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CURSO DE
FONOAUDIOLOGIA NA
PARALISIA
FACIAL
Aluno:
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CURSO DE
FONOAUDIOLOGIA NA
PARALISIA
FACIAL
MÓDULO III
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são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas.
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Já vimos no Módulo I e II que as paralisias faciais podem ser divididas em
dois grandes grupos: paralisia facial central (PFC) ou supranucelares e paralisia
facial periférica (PFP) que apresentam lesões nucleares e infranucleares. Neste
módulo discutiremos sobre os sinais, sintomas e etiologia das PFC. Falaremos
também sobre as paralisias faciais congênitas.
6.1 CONCEITO
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da paralisia encontra-se no sistema nervoso central com alteração de mobilidade
apenas dos músculos do ⅓ inferior da hemiface contralateral à lesão nervosa, ou
seja, os movimentos da parte superior da face bilateralmente, a musculatura frontal
e do orbicular dos olhos estão conservados, principalmente devido a ação das vias
supranucleares ipsilaterais, geralmente os movimentos involuntários também se
encontram conservados, observa-se ausência do sinal de Bell (Busch, Sampaio,
Lebre e Antunes, 2006; Rondon, 2009, Santos, Ganda e Campo, 2009). As lesões
estão situadas na via exclusivamente motora do nervo facial, encontrada na área
motora cortical cerebral, que está situada na face lateral do giro frontal pré-central,
até o núcleo do nervo facial no tronco encefálico, na ponte (Veiga, 2006).
Para entender um pouco mais a PFC vamos relembrar o trajeto do nervo
facial. Segundo Veiga (2006, p.109) o núcleo motor do VII nervo está situado na
ponte, próximo ao bulbo, os axônios do núcleo motor, dirigem-se para o assoalho do
quarto ventrículo e circundam o núcleo do nervo abducente, segue em direção da
face ventral do tronco encefálico, saindo como nervo facial na fosseta supraolivar do
sulco bulboprotuberancial, próximo a origem do nervo intermédio de Wrisberg,
conforme podemos localizar na figura abaixo1. Quando ocorre lesão até este trajeto,
considera-se uma paralisia facial central.
1
FONTE: Veiga, JCE. Paralisia facial central. In LAZARINI, PR, FOUQUET, ML. Paralisia facial –
avaliação, tratamento, reabilitação. São Paulo: Lovise, 2006, p. 110.
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O núcleo facial divide-se em duas partes: a porção dorsal e a porção ventral.
A porção dorsal inerva a metade superior de um lado da face e recebe influxos
supranucleares constituídos por fibras corticais dos hemisférios ipsi e contralateral,
já a porção ventral que é responsável pela inervação da musculatura da mímica da
metade inferior da hemiface, recebe impulsos nervosos apenas do hemisfério
contralateral. Podemos observar isto na figura abaixo2, que mostra uma
representação esquemática ilustrando a terminação dos tratos corticonucleares no
núcleo motor do facial. A linha contínua representa a parte dorsal do núcleo facial,
inervando os músculos frontal, orbicular das pálpebras e superciliar, já a linha
descontínua representa a parte ventral que inerva os demais músculos da face
inferior. Com este desenho, podemos entender porque na PFC os músculos da parte
superior da face ficam mantidos, mantendo simétricas as linhas de expressão da
testa (Gomes, Vasconcelos e Bernardes, 2004, Veiga, 2006). Como a representação
cortical dos músculos da parte superior da face é bilateral, esta parte é poupada na
PFC. Porém, Veiga (2006, p. 112) salienta que “do ponto de vista semiológico
podemos constatar que, na paralisia facial central, às vezes, encontramos pequena
alteração parética3 também no território superior da face.”
2
FONTE: Veiga, JCE. Paralisia facial central. In LAZARINI, PR, FOUQUET, ML. Paralisia facial –
avaliação, tratamento, reabilitação. São Paulo: Lovise, 2006, p. 111.
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Que apresenta paresia, ou seja, perda discreta da força muscular. Disponível em:
<www.pdamed.com.br/diciomed>. Acesso em: 15 mar. 2010.
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Uma característica da PFC é o deficit da musculatura facial quando o sujeito
quer realizar movimentos voluntários da parte inferior da face – como, por exemplo,
sorrir, fazer bico, falar, entretanto, pode haver contração involuntária desta
musculatura como manifestação emocional. Assim, o sujeito pode contrair a
musculatura da expressão do lado paralisado quando ri ou chora, embora não possa
fazê-lo voluntariamente (Machado, 2000). Veja na figura ao lado4, a representação
esquemática do controle voluntário da expressão facial.
Vamos entender como acontece: as vias eferentes somáticas dividem-se em
dois grupos: o sistema piramidal e o extrapiramidal. O sistema piramidal que é
responsável pelos movimentos voluntários, compreende o trato corticoespinal e o
trato corticonuclear. O trajeto que ele percorre entre o córtex e o neurônio motor se
dá por meio das fibras corticoespinais ou corticonucleares. Quando este sistema
sofre alguma lesão, o controle voluntário da musculatura facial fica afetado. Já o
sistema extrapiramidal, é responsável pelos movimentos automáticos, compreende
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FONTE: Disponível em: <www.sistemanervoso.com>. Acesso em: 3 mar. 2010.
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as áreas corticais extrapiramidais como o cerebelo, vários núcleos do telencéfalo e
diencéfalo, além de vários núcleos e áreas do tronco cerebral. O trajeto entre o
córtex e o neurônio motor envolve um ou mais reles intermediários, diferente do
sistema piramidal. Como o sistema extrapiramidal necessariamente não está lesado
na paralisia facial central, o paciente consegue fazer movimentos como rir, bocejar
automaticamente, mas quando solicitado, não consegue (Gomez, Vasconcelos e
Bernardes, 2004). Os autores consideram que existem dois tipos de paralisia facial
central:
À paralisa volicional ou voluntária – que tem envolvimento do sistema
piramidal, em que se observam implicações na contração voluntária com
preservação da função espontânea (sorriso, choro);
A paralisia emocional ou mimética, ou amimia – esta paralisia é
resultado de uma lesão profunda com envolvimento extrapiramidal de gânglios da
base, tálamo ou hipotálamo. Aqui se observam dificuldades nos movimentos
automáticos, como sorrir ou chorar, enquanto os movimentos voluntários de contrair
os lábios estão preservados.
6.2 ETILOGIA
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6.3 SINAIS E SINTOMAS
Como a PFC geralmente vem associada com AVC, observa-se junto perda
de força do braço e perna opostos ao lado do desvio da boca, sendo essa uma
doença grave, considerada emergência médica. Calais, Gomez, Bento e Comerlatti,
5
FONTE: Disponível em: <www.2bp.blogspot.com>. Acesso em: 3 mar. 2010.
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(2005:219) salientam que “Classicamente o que se espera diante de uma PFC é a
preservação da movimentação da fronte e paralisia dos movimentos da musculatura
facial inferior contralateral à lesão, na solicitação da movimentação voluntária, e
preservação da movimentação da parte inferior na ação involuntária ou emocional.”
Os autores afirmam também a diferença da condição clínica da musculatura facial
entra a PFC e PFP, em que é observado que “normalmente, no momento posterior à
instalação da paralisia, os pacientes com PFP apresentam prejuízo parcial ou total
de todos os segmentos da face do lado paralisado, ipsilateralmente à lesão do
nervo, quer seja no repouso, na movimentação voluntária ou sob condição
involuntária. A semelhança ocorre apenas com relação ao desvio do filtro nasal, que
também dirige-se ao lado não afetado.”
Após pesquisa realizada com pacientes acometidos de AVC com PFC do
Serviço de Neurologia, Calais, Gomez, Bento e Comerlatti, (2005) concluíram que na
avaliação funcional da musculatura facial destes pacientes, geralmente podia-se
observar:
Preservação da movimentação voluntária da testa;
Preservação da movimentação reflexa e voluntária dos olhos;
Comprometimento funcional da movimentação e tônus da região nasal;
Comprometimento da movimentação involuntária para o sorriso;
Comprometimento funcional da movimentação voluntária da região dos
lábios em todos os casos.
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Na ação voluntária, preservação dos movimentos de testa (elevação e
contração) e de olhos com assimetria da retração labial do lado afetado.
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6.5 TRATAMENTO
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De acordo com Matos e Oliveira (s/d6,p.04) a fonoterapia consiste na
realização de exercícios isotônicos, isométricos e isocinéticos dos órgãos
fonoarticulatórios, além de massagem peri e intraoral. Os autores salientam que:
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Artigo publicado na Revista Científica do Hospital Central do Exército, em que apresentam a terapia
fonoaudiológica para um paciente com PFC, internado no HCE do Rio de Janeiro.
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7 PARALISIA FACIAL CONGÊNITA
7.1 CONCEITO
A figura7 do bebê ao lado apresenta uma assimetria facial causada por uma
paralisia facial congênita, que não é frequente em
recém-nascidos e quando ocorre tem várias causas.
Sua incidência é de 1,4% dos nascimentos vivos e
pode ter causa adquirida ou de desenvolvimento
(Granato e Lazarini, 2006). Inicialmente, o incômodo,
a angústia, não é no bebê, mas sim em seus pais e
familiares. As primeiras relações afetivas estão
intimamente relacionadas com a mímica facial, pois é
por meio da expressão que a criança demonstra
alegria, dor, choro, desconforto (Gomez, Vasconcelos
e Bernardes, 2004). Nestes bebês, estas expressões
geralmente estão prejudicadas, principalmente
quando ocorre paralisia facial bilateral.
Existem dois tipos de paralisias faciais
congênitas:
Não desenvolvimento dos núcleos celulares pontinos, que dariam
origem às fibras do nervo facial.
Paralisia facial do tipo "Heller", que consiste na não formação do
pavilhão da orelha e outras estruturas circunvizinhas.
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FONTE: Disponível em: <3.bp.blogspot.com/.../s320/paralisia-facial.gif>. Acesso em: 1 mar. 2010.
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7.2 ETIOLOGIA
8
FONTE: Disponível em: <www.fm.unt.edu.ar/.../oftalmologia/moebius1.JPG>. Acesso em: 16 mar.
2010.
9
Múltiplas deformidades rígidas nas articulações. FONTE: Disponível em:
<www.wgate.com.br/conteudo/.../artrogripose.htm>. Acesso em: 16 mar. 2010.
10
É uma anormalidade embriológica que resulta na visível união entre dois ou mais dedos das mãos
ou dos pés. FONTE: Disponível em: <pt.wikipedia.org/wiki/Sindactilia>. Acesso em: 16 mar. 2010.
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síndrome de distrofia miotônica de Steinert e espectro fascioauriculovertebral ou
síndrome de Goldenhaar.
De acordo com Lazarini e Almeida (2006) além da sequência de Moebius
outras alterações podem levar a paralisia facial, entre elas
Agenesia do nervo facial – ocorrendo ausência de inervação muscular
da face, é uma condição rara, pode ser isolada ou associada a outras alterações.
Paralisia do lábio inferior – doença que ocorre no desenvolvimento do
nervo facial, ocorrendo o comprometimento da inervação da musculatura do lábio
inferior, a mobilidade do restante da hemiface está preservada. Os músculos
afetados são os inervados pelo ramo mandibular do facial – orbicular da boca,
depressor do ângulo da boca, depressor do lábio inferior e o mentoniano.
7.4 TRATAMENTO
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pacientes. A equipe multidisciplinar é composta por: neurologista, geneticista,
fonoaudiólogo, psicólogo, oftalmologista, otorrinolaringologista, ortopedista, cirurgião
plástico. O trabalho fonoaudiológico visa à melhora na comunicação, melhora no
desempenho das funções estomatognáticas por meio de exercícios.
Quando a etiologia da paralisia é um erro de embriogênese, Gomez,
Vasconcelos e Bernardes (2004) afirmam que o tratamento deve ser diferenciado,
devido a outras sequelas que ocorrem. O objetivo principal da terapia deve ser
adequar às funções estomatognáticas – sucção, deglutição, mastigação, respiração
e articulação. É necessária a realização de exercícios miofuncionais para adequação
do tônus e mobilidade da musculatura facial. O trabalho de propriocepção,
sensibilidade gustativa e a estimulação da linguagem, também devem ser
realizados.
Os pacientes com síndrome de Moebius, geralmente costumam apresentar
dificuldades para mamar e consequentemente ganhar peso, pois apresentam
pequena abertura de boca, mobilidade palatal pobre e sucção e deglutição
ineficientes, restrição de movimentos mastigatórios laterais ou ausência de
mastigação, levando muitas vezes a um grau de desnutrição preocupante ou ganho
de peso muito lento (Canonaco, 1998, Carneiro e Gomes, 2005). Estes pacientes
necessitam de um acompanhamento fonoaudiológico para adequação das funções
estomatognáticas e da musculatura facial. A orientação à família deve ser feita
desde o nascimento, principalmente devido aos problemas relacionados com a
alimentação.
De acordo com Guedes (2006) o processo terapêutico nos casos de
paralisia facial congênita, deve iniciar com relaxamento do rosto, pescoço e ombros,
em seguida vem o trabalho individual da musculatura:
Na testa, os movimentos são ascendentes;
Nas pálpebras superiores e inferiores, são em direção lateral;
Na porção lateral do nariz, movimentos descendentes;
Na região das comissuras labiais, movimentos para fora e para cima,
para os lados e para baixo;
No pescoço, movimentos descendentes.
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A direção dos movimentos é apresentada na figura11 abaixo:
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FONTE: Guedes, 2006, p. 170.
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O trabalho com pacientes com paralisia facial congênita, principalmente com
a etiologia de síndrome de Moebius, é um trabalho bastante árduo. Guedes (2006, p.
172) citando Cole (1999) afirma que o fonoaudiólogo deve fazer “de tudo para que
essas crianças possam ter o prazer de expressar seus sentimentos por meio de
alguma parte de seu corpo, mesmo que seja ‘sem face’”.
7.5 PROGNÓSTICO
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