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COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS.

Avaliação de metodologias de classificação de barragens quanto a


segurança, baseada no estudo de caso das hidrelétricas da
FECOERGS
Maicolzideque Willig
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, maicolzideque@gmail.com

Antonio Thomé
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, thome@upf.br

Vinícius Girardello
Universidade Federal Do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, Brasil, vinigirardello@gmail.com

Maciel Donato
Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, mdonato@upf.br

Pedro Domingos Marques Prietto


Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo, Brasil, pdmp@upf.br

RESUMO: O objetivo do trabalho é avaliar qualitativamente três metodologias de classicação de


barragens quanto a segurança. Para isso, a pesquisa foi baseada no estudo de caso de 17 barragens
da FECOERGS (Federação das Cooperativas de Energia, Telefonia e Desenvolvimento Rural do
RS), onde todas as hidrelétricas são de pequeno porte (quase todas PCH’s). As metodologias
avaliadas foram: a) o método do Ministério da Integração Nacional (MI); b) a metodologia da
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará (COGERH/CE) e c) o método
utilizado pelo Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados Unidos da América (USACE). A
primeira metodologia propõe um método de classificação das barragens quanto a sua conseqüência
de ruptura, baseando-se no potencial de perda de vidas humanas e nos danos econômicos
associados à ruptura da barragem, a fim de fixar níveis apropriados de atividades de inspeção. A
segunda propõe a chamada "Matriz Potencial de Risco", que calcula o potencial de risco a partir de
três parâmetros: Periculosidade (características de projeto); Vulnerabilidade (condição atual da
barragem) e Importância Estratégica (danos econômicos, sociais, ambientais e de perdas de vidas
asscociado a barragem) e permite a priorização de ações a serem desenvolvidas na fase de
planejamento e programação da manutenção. A terceira propõe uma classificação baseada em
parâmetros, dividos em três categorias: parâmetros de constantes físicas, parâmetros varíaveis e
consequência, a fim de resultar num escore global. Dentre os métodos avaliados, a metodologia da
COGERH mostrou-se mais eficiente no que diz respeito a uma avaliação criteriosa, objetiva e de
fácil aplicação. As demais metodologias pecam por serem incompletas e por não fornecerem
resultados concisos e, muitas vezes, reais, de forma que isso possa comprometer, de maneira
significativa, a avaliação de segurança das hidrelétricas.

PALAVRAS-CHAVE: Segurança de Barragens, Metodologias de Classificação, FECOERGS

1 INTRODUÇÃO envolvem uma série de características que


podem causar sérios danos econômicos,
Barragens, inevitavelmente, são obras de ambientais e de perdas de vidas. Isto justifica a
engenharia associadas a grande risco, visto que preocupação mundial e nacional quanto à

1
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segurança de barragens. 1 3.9 150 AP


No Brasil, em 2009, a Comissão de 2 29.5 6124 C
Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) 3 4.4 800 AP
aprovou, em caráter conclusivo, a proposta que 4 2.95 1000 CV
5 2 319 C
obriga o Poder Executivo a instituir a Política
6 4.73 510 CV
Nacional de Segurança de Barragens. Assim, o 7 1.7 C
315
Poder Público será dotado de um instrumento 8 5 3340 C
permanente de fiscalização das mais de 300 mil 9 1.95 528 C
barragens existentes no País. 10 2.6 800 AP
Assim sendo, o objetivo do trabalho é avaliar 11 21 1430 C
qualitativamente três metodologias de 12 3 680 C
classificação existentes, de forma comparativa. 13 DND 350 AP
Para o estudo, foram utilizadas as hidrelétricas 14 2.7 4500 C
da Federação das Cooperativas de Energia, 15 4.5 953 CV
16 15 4500 C
Telefonia e Desenvolvimento Rural do RS -
17 DND 1360 AP
FECOERGS (em que a maioria é PCH’s). As
Legenda: C: concreto
metodologias avaliadas foram: o método usado AP: alvenaria de pedra
pelo Ministério da Integração Nacional (MI), a CV: comportas de vertedouro
metodologia criada pela Companhia de Gestão DND: dados não disponíveis
dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará
(COGERH/CE) e o método utilizado pelo Para a aplicação das metodologias, foi
Corpo de Engenheiros do Exército dos Estados necessário o levantamento completo das
Unidos da América (USACE). características das hidrelétricas, como as
característica de projeto, geração e operação.
Além disso, uma inspeção visual de cada
2 HIDRELÉTRICAS UTILIZADAS PARA barragem foi realizada a fim de detectar
O ESTUDO anomalias.

Como já citado anteriormente, as metodologias


foram avaliadas através da sua aplicação em 17 3 DESCRIÇÃO DAS METODOLOGIAS
hidrelétricas da FECOERGS. Todas as DE CLASSIFICAÇÃO DE BARRAGENS
barragens encaixam-se na categoria de PCH ou QUANTO A SEGURANÇA
CGH (pequena central hidrelétrica e central
geradora hidrelética). A tabela 1 ressalta 3.1 Método do Ministério da Integração
algumas características mais relevantes das Nacional (MI)
barragens utilizadas.
O Ministério da Integração Nacional - MI
propõe um método de classificação das
barragens quanto a sua conseqüência de
ruptura, baseando-se no potencial de perda de
vidas humanas e nos danos econômicos
associados à ruptura da barragem, a fim de fixar
níveis apropriados de atividades de inspeção. A
tabela 2 mostra as condições que devem
consideradas de acordo com o método, para a
classificação.

Tabela 1. Caracterização das hidrelétricas. Tabela 2. Classificação da Conseqüência de Ruptura de


Potência Barragens
Barragem Altura (m) Material
Instalada (kW)

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Danos
Conseqüência de Econômicos, Tabela 4. Índices de Periculosidade de uma Barragem - P
Perda de Vidas
Ruptura Sociais e Dimensão da Volume Total Tipo de
Ambientais Barragem Reservatório Barragem
Muito Alta Significativa Dano Excessivo A B C
Dano
Alta Alguma Altura ≤ 10m e
Substancial Pequeno
Comprimento ≤ Concreto
Baixa Nenhuma Dano Moderado < 20hm³
200m
Muito Baixa Nenhuma Dano Mínimo (1) (3) (4)
10m < Altura <
Alvenaria de
Com a classificação da barragem de acordo 20m e Médio
Pedra / Concreto
com a sua conseqüência de ruptura, Comprimento ≤ Até 200 hm³
Rolado
determinam-se os intervalos regulares para que 200m
sejam feitas as reavaliações da sua segurança. (3) (5) (6)
Na Tabela 3, Barbosa (2002) recomenda 20m ≤ Altura ≤
intervalos de reavaliações baseado nas 50m ou Regular Terra
conseqüências de ruptura. Comprimento 200 a 800 hm³ Enrocamento
200m a 3.000 m
Tabela 3. Freqüência de Reavaliações da Segurança de (6) (7) (8)
Barragens
Conseqüência de Ruptura Período entre Reavaliações Para se obter o Índice de Periculosidade da
Muito Alta 5 Anos Barragem, deve-se fazer o somatório dos
Alta 7 Anos valores definidos em cada coluna da tabela
(coluna de “A” até “E”), ou seja, cada
Baixa 10 Anos
característica da barragem possui seu valor na
Muito Baixa 10 Anos tabela (entre parêntesis). A Tabela 5 mostra a
classificação da barragem de acordo com a
3.2 Metodologia da Companhia de Gestão Periculosidade.
dos Recursos Hídricos do Estado do Ceará
(COGERH/CE) Tabela 5. Classificação da Barragem quanto à
Periculosidade
Barbosa (2002) deixa explícito que é uma Índice de Periculosidade – P Classificação
“matriz piloto”, mas que ela vem sendo P > 30 Elevado
utilizada com sucesso no Estado do Ceará pela 20 < P ≤ 30 Significativo
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos –
10 ≤ P ≤ 20 Baixo a Moderado
COGERH para as 116 barragens monitoradas
pelo órgão.
O principal objetivo da matriz é apresentar Já no segundo conjunto da matriz, os
um modelo alternativo para se obter uma aspectos envolvidos são relacionados com o
classificação das barragens, preocupando-se estado atual da barragem, com a sua história,
principalmente com a sua segurança estrutural, operacionalidade e/ou facilidade de manutenção
importância estratégica e riscos para populações de suas partes hidráulicas, permitindo avaliar o
a jusante. índice de Vulnerabilidade – V (Tabela 6).
A metodologia é composta por um conjunto Novamente, por questões de espaço disponível,
de 3 índices. O primeiro conjunto é o de colocou-se apenas uma parte da tabela original.
parâmetros técnicos de projeto (dimensões, tipo
de barragem e de fundação, etc.), que retrata o
grau de Periculosidade Intrínseca da Barragem,
Tabela 6. Índices de Vulnerabilidade de uma Barragem -
como mostra a Tabela 4. Devido a questões de
V
espaço disponível, colocou-se apenas uma parte Tempo de Existência Conf. Est. Tomada
da tabela original. Operação de Projeto Vertedouras d'água

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F G H I Grande Grande Elevado


Projeto > 800
Satisfatória (2) (2.5) (1,5)
"as built" e Muito
> 30 anos Controle a Médio Média Médio
avaliação Satisfatória
montante 200 a 800
desemp.
(1,5) (2) (1,2)
(0) (1) (2) (1) Baixo Pequena Pequeno
< 200
Satisfatória
Projeto (1) (1) (1)
10 a 30 anos Satisfatória Controle à
"as built"
Jusante
O cálculo do índice de importância da
(1) (3) (3) (2) barragem se dá pela média aritmética dos
valores característicos da barragem em cada
Só Projeto coluna da Tabela 8.
5 a 10 anos Suficiente Aceitável
básico Através destes três índices, obtém-se a
classificação da barragem de acordo com o seu
(2) (5) (6) (3) potencial de risco (PR), pela Eq. (1).

No caso de se alcançar a pontuação (10) em (P + V)


PR = ×I (1)
qualquer coluna da Tabela 6, implica na 2
intervenção da barragem, a ser definida com
base em inspeção especial. Conforme a Tabela 9 tem-se a classificação
O índice de Vulnerabilidade (V) é obtido da da barragem quanto ao seu Potencial de Risco
mesma forma do índice de periculosidade, de acordo com a Eq. (1).
através do somatório dos valores característicos
de cada coluna. A classificação da barragem Tabela 9. Potencial de Risco de uma Barragem – PR.
quanto a vulnerabilidade pode ser visto na Classe Potencial de Risco – PR
Tabela 7. A > 65 (ou V=10) Æ Alto
B 40 a 65 Æ Médio
Tabela 7. Classificação da Barragem quanto à
Vulnerabilidade. C 25 a 39 Æ Normal
Índice de Vulnerabilidade – V Classificação D 15 a 24 Æ Baixo
V > 35 Elevada E < 15 Æ Muito Baixo
20 ≤ V ≤ 35 Moderada a Elevada
A freqüência que deve ocorrer as inspeções
5 ≤ V < 20 Baixa a Moderada
na barragem é função do Potencial de Risco, e
V<5 Muito Baixa está descrita na Tabela 10.
No terceiro conjunto estão reunidos
parâmetros que conferem o valor estratégico
associável à barragem no caso de eventual
ruptura, se enquadrando no Índice de
Importância, conforme Tabela 8.

Tabela 8. Índices de Importância de uma Barragem – I. Tabela 10. Freqüência de Inspeção nas Barragens.
Volume Útil População a Custo da Tipo de Classificação da Barragem
hm³ Jusante Barragem
Inspeção A B C D E
M N O

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Rotina ------- 12 / ano 4 /ano 2 / ano 1 / ano Barragem (m) 10 - 30 3


1 / ano 30 - 100 6
1/ 1/ >100 10
1 / ano (RS), 1 /
Periód. ------- 2 anos 4 anos >15 1
(RC) 2 anos Largura do
(RS) (RS) 6 - 15 3
(RC). A2 Coroamento
(m) 3-6 6
1/ 1/ 1/ 1/
Formal ------- <3 10
5 anos 10 anos 15 anos 15 anos
Tipo de Terra e enrocamento 4
Para definir Em oportunidades tais como cheias A3
Barragem Terra 10
Especial intervenção excepcionais, rebaixamento rápido do Rocha 1
e reclass. reservatório, sismos, etc. Rocha tratada 2
Emerg. Após eventos de magnitude especial Tipo de Solo argiloso 4
A4
RC: relatório completo; Fundação Solo argiloso tratado 6
Legenda:
RS: relatório simplificado. Aluvião tratado 8
Aluvião 10
3.3 Metodologia Utilizada pelo Corpo de <1 1
Engenheiros do Exército dos Estados Unidos da Capacidade de 1 - 50 2
América (USACE) A5 armazenamento 50 - 1000 4
(hm³) 1000 - 5000 6
De acordo com Fontenelle (2007), esta >5000 10
metodologia foi proposta no intuito de obter um Filtração Moderna 1
índice que designasse a importância associada Drenos horizontais e
2
da barragem, a fim de priorização de serviços verticais
nos diversos locais da barragem Tipo de Aterro homogêneo
4
A6 Sistema de resistente ao piping
A metodologia do USACE, então, propõe
Filtração Poços de alívio,
uma classificação a a partir de um escore 6
drenos de pé
global, definido a partir de 13 parâmetros
Sem controle,
dividos em três principais categorias: 10
drenagem interna
parâmetros de constantes físicas, parâmetros
variáveis e consequência. O índice final A é definido através da média
Os parâmetros de constantes físicas dos valores de A, Eq. (2).
(parâmetros “A”) juntamente com os
parâmetros variáveis (parâmetros “B”) definem A1 + A2 + A3 + A4 + A5 + A6
a vulnerabilidade da barragem. A tabela 11 A= (2)
define os escores respectivos a cada 6
característica da barragem, definido pelos
parâmetros de constantes físicas (A). Na tabela 12 é mostrado os parâmetros
variáveis da barragem (B).

Tabela 12. Parâmetros variáveis (B).


Tabela 11. Parâmetros de constantes físicas (A).
Valor Real ou
Valor Real ou Índice Característica Escore
Índice Característica Escore Condição
Condição
B1 Idade da 0-5 8
A1 Altura da <10 1

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barragem 5 - 15 7 Área não habitada e não


(anos) 15 - 30 3 Mínimo desenvolvida, com poucos 1
30 - 50 2 recursos naturais
>50 1 Território pouco ocupado,
Significante 3
Altura >95% 1 com terras agrícolas
hidráulica 75 - 95% 5
máxima Áreas rurais desenvolvidas
B2 50 - 75% 8
atingida no (menos de 2.000
reservatório Importante habitantes), indústrias de 5
>50% 10
(%) pequeno e médio porte,
<4 1 alguns recursos naturais
Sismicidade:
velocidade de 4-8 2
Áreas rurais e urbanas
B3 deslocamento 8 - 16 6
desenvolvidas (menos de
do topo 16 - 32 8 2.000 habitantes),
rochoso (m/s) > 32 10 Alto 8
indústrias de porte médio a
Confiabilidade Satisfatório 1 grande, recursos naturais
B4
do vertedouro Insatisfatório 10 importantes
Mudanças diárias 1 Cidades importantes (com
Continuidade Presença diária 4
do mais de 100.000
B5 Muito Alto 10
monitoramento Instrumentação habitantes), área com
6
da barragem automatizada indústrias importantes
Presença inconstante 10
Seco 1 Há algumas considerações que devem ser
Altura normal
50% 3 levadas em conta com relação ao parâmetro C,
B6 do reservatório
(%) 50 - 75% 6 são elas:
>75% 10 ƒ A área afetada é igual a área inundada
no caso de ruptura;
O índice final B é definido através da média ƒ No caso de não haver dados de previsão
dos valores de B, Eq. (3). de área afetada, deve-se fazer uma
avaliação pessimista em relação a área
B1 + B 2 + B3 + B 4 + B5 + B6
B= (3) inundada.
6 Tendo-se os três parâmetros definidos pode-
se calcular o escore global da barragem, através
Assim, tendo esses dois índices pode-se da Eq. (5).
calcular o valor da vulnerabilidade (V), que é
dado pela Eq. (4) (V + 3C )
S= (5)
50
V = A+ B (4)
O Escore “S” é um valor de 0 a 1, indicando
A terceira categoria de parâmetros, a a importância da barragem, ou seja, quanto
consequência (C), está relacionada ao potencial mais alto o valor mais importância se deve
de danos à população e às propridades. Sendo associar à hidrelétrica.
assim, a consequência é em função da
densidade populacional, presença de áreas
agrícolas e desenvolvimento de índústrias, 4 APLICAÇÃO DAS METODOLOGIAS E
como mostra a tabela 13. RESULTADOS DA CLASSIFICAÇÃO

Para a aplicação das metodologias às


hidrelétricas da FECOERGS, primeiramente
Tabela 13. Parâmetro de consequência (C).
fez-se uma inspeção visual de todas as
Potencial de
Perigo
Área Afetada Escore barragens, totalizando em 17 hidrelétricas
inspecionadas. Com isso, detectou-se as

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principais anomalias de cada e pôde-se, dados de entrada, simplesmente “encaixa-se” a


portanto, demonstrar através dos métodos hidrelétrica em uma das consequências de
descritos anteriormente a classificação das rupturas e, assim, define-se o período de
mesmas quanto a segurança. reavaliação.
Houve situações em que havia falta de Porém muitas inconsistências foram notadas,
alguns dados para a aplicação das principalmente relacionadas a subjetividade da
metodologias. Para contornar o problema, metodologia e as diferenças que podem ser
utilizou-se valores aproximados e a favor da adquiridas dependo da visão do avaliador. O
segurança. Método do MI não fixa nenhum parâmetro, o
A tabela 14 faz um pararelo dos resultado que ocasiona problemáticas na avaliação, não
adquiridos para cada hidrelétrica inspecionada, sendo critoriosa o suficiente.
com os três métodos a serem avaliados. Esse método somente avalia a consequência
de ruptura da barragem, ignorando uma questão
Tabela 14. Resultados da classificação de cada barragem. importantíssima, o estado atual da barragem.
Método USACE Todas essas inconsistências de resultados,
Barragem Método MI COGERH/C (valores de
E 0 a 1)
podem ser analisados na tabela 14, onde se
1 Baixo Baixo 0.323 percebe a diferença entre os resultados
2 Alto Baixo 0.313 encontrados com essa metodologia em relação
3 Muito Alto Baixo 0.340 as demais.
4 Baixo Baixo 0.323
5 Baixo Baixo 0.323 5.2 Avaliação do Método da COGERH/CE
6 Baixo Baixo 0.323
7 Alto Baixo 0.443 A metodologia da COGERH/CE mostrou-se
8 Baixo Baixo 0.330 muito interessante. Além de aliar a objetividade
9 Baixo Baixo 0.300
com a simplicidade de utilização, mostrou-se
10 Baixo Baixo 0.300
muito competente na classificação das
11 Alto Baixo 0.330
12 Baixo Baixo 0.306
barragens inspecionadas, requerendo somente
13 Baixo Baixo 0.320 os dados característicos mais básicos e uma
14 Baixo Baixo 0.317 inspeção para a detecção do estado atual da
15 Baixo Baixo 0.307 hidrelétrica, além, claro, de dados com relação a
16 Alto Baixo 0.330 custo e população a jusante.
17 Baixo Baixo 0.330 O método consegue avaliar os diversos
parâmetros da estrutura existente, como: estado
operacional, existência de projeto, tempo de
5 AVALIAÇÃO DAS METODOLOGIAS operação, condições de topografia e solo de
fundações, etc.
Vários foram os parâmetros definidos para se Dessa forma, percebe-se que o método
fazer a avaliação qualitativa das metodologias. engloba os principais requisitos para uma boa
Dentre eles pode-se se citar: a fácil aplicação do classificação, definindo muito bem (de forma
método, adequação da metodologia à realidade criteriosa) os prazos e reavaliações e tornando-
do sistema, objetividade, fatores mais se uma boa opção para ser usada sempre nas
importantes de cada, forma de definição do hidrelétricas da FECOERGS.
resultado, dados necessários, etc. Percebe-se que a metodologia, no entanto,
peca em alguns requisitos. Um bom exemplo é
5.1 Avaliação do Método do MI encontrado na tabela 8, onde os itens
“população à jusante” e “custo da barragem”
Por se tratar de um método extremamente não são definidos numericamente, o que torna o
básico e muito simples, pode-se dizer que este índice “I” subjetivo, visto que este item tem
seja de fácil aplicação e não requer grande peso no cálculo do potencial de risco.
características específicas da barragem como

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5.2 Avaliação da Metodologia do USACE REFERÊNCIAS

Sobre a metodologia do USACE, Barbosa, L. (Ministro) (2002) Manual de Segurança e


primeiramente, nota-se que não se trata Inspeção de Barragens, Brasília, Ministério da
exatamente uma metodologia que pretende Integração Nacional.
Brasil, Projeto de Lei Nº 1.181 (2003) In: Menescal, R.
avaliar o potencial de risco da barragem de A. (Org.), A Segurança de Barragens e a Gestão
propriamente dito, e sim associar um valor a de Recursos Hídricos no Brasil, Brasília, Ministério
sua importância, mas que, convenientemente e da Integração Nacional, 2004, p. 229-301.
indiretamente, está também associado a uma Fontenelle, A. S. (2007) Proposta Metodológica de
avaliação de risco. Avaliação de Riscos em Barragens do Nordeste
Brasileiro - Estudo de Caso: Barragens do Estado do
Devido ao fator explicitado anteriormente, Ceará, Tese de Doutorado, Curso de Pós-Graduação
viu-se que a metodologia é incompleta em em Engenharia Civil, Departamento de Engenharia
grandes sentidos. Primeiramente ela não define Hidráulica e Ambiental, Universidade Federal do
prazos e reavaliações de segurança, apenas Ceará, p. 78-88.
fornece um índice, nada mais. Menescal, L, R. de A. et al. (2004) Diagnóstico da
Segurança de Barragens no Brasil, In: A Segurança
Fatores do estado atual da hidrelétrica, como de Barragens e a Gestão de Recursos Hídricos no
casos de deterioração, percolação e Brasil, Brasília, Ministério da Integração Nacional.
deformações também são totalmente p. 289-297.
desconsiderados pelo método.
A favor da metodologia está a maior
objetividade dos itens do parâmetro
“consequência”, que comparada com a
metodologia da COGERH/CE (correspondente
ao índice de importância – I) está muito melhor
implementada e definida, não deixando dúvidas
ao avaliador na hora da aplicação do método.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo que foi avaliado anteriormente, nota-se


que a metodologia que mais se adequou à
realidade das hidrelétricas analisadas foi o
Método da COGERH/CE, que, apesar de
algumas inconsistências relacionadas a itens
pouco objetivos (como o item “população a
jusante” e “custo da barragem”), apresenta o
resultado mais satisfatório e coerente às
barragens utilizadas no estudo.

AGRADECIMENTOS

A FECOERGS, que possibilitou que o trabalho


pudesse ser realizado.
A Universidade de Passo Fundo pelo auxílio
no desenvolvimento do trabalho.
A FINEP pelo apoio financeiro para
realização do projeto.

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