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Processo n° 0706061-14.2017.8.07.0018
DECISÃO INTERLOCUTÓRIA
Vistos etc.
1. Procedo ao saneamento e organização do processo nos moldes do art. 357 do Código de Processo Civil.
Com efeito, não há que se falar em inadequação da via eleita, levantada pelo réu VALÉRIO NEVES
CAMPOS (ID 30780958).
Conforme assentado na decisão de recebimento da inicial, de acordo com abalizada doutrina de Emerson
Garcia e Rogério Pacheco Alves (GARCIA, Emerson Improbidade administrativa / Emerson Garcia e
Rogério Pacheco Alves. – 7ed. rev., ampl. e atual. – São Paulo: Saraiva, 2013.p. 1981), o rito da ação civil
pública não é especial, como também, mesmo que fosse, ou venha a ser, a questão do procedimento, para
fins de incidência da Lei, de sua técnica protetiva, é de nenhuma importância.
Insta demonstrar que a jurisprudência do Colendo STJ está pacificada sobre o cabimento da ação civil
pública no campo da improbidade administrativa, colhendo-se da 1ª Turma o seguinte aresto:
De igual modo, afasto a preliminar de inépcia da inicial, em virtude da imprecisão no enquadramento das
espécies de improbidade administrativa e narração lógica dos fatos, foi suscitada pelos réus RAIMUNDO
DA SILVA RIBEIRO NETO (ID 31301122) e CELINA LEÃO HIZIM FERREIRA (ID 31308489).
Conforme já assentado, da leitura da inicial (ID 7647940), verifica-se que há delineio das condutas dos
réus, pontuando-se, o modus operandi para a solicitação das alegadas vantagens indevidas às empresas
prestadoras de serviço de fornecimento de leitos de UTI, por meio de emenda a projeto de lei em favor
delas.
Deste modo, a intitulada “Operação Drácon” procurou descortinar a existência de um suposto esquema de
corrupção envolvendo Deputados Distritais e servidores públicos, relacionado à negociação ilícita de
emendas parlamentares mediante solicitações de vantagem indevidas, que, a partir da denúncia promovida
pela Deputada Distrital Liliane Roriz, a investigação teve início na 1ª PROSUS. Com base nestas
denúncias, a 1ª PROSUS instaurou o Inquérito Civil Público de nº 08190.087546/16-10, no bojo do qual
se fazia constar um depoimento formal da Deputada Liliane Roriz, no qual relata, baseada em gravações
ambientais realizadas diretamente de seu aparelho celular pessoal, esquema ímprobo e ilícito de
solicitação indevida com recursos públicos destinados à saúde pública do Distrito Federal.
Com efeito, a fragilidade do argumento é facilmente afastada pelo disposto no artigo 129, inciso III, da
Constituição Federal de 1988, que prevê a promoção do inquérito civil e da ação civil pública, para a
Neste ponto, a caracterização da tutela do patrimônio público como um direito difuso nos permite aplicar
a base teórica já produzida no Brasil e, sobretudo, os instrumentos legais existentes no ordenamento,
como, por exemplo, a incidência da Lei de Ação Civil Pública (Lei nº 7.347/85), da Lei de Improbidade
Administrativa (Lei nº 8.429/92), dentre outras.
Os referidos réus alegam, ainda, inexistir, no caso em questão, qualquer prejuízo econômico mensurável
ao erário, bem como sustentam que a honra e a imagem do Distrito Federal não foram abaladas por ofensa
perpetrada ao parâmetro da moralidade e lealdade que se espera dos agentes públicos.
No entanto, a abrangência de expressão jurídica patrimônio público deve ser extraída dos ditames
constitucionais e legais que norteiam a atividade da Administração Pública, tal como disposto no artigo
1º, §1º, da Lei nº 4.171/65, que conceitua patrimônio público “para os fins referidos neste artigo, os bens e
direitos de valor econômico, artístico, estético, histórico ou turístico”, ficando evidente que a definição
legal engloba o patrimônio público em sua integralidade e não com viés apenas patrimonial.
Assim, filio-me à corrente segundo a qual a Lei nº 8.429/1992 não se destina unicamente à proteção do
erário, concebido como o patrimônio econômico dos sujeitos passivos dos atos de improbidade, devendo
alcançar, igualmente, o patrimônio público em sua acepção mais ampla, incluindo o patrimônio moral.
O patrimônio moral do Distrito Federal e da coletividade restou, em tese, lesado pela conduta dos réus, os
quais, acaso julgado procedente o pedido, configurará traição da confiança que lhes foi depositada pela
população do Distrito Federal, transmudaram a nobre e necessária atividade pública em empreitada
criminosa, visando tão-somente o lucro fácil, o benefício e o enriquecimento pessoal.
Os limites da eventual responsabilidade dos referidas réus será apurada no momento processual oportuno,
mesmo porque, não se pode descartar, nesta fase, a possibilidade deles terem se beneficiado dos atos
supostamente ímprobos narrados na inicial do Ministério Público.
A preliminar da ilicitude da gravação ambiental efetivada pela Deputada Liliane Roriz, tendo por
interlocutores os réus CELINA LEÃO e VALÉRIO NEVES, foi suscitada pelos réus JÚLIO CESAR
RIBEIRO (ID 3136557), RENATO ANDRADE DOS SANTOS (ID 31354332), ALEXANDRE BRAGA
CERQUEIRA (ID 31355963) e RAIMUNDO DA SILVA RIBEIRO NETO (ID 31300931), também não
merece prosperar.
Sobre a questão, o Supremo Tribunal Federal já assentou a licitude desse meio de prova, eis inexistir
violação ao sigilo. A esse propósito importante trazer à colação o entendimento jurisprudencial do
Egrégio Supremo Tribunal Federal, a seguir transcrito:
Afasto a ‘preliminar’ de suspensão do feito em razão do processo penal relativo à investigação criminal
denominada “Operação Dracon”, suscitada pela requerida CELINA LEÃO (ID 31308489).
Como se sabe, vigora na ordem jurídica vigente o princípio da independência relativa entre as instâncias
penal, civil e administrativa, na linha do que prescrevem os artigos 935 do Código Civil, 65 e 66 do
Código de Processo Penal, 125 da Lei 8.112/90 e 12 da Lei 8.429/92.
Aliás, consoante o art. 12 da Lei nº 8.429/92, o mesmo fato pode ensejar a responsabilização do agente
político nas esferas penal, civil e administrativa, a não ser que na primeira seja reconhecida a
não-ocorrência do fato ou a negativa de autoria. Assim, desnecessário e desarrazoado aguardar eventual
condenação ou absolvição na esfera penal condenatória para se verificar a necessidade e extensão da
dilação probatória nos presentes autos, até porque a eventual absolvição na esfera penal por insuficiência
de prova não tem o condão de obstar a presente demanda.
Por fim, indefiro pedido formulado pelo requerido RAIMUNDO DA SILVA RIBEIRO NETO, que
apresentou petição informando que o Habeas Corpus n. 402.868/DF, impetrado perante o Colendo STJ,
que determinou o trancamento da ação penal nº 0018019-92.2017.807.0000 em relação a sua pessoa, sob
o fundamento de ausência de autoria.
Ocorre, todavia, que o direito brasileiro consagra a independência das instâncias civil, administrativa e
penal, como, aliás, já explanado.
Como se sabe, a única possibilidade de repercussão entre as instâncias ocorre quando no julgamento do
processo penal se reconhece a inexistência do fato ou a negativa da autoria.
A esse propósito, insta trazer à baila o caput do art. 12 da Lei de Improbidade Administrativa, que
estabelece expressamente que as penalidades previstas serão aplicadas independentemente das sanções
penais, civis e administrativas.
No vertente caso, ocorreu o trancamento da ação penal por ausência de indícios mínimos de autoria (art.
648, I, do CPP), devendo a questão ser amplamente examinada na esfera civil e administrativa.
Ademais, o acórdão proferido no Habeas Corpus nº 402.868/DF, que concedeu a ordem para determinar o
trancamento da ação penal, é decisão meramente processual, sem análise de mérito, com objetivo de
impedir a tramitação de procedimento manifestamente ilegal. Logo, não se trata de julgamento
antecipado, tampouco se reporta ao mérito material do caso concreto por sua improcedência.
Além disso, as esferas de responsabilidade atingem o status dignitatis do indivíduo em distintos graus,
sendo justificável que cada uma delas receba tratamento processual distinto.
A solução da questão posta a desate na presente demanda verificar se os réus praticaram os atos de
improbidade administrativa descritos na inicial.
Nos termos do artigo 357, § 4º, do Código de Processo Civil, concedo às partes o prazo comum
improrrogável de 15 (quinze) dias para apresentarem os respectivos róis de testemunhas. Advirto-as
de que não será admitido o arrolamento extemporâneo de testemunhas, a fim de assegurar a regular
realização da audiência e promover uma célere prestação jurisdicional, evitando-se, assim, o adiamento
ou o cancelamento do ato, o que trará evidente prejuízo às partes e à sociedade.
O rol de testemunhas deverá conter o nome, a profissão, o estado civil, a idade, o número de inscrição no
Cadastro de Pessoas Físicas, o número de registro de identidade e o endereço completo da residência e do
local de trabalho de cada testemunha arrolada, sob pena de indeferimento. Em se tratando de servidor
público, além dessas informações, a parte deverá trazer, ainda, o número da matrícula junto ao órgão ao
qual está vinculada a testemunha e o setor em que ela está lotada, informações sem as quais este Juízo fica
impossibilitado de requisitá-las.
Nos termos do artigo 357, § 6º, do Código de Processo Civil, o número de testemunhas arroladas não
pode ser superior a 10 (dez), sendo 03 (três), no máximo, para a prova de cada fato. Serão de pronto
indeferidos os pedidos de oitiva de testemunha arrolada para provar fatos já provados por documento ou
confissão da parte ou que apenas por documento ou perícia poderão ser provados, conforme determina o
artigo 443 do Código de Processo Civil.
Destaco, ainda, que uma vez apresentado rol de testemunhas, ou caso elas já tenham sido arroladas, a
parte não poderá requerer a substituição de testemunha, exceto aquela que falecer, que, por enfermidade,
não estiver em condições de depor ou que, tendo mudado de residência ou local de trabalho, não for
encontrada, conforme determina o artigo 451 do Código de Processo Civil. Ocorrendo quaisquer dessas
hipóteses, a parte deverá comprová-las caso deseje a substituição, sob pena de indeferimento.
Caso pretendam, de forma a acelerar a tramitação do feito, evitando diligências inúteis, podem as partes,
ao realizar o depósito dos róis de testemunhas, assegurar que referidas testemunhas comparecerão à
audiência independentemente de intimação.
Somente após o transcurso do prazo para as partes apresentarem os seus róis de testemunhas, ou vindo-os
todos, será designada data para audiência de instrução.
Nos termos do artigo 455 do Código de Processo Civil, cabe ao advogado da parte informar ou intimar as
testemunhas por ele arroladas sobre o dia, a hora e o local da audiência. A intimação deverá ser realizada
por carta com aviso de recebimento, cumprindo ao advogado juntar aos autos, com antecedência de pelo
menos 03 (três) dias da data da audiência, cópia da correspondência de intimação e do aviso de
recebimento. A parte pode comprometer-se a levar a testemunha à audiência independentemente da
intimação de que trata o §1º do referido artigo, presumindo-se, caso a testemunha não compareça, que a
parte desistiu de sua inquirição. A inércia na realização da intimação importará na desistência da
inquirição da testemunha.
DEFIRO depoimento pessoal de todos os réus, nos termos do art. 385, § 1º, do Código de Processo
Civil. Intimem-se os réus pessoalmente para prestarem depoimento pessoal, sob pena de confesso.
4. DEFIRO a produção da prova emprestada, com fundamento no art. 372 do Código de Processo Civil e
na jurisprudência do Colendo STF, que admite amplamente o compartilhamento de prova (Pet 7304,
Relator(a): Min. EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em 21/11/2017, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-278 DIVULG 01-12-2017 PUBLIC 04-12-2017).
Assim, oficie-se ao Juízo da 8ª Vara Criminal de Brasília solicitando cópia das Ações Penais no
2017.01.1.011363-48 e 2018.01.1.037286-79 (antigo processo 2017.00.2.017207-710 no âmbito do
TJDFT), como compartilhamento integral das provas para o uso na presente Ação Civil de
Improbidade Administrativa, com fulcro no disposto no artigo 40 do CPP e artigo 69, parágrafo 2º,
inciso II, do CPC.
Intimem-se as partes, que deverão observar o disposto no art. 357, § 1º, do Código de Processo Civil.
Juiz de Direito