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VINHO VELHO

Raiz; livro castigado;

Memória antiga, dos tempos de criança,

Quando eu rodava o mimeógrafo

E as palavras investiam furiosa no papel;

Quase fendiam amarguradas

Por estarem guardadas na memória;

E eram loucas, outras dispersas e parnasianas;

Muitas delas crescidas pelo modernismo

E duramente remendadas pela licença poética.

Palavras como “incomensurável”, nem as pernas mostravam,

Pois achavam descabidas e cabeludas frases incompletas;

E, a pornografia literária que rolava nos bares de então?

As que vinham graciosas em guardanapos, não esperavam amanhecer

E veja que só tinham doze anos, como a lira e nada mais.

Outras, ainda que dolorosa, vinham carpindo lembranças

Que eu haveria de ter quando em vinho envelhecido

Contorcesse os baús amadurecidas pelo tempo;

Então, viriam elas desfilando garbosas

Em trovadorescos sonetos pintados de caboclísse

Assoviar melodias tucujus reblantadas de cor

Como Borges imaginou nunca te-las rabiscado;

Eu também não, eu também não.

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