ERGONOMIA E ENVELHECIMENTO: UM ESTUDO DOS ACIDENTES NOS LARES E O USO

DE PRODUTOS DOMÉSTICOS POR IDOSOS NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO

Palavras-chave: ergonomia e idosos, segurança e acidentes domésticos, projeto de produtos.

Este artigo é parte de um projeto de pesquisa que vem sendo desenvolvido pelo LEUI – Laboratório de
Ergonomia e Usabilidade de Interfaces em Sistemas Humano-Tecnologia, abordando questões relativas a
acidentes com idosos no ambiente doméstico – quedas, choques, queimaduras – mau design e mau uso dos
produtos do lar por eles. Os acidentes com idosos em relação aos eletrodomésticos vêm aumentando
significativamente. Um dos fatores é a má projetação de alguns produtos e outro fator é a chegada à faixa dos
65 anos de grande número de usuários. Nesta fase as pessoas começam a apresentar dificuldades que
prejudicam a coordenação motora, o equilíbrio e as seguintes percepções: visuais, auditiva, tátil e olfativa,
como apontam questionários aplicados no início da pesquisa.

Keywords: Ergonomics and elderly-people, security and domestic accident, products project.

This article is part of a research project that has been developed by LEUI - Laboratory of Ergonomics and
Usability of Interfaces in Human-Technology Systems approaching questions related to accidents with elderly
people in domestic ambient – falls, electric discharges, burn - bad design and bad utilization of domestic
products by them. Accidents that occur to elderly people from using electro-domestic appliances have been
growing significantly. One contributing factor is faulty design of some of these products. The other factor can
be attributed to the fact that many people nowadays reach the age of 65. They begin to present difficulties
involving motor coordination, equilibrium, and the visual, auditory, tactile, and olfactory senses as indicated
in the applied questionnaires in the beginning of this research.

1. INTRODUÇÃO Junto com a idade vem a diminuição dos sentidos, o

Um ambiente doméstico pode esconder diversas
armadilhas, seja num piso escorregadio, aparelhos
eletrônicos, ou mesmo um tapete no meio do caminho
que ocasiona quedas. Incidentes ocorrem
freqüentemente, com todas as faixas etárias, mas, em se
tratando de idosos, implicam maior severidade.
Quaisquer danos relacionados a quedas, fraturas,
queimaduras, entre outros descuidos, vêm a ameaçar a
própria vida do idoso.
Segundo a Sociedade Brasileira de Traumatologia e
Ortopedia, 80% dos acidentes com idosos acontecem
dentro de casa. E as conseqüências destes acidentes
podem ser muito graves, se considerarmos a fragilidade
dos ossos e as dificuldades de calcificação, que
aumentam com a idade. Estes acidentes, mesmo que
não tenham conseqüências físicas graves, tornam o
idoso inseguro e restringem ainda mais suas atividades
e autonomia.
Pelo menos desde 1980 reconhece-se que um terço dos
indivíduos acima de 65 anos e, aproximadamente
metade, próximos dos 80 anos, sofre quedas a cada ano
(Prudham e Evans, 1981). Uma grande quantidade de
todos os registros sobre quedas assinala que estas
ocorrem dentro de casa.
Diminuição dos sentidos no idoso
enfraquecimento do corpo e dos órgãos, devido ao
“processo de envelhecimento corporal”. Este introduz
diversas limitações físicas: perda da audição,
fragilidade dos ossos, perda da visão e da agilidade
motora. Esses fatores ajudam a constituir o ambiente
emocional negativo em que vive o idoso, criando nele
uma sensação de insegurança e gerando uma
dependência em relação a terceiros.
Apesar de todas as dificuldades físicas, o que mais
afeta o idoso são as mudanças de papel na sociedade,
que podem tanto estar relacionada à questão física
como ao preconceito. No trabalho os mais velhos
cedem lugar para os mais novos ou se aposentam,
perdendo o contato com colegas de trabalho; em casa,
os filhos crescem e saem de casa em busca de sua
própria vida. Estas mudanças podem gerar sentimentos
como abandono e solidão no idoso, além de faze-lo
sentir-se inútil e desvalorizado, levando à depressão.
O processo de envelhecimento corporal, ao introduzir
diversas limitações, agrava a situação emocional
negativo em que vive o idoso, desenvolvendo uma
expectativa de dependência tanto em si próprio como
nas pessoas de seu convívio. Nestas condições, a
manutenção de uma vida saudável fica mais difícil, pois
os fatores emocionais irão influenciar na alimentação e
no desempenho dos sistemas imunológico, nervoso e
emocional. O principal cuidado com o idoso deve ser o
rompimento da discriminação, trazendo-o a

1
participação na vida familiar e comunitária,
aumentando sua auto-estima e bem estar.
O papel da ergonomia
Segundo MORAES, A. (1992), o atendimento aos
requisitos ergonômicos possibilita maximizar o
conforto, a satisfação e o bem-estar; garantir a
segurança; minimizar constrangimentos; custos
humanos e carga cognitiva, psíquica e física do
operador e/ ou usuário; e otimizar o desempenho da
tarefa, o rendimento no trabalho e a produtividade do
sistema homem-máquina.
Segundo JORDAN, P. W. (1998), em alguns casos, a
usabilidade de um produto pode afetar a segurança de
quem usa o produto, como também a segurança de
outros. Também há muitas situações domésticas onde a
falta de uso em um produto pode ser perigosa.
Considere um problema de ergonomia clássico
incompatibilidade entre botões e queimadores do fogão.
Se, por exemplo, alguém está cozinhando, usando duas
ou três bocas ao mesmo tempo e então fecha a errada,
ao remover a panela, uma superfície quente seria
deixada exposta, podendo causar queimaduras graves.
O fato de problemas de usabilidade variarem e a
necessidade de considerarem-se as diferenças dos
usuários muitas vezes não é trabalhado durante o
design de um produto. Muitas pessoas continuam com
o uso regular de uma gama extensiva de produtos
domésticos até atingirem idades entre oitenta e noventa
anos, com isso, conclui-se que a idade é um fator de
design crítico (Hancock, Rogers, & Fisk, 1998 apud
Revista Ergonomics in design, 2001).
1.2 Objetivos da pesquisa
Finalidade: Propiciar um envelhecimento tranqüilo,
sem acidentes, que ocasionem lesões e prejuízos à
saúde dos idosos, permitindo que estes realizem com
cautela e autonomia as atividades da sua vida diária;
Objetivo Geral: Evitar quedas e acidentes de idoso no
lar, evitando lesões definitivas e/ ou temporárias que
acelerem o processo de envelhecimento da pessoa.
1.3 O início da pesquisa
Buscou-se através de questionários ergonômicos
aplicados aos idosos, esclarecer esses fatores,
direcionados ao convívio no lar com diferentes
produtos e por situações de risco vividas diariamente
por pessoas da terceira idade. Entrevistaram-se
moradores de diferentes bairros da cidade do Rio de
Janeiro para a tomada de dados e gráficos, que servirão
como base para as conclusões do estudo, que vem
sendo desenvolvido desde 2002 na PUC-Rio.
A pesquisa foi iniciada em 2002 com a aplicação de um
questionário a 50 idosos acima de 65 anos, após o
piloto com treze. Foram incluídas no questionário
questões como: as dificuldades fisiológicas mais
específicas dos idosos, como está sua inserção na nossa
sociedade atual, suas respectivas rendas, aposentadorias
e salários, e os aspectos problemáticos sobre segurança
e ergonomia a serem resolvidos.
O questionário aplicado abrangeu um púbico 74%
feminino e 26% masculino no ano de 2003. Um ponto
interessante, e posteriormente aprofundado durante as
aplicações desse questionário, foi à constatação de que
a maioria dos idosos não admite ter sofrido qualquer
tipo de acidente. Quando perguntados, entretanto, se já
haviam se queimado, por exemplo, com ferro de passar
roupa quase sempre a resposta era sim. Este tipo de
atitude parece ser comum em certas investigações com
idosos, principalmente em função do padrão de saúde e
idade ideais que são impostos socialmente, e que torna
difícil na terceira idade aceitar ou lidar com suas reais
condições.
O segundo item do questionário definitivo considerava
a necessidade de modificações para a segurança dos
eletrodomésticos: 72% consideraram muito
importantes; 20 % importantes; 6% pouco importantes;
e sem importância - 2%. O terceiro item abordava o
grau de periculosidade de alguns produtos com maior
tendência a acidentes: em primeiro lugar encontra-se o
ferro de passar roupa com 54%; a seguir panela de
pressão com 20%; fogão 11%, cafeteira e faca elétrica
empataram com 6%; e uma minoria de 3% ficou para
opção “outros”.
Como continuação da pesquisa, a partir de 2003 - 2o
semestre, para maior aprofundamento, resolveu-se
ampliar o número de questionários. Para isso, começou-
se desde a elaboração de um novo questionário piloto
com 16 idosos, para depois então fazer o definitivo com
mais 80 (oitenta), em diferentes bairros da cidade do
Rio de Janeiro.
2. MÉTODOS E TÉCNICAS DA PESQUISA
Aplicou-se um questionário piloto com 16 pessoas na
faixa de 56 a 90 anos de idade. Nesse piloto resolveu-se
incluir perguntas relativas ao ambiente da cozinha, as
atividades exercidas pelos idosos, para se ter uma idéia
melhor dos riscos que os mesmos sofrem neste ponto
2
da casa. Após o piloto, aplicou-se o questionário
definitivo a 80 (oitenta) idosos de diferentes bairros da
cidade.

Após a apresentação dos objetivos da pesquisa,

detalhava-se o tema que seria tratado. Neste primeiro
contato, antes mesmo de perguntar se a pessoa se
disporia a responder, já surgiam dúvidas como – Para
que? Com que finalidade? Neste momento verificava-
se a importância da linguagem no trato com os futuros
entrevistados, pois mesmo entendendo a finalidade da
pesquisa em nosso discurso sobre o tema,
demonstravam dificuldade em entender certos termos.

Percebeu-se que o respeito e a paciência são

fundamentais com os idosos, pois, muitas vezes, o
esforço para que se coloquem a vontade é, em geral,
maior do que se imagina a princípio. Durante a
entrevista, permanecia-se ao lado do idoso, para
responder às dúvidas que surgissem, porém não se
emitia qualquer tipo de opinião ou indicação, que
pudesse interferir na resposta do entrevistado.
Tabela I (n=80) – Verifica-se um maior numero de
mulheres (51 entrevistadas) na faixa de 61 a 70 anos
(19) e 56 a 60 (15); entre os homens (29 entrevistados)
há um considerável número na faixa de 61 a 70 anos
(16), seguido de 56 a 60 (7) e 71 a 75 (5).

Questões abordadas no questionário:

(n 1) Bairro do respondente; (2) sexo; (3) idade; (4)

mora sozinho ou não; (5) freqüência que utiliza a
cozinha; (6) atividades exercidas nesta; (7) problemas –
ósseo, motor, visual ou auditivo; (8) uso de
medicamentos fortes; (9) grau de facilidade em usar os
produtos domésticos; (10) quais produtos consideram
problemáticos; (11) que dificuldades possuem – se em
relação ao uso de determinadas funções, dificuldades
visuais, motoras, auditivas ou olfativas; (12) se já
sofreu algum incidente; (13) o tipo de incidente; (14)
erro seu ou do produto; (15) mudanças a serem feitas
no produto; (16) se já ligou para reclamar do produto;
(17) se costuma ler o manual de instruções ao comprar
o produto, ou já leu; (18) Costuma resolver problemas
do produto com o manual de instrução; (19) se possuem Tabela II (n=80) – Embora a maioria, no caso das
dificuldades ao interpretá-los; (20) De que produtos são mulheres, more com o marido (23 entrevistadas),
esses manuais; (21) Fatores que influenciam mais o um número significante do contingente de idosos
entendimento de um manual de instruções. mora sozinho (15).

2.1 Tabulações e resultados A tabela II esclarece um fato que pode propiciar a

ocorrência de incidentes dentro de casa – poucos idosos
A seguir alguns resultados dos questionários: vivem com parentes, que não sejam a esposa ou
marido. Tal fato evidencia a importância de um
ambiente bem construído para os idosos.

3
 4 ) F r e q u ê n c ia q u e u t iliz a a c o z in h a - t a r e f a s :

70

60
5
50
11
40
6
30
17
20
5
10
12 9 221
0 1 11
d ia s im , d ia n ã o f in s d e s e m a n a t o d o s o s d ia s um a o u duas
v e ze s p o r Tabela V (n=80) – Apesar de a maioria (40%) garantir
sem ana
não possuir problema algum, grande parte respondeu
sofrer de problema visual – 34%, seguido de problema
a lm o ç o a lm o ç o e ja n t a r
motor – 11%.
café c a f é , a lm o ç o
c a f é , a lm o ç o , ja n t a r c a f é, la n c h e
c a f é , la n c h e , a lm o ç o c a f é , la n c h e , a lm o ç o e ja n t a r
c a f é , la n c h e , ja n t a r c a f é ,a l m o ç o , la n c h e , j a n t a r , a lm o ç o
la n c h e la n c h e , a lm o ç o
la n c h e , a lm o ç o , ja n t a r

Tabela III (n=80) – Dos oitenta entrevistados, 63

afirmam freqüentar todos os dias a cozinha de suas
casas. Das tarefas realizadas todos os dias, “café e
lanche” foram os mais votados (17), seguidos de “café,
Tabela VI (n=80) – Quase a metade (49) afirmou ser
lanche, almoço e jantar” (11) e “almoço e jantar” (9).
simples o manuseio dos produtos domésticos em
casa, e apenas dez disseram ser complicado.

Tabela IV (n=80) – 28% dos entrevistados têm o

costume de lavar a louça, e guarda-la 26%.

A tarefa de lavar a louça requer da pessoa que manuseie

vários produtos ao mesmo tempo. O idoso não possui a
mesma mobilidade de uma pessoa mais jovem para
realizar essa tarefa, tal fato pode resultar em incidentes
na cozinha. Ao guardar a louça, os armários, muito alto
ou muito baixos, representam um agravante.

4
Tabela VII (n=80) – O microondas foi o produto mais
citado, com 22 votos, quando a questão foram as
dificuldades em utilizar um produto; em seguida vem a
panela de pressão (19); e o processador (18).
Tabela IX (n=80) – Das 26 pessoas que responderam já
ter sofrido um acidente em casa, 14 responderam
ter sido com queimadura, destacando-se o fato
de este ser o único incidente onde a culpa foi
creditada ao produto; em seguida ficou a queda,
com 9 votos, e corte com 8.

Tabela VIII (n=80) – 50% dos idosos afirmam possuir

dificuldades com determinadas funções do produto, e,
24%, problemas motores ao manuseá-los.
Tabela X (n=80) – As funções mais simples foram
Os dois últimos gráficos demonstram uma clara destacadas por 36% dos entrevistados
dificuldade dos idosos em relação àqueles produtos que como mais importantes para a melhoria do
possuem muitos botões, como o microondas. uso de produtos domésticos; em seguida
Quando perguntados se já sofreram algum tipo de botões mais fáceis de manusear (20%); fio
acidente ou incidente com esses produtos, 67% maior/ menor (13%); e nenhuma mudança
responderam que nunca e 33% sim. (12%).

Segundo JORDAN, P. W. (1998), o conhecimento

cultural dos usuários pode vir a influenciar como eles
interagem com os produtos. Isto ocorre por causa dos
estereótipos que as pessoas vão construindo em sua
sociedade. Claramente, produtos feitos para pessoas
fisicamente normais não serão necessariamente úteis
para pessoas com problemas físicos.

Perguntas relativas ao uso de manuais de instruções

pelos idosos:

5
Tabela XI (n=80) – A maioria (43%) afirma ler o
manual sempre ao adquirir o produto; 30% às vezes; e
16% raramente.
Tabela XII (n=80) – 38% dos entrevistados costumam
usar o manual algumas vezes, ao ter
problemas no manuseio do produto,
enquanto 35% o fazem sempre.
Tabela XIII (n=80) – A maioria (44%) afirma possuir
algumas vezes dificuldades ao interpretar os manuais
que utiliza; nunca - 24%; sempre - 18%. Ou seja, a
maioria sente dificuldades.
Tabela XII (n=80) – A maioria (24) respondeu ter tido
problema ao utilizar o manual de instrução
do microondas; seguido de tv (18); e som
(10).
21) Fatores que influenciam mais no entendimento dos
manuais de instrução, segundo os idosos (n=80):
1o – O vocabulário técnico do manual (38 votos);
2o – O tamanho das letras (36 votos);
3o – As palavras pouco familiares (33);
4o – O uso de mais de um idioma (24);
5o – O entendimento das frases (21);
6o – Informações sobre a manutenção do produto,
Abreviações e ilustrações claras das ações dos usuários
(15);
7o – Advertências relacionadas a segurança (13);
8o – Uso de exemplos práticos (11);
9o – Qualidade da impressão e Uso de índice (9);
10o – Rapidez para se encontrar tópicos diferentes (8);
11o – Informações inconsistentes, Organização das
páginas e Uso de imagens/ fotografia (7);
12o – Adequação das cores (6);
13o – Imagens (5);
14o – Distinção visual entre os tópicos (4);
15o – Qualidade das imagens e Tamanho das folhas (3);
16o – Impressão (1).
Dificuldades no Dificuldades com o
6
 manuseio do manual de instruções do
produto: produto:
1o 1o
22 votos 24 votos
o
2 2o
19 votos 18 votos
3o 3o
18 votos 10 votos
o analisados por fabricantes de eletrodomésticos.
4 Bujão de gás
4o
13 votos 8 votos
o
5 5o
5 votos 6 votos
Quadro I (n=80) – Relação dos produtos citados pelos
idosos como de pior manuseio e aqueles que possuem
um manual de instruções inadequado.
3. CONCLUSÕES E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
O Brasil está envelhecendo cada vez mais rápido. De
acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU),
o país já é o sexto país do mundo em envelhecimento
da população, com uma taxa de crescimento de 3,2% ao
ano. Temos um mercado bastante representativo: 14
milhões e meio de consumidores maiores de 60 anos.
(dados IBGE).
Os gráficos demonstram que uma grande parte dos
idosos entrevistados – 60% – apresenta algum tipo de
deficiência no corpo, seja visual, motor, ósseo ou
auditivo, embora os problemas visuais tenham
aparecido em maior número – 34%. Isto evidencia a
importância de se estabelecer produtos adequados para
esta faixa, o que ainda é muito pouco explorado pelas
empresas.
Mesmo a maioria tendo afirmado que o uso de produtos
domésticos no lar é simples (49 dos 80 entrevistados),
50% dos idosos afirmam possuir dificuldades com
determinadas funções do produto, 24% com
acionamento motor e 20% com visualização. Dos que
disseram ter sofrido acidentes em casa (33%), a maioria
(14) diz ter tido queimaduras, único incidente no qual a
maior parte da culpa foi relacionada ao produto (9), e
não, equivocadamente, à falha humana, como nos
demais acidentes. Nas entrevistas foi dito mais de uma
vez haver incidentes com panelas e frigideiras, que
muitas vezes caiam do fogão ou escorregavam na mão
do idoso.
O fato de 36% dos idosos ter destacado “funções mais
simples” como mais importante para o uso de produtos
domésticos, indica uma necessidade das indústrias
repensarem a maneira de projetar seus produtos. Botões
mais fáceis de manusear (20%) e um fio maior nos
produtos (13%) são apenas alguns dos pontos a serem
O microondas teve destaque em ambas as partes da
pesquisa, sobre o manuseio dos produtos em si e o uso
de manuais de instrução. Ele aparece como o mais
complicado, com 22 votos, é o produto que possui
maiores problemas em passar informações de manuseio
nos manuais (24 votos). Importante lembrar que foram
colocados para questionamento não apenas produtos da
cozinha, embora esses tenham sido os mais citados. O
piso molhado foi citado também como causador de
acidentes em casa e fora.
Grande parte dos idosos diz ler o manual, ao comprar
seu produto doméstico, sempre e algumas vezes,
formando ao todo 73% dos entrevistados. Além disso,
recorrem ao manual para solucionar problemas de
manuseio os mesmos 73%; contudo, 62% admitem
possuir dificuldades ao interpretar os mesmos.
Segundo SCHRIVER, Karen A (1996), os designers
gráficos precisam antecipar os pontos críticos que serão
elaborados pelo manual, explicitando as tarefas que
podem levar os usuários a um impasse cognitivo – que
os levam ao insucesso na conclusão de uma tarefa. O
diagramador precisa dar aos usuários uma clara idéia
das conseqüências de suas escolhas, especialmente
quando elas estão interligadas.
Foram enumerados vários pontos relacionados à leitura
de um manual de instrução. Pediu-se aos entrevistados
que fossem marcando os que influenciam mais no
entendimento do manual, ou seja, aqueles que viriam a
dificultar o uso do mesmo. Em primeiro lugar ficou
vocabulário técnico do manual (38 votos), seguido de
tamanho das letras (36 votos). Conclui-se que os
manuais, em geral, não visam os consumidores idosos,
pois apresentam tamanho de letra reduzido, o que é
problemático para um público que sofre de vários
7
problemas de visão. O vocabulário é um tema que
abrange uma maior parcela de idades, pois os textos,
muito cansativos, podem tirar a atenção do leitor ao
manusear o produto. Conseqüentemente, poderão
ocorrer acidentes, dependendo do produto.
Inconsistência em manuais de produtos revelam que,
neles, os engenheiros não conceitualizam as
informações com a mesma linguagem dos usuários. Os
designers precisam organizar a estrutura dos textos em
relação às dificuldades dos leitores, e não apenas pelo
uso dos botões, caracteres, modos de exibição, e outros
pontos ligados à engenharia. As empresas precisam
entender que os requisitos para uma boa comunicação
começam com um planejamento de conteúdo bem feito.
Eles precisam ir além da visão antiquada de
“documento - atividade incômoda” (GLUSHKO &
BIANCHI, 1982).
Segundo a pesquisa, 49 dos oitenta idosos afirmaram
morar sem a companhia de uma pessoa mais nova, que
possa ajudá-los em atividades importantes como na
montagem de um produto, sua limpeza, e na forma
mais segura de manuseá-los, logo, os manuais
representam essa ajuda tão importante que eles
necessitam. Daí a importância de se estudar o tema.
Finalmente, cabe mencionar as questões do ambiente
arquitetural – pias confortáveis (28% lava louça) e
armário no envoltório de alcance e campo de visão dos
idosos.
Para finalizar o estudo sobre os idosos, a pesquisa
continuará com a ampliação dos dados mais específicos
sobre o dia a dia deles, sobre um produto ou uma
atividade específica. Serão usados outros métodos
ergonômicos que aprofundem o estudo sobre a terceira
idade na cidade do Rio de Janeiro.
4. REFERÊNCIAS
CAMARANO, Ana Amélia. Muito além dos 60: os
novos idosos brasileiros – Rio de Janeiro: IPEA, 1999.
CWIKEL, J.; FRIED, A. V.; GALINSKY, D. Falls and
psychosocial factors among community-dwelling elderly
persons: a review and integration of findings from Israel.
Public Health Review 1989/1990; 17: 39 - 50, 1990.
GOLDIN, José Roberto. Pesquisa em idosos, 2000.
JORDAN, Patrick W. An Introduction to Usability. London,
Taylor & Francis, 1998.
PRUDHAM, D.; GRIMLEY-EVANS, J. Factors associated
with falls in the elderly. Age and Ageing. 10: 101, 1981.
SCHRIVER, Karen A. Dynamics in Document Design:
Creating Text for Readers, 1996.
Sites consultados:
ERGONOMIA – MORAES, Anamaria de.
Disponível em: <http://venus.rdc.puc-
rio.br/moraergo/define.htm> pesquisado em maio de 2003.
PREVENÇÃO DE ACIDENTES COM IDOSOS –
<http://www.fozdoiguacu.pr.gov.br/noticias/link66.htm>
pesquisado em maio de 2004.
TERCEIRA IDADE
<http://www.zipsaude.com.br/links/materia_terceira_idade.ht
m> pesquisado em maio de 2004.
Revistas pesquisadas:
ERGONOMICS IN DESIGN - v. 9, n. 4, out. 2001.
Título da matéria: Produtos do dia a dia: fáceis de usar...ou
não? (Everyday Products: Easy to use...or not?).