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DANIEL VEIRA LOURENÇO

SOS SUCESSÕES – DIVERGÊNCIA DOUTRINÁRIA


 Artigo 1986CC + artigo 2133 CC – adoção é equiparada à filiação; PMA é abrangida por aplicação
analógica em relação à adoção. Com a adoção cessam as relações jurídico-familiares com os
progenitores biológicos (não se produzem efeitos sucessórios – principio da indivisibilidade do estado).
 No âmbito do direito de representação, há uma exceção ao principio da divisão por cabeça (art.
2136CC), fala-se, aqui, do principio da estirpe (art.2044CC), ou seja, cabe a cada estirpe aquilo em que
sucederia o ascendente respectivo.
 No âmbito da sucessão dos ascendentes, a perfilhação posterior à morte do filho não confere a qualidade
de sucessível legal do filho ao perfilhante e aos ascendentes do perfilhante (art.1856).
 O Estado não pode repudiar (art.2154), dessa forma se garante que haja sempre um titular para as
situações patrimoniais do de cuius.1
 O sucessível legitimo, em vida do autor da sucessão, encontra-se numa situação precária, nada mais é do
que o titular de um interesse reflexamente protegido. Em vida do de cuius, ele não beneficia nem de um
direito de suceder nem de uma expetativa jurídica.
 Quando o enunciado refere que o de cuius faleceu vitima de um acidente, mesmo que nada mais se
adiante, deve abrir-se a hipótese referente ao dano morte e a uma eventual indemnização pelos danos
não patrimoniais causados entre o momento do acidente e o momento da morte (art.496/3) – sucessão
legitima anómala transmissiva- e neste caso ESTAMOS PERANTE UM LEGADO porque a sucessão
respeita um direito determinado e não à totalidade da quota do património.
 O cônjuge é chamado à sucessão mesmo que o casamento tenha sido celebrado, convencional ou
imperativamente, no regime de separação de bens.
 O cônjuge separado de facto há mais de um ano é, também, chamado à sucessão (favor matrimoniis,
ainda não há divórcio nem separação judicial de pessoas e bens).
 A sucessão legitimária é a coluna vertebral do sistema sucessório.
 Divergência em torno do cálculo da legitima:
 Escola de Coimbra – donatum não responde pelo passivo, sendo a sua inclusão destinada à
tutela do legitimário e não à tutela dos credores, que não podem ter, após a morte do devedor,
melhor posição do que a que tinham na vida dele, logo, VTH = (R - P) + D2;

1
Na ausência de outros sucessíveis legítimos que possam ou queiram aceitar, o Estado assume a situação de herdeiro, evitando
que, como escreve GALVÃO TELLES, os bens fiquem ao abandono, sujeitos à perda ou ocupação de qualquer um, com grave
risco para os credores da herança e prejuízo para o interesse nacional.
2
No entendimento do professor DIOGO LEITE DE CAMPOS, a dedução das dividas da herança deve fazer-se dos bens deixados
e só deles. Não deve fazer-se da soma dos bens deixados com os bens doados, pois os credores hereditários não podem pagar-se
com estes últimos. Os bens doados, que entram para o cálculo da massa da herança, constituem uma espécie de reserva hereditária
que virá a fundar e a constituir a legitima dos herdeiros legitimários. Ao referir a restituição fictícia dos bens doados, ou seja,
pelos relicta e pelos donata. Se o relicutm não for suficiente para suportar o passivo arredonda-se a 0, o donatum serve para única
proteção dos legitimários;
O presente documento não serve como único elemento de estudo.
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 Escola de Lisboa – sustenta que o alargamento do quinhão legitimário, por via do artigo
2162ºCC, vem a traduzir aquilo que o herdeiro efectivamente recebe nessa qualidade, ou seja,
aquilo por que ele responde pelo passivo hereditário, segundo o artigo 2071º, em conexão com
o artigo 2068º. Por isso, também o donatum havia de ser afectado pelo passivo, logo, VTH =
R + D – P;
 O relictum abarca os bens existentes no património do de cuius à data da sua morte. Refere-se à data da
abertura da sucessão. Se o de cuius era casado num regime diferente do da separação de bens, o valor do
relictum será igualmente a soma do valor dos seus bens próprios com o valor da meação nos bens
comuns. Os bens deixados por testamento ou doados por morte integram o relictum, uma vez que a
transmissão da propriedade não ocorre em vida do autor das liberalidades.
 O donatum engloba os bens doados e as despesas sujeitas a colação. Por bens doados entende-se bens
doados em vida. O art.2110º aponta quais são as despesas que estão e as que não estão sujeitas a colação.
O valor dos bens doados é o que eles tiverem no momento da abertura da sucessão (art. 2109º, n.º1),
valendo o mesmo para as despesas sujeitas a colação. Para fixação do valor da herança, não são
consideradas as coisas doadas que tiverem perecido ainda em vida do de cuius por facto não imputável
ao donatário (art. 2162º, n.º2).
 O passivo inclui todos os encargos da herança, à exceção dos legados (p.e., despesas com funeral e
sufrágios, encargos com a testamentaria, administração e liquidação do património hereditário) (art.
2068º). Os bens legados enquadram-se no relictum.
 Intangibilidade da Legítima (proteção dos legitimários):
 Principio da Intangibilidade Qualitativa (art.2163º; 2164º e 2165º);
 Principio da Intangibilidade Quantitativa (art.2166º; 2167º; 2168º e 2178º);
 No âmbito da redução por inoficiosidade, a redução das doações mortis causa (1759º e 1705/3CC) são
equiparadas às doações inter vivos. Logo, a ordem será: deixas testamentárias a título de herança; deixas
testamentárias a titulo de legado e, por último, as doações inter vivos e mortis causa da mais recente para
a mais antiga (art.2173ºCC).
 Existem 3 tipos de pactos sucessórios: designativos/aquisitivos; renunciativos e dispositivos. A regra no
ordenamento jurídico português é a da proibição dos pactos sucessórios (artigos 946º e 2028ºCC). 3
 Doações por morte são convertidas em disposições testamentárias se cumprirem os requisitos de forma4
(946/2CC).

3
A razão da proibição dos pactos sucessórios assenta no principio da liberdade de disposição por morte, de que decorre, como
corolário natural, a caraterística da livre revogabilidade do testamento. O testamento pode ser livremente revogado,
contrariamente, visto que o pacto sucessório tem uma natureza bilateral, passa a ser subtraído à vontade unilateral do autor da
sucessão a sua revogação e a livre disponibilidade dos seus bens por morte. CARVALHO FERNANDES adianta ainda que
repugnaria ao sentimento comum que uma pessoa procedesse como se outra já estivesse morta.
4
OLIVEIRA ASCENSÃO e PAMPLONA CORTE-REAL admitem como suficiente a escritura pública. Seguindo de perto o
exposto noutra oportunidade, a este respeito, a questão coloca-se nos seguintes termos. Por um lado, o artigo 67/2 C. Not., parece,
na verdade, sugerir que a intervenção das testemunhas instrumentárias no testamento não tem o alcance que à primeira vista seria
de lhe atribuir, uma vez que se permite ao notário dispensá-las no caso de haver urgência e dificuldade em as conseguir.
O presente documento não serve como único elemento de estudo.
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 Os pactos sucessórios são válidos quando feitos em convenção antenupcial5 (cf. 1699º/1/a); 1700º/1;
1705º; 1710ºCC). Caso não haja aceitação, tem valor meramente testamentário.
 Quando exista convenção antenupcial e um pacto sucessório e não seja dito se existe ou não aceitação,
deve abrir-se a hipótese. Deve ser escolhido um dos caminhos, a decisão terá repercussão no regime da
revogação6 e na redução das liberalidades (consoante seja doação mortis causa ou deixa testamentária),
e, consequentemente, no mapa da partilha.
 A deixa contratual pode ter por objeto uma quota ou a totalidade da herança. Caso a instituição
contratual tenha por objeto uma quota da herança, deve atender-se ao valor dos bens de que o doador
haja disposto gratuitamente depois da doação (art.1702/1CC). Logo, R + D(posterior) – P.
 Testamentária
 O direito de suceder é o direito de aceitar ou de repudiar a herança.7
 Pressupostos Gerais da vocação sucessória:
 Existência do chamado:
1. Sobrevivência em relação ao de cuius;8
2. Personalidade jurídica;9

Em sentido contrário, porém, aponta um argumento retirado do artigo 70º do mesmo Código, quando comina, para a falta de
assinatura da testemunha, a nulidade do instrumento notarial. Parece, contudo, razoável entender o preceito no sentido de a falta
de assinatura respeitar a testemunha que deva estar presente, o que não será o caso se houver dispensa no notário. Abona neste
sentido a alínea c) do nº2 do artigo 70º, quando estabelece o regime de sanação da nulidade em causa.
O professor CARVALHO FERNANDES considera que o entendimento correto é o de que à doação por morte nula pode ser
atribuída, por via de conversão legal, a eficácia sucedânea própria do testamento, desde que a doação haja sido feita por escritura
pública, sem que para tanto se torne necessário que nela intervenham duas testemunhas. O argumento definitivo que conduz a esta
solução continua a ter a sua base no regime correspondente da conversão comum, tal como, em matéria de forma, se contém no
artigo 293CC. Segundo este preceito, os requisitos de forma de que a conversão comum depende são apenas os essenciais para a
validação do negócio sucedâneo. Ora, quanto a este requisito não faz sentido ser mais rigoroso em sede de conversão legal,
quando é certo que a lei em regra nela dispensa requisitos de que a conversão comum depende, podendo mesmo chegar ao ponto
de abdicar do requisito de forma, sem curar agora de apurar se esta é ou não a solução mais acertada. Em particular, na sua
aplicação especifica à doação por morte, para efeito da sua conversão legal, não se pode ter como essencial uma formalidade que
o notário pode dispensar com o simples fundamento de haver dificuldade em conseguir que duas testemunhas intervenham no ato.
5
PIRES DE LIMA e ANTUNES VARELA, destacam que tais pactos são encarados como uma forma auxiliar de estabilidade
económica da sociedade conjugal em formação e de encorajar a celebração de certos casamentos. O principio favor matrimonii
justifica também a validade dos pactos do esposado a favor do terceiro. O professor CAPELO DE SOUSA, destaca que os pactos
em favor do terceiro funcionam normalmente como forma de proteção de interesses de certas pessoas que poderão ser
prejudicados com o matrimónio e nestes termos removem certos obstáculos factuais ao casamento.
6
Um dos corolários a retirar da conversão respeita à revogabilidade que caracteriza este negócio. Assim, se em testamento
posterior o autor da doação por morte dispuser dos mesmo bens, deve esta ter-se por revogada nos termos do artigo 2313º
podendo o doador revoga-la expressamente, a todo o tempo, através do testamento (art.2311/1CC).
7
Trata-se de um direito subjetivo potestativo, originário e com caráter instrumental.
8
Note-se, contudo, que, sendo pessoa singular, e não se tendo a certeza se a sua morte ocorreu antes ou depois da do de cuius,
presume-se que as duas foram simultâneas, não se concretizando, portanto, a vocação sucessória (cf. art. 68.º/2), não se
concretizando, também, se tiver sido declarada morte presumida com data anterior à abertura da sucessão (arts. 114.º/3 e 115.º)
9
Quanto aos seres humanos, do art. 2033.º resulta que podem ser chamadas pessoas que ainda não tinham nascido ao tempo da
abertura da sucessão, mas que já tinham sido então concebidas (nascituros), e podem ser chamadas pessoas que não tinham sequer
sido concebidas ao tempo da abertura, se tiverem sido designadas como sucessíveis voluntários, pelo de cuius enquanto filhos de
pessoa determinada e viva ao tempo da abertura da sucessão. Note-se que os nascituros, enquanto tais, não beneficiam da vocação.
A atribuição do direito de suceder depende do seu nascimento, nos termos do art. 66.º/2. Em sentido contrário pronuncia-se o
professor DIOGO LEITE DE CAMPOS, afirmando que a personalidade jurídica surge com a conceção, o ilustre professor da
escola de Coimbra defende que o nascituro concebido é chamado a suceder e que se falecer (antes ou depois do nascimento) os
bens adquiridos transmitem-se para os seus herdeiros. Para o professor PEREIRA COELHO, os nascituros concebidos detêm uma
personalidade reduzida que permite o respectivo chamamento à sucessão.

O presente documento não serve como único elemento de estudo.


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 Titularidade da designação prevalecente (prioridade na hierarquia dos sucessíveis);10
 Capacidade;11
 A indignidade e a deserdação apresentam cartáter relativo.12
 A doutrina diverge quanto à tipicidade do artigo 2034ºCC;13
 A indignidade não opera automaticamente: a indignidade tem que ser judicialmente declarada;14
 O sucessível que for declarado indigno é excluído, também, da sucessão legitimária;15
 A indignidade não prejudica, na sucessão legal, o direito de representação dos descendentes do
indigno. Daqui decorre que na sucessão testamentária, a indignidade afasta o chamamento de
sucessíveis por direito de representação (art.2041/1CC).

É polémica na doutrina a questão da partilha no caso de terem sido designados nascituros não concebidos. Um sector, encabeçado
por PEREIRA COELHO, sustenta que a partilha pode ser feita logo após a abertura da sucessão, sob condição resolutiva do
nascimento completo e com vida dos sujeitos designados. Outro sector, no qual se enquadra PAMPLONA CORTE-REAL,
considera que a partilha não é admissível senão depois de haver a certeza que nascem mais filhos.
Quanto a JORGE DUARTE PINHEIRO, a sua posição é a seguinte: parece a este autor que a partilha não pode ficar
indefinidamente pro fazer, nem ficar sujeita a ser resolvida sempre que nasça uma pessoa. Assim, considera que a partilha pode
ser feita logo após a abertura da sucessão. Sobrevindo um sucessível, dever-se-á aplicar analogicamente o art. 2029.º/2: a quota
do herdeiro superveniente será composta em dinheiro. Esta orientação é proposta, apenas de iure condendo, por GUILHERME
DE OLIVEIRA.
10
São chamados à sucessão aqueles que gozam de prioridade na hierarquia dos sucessíveis, os chamados “sucessíveis
prioritários”. Se o sucessível prioritário não quiser ou não puder aceitar a sucessão, é chamado o sucessível subsequente,
retroagindo a vocação deste ultimo ao momento da abertura da sucessão (cf. art.2032.º/2).
11
Idoneidade para ser chamado a suceder como herdeiro ou legatário;
12
São ilegitimidades sucessórias passivas, dado que um sucessível é declarado indigno ou deserdado relativamente à sucessão de
uma certa pessoa e só quanto à sucessão desta pessoa é que não pode ser chamado.
13
A tipicidade das causas de indignidade é afirmada pela doutrina corrente. Em sentido diverso. OLIVEIRA ASCENSÃO
considera que o artigo 2034º consagra uma tipicidade delimitativa. Parte para tanto do principio segundo o qual as tipificações
normativas não devem ser consideradas taxativas; mas atende, por outro lado, às graves consequências decorrentes da
indignidade, que afasta da sucessão o autor dos atos referidos no preceito. O alcance desta construção é o de excluir o recurso à
analogia iuris para atribuir relevância, como causa de indignidade, a atos não referidos no artigo 2034º, mas admitir a analogia
legis.
O professor CARVALHO FERNANDES, no mesmo sentido do professor PAMPLONA CORTE-REAL, coloca algumas dúvidas
quanto à perfilhação desta construção, e em, nessa base, entender também o preceito, sobretudo em vista do seu caráter
excecional; mas ainda por nele configurar uma pena civil.
14
Para boa parte da doutrina, nomeadamente, OLIVEIRA ASCENSÃO, CAPELO DE SOUSA, PIRES DE LIMA/ANTUNES
VARELA, etc., a ação de declaração de indignidade só tem que ser intentada quando a pessoa que incorreu numa causa de
indignidade esteja na posse de bens da herança. Ou seja, segundo o professor OLIVEIRA ASCENSÃO importa distinguir
consoante o indigno tenha ou não a posse de bens hereditários; só no primeiro caso a declaração judicial de indignidade seria
necessária.Contudo, JORGE DUARTE PINHEIRO considera que o art. 2036.º não distingue, tal como o considera PAMPLONA
CORTE-REAL, e há razões de segurança e certeza jurídica que justificam a necessidade de se recorrer sempre à ação de
declaração de indignidade. Para mais, a dispensa de ação, no caso de sucessível que não esteja na posse dos bens, alarga o âmbito
da indignidade, com base num meio (analogia com o 287.º/2) contrário ao princípio da legalidade estrita, que vigora no campo das
sanções punitivas, sejam elas civis ou penais. Na falta de norma especial, a legitimidade para propor a ação de declaração de
indignidade, que JORGE DUARTE PINHEIRO considera sempre indispensável, é apurada com base no art. 26.º do CPC.

15
Esta questão dividiu, profundamente, a doutrina na década de 80: PEREIRA COELHO considerou que o instituto da
indignidade não era aplicável à sucessão legitimária, com base no seu caráter geral: tendo-o, o instituto cedia perante a
deserdação, que é instituto específico da sucessão legitimária. OLIVEIRA ASCENSÃO, por outro lado, sustentou que a
indignidade só operava quando o de cuius não tivesse conseguido deserdar o sucessível legitimário. Contudo, PAMPLONA
CORTE-REAL bateu-se por uma terceira posição, hoje detentora do apoio da generalidade dos autores (nomeadamente,
PEREIRA COELHO e OLIVEIRA ASCENSÃO, os próprios intervenientes. Curiosamente, LEITE DE CAMPOS, isolado,
mantém-se fiel à antiga tese de PEREIRA COELHO), ela qual defende que o sucessível legitimário está totalmente sujeito ao
regime da indignidade, dado que a prática de factos que preenchem as causas da indignidade não são menos censuráveis se os
autores forem pessoas com ligações familiares muito próximas do de cuius, muito pelo contrário (!).

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 Deve ser sempre discutido se a indignidade opera ou não de modo automático (Professor OA entende
que sim; MSP entende que não; Escola de Coimbra tem uma posição intermédia, ou seja, existem um
conjunto de causas, consoante exista ou não intervenção do Tribunal pode considerar-se que existe
ou não indignidade);
 Deve discutir-se sempre o valor do perdão; o perdão social não tem relevância no âmbito da
reabilitação;
 A indignidade não prejudica o direito de representação;
 Quando o legado em substituição da legitima é deixado ao cônjuge, este aceita e o valor é inferior ao
da sua legitima subjectiva, então haverá direito de acrescer relativamente aos restantes herdeiros
legitimários; se, nas mesmas circunstâncias, o legado em substituição da legitima for deixado a um
dos descendentes, a doutrina diverge:
 O professor JORGE DUARTE PINHEIRO entende que há uma impossibilidade jurídica de
aceitação por parte de quem aceitou o legado mas que pode haver direito de representação a
favor dos descendentes. Ou seja, a aceitação do legado em substituição determina a
impossibilidade jurídica de aceitar a herança legitimária, não ficando a legitima fictícia do
legatário inteiramente preenchida, o que restar amplia a quota disponível ou reverte para um
beneficiário de vocação indirecta. A aceitação do legado em substituição da legitima implica
a perda do direito à legitima (art.2165/2CC). Se o sucessível legitimário aceitar um legado
inferior à sua quota hereditária legal nada mais pode reclamar. A aceitação do legado em
substituição é incompatível com a aceitação da herança legal, representando uma hipótese de
não poder aceitar a herança legal. Por conseguinte, os descendentes beneficiam do direito de
representação quanto ao valor do excesso da quota hereditária legal sobre o legado em
substituição da legitima, nos termos do artigo 2042ºCC.
 O professor PAMPLONA CORTE-REAL, defende que existe uma verdadeira lógica de
alternância, o que prejudica sempre o direito de representação em beneficio do direito de
acrescer;
 O professor JORGE DUARTE PINHEIRO (e OLIVEIRA ASCENSÃO) entende que o legado em
questão substitui toda a quota hereditária. O aceitante do legado não pode concorrer à sucessão na
qualidade de herdeiro legitimo. Se o valor do legado em substituição for superior à legitima e inferior
ao da quota hereditária legal, há direito de representação ou acrescer no âmbito da sucessão legitima;
O aceitante do legado em substituição opta pelo titulo testamentário, que é incompatível com o titulo
legal. Por isso, é um simples legatário testamentário, cabendo-lhe o estatuto correspondente: não
beneficia do direito de acrescer na sucessão legal; em regra, não pode requerer inventário, nem
responde pelos encargos da herança, pode exigir ao herdeiro o cumprimento do legado e reivindicar
de terceiro a coisa legada.

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 O professor PAMPLONA CORTE entende que o legado em substituição da legitima, até ao limite da
sua imputação na quota indisponível, é um legado legitimário cuja aceitação não obsta a que o
beneficiário obtenha a qualidade de herdeiro legitimo. O professor entende que há um fenómeno de
absorção do titulo voluntário pelo legitimário, semelhante ao que se verificaria também no legado
por conta da legitima. Tratando-se de um legado legitimário (uma legitima em forma de legado), é
viável o direito de representação no legado em lugar da legitima deixado a um sucessível que fora
alvo de uma declaração judicial de indignidade.
 A conceção de PAMPLONA CORTE-REAL enfrenta três grandes obstáculos:
1) O principio da indivisibilidade da vocação, que é absoluto no campo da vocação legal
hereditária e que obsta a que uma pessoa impossibilitada de suceder como herdeiro
legitimário consiga obter a qualidade de herdeiro legitimo quanto ao mesmo de cuius;
2) A contradição entre a negação ao aceitante do legado em substituição do direito à
diferença entre o valor do legado e o da legitima (que é intangível) e a concessão plena de
direitos na sucessão legitima (não intangível);
3) O reconhecimento ao legatário em substituição de um meio que é concebido para tutela de
uma quota (redução por inoficiosidade), não se mostrando adequado à proteção do
interesse do legatário em substituição (que é a aquisição do bem legado)
 CADUCIDADE DOS PACTOS SUCESSÓRIOS: art.1703º - 1760º - 1791ºCC; 1716ºCC;
 Nos casos práticos devem ser SEMPRE as relações de parentesco e AFINIDADE;
 Imagine-se A (pai) e B (filho). A morre dia 10, B dia 11. B era indigno em relação a A. Os filhos de
B vão ser chamados à sucessão mas não por via da transmissão do direito de suceder, vão ser
chamados por via do direito de representação. Sendo indigno em relação a A não tinha capacidade
sucessória, logo, nunca poderia ser chamado à sucessão, não poderia existir transmissão do direito de
suceder.
 O legado em substituição da legitima tem subjacente uma ideia de alternância, mas, como sustenta o
professor PAMPLONA CORTE-REAL será duvidoso inferir-se do mero exercício de uma faculdade
concedida em alternativa uma verdadeira renuncia à posição de herdeiro legitimário e a perda
definitiva da qualidade de herdeiro legal. Por isso, o professor entende que a aceitação do legado em
substituição da legitima não impedirá que o sucessível legitimário em causa possa suceder como
herdeiro legitimo, no tocante à cota disponível. Reuniria uma dupla qualidade: de legatário, no
âmbito da sua quota indisponível, e de herdeiro legitimo;
 Quanto ao testamento per relationem, o professor OLIVEIRA ASCENSÃO entende que deve ser
feita uma interpretação a contrario do artigo, basta, por isso, assinatura na mesma dará. O professor
JORGE DUARTE PINHEIRO e a professora MARGARIDA DA SILVA PEREIRA entendem que o
testamento é um negócio formal e que a disposição só será válida se o documento tiver forma de
documento cerrado.
O presente documento não serve como único elemento de estudo.
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 O sucessível legitimário a quem o de cuius deixa um legado em substituição da legitima beneficia
simultaneamente de um facto designativo negocial e de um facto designativo não negocial, tendo que
optar por um deles.
 Se o sucessível legitimário não quiser ou não puder aceitar a sucessão, os seus descendentes são
chamados, por representação, ao legado em substituição, desde que se preencham os pressupostos da
representação na sucessão testamentária, já que o legado é atribuído por via testamentária. Em
sentido contrário PAMPLONA CORTE-REAL entende que o legado em substituição da legitima
tem caráter legitimário, apesar de ser atribuído por via negocial; a indignidade ou a deserdação de
um sucessível legitimário permite aos representantes que, colocados exactamente na posição do
representado, possam também, se o quiserem, não obstante o artigo 2037/2 optar entre a aceitação
do legado em substituição da quota legitimária;
 Na opinião do professor JORGE DUARTE PINHEIRO, é nula a deixa pactícia de legados em
substituição da legitima, uma vez que a aceitação contratual do legado tem um efeito equivalente à
renuncia à intangibilidade quantitativa da legitima, em vida do autor da sucessão, renuncia que o
artigo 2170º não permite;
 O legatário em substituição não é um herdeiro legitimário, ele não chega a adquirir a legitima. Com a
aceitação do legado, verifica-se a resolução da vocação legitimária, pelo que o sucessível é tido
como nunca chamado à sucessão legitimária;
 À semelhança do que se prevê no artigo 2114/2, para o donatário, ao legatário em substituição acaba
por ser reconhecida uma legitima fictícia de montante igual ao da legitima que lhe caberia, se
aceitasse a herança;
 Na opinião do professor JORGE DUARTE PINHEIRO, o principio do aproveitamento dos negócios
jurídicos justifica que se proceda à imputação das doações em vida feitas ao legatário como se ele
fosse um herdeiro legitimário;
 Quando se fala na transmissão do direito de suceder é necessária a regra da dupla capacidade.
Contrariamente, no direito de representação, é o representante que é diretamente chamado.
 O regime matrimonial de separação de bens não extingue a qualidade de herdeiro legitimário;
 A comoriência, para efeitos sucessórios, é tratado como se fosse pré-morte;
 O principio da estirpe é uma exceção ao principio da divisão por cabeça.
 Quanto aos herdeiros legitimários, podemos ter 3 tipos de legados:
1) Por conta;
2) Em substituição;
3) Pré-legado (sempre por exclusão de partes) – é um beneficio para os herdeiros que é
imputado na quota disponível, “vale por inteiro” – é um beneficio, em relação aos
legitimários é necessário que haja uma classificação porque podia ser um dos outros. A

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doutrina entende que quando o legado em substituição é superior à legitima, o excedente
vale como pré-legado – não há igualação.
 Artigo – 2194º CC – vier a falecer dela – o que é preocupante não é o nexo de causalidade entre a
doença e a morte mas o facto de não existir um momento de liberdade. A jurisprudência não admite
aplicação analógica, encara como uma norma sancionatória e as normas sancionatórias não
comportam aplicação anaógica
 O professor PAMPLONA CORTE-REAL entende que a expressão “direito de representação” não
será particularmente feliz e rigorosa no plano jurídico, porque realmente o representante,
sucessoriamente falando, atua em nome próprio (art.258ºCC), ainda que a sua vocação não tenha
uma configuração autónoma;
 O professor PAMPLONA CORTE-REAL entende que o direito de representação se reconduz a uma
substituição com origem legal, assente na tutela da família, ou mais precisamente da estirpe, ou seja,
da linha reta descendente do representado;
 O professor PAMPLONA CORTE-REAL vai mais longe dizendo que a representação na sucessão
testamentária possa mesmo ser entendida como uma substituição vulgar tácita, assentando o direito
de representação numa presumida ou conjectural vontade do testador, já que se entenderia que
este teria querido beneficiar os descendentes do sucessível que institui, se soubesse que este não
lhe sucederia. Não deixa de ser até certo ponto indicador desta conceção o teor das alíneas a) e e) do
artigo 2317, que estatuindo a caducidade da disposição testamentária para o caso de o instituído ou
nomeado falecer antes do testador, ou repudiar a herança ou o legado, ressalvam apenas a existência
de representação sucessória. O professor PAMPLONA CORTE-REAL, por tudo isto, entende que o
principio subjacente ao direito de representação é o principio da troncalidade (só se beneficiam os
descendentes) e, por conseguinte, a sua clara dessintonização com a moderna perspectivação da
família conjugal, que, como se viu, marcou profundamente o legislador da reforma de 78. O
professor entende mesmo que é o único ponto onde se beneficia os descendentes face ao cônjuge no
plano sucessório;
 Deve ter-se em atenção o teor do artigo 2037º/2 que, ao estatuir que na sucessão legal, a
incapacidade do indigno não prejudica o direito de representação dos sues descendentes, a
contrario sensu permite a conclusão, porque de uma norma excecional se parece tratar, de que já
prejudicará no âmbito da sucessão testamentária. Ou seja, a indignidade não será ai pressuposto do
direito de representação.
 Na sucessão legal só podem ser beneficiários do direito de representação, na linha reta, os
descendentes do filho do autor da sucessão e, na linha colateral, os descendentes do irmão do
falecido. Ou seja, na sucessão legal, o direito de representação só funciona na primeira classe e na
terceira classe de sucessíveis 2133/1/a) e c), favorecendo, assim, exclusivamente netos e sobrinhos
do autor da sucessão, qualquer que seja o grau de parentesco.
O presente documento não serve como único elemento de estudo.
DANIEL VEIRA LOURENÇO
a) Não haverá direito de representação se tiver sido designado substituto ao herdeiro ou
legatário (art.2041/2/a), sendi que parece admissível que a substituição direta possa
relevar no âmbito da sucessão legitima, onde afastaria igualmente o direito de
representação;
b) Não haverá igualmente direito de representação, de acordo com o determinado na alínea
b) do citado artigo 2041º em relação ao fideicomissário, nos termos do artigo 2293º. O
fideicomissário, herdeiro ou legatário testamentariamente instituído para quem revertem
os bens do fiduciário por morte deste, tem, para concretizar a sua vontade sucessória, de
lhe sobreviver, facto futuro e incerto, que, desse modo, a condiciona (art.2293/1 e 2294).
Se o fideicomissário não sobreviver ao ficuciário e tiver descendentes, não haverá direito
de representação em favor destes, adquirindo o fiduciário os bens definitivamente
 Sistematicamente, pode dizer-se que o direito de representação origina três tipos fundamentais de
efeitos:
a) Chama à sucessão quem, de outro modo, não sucederia, por não ser um sucessível
prioritário, nem testamentário, nem legal;
b) Opera por estirpes ou por subestirpes (estirpes dentro das estirpe), nos termos do artigo
2044º/1 e 2 (o que, no campo da sucessão legal, afasta a regra da divisão por cabeça,
decorrente do artigo 2136º;
c) Por fim, e confinadamente à sucessão legal, dispõe o artigo 2045º que a representação tem
lugar, ainda que todos os membros das várias estirpes estejam, relativamente ao autor da
sucessão, no mesmo grau de parentesco ou exista uma só estirpe. A referência ao
parentesco, facto designativo legal é, realmente, explicita da especificidade deste efeito,
pelo que, a circunstância de o direito de representação operar no caso de estirpe única só
releva em sede de sucessão legal, nomeadamente legitimária.
 O professor PAMPLONA CORTE-REAL entende que devem ficar bastante claros dois aspetos:
1) O primeiro é o de que o representante sucede sucede ao de cuius, e não ao autor da
sucessão. Tal decorre claramente do teor do artigo 2043º, que, demarcando a natureza
indirecta da vocação do representante, admita que ele possa sê-lo, não obstante ter
repudiado a sucessão do representado, ou mesmo que seja incapaz em relação a ele;
2) A segunda observação visa recordar que o direito de representação afasta, enquanto
vocação indirecta, o direito de acrescer, quer no âmbito da sucessão testamentária
(art.2304), que no da sucessão legal (art.2138º; 2137º/2 e 2157º). Não é assim quanto à
substituição direta;
 Só é possível a substituição fideicomissária num grau;

O presente documento não serve como único elemento de estudo.


DANIEL VEIRA LOURENÇO
 Diz-se jacente a herança aberta mas ainda não aceite nem declarada vaga para o Estado. A jacência
da herança corresponde a uma fase transitória de relativa indefinição jurídica no contexto do
fenómeno sucessório.
 A situação da herança jacente cessa com a aceitação pelos sucessíveis efetiva e definitivamente
chamados, aceitação que tem como efeito jurídico a aquisição do domínio e posse dos bens da
herança.
 A aceitação e o repúdio são NJ unilaterais não receticios, marcados pela indivisibilidade, o que
significa, que a herança não pode ser aceite (nem repudiada) só em parte;
 São ainda características comuns da aceitação e do repúdio: a insusceptibilidade de sujeição a
condição ou termo; a irrevogabilidade; a anulação com base em dolo ou coação, mas não com
fundamento em simples erro. Aspetos de regime que se prendem, uma vez mais, com o cariz
definitivo que o legislador atribui a estes atos, visando a celeridade do fenómeno jurídico-sucessório
e a definição, tao breve quanto possível, do quadro dos sucessores.

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