Curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, Grupo de Estudos em Educação, Cultura e Meio Ambiente
RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido no Parque Ambiental de Belém (PAB), uma Unidade de Conservação
(UC) de uso indireto localizada no Estado do Pará, região norte do Brasil. Seus objetivos foram:
verificar a existência de atividades de conservação de fauna silvestre; catalogar as espécies da fauna
introduzidas de maio de 1994 a maio de 2003; e, analisar o nível de conhecimento da população
humana do entorno sobre o PAB. Um questionário foi aplicado em 20% dos domicílios de uma das
comunidades do entorno e foram analisados os boletins de apreensão e soltura de fauna do Batalhão
de Policiamento Ambiental. Verificou-se que: 1) Não existem atividades voltadas a conservação da
fauna silvestre; 2) Foram introduzidos 2472 animais, distribuídos em aves (65,4%), répteis (27,7%) e
mamíferos (6,9%); 3) Das espécies soltas, não estavam registradas no levantamento faunístico da
área 27 espécies de aves, 07 de répteis e 05 de mamíferos, o que poderá alterar o equilíbrio do
ecossistema local e, conseqüentemente, prejudicar a conservação da biodiversidade ; 4) A
população humana do entorno conhece pouco sobre o PAB, embora a maioria já tenha realizado
visitas no local, sendo o objetivo principal a observação da natureza; 5) A comunidade acredita na
ABSTRACT
This study was conducted at the Environmental Park of Belém (EPB), a Conservation Unit (CU)
located in the Northern of Brazil. The purpose of the present study was: to ascertain the existence of
conservation activities of the fauna; to list all the animal species introduced into the EPB between
May, 1994 and May, 2003; and to analyze the level of knowledge of the EPB nearby human
population. Interviews were conducted at Moça Bonita community where 20% of the homes were
visited. This methodology agreed with the census of Brazilian Institute of Geography and Statistics
(2000). The documents of Environmental Police, Bulletin of Capture and Release, were analyzed. The
analyses showed that: 1) There is no fauna conservation activity at the EPB; 2) A number of 2472
animals have been introduced into the park including birds (65,4%), reptiles (27,7%) and mammals
(6,9%); 3) 39 species released in the park including 27 birds, 7 reptiles and 5 mammals had not been
recorded in a previous study in the area. This may lead to changes in the local ecosystem equilibrium,
and jeopardize the conservation of the biodiversity; 4) The surrounding population knows little about
EPB, even though most of them have visited the place, mainly for nature sight walks; 5) The
community believes that conserving EPB as a leisure area, and a place for conservation of the fauna
is important; 6) The lack of environmental education programs is one of the reasons why EPB does
not fully play its role as a CU.
INTRODUÇÃO
1
A diversidade de espécies é um dos vários níveis de organização da vida, sendo, portanto, um dentre outros
componentes, ou escalas, da diversidade biológica. Contudo, este é o nível que, até o momento, vem sendo mais
enfocado em comparações abrangentes, desde a escala local até a biosfera para determinação da diversidade
biológica (LEWINSOHN & PRADO, 2002). Por isso, a diversidade de espécies será o parâmetro utilizado neste
trabalho para representar a diversidade biológica de uma área.
OBJETIVOS
MATERIAL E MÉTODOS
ENTREVISTA
As primeiras ações consistiram na busca de informações gerais acerca das ações de
conservação dos animais silvestres existentes no PAB. Para isso, procurou-se manter o
contato com o Batalhão de Policiamento Ambiental (BPA), chamado anteriormente de 2ª
Companhia Independente de Policia de Meio Ambiente (2ª CIPOMA), responsável pela
vigilância do PAB, a fim de programar uma entrevista semi-estruturada.
LEVANTAMENTO DOCUMENTAL
Todos os animais que chegaram no BPA, oriundos de doação ou apreensão, eram
registrados no chamado Livro do Oficial de Dia, um livro-ata onde foram registrados os
acontecimentos diários do BPA.
Os dados foram catalogados em fichas especiais e posteriormente analisados e
sistematizados.
Ao todo foram verificados 12 livros onde estavam contidas as informações do período
de maio de 1994 até dezembro de 2001. As informações referentes ao ano de 2002 e aos
meses de janeiro a maio de 2003, foram extraídas diretamente dos relatórios mensais de
atividades operacionais do BPA que passaram a ser feitos no ano de 2002. Nestes relatórios
as informações a respeito da origem e destino dos animais registrados no Livro do Oficial de
Dia foram organizadas e apresentadas de forma direta.
QUESTIONÁRIO
Durante a pesquisa documental foi elaborado um questionário para ser aplicado à
população humana que habita o entorno do PAB, objetivando verificar o seu nível de
conhecimento sobre este meio ambiente. Para a elaboração deste questionário teve-se como
base o trabalho de PÁDUA (1997b) [18], o qual mostra os resultados de um estudo em
Educação Ambiental realizado no Jardim Botânico de Brasília.
Com a elaboração do questionário passou-se a fase de aplicação destes aos moradores
do entorno do PAB. Entretanto, devido a grande extensão da área do entorno do PAB,
escolheu-se aleatoriamente uma comunidade (Moça Bonita), dentre as oito existentes em seu
entorno: Verdejante, Pedreirinha, Parabor, Moça Bonita, Buiussuquara, Pantanal, Tropical e
Mariana.
Na comunidade selecionou-se as quadras que ficavam mais próximas do Parque
Ambiental de Belém e, nestas áreas, foram aplicados os questionários segundo o modelo
adotado no Censo de 2000 pelo IBGE (2002) [19] para analisar populações com até 15 mil
habitantes. Este método consistiu na aplicação de um questionário a cada cinco domicílios,
resultando em uma análise de 20% do total. Os resultados dos questionários foram analisados
e seus dados sistematizados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
2
A Pirelli é uma área de 7,8 mil hectares abrangendo os municípios de Marituba, Benevides e Santa Izabel do
Pará, a maior parte no entorno da Alça Viária. Neste local está sendo implantado o Parque Ecoturístico do
Guamá.
3
Convém ressaltar que não foi registrado a soltura de anfíbios na área durante o período de execução do estudo.
1% 6% 2% 9% Solto na Pirelli
Fuga
Óbito
Figura 01 – Destino dos mamíferos registrados no livro do oficial de dia do BPA no período de maio de 1994 a maio de 2003.
Sem informação
Solto na Pirelli
5% 4% 2% 2%
23%
7% Solto em local não informado
10%
Doado a guarda voluntário gratuito
Doado a instituições
23%
24% Devolvido ao proprietário
Fuga
Óbito
Figura 02 – Destino das aves registradas no livro do oficial de dia do BPA no período de maio de 1994 a maio de 2003.
Sem informação
1%
Doado a instituições
61%
Devolvido ao proprietário
Fuga
Óbito
Figura 03 – Destino dos répteis registrados no livro do oficial de dia do BPA no período de maio de 1994 a maio de 2003.
Isso pode ter acarretado risco ecológico para as espécies do local, interferindo de
forma direta em seu processo de conservação. Agrava-se o fato de ter sido observado que
algumas espécies introduzidas no PAB não possuíam ocorrência na área segundo o registro
de PARÁ (1999) [14] (Quadro 06 e Figura 04)
De acordo com os critérios adotados por SOORAE & STALEY (1999) [21], esta
prática pode trazer dois riscos: o primeiro é fato da soltura de indivíduos da mesma espécie,
mas de regiões geográficas diferentes, inserirem genes pouco viáveis nas populações já
estabelecidas no PAB; e, o segundo, é o risco dos animais soltos transmitirem enfermidades
às populações silvestres do PAB. Desta forma, o animal introduzido torna-se uma espécie-
praga gerando prejuízo para o ecossistema local.
Com relação a problemas gerados pela introdução de espécies exóticas em uma
região, FERNANDEZ (2000) [22] relata um caso interessante em que um único gato, levado
para a pequena Ilha de Stephen, perto da Nova Zelândia, por um faroleiro, foi responsável
pela extinção de uma espécie de ave, a Xenicus lyalli, endêmica naquela área. No Brasil já
foram documentados alguns casos relacionados aos impactos de espécies exóticas sobre as
espécies locais, dentre os exemplos pode-se citar o caso de peixes introduzidos que
eliminaram espécies nativas em lagos naturais de Minas Gerais e, de lebres européias que
podem estar competindo com o coelho brasileiro [3].
Apesar desta situação desfavorável, foi verificada a existência de algumas ações locais
que já foram implementadas no intuito de amenizar este problema, como a criação do SOS-
Fauna que faz parte do Projeto Bio-Fauna da Universidade Federal Rural da Amazônia
(UFRA), que é um centro de reabilitação de animais silvestres para onde os animais que
chegam ao BPA estão sendo encaminhados para avaliação clínica antes de serem soltos.
AVES
Garça Indeterminada 07
Saracura Indeterminada 01
Jaçanã Jacana jacana 01
Graúna / Chico-preto Scaphidura oryzivora 09
Corrupião Icterus sp. 04
Socó-boi Tigrisoma lineatum 03
Pato-do-mato Cairina moschata 01
Marreco Indeterminada 01
Galinha-d’água Gallinula chloropus 01
Rolinha Columbina sp. 10
Pombo Indeterminada 01
Periquito Indeterminada 14
Papagaio Indeterminada 14
Jandaia Aratinga jandaya 18
Curica Amazona amazonica 01
Maitaca-da-cabeça-azul Pionus menstruus 01
Marianinha Pionites leucogaster 02
Tucano Ramphastos sp. 01
Araçari Indeterminada 03
Pica-pau Indeterminada 01
Gavião Indeterminada 05
Coruja Indeterminada 12
Suindara Tyto alba 01
4
Indeterminada: quando um nome vulgar é usado para diferentes espécies e gêneros ou quando o nome vulgar
não teve o nome de espécie encontrado.
RÉPTEIS
Iguana Iguana iguana 44
Camaleão Polychrus sp. 15
Jibóia Boa constrictor 74
Sucuri Eunectes sp. 29
Cobra-rato Indeterminada 01
Tartarugas Indeterminada 307
Muçuan Kinosternon scorpioides 141
Aperema Rhinoclemmys punctularia 18
Jabuti Geochelone sp. 31
Tracajá Podocnemis sp. 04
Jacaré Caimam sp. 19
Jacaretinga Caiman crocodilus 02
TOTAL DE RÉPTEIS 685
TOTAL GERAL 2472
36%
Sim
Não
64%
Figura 05 – População da comunidade Moça Bonita que já realizou ou não visita ao PAB.
4% Durante a semana
Figura 06 – Freqüência com que os moradores da comunidade Moça Bonita visitam o PAB.
20%
28%
Bastante
Pouco
Nada
52%
Figura 07 – Nível de conhecimento dos moradores da comunidade Moça Bonita a respeito do PAB.
Tabela 04 – Comportamento dos moradores da comunidade Moça Bonita frente a um possível encontro com três grupos de animais do PAB.
COMPORTAMENTO
CLASSE Não Leva para casa como animal Mata para
Vende Mata
perturba de estimação comer
MAMÍFEROS 80% 16% - - 4%
AVES 64% 32% - - 4%
RÉPTEIS 84% - - 16% -
28%
Ausência
Presença
72%
Figura 08 – Respostas dos moradores da comunidade Moça Bonita sobre a existência ou ausência no PAB de animais que
oferecem perigo ao homem.
Tabela 06 – Comportamento dos moradores da comunidade Moça Bonita ao observarem caça na área do PAB.
COMPORTAMENTO FREQÜÊNCIA DAS RESPOSTAS
Não faz nada 40%
Informa e conscientiza a pessoa que o que está 28%
fazendo é proibido
Avisa o BPA 32%
Tabela 07 – Relação de justificativas sobre a importância da conservação do PAB apresentada pelos moradores da comunidade Moça
Bonita.
RESPOSTAS FREQÜÊNCIA
É um importante espaço de lazer 24%
Garante a sobrevivência dos animais que vivem na área 17%
Protege os lagos Bolonha e Água Preta 13%
Beneficia os moradores da área: melhora o ambiente e purifica o ar. 13%
Permite o contato com a natureza 10%
É um importante espaço de preservação da natureza 10%
Possibilita o conhecimento da natureza 7%
Garante a preservação da vegetação 3%
Proporciona um bem-estar para os moradores do entorno 3%
Sobre o PAB, foram realizados levantamentos dos registros dos animais introduzidos
e o destino dos mesmos, entrevistas com os responsáveis pelo BPA e aplicação de
questionários na comunidade Moça Bonita, levando as seguintes conclusões:
1. Foram introduzidos no PAB, entre maio de 1994 a maio de 2003, 2472 animais de
diferentes espécies da fauna silvestre da Amazônia, sendo a maioria aves (65,4%), seguido de
répteis (27,7%) e mamíferos (6,9%) .
2. Aproximadamente foram introduzidas 49 espécies de aves, 12 espécies de répteis e
17 espécies de mamíferos. Destas espécies, não estavam catalogadas como pertencentes à
fauna do PAB 27aves, 07 répteis e 05 mamíferos.
3. O principal destino das aves foi à liberação na área da Pirelli, dos répteis a maioria
das vezes foram soltos no PAB e na APA-Belém, e dos mamíferos foi à doação para
instituições de pesquisa.
4. Há necessidade da realização de levantamentos qualitativos e quantitativos da fauna
do PAB e áreas adjacentes (APA-Belém e Pirelli), sobretudo para os grupos de mamíferos,
aves e répteis em virtude da soltura. Além de monitoramento das espécies não catalogadas
para o PAB e que foram introduzidas em sua área, procurando verificar se elas estão de
alguma forma alterando os processos naturais do ecossistema local.
5. O nível de conhecimento da população da comunidade Moça Bonita com relação ao
PAB é relativamente pouco, porém a maioria já realizou visitas no local, mas com pouca
freqüência, cujo objetivo principal era a observação da natureza. A maioria desta população
acredita que é importante a conservação do PAB pelo fato dele servir como um espaço de
lazer, mas um número significativo de pessoas relacionou a importância da preservação do
PAB à sua função de garantir a conservação dos animais que vivem em sua área.
6. A ausência de programas de gerenciamento ambiental e a falta de programas de EA
que conscientizem a população do entorno do PAB, contribuem para que esta UC não
desempenhe plenamente a sua função de conservação da fauna.
7. É necessário se iniciar um programa de EA com as comunidades do entorno do
PAB, transformando-o em uma escola de informação sobre a Amazônia, contribuindo tanto
para o aumento da consciência ecológica como possibilitando a melhoria da qualidade de
vida dos moradores. Ademais, a participação deles em projetos educativos poderá aumentar a
sua percepção sobre a importância do PAB e torná-los defensores desta área.
AGRADECIMENTOS
Aos moradores da comunidade Moça Bonita pela boa receptividade por ocasião da
aplicação dos questionários.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
[2] LEWINSOHN, T.M. & PRADO, P.I. 2002. Biodiversidade brasileira: síntese do
estado atual do conhecimento. São Paulo: Contexto. 176p.
[4] MMA. 2003. Lista Nacional das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de
Extinção. Disponível em: www.mma.gov.br/port/sbf/fauna/lista.html. Copiado em:
21/07/2003.
[5] GIRARDI, G. 2003. Extinção cada vez mais próxima. Galileu. (139): p 20-27.
[6] WILSON, E. O. 1994. Diversidade da Vida. São Paulo: Companhia das Letras.
447p.
[18] PÁDUA, S.M. 1997b. Cerrado casa nossa: um projeto de educação ambiental
do Jardim Botânico de Brasília. Brasília: UNICEF. 35p
[22] SOORE, P.S. & M.R. STANLEY PRICE. 1999. Animales confiscados vivos:
qué opciones hay para su ubicación? In.: FANG, T.G.; MONTENEGRO, O.L. &
BODMER, R. Manejo y conservación de fauna silvestre en America Latina. La Paz –
Bolivia: Editorial Instituto de Ecología. p. 63-68