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Foi sua última manifestação de esperança, porque o que viu a seguir não se parecia com
qualquer cidade. O fazendeiro não respondeu. A última esperança se apagou.
3 - Um Mundo - Ou Muitos Mundos?
Quando o doutor Shekt ficou sozinho, apertou um botão de chamada. Uma jovem técnica,
com seu avental branco e os longos cabelos castanhos amarrados, entrou rápida. O doutor
Shekt perguntou:
- Pola já lhe disse...
- Sim, doutor Shekt. Fiquei a observá-lo através da visichapa e tenho a impressão que
realmente trata-se de um voluntário espontâneo. Não é igual àqueles indivíduos que chegam
aqui na forma costumeira.
- Você acha que deveria avisar o Conselho?
- Não sei o que dizer. O Conselho não aprovaria se a comunicação fosse feita de maneira
normal. Você sabe que todas as ondas podem ser interceptadas.
- Continuou com uma certa urgência: -Que tal, se eu me livrar dele? Posso explicar que
só aceitamos homens com menos de trinta anos. O homem já deve passar dos trinta e cinco.
- Não, não. Acho melhor vê-lo pessoalmente. -A mente de Shekt raciocinava friamente.
Até este ponto, tinha conseguido cuidar de tudo de maneira prudente. Só dera informações
suficientes para dar uma aparência de franqueza, e nada mais. Agora surgiu um voluntário -e
logo depois da visita de Ennius. Haveria uma relação qualquer? Shekt só possuía uma ideia
muito vaga das forças gigantescas e obscuras que estavam começando a se agitar sobre a face
da Terra. Por outro lado, sabia o suficiente. Bastava para saber que estava à mercê deles, e
sabia muito mais do que os Anciões suspeitavam.
Todavia, o que poderia fazer, considerando que sua vida estava duplamente ameaçada?
Dez minutos mais tarde o doutor Shekt, ainda sem saber o que fazer e o fazendeiro ossudo
que se encontrava em sua frente, de chapéu na mão e meio virado para um lado, como para
evitar um exame mais apurado. Shekt logo pensou que não parecia ainda ter atingido os
quarenta anos, mas que a dura vida dos campos não ajudava em manter uma aparência juvenil.
Percebia-se que debaixo da pátina bronzeada pelo sol, as faces do homem eram coradas e sua
testa e têmporas brilhavam pelo suor, apesar da temperatura fresca da saleta. Os dedos se
mexiam sem parar.
- Então, meu rapaz -começou Shekt em tom amável. - Fui informado que você não quis
dar seu nome. Arbin era mesmo muito teimoso.
- Soube que nenhuma pergunta seria feita a um voluntário.
- Hum. Está bem, mas será que você gostaria de dizer uma coisa qualquer? Ou você
simplesmente pretende se submeter ao tratamento sem dizer qualquer coisa?
- Eu? Aqui e agora? - Estava em pânico. - O voluntário é outra pessoa, não sou eu. Nunca