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FOLHA DL S.PAULO
k
COZINHA PAÍS A PAÍS
FOLHA DE S.PAUL0
DIREÇÃO EDITORIAL
EDIÇÃO E COORDENAÇÃO
Marta Tordesillas
© DOS TEXTOS
CONSULTORIA TÉCNICA
EDIÇÃO DE ARTE
Uma definição objetiva do vinho é: produto que resulta da fermentação alcoólica de uvas
maduras. Outras frutas podem ser fermentadas e produzir bebidas alcoólicas, mas não
podem ser chamadas de vinho. Essa fermentação ocorre naturalmente por meio da ação
de leveduras que existem na casca da uva e que atuam sobre o açúcar, transformando-o em
álcool e produzindo gás carbônico (que em geral é descartado). O homem atua nesse pro-
cesso em diversos momentos, escolhendo os tipos de uva, utilizando leveduras selecionadas,
controlando a temperatura durante a fermentação e aplicando técnicas de forma a buscar
determinado resultado. A condução desse processo é feita pelo enólogo, profissional que
z detém os conhecimentos necessários para correlacionar as intervenções com o resultado
desejado. O vinho, porém, é mais do que isso. Ele traz em si aspectos culturais, costumes, Falar sobre qualidade é falar sobre expectativas
valores e, sobretudo, a idéia de que cada garrafa é única, o que faz com que tenhamos sem- e desejos que, uma vez correspondidos, inde-
pre uma expectativa a cada nova garrafa que abrimos. pendente de pontuação, preço e gkmour, darão
prazer a quem bebe. O melhor vinho é aquele
que podemos comprar, apreciar e compartilhar,
Seus componentes e que nos delicia. Em cada faixa de preço, é pos-
sível identificar os vinhos que nos agradam, que
Uma série de novos componentes surge durante o processo de transformação de açúcar em vão ao encontro de nosso paladar e que combinam
álcool. O maior componente do vinho é a água, que corresponde a pelo menos 7o% do seu com as comidas que apreciamos. Compreender
volume total. Outros elementos importantes são os açúcares, os diversos tipos de álcool, isso nos liberta de preconceitos e regras rígidas e
principalmente o etílico, que responde por 5% a 22% do volume total, os ácidos, os taninos, permite que possamos ousar e experimentar, enri-
os sais, os aldeídos e os ésteres, que desempenham papel fundamental na formação dos quecendo nossa experiência sensorial.
aromas do vinho.
O vinho honesto começa no vinhedo, onde o
Louis Pasteur afirmou que o vinho é a mais higiênica das bebidas e que, por suas caracterís- produtor escolhe, criteriosamente, que tipo de
ticas anti-sépticas, inibe o crescimento de bactérias durante o processo de fermentação. uva plantar e em que solo, a quantidade de pés
de videiras por hectare e a forma da colheita, se vai
A comunidade científica vem estudando o vinho de forma a entender seus efeitos na saúde utilizar ou não madeira para amadurecimento e
do homem. Já foi comprovado que o vinho possui elementos antioxidantes e anticoagulantes por quanto tempo. A concentração da uva é muito
que atuam de modo bastante benéfico no sistema cardiovascular. E é senso comum que o importante para que o resultado seja um vinho
vinho, em doses diárias e moderadas, é excelente para a saúde e importante fator na longe- com riqueza aromática, equilíbrio e estrutura para
vidade de quem o aprecia. evolução após o engarrafamento.
Defeitos do vinho
Há também as uvas americanas, usadas para sucos, aguardentes e vinhos de garrafão. Elas
são da espécie Vitis labrusca ou híbridas. Essas uvas, geralmente, produzem um vinho com
aroma de pele de animal, bastante desagradável.
O vinho tinto
12 O vinho pode ser classificado segundo três critérios básicos: O vinho tinto é produto da fermentação de uvas tintas. Como exemplo, podemos citar as
cor, presença de gás carbônico (CO2) ou não e quantidade cepas cabernet sauvignon, merlot, pinot noir, cabernet frcrnc, syrah, tann.at, malbec, zinfandel,
de açúcar. sangiovese, touriga nacional, tenrpranillo, dentre muitas outras.
Quando um vinho apresenta gás carbônico em grande quan- Como os pigmentos e os taninos estão presentes nas cascas, é fundamental que elas per-
tidade, é chamado de espumante. Se a presença é discreta, maneçam em contato com o mosto (o sumo de uvas frescas antes da fermentação) durante
dizemos que se trata de um frisante e, se não há indícios todo o processo de fermentação. O enólogo pode interferir no processo, aumentando ou
de gás carbônico, chamamos o vinho de tranqüilo. Já a clas- diminuindo o tempo de contato, de acordo com o resultado desejado. Os vinhos de maior
sificação quanto à doçura, varia de acordo com a legislação estrutura e, conseqüentemente, maior potencial de guarda são vinificados através do
de cada país, mas, como regra geral, ele vai do seco (açúcar maior contato entre as cascas e o mosto. Durante a fermentação, as partes sólidas se aglo-
residual até 5 gramas por litro), passando pelo suave e pelo meram formando o "chapéu" (impurezas que flutuam na superfície do mosto). Para que
semi-seco, até chegar ao doce, com pelo menos 50 gramas o mosto adquira os aromas, os pigmentos e os taninos do "chapéu', faz-se a remontagem,
de açúcar por litro em sua composição. Quanto à cor, é que consiste no bombeamento do mosto para a parte superior do "chapéu', intensificando
classificado como branco, tinto ou rosé. É claro que pode seu contato com as cascas.
apresentar ainda uma extensa gama de matizes, mas elas
só são levadas em consideração quando fazemos sua análise Quando a fermentação vai até o fim, praticamente todo o açúcar é convertido em álcool,
visual no momento da degustação. restando um açúcar residual muito baixo, processo que caracteriza o vinho tinto seco.
Um vinho pode ser feito com um tipo de uva apenas. Nesse Outra etapa importante é a fermentação malolática, na qual o ácido málico, que é muito
caso, é um varietal. Cada país determina o percentual forte e agressivo, é transformado em ácido lático, mais fraco e suave. Processos opcionais
mínimo necessário para que um vinho seja considerado para tornar o vinho mais límpido - como decantação, colagem (aglomeração de resíduos)
um varietal, de modo a poder apresentar o nome da uva no e filtragem são realizados conforme os objetivos do enólogo. No caso da colagem, são
rótulo. Quando ele é composto por mais de um tipo de uva, utilizados elementos aglomerantes como clara de ovo e gelatina, produtos que agregam par-
temos o chamado vinho de corte ou assembiage. tículas leves, formando grupos mais pesados que se depositam no fundo dos tanques.
Com o vinho pronto, o enólogo decide se ele estagiará em Nos vinhos brancos, normalmente, evita-se a fermentação malolática, pois a acidez é uma
madeira ou não. A madeira mais utilizada é o carvalho, que característica desejável e importante para o equilíbrio com o álcool. Em alguns casos, apenas
impregna o vinho de diversos aromas como baunilha, café, parte do vinho é submetida à fermentação malolática. Assim como os tintos, os brancos
caramelo, pão tostado e muitos outros, além de transferir- podem estagiar em madeira, mas, em geral, por menos tempo, para que não fiquem muito
lhe taninos e permitir um aporte de oxigênio, amaciando-o pesados e com gosto excessivamente lácteo.
e tornando-o mais aveludado. Essa escolha, de fato, é feita
na concepção do vinho, na seleção das uvas que influenciam
em sua estrutura e em sua capacidade de reagir, ganhando O vinho rosé
qualidade no contato com a madeira. O termo correto para
descrever esse estágio é amadurecimento. Os vinhos rosés de qualidade não são produtos da mistura de vinhos brancos e tintos! Pelo
contrário, na Comunidade Européia, essa prática é proibida para os vinhos com denomi-
Com temporada em barricas de madeira ou não, depois de nações de origem controlada. Ele é feito a partir de uvas tintas, só que as cascas ficam em
engarrafados, os vinhos descansam por algum tempo nas caves, contato com o mosto por menos tempo, apenas o suficiente para que se obtenha a coloração
em temperatura controlada, para que se estabilizem e cheguem desejada. A partir daí, as cascas são retiradas e o processo continua, bem semelhante ao da
ao mercado prontos para o consumo. O tempo médio é de seis vinificação do branco. O vinho rosé é, quase sempre, dotado de boa acidez e frescor, portanto,
meses, mas pode chegar a três anos em alguns casos. não deve estagiar em madeira. É um vinho muito versátil na gastronomia, acompanhando
adequadamente peixes, aves, carnes com pouca gordura e massas com molhos leves. No
Brasil, há certo preconceito em relação aos rosés, mas em países de tradição vinícola, como
O vinho branco França, Portugal e Espanha, eles são muito apreciados, principalmente no verão, pelo fato
de serem consumidos em baixas temperaturas. A propósito, a palavra rosé é francesa, mas o
A produção do vinho branco requer alguns cuidados adi- termo é empregado mundialmente, sem tradução. No Brasil, podemos chamá-los também
cionais, principalmente no controle da temperatura de de vinhos rosados.
fermentação, para que seus aromas e frescor sejam eviden-
ciados. Ele, normalmente, é feito com uvas brancas (blcrnc
de bknc), mas também pode ser feito com uvas tintas (b!aw de J vinho doce
noir). Nesse caso, as cascas são retiradas do contato com o
mosto para que não ocorra a transferência dos pigmentos O vinho doce é especial e desperta paixões pela sua estrutura, aroma, capacidade de enve-
para o vinho. lhecimento e possibilidade de harmonização com alimentos doces, picantes e até mesmo
gordurosos, como é o caso do foie gras, que combina perfeitamente com o vinho Sauternes.
Como exemplo de uvas brancas temos chardonnay, sauvig- Seja de que maneira for, o vinho doce segue, em linhas gerais, o processo de vinificação dos
non blanc, sémiflon, moscato, gewurztraminer, riesling, pro- outros tipos de vinho, com um detalhe importante: nem todo o açúcar presente nas uvas
secco, pinot blanc, pinot gris, arinto, alvarinho e viognier. No é transformado em álcool pelas leveduras. Tomemos o exemplo do vinho do Porto, cuja
que se refere a grau de acidez, aromaticidade, estrutura e fermentação é interrompida pela adição de aguardente de vinho ao mosto, matando as leve-
cor, cada uva possui características próprias. duras e, conseqüentemente, paralisando a fermentação. Como resultado, temos um vinho
doce com um teor elevado de álcool, próximo dos 22%. O produz-se o vinho tranqüilo (primeira fermentação); depois, efetua-se o corte (assembiage);
Marsala (Itália), o Madeira (Portugal) e o Jerez (Espanha) em seguida, engarrafa-se o vinho e, finalmente, realiza-se uma segunda fermentação, dentro
também passam por processos semelhantes, com a dife- da garrafa, utilizando-se uma mistura de açúcar e leveduras (liqueur de tirage). A garrafa deve
rença de que todos eles recebem a classificação de vinhos ser capaz de resistir à alta pressão, pois as leveduras converterão o açúcar em álcool e pro-
fortificados. Outro método consiste na utilização de uvas duzirão gás carbônico, que ficará retido na garrafa. Ao final, teremos um vinho espumante,
com tal teor de açúcar que as leveduras não conseguem levar porém turvo, porque as leveduras mortas formam borras no fundo da garrafa. Para resolver
a cabo todo o processo de conversão do açúcar em álcool. É esse problema, uma das principais produtoras de champagws, a Mme Cliquot, desenvolveu
o caso dos doces naturais, como os vinhos de colheita tardia um método chamado remuage, por meio do qual as garrafas são colocadas em pupitres, ini-
(late han'est), em que o produtor atrasa a colheita até o final cialmente deitadas. Durante três semanas, as garrafas devem ser giradas levemente e incli-
da primavera, deixando a uva, praticamente, se transformar nadas de forma a conduzir as borras na direção do gargalo. Ao final do processo, as garrafas
em passa na videira. Os Sauternes enquadram-se nessa estarão de cabeça para baixo, com todo o depósito localizado no gargalo, que será colocado
categoria. A região da França onde são produzidos (e que sob uma solução salina em baixíssima temperatura. Uma vez congelado, a simples retirada
dá o nome ao vinho) possui um microclima que propicia o da tampa provocará a expulsão do depósito, deixando o espumante naturalmente límpido.
surgimento de um fungo (Botritis cinerea) que interrompe a
passagem de nutrientes para a uva, provocando o que cha- No caso de outro método, o charmat, a segunda fermentação se dá em tanques de alta pres-
mamos de 'podridão nobre". Outra forma de concentrar o são, chamados de autoclaves. Esse processo é mais simples, pois a retirada do depósito é
açúcar nas uvas é colocá-las para secar em esteiras logo após feita pelo processo de filtragem.
a colheita e antes da vinificação. E o caso do Recioto dela
Valpolicelia e do Passito de Panteleria, ambos italianos. Qualquer vinho que, ao ser servido, apresente borbulhas é chamado de espumante, portan-
to todo chanrpagne é um espumante, mas a recíproca não é verdadeira! Charnpagne é uma
marca registrada que só pode ser usada por produtores da região de Champagne, na França,
O vinho espumante que estejam dispostos a obedecer a regras rígidas de produção, de forma a se preservar a
tradição e a qualidade do produto final. Da mesma forma, prosecco é o nome dado aos espu-
Esse vinho maravilhoso nos remete a festas, encontros e mantes produzidos no Nordeste da Itália, com a uva do mesmo nome. Temos ainda o cava,
comemorações. Quem não vibra ao ouvir o espocar de uma que representa os espumantes produzidos na Espanha, com uvas nativas do país. O cham-
rolha de espumante? E de onde vem tanta espuma? Como pagne é sempre produzido pelo método tradicional, regra que não se aplica necessariamente
já explicamos, o gás carbônico é produzido naturalmente no aos demais espumantes, ficando a escolha do método a critério do produtor.
momento da fermentação alcoólica, sendo que nos vinhos.
tranqüilos ele é liberado, uma vez que a fermentação se dá
em tanques abertos. No caso dos espumantes, provoca-se
a fermentação em ambientes fechados com o objetivo de
preservar o gás carbônico.
o seco, depois o demi-sec e, por último, o doce. Do naturc ao seco, a sensação predominante é
a de um vinho seco, mas é possível perceber-se uma diferença sutil de doçura. Ë importante
mencionar que go% da produção mundial de espumantes são do tipo hrut. vinho
O serviço do vinho
de 5% a 22% da quantidade total de vinho na garrafa. Como o álcool é volátil, libera os
aromas com maior ou menor intensidade, de acordo com a temperatura do vinho no copo.
Como regra geral, afirmamos que os aromas do vinho se fecham com o frio, sendo pouco
percebidos abaixo de 6°C. Esse é o limite inferior normalmente destinado aos espumantes
que, servidos menos frios, tendem a liberar excessivamente o gás carbônico, perdendo sua
característica de acidez e frescor. Acima de 20°C, o álcool se torna muito perceptível tanto no
nariz quanto na boca, propiciando-nos uma sensação de calor. Esse é o limite para os vinhos
tintos mais encorpados e complexos, que detêm maior gama de aromas.
Como guia de referência, apresentamos abaixo uma tabela com os tipos de vinho e a faixa
de temperatura normalmente recomendada.
Para poder aproveitar o que o vinho tem a nos oferecer,
devemos cuidar de alguns aspectos fundamentais que, uma
vez compreendidos, vão servir de referência para as mais Tipo de vinho Faixa de temperatura
diversas situações. A temperatura de serviço, os copos a serem Espumantes não safrados 6-8°C
utilizados, a disponibilidade de acessórios e a forma de se
Espumantes safrados como champognes mi(essmds, alguns cavas
servir o vinho em cada ocasião são os fatores que devem ser 8-12°C
observados no serviço do vinho, seja em um jantar intimista, Vinhos brancos leves e aromáticos 8-io°C
em uma mesa de amigos ou em uma festa. Vinhos brancos encorpados 10-14°C
Vinhos rosés 6-8°C
A temperatura de serviço Vinhos tintos leves e frutados 12-14°C
Vinhos tintos encorpados e ricos em taninos 16-20°C
A temperatura de serviço do vinho tem decisiva influência Vinhos doces 10-14°C
nos seus efeitos gustativo e olfativo. Mesmo um grande
vinho, se servido na temperatura inadequada, pode pare-
cer demasiado adstringente, tânico ou desequilibrado. Isso De forma prática, pode-se adequar a temperatura de serviço usando-se um balde com gelo e
porque o vinho possui diversos componentes, como açúcar, água fria, que servirá para aumentar o contato do gelo com todas as partes da garrafa. Não
tanino e álcool, que se comportam de maneiras distintas é recomendável colocar o vinho no freezer ou no congelador, porque, além de provocar-lhe
no frio e no calor. O consumidor deve ter em mente alguns um choque térmico, pode ocasionar o estouro da garrafa se ela for deixada lá por tempo
conceitos que podem guiá-lo no momento de escolher a excessivo.
temperatura ideal para os diversos tipos de vinhos. Um
componente muito importante do vinho é o álcool etílico, No caso de um espumante que esteja à temperatura de 25°C, o tempo médio de resfriamen-
presente em maior ou menor quantidade, podendo variar to para a temperatura ideal em um balde de gelo é de aproximadamente 30 minutos. No
caso de um tinto, nas mesmas condições iniciais, o Faças para vinhos espumantes
tempo médio cairá para algo entre 15 e ao minutos,
pois a temperatura desejada é mais alta que a do O vinho espumante é rico em gás carbônico, e o efeito visual das bolhas, ou perlage, é uma
espumante. de suas importantes características. Um dos critérios de avaliação de um espumante é a aná-
lise do perlage. Quanto menores as bolhas, mais intenso e persistente for o perlage, melhor
Uma vez alcançada a temperatura de serviço, deve- será a avaliação do espumante. O copo recomendado é a taça do tipo tulipa, alta e estreita,
se retirar a garrafa do balde, servir a primeira taça que permite apreciar a dança das borbulhas. Além disso, esse tipo de taça limita a expansão
aos convidados e monitorar a temperatura em demasiada dos aromas, que se perderiam facilmente em uma taça de boca muito larga.
função do número de convidados, tipo de vinho,
tempo de consumo etc., usando o balde de gelo
conforme a necessidade. Jamais "esqueça" o vinho Taças para vinhos brancos e tintos jovens
no balde, pois, como já foi dito, temperaturas muito
frias e, nesse caso, próximas de zero, deixarão o Os vinhos brancos, em geral, assim como os tintos jovens, são marcados por uma caracte-
vinho desagradável e praticamente sem nenhuma rística de frescor e de fruta. Para simplificar a vida dos apreciadores, recomenda-se o uso de
sensação aromática. uma taça em forma de tulipa, de bojo mais largo que a usada para o espumante, de modo a
evidenciar seus aromas e a proporcionar a correta aeração, necessária para esses vinhos.
A escolha das taças
Assim como a temperatura de serviço, a escolha da Taças para vinhos tintos elegantes
taça adequada realça as características do vinho, não
só em relação ao ponto de vista olfativo mas também quanto à manutenção da temperatura, No caso dos tintos mais delicados, como os vinhos de Borgonha, por exemplo, a taça ideal
à harmonia e, sem dúvida, ao lado estético. deve ser alta, de bojo grande e com uma abertura levemente acentuada na boca, de forma a
facilitar a liberação dos aromas.
As taças devem ser lisas e incolores, de forma a não provocar deformações de cor e brilho do
vinho e, se possível, ser de cristal, ou de vidro bem polido, para que o vinho possa deslizar
suavemente por suas paredes. Taças para vinhos tintos encorpados
A haste da taça deve ter um tamanho suficiente para que a seguremos sem o contato da Os vinhos tintos encorpados, assim como os mais delicados, pedem taças altas, de bojo e
mão com o bojo da taça, pois isso faria o vinho esquentar mais rapidamente durante a abertura maiores, de forma a permitir que o vinho "respire", aumentando a área de contato
degustação. da bebida com o oxigênio. A ação do oxigênio faz com que os aromas se harmonizem e se
integrem durante a degustação.
Ao guardar as taças, certifique-se de que estejam bem secas e evite colocá-las em armários
com cheiros fortes para que não apresentem odor no momento do serviço.
1
Taças para vinhos doces
Desarrolhando um vinho
Para os vinhos doces e licorosos, o ideal é uma taça mais baixa, com o bojo de formato oval Abrir uma garrafa requer alguns cuidados, que começam com a verificação visual do estado da
e, conseqüentemente, com uma abertura de boca não muito intensa. Para os vinhos do cápsula, da rolha e do nível do vinho na garrafa. O objetivo é identificar se houve vazamento
Porto, sobretudo os envelhecidos, a taça pode ser um pouco maior, a fim de permitir melhor através da rolha, o que, no caso, indicaria grandes chances de se estar diante de um vinho
aeração e contato com o ar. decrépito. Os vinhos produzidos com o objetivo de ficar de guarda durante algum tempo em
geral possuem rolhas mais compridas, feitas de cortiça maciça, de forma que, mesmo com a
absorção natural do vinho pela rolha, ele não ultrapasse toda a extensão da cortiça.
Os principais tipos de taças
Feito o exame visual da cápsula e do nível do vinho na garrafa, deve-se retirar a cápsula de
metal, cuja função principal é isolar a rolha do meio ambiente, evitando a contaminação
de odores e protegendo-a mecanicamente. Pode-se retirá-la cortando o metal com uma faca,
com uma haste existente em alguns saca-rolhas ou, ainda, com um corta-cápsulas, especial-
mente projetado para essa função. Pode-se ver, então, o estado da parte superior da rolha e
verificar se houve vazamento. Em seguida, retira-se a rolha.
Existem muitos modelos de saca-rolhas, sendo que o mais tradicional é o de tração, composto
por uma manopla onde é presa uma rosca, cuja função é perfurar a rolha. Os sommeUers, geral-
mente, utilizam os desse tipo. O mais recomendável é o de dois estágios, que permite que a
rolha seja extraída em duas etapas: a primeira, possibilita maior torque para retirá-la da posição
(::)
original; a segunda, a desloca sem entortá-la. Deve-se sempre centralizar a rosca na rolha, para
Borgonha Bordeaux Vinho do Porto Tintos jovens que esta ofereça menos resistência e não se quebre.
Para evitar a contaminação pela doença da rolha e também reduzir os custos de produção,
foram desenvolvidas rolhas sintéticas, normalmente destinadas aos vinhos mais baratos e de
consumo imediato. Essas rolhas são mais fáceis de manusear, na medida em que o risco de
quebra ou esfarelamento é nulo. O mesmo se aplica aos vinhos com tampa de rosca (screw
cp), muito comum na Austrália e na Nova Zelândia. Há quem defenda que, no futuro,
todos os vinhos, mesmo os de guarda, serão vedados com tampas de rosca. É uma questão
de esperar para ver quem vence: a tecnologia ou a tradição.
_
saca-rolha laminar, composto por duas hastes
potente e de cor profunda, é provável que se beneficie de maior aeração, pois seus aromas paralelas que, em vez de perfurarem a rolha, são
podem estar contidos, ou seja, 'ainda fechados". Para isso, lançamos mão de um deccrnter, inseridas entre a rolha e a garrafa, exigindo uma
26 que proporciona maior área de contato do vinho com o oxigênio. Esse contato vai amaciá-lo habilidade adicional por quem o utiliza.
e volatilizar mais seus aromas.
Servindo um espumante
Cuidados com um vinho maduro
Os processos descritos não se aplicam ao espumante, que exige cuidado redobrado na retirada
Quando se trata de um vinho maduro, em geral com mais de io anos de garrafa, é possível da rolha, devido à alta pressão no interior da garrafa. Deve-se fazer o possível para retirá-la
que ele apresente sedimentos sólidos, mais comumente chamados de borra. Isso ocorre suavemente, sem fazer barulho, preservando assim o gás carbônico e o perlage. Em primeiro
porque os taninos se aglutinam, formando cadeias moleculares mais longas e mais pesadas lugar, retira-se a cápsula de metal, deixando à mostra a gaiola de arame que, uma vez retirada,
que se depositam no fundo da garrafa. Nesse caso, deve-se aumenta enormemente as chances de liberação da rolha espontaneamente, devido à pressão
efetivamente decantar o vinho, passando-o da garrafa para interna. Por isso, ao torcer o arame com uma das mãos, deve-se segurar a rolha com o dedo
o decanter, evitando-se a passagem da borra. Os somrneliers polegar da outra. Retirada a gaiola, deve-se fechar a mão em tomo da rolha (sempre mantendo
utilizam uma vela para iluminar o pescoço da garrafa e verter polegar na parte de cima) e fazer pequenos movimentos de rotação para um lado e para o
o vinho somente até o momento em que a borra se aproxime outro, deslocando a rolha suavemente. A retirada deve ser lenta e, no final, provocar um leve
do gargalo. Além de ser eficaz, esse engenho dá ao serviço do suspiro", mantendo-se todo o liquido dentro da garrafa. Depois, deve-se limpar o gargalo com
vinho um charme adicional. um pano e passar ao serviço.
Os vinhos maduros perdem aromas em contato com o ar, Como as taças normalmente estão mais quentes que o espumante, ocorre uma mudança
devendo ser consumidos rapidamente após o serviço. Eles de- brusca de temperatura ao servi-lo, o que produz forte efervescência. Por isso, recomenda-
vem ser servidos em taças robustas, que realçam toda a sutile- Se que se sirva um pouco na taça de cada convidado, baixando a temperatura da taça, para
za do seu bouquet, um termo que se aplica somente aos vinhos depois completar o serviço em uma segunda rodada.
já evoluídos. Isto porque o bouqu.et é formado por um conjunto
de aromas produzidos por reações químicas que ocorrem A garrafa deve ser mantida no balde com gelo para que permaneça sempre na temperatura
ideal de serviço.
1
Servindo um vinho doce
O vinho doce não requer cuidados especiais, sendo a temperatura e a escolha da taça os
principais fatores a serem considerados. Deve-se ter uma atenção especial com os vinhos do
A degustação e a
Porto tipo vintage (vinhos safrados), muito envelhecidos, que não são filtrados e que podem
apresentar uma quantidade enorme de sedimentos. Como o vinho do Porto, em geral, não
é decantado, a solução é mantê-lo de pé por pelo menos uma hora antes de ser servido, e
tomar cuidado ao verter o vinho nos copos ou taças. harmonização
O serviço em uma festa
O interesse pelo vinho fino vem aumentando muito no Brasil, sendo muito comum oferecê-
lo em festas e coquetéis. Pela dinâmica desses eventos, é recomendável que se escolha o tipo
*
de vinho a ser servido (espumante, branco, tinto etc), e que a escolha se restrinja a um único
vinho de cada tipo. Isso facilita o controle da temperatura de serviço, assim como o próprio
serviço. Os garçons devem ser municiados com as informações básicas como procedência,
nome do vinho e tipo de uva, caso seja um varietal. É sempre recomendável que a garrafa
esteja na bandeja de serviço para o caso de algum convidado querer mais alguma informação. Gbf
Uma prática comum, mas que deve ser evitada, é completar o vinho no copo em que o con- 1
vidado já bebeu. O ideal é que se espere o convidado terminar a taça para então trocá-la por
uma nova e, em seguida, servi-Ia. Isso garantirá sempre uma taça limpa, sem gordura e sem
resíduos, deixando o vinho sempre na condição ideal de consumo.
No caso de um jantar à mesa, o ideal é que as taças estejam previamente colocadas, não
se esquecendo de uma para água. Se for um cardápio extenso e com vinhos variados para
acompanhar cada prato, recomenda-se deixar somente uma taça para o primeiro vinho e T.
uma para a água. Conforme os pratos forem se sucedendo, as taças irão sendo substituídas
a fim de que a harmonização seja feita com a taça adequada.
DICA: Um leve giro na garrafa logo após o serviço faz com o que o excesso de vinho que fica
do lado de fora do gargalo caia na taça, mas isso requer certa experiência. Portanto, tenha
sempre à mão um guardanapo branco para evitar que a bebida escorra pelo gargalo e respin-
gue sobre a toalha ou sobre a roupa de algum convidado.
A degustação e a harmonização pelo rubi e pelo granadino, e, em alguns raros casos, chegar até ao âmbar. Já os vinhos brancos
escurecem com o tempo, podendo ir do branco-verdeal (com tonalidades verdes), passando pelo
amarelo-palha, amarelo-ouro e, em alguns casos, chegando até ao âmbar.
A análise visual é feita inclinando-se a taça para a frente sobre uma superfície branca, de
modo a observar a cor no bojo do copo e seus reflexos na parte mais externa, que é chama-
da de "unha". Deve-se observar a limpidez e a tonalidade em si, aspectos importantes na
avaliação de um vinho. Um tinto, de cor rubi, com uma unha granadina, provavelmente,
já sofreu alguma evolução e deve apresentar um bouquet com aromas mais complexos, que
serão observados na análise olfativa. Um vinho púrpura, com reflexos violáceos, provavel-
mente é um vinho jovem com aspectos frutados.
30 Pode-se dizer que a degustação é um ritual em que, qualquer
que seja o motivo, o vinho é o centro das atenções. Em uma A cor âmbar não é comum nos vinhos, sejam eles tintos ou brancos. Vinhos com muito
avaliação de produtores, em uma confraria ou em uma mesa tempo de guarda, normalmente os fortificados, podem apresentar essa coloração e estar
de amigos, os vinhos vão se suceder à mesa, momento em ainda em sua plenitude. Desconfie, no entanto, de um tinto comum que apresente essa
que serão submetidos a análises sensoriais e despertarão as coloração. É bem provável que, ao ser aberto, lembre mais os aromas do vinagre do que os
mais diversas impressões e emoções. de um vinho.
Apenas para ilustrar, são apresentados os grupos de aromas mais comumente encontrados O primeiro passo é sorver uma boa quantidade e fazer com que o vinho passe por todas as
nos vinhos: partes da cavidade da boca. Isso irá aquecê-lo e fará sua volatilidade aumentar. Devemos,
então, engolir e observar alguns pontos:
• Aromas florais: acácia, jasmim, violeta, rosa, gerânio.
• Aromas frutados: limão, lima, abacaxi, pêssego, maracujá, morango, framboesa, cassis, • Quantidade de salivação na parte lateral inferior da língua, indicando o nível de acidez do
banana, damasco, ameixa, figo seco, ameixa seca, avelã. vinho.
• Aromas vegetais: hortelã, capim, tabaco, louro, musgo. • Tanicidade, que é marcada pela sensação de secura da língua e da gengiva.
• Aromas de especiarias: pimenta-do-reino, canela, cravo, noz-moscada. • Corpo, que é a sensação de peso provocada por extratos como açúcares, ácidos, glicerina,
• Aromas animais: pelica, couro. taninos e álcool etílico.
• Aromas diversos: chocolate, cacau, baunilha, pedra de isqueiro, trufa, casca de pão, mel, doces • Equilíbrio entre a maciez dada pelo álcool e a acidez percebida.
em compota. • Sensação retronasal, que revela o sabor do vinho.
• Persistência gustativa, dada pelo tempo em que o gosto do vinho permanece na boca após ter
A maior parte dos vinhos brancos apresenta aromas de frutas de polpa branca e de flores sido totalmente deglutido.
brancas, e os vinhos tintos apresentam aromas de frutas escuras e de flores escuras. Isso não
é uma regra absoluta, pois temos exemplos clássicos, um deles o Beaujolais Noveau, que, O "fim de boca" caracteriza a sensação que o vinho deixa após ter sido degustado. Quando é
mesmo sendo um tinto, apresenta aroma típico de banana. muito tânico, deixa a boca árida. Se a tanicidade não for tão intensa, dizemos que ele deixa
a boca enxuta. Outras sensações possíveis são a de frescor e de limpeza, normalmente sen-
tidas quando o vinho possui marcante acidez.
Exame gustativo
Nosso paladar é formado por sensores capazes de perceber basicamente quatro sabores: o Harmonização
doce, o salgado, o ácido e o amargo. Somado a isso, temos as sensações de calor (quente
e frio) e as sensações táteis, como aspereza e adstringência. O gosto do vinho é formado A harmonização refere-se ao casamento do vinho com a comida. A propósito, o termo em
basicamente pelas sensações de doçura, acidez e tanicidade (no caso dos tintos). Nos vinhos francês é exatamente este, mariage, que significa casamento. O vinho melhora a comida e
brancos, o equilíbrio é dado pela perfeita harmonia entre a alcoolicidade (doçura) e a acidez. vice-versa.
Nos tintos, acrescenta-se um terceiro componente, o tanino, que contribui significativa-
O vinho acompanhando a comida Componente Considerações Exemplos
Sal A combinação como sal deve se dar mais pelo • Queijo azul tipo roquefort com o vinho
Neste campo, não existe uma regra absoluta, e sim algumas diretrizes que podem evitar contraste do que pelo equilíbrio. Funciona da Sauternes.
problemas. Comidas mais secas demandam vinhos que deixem a boca fresca, ou seja, mesma forma quando misturamos sal e doce • Queijo Stilton com um vinho do Porto
vinhos mais ácidos, que provoquem maior salivação, preparando-a para o próximo bocado. em um mesmo prato. Iintage.
Comidas mais úmidas, como uma carne suculenta, sugerem vinhos mais secos, como um • Queijo de massa dura do tipo parmesão
tinto potente, que irá "limpar" a boca, deixando-a equilibrada entre uma garfada de comida com vinhos tintos encorpados.
e um gole de vinho. Apresentamos a seguir uma tabela com os principais elementos que
devem ser considerados diante do desafio da harmonização, levando em consideração não Gordura A gordura não é muito amiga do vinho. • Cordeiro assado, rabada, picanha e car-
só o ingrediente principal mas também o molho que o acompanha. Quando o alimento possui muita gordura, nes vermelhas em geral com vinhos tin-
ele acaba "selando" o palato, diminuindo a tos encorpados e tânicos.
sensibilidade gustativa. Nesse caso, sugeri- • Foje gras com Sauternes, harmonização
mos vinhos com componentes adstringentes típica em que a doçura do Sauternes
Componente Considerações Exemplos para vencer esse bloqueio. contrasta com a gordura do foje gras.
Peso ou estrutura Deve-se equilibrar o peso da comida com o • Peixes grelhados com vinhos brancos
do vinho, de forma que um não se sobrepo- frutados e frescos. Em um restaurante, o soínmclier é o responsável pela dificil tarefa de harmonizar o vinho
nha ao outro. Comidas pesadas pedem um • Peixes com molhos cremosos com vinhos com a comida. E ele que, conhecendo a disponibilidade de vinhos, o perfil do cliente e a
vinho robusto e estruturado; já pratos mais brancos estruturados; com passagem estrutura de cada prato, deve sugerir qual será o casamento perfeito.
leves pedem vinhos ligeiros e frescos. por madeira.
• Assados de cordeiro e cabrito com vinhos Em um jantar tradicional, o chef elabora o cardápio e o sommeUer indica os vinhos que se
tintos encorpados. harmonizam com os pratos. Não devemos, entretanto, nos limitar a regras e preconceitos,
• Aves com vinhos tintos leves ou rosés.
pois estamos abordando um tema subjetivo, em que o gosto de cada um deve prevalecer
Acidez A acidez da comida deve estar equilibrada
sobre o que é recomendado como certo ou errado.
• Salada de folhas verdes com vinho espu-
com a acidez do vinho para que ele não mante.
pareça insípido quando for menos ácido que • Massas à base de molho de tomate comum
a comida ou demasiado agressivo quando vinho tinto jovem, com acidez presente.
superá-la.
Doçura O vinho deve ser tão ou mais doce que a • Torta de amêndoas com um vinho doce
sobremesa, para que não pareça azedo ou branco de colheita tardia.
esmaecido. O chocolate é um exemplo de difí- • Nozes, castanhas e avelãs com um vinho
cil harmonização, necessitando de vinhos do Porto Tawny.
muito potentes e doces. • Doces à base de chocolate com um vinho
do Porto Ruby ou Banyuls.
A comida escoltando o vinho
Existem vinhos que são especiais e que, de tão sublimes e autênticos, são chamados de
mundial
"vinhos de meditação". Podem perfeitamente ser sorvidos sem acompanhamento de comi-
da, bastando estar em companhia de pessoas que compartilhem o prazer dessa experiência
36 sensorial única. Como exemplo, temos o Château D'Yquem, um Sautemes classificado
como Premier Grand Cru Supérieur. Alguns Amarones, produzidos no Nordeste da Itália
(Vêneto), também já receberam essa qualificação por autores e revistas especializados.
5 Bierzo 13 Somontano As principais castas tintas nativas são tempranilio (res- acessíveis.
6 Valciepelias 14 Penedès ponsável pelos tintos mais importantes), garnacha Vinho Verde ro Obidos
Portugal tem orgulho de suas castas autóctones, como
7 La Mancha 15 Priorato (variedade mais cultivada), cariptena, graciario e tinta de Chaves li Alenquer
as tintas tinta roriz (aragonez no Alentejo), dominante no
Valpaços 12 Arruda
Jumilia
toro. Entre as brancas, temos a albarito, procedente da Porto e Douro 13 Colares Alentejo; touriga nacional, que produz vinhos complexos
região castelhana de Rueda; verdejo, malvasía, viura (ou 5 Távora Varossa 14 Bucelas e equilibrados; trincadeira, também muito importante no
macabeo, muito usada para a elaboração dos cavas), gar- 6 Bairrada 15 Ribatejo Alentejo; castelão-francês (mesma coisa que periquita), que
nacha branca, paloniino e pedro ximenez. Dão 16 Setúbal produz vinhos com taninos firmes; tinta barroca, tinto cão
A Espanha possui uma tra-
dição histórica na produção
Beira Interior 17 Paimela
e touriga franca, do Douro, que são plantadas na região
Não podemos deixar de mencionar o Jerez, vinho típico Alcobaça 18 Alentejo
de Dão. Portugal também produz vinhos brancos muito
de vinhos, tendo sido esta produzido na região de Andaluzia. O Jerez é um vinho
praticamente a única forma de frescos, com uvas como malvasia-fina, arinto, alvarinho e
fortificado, seco ou doce, dependendo do momento em Em Portugal, a tradição e a loureiro (usadas para o vinho verde), encruzado e esgana
cultivo que resistiu às devas- que se faz a fortificação. A principal uva é a palomino, tecnologia caminham em
tações provocadas pela luta cão. Os vinhos verdes são produzidos na maior região
mas utiliza-se também a pedro ximenez e a moscatel, perfeita harmonia. Seu duma demarcada e também na de maior densidade demográfica
entre muçulmanos e cristãos, especialmente para o caso dos doces. e solo são privilegiados, sem
que só terminou em 1492. de Portugal, localizada no Minho, norte do país. Esses
esquecer que o país é um vinhos podem ser tintos ou brancos, de acidez marcante,
Atualmente, é o país com Temos ainda o cava, nome dados aos espumantes dos grandes cultivadores de
maior área plantada com aromáticos e levemente frisantes, dando a sensação de
espanhóis que precisam seguir algumas regras para Nobreiro, árvore da qual se "picadas" no palato. Devem ser bebidos entre 8°C e io°C
vinhedos do mundo. serem classificados como tal. A principal é que seja retira a cortiça para a fabri-
feito pelo método tradicional (o mesmo da região de para que seu frescor seja realçado.
cação de rolhas.
Seu modelo de classificação Champagne), com a segunda fermentação processan- Um indicativo de qualidade nos rótulos de vinhos portugue-
segue o modelo adotado pela do-se na garrafa e com o uso das uvas chardonnay e Seu sistema de classificação ses é o termo "garrafeira', que identifica os vinhos tops
União Européia, com qua- pare flada. possui quatro categorias: de determinado produtor, sugerindo a possibilidade de
DOC (Denominação de serem guardados e de se tomarem melhores com o
Origem Controlada), IPR envelhecimento.
Alemanha vinhos de mesa (Tcifelwein), passando pelos regionais rcrnkuig de produção mundial, atrás da França, Itália e
(Landeweiri), até aos mais sofisticados, como os QbA Estados Unidos Espanha.
(Qucüiatswein) e os QmP, Vinho de Qualidade com
Distinção (QL4alitãtswein mit Pradikat). As uvas nativas não são apropriadas para a produção
de vinhos finos, adotando-se como solução o plantio de
As principais castas brancas são a riesling (a mais plan- 4
uvas européias, principalmente as francesas. Entre as
tada no país), a gewürztraminer (muito plantada em tintas, a ccibernet saul.'ignon reina soberana, produzin-
diversas partes do mundo), a silvaner e a muller-thurgau. do vinhos estruturados e longevos. Outras tintas que
Entre as tintas está a spiitburgunder (pinot noir francesa), 9 se adaptaram bem foram a syrah, pinot noir, meriot e
de longe a tinta mais plantada, seguida pelas dornf'eld.er 10
zinfandel (mesma coisa que primitivo). A branca mais
e portugieser. emblemática é a chardonnay, mas a sauvignon blanc e a
riesting também produzem vinhos excepcionais.
Os vinhos doces de qualidade são inesquecíveis, sobre-
tudo o Icewein, que é produzido a partir de uvas colhidas Napa j San Benito As castas americanas foram responsáveis por levar um
Sonoma
muito tardiamente (já no inverno) e que, por isso, con- 8 Santa Cruz
pulgão para a Europa, a Phylloxera vastatrix, ou simples-
Mendocino 9 Monterey
gelam na videira. O açúcar se concentra de tal forma que Sola no 10 San Luis Obispo
mente filoxera, que praticamente dizimou os vinhedos
Mosel-Saar-Ruwer 5 Pfalz
o processo de fermentação não-forte é o suficiente para Alameda ti Santa Bárbara europeus pelos idos de 186o. Foram necessários quase
2Rheingau 6 Baden transformar todo o açúcar em álcool, proporcionando Santa Clara dez anos para compreender e solucionar o problema.
3 Nahe 7 Franken uma doçura natural. Esses vinhos são muito caros, pois A filoxera ataca o sistema radicular da videira euro-
4 Rheinhessen
as videiras exigem um manuseio especial, pois as uvas Os Estados Unidos são o péia, mas não é capaz de atacar a videira americana, A
permanecem congeladas durante todo o processo para maior importador de vinhos, solução encontrada explorou essa característica: fazer-se
que o gelo à sua volta seja retirado sem cair no mosto. influenciando o mercado o enxerto da videira européia sobre uma raiz americana,
Na Alemanha, o cultivo de O resultado é um vinho com acidez marcante e com mundial com seu gosto por chamada de porta-enxerto ou cavalo. Esse processo é
videiras é uma prática antiga, aromas complexos e delicados. Os vinhos de colheita vinhos potentes e alcoólicos. utilizado até hoje, em quase todo o mundo. A principal
concentrada em regiões frias, tardia que não se encaixam na categoria de Icewein são exceção é o Chile, um dos poucos países que cultivam
favorecendo as uvas brancas, chamados de Spatlese. As regiões que produ- em "pé franco", ou seja, com a Vitis vinfera plantada
que se adaptam melhor a esse zem vinhos de maior qua- diretamente no solo.
clima. lidade são Vale do Napa,
Outros países produtores de vinho no Velho Mundo são 't,noma, Monterey e Santa
A Alemanha possui uma Suíça, Áustria, Luxemburgo, Hungria, Grécia, Eslovênia, irbara, localizadas na
legislação complexa, com Bulgária, Romênia, Turquia, Líbano e Israel. Califórnia. Elas são respon-
uma série de categorias Náveis por 90% da produção
que determinam desde os vi- dos Estados Unidos, país
nhos mais simples, os que está na 4a posição do
aconteceu uma grande transformação nessa área, com a Argentina O investimento na aquisição e modernização de vinhe-
Chile dos é maciço, tanto pelos investidores locais como pelos
entrada dos grandes produtores franceses, que não tin-
ham como aumentar seu alcance no Velho Continente estrangeiros, dentre eles franceses, chilenos, portugue-
e adquiriram vinhedos no Chile. ses e americanos.
Os chilenos possuem à sua disposição um clima perfei- Pensar em vinho argentino é pensar em tinto, e a malbec
to para a produção de vinhos, tendo o Pacífico de um é a casta francesa que melhor se adequou ao seu clima e
lado e os Andes, do outro. As principais regiões viníco- terroir. Os melhores argentinos normalmente são feitos
las são Vale do Aconcágua, Casablanca, Maipo, Curicó, de malbec, violáceos quando jovens e com uma ótima
Rapei e Maule. concentração de aromas e taninos. Algumas das muitas
outras uvas utilizadas são cabernet sauvignon, bonarda,
As principais variedades tintas são cabernet sauvignon, meriot, syrah, sauvignon blcrnc, semilion, torro ntés.
país (cepa local), syrah, meriot e carmenêre, sendo esta
última a mais representativa, uma vez que se pensava A Argentina também produz bons vinhos espumantes,
que ela havia sido exterminada pela Philloxera. Em fazendo uso das castas chardonnay e pinot noir. Grandes
1992, essa cepa bordalesa foi identificada por um espe- casas como Moët & Chandon e Mumm estão lá ins-
cialista, durante uma visita a um vinhedo de Merlot, por :lia 5 San juan
taladas, produzindo vinhos corretos a preços bastante
ocasião de um congresso. Seu fruto é muito parecido 1 ucumán 6 Mendoza competitivos.
Maipo 4 Curicó
atamarca 7 Neuquérs
Casablanca Maule com o da tnerlot e, por isso, ela foi plantada por muitos
Coichagua 6 Bío-Blo anos como tal. O vinho a que dá origem é macio, fruta-
La Rioja 8 Rio Negro A principal região produtora é a província de Mendoza,
do e com um toque vegetal muito típico. que possui clima seco, com irrigação proveniente do
O Chile tem longa tradição degelo dos Andes. Ela se localiza no centro-oeste do país,
vinícola. Sua primeira vinha As principais castas brancas são sauvignon btanc, cha A Argentina está em franca a uma altitude que varia entre 400 e 1.300 metros,
donnay, viognier e moscatel. expansão, com sua produção com grande amplitude térmica: muito calor de dia e
foi plantada em 1551 e seu
primeiro vinho foi produzi- voltada para o mercado exter- frio à noite. Essa característica facilita a concentração
Os vinhos de melhor qualidade costumam receber a no, implicando mudança de de nutrientes na uva, proporcionando um vinho bem
do em i. Por volta de
identificação de "Reserva" no rótulo, representando, na visão que prioriza os vinhos estruturado, com aromas adocicados de frutas em
i800, começou a plantar as
variedades francesas caber- maioria das vezes, aqueles que utilizam as melhores de qualidade em detrimen- compota.
net sauvignon e nlerlot, mas uvas e os que tiveram uma passagem maior por madei- to dos vinhos mais simples.
ra. Cuidado, entretanto, com o termo "Reservado" Hoje é o 50 maior produtor Outras regiões importantes são Salta (mais ao norte),
sua produção era praticamen-
te voltada para o mercado que normalmente indica os vinhos mais básicos de um mundial e apresenta um con- Catamarca, Lã Rioja e San Juan.
interno. Nos últimos 15 anos, determinado produtor. sumo per capita na faixa de
. litros/ano.
mudança gradativa no hábito de consumo, com a troca A branca mais plantada é a moscato branca, com quase 50% da safra, seguida pela riesting
Brasil
de vinhos de garrafão por vinhos finos. O estado que itálico, trebbiano, séinillon e chardonnay.
lidera o rcinking de consumo nacional é o Rio Grande
do Sul, seguido por São Paulo e Paraná. É inegável o talento brasileiro para a produção de espumantes, que requer uvas ácidas, ade-
quadas para se fazer um vinho fresco e aromático. Os produtores nacionais vêm recebendo
A produção de vinhos finos deixou de se limitar à serra muitos prêmios em concursos internacionais, cujas degustações são realizadas às cegas para
gaúcha (principal pólo vitivinícola do país), estendendo- evitar análises tendenciosas. Outro fator que impulsiona a fabricação desse tipo de vinho é
.
Na fase da juventude, o vinho está com os tani- o nível de vinho no gargalo está de origem
Curva de Evolução - Qualidade x Tempo ideal ou abaixo do normal. Em
nos ainda um pouco duros, precisando ser arre-
geral, as lojas especializadas têm PrELLATiON 5Au1T.ÉMIL1OH 91*95 CRU COHTULtE
dondados pelo correr do tempo. Sua duração, Teor alcoólico
bo.iII •n Ch&,,u - ZIM
no entanto, pode ser muito curta, como é caso Plenitude um cuidado maior na conservação, 3• CIVILZ nu CNCV*L tLAflC.I1 rou.caun.t.aunaac
do Beaujolais Noveau, que já sai da vinícola no sem contar o fato de que a dinâmi- raoP.rnrnl.e * fl.flIILION li - Quantidade
seu auge, pronto para o consumo. No extremo cas das vendas costuma ser maior
• Juventude
oposto, estão os grandes vinhos de Bordeaux, do que nas redes de supermer- Engarrafado na País
assim como os vinhos do Porto vintages, além Decrepitude • cados. Conhecer um rótulo tam- propriedade
de outros, que precisam de 20 OU 30 anos para bém ajuda bastante na compra do
atingir sua plenitude. vinho. Vejamos a seguir o que um
rótulo pode trazer de informação.
Plenitude é a fase na qual o vinho está em seu
auge. Ela pode durar vários anos, dependendo
do tipo de vinho e da forma de conservação. Quando atinge essa fase, dizemos que ele está Cuidados com o armazenamento
'apronto". Depois passa a ser chamado de "maduro" e, em seguida, de "envelhecido". A partir
daí, o processo de oxidação se acentua e o vinho entra na fase de decrepitude. Conhecendo as informações sobre o potencial de guarda do vinho, devemos nos preocupar
com o modo e com o local em que ele será armazenado. O vinho precisa de uma temperatu-
Para os vinhos de consumo corrente, o tempo médio entre a juventude e a plenitude é de um ra que varie pouco, idealmente entre io°C e i6°C. Precisa de pouca luz, pois a luminosidade
a cinco anos. Os espumantes e os brancos frutados são os que mais sofrem com a guarda, em excesso acelera seu envelhecimento. É importante que não fique próximo de fontes
em geral devendo ser consumidos três anos após o engarrafamento. de cheiros, que poderiam contaminá-lo, que o ambiente não seja muito seco, pois a rolha
muito ressecada pode se retrair e deixar o ar passar, oxidando-o. Por isso, é importante que
Espumante nacional brut
a garrafa seja armazenada na posição horizontal, o que garante a umidade da rolha perma-
2 Branco jovem e frutado - Sauvignon Blanc
nentemente. Podemos concluir facilmente que a geladeira tradicional não é um bom local
Branco estruturado - Chardonnay com
para armazená-la, pois não atende a nenhum dos pré-requisitos apresentados. A forma
mais simples e barata seria encontrar um canto da casa em que não incida sol e que possa Montando um kit de 24 garrafas passagem por barril de carvalho
Rosés
acomodar uma "colméia" de madeira onde as garrafas possam ficar dispostas na horizontal.
Uma alternativa é a aquisição de uma adega climatizada, dotada de controle de temperatura Com 24 garrafas, podemos montar um 2 Tinto Molbec argentino
e umidade. Essa solução é cara, mas excelente do ponto de vista de economia de espaço, conjunto de vinhos para diversas oca- Tinto Cabernet Soui'ignon chileno
pois há adegas de tamanhos variados que acomodam desde 24 até 240 garrafas. Se houver siões, deixando ainda espaço para alguns Tinto Shiraz australiano
bastante espaço e a perspectiva de guarda for de muitas garrafas, o ideal seria a construção considerados especiais. Apresentamos, ao Tinto português - Tinto do Alentejo
de uma adega projetada sob medida, com controle de temperatura e umidade. lado, a sugestão de composição deste kit. Tinto italiano - Dolceto Dalba
Cava espanhol
Chablis (França)
Poully-Fumé (França)
o Vinhos 2
Dos monges medievais ao fascínio do homem moderno
Nenhuma bebida nos reserva tantas surpresas como o vinho que, há milênios, sempre
esteve por perto nos momentos mais importantes da História da Humanidade.
O hábito de beber vinho tornou-se, hoje, um divertido e emocionante desafio. A
enorme variedade de castas e produtos, vindos dos quatro cantos do mundo, despertam
dúvidas e saborosas discussões.
Um vinho para cada ocasião, ou um pretexto para saborear, com amigos, a garrafa
recém-comprada? O vinho aproxima as pessoas, e dizem que as taças guardam
segredos. Então um brinde ao prazer e à arte de bem viver!
ISBN 85 16 05329