu-tu de sermos, e o
enfraquecimento da vivência da alternância entre os modos eu-isso e eu tu de
sermos se dá com o enfraquecimento da predisposição para a experiência
estética. Com o enfraquecimento da possibilidade da vivência do modo eu-tu
de sermos, e de sua natural alternância com o modo eu-isso de sermos. Com a
fixação do acontecido modo eu-isso de sermos, modo de sermos do real,
carente do modo de sermos do possível; com uma reificação do real, com o
desenvolvimento de uma hiper realidade. Não dialógica, egotista, arbitrária,
ressentida, violenta e destrutiva.
O venenosamente ressentido, egotista, e arbitrário, perpetrador de
massacres é o anti estético por excelência. O não dialógico, o ressentido, o
egotista, o eminente e arrogantemente arbitrário, destrutivo, e violento, por
excelência.
É importante observar que nisso ele não é um ser em si.
Especificamente, não o é. Mas é um sintoma, apenas um sintoma, paroxístico
e extremo, de tendências socio culturais, que -- por se esmerarem contra o
corpo, contra os sentidos, contra a vivência, contra a vida, contra a estética do
corpo e dos sentidos -- se esmeram contra a disposição estética. Contribuindo
para enfraquecer a vivência do modo eu-tu de sermos, contribuindo para
mitigar a natural alternância entre os modos eu-isso e eu-tu de sermos. E
contribuindo, com isto, para condicionar uma fixação e uma cronificação no
modo eu-isso de sermos – não dialógico, egotista, e arbitrário. Processo que,
pilhado pelo ressentimento, constitui a preparação das condições ressentidas,
fatalistas, egotistas, e arbitrárias, para os paroxismos de violência dos
perpetradores de massacres.
51
BUBER, Martin. Op. Cit.
237
Nossa vivência ontológica -- fenomenológico existencial, compreensiva e
implicativa, gestaltificativa -- é vivência eminentemente dialógica, é o modo eu-
tu de sermos. É, em sua momentaneidade instantânea, a duração da vivência
pontual da inter ação com uma alteridade radical. Com a alteridade radical de
um tu.
Seja um tu da natureza não humana, seja um tu da esfera do inter
humano, seja um tu da esfera do sagrado52.
52
BUBER, Martin op. Cit.
238
Assim, a instalação da coisa -- o isso, o relacionamento eu-isso – se
constitui quando, na sua atualização, no seu desdobramento, vivenciado na
momentaneidade instantânea do modo ontológico, eu-tu, de sermos se exaure
a possibilidade.
Que então se converte em modo eu-isso de sermos.
239
Própria, e especificamente, o modo eu-tu de sermos, dialógico, é
ontológico e ontológico.
Ou seja, o modo eu-tu de sermos é ontológico de duas formas.
É ontológico (1) no sentido da particularidade do ser que somos para a
Ontologia, no sentido de que é um modo de sermos constituinte do ser que
somos. Neste sentido, o modo eu-isso é tão ontológico como o modo eu-tu. O
modo eu-isso de sermos é, igualmente, um modo de ser característico deste
ser que somos, que é o ser humano. O modo eu tu de sermos é, neste sentido,
um modo de sermos constituinte deste ser que é o ser humano.
Mas, em específico, e distintamente, além disso, (2) o ser humano se
carcteriza, ontologicamente, pela vivência de sentido, na qual se constitui o
desdobramento de possibilidades. Sentido é logos. Este ser (onthos, em
Grego) que se caracteriza pela vivência do sentido, pela vivência do logos,
é um ser onto-lógico.
O logos, o sentido, que ele vivencia, em seu modo ontológico de ser, é
sentido, própria e especificamente, ontológico.
240
reflexiva, no modo eu-tu de sermos. Mas é um modo de sermos igualmente
constituinte do que somos.
53
HEIDEGGER, Martin Ser e Tempo.
241
IMPOTÊNCIA EXISTENCIAL PARA ATUALIZAR A
FORÇA DA FINITUDE E DO SOFRIMENTO. RAIZ DA
ONTOFOBIA, E DA CRONIFICAÇÃO DO MODO EU-ISSO
DE SERMOS.
Por motivos que podem ser diversos -- tendo o medo como
denominador, e consequentemente a uma educação específica --, o ontofóbico
condicionou, progressivamente, uma evitação ao modo ontológico eu-tu de
sermos. Uma evitação, portanto, ao modo ontológico de sermos do possível, ao
modo de sermos da força, da possibilidade e do desdobramento de
possibilidades, o modo de sermos da ação. Modo de sermos do logos,
fenomenologos, ontológos, dia logos; modo de sermos da promoção de uma
super abundância de forças de vida, o modo de sermos da alegria e da saúde.
Ele evita o modo ontológico fenomenológico existencial e dialógico,
compreensivo e implicativo, gestaltificativo.
E, de um modo tendencialmente excludente, se fixa no modo de sermos,
eu-isso, do real. No modo de sermos do acontecido, no egótico e arbitrário
modo eu-isso de sermos. No modo de sermos da realidade. Condicionando,
desta forma, uma reificação da realidade, e a progressão, com esta reificação
da realidade, de uma experiência que poderíamos chamar de hiper realidade.
Com esta evitação, e progressivo impedimento do modo ontológico, eu-
tu, de sermos, aprofunda-se o engripamento da saudável dinâmica da
alternância entre os modos eu-isso e eu-tu de sermos; entre os modos ôntico e
ontológico de sermos. Com uma fixação cada vez maior no modo eu-isso.
242
O que é, apenas, a fatalidade. Incontornável potencializadora da
angústia, da impotência, do niilismo, do ressentimento, do egotismo, da
arbitrariedade, da destrutividade, e daviolência.
ENFRAQUECIMENTO E IMPEDIMENTO DA
VIVÊNCIA DO MODO ONTOLÓGICO, DIALÓGICO,
FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL, EU TU, DE SERMOS.
ENFRAQUECIMENTO E IMPEDIMENTO DA
ALTERNÂNCIA ENTRE O MODO EU-ISSO E O MODO EU-
TU DE SERMOS. PREDOMÍNIO DO MODO EU-ISSO,
COISIFICADO, EGÓTICO DE SERMOS. REIFICAÇÃO DO
REAL, E HIPER REALIDADE. PREDOMÍNIO DA NÃO
DIALÓGICA. E DA VIOLÊNCIA.
Buber54 observa que o contínuo crescimento do mundo do isso, seja
filogênico, seja ontogênico, é um crescente desafio para a natural alternância
ontológica entre o modo eu-isso de sermos -- modo de sermos da realidade --,
e o dialógico modo eu tu de sermos – modo de sermos da vivência do possível.
E um desafio, igualmente, para a própria vivência da momentaneidade
instantânea da ontológica do modo eu-tu de sermos, em sua dialógica.
Um enfraquecimento da possibilidade de vivência do modo eu-tu, um
enfraquecimento da alternância entre os modos eu-isso e eu-tu de sermos, leva
a uma progressiva predominância do modo eu-isso de sermos e de suas
características. Uma prevalência do modo não dialógico de sermos, uma
prevalência, e progressiva hegemonia, do modo de sermos da coisa, do modo
de sermos do acontecido, do modo de sermos do feito, do fato, da fatalidade,
da realidade.
E é a prevalência e a hegemonia deste modo de sermos do isso, do
acontecido, modo de sermos do feito, do fato, da fatalidade, da realidade -- e o
impedimento da vivência da possibilidade e da ação, próprias ao modo eu-tu de
sermos -- que é o solo fértil, constituído pelo ressentimento niilismo, pelo
egotismo e pela arbitrariedade, para a impotência, para a incapacidade para
criar, para a falta de saúde existencial, para a incapacidade para o diálogo,
para a destrutividade e violência. É a prevalência, cada vez mais excludente,
do modo eu-isso de sermos que, progressivamente, de formas cada vez mais
intensas, se caracteriza como uma reificação da realidade. Que condiciona a
constituição da experiência de realidade em hiper realidade. Com a fixação
caricatural de seus sujeitos e objetos.
Hiper realidadede esta eminentemente não dialógica – a
experienciação do modo eu-isso de sermos cada vez mais privada do influxo
regenerativo da vivência do modo eu-tu de sermos. E que é uma condição
precípua da destrutividade e da violência cegas.
54
BUBER, Martin op. Cit.
243
Constrói-se progressivamente, e cresce, a reificação da experiência do
modo eu-isso de sermos, a reificação da experiência do modo de sermos da
realidade. Reificação que especificamente o isola de suas dinâmicas de
constituição e reconstituição ontológicas, no modo eu-tu de sermos.
Este processo, continuamente, reforça e condiciona as qualidades do
modo eu-isso de sermos, as qualidades da experiência da realidade, privada
da possibilidade; a reificação da realidade, a hiper realidade. Este processo
continuamente reforça e condiciona o sujeito e o objeto, a objetividade e a
subjetividade obsessivas; a causalidade infinita -- sem um influxo desproposital
da possibilidade --; o movimento coisificado, causal, da vida e do mundo
coisificados; a hipertrofia hegemonizante do uso, da utilidade e da utilização; a
explicação, obsessiva, a interdição da compreensão e da implicação, a
cristalização hegemônicas da realidade, do acontecido. Que passam a se
repetir de modos cada vez mais hegemônicos, excludentes, e obsessivos.
Ao fazer a interdição ontofóbica do modo eu-tu de sermos da ação, do
fazer, e do acontecer, privilegia-se o modo de sermos do acontecido, privilegia-
se o modo de sermos do fato, privilegia-se, nas palavras de Buber, a fatalidade.
O privilégio do acontecido modo de sermos do fato, da realidade, do modo de
sermos eu-isso. Em detrimento do modo eu-tu de sermos, e de sua alternância
com o modo de sermos eu-tu, conduz. A reificação do real é apenas a
fatalidade.
Carente de possibilidade, carente de força, da força, da potência,
criativa, que se multiplica; carente de alegria, de criação, e de saúde, a
realidade reificada, a hiper realidade, a fatalidade, apenas, é o modo de sermos
da angústia, como Heidegger observou.
Que só se resolveria com o influxo do modo ontológico de sermos da
vivência de possibilidades. Influxo travado e impossibilitado pela interdição
ontofóbica.
Ao evitar e virtualmente interditar o modo ontológico de sermos, o
ontofóbico priva-se da criação, da alegria, da saúde, que permite a vivência e a
atualização compreensiva e implicativa de multiplicidades de possibilidades.
Que, gratuita, inutil, e improvisativamente, se oferecem no modo ontológico,
eu-tu, de sermos.
55
GOLDMANN, Lucien Dialética e Cultura. Ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1991.
244
Segregados os processos dos modos de sermos, pela dificultação da
alternância entre eles, e pela própria dificultação da vivência do ontológico
modo eu-tu de sermos, a consequência é o progressivo isolamento e restrição
à experiência da realidade, do acontecido, enquanto modo de ser. O que se
constitui numa progressivo isolamento, numa progressiva reificação da
realidade, e numa exacerbação de suas características: a coisificação, a vida e
o mundo coisificados, o outro coisificado; o objetivismo, e o subjetivismo; a
causalidade infinita, como única e obsessiva determinação do movimento
coisificado do decurso das coisas (Buber); a premeditação obsessiva, à medida
que se desenvolve a incompetência para a improvisação produtiva, criativa;
própria e intrínseca ao modo ontológico de sermos; o predomínio do uso e da
utilidade; o exclusivismo da experiência da realidade, que não é nutrida pela
possibilidade; possibilidade que é inerente à vivência do modo ontológico de
sermos. A reificação do real, a hiper realidade, enfim.
Com a restrição da vivência do modo ontológico, eu-tu, de sermos, se
reduz e se restringe, concomitantemente, a vivência de sentido, a vivência do
logos, do onto logos, do fenomeno logos, e o dia logos. Reduzindo-se a
vivência do modo eu-tu de sermos, progressivamente se reduz a possibilidade
do dia-logos. À medida que se estrutura prevalentemente o modo não
dialógico de sermos. O modo de sermos dos sujeitos e dos objetos, mas não
dos atores – inter atores.
Privado da estética da vivência do logos, da estética do onto logos, da
estética do dia logos; privado do ethos, da ética, estética, do diálogo; os outros
cronicamente reduzidos a objetos, causais, utilitários, reais, hiper reais, objetos
de vingança, o relacionamento com os seres humanos cresce cada vez mais
na não dialógica. Cresce, cada vez mais na estereotipia caricatural; cresce,
cada vez mais, na impossibilidade, na premeditação, na obsessão, no
utilitarismo, na hostilidade, na destrutividade, na violência.
À medida que se estrutura cronicamente o modo de sermos da
realidade, a reificação da realidade, e a hiper realidade. Proporcionalmente
paralíticas para a ação. E cada vez mais mecânicas comportamentalmente.
246
Potência, possibilidade, vontade, vontade de possibilidade, vontade,
negativa de potência, potência, que agora se contradiz, que se nega enquanto
potência, e que nega a potência; que busca, e se investe, em nadificar a
potência da potência, a potência do possível, a potência da possibilidade, a
força da potência.
Vontade de potência, ainda. Vontade negativa de potência. Vontade de
nada. Niilismo.
Ao interditar a saudável alternância entre o modo acontecido de sermos
do eu-isso, e o ontológico e possível, potente, modo de sermos do eu-tu, o
ontofóbico já navega no niilismo. É a força negativa do niilismo que interdita o
acesso ao modo eu-tu de sermos. E que se empenha em negar as suas forças
afirmativas, em reduzi-las a nada, nihil, niilismo.
Que se esmerará, se sofisticará, cada vez mais, em interditar a
alternância entre os modos de sermos; e, em particular, em interditar a vivência
do modo ontológico, modo próprio de sermos da força da possibilidade.
Condicionando a fatalidade. A prevalência do modo de sermos do feito, do fato,
a prevalência do modo de sermos do acontecido, da realidade. Condicionando
a reificação da realidade, e uma progressiva hiper realização. Que progredirá
apenas como progresso da impotência. Condicionando a destrutividade e a
violência egotistas e a arbitrarias do ressentimento.
Intrinsecamente, a impotência está fadada a tornar-se virulenta contra o
outro, contra o forte, contra o saudável. Assim é o modo reativo de sermos do
niilismo ressentimento. E há implicações mais graves, que turbinarão os
angustiados egotismo e arbitrariedade de inauditas maneiras.
Como Nietzsche primorosamente esclareceu -- talvez o maior presente
para a Humanidade dos muitos ofertados pela virtude que dá do anunciador do
Zaratustra --, a possibilidade negada, a possibilidade reprimida, não fica por
‘isso mesmo’. Ou seja, as possibilidades negadas e reprimidas tipicamente se
convertem em vingança. Em vingança contra o outro, e em vingança contra si
próprio.
Negadas as suas próprias forças de possibilidade, negada a vivência de
seu modo de ser das forças, das possibilidades, o niilista especificamente não
pode partir de si, e criar. Como se nega, nega a sua potência, ele, em
específico, não pode, naturalmente, partir da afirmação e desdobramento ativo
de suas forças.
Para criar, e se abonar, ele procede por vias transversas.
Primeiro, ele passa a sistematicamente constituir o outro como ruim.
Secundariamente, agora, ele pode comparar-se com o outro -- que ele
próprio constituiu como ruim -- e se constituir, agora por comparação, como
bom.
Ou seja, ele nega-se a si próprio, e nega o outro; negando-se à dialógica
com o outro. Faz duas negações para fazer um simulacro de afirmação, ao
comparar-se com a suposta ruindade do outro, que ele próprio constituiu ruim,
para identificar-se como bom.
Só assim o niilista pode se sentir bom, e fazer um simulacro de
afirmação. O preço pagará o outro, o diferente, o potente, o saudável, o alegre,
o criativo, o forte, enfim, que será continuamente constituído como ruim. E
247
sofrerá sempre da vingança do niilista ontofóbico, que buscará destruí-lo, em
sua empreitada de explicitar a sua bondade, e de limpar o mundo da ruindade.
Desde os seus estágios iniciais, trata-se de uma negação do outro, e de
uma recusa ao modo de sermos do diálogo. Nos seus estágios mais
avançados, trata-se não só de negar o outro, e de negar-se ao diálogo com o
outro, mas de vingar-se contra ele, de destruí-lo, de aniquilá-lo.
Esta é a forma ressentimento do niilismo.
As outras serão a culpa – quando o ressentimento se volta contra o
próprio ressentido, e ele próprio não presta, e passa, também, a ser vítima de
sua própria hostilidade e vingança. E o ideal ascético – quando todo este
mundo e esta vida não prestam. Estão basicamente errados. E o que passa a
valer é um mundo do além.
Mundo do Além que vigora na Ciência explicativa, na Filosofia, na Moral
e na Religião, a partir de Sócrates.
56
BUBER, Martin op. Cit.
248
O eu do eu-isso, igualmente, não é ator; assim, não é ação. Não é
possibilidade que se desdobra na inter-ação. Não há produção interativa de
sentido no modo de sermos eu-isso. No modo de sermos do eu-isso, como
Buber observa, o eu é, igualmente, um isso.
251
sermos da ação e do ator, é um modo de sermos que esta fora da experiência
arbitrária e deliberada do sujeito. É um modo de sermos que esta fora da
experiência arbitrária e deliberada da causalidade; é um modo de sermos que
está fora das relações de causa e efeito, e está fora das relações de utilidade.
O modo eu-tu de sermos é um modo de sermos que está fora do modo
de sermos, eu-isso, dos úteis objetos, que está fora do modo de sermos dos
usos, das utilidades. É um modo de sermos que é anterior ao que entendemos,
em seu caráter especificamente acontecido, como realidade. É o modo de
sermos das possibilidades, do desdobramento das possibilidades, da ação, da
inter ação – que são eminentemente dialógicos.
A arbitrariedade é característica de um sujeito proposital que reflete ou
que se comporta objetos. É causativa, utilitária e realista.
252
como a alegria, a alegria da criação e da regeneração. E que se constitui como
o retorno de uma super abundância de forças de vida.
Retorno este que se caracteriza, no dizer de Nietzsche, como uma
grande saúde.
Própria e especificamente, não arbitramos no modo de sermos da ação.
Não arbitramos na momentaneidade instantânea, improvisativa, da vivência do
modo fenomenológico existencial e dialógico de sermos. Compreensivo,
implicativo, gestaltificativo.
O modo de sermos da ação é o modo de sermos da entrega à atividade
espontânea da ação, como vivência do desdobramento de possibilidades.
Possibilidades estas que não somos nós que criamos, mas que não acontecem
sem nós (Buber).
253
do possível. Com a interdição da saúde do desobramento ontológico de
possibilidades.
254
A IMPASSIBILIDADE DOS PERPETRADORES DE
MASSACRES.
NEGAÇÃO DO MODO ONTOLÓGICO DE SERMOS,
FENOMENOLÓGICO EXISTENCIAL E DIALÓGICO.
RESSENTIMENTO, EGOTISMO E ARBITRARIEDADE.
NEGAÇÃO DO ETHOS, DA ÉTICA, DA ESTÉTICA, DO
DIÁLOGO. PREDOMÍNIO EXCLUDENTE DO ETHOS, DA
ÉTICA DA REALIDADE, E DA VIOLÊNCIA. NÃO
DIALÓGICA, FATALISTA. REIFICAÇÃO DA REALIDADE,
HIPER REALIDADE.
Não é difícil compreendermos os elementos constituintes da
impassibilidade dos perpetradores de massacres. Não é difícil
compreendermos o seu niilismo ressentimento, o seu egotismo, e a sua
arbitrariedade compulsivos, a sua reificação da realidade, sua hiper realização,
a sua destrutividade e violência.
Com a sua cronificação, a sua fixação, no modo eu-isso de sermos; com
a supressão da ética, da estética, do dialógico; com a limitação do modo eu-tu
de sermos; com a reificação do real, com a hiper realidade, os perpetradores
de massacres são, cada vez mais fatais, fatídicos. Cada vez mais niilistas e
ressentidos. Cada vez mais egóticos, e arbitrários. Hiper rerais, destrutivos e
violentos.
Estas características se traduzem todas na constituição de sua
impassibilidade. Na sua aparente consistência. São frios e frequentemente
decididos, aparentemente seguros, teoricamente explicativos, racionalmente
explicativos – veja os milhares de páginas explicativas escritas pelo
impressionante monstro de Copenhagen, que explodiu uma bomba no centro
da capital da Noruega, e depois covardemente assassinou, metódica,
sistemática e friamente, numa ilha, com armas de grosso calibre, setenta
jovens indefesos. Sua impassibilidade é apenas a rigidez superlativa de seu
egotismo e de sua arbitrariedade.
A impassibilidade dos perpetradores de massacres nada mais é do que
a cronificação de sua impotência, a sua hiper real cronificação no modo eu-isso
de sermos, a sua cronificação no modo de sermos da reificação do real. A sua
cronificação no modo de sermos do egotismo e da arbitrariedade, da hiper
realidade. Que interdita a regeneração propiciada pela momentaneidade
instantânea da vivência do modo de sermos da estética do diálogo, que
interdita o modo de sermos da estética da ação, da estética da emoção.
Buber já alertava no Eu e Tu para a “segurança” do egotista
arbitrário,que se cronificou, de forma excludente, no modo eu-isso de sermos
do acontecido. Tudo já é acontecido na sua experiência. De modo que pode se
dar ao luxo de uma certeza e de uma segurança pétreas.
É interessante verificarmos o que o dicionário57 define como Impassível.
57
HOUAISS,
255
Impassível: que não é susceptível de padecer, de sofrer, que não
experimenta ou não denota exteriormente nenhuma emoção, sentimento
ou perturbação; imperturbável. Impassibilidade: qualidade ou estado de
impassível, indiferença ao sofrimento, imperturbabilidade. 'Condição de
quem não sente dor, paixão etc.';
257
acontecido. Na verdade é mais reflexão e representação do que consciência
propriamente dita.
O modo comportamental de sermos já não é consciência nenhuma, já
não é da ordem da consciência. É desconscienciação.
Na medida em que se caracteriza como a nossa atividade padronizada e
repetitiva, o comportamento, quanto mais comportamento, quanto mais
atividade padronizada e repetitiva, mais acontecido, mais repetitivo, e menos
consciência é. Quer seja a consciência efetiva que se dá no modo ontológico
de sermos; quer seja a repetitiva e acontecida consciência teorética de um
sujeito acontecido, que contempla um objeto acontecido.
O comportamento é comportamento muscular ou mental, mecânico, e
automático, repetitivo, acontecido. Quanto mais comportamental, menos
consciência.
258
OS PERPETRADORES DE MASSACRES, E A
BRUTALIDADE DE SEUS MASSACRES, NÃO SÃO ALGO
EM SI. TRATA-SE, MAIS PROPRIAMENTE, DE UM
SINTOMA SOCIAL.
É necessário entender, o que é mais inquietante, que estes
perpetradores de massacres não se resolvem em si mesmos. Não são
doentes, no sentido efetivo da palavra. Especificamente, eles não são
episódios em si. Eles e seus comportamentos são, especificamente, sintomas
sociais.
Sintomas sociais de uma cultura que excede na produção da impotência,
e de suas implicações, que prima em negar a vida, e em produzir e reproduzir
massivamente a impotência. A impotência massiva, que, massivamente, se
constitui em ressentimento e culpa, em violência e destrutividade. Pelo
desenvolvimento de uma ontofobia. De uma fobia ao modo ontológico, modo
dialógico, de sermos. Em função de uma fobia à vivência do sofrimento e da
finitude.
Hoje temos isso mais claro, quando vemos o discurso, os valores, dos
partidos e das tendências radicais de direita na Europa e nos EUA. O
perpetrador do massacre de Copenhague integrou plenamente em sua
racionália o discurso e as posições virulentas dos partidos e tendências
direitas, xenófobos, e facistas.
À sombra de partidos aparentemente respeitáveis, pululam nos EUA, e
claro que no Brasil também, organizações, grupos e grupelhos radicais, que
integram os discursos da intolerância e da ética da violência.
A violência é uma ética. Mas não é estética.
Mas, é importante notar, os perpetradores de massacres não são
sintomas apenas dos movimentos de direita, dos políticos e partidos Europeus
e Norte Americanos de direita radical. Estes são igualmente sintomas. Ambos
são sintomas de processos sócio culturais muito mais subterrâneos e básicos
de negação da vida. De negação de uma vida que só se dá como estética e
dialógica, na momentaneidade instantânea de sua vivência como ação, na
momentaneidade instantânea da vivência do modo eu-tu de sermos,
fenomenológico existencial e dialógico, compreensivo, implicativo,
gestaltificativo.
Movimentos e tendências culturais, portanto, de produção e reprodução
da impotência, de produção e reprodução do niilismo, e de suas formas, o
ressentimento, a culpa, e o ideal ascético. Tendências sócio culturais
potencializadas pela ontofobia, pelo medo do sofrimento, e da finitude. À
xenofobia é intrínseca a ontofobia. Tendências que se radicam em aspectos
específicos da cultura da modernidade, na educação, na religião, na
urbanização, na cultura da vida familiar.
Estas condições sempre existiram. Sempre foram produzidos e existiram
os impotentes ontofóbicos, ressentidos egóticos, arbitrários, destrutivos, e
violentos, e impassíveis. Assusta a quantidade e a intensidade dos fatores que
estão a produzi-los nos nossos dias.
Uma diferença crucial hoje em dia, bastante presente e significativa, é o
cruzamento entre impotência e o comércio de armamentos. Armas de grosso
259
calibre estão disponíveis de formas cada vez mais fáceis. O assassino do
cinema em Aurora, no Colorado, EUA, comprou várias armas, e enorme
quantidade de munição, pela internet!
Esta associação de impotência, ressentimento, violência, com armas de
grande poder de destruição tem estado presente em quase todos os
massacres de grupos, como os de Aurora, Columbine, Realengo; de
Oaklahoma, de Copenhagen...
Não podemos esquecer, por exemplo, os massacres dos bombardeios
no Vietnã, no Laos e no Camboja, com as superfortalezas voadoras, para
trucidar populações indefesas de camponeses, na década de setenta. Com
bombas de napalm, que queimavam vivas as suas vítimas. Que, atingidas,
mergulhavam nos rios para tentarem se livrar das queimaduras. E logo as
bombas foram aperfeiçoadas para colar a sua substância escaldante na pela
de suas vítimas; e aumentar o seu poder incendiário quando em contato com a
água, dos rios, por exemplo... Obra de mentes inteligentes, mas não racionais,
como observava Erich Fromm.
Mentes realistas, hiper reais, ressentidas, egotistas e arbitrárias,
destrutivas e violentas.
Incapazes para a mera vivência ontológica do diálogo.
CONCLUSÃO
Assim, a impassibilidade violenta dos perpetradores de massacres não
tem segredos. Resulta do seu crônico encistamento no modo coisa de sermos.
Encistamento crônico resultante da supressão da alternância entre os modos
eu-isso -- modo coisa de sermos --, e o modo eu-tu, modo dialógico, de
sermos. Com a fixação no modo eu-isso.
O modo eu-tu de sermos é o modo eminentemente, própria e
especificamente, dialógico de sermos. O modo não coisa, presente e atual, de
sermos. Da vivência intrínsecamente dialógica de possibilidades, do
desdobramento de possibilidades, da ação dialógica.
Na pontualidade da momentaneidade instantânea da vivência deste
modo de sermos, o outro não é coisa. O eu não é coisa. O outro e nós mesmos
não somos um isso. E a relação com o tu se gera e se regenera como uma
relação de produção compartilhada de (logos) sentido. Onto logos, fenomeno
logos, dia logos.
O modo eu-isso de sermos, apesar de ser uma dimensão natural e
importante dos modos de sermos, não é dialógico, não é um modo de sermos
de produção compartilhada de sentido. É um modo de sermos no qual um eu
impermeável se relaciona com um isso impermeável. Ambos coisificados. Não
sendo a relação de vivência da ação, a relação de vivência do desdobramento
de possibilidades.
Não sendo, assim, a relação de produção intrínseca e intensa de
sentido, na relação com o outro, é o modo de sermos do egotismo e da
arbitrariedade. Que, pela sua cronificação e isolamento, pode nutrir e
potencializar, não só o egotismo e a arbitrariedade, mas nutrir e potencializar o
ressentimento, o ódio vingativo egotista e arbitrário contra o outro.
260
A condição para a relação eu-tu, a condição para a relação dialógica, é a
disposição para a estética da experiência, a disposição para a experiência
estética. O modo de sermos da relação eu-tu é, especificamente, o modo
estético, ético, e poiético, de sermos.
O enfraquecimento da vivência do modo eu-tu de sermos, e o
enfraquecimento da vivência da alternância entre os modos eu-isso e eu tu de
sermos se dá com o enfraquecimento da predisposição para a experiência
estética. Com o enfraquecimento da possibilidade da vivência do modo eu-tu
de sermos, e de sua natural alternância com o modo eu-isso de sermos. Com a
fixação do acontecido modo eu-isso de sermos, modo de sermos do real,
carente do modo de sermos do possível; com uma reificação do real, com o
desenvolvimento de uma hiper realidade. Não dialógica, egotista, arbitrária,
ressentida, violenta e destrutiva.
O venenosamente ressentido, egotista, e arbitrário, perpetrador de
massacres é o anti estético por excelência. O não dialógico, o ressentido, o
egotista, o eminente e arrogantemente arbitrário, destrutivo, e violento, por
excelência.
É importante observar que nisso ele não é um ser em si.
Especificamente, não o é. Mas é um sintoma, apenas um sintoma, paroxístico
e extremo, de tendências socio culturais, que -- por se esmerarem contra o
corpo, contra os sentidos, contra a vivência, contra a vida, contra a estética do
corpo e dos sentidos -- se esmeram contra a disposição estética. Contribuindo
para enfraquecer a vivência do modo eu-tu de sermos, contribuindo para
mitigar a natural alternância entre os modos eu-isso e eu-tu de sermos. E
contribuindo, com isto, para condicionar uma fixação e uma cronificação no
modo eu-isso de sermos – não dialógico, egotista, e arbitrário. Processo que,
pilhado pelo ressentimento, constitui a preparação das condições ressentidas,
fatalistas, egotistas, e arbitrárias, para os paroxismos de violência dos
perpetradores de massacres.
INTRODUÇÃO
Uma das características básicas, definidoras, dos perpetradores de
massacres é a sua impassibilidade. São impassíveis. Sua frieza e decisão
covardes, a firmeza de suas atitudes, a firmeza de seus argumentos, de suas
argumentações, a firmeza de sua racionália, pode impressionar ao desavisado.
A questão dos perpetradores de massacres, e de seus covardes
massacres, é uma questão eminentemente ontológica.
Na verdade, a sua impassibilidade apenas evidencia a rigidez do
ressentimento cronificado e venenoso, a rigidez da arbitrariedade e do
egotismo. Tipicamente, o ressentimento e a arbitrariedade de quem
egóticamente se encistou na fatalidade do modo eu-isso de sermos, modo não
dialógico de sermos do fato. De quem se encistou na ética do modo coisa de
sermos. E doentia e incontornavelmente se cronificou, assim, na ética do não
dialógico, na ética do egotismo e da arbitrariedade. Ou seja, na ética da
destrutividade e da violência. Mediante uma recusa primária da ontológica da
estética, da ética, do diálogo; da ética do modo dialógico, eu-tu, de sermos.
261
A violência é o antípoda de diálogo. A ética da violência é o oposto polar
da estética do diálogo, característico e intrínseco ao ontológico modo eu-tu de
sermos, e à natural alternância entre os modos eu-tu e eu-isso de sermos.
Outro aspecto importante a considerar é o de que o perpetrador de
massacres não é um ser em si. Mas um sintoma social. Um sintoma de
tendências culturais que se esmeram pela negação do corpo, pela negação
dos sentidos, pela negação da vivência fenomenológica, pela negação da
vivência estética, pela negação da vida – cuja vivência é eminentemente
estética. Condição intrínseca e primária à vivência da dialógica do modo eu-tu
de sermos. Potencializando, com esta negação, a interdição da vivência do
modoeu-tu de sermos, potencializando a interrupção da alternância entre o
modo eu-tu e o modo eu-isso de sermos. Condicionando a fixação no modo
não dialógico de sermos; potencializando, com esta fixação, o niilismo
ressentimento, egotista, arbitrário, destrutivo e violento da cronificação do
modo coisa de sermos.
Buber58, além de descrever e comentar as características do modo
dialógico de sermos, do modo ontológico, eu-tu de sermos, comentou
magistralmente, como frequentemente o faz, a fatalidade, o egotismo e a
arbitrariedade. Cronificação no modo eu-isso de sermos, não dialógico, anti
dialógico, fatalidade, egotismo e arbitrariedade consequentes, destrutividade e
violência consequentes.
Buber não comentou a força que dinamiza e move esta violência, e a faz
chegar a níveis estarrecedores e inimagináveis. Desde os massacres
genocidas, ao longo da história, até os massacres de grupos. A força, ou a falta
de força, que move os seus perpetradores é a mesma.
Nietzsche59 elucidou e comentou a força -- o niilismo ressentimento, a
vontade negativa de potência, tantas vezes tão impressionante -- que dinamiza
a violência condicionada e direcionada pelo egotismo e pela arbitrariedade.
Decorrentes estes da cronificação do modo eu-isso de sermos, não dialógico;
decorrentes do enfraquecimento do modo ontológico de sermos, e do
consequente enfraquecimento da natural alternância entre o modo eu-tu de
sermos, o modo dialógico de sermos; e o modo de sermos eu-isso. Com o
consequente encistamento e cronificação, e intensificação da cronificação,
neste modo coisificado de sermos. Com a destrutividade e a violência
concomitante.
REFEREÊNCIAS.
BUBER, Martin Eu e Tu.
Do Diálogo e do Dialógico.
HEIDEGGER, Martin Ser y Tiempo.
NIETZSCHE, Frederich Assim Falava Zaratustra.
Genealogia da Moral.
Para Além do Bem e do Mal.
58
BUBER, Martin EU E TU.
59
NIETZSCHE, Frederich, Assim Falava Zaratustra. Genealogia da Moral. Para Além
doBem e do Mal.
262
Ecce Homo.
263
DIAPOIESE E DIALÓGICA DO DIAGNÓSTICO MÉDICO
264
Constituindo-se como uma apuriação do sentido, a partir dos
sentidos da multiplicidade de suas possibilidades.
O diagnóstico é vivência da implicação, e da constituição
cognitiva desta, como compreensão. Na duração da transjetividade
de seus episódios pertinentes. Desde a emergência das
possibilidades, como projeto. Até sua conclusão, pelo decaimento de
suas forças, na sua conceituação.
Conceituação, pré- conceitual, na transjetividade, da duração
do ato ontológico, a compreensão permanece, é 'analógica', ou seja,
pré-conceitual, iniputada, fenomenológica.
A cognição gestáltica, pré-conceitual, e pré-reflexiva: o todo
que é diferente da soma de suas partes. (E não "o método 'Jack o
estripador', de: 'Vamos por partes'").
Até a conceituação de suas forças.
Quando estas são, então amputadas, pelo decaimento, e pelo
trabalho do conceito. E passamos da implicação para a explicação.
Assim, de seu projeto, ao seu decaimento, e conclusão; a
diapoiética dialógica, do diagnóstico médico é uma questão de tempo.
Da temporalidade própria à vivência ontológica do episódio do ato
diagnóstico. Vivência da implicação, e da temporalidade de
constituição da compreensão.
O tempo que medeia, entre a emergência do projeto da
implicação das possibilidades, e sua conclusão conceitual, é tempo
ontológico. Tempo diapoiético e dialógico da compreensão.
Pré-reflexivo, e pré-conceitual.
Tempo no qual não vigoram o teorético, o propósito, a
causalidade, a utilidade, nem a realidade. Estas, características
antagônicas às do ontológico, perturbam.
Tempo de moção, de mover-se, de deslocar-se, e aprender.
Tempo de emoção. E de motivação.
Tempo do despropósito, do desproposital.
Tempo em que vigoram, em suas intensidades intensionais, e
pré-conceituais, a força das possibilidades, em seu desdobramento.
Tempo em que os sinais do corpo do cliente, e o cliente, não
são objeto. Mas tu, com os quais só se interage, na dialógica e
diapoética da implicação, e da compreensão.
Tempo anterior à vigência do tempo da percepção, e do tempo
da explicação...
Como fazer com que se constitua, e vigore, o tempo da
implicação, e da compreensão?
Privilegiando-se-lhe.
265
Explico...
O tempo da implicação e da compreensão é, todo ele,
impregnado de força. A força da intensionalidade das possibilidades.
Se nós o privilegiamos, não privilegiando os elementos do tempo
ôntico, ele se impôe ao tempo da ôntico -- que não é intensional --,
da percepção, e da explicação -- tempo das coisas, do fato, da
fatalidade.
Ainda que, posteriormente venha, fatalmente, a convergir para
este.
Mas, a hermenêutica dos sinais e dos sintomas, a diapoiética, e
dialógica do diagnóstico médico, dependem da vivência do tempo da
implicação, e da compreensão. Tempo de Kairós. Em sua modalidade,
e características próprias. Sem interferencias do tempo ôntico -- de
Cronos. Tempo da objetividade, e da subjetividade. Tempo da
reflexão, do teorético. Da causalidade. Do propósito. Da utilidade. Da
realidade, da reificação.
O preconceito e o alvoroço esorvam o processo.
Na medida em que a implicação e a compreensão são processos
de conceituação, mas especificamente pré-reflexivos, e pré-
conceituais. E que têm uma temporalidade específica.
O processo tem sua abertura -- com um projeto gestaltificativo;
e tende a se fechar, numa conclusão.
Mas o tempo que medeia entre o projeto e a conclusão, é
tempo ontológico.
Pré-reflexivo, e pré-conceitual.
O conceito precipitado, o alvoroço, e a reflexão estorvam o
processo.
Da mesma forma, a imposição de características ônticas da
percepção e da explicação.
Como o teorético, a causalidade, o propósito, o moralismo, a
utilidade, o realismo, e a realidade...
266
O ONTOLÓGICO, E O ÔNTICO;A PESSOA, E O EGÓTICO;
A LIBERDADE, E O DESTINO;O DIALÓGICO, E A
ARBITRARIEDADE
O feito é fato.
60
BUBER, Martin EU E TU, São Paulo, Cortês, 1985.
267
Isso porque não se conhece, não se crê, e não se investe, na
eterna recorrência do ontológico, do eu-tu, do episódio da ação, do
existencial.
268
A FATALIDADE, O DECURSO, E O DOGMA DO DECURSO
PROGRESSIVO DAS COISAS
E à crença no decurso.
E à crença no decurso.
269
Por mais diferentes que possam parecer um
ao outro, colaboram para formar uma fé na
fatalidade mais tenaz e angustiante do que todas
as anteriores. (...)
Sob todas estas formas, e outras mais, o que
significa é que o homem está ligado a um devir
inevitável, contra o qual ele não lutaria senão em
seu delírio. (...)
É uma loucura imaginar a liberdade; não se
tem senão a escolha entre uma escravidão
voluntária ou uma escravidão desesperada e
rebelde. (...)
O fundamento que efetivamente todas elas
têm, é a obsessão pelo decurso das coisas. Isto é a
causalidade ilimitada.
O dogma do decurso progressivo é a
abdicação do homem face ao crescimento do
mundo do Isso.
Assim, o nome do destino será mal
empregado. Assim, atribuir-se a ele o nome
destino será um erro. Pois o destino não é uma
campânula voltada sobre o mundo dos homens.
Ninguém o encontra senão aquele que parte
de sua liberdade.
O dogma do decurso inelutável das coisas
não deixa, porém, lugar à liberdade, nem para a
sua revelação mais concreta: a conversão* 20
O dogma do decurso potencializa o próprio decurso.
270
ATUALIDADE, DECISÃO; LIBERDADE/DESTINO;
CONVERSÃO, SUBJETIVIDADE, PESSOA.
Isto é a liberdade.
61
op. cit. p. 60-1.
271
A causalidade não oprime o homem ao qual é
garantida a liberdade.
Ele sabe que sua vida mortal é, por sua
própria essência, uma oscilação entre o Tu e o
Isso.
E ele percebe o sentido desta oscilação.
Isto é, o destino. 29
Decisão, relação (eu-tu), e destino estão para Buber, assim,
intimamente associadas.
272
E, logo, a ameaça do abismo é proscrita, a
multiplicidade deixa de fazer valer a igualdade
cintilante de sua exigência; não existem mais que
dois na simultaneidade, o outro e o um. A ilusão, e
a missão.
Só então, porém, começa a minha
atualização.
62
Op. Cit.
63
* Parêntesis nosso.
273
Ele não é o seu limite, mas o seu
complemento.
64
op. cit. p. 61-2.
65
op. cit. p. 64-5.
274
Até que o acalme aquele que ensina a
escapar do ciclo dos renascimentos, ou alguém que
salve as almas, subjugadas por poderes terrenos,
levando-as para a liberdade dos filhos de Deus.
Tal obra se realiza quando um novo
fenômeno de relação (eu-tu) se torna substância.
Quando uma nova resposta é dada pelo homem a
seu Tu, Acontecimento que determina o destino. 66
66
Op. Cit.
67
op. cit. p. cit p.66.-7.
275
Este esquema não apresenta valor algum
para o espírito.
68
op. cit. p.67-8. 36 op. cit. p. 68.
*
Arbitrário. Proposital, causal, pragmático. Que não se dá e decide no dialógico, da relação eu-
tu.
276
permanentemente pisoteados por um fantasma
vigoroso?
69
op. cit p. 69.
277
Ser-lhe-á necessário sacrificar aquele
pequeno querer, escravo, regido pelas coisas e
pelos instintos, em favor do grande querer que se
afasta do “ser determinado”, para ir ao destino.
Ele não intervém mais. Mas nem por isso
permite que aconteça pura e simplesmente.
Ele espreita aquilo que por si mesmo se
desenvolve, o caminho do ser no mundo. Não para
se deixar levar por ele, mas para atualizá-lo, como
ele deseja ser atualizado; pelo homem de quem
ele necessita, por meio do espírito humano e do
ato humano, com a vida do homem e com a morte
do homem.
Ele crê, disse eu, o que equivale dizer: ele se
oferece ao encontro. 70
Diferentemente do homem que vive no arbitrário,
70
op. cit. pp 69-70.
71
op. cit. p. 71.
278
O ARBITRÁRIO E A ARBITRARIEDADE
Buber comenta:
72
op. cit. p. 70. Grifo nosso.
279
O arbitrário e a fatalidade, fantasma da alma
e pesadelo do mundo, toleram-se vivendo um ao
lado do outro, mas esquivando-se, sem ligação e
sem atrito, no absurdo.
73
op. cit. p. 69.
280
O homem arbitrário, incrédulo até a medula,
não pode perceber senão incredulidade, e
arbitrário; escolha de fins e invenção de meios.
74
op. cit. p. 71.
281
A FATALIDADE, O DECURSO PROGRESSIVO DAS
COISAS, E O SEU DOGMA
E à crença no decurso.
E à crença no decurso.
282
fatalidade mais tenaz e angustiante do que todas
as anteriores. (...)
Sob todas estas formas, e outras mais, o que
significa é que o homem está ligado a um devir
inevitável, contra o qual ele não lutaria senão em
seu delírio. (...)
É uma loucura imaginar a liberdade; não se
tem senão a escolha entre uma escravidão
voluntária ou uma escravidão desesperada e
rebelde. (...)
O fundamento que efetivamente todas elas
têm, é a obsessão pelo decurso das coisas. Isto é a
causalidade ilimitada.
O dogma do decurso progressivo é a
abdicação do homem face ao crescimento do
mundo do Isso.
Assim, o nome do destino será mal
empregado. Assim, atribuir-se a ele o nome
destino será um erro. Pois o destino não é uma
campânula voltada sobre o mundo dos homens.
Ninguém o encontra senão aquele que parte
de sua liberdade.
O dogma do decurso inelutável das coisas
não deixa, porém, lugar à liberdade, nem para a
sua revelação mais concreta: a conversão* 20
O dogma do decurso potencializa o próprio decurso.
283
ATUALIDADE, DECISÃO; LIBERDADE/DESTINO;
CONVERSÃO, SUBJETIVIDADE, PESSOA.
Isto é a liberdade.
75
op. cit. p. 60-1.
284
Ele sabe que sua vida mortal é, por sua
própria essência, uma oscilação entre o Tu e o
Isso.
E ele percebe o sentido desta oscilação.
Isto é, o destino. 29
Decisão, relação (eu-tu), e destino estão para Buber, assim,
intimamente associadas.
285
dois na simultaneidade, o outro e o um. A ilusão, e
a missão.
Só então, porém, começa a minha
atualização.
76
Op. Cit.
77
* Parêntesis nosso.
286
Liberdade e destino unem-se mutuamente
para dar sentido.
E, neste sentido, o destino -- até há pouco
olhar severo -- suaviza-se, como se fosse a própria
graça.
78
op. cit. p. 61-2.
79
op. cit. p. 64-5.
287
salve as almas, subjugadas por poderes terrenos,
levando-as para a liberdade dos filhos de Deus.
Tal obra se realiza quando um novo
fenômeno de relação (eu-tu) se torna substância.
Quando uma nova resposta é dada pelo homem a
seu Tu, Acontecimento que determina o destino. 80
80
Op. Cit.
81
op. cit. p. cit p.66.-7.
288
A profecia baseada na objetividade tem valor
apenas para quem ignora a presença.
82
op. cit. p.67-8. 36 op. cit. p. 68.
*
Arbitrário. Proposital, causal, pragmático. Que não se dá e decide no dialógico, da relação eu-
tu.
289
Como poderia recolher-se um ser que está
constantemente perseguido em um campo vazio,
pela procura da subjetividade perdida?
83
op. cit p. 69.
290
pelos instintos, em favor do grande querer que se
afasta do “ser determinado”, para ir ao destino.
Ele não intervém mais. Mas nem por isso
permite que aconteça pura e simplesmente.
Ele espreita aquilo que por si mesmo se
desenvolve, o caminho do ser no mundo. Não para
se deixar levar por ele, mas para atualizá-lo, como
ele deseja ser atualizado; pelo homem de quem
ele necessita, por meio do espírito humano e do
ato humano, com a vida do homem e com a morte
do homem.
Ele crê, disse eu, o que equivale dizer: ele se
oferece ao encontro. 84
Diferentemente do homem que vive no arbitrário,
84
op. cit. pp 69-70.
85
op. cit. p. 71.
291
O ARBITRÁRIO E A ARBITRARIEDADE
Buber comenta:
86
op. cit. p. 70. Grifo nosso.
292
lado do outro, mas esquivando-se, sem ligação e
sem atrito, no absurdo.
87
op. cit. p. 69.
293
O homem arbitrário, incrédulo até a medula,
não pode perceber senão incredulidade, e
arbitrário; escolha de fins e invenção de meios.
294
HISTÓRIAS DE SOTEGUI KOUYATÉ
Um refinado intérprete.
E a vida é fenomenológica.
E não coisas.
295
Aí, que Sotengui Kouyaté se confunde, e se incendeia, com o
teatro. No fogo manso da dialógica diapoiética. De vida, e Teatro.
O Teatro é a vida.
A vida é Teatro.
Os encontros da arte.
Mas 'jeto'.
Mas, atores.
296
Porque, entregues às intensidades, de modo não causal,
desproposital, não útil, irreal de sermos. Nas asas do possível.
Esperar.
297
Esperar e errar, porque já não somos mais sujeitos de uma
ação. Nem o outro objeto.
298
O DESENCANTAMENTO, E O ENCANTAMENTO DAS
COISAS
A Martin Buber,
desde o tempo em que
ele era uma coisa,
no livro sobre a banca de estudos
na Biblioteca...
299
PAULO FREIRE,
MAIS FENOMENOLOGIA E DIÁLOGO
300
Os sucessores de Paulo Freire não souberam identifica-lo, e
desvendá-lo. E a abordagem de Paulo Freire ficou, aparentemente,
com um paradoxo em seus fundamentos.
De um lado, a ética e a análise e crítica social marxiama.
Fundada na dialética. De outro a metodologia fenomenológico-
existencial dialógica, vista de um modo desinformado, e
preconceituoso, pelos marxistas ortodoxos.
Teoricamente, Paulo Freire parece ter ficado paralisado no
conflito. Tímido de afirmar, diante das resistências, seus fundamentos
fenomenológico existenciais, dialógicos; e a filosofia da vida, de F.
Nietzsche.
Ele sabia que ambas as raízes eram intrínsecas, e
fundamentais, em sua abordagem. E não hesitou em operacionalizá-
las. Mas a ortodoxia, e a resistência podem tê-lo intimidado a afirmar
a raiz fenomenológico existencial e dialógica.
Seus sucessores, igualmente, não conseguiram superar o
impasse.
É interessante observar que, quando nos referimos à raiz
fenomenológico existencial e dialógica, não estamos nos referindo a
nenhuma abordagem de filosofia fenomenológica, mas à opção
metodológica de lidar com as pessoas na imediaticidade empírica da
relação fenomenológico existencial dialógica com elas.
A Dialética, que fundamenta a abordagem marxiana, é
naturalmente, fortemente avessa ao empirismo. Porque o empirismo
não é crítico do empírico. E não apreende o devir do movimento
histórico, segundo as determinações não empíricas do concreto.
E identifica o empirismo na fenomenologia, e na abordagem
dialógica.
301
A INTERPRETAÇÃO – A HERMENEUTICA --, e a
EXPERIMENTAÇÃO EM BUBER
302
Algo diverso se passa com o momento ôntico, do eu-isso.
Em princípio, nada de errado com o modo ôntico. Eu-isso, de
sermos...
Mas, a qualidade de vida começa a precarizar-se, qundo se
enfraquece a possibilidade da alternância eu-isso eu-tu. E o modo
ôntico eu-isso se instala como predominante.
O modo eu-isso é o modo de sermos de constituição do
acontecido. De constituição do feito. Do fato, da fatalidade.
E a causalidade é constituinte da fatalidade.
O divinamente poiético modo de sermos em que não vigora a
causalidade -- e a utilidade, o propósito, a fatalidade, a coisidade --,
é o modo dialógico, eu-tu, de sermos.
Modo près-ente, pré-coisa, de sermos.
O Modo ente, ôntico,de sermos, é o modo de sermos coisa.
Coisa é o que não é mais possibilidade, momentâneamente.
De modo que, enquanto tal -- ligado à fatalidade, à coisidade, à
causalidade --, o modo eu-isso de sermos é o modo no qual cresce o
decurso coisificado das coisas. Mecanicamente movido pela inércia da
causalidade.
Sem originalidade, e movido à repetição.
E o modo de sermos em que se extingue a possibilidade da
vivência da atualidade, e da presença do encontro dialógico, em sua
imediaticidade.
Proscrito o encontro, a relação eu-tu, e seus efeitos e
processos, cresce o arbítrio.
303
Tu, que pode ser da natureza não humana, inter humano, ou
sagrado.
Mas, só na dramática do encontro, da interação eu-tu, podem
se dar a vivência das possibilidades, como liberdade, a decisão, e o
destino – a partir daí.
Constituintes, essenciais, da hermenêutica, da interpretação; e
da experimentação fenomenológicas. Do diálogo, e do destino.
Relação, liberdade, decisão, e destino estão vinculados.
Enquanto que, igualmente, se relacionam fatalidade,
causalidade, e arbítrio.
Buber comenta,
Assim como liberdade e destino estão
interligados, assim, também, o estão o arbitrário e
a fatalidade.
304
Não acontecerá aquilo que a sua resolução
imagina, mas o que aconteceu, não acontecerá
senão na medida em que ele resolver querer aquilo
que ele pode querer.
88
BUBER, Martin Eu e Tu, São Paulo, Cortês, 1985. pp 69-70.
305
306