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O PAPEL DO PLANEJAMENTO

Planejar a Educação / Planejar o Ensino


Depoimento de um professor
 A reunião de planejamento pedagógico "é uma reunião
improdutiva onde é discutido questões que na
verdade não importa o que os professores,
coordenadores e diretores decidam, no final a decisão
já está tomada pela cúpula que rege a educação. No
final sempre prevalece a vontade contrária ao que nós
queremos. Sem contar que se discute assuntos que
não têm nada a ver com os problemas que
enfrentamos no dia a dia, nunca se chega a lugar
nenhum, e, às vezes, fico me perguntando: 'Meu Deus,
o que estou fazendo aqui?'"
Situando Historicamente
Enfoque Tecnicista
 Surge a partir da década de 1960  condição
fundamental para garantir a PRODUTIVIDADE DA
AÇÃO EDUCATIVA

Eficiência e Eficácia

 Instrução programada, planos preestabelecidos,


planejamento produtivista/utilitarista
Plano de Aula – enquadrado em um
formato que impõe uma preocupação
tecnicista, produtivista e objetivista
Objetivos Conteúdos Estratégias Recursos Avaliação
“[...] O modelo, nascido quando tudo
estava direcionado de antemão,
direcionou-se a responder as perguntas
sobre ‘como’ fazer e sobre ‘com que’ fazer.
Omitiu-se completamente a possibilidade
de reflexão sobre o ‘que’ fazer e sobre
‘para que’ fazê-lo. (GANDIN e CARRILHO
CRUZ, 2006, p. 12)
Planejar deixa de ter sentido...

Conteúdos preestabelecidos pela


cultura escolar, sem questionamento,
só repetição

Planos artificiais, que não são


comprometidos com a realidade de
fato
Flexibilidade como desculpa para sua
não efetivação

Limita-se o plano ao programa/lista


de conteúdos
Enfoque sociológico, histórico
e filosófico
É introduzido nas escolas no final da
década de 1970
Desconsidera (chegando até mesmo a
descartar) qualquer abordagem técnica
do processo de planejar a prática escolar
Relação educação-sociedade como
pressuposto da prática escolar
Enfoque sociológico, histórico
e filosófico
 A função social da escola passou a ser
também compreendida como meio para
reproduzir-criticar os interesses e as
necessidade de manutenção-superação
da sociedade, da ciência, da tecnologia,
etc.

não adianta planejar, para que a escola não


continue a reproduzir as relações sociais
Problemática Atual
(VASCONCELLOS, 2002)

Burocratização do
processo de
planejamento

Mudanças Caráter
constantes no “obrigatório” e
que foi formal
planejado

Distância entre
“Engavetamento”
planejado e
dos planos
realizado
O que dizem os Professores

 Não é possível planejar pois

1. A realidade é muito dinâmica


2. Não há condições
3. Determinismos enraizados (“os
alunos não querem aprender”, “não
adianta pensar em práticas
alternativas”, “o sistema não permite
mudanças”, etc.)
O que dizem os Professores

►O planejamento não funciona pois


1. é inútil
2. O processo não acontece
3. falta compromisso
4. limita o trabalho
5. é muito complicado
6. é fora da realidade
7. não é participativo

► Não é necessário planejar


Os maiores problemas
apontados pelos Professores
 Do ponto de vista da Escola – falta
de projeto educativo, falta de espaço
sistemático para a reflexão coletiva,
falta de perspectiva de mudança,
autoritarismo, burocracia,
formalismo, número excessivo de
alunos, baixos salários, falta de
infraestrutura etc.
Os maiores Problemas apontados
pelos Professores
Do ponto de vista da coordenação –
formal, burocrática, distante da
prática, etc.

Do ponto de vista do Sistema de


Ensino – falta de condições de
trabalho, falta de apoio à
escola/professor, cobrança formal,
exigências legais, falta de
participação
Afinal, por que planejar?
O Que é Planejar
 “Uma aspiração ou projeto que
serve como guia para ordenar a
atividade de produzi-lo
efetivamente” (Sacristán)
 Idéia de planejamento como
criação singular, por mais
objetivas que sejam as condições
da realidade
“Planejar implica previsão da ação antes
de realizá-la, isto é, separação no tempo
da função de prever a prática, primeiro, e
realizá-la depois; implica algum
aclaramento dos elementos ou agentes
que intervêm nela, uma certa ordem na
ação, algum grau de determinação da
prática marcando a direção a ser seguida,
uma consideração das circunstâncias reais
nas quais se atuará, recursos e/ou
limitações, já que não se planeja em
abstrato, mas considerando as
possibilidades de um caso concreto”
(SACRISTÁN, 1998)
O professor e o planejamento

 Ensino concebido como profissão de


planejar, situada entre o conhecer e
o atuar
 Professor como planejador
intermediário entre as diretrizes
curriculares e as condições da
prática concreta
O professor e o planejamento
 Divisão de competências no ato
de planejar – separação entre
pensamento e ação?
 Se o professor segue os planos
elaborados por outros, como
fica o domínio sobre sua
prática?
O professor e o planejamento
 Na divisão de papéis do processo de
planejamento, “não se está
condicionando apenas que prática
realizaremos, mas qual será o grau de
autonomia permitida para os
realizadores e que profissionalização
fomenta seu exercício, quanto a
conhecimentos e habilidades práticas”
(VASCONCELLOS, 2002)
O professor e o planejamento

 O planejamento do ensino está


ligado à capacidade reflexiva e
à autonomia profissional do
professor
Conhecimentos envolvidos no ato
de planejar
 da educação, seu valores e
significados (filosofia da
educação);
 sobre o educando e sua inserção
social e histórica (ciências
histórico-sociais);
Conhecimentos envolvidos no ato
de planejar
 da formação do caráter (teoria da
personalidade) e do processo de
desenvolvimento (psicologia do
desenvolvimento e da
aprendizagem);
 sobre os conteúdos a serem
ensinados (o saber disciplinar /
formação geral)
Conhecimentos envolvidos no
ato de planejar
 Os saberes pedagógicos
(escolha das metodologias de
ensino e de avaliação, dos
materiais didáticos, da gestão
da classe → apropriados aos
objetivos)
CONCEPÇÃO DE MUNDO

CONCEPÇÃO DE
HOMEM
RELAÇÃO
EDUCAÇÃO-
CONCEPÇÃO
SOCIEDADE DE
EDUCAÇÃO

CONDICIONANTES
HISTÓRICO-
SOCIAIS

PROCESSOS
PSICO-
COGNITIVOS

SABERES
DISCIPLINARES

SABERES
PEDAGÓGICOS
Só há sentido em se falar em plano de sala de
aula (escrito e com ideias que fundamentem
a ação) se os professores tiverem aspirações
maiores do que transmitir conteúdos
preestabelecidos” . (GANDIN E CARRILHO
CRUZ, 2006, P. 15)

Necessidade de resgatar o sentido social do


trabalho escolar
“Quando houver desejo real de planejamento
participativo, um aspecto metodológico constitui-
se em ponto fundamental: recolher o que as
pessoas sentem, desejam e pensam da maneira
como elas o pensam, desejam e sentem,
utilizando as próprias palavras que as pessoas
escrevem ou pronunciam. O importante é definir
que, para construir um processo participativo com
distribuição do poder, não é suficiente pedir
sugestões e aproveitar aquelas que pareçam
simpáticas ou que coincidam com pensamentos
ou expectativas dos que coordenam: é necessário
que o plano se construa com o saber, com o
querer e com o fazer de todos.” (GANDIN,
1994:136)
Princípios Básicos

Combinação entre Necessidade e


Possibilidade
→ sobre Prioridades e flexibilidades
(nem tudo é flexível, pois há
prioridades, objetivos fundamentais)
 o centro do processo educativo não
deve ser o conteúdo preestabelecido
como faz a escola hoje
Educar ou Educar-se??

 Mas o que é o “educar-se”? “Educar-se”


consiste em:
 1. definir e buscar a própria identidade
(pessoal e de grupo);
 2. apropriar-se de instrumentos para
participar na sociedade ;
 3. assumir um compromisso social;
 4. aceitar algum tipo de transcendência;
 5. estar sempre em construção.
Educar ou Educar-se??
 Uma pessoa educada é, então, aquela que:
 • continuamente busca sua própria identidade
e participa na construção da identidade de
algum grupo;
 • domina instrumentos para participar
utilmente na sociedade;
 • sabe que faz parte de um grupo social,
respeita seus semelhantes, tem consciência da
existência de estruturas sociais e se propõe a
construí-las (reconstruí-las) em conjunto com
os outros;
Educar ou Educar-se??
 • é capaz de pensar e de vivenciar algo além
dos interesses imediatos próprios ou dos
pequenos grupos aos quais pertence; em
outras palavras, é capaz de incorporar à sua
vida a dimensão do que nos é superior,
chegando, possivelmente até Deus;
 • vive como alguém que sempre aprende,
sempre desaprende e aprende de novo;
alguém que faz o que está dito acima como
um processo contínuo.
Princípios Básicos

 o centro do processo
educativo também não pode
ser o aluno
 o centro do processo
educativo escolar deve ser,
sempre, um projeto político-
pedagógico
(CARRILHO e GANDIN, 2004)

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