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RESUMO ABSTRACT
Revista Brasileira de Prescrição e Fisiologia do Exercício, São Paulo, v.5, n.26, p.143-162. Mar/Abr. 2011. ISSN 1981-9900.
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Mas se o estímulo ao longo dos meses for mais intenso na atividade aeróbia,
proporciona uma redução da força porque as fibras II se alteram para I, aumenta
as enzimas oxidativas e a ativação da força neural é mais lenta.
Caso o treino aeróbio venha prescrito antes do trabalho de força, o alto gasto do
glicogênio muscular gera fadiga no atleta e prejudica a sessão subseqüente.
Mas se a sessão de força vier antes do aeróbio, o desempenho do desportista
não é tão prejudicado. Apenas a força não será totalmente maximizada por
causa do trabalho aeróbio.
Força e Anaeróbio O treino anaeróbio antes da sessão de força prejudica essa capacidade física na
sessão por causa da fadiga.
Mas alguns treinadores utilizam um trabalho de força e imediatamente o
anaeróbio, para ocorrer transferência da força para a atividade de corrida, ou
seja, maior recrutamento das unidades motoras. Essa metodologia é bem
positiva, indicado por Cometti (2002).
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Força e Treino A grande demanda aeróbia proveniente da sessão com bola acarreta prejuízo na
Técnico ou Força força se o atleta treinar antes ou depois da musculação e/ou o salto em
e Treino de Jogo profundidade.
Mas se o treino de flexibilidade for prescrito depois do trabalho com bola, precisa
ser leve por causa da fadiga e também as chances de contusão são mínimas.
Força e Treino Caso o trabalho físico seja muito intenso, poderá prejudicar a sessão com bola
com Bola ou em virtude da fadiga, deteriorando o padrão motor do fundamento.
Treino Metabólico
e Treino com Bola Mas se o trabalho físico for prescrito depois, no treino de força sofrerá
interferência proveniente da demanda aeróbia da sessão com bola, ou seja, a
força não é maximizada totalmente. Já o treino metabólico, depois da sessão
com bola, não foi encontrado nada na literatura que informe interferência,
apenas a fadiga pode prejudicar a segunda sessão.
Uma iniciativa utilizada por Cometti (2002), é a prescrição do trabalho físico junto
da sessão com bola para haver transferência do trabalho condicionante para o
fundamento. Na Europa diversas modalidades treinam dessa maneira.
Portanto, atingir o pico é algo complexo que requer muito estudo e feeling do treinador.
2. As periodizações do treinamento Entre os que serão estudados, é o
bloco do ex-soviético Verkhoshanski
Os modelos tradicionais de (atualmente é russo), o modelo de cargas
periodização foram importantes para a seletivas do brasileiro Gomes e a periodização
divulgação dessa disciplina do treinamento. tática idealizada pelo português Frade.
Muitos são usados até nos dias atuais. Os que No Brasil, os modelos mais populares
serão ensinados neste artigo são as são dos russos Matveev e Verkhoshanski, e a
periodizações do ex-soviético Matveev partir de 2002 a periodização de Gomes
(atualmente é russo) e a teoria estrutural com começou a ser conhecida.
cargas de alta intensidade do alemão Talvez o modelo dos russos sejam
Tschiene. mais conhecidos e utilizados porque possuem
Com a modificação do calendário vários livros e artigos publicados no Brasil.
esportivo e com a necessidade de estruturar Também, muitos dos professores brasileiros
uma periodização conforme as necessidades de renome do treinamento esportivo foram
do esporte, aparecem os modelos alunos desses cientistas. Isto colaborou com a
contemporâneos de periodização. Muitos divulgação da teoria clássica e em blocos no
desses modelos foram baseados nas falhas e Brasil.
qualidades das periodizações tradicionais. Os dois modelos, o esquema
estrutural de alta intensidade de Tschiene
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nutenção do que foi adquirido nos períodos porque na periodização clássica este meso
anteriores, ou seja, ocorre o princípio da não existe.
continuidade defendido por Silva e Martins Para ocorrer maior controle do
(2002). treinamento indica-se a realização dos testes
uma vez por mês. No início ou fim de cada
d) Período de transição meso.
A maior preocupação será a Pode-se ler em Dantas (1995), que
manutenção do que foi adquirido nos períodos existem muitos mesociclos, sendo algo difícil
anteriores, tendo atenção em todas as para o treinador recordar de todos.
capacidades físicas ou as essências para o Portanto, os mesociclos sugeridos vão
atleta de alto rendimento. estar relacionados com a época do
treinamento. Eles são:
Quanto aos micros e mesosciclos? a) Mesociclo de treino
Nos microciclos o nome já dá para b) Mesociclo competitivo
identificar a carga de treino. Mas o valor de c) Mesociclo recuperativo
carga determinado por Matveev (Gomes,
1996) será de maneira subjetiva porque fica Nesses mesociclos fica a critério do
difícil do treinador mensurar 80%, 60% ou treinador inserir dois ou mais microciclos. Os
outro valor num treino técnico ou de jogo. mesos não vão possuir estrutura pré-
Os microciclos sugeridos são o fraco, determinada como Matveev estabelece.
o médio, o forte, o estabilizador, o pré- Com relação o volume e a
competitivo (usado próximo da disputa), o intensidade? Vai começar conforme Matveev
competitivo (nas competições e amistosos) e o indica na sua teoria?
de teste (onde ocorre a avaliação funcional). Não, isto vai estar de acordo com as
Em cada mesociclo do modelo de necessidades do treinador. Logo a rigidez da
Matveev, já existe um tipo de microciclos periodização tende a ser abolida, podendo
previamente previamente estipulados melhorar o ato de periodizar por esse modelo
(Monteiro, 2002). Zakharov (1992), expõe (Forteza, 2002).
todos os mesociclos e microciclos em sua obra A figura 2 ilustra uma periodização
conforme Matveev indica. Exceto o meso simples proposta por Matveev (1997):
controle é uma adaptação do autor russo
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incluídos os salto profundos para otimizar a A duração do bloco B está por volta de
força reativa. dois e meio a três meses (Gomes, 2002),
A característica deste modelo de visando à maximização das capacidades
periodização é somente para atletas de alto competitivas (Verkhoshanski, 1995). A
rendimento, aonde as cargas chegam ao distribuição dos microblocos B pode variar
extremo e para suportar esse estresse o entre B1 e B2 a B1, B2 e B3. Todos
competidor precisa ser muito experimentado. geralmente possuem a mesma duração.
Tendo o trabalho sempre apoiado na O treino de musculação mais comum
especificidade (Moura e Moura, 2001). no bloco B é o de FR (Oliveira e Silva, 2001).
O único problema deste modelo para Mas pode-se prescrever a FM e a sessão de
os esportes da atualidade é a longa duração SP. Também o treino técnico e/ou tático é
do bloco A e C. dado bastante atenção para permitir sucesso
O bloco A se encontra na etapa básica na competição.
(Verkhoshanski, 2001), com cargas O bloco C ocorre a
concentradas de força (Verkhoshanski, 1999), supercompensação ótima, decorrente de uma
através da preparação de força especial estruturação de sucessão/interconexão. Onde
(Verkhoshanski, 1993). o bloco A cria aumento competitivo no bloco B,
A duração do bloco A compreende um o B maximiza ainda mais o estágio desportivo
período de 3 meses, sendo subdivididas em 4 para o bloco C. Resultando no efeito de
semanas para cada microbloco (A1, A2 e A3) acumulação retardada do treinamento (EART)
(Gomes, 2002). Esta duração objetiva otimizar (Forteza, 2001) ou como Oliveira da UNICAMP
a capacidade física específica em realizar as denomina, o efeito posterior duradouro do
ações em máxima rapidez (Oliveira, 1999). treinamento (EPDT) (ambas nomenclaturas
Mas como o estresse é alto no organismo, a são a supercompensação ótima).
qualidade técnica do competidor tende ser Então, a sucessão de cargas do bloco
deteriorada no bloco A (Brito, 1997; Cometti, A para B, do B para C, proporciona a
2001). Mesmo assim ocorrem sessões supercompensação na etapa competitiva, ou
técnicas e/ou táticas. seja, no bloco C.
A musculação indicada para o bloco A A duração do bloco C está conforme o
é a força de resistência muscular localizada tempo da disputa e nele deve ocorrer a
(FRML), a força máxima (FM), a força rápida manutenção das capacidades físicas treinadas
(FR) (Oliveira, 2003) e a força rápida de nos blocos anteriores (Arruda e colaboradores,
resistência (FRR). Uma ordem lógica não 1999). Este bloco costuma ser um em cada
existe porque depende do estágio do atleta. macrociclo.
Mas é mais seguro começar no microbloco A1 O treino de musculação geralmente
com a FRML e FRR, no A2 com FM e FR, por visa a FR e o treino técnico e/ou tático é muito
último no A3, com FR e salto em profundidade enfatizado. No bloco C pode-se prescrever a
(SP). musculação de FM e o treino de SP (Oliveira e
O SP fica no bloco A3 porque o atleta Silva, 2001).
precisa de um bom lastro de força para Para o modelo de bloco estar
praticar esta atividade, em virtude deste treino adequado para os esportes de rendimento da
causar alto estresse no aparelho locomotor atualidade, precisa de certos ajustes, como a
(Verkhoshanski, 1996). modificação na duração dos seus blocos e ser
Caso o técnico siga fielmente a prescrito conforme o tipo de modalidade (o
periodização em blocos, em nenhum momento que foi apresentado neste artigo se enquadra
deve ocorrer um treino concorrente, melhor no atletismo de força rápida).
principalmente uma sessão aeróbia que Caso o leitor não tenha compreendido,
interfere na força rápida. em cada microbloco as cargas tendem ser
O bloco B o atleta está na etapa máximas, com alguns microblocos
especial, onde os exercícios possuem um recuperativos, mas sendo muito pouco ao
caráter igual ou similar a atividade competitiva longo da temporada. Segundo Verkhoshanski
(Moreira e colaboradores, 2004). Nesta etapa (2001), para esportes cíclicos de força rápida a
ocorrem exercícios de força e/ou técnico- velocidade é a principal capacidade física,
tático. merecendo bastante atenção em cada bloco.
Sendo interessante a realização de testes uma
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estabelecer os picos na equipe, logo este Parece que a maioria das sessões da
modelo visa a regularidade competitiva. periodização de CS acontece de forma
Em periodização de CS os mesociclos fragmentada (ex. só musculação, depois
não possuem nomes, mas cada mês é técnico), mas alguns treinos ocorrem junto do
composto por um meso (Gomes, 2002). O trabalho com bola físico-técnico. Mas a idéia
nome dos micros não são mencionados, mas de todas as sessões estarem centradas no
dá para compreender que existem os jogar não ocorre, este modelo se preocupa em
microciclos fortes, fracos, médios e selecionar a capacidade física de ênfase
competitivo. Também é sugerido o emprego daquele mês. Embora o treino com bola seja
do micro estabilizador e de teste. Sendo que sempre um dos prioritários nesse modelo.
cada avaliação no micro de teste deverá A figura 6 apresenta o desenho
ocorrer de preferência uma vez por mês. esquemático da periodização de CS (Gomes,
2002):
3. Uma periodização própria para o voleibol voleibol fica mais fácil de fundamentar uma
periodização para esse esporte. Embora o
O voleibol é um esporte com calendário competitivo e os objetivos do
características particulares, possuindo esforço treinador em cada etapa podem influenciar na
e pausa ao longo do jogo. Sendo uma estruturação do macrociclo.
modalidade intermitente (Iglesias, 1994) e A proposta desta etapa do artigo é
acíclica (Vargas, 1979), onde as ações são em sugerir um modelo de periodização específico
poucos segundos (Oliveira, 1997) e em alta para o voleibol.
velocidade na via dos fosfagênios (Künstlinger
e colaboradores, 1987). A pausa (ativa ou 3.1 Modelo de periodização específico para
passiva) no jogo de voleibol é na via oxidativa o voleibol
(Kalinski e colaboradores, 2002).
O período ativo do voleibol acontece A periodização específica para o
na corrida rápida, deslocamento defensivo e voleibol (PEV) nas primeiras semanas é
nos fundamentos (Resende e Soares, 2003). definido o modelo de jogo, mas os atletas se
O intervalo dos esforços é a maior duração da exercitam no treino fragmentado (ex. só toque)
partida de voleibol (Resende, 1996). Tendo o porque o voleibol é muito difícil, também
pensamento tático como um quesito importan- realizam a sessão situacional e a partida.
te para o voleibolista realizar a jogada através Caso alguns atletas estejam muito mal
da técnica do esporte (Moutinho, 1991). fisicamente, pode-se prescrever um treino
Na maioria das jogadas dos atletas de físico fragmentado (ex. só corrida) ou um
voleibol a força rápida é a predominante, trabalho físico que tenha a bola.
sendo uma importante capacidade física nessa Neste modelo todos os tipos de
modalidade. Sabendo as características do treinamento são importantes porque uma
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performance voleibolística depende de todos situacional, este ciclo se repete até acabar a
os fatores (tático, técnico, físico e psicológico). série.
As sessões podem ser realizadas centradas e) 1º força para recrutar mais UM para
no jogo (inclui partidas e o treino situacional) atividade a seguir, 2º velocidade para transferir
e/ou no treino fragmentado. Fica a escolha do essa rapidez para a atividade com bola e por
treinador e conforme os objetivos desse último o treino fragmentado e/ou situacional.
profissional.
O ideal que a maioria das sessões Em cada atividade sugerida
tenha a presença da bola porque é o anteriormente, o técnico deve estar
instrumento de trabalho mais importante desse preocupado com a pausa para a sessão surtir
competidor. Mas conforme os objetivos do efeito. Também o treinador pode prescrever
professor, essa regra pode ser descartada, ou primeiro força e depois velocidade, sem
seja, esse modelo é bem flexível. possuir bola.
A capacidade física coordenativa e os Em algumas etapas da periodização o
aspectos cognitivos precisam ser professor deve optar por uma sessão
desenvolvidos ao máximo porque é através fragmentada porque o treino concorrente
desses componentes que ocorrem as ações sempre causa dano em uma capacidade
do jogo. Já as capacidades físicas que são física. Logo este modelo de periodização
treinadas nas sessões de condicionamento oferece inúmeras oportunidades para elaborar
físico (força, velocidade, resistência e o treino.
flexibilidade), necessitam de um Na PEV as únicas sessões que serão
desenvolvimento ótimo por causa que esta é a sempre treinadas fragmentadas, e o treino
exigência de um voleibolista para atuar bem aeróbio de corrida e a sessão de flexibilidade
na partida. porque prejudicam muito as outras
Como a preferência é que o jogador capacidades físicas (ver em
de voleibol esteja sempre com a bola, neste supercompensação). Contudo, em alguns
modelo ocorrem algumas junções de casos o voleibolista nem precisa fazer o
treinamento, quando a sessão também visar o trabalho aeróbio porque o jogo pode otimizar
aspecto físico. esse componente significativamente (Esper,
A vantagem dessas sessões é que o 2001). O treino com bola (fragmentado e/ou
competidor está raciocinando para o jogo e ao situacional) pode ser elaborado de tal forma
mesmo tempo pratica um exercício que vise o aspecto aeróbio.
condicionante. Geralmente neste treino O treino de jogo geralmente é
integrado ocorre a combinação do tipo de fibra praticado individualmente na PEV porque se
muscular. O objetivo desse tipo de sessão é for realizado junto de uma atividade
ocorrer a transferência do exercício condicionante, todo momento a partida terá
condicionante para o ato motor esportivo. Esta que ser interrompido, fato que não acontece
idéia é indicada por Cometti (2002), o treino numa partida. Por esse motivo é mais indicado
europeu. apenas o treino de jogo. Mas se o técnico
As atividades indicadas para o treino quiser realizar junto o treino condicionante
europeu são: com o de jogo poderá fazer.
a) 1º força para recrutar mais unidades Neste modelo as sessões são sempre
motoras (UM) para atividade a seguir e depois específicas, não ocorrendo a preparação geral
o fundamento fragmentado (ex. só cortada), em nenhum período. O trabalho geral e
este ciclo se repete até acabar a série. multilateral no jovem voleibolista é a prática
b) 1° força para recrutar mais UM para em mais de uma modalidade. E em todo o
atividade a seguir e depois o treino situacional, trabalho com o iniciado no voleibol que realiza
este ciclo se repete até a acabar a série. a PEV é baseado nas fases sensíveis de
c) 1º velocidade para transferir essa rapidez treinamento.
para o treino a seguir e depois o fundamento Esta periodização a soma das
fragmentado, este ciclo se repete até acabar a intensidades é o volume de treino. A
série. intensidade que comanda a carga de treino.
d) 1º velocidade para transferir essa rapidez Geralmente a intensidade dessa periodização
para a sessão a seguir e depois o treino é alta, mas se as capacidades físicas do
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Figura 7 – A carga e os outros componentes (período, meso, micro e outros) da PEV. Legenda dos
microciclos: For (forte), Fra (fraco), T (teste), E (estabilizador), M (médio) e C (competitivo).
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14- Cometti, G. Los métodos modernos de 26- Gomes, A.C. Controle do treino. Revista
musculación. Barcelona: Paidotribo, 2001. p. Treinamento Desportivo. Vol. 1. Num. 1. 1996.
235-237. p. 100-103.
17- Dantas, E.H.M. A prática da preparação 30- Graham, J. Periodization research and an
física. 3ª ed. Rio de Janeiro: Shape, 1995. p. example application. Strength and
72-75. Conditioning Journal. Vol. 63. 2002.
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Recebido para publicação em 21/10/2010
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