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PARCERIA - Dallagnol e Moro: o ex-juiz pediu inclusão de provas nos processos e fez pressão
contrária a certas delações (Aílton de Freitas/Agência O Globo)
POR POUCO - Bumlai: pressão no MPF para que denúncia fosse antes do recesso
POR POUCO - Bumlai: pressão no MPF para que denúncia fosse antes do recesso (Vagner
Rosario/VEJA)
A relação entre Moro e Dallagnol era tão próxima que abre espaço para
que eles comemorem nas conversas o sucesso de algumas etapas da
Lava-Jato, como se fossem companheiros de trabalho festejando metas
alcançadas. Em 14 de dezembro de 2016, Dallagnol escreve ao parceiro
para contar que a denúncia de Lula seria protocolada em breve,
enquanto a de Sérgio Cabral já seria registrada no dia seguinte (o que de
fato ocorreu). Moro responde com um emoticon de felicidade, ao lado da
frase: “ um bom dia afinal”. A proximidade rendeu ainda lances curiosos.
Em 9 de julho de 2015, Dallagnol saúda o colega: “bem vindo ao
telegram!!”. Cinco meses depois, dá dicas ao juiz de como usar o
programa no desktop, enviando no chat um link para o download. “Se
puder me mandar no e-mail, agradeço. O tico e o teco da informática
aqui não são muito espertos”, responde Moro. Em março de 2017,
Dallagnol escreve ao juiz para tirar uma dúvida: ele assina o primeiro
nome com ou sem acento? O motivo é que o procurador estava
revisando um livro sobre Moro. “Não uso normalmente o acento”,
responde o juiz. Em julho de 2018, Dallagnol atua como assessor de
imprensa, perguntando a Eduardo El Hage, um colega do Ministério
Público Federal no Rio, detalhes de um pedido de participação de Moro
em um programa do canal fechado HBO: “Eles contataram o Moro aqui e
ele queria ter o contexto e informações que possam ser úteis pra ele
decidir se atende”. Em um dos períodos mais tensos da operação, o que
se seguiu à ação do juiz que torna público o famoso trecho do grampo
telefônico em que Dilma Rousseff envia o “Bessias” para entregar a Lula
o termo de posse em seu ministério, Dallagnol combina em um dos chats
com procuradores uma nota de apoio a Moro e repassa ao grupo uma
sugestão do próprio juiz para o texto. Na mesma época, Moro também
recebe um afago e conselho de um interlocutor no Telegram (tudo indica,
o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima). “O movimento seria nas
sombras, como você mesmo disse”, escreve, referindo-se ao convite de
Dilma para Lula. “O seu capital junto à população vai proteger durante
um tempo. As coisas se transformam muito rápido.”
PROFESSOR - O almirante Othon: data de prisão foi sugerida por Moro
PROFESSOR - O almirante Othon: data de prisão foi sugerida por Moro (Fernando
Frazão/Agência Brasil)
Na terça 2, Moro (que, por sinal, não faz mais parte da Lava-Jato) ficou
sete horas no Congresso respondendo a parlamentares sobre o caso.
Repetiu o que tem dito nas últimas semanas: os diálogos divulgados
foram fruto de um roubo, podem ter sido editados e, mesmo verdadeiros,
não apontam nenhum tipo de desvio. A cada nova revelação, fica mais
difícil sustentar esse discurso. Na sentença em que condenou Lula, o
ex-juiz anotou que “não importa quão alto você esteja, a lei ainda está
acima de você”. A frase cabe agora perfeitamente em sua situação atual.
Levado ao Ministério da Justiça para funcionar como uma espécie de
esteio moral da gestão Bolsonaro, ele ainda goza de grande
popularidade, mas hoje depende do apoio do presidente para se manter
no cargo. Independentemente do seu destino, o caso dos diálogos
vazados representa uma oportunidade para que o país discuta os
excessos da Justiça e o fortalecimento dos direitos do cidadão. Um país
onde as instituições funcionam não precisa de nenhum Super-Homem.