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ARTIGO DE REVISÃO / REVIEW ARTICLE / DISCUSIÓN CRÍTICA

Ambientalismo e educação ambiental:


dos discursos às práticas sociais
Environmentalism and environmental education: from discourses to social practice
Ambientalismo y educación ambiental: de los discursos a las prácticas sociales
Andréa Focesi Pelicioni*

RESUMO: Existe uma grande diversidade de representações sociais e práticas desenvolvidas no âmbito do Ambientalismo e da Edu-
cação Ambiental - EA. Tomando como referenciais a classificação de tendências do Ambientalismo proposta por O’Riordan e a Teoria
das Representações Sociais de Moscovici, a autora apresenta pesquisa realizada em nível de doutorado que teve, entre seus objetivos, a
identificação de representações sociais e práticas em EA de um grupo de educadores(as) ambientais. A metodologia foi qualitativa tendo
como instrumentos questionários e entrevistas. Por meio da análise dos discursos foram identificados quatro tipos de representações
sociais a respeito dos objetivos e estratégias da EA frente à problemática socioambiental. Os dois primeiros atribuíam à EA o objetivo de
mudar atitudes e comportamentos individuais, porém o primeiro tinha um apelo racional e se aproximava da Educação Conservacionista.
O 2 , inspirado pelo ideário romântico do ambientalismo gaianista, privilegiava estratégias como o autoconhecimento, a integração com a
o

natureza e a valorização da afetividade. No 3 tipo, a EA deveria promover transformações no indivíduo e na sociedade, à semelhança do
o

ambientalismo ecossocialista. O 4 tipo atribuía à EA o objetivo de prover instrumentos de gestão ambiental, aproximando-se do ideário
o

do ambientalismo tecnocêntrico. Entre as práticas em EA relatadas verificava-se uma gradação entre aquelas cujo foco era o indivíduo
e sua relação com o mundo e outras cujo propósito era a resolução de situações-problema. A partir dos resultados pode-se concluir que
as práticas sociais baseadas nos princípios da Educação Crítica conferem maiores possibilidades de gerar transformações na sociedade
com vistas à melhoria da qualidade de vida.
DESCRITORES: Educação Ambiental, Representações Sociais, Práticas Ambientais
ABSTRACT: A great variety of social representations and practices develops in the context of Environmentalism and Environmental
Education – EE. Based on a classification proposed by O’Riordan about trends of Environmentalism and the Theory of Social Represen-
tations proposed by Moscovici, the author presents a research that was developed as a doctorate thesis having among other aims to
identify social representations and practices on EE of a group of environmental educators. The methodology was qualitative and the
techniques used were questionnaires and interviews. By means of discourses analysis, it was possible to identify four types of social
representations. The first two attributed to EE the task of changing people’s attitude and behavior, but one of these two adopted a
rational and conservationist approach. The second, most likely inspired by romantic ideas, recommended strategies such as self-know-
ledge, the integration of human beings to Nature and the promotion of affective bonds. The third one, probably inspired by ecosocialist
ideas, attributed to EE the task of changing people’s behavior and the social structure. According to the fourth type, EE should provide
techniques and methods to face the problems, something that could be considered a technocentric approach. Their practices varied from
those more related to the individual and her relationship with the world and those that focused mainly on problem-solving situations.
The results showed that practices based on the principles of Critical Education have more potential to generate transformative actions
for improving quality of life in society.
KEYWORDS: Environmental Education, Social Representations, Environmental Practices
RESUMEN: Una gran variedad de representaciones y de prácticas sociales se desarrolla en el contexto del ambientalismo y de la educa-
ción ambiental - EA. De acuerdo con una clasificación propuesta por Ó’Riordan sobre tendencias del ambientalismo y de la teoría de las
representaciones sociales propuestas por Moscovici, el autor presenta una investigación que fue desarrollada como tesis de doctorado que
tenía entre otros objetivos identificar representaciones y prácticas sociales en EA de un grupo de educadores ambientales. La metodología
fue cualitativa y las técnicas usadas cuestionarios y entrevistas. Por medio del análisis de los discursos, fue posible identificar cuatro
tipos de representaciones sociales. Las dos primeras atribuyen a la EA la tarea de cambiar la actitud y del comportamiento de la gente,
pero uno de ellas adopta un acercamiento racional y conservacionista. La segunda, inspirada muy probablemente por ideas románticas,
recomienda estrategias tales como conocimiento de sí mismo, integración de seres humanos a la naturaleza y la promoción de enlaces
afectivos. La tercera, inspirada probablemente por las ideas eco-socialistas, atribuye a la EA la tarea de cambiar el comportamiento de
la gente y la estructura social. Según el cuarto tipo, la EA debe proporcionar técnicas y métodos para hacer frente a los problemas, algo
que se podría considerar un acercamiento tecnocéntrico. Sus prácticas van de las más relacionadas al individuo y a su relación con el
mundo y a las que se centran principalmente en situaciones de resolución de problemas. Los resultados demostraron que las prácticas
basadas en los principios de la educación crítica tienen más potencial de generar acciones transformativas como para mejorar la calidad
de la vida en sociedad.
PALABRAS-LLAVE: Educación Ambiental, Representaciones Sociales, Prácticas Ambientales

* Doutora em Saúde Pública pelo Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, São Paulo.
Especialista em Educação Ambiental pela Universidade de São Paulo e Macquarie University, Sydney, Austrália. E-mail: andreafocesi@yahoo.com.br

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Introdução De acordo com a perspectiva lítico. Para os acomodacionistas a


tecnocêntrica, o presente modelo Educação deve gerar tão somente
Os trabalhos desenvolvidos no de sociedade é capaz de resolver, mudanças comportamentais e nos
âmbito do Ambientalismo, em ge- continuamente, os problemas am- estilos de vida (Pepper, 1995).
ral, e da Educação Ambiental – EA, bientais que se apresentam. Para O ecocentrismo considera a hu-
em particular, traduzem uma am- isso deve-se recorrer à ciência manidade como parte de um ecos-
pla diversidade de representações clássica, à tecnologia e às avalia- sistema global, por isso está sujeita
sociais e práticas em todo o planeta. ções econômicas convencionais. a restrições. Respeita a natureza em
Como conseqüência, vários pesqui- Não preconiza nenhuma altera- razão de seu valor intrínseco e leva
sadores têm se dedicado a analisar ção radical nas estruturas sociais, em consideração as limitações que
as idéias presentes nas várias cor- econômicas ou políticas, e confere seus sistemas impõem. Advoga a
rentes ambientalistas existentes e poucas possibilidades de participa- utilização de tecnologias limpas
suas repercussões sobre as práticas ção pública genuína nos processos e de pequena escala porque são
sociais. decisórios (Pepper, 1995). consideradas potencialmente mais
O pesquisador O’Riordan A vertente do tecnocentrismo adequadas em termos ambientais
(1989), por exemplo, considerado denominada “intervencionista” e mais democráticas, por permi-
um dos pioneiros nos estudos das caracteriza-se por acreditar na efi- tir a participação de um número
tendências ocidentais do Ambien- ciência da ciência, nas forças de maior de pessoas e comunidades
talismo e da gestão de recursos, mercado e na gestão de recursos. (Pepper, 1995). A corrente ecocên-
principalmente européias, tece sua Atribui à engenhosidade humana trica subdivide-se entre as verten-
análise a partir de duas perspectivas e ao desenvolvimento tecnológico tes “gaianista” e a “comunalista”/
1

denominadas de “tecnocêntrica” e a capacidade de contornar limita- “ecossocialista” . 2

“ecocêntrica”. ções existentes em determinados A vertente gaianista inspira-se


A classificação proposta pelo períodos históricos que possam intensamente na filosofia da Ecolo-
autor, mesmo refletindo tendências dificultar a satisfação de todas as gia Profunda a qual considera que
presentes nas décadas de oitenta e necessidades e desejos humanos os elementos físicos da natureza e
noventa, continua sendo bastante (Fien, 1995). Paradoxalmente, os os outros seres vivos estejam no
referenciada e tem embasado aná- “intervencionistas” defendem in- mesmo nível de importância que
lises efetuadas por outros estudio- gerências livres na natureza, po- os seres humanos. Defende os di-
sos dessa temática, entre os quais rém não aceitam intervenções na reitos da natureza, caracterizando
pode-se citar Eckersley (1992); economia. o que se chama de “biocentrismo”.
Fien (1995); Pepper (1995, 1996); A segunda vertente do tecno- Entre os gaianistas há adeptos do
Dryzec (1997) e Gough (1997). centrismo é a “acomodacionista”. movimento new age, que conferem
O’Riordan caracteriza a cor- Reconhece que os impactos hu- um caráter místico à natureza e a
rente ambientalista tecnocêntrica manos sobre a natureza devam ser reverenciam. Atribuem como cau-
como sendo aquela que apóia a moderados e apóia a realização de sas dos problemas ambientais os
manutenção da estrutura de po- algumas reformas que levem em valores pessoais, os estilos de vida
der vigente e incentiva uma maior conta o componente ambiental. inadequados, o aumento popula-
responsabilidade por parte das Acredita que pode acomodar de- cional e o crescimento econômico,
instituições políticas, reguladoras, mandas por meio da adequação de especialmente através da industria-
educacionais e de planejamento instituições, legislação ambiental, lização e tecnologia inapropriadas
no enfrentamento dos problemas gestão ambiental fundamenta- (Fien, 1995).
ambientais. A corrente ecocêntrica, da em análises custo/benefício e Segundo Dryzec (1997), a pers-
por sua vez, defende a redistribui- análises de risco, e intervenções pectiva gaianista representa uma
ção do poder no sentido da criação na economia através da aplicação herança ou retorno ao ideário ro-
de uma economia descentralizada de taxas e penalidades, fixação mântico do século XIX. O autor
que garanta a justiça e a participa- de padrões, entre outros. Produz explica que seus adeptos querem
ção social. Na classificação proposta mudanças superficiais e constitui mudar o mundo, mas acreditam
pelo autor, cada perspectiva se sub- essencialmente uma estratégia de que o melhor caminho seja por
divide em duas vertentes. sobrevivência para o status quo po- meio de mudanças individuais, por

1. O termo “gaianista” foi inspirado pelas idéias subjacentes à hipótese de Gaia, apresentada por John Lovelock, que considera a Terra (“Gaia”) como um complexo orga-
nismo vivo. Diferentemente de muitos gaianistas, o autor não atribui inteligência à Gaia. Tampouco se pode afirmar que Lovelock esteja vinculado a esta corrente.
2. O’Riordan intitula essa última vertente de “comunalismo” enquanto Fien, Pepper e outros autores a chamam de “ecossocialista”.

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isso valorizam práticas voltadas às do sistema que prevaleceu nos paí- natureza criam diferentes sistemas
experiências positivas na natureza ses da “cortina de ferro” e no mo- de produção e de organização do es-
e ao desenvolvimento da sensibili- delo chinês, os quais consideram paço. Consideram o meio ambiente
dade “ecológica”. como um capitalismo de Estado. capaz de sustentar os sistemas natu-
Para os gaianistas, as leis ecoló- Para os defensores desse ideário, a rais, o desenvolvimento econômico
gicas deveriam regular as relações sustentabilidade ecológica só será e sociedades humanas justas, e ar-
sociais, o comportamento humano possível a partir da justiça social gumentam que as condições sociais
e as instituições, de modo que se (Pepper, 1996). de produção e consumo devem ba-
restabelecesse a harmonia entre so- Os princípios socialistas básicos sear-se em relações harmoniosas,
ciedade e natureza. A posição gaia- – igualitarismo, eliminação do ca- não apenas entre a sociedade e a
nista é oposta à intervencionista. pitalismo e da pobreza, distribui- natureza, mas entre indivíduos e
Na prática, por vezes, a idéia de ção dos recursos de acordo com as grupos dentro da sociedade, refle-
regulação das relações sociais de necessidades e a democracia – são tindo objetivos socialmente desejá-
acordo com as leis ecológicas é leva- também considerados princípios veis e processos democráticos (Fien,
da a extremos. Entre os adeptos da ambientalistas. Os ecossocialistas 1995; Pepper, 1995).
Ecologia Profunda há, por exem- esclarecem que a derrocada do Muitos autores ecossocialistas
plo, um grupo que recomenda que capitalismo não se dará por meios criticam a falha dos ambientalistas
a África seja deixada à própria sorte, violentos e que, provavelmente, o gaianistas em desenvolver uma
de modo que as leis naturais pos- maior catalisador para as transfor- análise política coerente. Argu-
sam atuar e re-equilibrar o balanço mações será seu próprio fracasso mentam que as esperanças e planos
entre um número menor de pes- em produzir as condições que pro- dos gaianistas em realizar transfor-
soas e os recursos disponíveis. Essa mete (mesmo para uma minoria), mações nos valores individuais,
posição evidencia a falta de senso e reprimir o descontentamento da embora sejam necessários, são
ético e humanitário e, na melhor maioria marginalizada. Sendo as- insuficientes para a realização das
das hipóteses, revela a ignorância sim, a sociedade preconizada pelo mudanças pretendidas. Os adep-
dessas pessoas quanto aos aspectos ecossocialismo só será criada quan- tos dessa corrente consideram que
históricos, políticos e econômicos do a maioria das pessoas a quiserem existem relações dialéticas entre
que fizeram com que o referido e se dispuserem a mantê-la. os valores pessoais e as estruturas
continente chegasse às condições Em contraposição ao biocen- sociais, de modo que um lado in-
atuais. Além disso, as leis ecológicas trismo, a vertente ecossocialista fluencia o outro. Reconhecem a
estão bastante atuantes no sistema considera que embora os seres política como a prática do poder
capitalista e só têm gerado desequi- humanos sejam parte da nature- sobre a produção, distribuição e
líbrios. A cada dia se vê que, devido za, não estão no mesmo nível dos uso de recursos e, por conseguinte,
à “lei do mais forte”, os trabalhado- outros animais. Além disso, rejei- como um processo no qual todos
res, as pequenas e médias empre- ta a sacralização da natureza, mas os setores e membros da sociedade
sas, e os países com menor poder valoriza a espiritualidade humana participam, de forma que, estando
de barganha têm sido mantidos em (Eckersley, 1992). cientes ou não, são considerados
posições desvantajosas. Um conceito central do pensa- cúmplices das causas dos proble-
Os ecossocialistas acreditam mento ecossocialista é a crença no mas ambientais e podem exercer
que os problemas ambientais sejam fato de que o meio ambiente deva um papel ativo na sua resolução.
resultantes de problemas sociais ser visto como uma totalidade com- Os ecossocialistas defendem
cujas raízes residem nas estruturas posta por sistemas sociais e naturais o aprimoramento da legislação, o
sócio-econômicas e políticas injus- interdependentes. É uma visão si- planejamento e a gestão ambiental
tas e excludentes, e que portanto milar à gaianista, entretanto, en- a fim de prover os recursos neces-
devem ser transformadas com o in- quanto os gaianistas defendem uma sários para a promoção da eqüida-
tuito de garantir o desenvolvimen- posição idealista em que a organiza- de social, e criticam as abordagens
to sustentável e um adequado pa- ção social deveria seguir os padrões reformistas por oferecerem apenas
drão de vida para todos. Atribuem da natureza, os ecossocialistas re- uma solução limitada aos proble-
às características do capitalismo as conhecem que o ambiente é uma mas ambientais. Alertam sobre o
causas dos problemas ambientais e construção social desenvolvida para perigo inerente ao pensamento am-
sugerem sua superação pela via do servir e refletir formas particulares bientalista tecnocêntrico que define
socialismo. Contudo, esclarecem de política econômica, e que dife- os problemas ambientais como pro-
que isso não significa a recriação rentes prioridades no uso social da blemas técnicos a serem resolvidos

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ou geridos por especialistas, o que (principalmente as comunidades) e cialização em Educação Ambien-


reduz o papel da ação individual. envolvam os movimentos de traba- tal promovidos pela Faculdade de
Nesse sentido, Fien (1995) argu- lhadores, os quais vislumbra como Saúde Pública da Universidade de
menta que a eqüidade social só po- uma força importantíssima para a São Paulo.
derá ser alcançada quando a legis- mudança social e sugere que eles Os sujeitos da pesquisa pos-
lação refletir uma preocupação em se reconheçam também enquanto suíam diferentes tipos de formação
relação ao desenvolvimento eco- participantes do movimento am- universitária nas áreas de Biologia,
logicamente sustentável e à justiça bientalista, conforme o fizeram em Geografia, Administração de Em-
social, e quando a gestão ambiental vários momentos da história. presas, Economia, Fonoaudiologia,
e a produção forem baseadas na uti- Essas vertentes do pensamento Engenharia Agronômica, Filosofia,
lização de tecnologias de pequena ambientalista ao mesmo tempo em Comunicação Social, Psicologia, Pe-
escala por uma rede de comunida- que refletem representações sociais dagogia, História e Ciências Sociais.
des relativamente autônomas, so- sobre a problemática atual, suas Esses(as) educadores(as) pos-
cialmente justas e sustentáveis. causas e possíveis soluções, dão suíam experiências diversificadas
A atribuição das causas dos pro- origem a práticas sociais diversifi- de trabalho em Educação Am-
blemas ambientais aos processos cadas que, por sua vez, reafirmam biental desenvolvidas no ensino
da economia mundial e ao con- ou alteram as representações que fundamental, médio e superior;
sumismo é uma característica que lhes davam sustentação. Assim, em Secretarias Municipais de Meio
distingue o ecossocialismo. Isso de acordo com Rouquette (1998; Ambiente e de Saúde; Secretaria de
contrasta com explicação gaianista, “convém tomar as representações Estado do Meio Ambiente; Serviço
que considera os valores e estilos como uma condição das práticas, e as Municipal de Água e Saneamento;
de vida inadequados, o aumento práticas como uma agente de trans- área de desenvolvimento gerencial
populacional e o crescimento eco- formação das representações” (grifos de uma empresa de grande porte;
nômico (especialmente através no original). parques municipais; Unidades de
da industrialização e tecnologia A diversidade de interpreta- Conservação estaduais; Organiza-
inapropriadas) como as principais ções a respeito do papel da Educa- ção não-governamental da área so-
causas dos problemas ambientais. ção Ambiental frente à realidade cial; negócios particulares ligados
Ecossocialistas reconhecem essas socioambiental motivou o desen- aos ramos recreativo e imobiliário;
questões como sintomas, e criticam volvimento de pesquisa em nível área de Comunicação Social de um
os gaianistas por falharem no en- de Doutorado (Pelicioni, 2002) programa habitacional; empresas
frentamento das reais causas dos que buscou, entre seus objetivos de assessoria a projetos de educa-
problemas e desviarem a atenção específicos, o desvelamento de re- ção e gestão ambiental; Núcleos
em relação aos que controlam a presentações sociais sobre Educa- Regionais de Educação Ambiental;
produção e a sociedade. ção Ambiental e a identificação de ONG ambientalista de grande por-
Segundo Pepper (1995) muitas práticas sociais desenvolvidas por te, entre outras.
sementes das mudanças estruturais educadores(as) ambientais atuan-
preconizadas já podem ser identi- tes no Estado de São Paulo. Análise dos resultados
ficadas. Por exemplo, a formação
de cooperativas de trabalhadores Metodologia Por meio da análise dos discur-
e consumidores, a valorização e sos foram identificados quatro tipos
incremento do consumo de pro- Para desenvolver a pesquisa de representações sociais a respei-
dutos “ecológicos”, a emergência optou-se pela abordagem qualita- to dos objetivos e estratégias da EA
de novos movimentos sociais, o tiva, tendo como referencial para em relação ao enfrentamento da
movimento da produção social- a análise dos discursos a Teoria das problemática socioambiental da
mente útil, e outras alternativas Representações Sociais forjada por atualidade.
que desafiam o capitalismo. O au- Moscovici (1978). Em relação à Os dois primeiros tipos eram
tor considera que as ações poten- coleta dos dados, foram aplicados semelhantes quanto ao objetivo
cialmente mais relevantes sejam 100 questionários e realizadas 21 de mudar as atitudes e compor-
3

aquelas que reforcem a democracia entrevistas em profundidade com tamentos dos indivíduos, porém
e o poder da coletividade enquanto educadores(as) ambientais que as estratégias recomendadas eram
detentora dos meios de produção participavam dos Cursos de Espe- diferentes.

3. O termo atitude refere-se às motivações, crenças e valores individuais (Green e Kreuter, 1991).

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No primeiro tipo, a represen- um pensamento onde o desenvolvi- Em um quarto tipo de resposta,


tação da Educação Ambiental se mento sustentado seja perseguido atribuía-se à Educação Ambiental
aproximava da proposta da Educa- ao máximo. [Luís – graduado em o objetivo de prover instrumentos
ção Conservacionista (Iucn, 1965) Economia e Administração] de gestão ambiental, configuran-
forjada no início do século XX. De Um segundo tipo de resposta do, dessa forma, uma representa-
acordo com essa abordagem, o ser parecia ser inspirado pelo ideário ção alinhada ao ideário da corrente
humano deveria ser capacitado romântico presente na vertente ambientalista tecnocêntrica, que
para melhor utilização dos recursos ambientalista gaianista. Neste caso, sugere que os problemas ambien-
naturais por meio da construção de tais possam ser resolvidos pela
também se atribuía à Educação Am-
conhecimentos (a respeito das in- ciência, tecnologia e pela aplicação
biental o objetivo de promover mu-
ter-relações existentes no ambiente de regras na utilização dos recursos
danças atitudinais e comportamen-
e das formas ideais de manejo dos naturais. As seguintes respostas são
tais, mas a estratégia utilizada seria
recursos), do desenvolvimento de exemplares:
a integração do ser humano à natu-
habilidades específicas e do desen- [A Educação Ambiental] promove
reza e o estreitamento das ligações
volvimento de uma “preocupação” métodos, técnicas e conhecimentos
afetivas. São exemplos desse tipo de adequados nesta área [ambiental]
(sense of concern) em relação à quali-
representação respostas como: para melhor equação dos proble-
dade ambiental. Neste caso, confi-
[Educação Ambiental] é a amplia- mas ambientais, para melhor in-
gurava-se um apelo à racionalidade
ção da percepção deste ambiente dicação de propostas de solução ou
humana. Em relação aos outros
(Terra), o conhecimento e mais que mesmo para prevenir danos futuros
tipos de representações sociais em
isso o contato afetivo que se dá e se na inter-relação homem-ambiente.
Educação Ambiental identificados
transforma a cada dia que conhe- [Bel – graduada em Pedagogia]
entre os sujeitos da pesquisa, esse
cemos mais e trocamos mais com ele É orientar pessoas, empresas, go-
era o que apresentava maior nú-
(ambiente). [Nina – graduada em vernos para melhor utilização
mero de respostas.
Geografia] dos recursos naturais, garantindo
Para exemplificar os tipos de re-
[EA] é a forma pela qual as pessoas qualidade de vida e a preservação.
presentações sociais serão apresen-
podem estabelecer ligações com É a busca/pesquisa contínua de mé-
tadas partes das respostas dos(as)
todos os elementos da natureza e todos de produção e formas de uso
educadores(as), cujas identidades
foram preservadas por meio da uti- saber a importância de sua preser- adequadas às questões de preserva-
lização de nomes fictícios. vação, abordando fatores políticos, ção de recursos. [Lola – graduada
Os seguintes fragmentos ilus- sociais, econômicos, éticos e estéticos, em Comunicação Social]
tram o primeiro tipo de represen- mudando sua forma de agir, sen- Quando os(as) entrevistados(as)
tação social identificado: do co-responsável na resolução de foram indagados a respeito das prá-
[Educação Ambiental] é o proces- problemas. [Rosa – graduada em ticas que desenvolviam como Edu-
so de informação, sensibilização e Biologia] cação Ambiental verificou-se uma
conscientização das pessoas com re- O terceiro tipo de representa- gradação entre aquelas cujo foco
lação às questões ambientais. Ge- ção, à semelhança da perspectiva inicial era o indivíduo e sua relação
ralmente este processo tem o objetivo adotada pela vertente ambienta- com o mundo e outras cujo foco
de criar nas pessoas valores, hábitos lista ecossocialista, atribuía à Edu- inicial era a resolução (ou preven-
e comportamentos compatíveis com cação Ambiental o objetivo de pro- ção) de uma situação-problema e,
a preservação e bom uso dos recur- mover transformações não apenas em vista disso, trabalhar-se-ia com
sos ambientais e também atitudes no indivíduo mas na sociedade. O determinado(s) grupo(s) direta-
participativas no processo de gestão seguinte trecho é emblemático: mente envolvido(s).
de tais recursos. [Caio – graduado [Educação Ambiental] é instigar Em meio às práticas que focali-
em Eng. Agronômica] o questionamento sobre as ações zavam inicialmente o ser humano
A EA é uma forma de compreender- humanas e as suas conseqüências. estavam aquelas que se aproxima-
mos a interdependência entre todos Demonstrar problemas e buscar vam do ideário gaianista e busca-
os seres vivos com o meio onde vivem soluções com a comunidade. Trans- vam despertar a dimensão íntima
e com isso mudar suas atitudes e va- formar comportamentos, hábitos, das pessoas envolvidas para que
lores para que as gerações futuras idéias e ideais; enfim transformar a se sentissem integradas e respon-
também possam usufruir, com qua- realidade em algo melhor de se fa- sáveis por tudo o que estivesse à
lidade de vida, o que ainda nos res- zer parte. ‘Humanizar’ a realidade. sua volta. As estratégias utilizadas
ta de bens/recursos naturais – criar [Edna – graduada em Filosofia] eram vivências que possibilitassem

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a sensibilização, a “religação com o ambiente natural, por exemplo, das pelo poder público em países
todo”, a exploração dos sentidos e Estudos do Meio, é o fato de as como Canadá e Austrália.
a reflexão sobre a própria vida. O atividades propostas no primeiro Em relação às práticas em
argumento utilizado era o de que caso não se prenderem aos obje- Educação Ambiental realiza-
as pessoas estabeleciam “relações tivos cognitivos privilegiados por das no ambiente escolar, os(as)
errôneas” com o mundo porque fi- esses últimos, ao contrário, outros entrevistados(as) afirmavam que
cavam automatizadas, fechadas, in- objetivos atinentes à subjetividade essas extrapolavam a abordagem
sensíveis. Porém, a partir da sensi- como o desenvolvimento da afe- de conceitos da área ambiental
bilização promovida pela Educação tividade e da sensibilidade estética e orientavam-se, principalmen-
Ambiental, as pessoas poderiam são priorizados. te, para a formação de valores e
se dar conta da realidade, abrir-se De modo geral, observa-se que o aprimoramento das relações in-
para novas possibilidades de rela- nas atividades educativas realizadas terpessoais, conforme relata uma
cionamento e gerar mudanças in- em ambiente natural procura-se professora:
teriores e exteriores. O depoimento conciliar as duas perspectivas, lan- (...) Nas salas em que eu trabalho
de uma educadora evidencia essa çando mão de apelos racionais (co- [aulas de Ciências], eu sempre dis-
abordagem: nhecer as inter-relações existentes) cuto, na aula expositiva, fazendo
(...) A Educação Ambiental tem que e de apelos emocionais (perceber a com que os alunos possam pensar
trabalhar o homem no seu contex- natureza e sentir-se conectado(a) e refletir sobre o seu papel em rela-
to, na sua parte cultural, na sua a ela). ção ao meio ambiente (...) a questão
parte emocional. (...) Então, tem O depoimento de um dos en- da produção e consumo, reduzir o
que mexer com a emoção e sensibi- trevistados a respeito das atividades consumo, (...) eu procuro trabalhar
lidade das pessoas em um primeiro educativas desenvolvidas em seu a questão econômica, social. (...)
momento. (...) Aí a pessoa se abre e sítio foi exemplar: Então, a questão ambiental não é
se despoja daquela couraça do dia- Eu dividia as atividades (...) em só falar da Floresta Amazônica, o
a-dia e dos problemas do dia-a-dia grupos de 20 crianças, eram no má- lixo na praia, (...) você tem que es-
(...) começa a falar dela, falar das ximo 100 crianças – 5 grupos, e nós tar discutindo com eles os impactos
relações, do trabalho, da casa, de fazíamos brincadeiras o dia inteiro. que os seres humanos causam, (...)
tudo. E aí, você tem um aliado do (...) Então, é deixar as crianças em o quanto a sociedade tem que parti-
seu lado para fazer mudanças. [Bel contato com a natureza para fazer cipar! (...) Não adianta você traba-
– graduada em Pedagogia] as crianças perderem o medo. (...) lhar Ecologia, Educação Ambien-
Atividades educativas que bus- A pessoa chega lá no sítio e a pri- tal e tudo mais o que você quiser,
cavam promover a integração das meira coisa que me pergunta é se se você não estabelecer as relações
pessoas à natureza também pode- tem cobra. Eu falo que tá cheio, mas humanas. Se você não trabalhar a
riam ser utilizadas dentro dessa também tá cheio de tatu, tá cheio de Ecologia Interior... Eles [os estudan-
perspectiva, sendo a natureza re- lagarto, tem bugio... Daí eles per- tes] não sabem o que é valor. Valor
presentada como aquela que pode- guntam: “o que tem a ver o lagarto é aquilo que você valoriza. Mas que
ria proporcionar uma experiência com a cobra?” [O educador respon- valores permeiam o ser humano?
única aos indivíduos, despertando de] “é que o lagarto come as cobras Eu me baseio nos 5 valores que o
suas emoções e desencadeando no- e elas diminuem de número aqui Instituto Sri Sathya Sai vem de-
4

vas formas de ver e se relacionar no sítio”. Aí você começa a explicar senvolvendo no mundo: o Amor, a
com o mundo. sobre cadeia alimentar, equilíbrio Ação Correta (retidão), a Verdade,
Essas práticas também auxilia- ecológico... (...). [Luís – graduado a Não Violência e a Paz. Baseados
riam na consecução de um outro em Administração de Empresas e nesses valores nós levantamos [com
objetivo, qual seja, promover a va- Economia] os estudantes] os valores relacio-
lorização e a proteção da natureza Esse duplo enfoque é comu- nados (...). E aí eu transfiro esses
(e das Unidades de Conservação) mente adotado por várias Unidades valores todos – por exemplo, a dig-
por meio do fortalecimento de vín- de Conservação brasileiras e inter- nidade, a formação de caráter, que
culos afetivos. nacionais, e pelos chamados Field permeia todos esses valores – para
O que diferencia as atividades Study Centres, unidades de apoio à o meio ambiente, para qualquer si-
educativas desse tipo em relação educação escolar destinadas à rea- tuação. (...) Nós fazemos um traba-
a outras atividades realizadas em lização de trabalhos de campo, cria- lho em grupo pra eles colocarem na

4. É uma instituição com representação em vários países que tem por objetivo divulgar o programa de Educação em Valores Humanos criado pelo indiano Sri Sathya

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vida prática, baseados em estórias, da condição deles e a ter uma res- prevenção de situações-problema
como eles poderiam estar aplican- ponsabilidade também a respeito que, sob a inspiração da Agenda
do aqueles ensinamentos. (...) [Rosa do que estão fazendo, porque estão 21 ou da máxima “agir localmente
– graduada em Biologia] fazendo; passando a “coisa” de eles – pensar globalmente”, buscavam
Entre as práticas que poderiam serem cidadãos que possuem direi- despertar ações na comunidade no
ser identificadas a meio termo dos tos e deveres sociais, e a responsabi- sentido do fortalecimento de sua
dois pólos da gradação anterior- lidade da escolha do caminho. [Cely autonomia, do desenvolvimento
mente citada, estavam aquelas que – graduada em Fonoaudiologia] do senso de pertencimento e do
trabalhavam no sentido da inclusão A gente tá criando um Núcleo de cuidado com o local, para que ela
social por meio do restabelecimento Educação Ambiental dentro da tomasse mais iniciativas em seu be-
dos elos sociais, do resgate da auto- comunidade [do Jardim Santo nefício e se tornasse menos depen-
estima e da capacitação de pessoas André/SP]. (...) A idéia é criar um dente da ação governamental.
para determinados tipos de ofício. espaço de referência pras questões Todo mundo espera que a Prefeitu-
Um dos grandes diferenciais desses ambientais dentro da comunidade ra e o Estado façam tudo. (...) Então
tipos de trabalho de Educação Am- e que esse espaço funcione através nós vamos conversar com essas pes-
biental em relação a outros projetos da mobilização das pessoas que tra- soas, principalmente resgatando a
de capacitação e geração de renda balham com artesanatos diversos cidadania e o cuidar do local, quer
residia no processo pedagógico que e expressões culturais que o lugar dizer: Agenda 21 - pensar global
valorizava a Educação Crítica, pro- tem. (...) Então, que esse Núcleo [de e agir local. Então a gente bate
movendo uma reflexão problema- EA] tenha condição de manter pelo em cima disso: “você mora numa
tizadora a respeito da realidade e menos um curso de capacitação por aldeia lá no meio do mato? Pra
das possíveis formas de superação mês, cursos que tenham a intenção onde vão os plásticos, as garrafas,
de determinados problemas. de gerar renda (...). Acreditando o lixo? Onde vocês põem isso? Vocês
Os seguintes depoimentos tra- que é uma população que tem um não cuidam disso? Vamos cuidar!”
tavam dessa perspectiva: potencial artístico fantástico (...) e Então você vai puxando por isso...
Quando a gente foi para o parque que se estiver produzindo música, se e [vai] tirar o papel do Estado, do
[do Ibirapuera] a gente começou a estiver produzindo arte, não está na Município (...). Nós que temos que
ver que (...) havia várias pessoas em marginalidade, não está na droga, cuidar do nosso espaço, se a gente
situação de risco social. (...) Eles não não está no subemprego, não está não cuidar, ninguém vai cuidar.
estavam inseridos no ensino funda- fazendo qualquer coisa para ti- [Luís – graduado em Administra-
mental, não estavam inseridos no rar um trocado, que é a realidade ção de Empresas e Economia]
mercado de trabalho e muito pouco naquela comunidade... (...) Acre- (...) Eu sinto que a Educação é isso
preparados para qualquer coisa. A ditando nessa potencialidade, com mesmo: uma possibilidade de você
gente começou a achar que a inclu- isso, a gente consegue tirar uma agir de uma forma diferente. Por
são destes jovens só poderia ser feita parte desses adolescentes, desses jo- isso que eu digo que deveria ser pela
através do trabalho, (...) aí a gente vens. E também, ao mesmo tempo, ação, de ir construir ações com a co-
acabou sugerindo e transformando está se criando uma consciência de munidade... “como é que a gente
uma oficina experimental [de jardi- “que lugar é esse que a gente vive? modifica isso? Vamos só depender
nagem] em um projeto de capacita- Como é que a gente vive aqui em do governo?”. (...) A nossa intenção
ção profissional que se chama “Crer- cima da área de manancial? Como é fortalecer a ação comunitária pra
Ser Germinando a Cidadania”. E é que a gente vive num lugar que que eles melhorem a qualidade de
deu super certo! Na 1 turma, de
a antes era uma mata importante vida deles através dessas pequenas
1996, todos eles acabaram voltando para a cidade e agora o está tudo ações. É transformar mesmo, forta-
para escola ou para grupos de alfa- ocupado? Como o córrego em que lecê-los como cidadãos (...). [Edna
betização porque ocorreu a “necessi- há 15 anos se pescava, hoje é um – graduada em Filosofia]
dade sentida”. (...) A gente trabalha canal de esgoto? O que é a gente Em relação ao trabalho com co-
muito as questões de cidadania, mas pode mudar? Politicamente, quem munidades de baixa renda, três de-
mais do que isso, as questões emo- a gente pode estar elegendo? Como é poentes fizeram relatos a respeito
cionais, sociais... A reflexão sobre as que a gente pode estar lidando com de como achavam que os projetos
condições de vida deles faz parte do essas coisas?” [Théo – graduado em de Educação Ambiental deveriam
projeto de trabalho, a gente discu- Administração de Empresas] ser conduzidos idealmente. Nesse
te temas atuais, procura levá-los a Existiam, também, práticas caso, foi interessante observar que
pensar, a ter uma crítica em cima orientadas para a resolução ou esses(as) educadores(as) trabalha-

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vam em órgãos governamentais ou miséria... essas pessoas que perce- nio histórico, transporte público,
em parceria com eles. bem isso e, que fazem essa curva ao trânsito... (...) Tinha também possi-
No primeiro discurso, a tônica despertar, elas passam a ficar revol- bilidade de trabalhos com poluição
recaiu sobre a auto-sustentabili- tadas, elas querem mudanças. Elas da água, poluição sonora, poluição
dade. A idéia era promover a ge- têm instrumentos de mudanças! atmosférica, áreas verdes, praças,
ração de renda por meio da utiliza- [Théo – graduado em Administra- cultura e lazer, área esportiva,
ção de recursos naturais locais e ao ção de Empresas] lixo... (...) Outra publicação [abor-
mesmo tempo garantir a conserva- [O trabalho de Educação Ambien- dava] que tipo de instrumentos eles
ção ambiental: tal deve] buscar coisas que eles poderiam desenvolver pra se tornar
[A Educação Ambiental poderia ser [membros da comunidade] possam um grupo de ação, pra que eles se
trabalhada de forma a] promover fazer... Trabalhar a organização da tornassem uma pequena ONG am-
alguma coisa assim... de auto-sus- comunidade pra que ela possa se bientalista. (...) Por exemplo, uma
tentabilidade na região. (...) Nós autogerir, se auto-organizar e dis- pesquisa de opinião pública, um
vamos trabalhar com plantas me- cutir, exigir o que lhe é de direito. Se abaixo-assinado... [A publicação]
dicinais e confecção de travesseiros, você vai trabalhar na EA a forma- ensinava como escrever artigos para
sachês, (...) agricultura orgânica ção das pessoas, de grupos ou indi- um jornal local, como entrar em
também. Eu acho que é a caracte- víduos, como você não vai trabalhar contato com o poder público, como
rística da região. [Rita – graduada a organização, a participação, o se identificar colaboradores locais da
em História] autogerir, o assumir o projeto, saber comunidade pra ajudá-los na ta-
Os outros dois discursos en- o que eles querem? [Malu – gradu- refa, [havia] fichas de observação
fatizaram aspectos da Educação ada em Biologia] do problema, pra entender melhor
Crítica como a abordagem polí- Vários(as) entrevistados(as) o problema e intervir. (...) Depois
tica, o empowerment do grupo e a também disseram que trabalha- tinha uma [outra] publicação com
compreensão da complexidade da vam com palestras, realização de textos sobre os principais problemas
problemática socioambiental. Os campanhas educativas, cursos de ambientais da cidade (...) e o que
seguintes trechos são exemplares: extensão e elaboração de materiais toda essa proposta tinha a ver com
O projeto [de EA] tem que levan- de apoio à EA. cidadania. (...) Apesar de o projeto
tar problemas ambientais, sociais e Um educador proveniente de ser urbano sempre tinha ligações
estruturais, discutir e buscar solu- uma ONG ambientalista de grande com o ambiente natural. (...) Na
ções. Buscar caminhos a se seguir. porte relatou um trabalho desen- verdade a educação ambiental ensi-
O projeto tem que despertar um volvido em apoio à educação esco- na isso: que os elementos do sistema
inconformismo, tem que despertar lar que focalizava situações-proble- ambiental não estão isolados, en-
uma mobilização política, ele tem ma e estimulava a mobilização da tão, quando se intervém numa coi-
que mostrar como é que as políticas comunidade: sa deve-se considerar a relação com
públicas funcionam, como é que [Tratava-se de] um projeto de edu- o todo. (...) Muitas vezes os projetos
as coisas acontecem politicamente, cação ambiental que tinha por dos grupos tornavam-se projeto da
administrativamente, nos órgãos objetivo trabalhar com 300 escolas escola (...) até um projeto comuni-
públicos. O projeto tem que mos- [públicas e privadas, de várias cida- tário. Aliás essa era uma diretriz
trar funcionamentos diferentes, lo- des], formar grupos de jovens den- também, construir um caminho de
cais que são espaços parecidos, mas tro dessas escolas para que pudes- colaboração, um trabalho conjunto
que funcionam de outra maneira. sem intervir perante os problemas com a comunidade do entorno. (...)
Ele tem que gerar mobilização em ambientais. (...) O trabalho, num [Caio – graduado em Engenharia
todos os segmentos (...) para estar primeiro momento, foi o de formar Agronômica]
mudando valores, mudando con- um material de apoio pro projeto, Uma professora falou a respei-
cepções, cobrando e sabendo cobrar. que acabou virando um kit didático to de um trabalho desenvolvido
Cobrando! Para estar exigindo mu- com 5 publicações, com o objetivo de na Educação Infantil que também
danças, exigindo melhorias na qua- dar sugestões e idéias sobre o que abordava situações-problema:
lidade de vida. (...) Eu acho que a os grupos poderiam fazer com os O pré [pré-escola] trabalha com
educação ambiental tem que estar vários problemas ambientais que Educação Global. Com a visão de
fazendo as pessoas perceberem que eles pudessem encontrar, principal- mundo: futuro provável X futuro
existe uma péssima distribuição de mente no meio ambiente urbano. preferível. Eles [estudantes] tra-
renda e que existe essa estrutura Tinha vários problemas que eram zem recortes dos acontecimentos
de ilhas de capital e de desertos de abordados, por exemplo, patrimô- ruins que estão acontecendo (...)

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depois eles trazem fotos das coisas 2002) e Pelicioni MCF (2004), tor- A ênfase na mudança de com-
bonitas. Então, estão os dois lados na-se fundamental a explicitação portamento individual ofusca a di-
ali – coisas ruins e coisas bonitas. da ideologia que está por trás das mensão política das questões socio-
Como fazer a ligação? (...) A gente práticas educativas, a fim de que se ambientais e, como ressalta a ver-
vai buscar as soluções! E a partir do possa identificar e planejar o tipo tente ambientalista ecossocialista,
momento em que elas constróem o de EA que se pretende fazer, bem contribui para o prolongamento do
futuro preferível, elas estão traba- como a situação ou o ideal que se status quo e para o atraso nas trans-
lhando possibilidades. (...) Isso é almeja alcançar. formações estruturais necessárias.
que é importante! É a ligação, com Este é um exercício importante Portanto, é preciso que se realizem,
sugestões simples de crianças de 3 a não só para o(a) educador(a) am- concomitantemente, mudanças in-
6 anos! Então elas constróem! [Rosa biental, mas para todo o grupo en- dividuais e estruturais.
– graduada em Biologia] volvido no processo pedagógico. A crença na divulgação de in-
Há que se ter clareza dos valores, formações (por meio de palestras,
Discussão crenças, conceitos e objetivos que cartilhas, campanhas, entre outras)
estão por trás das ações a serem de- como principal estratégia a ser uti-
O predomínio de representações senvolvidas, a fim de que se possa lizada na EA também merece algu-
sociais que espelham o ideário da buscar coerência, adequar a forma mas considerações. É certo que as
Educação Conservacionista mostra de abordagem, a metodologia, en- informações, além de serem parâ-
a forte influência dessa abordagem tre outros aspectos. Há que se fazer metros para a tomada de decisões,
no Brasil e explicita as dificuldades questionamentos do tipo: quais os constituem fonte de poder, daí a
de vários(as) educadores(as) em objetivos do projeto educativo? importância de disponibilizá-las
perceber que a Educação Conser- Qual a situação ou o ideal a ser para toda a sociedade, de modo a
vacionista constitui apenas uma alcançado? Participação comuni- possibilitar a participação democrá-
pequena parte da Educação Am- tária? Inclusão social? Preservação tica de todos os seus membros.
biental (Pelicioni, 2002, 2004). ambiental? Desenvolvimento Sus- Porém, a confiança no fato de
É interessante observar tam- tentável? Qualidade de Vida? Qual que as pessoas, a partir do simples
bém que em vários discursos a res- a abordagem pedagógica mais ade- acesso a informações, possam re-
peito da Educação Ambiental não quada? O que pode ser desenvolvi- solver os problemas socioambien-
se mencionava o objetivo final do do a curto, médio e longo prazos? tais que as afligem, desconsidera
processo educativo, ou seja, o ideal Reflexões e discussões dessa os limites impostos pelas estruturas
a ser alcançado e que, em última natureza poderão prover valiosas da sociedade e demonstra uma fé
análise, justificaria a própria exis- oportunidades de se aprimorar a exacerbada na racionalidade, capa-
tência da Educação Ambiental. construção do futuro, concebendo cidade de envolvimento e coerên-
Essa situação é semelhante ao e planejando propostas democráti- cia dos seres humanos. Conforme
que ocorre na prática, quando, em cas e de maior alcance. indicam Green e Kreuter (1991) as
muitos projetos o objetivo final não Outro aspecto que merece práticas individuais dependem de
é explicitado, tampouco discutido e destaque em relação ao discursos uma conjunção de fatores, a saber:
acordado entre os participantes. Isso dos(as) educadores(as) referia-se fatores que predispõem (por exem-
acaba comprometendo a qualidade ao objetivo de mudar comporta- plo, os conhecimentos, as atitudes/
dos trabalhos por gerar processos mentos individuais como se isso valores), fatores que possibilitam (p.
que parecem não ter uma intencio- fosse suficiente para engendrar as ex., as habilidades, a estrutura exis-
nalidade explícita e, assim, acabam profundas transformações necessá- tente) e fatores que reforçam (p. ex.,
ficando encerrados neles próprios. rias e reverter a grave situação em a valorização ou recriminação de
Partindo do pressuposto de que que a humanidade se encontra. outras pessoas em relação a deter-
não existe educação neutra e que, Essa recorrência não causa estra- minadas condutas).
portanto, toda prática pedagógica nhamento tendo em vista o fato de Alguns sujeitos da pesquisa
traduz um posicionamento ideoló- que também é a abordagem prefe- atribuíam à Educação, em geral,
gico a respeito do papel da educação rencial de documentos oficiais da ou à Educação Ambiental, em par-
face à realidade social que se tem e área ambiental, da mídia e de um ticular, a responsabilidade principal
que se quer ter, conforme ressaltam número expressivo de publicações, pela reversão da problemática so-
vários autores como Freire (1987); que ecoam as idéias de quem os pa- cioambiental ou pela transforma-
Brandão (1995); Fien (1995); Rei- trocina e não têm interesse em pro- ção social, esses discursos espelha-
gota (1999); Pelicioni AF (1998, vocar mudanças significativas. vam um tipo de representação que,

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segundo Brandão (1995), pode crática mais humana. Educar no deixam de lado o jogo de interesses
ser chamado de “utopismo peda- caminho da cidadania responsável e a lógica capitalista que determina
gógico”. Em contraposição a essa exige também novas estratégias de a inserção diferenciada das pessoas
representação, o autor explica que fortalecimento da consciência críti- e dos países no sistema produtivo,
existe uma relação dialética entre ca, a fim de habilitar os grupos de entre outras razões fundamentais
a Educação e as estruturas sociais, pressão para uma ação social com- de ordem político-econômica.
de modo que a Educação ao mes- prometida com a reforma do siste- Quanto à realização de ativi-
mo tempo em que as influencia, é ma social (p.349). dades educativas mais voltadas à
também influenciada por elas, o Assim, pode-se perceber a im- sensibilização e/ou à construção
que limita o seu poder de engen- portância da abordagem crítica da de conhecimentos a respeito dos
drar mudanças no status quo. Educação, e, em especial, da Edu- sistemas naturais e dos problemas
Em relação às práticas de Edu- cação Ambiental, a qual poderá socioambientais, é preciso que tam-
cação Ambiental que procuram contribuir para a conformação de bém sejam estimuladas discussões
diminuir a responsabilização do um projeto social mais justo, de- e a participação dos educandos na
poder público quanto à resolução mocrático e igualitário, em bases concepção de soluções possíveis
dos problemas, passíveis de serem sustentáveis. para esses problemas e, se plausível,
solucionados ou minimizados em No que se refere à estratégia de o próprio envolvimento dos mes-
âmbito local, é preciso ter em men- resolução de problemas ambientais mos, de acordo com suas capacida-
te que, se por um lado, essas práti- locais, como metodologia da Edu- des, no esforço de enfrentamento
cas são importantes por estimular cação Ambiental, é recomendável dos problemas abordados.
a atuação cidadã, a participação, que o problema local seja traba- Com isso, não se pretende inva-
o fortalecimento comunitário, o lhado como um tema-gerador, de lidar propostas que desenvolvam
exercício e o aprimoramento de modo que sua abordagem permi- a sensibilidade ou a interpretação
sua capacidade de busca, principal- ta extrapolar a análise dos fato- ambiental – por exemplo, aque-
mente, diante das lacunas deixadas res diretamente envolvidos com las realizadas em contato com a
pelo Estado, por outro lado, faz-se problema em foco, contribuindo natureza –, ou mesmo os Estudos
necessário lembrar que a mobili- para um nível mais complexo de do Meio, pois essas ações também
zação local deve ocorrer também compreensão. O problema do lixo, contribuem para o desenvolvimen-
para provocar a responsabilidade por exemplo, deve ser abordado e to humano, para a construção de
do poder público, com vistas à re- enfrentado considerando-se toda novos conhecimentos, promovem
solução conjunta das situações em a sua complexidade, desde o trinô- o bem-estar individual, aprimoram
foco. Nesse sentido, a comunidade mio produção-distribuição-con- o senso estético, facilitam a intera-
não deve atuar em substituição às sumo de produtos até os valores ção grupal e a cooperação, e trazem
responsabilidades públicas, pois subjetivos que permeiam o imagi- outros benefícios para as pessoas.
essas significam a evolução da pró- nário dos membros da sociedade de Contudo, deve-se chamar a aten-
pria sociedade, mas deve procurar consumo, o papel da mídia, entre ção dos(as) educadores(as) para a
a realização de ações em parceria, outros fatores que sustentam o sis- necessidade de que essas atividades
o que também significa exercer a tema capitalista. também contribuam para promover
cidadania, além de contribuir para Raciocínio análogo deve ser fei- uma visão ampla da problemática
a transparência da coisa pública. to em relação a problemas socio- socioambiental, que não fiquem en-
As palavras de Pelicioni e Phi- ambientais de maiores dimensões, cerradas nelas mesmas, mantendo
lippi Jr (2002) são emblemáticas a porém menos abordados nos pro- perspectivas confinadas a objetivos
esse respeito: jetos educativos como a pobreza e a imediatistas, restritos ao âmbito do
A educação voltada para a forma- fome no Brasil e no mundo. Nesse indivíduo ou do grupo que partici-
ção e exercício da cidadania pressu- sentido, a Educação Ambiental de- pou da atividade, e que tampouco
põe valores individuais e coletivos verá contribuir para desconstruir o promovam uma visão acusatória
que devam conduzir a uma nova senso comum e desmascarar men- de um “homem destruidor da na-
ética global e à defesa da vida, mas sagens simplistas que atribuem as tureza”, destituído de qualificações
pressupõe também, a criação e im- causas desses problemas ao cresci- maiores e pertencente a uma huma-
plementação de políticas públicas mento populacional, à insuficiência nidade portadora de possibilidades e
que possam garantir o atendimen- da oferta de alimentos, ao desperdí- interesses homogêneos.
to das necessidades coletivas para a cio ou à incompetência das pessoas Enfim, as práticas sociais em
construção de uma sociedade demo- e do governo, e que, ardilosamente, Educação Ambiental não devem

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AMBIENTALISMO E EDUCAÇÃO AMBIENTAL: DOS DISCURSOS ÀS PRÁTICAS SOCIAIS

mascarar a dimensão política da Nesse sentido, a Educação Am- a constituição de sociedades sus-
problemática, sob pena de estarem biental poderá ser um dos elemen- tentáveis não dependem somente
contribuindo para o seu agrava- tos contribuintes do processo, não da construção de conhecimentos
mento. Assim, dever-se-á traba- apenas promovendo o desvelamen- e do desenvolvimento da visão
lhar privilegiando as propostas da to dos fatores políticos, econômi- crítica da coletividade a respeito
Educação Crítica uma vez que ela cos, sociais, culturais, entre outros, da situação vigente; da organiza-
traz à tona a dimensão política das responsáveis pela conformação da ção comunitária e do encaminha-
questões e ajuda os educando a de- realidade atual, ou capacitando o mento de ações para a prevenção
senvolver o empowerment para atu- educando para a realização da vida e resolução de problemas locais;
ar ativamente na sua vida social. social em níveis condizentes com a da percepção da organicidade do
Em médio e longo prazos, o sis- capacidade de suporte do planeta, mundo como preconiza a ver-
tema de produção capitalista, que ou estimulando o desenvolvimento tente gaianista; da atuação com-
atingiu expansão sem precedentes pleno do indivíduo que configura petente dos(as) educadores(as);
e vem se mostrando cada vez mais a essência da Educação, mas deve- da superação das dificuldades
insustentável em termos sociais, rá, sobretudo, desencadear ações enfrentadas na realização de Pro-
ecológicos e econômicos por se e soluções voltadas à eqüidade e jetos de Educação Ambiental ou
pautar pela lógica da valorização à melhoria da qualidade de vida de medidas de proteção ambien-
máxima do capital – em um cená- da coletividade, porque esse é o tal de cunho tecnocêntrico; mas
rio marcado pela presença de fortes maior desafio que se apresenta à dependem, sobretudo, de trans-
corporações transnacionais e incrí- sociedade contemporânea, e que a formações concomitantes em três
vel mobilidade de grandes massas Educação, enquanto prática social, esferas na vida social: na esfera da
de capitais, que não sofrem restri- deve responder. subjetividade individual, ou seja,
ções –, deverá, necessariamente, na forma de pensar e sentir, na
ser reavaliado com vistas à consti- Conclusão esfera microssocial do relaciona-
tuição de um sistema sustentável mento interpessoal, ou seja, nas
que caberá a nós discutir, delinear É preciso ressaltar que o en- práticas cotidianas e na esfera da
e construir. frentamento da problemática e ação política.

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Recebido em 10 de maio de 2006


Aprovado em 12 de junho de 2006

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