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Na ausência de outros sucessíveis legítimos que possam ou queiram aceitar, o Estado assume a situação de herdeiro, evitando
que, como escreve GALVÃO TELLES, os bens fiquem ao abandono, sujeitos à perda ou ocupação de qualquer um, com grave
risco para os credores da herança e prejuízo para o interesse nacional.
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No entendimento do professor DIOGO LEITE DE CAMPOS, a dedução das dividas da herança deve fazer-se dos bens deixados
e só deles. Não deve fazer-se da soma dos bens deixados com os bens doados, pois os credores hereditários não podem pagar-se
com estes últimos. Os bens doados, que entram para o cálculo da massa da herança, constituem uma espécie de reserva hereditária
que virá a fundar e a constituir a legitima dos herdeiros legitimários. Ao referir a restituição fictícia dos bens doados, ou seja,
pelos relicta e pelos donata. Se o relicutm não for suficiente para suportar o passivo arredonda-se a 0, o donatum serve para única
proteção dos legitimários;
O presente documento não serve como único elemento de estudo.
DANIEL VEIRA LOURENÇO
Escola de Lisboa – sustenta que o alargamento do quinhão legitimário, por via do artigo
2162ºCC, vem a traduzir aquilo que o herdeiro efectivamente recebe nessa qualidade, ou seja,
aquilo por que ele responde pelo passivo hereditário, segundo o artigo 2071º, em conexão com
o artigo 2068º. Por isso, também o donatum havia de ser afectado pelo passivo, logo, VTH =
R + D – P;
O relictum abarca os bens existentes no património do de cuius à data da sua morte. Refere-se à data da
abertura da sucessão. Se o de cuius era casado num regime diferente do da separação de bens, o valor do
relictum será igualmente a soma do valor dos seus bens próprios com o valor da meação nos bens
comuns. Os bens deixados por testamento ou doados por morte integram o relictum, uma vez que a
transmissão da propriedade não ocorre em vida do autor das liberalidades.
O donatum engloba os bens doados e as despesas sujeitas a colação. Por bens doados entende-se bens
doados em vida. O art.2110º aponta quais são as despesas que estão e as que não estão sujeitas a colação.
O valor dos bens doados é o que eles tiverem no momento da abertura da sucessão (art. 2109º, n.º1),
valendo o mesmo para as despesas sujeitas a colação. Para fixação do valor da herança, não são
consideradas as coisas doadas que tiverem perecido ainda em vida do de cuius por facto não imputável
ao donatário (art. 2162º, n.º2).
O passivo inclui todos os encargos da herança, à exceção dos legados (p.e., despesas com funeral e
sufrágios, encargos com a testamentaria, administração e liquidação do património hereditário) (art.
2068º). Os bens legados enquadram-se no relictum.
Intangibilidade da Legítima (proteção dos legitimários):
Principio da Intangibilidade Qualitativa (art.2163º; 2164º e 2165º);
Principio da Intangibilidade Quantitativa (art.2166º; 2167º; 2168º e 2178º);
No âmbito da redução por inoficiosidade, a redução das doações mortis causa (1759º e 1705/3CC) são
equiparadas às doações inter vivos. Logo, a ordem será: deixas testamentárias a título de herança; deixas
testamentárias a titulo de legado e, por último, as doações inter vivos e mortis causa da mais recente para
a mais antiga (art.2173ºCC).
Existem 3 tipos de pactos sucessórios: designativos/aquisitivos; renunciativos e dispositivos. A regra no
ordenamento jurídico português é a da proibição dos pactos sucessórios (artigos 946º e 2028ºCC). 3
Doações por morte são convertidas em disposições testamentárias se cumprirem os requisitos de forma4
(946/2CC).
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A razão da proibição dos pactos sucessórios assenta no principio da liberdade de disposição por morte, de que decorre, como
corolário natural, a caraterística da livre revogabilidade do testamento. O testamento pode ser livremente revogado,
contrariamente, visto que o pacto sucessório tem uma natureza bilateral, passa a ser subtraído à vontade unilateral do autor da
sucessão a sua revogação e a livre disponibilidade dos seus bens por morte. CARVALHO FERNANDES adianta ainda que
repugnaria ao sentimento comum que uma pessoa procedesse como se outra já estivesse morta.
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OLIVEIRA ASCENSÃO e PAMPLONA CORTE-REAL admitem como suficiente a escritura pública. Seguindo de perto o
exposto noutra oportunidade, a este respeito, a questão coloca-se nos seguintes termos. Por um lado, o artigo 67/2 C. Not., parece,
na verdade, sugerir que a intervenção das testemunhas instrumentárias no testamento não tem o alcance que à primeira vista seria
de lhe atribuir, uma vez que se permite ao notário dispensá-las no caso de haver urgência e dificuldade em as conseguir.
O presente documento não serve como único elemento de estudo.
DANIEL VEIRA LOURENÇO
Os pactos sucessórios são válidos quando feitos em convenção antenupcial5 (cf. 1699º/1/a); 1700º/1;
1705º; 1710ºCC). Caso não haja aceitação, tem valor meramente testamentário.
Quando exista convenção antenupcial e um pacto sucessório e não seja dito se existe ou não aceitação,
deve abrir-se a hipótese. Deve ser escolhido um dos caminhos, a decisão terá repercussão no regime da
revogação6 e na redução das liberalidades (consoante seja doação mortis causa ou deixa testamentária),
e, consequentemente, no mapa da partilha.
A deixa contratual pode ter por objeto uma quota ou a totalidade da herança. Caso a instituição
contratual tenha por objeto uma quota da herança, deve atender-se ao valor dos bens de que o doador
haja disposto gratuitamente depois da doação (art.1702/1CC). Logo, R + D(posterior) – P.
Testamentária
O direito de suceder é o direito de aceitar ou de repudiar a herança.7
Pressupostos Gerais da vocação sucessória:
Existência do chamado:
1. Sobrevivência em relação ao de cuius;8
2. Personalidade jurídica;9
Em sentido contrário, porém, aponta um argumento retirado do artigo 70º do mesmo Código, quando comina, para a falta de
assinatura da testemunha, a nulidade do instrumento notarial. Parece, contudo, razoável entender o preceito no sentido de a falta
de assinatura respeitar a testemunha que deva estar presente, o que não será o caso se houver dispensa no notário. Abona neste
sentido a alínea c) do nº2 do artigo 70º, quando estabelece o regime de sanação da nulidade em causa.
O professor CARVALHO FERNANDES considera que o entendimento correto é o de que à doação por morte nula pode ser
atribuída, por via de conversão legal, a eficácia sucedânea própria do testamento, desde que a doação haja sido feita por escritura
pública, sem que para tanto se torne necessário que nela intervenham duas testemunhas. O argumento definitivo que conduz a esta
solução continua a ter a sua base no regime correspondente da conversão comum, tal como, em matéria de forma, se contém no
artigo 293CC. Segundo este preceito, os requisitos de forma de que a conversão comum depende são apenas os essenciais para a
validação do negócio sucedâneo. Ora, quanto a este requisito não faz sentido ser mais rigoroso em sede de conversão legal,
quando é certo que a lei em regra nela dispensa requisitos de que a conversão comum depende, podendo mesmo chegar ao ponto
de abdicar do requisito de forma, sem curar agora de apurar se esta é ou não a solução mais acertada. Em particular, na sua
aplicação especifica à doação por morte, para efeito da sua conversão legal, não se pode ter como essencial uma formalidade que
o notário pode dispensar com o simples fundamento de haver dificuldade em conseguir que duas testemunhas intervenham no ato.
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PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, destacam que tais pactos são encarados como uma forma auxiliar de estabilidade
económica da sociedade conjugal em formação e de encorajar a celebração de certos casamentos. O principio favor matrimonii
justifica também a validade dos pactos do esposado a favor do terceiro. O professor CAPELO DE SOUSA, destaca que os pactos
em favor do terceiro funcionam normalmente como forma de proteção de interesses de certas pessoas que poderão ser
prejudicados com o matrimónio e nestes termos removem certos obstáculos factuais ao casamento.
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Um dos corolários a retirar da conversão respeita à revogabilidade que caracteriza este negócio. Assim, se em testamento
posterior o autor da doação por morte dispuser dos mesmo bens, deve esta ter-se por revogada nos termos do artigo 2313º
podendo o doador revoga-la expressamente, a todo o tempo, através do testamento (art.2311/1CC).
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Trata-se de um direito subjetivo potestativo, originário e com caráter instrumental.
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Note-se, contudo, que, sendo pessoa singular, e não se tendo a certeza se a sua morte ocorreu antes ou depois da do de cuius,
presume-se que as duas foram simultâneas, não se concretizando, portanto, a vocação sucessória (cf. art. 68.º/2), não se
concretizando, também, se tiver sido declarada morte presumida com data anterior à abertura da sucessão (arts. 114.º/3 e 115.º)
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Quanto aos seres humanos, do art. 2033.º resulta que podem ser chamadas pessoas que ainda não tinham nascido ao tempo da
abertura da sucessão, mas que já tinham sido então concebidas (nascituros), e podem ser chamadas pessoas que não tinham sequer
sido concebidas ao tempo da abertura, se tiverem sido designadas como sucessíveis voluntários, pelo de cuius enquanto filhos de
pessoa determinada e viva ao tempo da abertura da sucessão. Note-se que os nascituros, enquanto tais, não beneficiam da vocação.
A atribuição do direito de suceder depende do seu nascimento, nos termos do art. 66.º/2. Em sentido contrário pronuncia-se o
professor DIOGO LEITE DE CAMPOS, afirmando que a personalidade jurídica surge com a conceção, o ilustre professor da
escola de Coimbra defende que o nascituro concebido é chamado a suceder e que se falecer (antes ou depois do nascimento) os
bens adquiridos transmitem-se para os seus herdeiros. Para o professor PEREIRA COELHO, os nascituros concebidos detêm uma
personalidade reduzida que permite o respectivo chamamento à sucessão.
É polémica na doutrina a questão da partilha no caso de terem sido designados nascituros não concebidos. Um sector, encabeçado
por PEREIRA COELHO, sustenta que a partilha pode ser feita logo após a abertura da sucessão, sob condição resolutiva do
nascimento completo e com vida dos sujeitos designados. Outro sector, no qual se enquadra PAMPLONA CORTE-REAL,
considera que a partilha não é admissível senão depois de haver a certeza que nascem mais filhos.
Quanto a JORGE DUARTE PINHEIRO, a sua posição é a seguinte: parece a este autor que a partilha não pode ficar
indefinidamente pro fazer, nem ficar sujeita a ser resolvida sempre que nasça uma pessoa. Assim, considera que a partilha pode
ser feita logo após a abertura da sucessão. Sobrevindo um sucessível, dever-se-á aplicar analogicamente o art. 2029.º/2: a quota
do herdeiro superveniente será composta em dinheiro. Esta orientação é proposta, apenas de iure condendo, por GUILHERME
DE OLIVEIRA.
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São chamados à sucessão aqueles que gozam de prioridade na hierarquia dos sucessíveis, os chamados “sucessíveis
prioritários”. Se o sucessível prioritário não quiser ou não puder aceitar a sucessão, é chamado o sucessível subsequente,
retroagindo a vocação deste ultimo ao momento da abertura da sucessão (cf. art.2032.º/2).
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Idoneidade para ser chamado a suceder como herdeiro ou legatário;
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São ilegitimidades sucessórias passivas, dado que um sucessível é declarado indigno ou deserdado relativamente à sucessão de
uma certa pessoa e só quanto à sucessão desta pessoa é que não pode ser chamado.
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A tipicidade das causas de indignidade é afirmada pela doutrina corrente. Em sentido diverso. OLIVEIRA ASCENSÃO
considera que o artigo 2034º consagra uma tipicidade delimitativa. Parte para tanto do principio segundo o qual as tipificações
normativas não devem ser consideradas taxativas; mas atende, por outro lado, às graves consequências decorrentes da
indignidade, que afasta da sucessão o autor dos atos referidos no preceito. O alcance desta construção é o de excluir o recurso à
analogia iuris para atribuir relevância, como causa de indignidade, a atos não referidos no artigo 2034º, mas admitir a analogia
legis.
O professor CARVALHO FERNANDES, no mesmo sentido do professor PAMPLONA CORTE-REAL, coloca algumas dúvidas
quanto à perfilhação desta construção, e em, nessa base, entender também o preceito, sobretudo em vista do seu caráter
excecional; mas ainda por nele configurar uma pena civil.
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Para boa parte da doutrina, nomeadamente, OLIVEIRA ASCENSÃO, CAPELO DE SOUSA, PIRES DE LIMA/ANTUNES
VARELA, etc., a ação de declaração de indignidade só tem que ser intentada quando a pessoa que incorreu numa causa de
indignidade esteja na posse de bens da herança. Ou seja, segundo o professor OLIVEIRA ASCENSÃO importa distinguir
consoante o indigno tenha ou não a posse de bens hereditários; só no primeiro caso a declaração judicial de indignidade seria
necessária.Contudo, JORGE DUARTE PINHEIRO considera que o art. 2036.º não distingue, tal como o considera PAMPLONA
CORTE-REAL, e há razões de segurança e certeza jurídica que justificam a necessidade de se recorrer sempre à ação de
declaração de indignidade. Para mais, a dispensa de ação, no caso de sucessível que não esteja na posse dos bens, alarga o âmbito
da indignidade, com base num meio (analogia com o 287.º/2) contrário ao princípio da legalidade estrita, que vigora no campo das
sanções punitivas, sejam elas civis ou penais. Na falta de norma especial, a legitimidade para propor a ação de declaração de
indignidade, que JORGE DUARTE PINHEIRO considera sempre indispensável, é apurada com base no art. 26.º do CPC.
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Esta questão dividiu, profundamente, a doutrina na década de 80: PEREIRA COELHO considerou que o instituto da
indignidade não era aplicável à sucessão legitimária, com base no seu caráter geral: tendo-o, o instituto cedia perante a
deserdação, que é instituto específico da sucessão legitimária. OLIVEIRA ASCENSÃO, por outro lado, sustentou que a
indignidade só operava quando o de cuius não tivesse conseguido deserdar o sucessível legitimário. Contudo, PAMPLONA
CORTE-REAL bateu-se por uma terceira posição, hoje detentora do apoio da generalidade dos autores (nomeadamente,
PEREIRA COELHO e OLIVEIRA ASCENSÃO, os próprios intervenientes. Curiosamente, LEITE DE CAMPOS, isolado,
mantém-se fiel à antiga tese de PEREIRA COELHO), ela qual defende que o sucessível legitimário está totalmente sujeito ao
regime da indignidade, dado que a prática de factos que preenchem as causas da indignidade não são menos censuráveis se os
autores forem pessoas com ligações familiares muito próximas do de cuius, muito pelo contrário (!).