COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Avaliação da qualidade da água subterrânea utilizada para

consumo humano em uma sub-bacia localizada na zona rural do
município de Viçosa/MG.
Luana Caetano Rocha de Andrade
UFV, Viçosa, Brasil, luana.andrade@ufv.br
Eduardo Antônio Gomes Marques
UFV, Viçosa, Brasil, emarques@ufv.br
Geanne Moreira Brito
UFV, Viçosa, Brasil, geanne.brito@ufv.br
Thaís de Carvalho Felicori
UFV, Viçosa, Brasil, thais.felicori@ufv.br
Luiza Silva Betim
UFV, Viçosa, Brasil, luiza.betim@ufv.br
Lucirlei Ferreira da Costa
UFV, Viçosa, Brasil, lucirlei.ferreira@hotmail.com

RESUMO: As águas subterrâneas são fontes indispensáveis para o abastecimento humano no Brasil
e no mundo, uma vez que correspondem à grande maioria da água doce disponível. Além disso, são
significativas as áreas não alcançadas pelas redes públicas de abastecimento, especialmente na zona
rural, onde a captação de água para consumo humano se dá principalmente por meio de poços e
cisternas. Por esse motivo, estudos e pesquisas relacionados a esse tema assumem grande
relevância, gerando conhecimentos que podem ser aplicados no planejamento e gestão dos recursos
hídricos e na conservação da qualidade da água subterrânea de uma região. O presente estudo
objetivou avaliar a qualidade da água de poços utilizados para abastecimento humano em uma sub-
bacia de aproximadamente 130 hectares, que se localiza na zona rural do município de Viçosa-MG.
Inicialmente fez-se a caracterização dos aspectos geológicos e pedológicos da bacia e o
levantamento de todos os poços inseridos na área de estudo, bem como dos usos do solo. Em
seguida, foram definidos pontos de monitoramento que pudessem representar a qualidade da água
subterrânea em toda a sub-bacia, nos quais se coletou mensalmente amostras para análise dos
seguintes parâmetros físico-químicos e microbiológicos: pH, alcalinidade, turbidez, oxigênio
dissolvido, condutividade elétrica, temperatura, cor, cloretos, nitrato, fosfato total, DBO, DQO,
sólidos totais, fixos e voláteis, coliformes totais, E. coli, ferro, manganês, chumbo, cromo, zinco,
cádmio, cobre, níquel, magnésio, cálcio, potássio e alumínio. De acordo com os padrões
estabelecidos pela Portaria nº518/04 do Ministério da Saúde, que estabelece a norma de qualidade
da água para consumo humano, e pela Resolução CONAMA n° 396/08, que dispõe sobre
classificação e diretrizes ambientais para enquadramento das águas subterrâneas, parte significativa
das amostras avaliadas apresentou ao menos um parâmetro fora dos limites previstos, podendo-se
destacar: turbidez, cor, pH, E. coli, ferro, chumbo e alumínio. Diante dos resultados obtidos é
possível afirmar que a qualidade da água subterrânea captada na sub-bacia em estudo pode
representar um risco à saúde dos habitantes da comunidade, sendo necessária a verificação das
fontes de contaminação e a promoção de ações que visem à melhoria das condições dos recursos
hídricos subsuperficiais dessa região.

PALAVRAS-CHAVE: Bacia Hidrográfica, Qualidade da Água, Água Subterrânea.

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1 INTRODUÇÃO
A água subterrânea é parte integrante do ciclo
hidrológico e está intimamente ligada aos
processos climáticos, ao regime das águas
superficiais e às características geológicas da
região. É uma importante fonte para o
abastecimento no Brasil e no mundo e
corresponde à grande maioria da água doce
disponível. Para se ter uma estimativa da
importância deste recurso, o estoque mundial de
água subterrânea é estimado em 8,4 milhões de
km³, valor que é cerca de 67 vezes superior ao
volume total das águas doces superficiais
(Costa, 2000).
Em geral, a água subterrânea tem sua origem
na superfície e está muito relacionada à água
superficial. O nível de água de um aqüífero é
governado por mecanismos de descarga e
recarga, que são influenciados pela quantidade
de água superficial à sua volta. E a qualidade da
água subterrânea também pode ser afetada pela
infiltração de águas superficiais, caso estas
estejam contaminadas.
O emprego da água subterrânea em
atividades humanas data de milhares de anos,
mas ainda há uma escassez de informações e
estudos que forneçam dados detalhados,
quantitativos, sobre a disponibilidade,
quantidade, uso e distribuição geográfica desse
recurso no Brasil e no mundo (Cleary, 2007).
A utilização da água subterrânea também é
uma importante alternativa de abastecimento
para populações que vivem em áreas não
alcançadas pelas redes públicas de
abastecimento, especialmente na zona rural,
onde a captação de água para consumo humano
se dá principalmente por meio de poços e
cisternas. Por esse motivo, estudos e pesquisas
relacionados a esse tema assumem grande
relevância, gerando conhecimentos que podem
ser aplicados no planejamento e gestão dos
recursos hídricos e na conservação da qualidade
da água subterrânea de uma região.
O presente estudo objetivou avaliar a
qualidade da água de poços utilizados para
abastecimento humano em uma área de estudo
localizada na zona rural do município de
Viçosa, pertencente à Zona da Mata de Minas
Gerais.
2
2 MATERIAL E MÉTODOS
A área de estudo está localizada na zona rural
do município de Viçosa entre os meridianos de
42º50’ e 42º52’ e entre os paralelos de 20º49’ e
20º51’. A área compreende cerca de 130 ha da
sub-bacia do Palmital, inserida na bacia do
Ribeirão São Bartolomeu, que abastece o
município.
A pesquisa foi realizada a partir da obtenção
de informações referentes à rede hidrográfica,
às atividades antrópicas, aos usos da água, ao
uso e ocupação do solo, à pedologia e à
geologia local, seguidos de análises físico-
químicas e microbiológicas das águas
subterrâneas.
A seqüência metodológica é apresentada a
seguir.
2.1 Delimitação da área de estudo
A delimitação teve por base a adoção da bacia
hidrográfica, como unidade físico-territorial de
planejamento e gerenciamento. A porção
estudada da sub-bacia do Palmital foi
selecionada dentre as diversas sub-bacias do
Ribeirão São Bartolomeu, levando em
consideração o tamanho reduzido, a facilidade
de delimitação e a ausência de estudos e
trabalhos específicos. Foi utilizada uma imagem
de satélite de alta resolução (IKONOS) com
curvas de nível, a partir da qual foram
demarcados os divisores de água que abrangiam
a área selecionada.
2.2 Avaliação da qualidade da água
2.2.1 Levantamento sócio-ambiental
Para a caracterização da qualidade da água na
sub-bacia procedeu-se inicialmente o
levantamento sócio-ambiental da sub-bacia,
onde foram visitadas todas as propriedades
rurais, com o objetivo de se fazer o
cadastramento e mapeamento dos poços e,
também, dos usos da água e a destinação dos
efluentes líquidos e dos resíduos sólidos
gerados. A água retirada dos poços é utilizada
para abastecimento humano. Posteriormente, foi
realizado a identificação da rede de drenagem
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com o auxílio de uma imagem IKONOS da As análises de qualidade da água da sub-bacia

área. tiveram como objetivo avaliar o comportamento
Com base nessas informações foram alocados de parâmetros físico-químicos e
dez pontos de monitoramento que consistem em microbiológicos ao longo das oito campanhas e
poços escolhidos de forma a abranger toda a detectar, quando possível, as desconformidades
sub-bacia, onde foram coletadas e analisadas com valores estabelecidos pela legislação
amostras mensalmente, no período de maio a ambiental vigente. Em cada um dos pontos
dezembro de 2009. A análise da qualidade da selecionados foram realizadas análises dos
água em poços tem como objetivo avaliar a parâmetros alcalinidade, cor, turbidez,
viabilidade da utilização desta para o consumo condutividade elétrica, pH, sólidos totais,
humano e identificar possíveis contaminações demanda química de oxigênio (DQO), demanda
da água subterrânea. bioquímica de oxigênio (DBO), oxigênio
dissolvido (OD), temperatura, cloretos,
2.2.2 Análises da qualidade da água coliformes totais, E. coli, nitrato, ferro total,
manganês total, alumínio total, cromo total,
Para avaliar a qualidade da água dos poços zinco total, chumbo total, níquel total, cádmio
foram utilizados os padrões estabelecidos pela total e cobre total. As análises foram realizadas
Resolução nº 396/08 do Conselho Nacional do no Laboratório da Estação de Tratamento de
Meio Ambiente, que dispõe sobre a Água da UFV e no Laboratório de Matéria
classificação e diretrizes ambientais para o Orgânica e Resíduos do Departamento de Solos
enquadramento das águas subterrâneas e dá da UFV, seguindo as metodologias propostas
outras providências, e pela Portaria nº 518/04 no Standard Methods for Examination of Water
do Ministério da Saúde, que estabelece os and Wastewater (APHA, WEF, AWWA, 2005),
procedimentos e responsabilidades relativos ao relacionadas na Tabela 1.
controle e vigilância da qualidade da água para
consumo humano e seu padrão de potabilidade, Tabela 1. Métodos utilizados para as análises de
e dá outras providências. qualidade da água.
Parâmetro Método
O limite da área de estudo, a hidrografia e os
pH APHA 4500 – H+
pontos de monitoramento são mostrados na C.E. APHA 2510 B
Figura 1 a seguir. Temperatura APHA 2550
Método Iodimétrico
DBO
(APHA 5210 B)
Método Oxidimétrico – Refluxo
DQO
Aberto (APHA 5220 B)
Método de Winkler – modificação
OD
por azida (APHA 4500-O C)
Sólidos totais Gravimetria (APHA 2540 B)
Nitrato Método de redução de Cádmio
Coliformes Substrato Enzimático
Totais e E. (cromogênico – fluorogênico)
coli (APHA 9223 B)
Método Argentométrico
Cloretos
(4500-Cl- B)
Método Nephelométrico ( APHA
Turbidez
2130 B)
Alcalinidade Titulometria (APHA 2320 B)
Comparação visual
Cor
(APHA 2120 B)
Extrator nitroperclórico e leitura na
Metais espectrofotometria de emissão de
Figura 1. Limite da área de estudo, hidrografia e pontos
plasma
de monitoramento da qualidade da água superficial e
subterrânea.

3
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2.3 Levantamento de aspectos que 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

influenciam a qualidade da água
3.1 Caracterização da qualidade da água
O levantamento dos aspectos que influenciam a
qualidade da água consistiu em se proceder a Por meio do levantamento sócio ambiental
caracterização do uso e ocupação do solo, da foram cadastradas quinze propriedades rurais de
pedologia, da geologia e das atividades pequeno porte, onde residem trinta e seis
antrópicas na área de estudo. pessoas. Os principais usos da água subterrânea
A caracterização do uso do solo foi obtida por (e também das água superficiais) identificados
meio de trabalhos de campo, onde foram foram: abastecimento humano, dessedentação
levantados os principais usos, e da interpretação de animais e irrigação de hortaliças. Nenhuma
da imagem de satélite. Os dados coletados propriedade possui um sistema adequado para
foram sobrepostos à imagem IKONOS da área e destinação dos efluentes domésticos, sendo a
utilizando-se o software Arcgis 9.3 identificou- maioria das propriedades equipada com um
se o uso e ocupação do solo de toda a sub-bacia. sistema de fossa que apresenta somente as
No caso do levantamento pedológico e laterais de alvenaria, nos quais são armazenados
geológico foi utilizada imagem IKONOS da o esgoto.
área e um mapa planialtimétrico contendo A caracterização da qualidade da água que
curvas de nível eqüidistantes de 5 m e levou em consideração o resultado da análise de
hidrografia, na escala de 1:5.000. 23 parâmetros realizadas em 10 poços inseridos
Posteriormente, foram registradas as na área de estudo ao longo de 8 campanhas (o
características morfológicas de perfis de solos e número de campanhas varia de acordo com o
aspectos referentes ao relevo, declividade, parâmetro monitorado). Para análise dos
vegetação, pedregosidade, rochosidade, resultados foram utilizados os padrões de
drenagem dos solos e fragilidade dos ambientes. qualidade da água estabelecidos pela Resolução
Para fins de caracterização foram utilizados CONAMA nº 396/08 e, também, pela Portaria
05 perfis de solos, onde foram coletadas 27 nº518/04 do Ministério da Saúde.
amostras dos principais horizontes de cada um
deles, que foram enviadas ao laboratório de Tabela 2. Padrões de qualidade da água estabelecidos
solos da Universidade Federal de Viçosa para pela Portaria nº 518/04 do Ministério da Saúde e pela
Resolução CONAMA 396/08.
análises físicas, químicas e mineralógicas.
Resolução
A classificação dos solos foi feita Portaria n° 518/04
CONAMA
posteriormente de acordo com Embrapa (2006). MS
n° 396/08
Além disso, realizou-se o levantamento Parâmetro Norma de
geológico fazendo-se o reconhecimento das Qualidade da Consumo
rochas e medindo-se estruturas geológicas com Água para Humano
o auxílio de uma bússola. Consumo Humano
Por fim, foram identificadas as atividades Coliformes
Ausência em 100 Ausência em
antrópicas desenvolvidas na área de estudo por termotolerantes
mL 100 mL
meio de visitas a todas as propriedades e da (E. coli)
aplicação de questionário. DBO* 5 mg/L O2 5 mg/L O2
OD* > 5 mg/L O2 > 5 mg/L O2
Turbidez 5,0 UNT -
2.4 Avaliação integrada da qualidade da água
Cor 15 uH -
pH 6,0 a 9,5 -
A avaliação integrada da qualidade da água foi Nitrato 10,0 mg/L N 10,0 mg/L N
realizada com base nos dados das análises de Cloreto total 250 mg/L Cl 250 mg/L Cl
qualidade da água, do uso e ocupação do solo, Chumbo total 0,01mg/L Pb 0,01 mg/L Pb
do levantamento pedológico e geológico e das Cromo total 0,05 mg/L Cr 0,05 mg/L Cr
análises de química e mineralogia do solo, por Manganês total 0,1 mg/L Mn 0,1 mg/L Mn
meio de análises gráficas e comparações. Níquel total - 0,02 mg/L Ni
Cádmio total 0,005 mg/L Cd 0,005 mg/L

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Zinco total 5 mg/L Zn 5 mg/L Zn

*Padrões legais estabelecidos pela Resolução DBO - ÁGUA SUBTERRÂNEA
20,00

Os parâmetros alcalinidade, condutividade 16,00

DBO (mg/ L O2)

elétrica, temperatura, sólidos totais, DQO,
12,00
coliformes totais, alumínio total e ferro total
não apresentam padrões estabelecidos pela 8,00

Resolução n° 396/08 do Conselho Nacional de 4,00

Meio Ambiente.
0,00
De acordo com os padrões supracitados mai/ 09 jun/ 09 jul/ 09 ago/ 09 set/ 09 out/ 09 nov/ 09 dez/ 09
apresentaram não conformidade, em pelo P1 P2 P3
menos uma campanha, os parâmetros: cor, P4 P5 P6
P7 P8 P9
turbidez, pH, DBO, OD, E. coli, manganês, P10 Portaria MS518/04
cromo, zinco, chumbo, cobre e cádmio. OD - ÁGUA SUBTERRÂNEA
Atenderam os padrões legais: cloreto, nitrato e 9
níquel. 8

OD (mg/ L O2)
Os parâmetros que apresentaram maiores 7
6
alterações foram, DBO, OD, E. coli e cromo.
5
Destacam-se para o parâmetro DBO os pontos 4
P4, P5, P8 e P9 que apresentaram mais de 50% 3
dos resultados acima dos padrões legais. Os 2
mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09
resultados demonstram alteração em 9 poços P1 P2
P3 P4
em pelo menos uma campanha para o parâmetro P5 P6
OD, destacando-se o P5 que apresentou P7 P8
P9 P10
concentrações abaixo do recomendado em 50% Mín. Portaria MS 518/ 04

das amostras. Pode-se observar também, uma Figura 2. Parâmetros que apresentaram não conformidade
com os padrões legais (DBO e OD).
tendência de diminuição da concentração OD
nas duas últimas campanhas realizadas em 1.200,00 E. coli - ÁGUA SUBTERRÂNEA

período chuvoso, coincidindo, na maioria das 1.000,00

E.coli (org/ 100 mL)

vezes, com o aumento da DBO. Foi encontrada 800,00

E. coli em 90% dos poços, não sendo detectadas
600,00
apenas no ponto P7. Nos demais, os valores
encontrados ultrapassaram o padrão 400,00

estabelecido pelas normas em pelo menos 50% 200,00

das campanhas, com exceção do ponto P5. Vale -

ressaltar que a presença de E. coli na água mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/09
inviabiliza o consumo humano pois coloca em P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 P8 P9 P10
risco a saúde dos habitantes da região.
Os gráficos com a representação dos CROMO - ÁGUA SUBTERRÂNEA
parâmetros que apresentaram não 7

conformidades serão mostrados nas Figura 2 e 3 6

Cromo (mg/ LCr)

a seguir. 5

0
mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 dez/ 09
P1 P2
P3 P4
P5 P6
P7 P8
P9 P10
Port. MSe CONAMA 396/08

Figura 3. Parâmetros que apresentaram não conformidade

com os padrões legais (E. coli e cromo).

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As alterações de pH ocorreram nos pontos
P2, P3, P4, P5, P6, P8, P9 e P10. O pH
apresenta, para águas subterrâneas, limites
legais mínimo e máximo de 6,0 e 9,5,
respectivamente. Nas amostras coletadas este
parâmetro variou de 4,70 a 6,88, sendo as não
conformidades encontradas, em cerca de 40%
do total analisado. Dentre os metais destacam-
se os parâmetros cromo e chumbo. O parâmetro
cromo apresentou alterações principalmente nas
campanhas realizadas em período chuvoso.
Nessas campanhas foram encontradas não
conformidades em aproximadamente 70% das
amostras, o que demonstra a relação desse
parâmetro com o aumento da infiltração de água
no solo, ocasionada pelo acréscimo da
precipitação. Foram detectadas não
conformidades no parâmetro chumbo, nos
meses de setembro e novembro, onde foi
identificada alteração em pelo menos uma
dessas duas campanhas em todos os pontos,
com exceção do P5 e P6.
3.2 Levantamento de aspectos
influenciam a qualidade da água
O uso e ocupação do solo da sub-bacia que
foram levantados em trabalhos de campo
podem ser visualizados juntamente com os
pontos de monitoramento na Figura 4 a seguir.
Figura 4. Uso e ocupação do solo na sub-bacia.
Por volta de 66% da área estudada é coberta
por pastagem, 15% por mata nativa, 7% por
eucalipto, 5% por café, 5% por milho e os 2%
restantes cobertos por feijão, cana-de-açúcar,
pomar e taboa. As atividades antrópicas
desenvolvidas na sub-bacia se restringem
praticamente aos usos do solo levantados,
somando-se apenas a criação de gado de leite e
de corte (relacionados às pastagens) e de
pequenos animais.
Os estudos pedológicos permitiram identificar
três diferentes classes de solos: Cambissolo
Háplico, Latossolo Vermelho-Amarelo,
Argissolo Vermelho-Amarelo. Os Latossolos
Vermelho-Amarelos são solos bastante
evoluídos e resistentes à erosão. O principal
tipo de rocha encontrado na área são os
gnaisses, rocha metamórfica, composta
principalmente por feldspato, quartzo e biotita.
O Latossolo Vermelho-Amarelo corresponde
à classe predominante na área de estudo. Neste
solo pode-se observar a prevalência da caulinita
e dos minerais ricos em ferro.
No que diz respeito às análises de Fe, Mn, Cu,
Zn, Cd, Cr, Pb e Ni, utilizou-se os padrões de
qualidade de solo estabelecidos pela Resolução
nº 420/09 do Conselho Nacional de Meio
que Ambiente para avaliação. Contudo, os
parâmetros ferro e manganês não apresentam
valores estabelecidos, pois são encontrados
naturalmente em grande concentração nos
diferentes tipos de solos brasileiros. Entretanto,
os valores de concentração obtidos para tais
parâmetros são muito superiores aos demais
analisados.
Os resultados obtidos demonstraram um alerta
somente para os parâmetro zinco e cádmio. O
zinco apresentou alteração apenas em 3
amostras coletadas no perfil 01, enquanto o
cádmio apresentou alteração em todas as
amostras coletadas de todos os perfis.
Das demais análises realizadas vale destacar o
parâmetro pH. Os valores de pH detectados
variaram entre 4,17 e 6,24. Com isso pode-se
afirmar que os solos analisados na área de
estudos são em sua maioria ácidos.
3.3 Avaliação integrada da qualidade da água
Para avaliar de forma integrada a qualidade da
água será apresentado, na Tabela 2 a seguir, um
resumo dos parâmetros não conformes em cada
nascente monitorada, acompanhados do número
de alterações e do número de campanhas
realizadas.
6
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Tabela 2. Resumo das não conformidades encontradas ao
longo do período de monitoramento.
Poços Parâmetros não conformes*
DBO (3/7), E. coli (5/6), Cromo
P1 (2/6), Chumbo (1/6), Cádmio
(1/6)
pH (4/6), DBO (2/5),OD (1/6), E.
P2 coli (4/6), Cromo (2/4), Chumbo
(1/4)
pH (1/8), DBO (4/7), OD (1/8), E.
P3 coli (3/5), Cromo (3/6), Chumbo
(1/6)
Turbidez (2/8), pH (1/8), DBO
(4/5), OD (3/8), E. coli (3/6),
P4
Manganês total (1/6), Cromo
(2/6), Chumbo (2/6), Cobre (1/6)
pH (5/8), DBO (4/7), OD (4/8), E.
P5 coli (1/6), Cromo (3/6), Zinco
(1/6)
pH(3/8), DBO (2/7), OD (2/8), E.
P6
coli (3/6), Cromo (1/6)
DBO (2/6), OD (2/8), Cromo
P7
(2/6), Chumbo (1/6)
pH (2/8), DBO (4/7), OD (2/8), E.
P8 coli (5/6), Cromo (2/6), Chumbo
(2/6)
pH (7/8), DBO (4/7), OD (2/8), E.
P9 coli (4/6), Cromo (2/6), Chumbo
(1/6)
Cor (5/8), Turbidez (7/8), pH
(8/8), DBO (3/7), OD (2/8), E. coli
P10 (5/6), Manganês total (3/6),
Cromo (4/6), Chumbo (2/6),
Cádmio (1/6)
*(n° de não conformidades/n° de campanhas
realizadas
A DBO apresentou valores maiores que 5
mg/L, padrão estabelecido pela Resolução n°
396/08 do Conselho Nacional de Meio
Ambiente, ao longo de todo o período de
monitoramento. De acordo com Santos (2000),
nas águas subterrâneas, em geral, a DBO é
inferior a 1 mg/L de O2, sendo que valores mais
elevados indicam contaminação. Considerando
esse padrão, todas as amostras analisadas
apresentam contaminação. Os maiores valores
foram encontrados nas duas últimas campanhas
realizadas no período chuvoso.
O parâmetro E. coli apresenta estreita relação
com a contaminação da água por dejetos de
humanos, o que pode estar relacionado a
presença de fossas nas regiões próximas aos
7
poços. Tal parâmetro apresentou
desconformidade com os padrões legais em
quase todos os pontos (com exceção do ponto
P7), o que é um forte indício de contaminação
fecal. A presença de E.coli foi observada em
mais de 50% das amostras analisadas.
Observando-se os resultados nota-se que as
maiores concentrações desse microrganismo
foram encontradas nos meses secos, de maio a
julho. Tal fato pode ser explicado devido à
menor recarga do aqüífero nesses meses que faz
com que, caso exista contaminação não sazonal
(ex.: fossas de infiltração), aumente a
quantidade de organismos por 100 mL.
O parâmetro pH apresentou alterações na
maioria dos pontos analisados, nos quais parte
dos resultados obtidos foram um pouco
menores que o mínimo permitido pela
legislação. E ao comparar esses dados com os
dados de análise de solo, pode-se afirmar que
esses resultados estão diretamente relacionados,
uma vez que os solos da sub-bacia são
predominantemente ácidos, ou seja, também
apresentam baixos valores de pH, o que pode
ser entendido como uma característica natural
dessas águas.
Não foi possível identificar os fatores que
influenciam as alterações verificadas nos
parâmetros cromo e chumbo.
4 CONCLUSÕES
Pode-se afirmar que a maioria das alterações
encontradas na qualidade da água está
relacionada com as atividades antrópicas e com
o uso e ocupação do solo. Dessa forma,
mudanças estruturais e comportamentais
visando o controle da poluição causado pelas
atividades antrópicas são essenciais para
melhorar a qualidade das águas subterrâneas na
sub-bacia. Dentre as medidas que podem ser
adotadas, destaca-se a construção de fossas
sépticas, a fim de impedir a infiltração de
esgoto não tratado no solo. O isolamento das
nascentes e cursos d’água por meio de cercas de
arame farpado, para evitar contato direto de
bovinos, e a revegetação das matas ciliares são
também ações importante na conservação tanto
das águas subterrâneas quanto superficiais.
Para alguns parâmetros, tais como pH,
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manganês e ferro, a geologia e a pedologia
exercem significativa influência; entretanto,
para minimizar o aporte de sedimentos nas
nascentes e cursos d’água, que elevam a
concentração de ferro e manganês, é preciso um
manejo adequado do solo para que se evite os
processos erosivos. Neste sentido a diminuição
de áreas de pastagem e o reflorestamento das
áreas de preservação permanentes (que incluem
as margens dos cursos d’água e o terço superior
dos morros) seriam medidas adequadas.
A avaliação integrada da qualidade da água,
não somente dessa sub-bacia, é um estudo que
envolve inúmeras variáveis, apresentando uma
grande complexidade. Entretanto, constitui uma
ótima ferramenta para promover uma gestão
adequada dos recursos hídricos, permitindo o
conhecimento dos fatores que podem
influenciar em sua qualidade.
Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006. 306 p.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria n.º 518, de 25 de
março de 2004. Estabelece os procedimentos e
responsabilidades relativos ao controle e vigilância da
qualidade da água para consumo humano e seu padrão
de potabilidade, e dá outras providências. Disponível
em:
http://189.28.128.179:8080/518/legislacoes/portaria-
ms-no.-518 . Acesso em: 10 de jan. De 2010.
SANTOS, A.C. Noções de hidroquímica. 81-108p. In
FEITOSA, F.A.C. e FILHO, J.M. (coord.)
Hidrogeologia – Conceitos e aplicações 2ª Edição.
Fortaleza: CPRM/REFO, LABHID-UFPE, 2000.

AGRADECIMENTOS

Sinceros agradecimentos à CAPES pela

concessão de bolsa de estudos e à FAPEMIG
pelo financiamento de parte da pesquisa

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE.

Resolução CONAMA n° 396/2008. Dispõe sobre a
classificação e diretrizes ambientais para o
enquadramento das águas subterrâneas e dá outras
providências. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?co
dlegi=620 Acesso em: 10 jan. 2010.
CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE.
Resolução CONAMA n° 420/2009. Dispõe sobre
critérios e valores orientadores de qualidade do solo
quanto à presença de substâncias químicas e
estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental
de áreas contaminadas por essas substâncias em
decorrência de atividades antrópicas. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res357
05.pdf Acesso em: 30 nov. 2008.
CLEARY, R.W. Águas subterrâneas. 2007. Disponível
em: www.clean.com.br/cleary.pdf Acesso em: 10
dez. 2009.
COSTA, W.D. Uso e gestão de água subterrânea. 341-
367p. In FEITOSA, F.A.C. e FILHO, J.M. (coord.)
Hidrogeologia – Conceitos e aplicações 2ª Edição.
Fortaleza: CPRM/REFO, LABHID-UFPE, 2000
EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos.
Sistema Brasileiro de Classificação de Solos. 2. ed.