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Incra 40 anos

T
erras do
apajós A agenda positiva da reforma agrária
Novembro de 2010 - Edição XXIII

Retratos da reforma agrária


na várzea do Baixo Amazonas
Atuação do Incra: da criação de assentamentos
à política de créditos. Pág. 2

Produção e renda nas comunidades tradicionais. Pág. 4 e 5

O homem e sua relação com o meio ambiente:


experiências harmoniosas. Pág. 6

Inicia a construção de casas na várzea. Pág. 7


Ministro inaugura obras em Santarém. Pág. 8
Na várzea do Baixo Amazonas Incra 40 anos

Artigo

Histórico da presença
governamental na várzea
e a criação de Projetos
Agroextrativistas

A ocupação da Amazônia teve início nas exploração de atividades economicamente

2005
margens e várzeas dos rios da Bacia viáveis e sustentáveis. Tais áreas de domínio

2005 Amazônica, áreas até então ocupadas por


populações indígenas. A riqueza natural do
público são administradas pelas organizações
comunitárias e receberão a concessão de
Incra e SPU assinam ecossistema de várzea sustentou diversos ciclos direito real de uso. O PAE prevê um instrumento
Termo de Cooperação econômicos. Nos últimos tempos, três de gestão chamado Plano de Utilização (PU),
Técnica atividades se destacam neste ambiente: pesca, que é o regulamento discutido e elaborado

2006
agricultura e pecuária extensiva. O fato de tais pelos moradores e aprovado pelo INCRA para a
2006 áreas serem historicamente ocupadas e melhor utilização da área. Os PU's buscam
utilizadas pelo homem e não possuírem atualizar e unificar todos os instrumentos
Incra dá início às legislação fundiária e ambiental adequada (TAC's e IN's) em apenas um documento.
atividades na várzea. gerou o Programa ProVárzea, com o objetivo de Para garantir a sustentabilidade dos
São criados mais de 40 nortear políticas públicas que garantissem o projetos, no final de 2007, foi firmado um
PAE's manejo sustentável desse ecossistema. convênio com o Instituto de Pesquisas

2007
Antes da atuação do INCRA nessas áreas, já Ambientais da Amazônia (IPAM) para que este,

2007 existiam diversos acordos comunitários


regionais de pesca. O IBAMA, juntamente com
aproveitando sua longa experiência no
ambiente de várzea, acompanhasse a
Incra e Ipam assinam o Provárzea, aproveitou essas experiências elaboração de PU's e elaborasse Projetos
convênio para elaborar para elaborar diversas Instruções Normativas Básicos (PB's) para o Licenciamento Ambiental
PU’s e PB’s de 15 (IN's) relacionadas à pesca, com o principal de 15 PAE's de várzea.
assentamentos objetivo de garantir o estoque pesqueiro e As comunidades que se organizarem e, de

2010
diminuir os conflitos. Aproximadamente em fato, aplicarem o PU terão grande avanço no

2010 2002, o Ministério Público Federal (MPF)


começou um trabalho para mediar conflitos
atendimento de suas demandas coletivas, na
mediação de conflitos, na luta por seus direitos
Concluídos os PU's e entre pecuaristas, agricultores e pescadores, e, principalmente, na aplicação de políticas
PB's. Cartilhas contendo que resultou na assinatura de mais de 40 públicas destinadas para estas áreas.
os PU's são impressas Termos de Ajustamento de Conduta (TAC). Atualmente, a Superintendência Regional do
para os assentados Em 2005, Incra e SPU assinaram um Termo Incra no Oeste do Pará está destinando grande
de Cooperação Técnica, tendo como um de parte de sua capacidade de ação para a
seus principais objetivos a identificação das implantação e desenvolvimento desses projetos
situações possessórias para a criação de e, neste momento, inicia a aplicação do Crédito
Projetos de Assentamentos Agroextrativistas Aquisição de Material de Construção. Desta
(PAE's) às populações tradicionais ocupantes forma, a atuação do INCRA e de seus parceiros
dessas áreas. No final de 2005 e, tem colaborado significativamente na melhoria
principalmente, no ano de 2006, o INCRA deu da vida das famílias beneficiadas pelos projetos
início às atividades na várzea, resultando na e estimulado o abastecimento regional com
criação de mais de 40 PAE's. produtos de qualidade com origem na produção
É importante esclarecer que a modalidade familiar.
diferenciada de Projeto de Assentamento PAE é
destinada a populações tradicionais para Direção do Incra no Oeste do Pará

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Incra concede créditos a


2.460 famílias na várzea
Investimento é avaliado em R$ 7,8 milhões.
Oito assentamentos são atendidos
Assentado recebe material para armazenar pescado

A Superintendência Regional do Incra de luz, facilitando muito a vida deles. Os


no Oeste do Pará concedeu créditos a filhos podem fazer seus trabalhos
2.460 famílias em oito Projetos de escolares à noite. Antes, era à base da
Assentamento Agroextrativistas (PAE's) lamparina”, destaca Jander Ilson Rêgo
nos municípios de Curuá (Salvação), Pereira, diretor da Colônia de Pescadores
Alenquer (Madalena), Óbidos (Paraná de Z-20. Em 2009, em razão de uma grande
Baixo e Três Ilhas) e Santarém (Aritapera, cheia do rio Amazonas, recursos do Crédito
Urucurituba, Tapará e Ituqui). A ação está Apoio Inicial também foram empregados,
relacionada à aplicação do Crédito Apoio parcialmente, no socorro às famílias.
Inicial, que corresponde a R$ 3.200 por Casas
família. O desafio que se coloca agora para o
“Orientamos a ação por preceitos Incra é o início da aplicação do Crédito
como participação popular e controle Aquisição de Material de Construção, que
social, valorização e fortalecimento das viabiliza novas moradias a famílias
entidades representativas dos assentados, assentadas. Isso porque o ecossistema
além da transparência na destinação do várzea tem peculiaridades ambientais que
recurso público”, explica o chefe da Divisão exigem o planejamento de um modelo de
de Desenvolvimento, Fagner Garcia habitação diferente em relação aos
Vicente. assentamentos na terra firme.
Até o momento, o investimento, Segundo Fagner Garcia, foram
avaliado em R$ 7,8 milhões é referente disponibilizados recursos para iniciar um
apenas ao Crédito Apoio Inicial, o primeiro projeto piloto envolvendo 100 casas em
repassado pelo Incra a assentados da quatro PAE's na várzea santarena:
reforma agrária. “O pescador pôde investir Aritapera, Urucurituba, Tapará e Ituqui. “É
na parte da infraestrutura da pesca, preciso encontrar soluções no dia a dia,
comprando rabetas, por exemplo. Muitos aproveitando a sabedoria do povo. Desde
tinham de remar longas distâncias. Uma 2008, estamos discutindo a construção de
viagem que ele fazia num dia inteiro, hoje, habitações na várzea. Temos um projeto
ele faz em uma hora. Isso tem melhorado em conformidade com as normas
a fonte de renda do pescador. Muitos ambientais”, informa o chefe da Divisão de
[pescadores] também compraram motor Desenvolvimento.

Créditos do Incra na Amazônia - Modalidades e Valores


Apoio Apoio Aquisição de Material Fomento Adicional Recuperação/Materiais Reabilitação de Crédito Crédito
Inicial Mulher de Construção R$ 3.200 Fomento de Construção de Produção Ambiental
R$ 3.200 R$ 2.400 R$ 15 mil R$ 3.200 R$ 8 mil R$ 6 mil R$ 2.400

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Produção
Na várzea, não só as moradias são couve, cebolinha, repolho e pimentão. atividade como importante para agregar requer baixo custo e o tempo despendido a um período definido no ano, de março a
suspensas. A cerca de 30 minutos da área A produção do assentado é destinada valor. A maioria das famílias que assistimos na manutenção não atrapalha as demais agosto. Isso porque a comunidade Pixuna
urbana de Santarém, no Projeto de para abastecer o mercado santareno. já tem um local para a casa de abelhas, onde atividades que desenvolve, a pesca e a do Tapará usufrui de um lago mediante um
rica e diversa Assentamento Agroextrativista (PAE)
Urucurituba, comunidade de São Ciríaco,
Durante o verão amazônida, ele diz que vai
ao Mercadão 2000, na área urbana de
elas ficam protegidas. Com esse trabalho,
melhoramos o sistema que as famílias
agricultura. Além disso, a espécie com que
trabalha não possui ferrão e não agride o
acordo comunitário de pesca.
“As comunidades que fazem esse
na várzea assentados da reforma
reproduzem o mesmo modelo na
agrária Santarém, até três vezes por semana para
vender a produção.
utilizavam e possibilitamos o aumento de
suas caixas de abelhas. O objetivo do Ipam
homem, o que permite o convívio nos
arredores da casa da família.
trabalho [de manejo pesqueiro], como é o
caso de Pixuna do Tapará e Santa Maria do
agricultura. Hortas são cultivadas numa Mel agora é melhorar a cadeia de Atualmente, Antonio mantém 38 caixas Tapará, não se preocupam só em pescar e
Assentados em áreas de altura de até dois metros. No PAE Tapará, comunidade de Pixuna comercialização, com embalagem e destinadas à meliponicultura, que, neste sim em conservar o pescado para que ele
Marcelo Augusto de Sousa Santos, 31, do Tapará, em Santarém, há quatro anos rotulagem do mel, além de criar uma ano, devem lhe render até 40 litros de mel. possa ter sustentabilidade e durar muito
várzea obtêm renda a
trabalha há 17 anos com hortas suspensas. assentados da reforma agrária recebem associação para esse trabalho”, adianta A expectativa é vender cada litro a R$ 25, tempo. Os pescadores dessas
partir de diversas A medida é preventiva: durante o período capacitação do Instituto de Pesquisa Márcio Roberto Cunha, técnico do Ipam. perfazendo um faturamento de R$ 1 mil. comunidades nos relatam que o pescado
atividades, como a pesca chuvoso, o rio Amazonas avança sobre as Ambiental da Amazônia (Ipam) para Antonio Ferreira Carvalho, 51, é um dos Manejo pesqueiro tem dobrado e a fonte de renda melhorado
e a produção de mel, comunidades, um ciclo anual característico qualificar a produção do mel. “Hoje, a assentados do PAE Tapará que tem a Paralelamente, Antônio Ferreira se muito”, informa Jander Ilson Rêgo Pereira,
da várzea. Com a ajuda do tio, Genilson gente percebe um maior interesse das produção do mel como complemento na dedica à pesca, que, segundo ele, é a diretor da Colônia de Pescadores Z-20, de
grãos e leguminosas Corrêa de Sousa, 40, Marcelo planta famílias em criar abelhas, que veem a renda da família. Ele informa que a atividade atividade mais rentável, embora se restrinja Santarém.

Assentados
mantêm tradição
secular do cacau
No século XIX, Óbidos se tornou o
principal exportador de cacau do Baixo
Amazonas. Mesmo passado o auge desse
Pão chocolate faz sucesso Tipiti é empregado no Geleia de cacau ganha formas Semelhante ao mel, capilé é uma
em feira de Óbidos beneficiamento do cacau ciclo, assentados preservam a atividade e se torna mais vendável bebida obtida a partir do cacau

A oito horas de barco do Município de Santarém (PA), comunidades à beira do rio de abril de 2008 a junho de 2010, quando é levado ao forno até ganhar a consistência chocolate em bastões, que custam, cada
Amazonas, no Município de Óbidos (PA), preservam uma tradição secular que as torna Pinedo residiu na comunidade São Lázaro. de geleia. um, R$ 2,50.
peculiar: São Lázaro, Santa Cruz e Livramento, no Projeto de Assentamento Dona Maria Dorotéia da Silva Carvalho, As mulheres do PAE Cacoal Grande Além da feira semanal, Dona Conceição
Agroextrativista (PAE) Cacoal Grande, mantêm o cultivo e o beneficiamento do cacau. Elas 56, e Julio Leão de Carvalho, 59, residentes criaram uma marca na venda da geleia do diz que um ótimo período de vendas é a
estão na lista das que preservam a atividade em áreas de várzea no Baixo Amazonas. na comunidade São Lázaro, são um típico cacau. Quem a vê, logo reconhece sua Festa de Santana, que ocorre, no mês de
Uma evidência de que o cacau é um elemento importante na história de Óbidos é a casal que tem o cacau como presença origem. Em embalagens de tamanhos julho, em Óbidos. O marido de Dona
presença, como ilustração, no brasão oficial do Município. Quem nos conta essa cotidiana desde o nascimento. Os avós de diversos e com preços que, usualmente, Conceição, Francisco Dinanci Vinenti
singularidade é o professor Roberto Carlos Pinedo. Natural da Amazônia peruana, o Seu Júlio, portugueses, já trabalhavam com variam de R$ 3 a R$ 10, as geleias ganham Bentes, 52, ajuda na coleta, no
pesquisador encontra-se no Brasil desde 2007, quando veio ao país para desenvolver sua o plantio e o beneficiamento do cacau. formas em desenhos de animais, por beneficiamento e na venda do cacau. O
tese de Doutorado, que tem como tema “O cacau do remanescente sistema agroflorestal Hoje, ele e a esposa tentam recuperar a exemplo. A venda ocorre sob encomenda casal se prepara para, em dezembro,
caboclo nas relações socioeconômicas das famílias ribeirinhas de várzea do Município de área plantada. “Neste ano, devemos ou numa feira de produtores rurais, plantar mais de 100 mudas de cacau.
Óbidos”. plantar, ao menos, mais 100 pés de cacau”, localizada na área urbana do Município de “Os diferentes produtos beneficiados do
“Sabe-se, pelos documentos históricos, que o município de Óbidos destacou-se na planeja o assentado. Em 2009, a família Óbidos. cacau são de pequenas plantações que
produção de cacau durante e depois do período de colonização da Amazônia pelos sofreu com os efeitos da grande cheia do rio Dona Maria da Conceição Marialva dos integram diferentes espécies
portugueses. Inclusive, registros oficiais revelam Óbidos como sendo o principal município Amazonas. Santos, 56, junto a outros assentados, agroflorestais, como o taperebá. É possível
do Baixo Amazonas na produção e exportação de cacau”, revela Pinedo. Do cacau, Dona Maria e o marido obtêm acorda de madrugada, por volta das 3 planejar políticas de desenvolvimento das
No auge do ciclo do cacau em Óbidos, segundo levantamento do pesquisador peruano, renda com a venda da semente, seca ou horas, para pegar o barco que os leva à áreas de várzea visando recuperar o plantio
a Coroa Portuguesa e, depois, o Império Brasileiro mantinham uma propriedade com mais ainda com parte da massa do fruto, e a feira. Sua especialidade é a produção do de cacau como o componente principal do
de 40 mil pés de cacau na várzea deste município. Esta propriedade era o “Cacaoal produção de geleia. De modo artesanal, que ela chama de pão chocolate. sistema agroflorestal, diminuir o
Imperial”, cuja área hoje, transformada em campo de pastagem, é compartilhada entre as eles utilizam o tipiti, uma espécie de prensa “Torramos a semente seca, descascamos, desmatamento ou restaurar o
comunidades de Santa Rita e Vila Barbosa, ambas pertencentes ao PAE Costa Fronteira. de palha herdada dos índios amazônidas, espanamos e moemos até obter a massa”, ecossistema”, defende o pesquisador
Esses e outros fatos, de relevância histórica e da atualidade, foram descobertos no período para obter o vinho da massa do cacau, que explica a assentada, que vende o pão Roberto Pinedo.

Terras do Tapajós - Edição XXIII - Página 4 Terras do Tapajós - Edição XXIII - Página 5
Na várzea do Baixo Amazonas Incra 40 anos

Artigo

A Educação Ambiental
como instrumento de
cidadania e transformação
nos PAE`s
A educação dentro das comunidades de várzea dos
Municípios do Baixo Amazonas passa por um processo de
amadurecimento dos projetos político-pedagógicos. A
metodologia tem de ser coerente com a realidade rural da
Comunitários fazem
Amazônia e suas múltiplas diversidades. Dentro desse
a coleta do lixo
mosaico, a educação ambiental torna-se um instrumento
importante para a formação de cidadãos coerentes com decorrência do comprometimento da água consumida.
planos de ação comunitários voltados para a No período de vazante do Amazonas, os agentes de
sustentabilidade ambiental. saúde descreviam o aumento de doenças de pele e
O IPAM iniciou, em 1992, no Projeto de Assentamento verminoses. A iniciativa foi incorporada aos Planos de
Agroextrativista (PAE) Ituqui, uma formação dentro do Utilização de PAE's na várzea do Baixo Amazonas.
eixo formal com professores. A partir de uma experiência Na dinâmica estabelecida pelo projeto e absorvida
piloto, a metodologia foi readaptada e expandida para as pelas comunidades, o lixo produzido é classificado, de
regiões dos PAE's Urucurituba, Tapará e Aritapera. Várias forma que seja separado o material orgânico do não-
lideranças comunitárias foram capacitadas, tornando-se orgânico. O primeiro é aproveitado como adubo para os
importantes para o processo de implementação dos canteiros suspensos e as lavouras de grãos. O segundo,
Projetos Agroextrativistas criados pelo Incra. As que inclui plástico, latas, pilhas e vidro, são recolhidos e
iniciativas que surgiram a partir dos instrumentos formais levados até a área urbana de Santarém. A empresa
e informais de educação ambiental durante esses últimos responsável pela coleta de lixo na cidade recebe e dá a
quinze anos foram muitos, mas podemos destacar as devida destinação à carga.
iniciativas que tiveram sucesso não somente Reflorestamento
comunitário, mas também em caráter regional. Outra experiência bem-sucedida é o projeto de
O Projeto “Águas Limpas Comunidades Saudáveis”, reflorestamento na comunidade do Aracampina e
que iniciou na região do Tapará, é um exemplo de Igarapé do Costa, onde escola e comunidade uniram-se
experiência bem-sucedida, onde comunitários reuniram- para a recomposição de ambientes degradados. No
se para resolver o problema de dejetos jogados período da juta, muitas árvores nativas foram retidas
diariamente no curso das águas. O projeto surgiu em para o plantio dessa cultura, que, após o declínio,
segundo comunitários, deixou como consequência a
degradação.
Quelônios
Trabalhar as praias artificiais para acompanhar todo o
ciclo de vida dos quelônios é uma outra vivência
interessante: tornou-se um assunto transversal no
currículo das escolas da várzea. Crianças, adolescentes e
lideranças comunitárias, juntos, estão conhecendo a
importância do manejo sustentável da várzea através da
educação ambiental, afinal, esse é um dos alicerces do
desenvolvimento sustentável e equilíbrio, fundamentais
para a qualidade de vida das atuais e futuras gerações
dos PAE`s do Baixo Amazonas.

Edy Lopes - coord. de educação ambiental do IPAM

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Na várzea do Baixo Amazonas Incra 40 anos

Casas na várzea

Assentados
recebem material
de construção

As famílias assentadas dos Projetos casas. O modelo foi definido de forma participativa, em
Agroextrativistas (PAE's) da várzea santarena reuniões nas comunidades com representantes do
começaram a receber o material referente à construção Incra e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
de casas. As primeiras comunidades atendidas estão (Ipam). “Foi feito tudo conforme o pedido das
localizadas nos PAE's Aritapera e Tapará. A ação, que comunidades”, afirma Edivaldo Santos.
inicialmente prevê a construção de 100 casas, também Além dos costumes locais, as casas em construção
compreende mais dois assentamentos: Urucurituba e na várzea santarena têm por base a experiência na
Ituqui. Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
O anúncio do início da construção de casas nos (RDSM), localizada no Amazonas. As habitações
assentamentos de várzea em Santarém foi realizado estarão suspensas a até 2,5 metros de altura em
pelo ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme relação ao solo, como medida preventiva em relação à
Cassel, em visita ao município, no dia 23 de outubro. A subida do nível dos rios no período de cheia, e terão um
iniciativa é financiada com recursos do Instituto sistema sanitário para tratamento dos dejetos, através
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), de uma fossa de fermentação. O sistema exige a
através do Crédito Aquisição de Material de Construção, construção de duas câmaras contíguas em alvenaria,
que corresponde a R$ 15 mil por família. No total, será com uma casinhola de madeira e um assento feito de
investido R$ 1,5 milhão em créditos na primeira etapa ferro e cimento para adaptar uma tampa de vaso
de construção de casas. sanitário comercial.
Essa é a primeira vez que um ente público financia a O modelo sanitário escolhido para as casas em
construção de casas na várzea santarena. As construção na várzea, segundo técnicos do Incra e do
habitações existentes na região, até então, foram Ipam, resiste aos ciclos de enchentes e secas, fortalece
erguidas pelos próprios moradores, cuja experiência as atividades de educação ambiental e diminui a
será empregada na execução das obras das novas incidência de doenças, como a diarreia.
casas. “Estamos contratando carpinteiros das próprias “Espera-se que, com a instalação de fossas de
comunidades para trabalhar na construção das casas”, fermentação, esta tecnologia social garanta melhorias
revela o presidente do Conselho Regional de Pesca do no requisito saúde, principalmente de crianças, e
Urucurituba, Edivaldo José Pinheiro dos Santos. reduza a incidência de doenças de veiculação hídrica e
Basicamente, a madeira será utilizada como doenças oriundas do contato com dejetos humanos e
material, a exceção da estrutura do banheiro, em parte vetores. Essas benfeitorias também serão úteis para
de alvenaria. As casas terão área média de 42 metros tentar proporcionar aumento da consciência
quadrados, segundo Assis Dantas, técnico do Incra ambiental”, sustenta Alcilene Cardoso, chefe do
responsável pelo acompanhamento da construção das escritório do Ipam em Santarém.

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Terra Firme Incra 40 anos

Infraestrutura
O impacto na vida das famílias
Ministro inaugura obras No final de 2008, o Incra iniciou uma ação de
infraestrutura de estradas que envolve a
no valor de R$ 8,2 milhões complementação/construção de 393 quilômetros,
dos quais, 230 concluídos e 163 em execução. A
Famílias do Projeto de Assentamento Moju I e II obra, no total, está orçada em R$ 10,7 milhões.
são atendidas com captação de água e estradas Comunidades passaram a ter acesso a estradas e
pontes, permitindo o melhor deslocamento das
pessoas e o escoamento da produção.
“Hoje, o que mais tem é gente querendo fazer
linha [de ônibus] para o PA Moju porque está mais
habitado e o assentamento evoluiu. Antes,
praticamente não tínhamos estrada, mas ramais,
fechados demais”, recorda-se Samuel Brito,
assentado e liderança comunitária. Ele acrescenta
que o acesso a estradas significou o fim de situações
como o deslocamento, a pé, por até 30 quilômetros,
das famílias de comunidades mais afastadas.
A dona de casa Maria da Conceição Santos de
Sousa, 55, além das estradas, destaca a recente
conclusão de um sistema simplificado de
abastecimento de água em frente à vila onde mora,
O Ministro do Desenvolvimento Agrário, Guilherme Cassel inaugurou, no dia 22
no PA Moju I e II. No período chuvoso, ela relata que
de outubro, 230 quilômetros de estradas vicinais e sete sistemas simplificados de era difícil o consumo da água do igarapé.
abastecimento de água no Projeto de Assentamento Moju I e II, cuja área incide, “A água ficava suja, barrenta ou branca, e nós
em parte, sobre os municípios de Santarém e Placas, Oeste do Pará. A solenidade tínhamos que usar mesmo assim. Hoje, temos água
de inauguração, que ocorreu dentro da área do assentamento, contou também com limpa dentro de casa a qualquer hora do dia e da
a presença de gestores que atuam na Presidência do Incra, em Brasília (DF), e na noite”, informa a assentada, que mora com o
Superintendência Regional da autarquia em Santarém. marido, José Oliveira de Sousa, 57, há sete anos no
Os investimentos correspondem a R$ 8,2 milhões. A complementação e a PA Moju I e II.
A construção e a reforma de casas é outra ação
construção de 230 quilômetros de estradas vicinais demandaram, até o momento,
de impacto social do Incra no assentamento.
R$ 7,1 milhões, enquanto nos sistemas de abastecimento de água foi aplicado R$
Famílias têm substituído barracos de palha e
1,1 milhão.
madeira por casas de alvenaria. É o caso de Sady
A programação no PA Moju I e II incluiu ainda visita a casas recentemente Bandeira, 59, e de sua esposa, Erna Maria Bandeira,
entregues a famílias assentadas. Só neste ano, 105 novas casas foram concluídas 54, que trocaram o Rio Grande do Sul pelo Pará há
no assentamento e outras 105 passaram por reforma. Nos últimos três anos, 500 sete anos. Recentemente, eles receberam a
casas foram construídas e recuperadas na área com a liberação de R$ 6,1 milhões. primeira casa própria.

Terras do Tapajós é uma publicação concebida e mantida SR-30/Sede


pela Assessoria de Comunicação da Superintendência Avenida Rui Barbosa, 1321, Centro - Santarém - Pará
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Superintendente titular: Cleide Antônia de Souza
Projeto gráfico/Redação/edição de textos e imagens Superintendente substituto: Cláudio Ribeiro da Silva
Luís Gustavo Chefe da Divisão de Administração: Antonio Israel Santana
Chefe da Divisão de Desenvolvimento: Fagner Garcia Vicente
Colaboradores Chefe da Divisão de Obtenção de Terras: Francisco De Luca
Edy Lopes e Márcio Roberto, ambos do Ipam Chefe da Divisão de Ordenamento Fundiário: Charles Vidal
Roberto Pinedo (Doutorando da UFPA) Chefe da Procuradoria Jurídica: Eliaci Nogueira

Autoria das imagens


Luís Gustavo e Assis Dantas (Incra) /Ipam

Terras do Tapajós - Edição XXIII - Página 8

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