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MANAUS
2017
1
,
Monografia apresentada à Universidade Nilton
Lins como requisito parcial para obtenção do grau
de Psicólogo.
MANAUS
2017
2
FOLHA DE APROVAÇÃO
BANCA EXAMINADORA:
_____________________________________________
Profª. MSc. Maria Vilani Maia Sequeira
Orientadora Temática
_____________________________________________
Profª. MSc. Lílian Christina Veiga Mota
Orientadora Metodológica
_____________________________________________
Prof. Esp. Ramon Garcia da Silva
Membro Convidado
3 I
DEDICATÓRIA
A Deus que nos criou e foi criativo nesta tarefa. Seu fôlego de vida a mim me
foi sustento e me deu coragem para questionar realidades e propor sempre um novo
mundo de possibilidades.
4 II
AGRADECIMENTOS
EPÍGRAFE
RESUMO
O estudo atende a solicitação do Trabalho de Conclusão do Curso – TCC, para obtenção do grau de
psicólogo. A pesquisa intitulada: a atuação da psicologia nos projetos de ressocialização em um
presidio de regime fechado masculino da cidade de Manaus: um estudo de caso, tem como objetivo
principal buscar compreender o desempenho da psicologia diante dos projetos realizados em um
complexo penitenciário de regime fechado masculino, visando a ressocialização do apenado, e
especificamente, conhecer e analisar os projetos de ressocialização e sua eficácia, descrevendo as
estratégias e os instrumentos interventivos de uso e aplicação do psicólogo no contexto prisional, e
também verificando o nível de eficácia dos projetos realizados que visam a ressocialização do
apenado. A psicologia antes de atuar no contexto penitenciário, já tinha presença nos ditos
manicômios judiciais, hoje denominados hospitais de custódia. O psicólogo atua realizando
avaliações psicológicas, triagens iniciais, e um trabalho psicossocial articulado com outros
profissionais da unidade prisional. Para este estudo adota-se a pesquisa do tipo estudo de caso,
numa abordagem qualitativa por meio de uma entrevista semi-estruturada com uma psicóloga que
atua na unidade prisional. Adota para tratamento e análise dos dados a técnica de Análise de
Conteúdo de Laurence Bardin (2011). Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Nilton Lins, para atender aos princípios éticos da pesquisa com seres humanos e ao
código de ética do profissional psicólogo.
ABSTRACT
The study responds to the request of the Work of Completion of the Course - TCC, to obtain the
degree of psychologist. The research entitled: psychology in the projects of resocialization in a male
prison regime in the city of Manaus: a case study, has as main objective to seek to understand the
performance of psychology in the face of the projects carried out in a closed regime penitentiary
complex in order to re-socialize the offender, and specifically, to know and analyze the resocialization
projects and their effectiveness, describing the intervention strategies and instruments of the
psychologist's use and application in the prison context, as well as verifying the level of effectiveness
of the projects carried out. aiming at the resocialization of the victim. The psychology before acting in
the penitentiary context, already had presence in said judicial asylums, today denominated hospitals of
custody. The psychologist works by performing psychological assessments, initial screenings, and
psychosocial work articulated with other professionals in the prison unit. For this study, the case-study
research is adopted, using a qualitative approach through a semi-structured interview with a
psychologist who works in the prison unit. It adopts for the treatment and data analysis the Content
Analysis technique of Laurence Bardin (2011). This research was submitted to the Research Ethics
Committee of Nilton Lins University, in order to meet the ethical principles of human research and the
code of ethics of the professional psychologist.
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA I
AGRADECIMENTOS II
EPÍGRAFE III
RESUMO IV
ABSTRACT V
INTRODUÇÃO 9
OBJETIVOS:
Geral 10
Específicos 10
CONCLUSÃO 33
REFERÊNCIAS 33
ANEXOS 33
APÊNDICES 37
9
INTRODUÇÃO
OBJETIVOS
Geral
Buscar compreender o desempenho da psicologia diante dos projetos
realizados em um complexo penitenciário em regime fechado masculino, visando a
ressocialização do apenado.
Específicos
Conhecer e analisar os projetos de ressocialização dentro do presídio e sua
eficácia;
Descrever as estratégias e os instrumentos de intervenção e sua aplicação
pelo psicólogo no contexto prisional;
Verificar o nível de eficácia dos projetos realizados à fins de ressocialização;
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Rocher (1981, apud Hofmeister, 2002) diz que a socialização é o processo pelo
qual ao longo da vida a pessoa aprende e interioriza os elementos socioculturais do
seu meio, integrando-os na estrutura de sua personalidade sob a influência de
experiências de agentes sociais significativos e adaptando-se assim ao ambiente
social em que deve viver.
Bitencourt (2001, p. 139, apud Santos e Rodrigues, 2010, p. 27) dizem que “[...]
o objetivo da ressocialização é esperar do delinquente o respeito e a aceitação de
tais normas com a finalidade de evitar a prática de novos delitos”.
Segundo Foucault (2007, p. 221, apud Santos e Rodrigues, 2010, p. 39)
comenta que a pena privativa de liberdade não ressocializa o preso, pelo contrário é
visível o aumento da taxa de reincidência (“criminosos permanece estável”), eis que
“[...] depois de sair da prisão, se têm mais chance que antes de voltar para ela, os
condenados são, em proporção considerável, antigos detentos [...].”.
Falando sobre a ressocialização no Brasil, Bitencourt (2001, p. 21, apud Santos
e Rodrigues, 2010) diz:
1.1.2 A ressocialização
De acordo com Neto, Mesquita, Teixeira e Rosa (2008) eles usam os sinônimos
recuperação, ressocialização, readaptação, reinserção, reeducação social,
reabilitação que dizem respeito ao conjunto de atributos que permitem ao indivíduo
tornar-se útil a si mesmo, à sua família e a sociedade.
“Art. 1º da LEP (Lei de Execução Penal) Execução penal tem por objetivo
efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições
para a harmônica integração social do condenado e do internado” (BRASIL, 2008, p.
7).
Segundo Neto et al. (2008) diz que segundo o art. 1º da LEP, percebe-se a
dupla finalidade da execução penal, dar sentido e efetivação do que foi decidido
criminalmente e dar ao apenado condições efetivas para que ele consiga voltar ao
convívio social e não mais cair nas malhas do crime.
Para Neto et al. (2008) as ações que buscam trazer a ideia de ressocialização
de apenados procuram reduzir os níveis de reincidência ajudando na consequente
recuperação do detento através de medidas que auxiliem na sua educação, em sua
capacitação profissional e na busca da conscientização psicológica e social.
Mirabete (2002, p.24, apud Neto et al; 2008) diz que:
Segundo Rocha e Sales (2014) o projeto teve inicio no dia 17/09/2014 e visa
oferecer aos internos um espaço didaticamente adequado e motivador para a
criação e manutenção de um grupo de estudo preparatório para as provas do
ENCCEJA (Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos)
e ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), com o objetivo de utilizar a educação
como um instrumento de reabilitação e reinserção social.
Rocha e Sales (2014) destacam os objetivos específicos do projeto como:
Estimular na Unidade Prisional o hábito do estudo e da leitura; Favorecer a mudança
de comportamentos do interno por meio do estudo para que o mesmo desenvolva
uma nova perspectiva de vida; Implantar e dar continuidade no projeto como parte
da dinâmica prisional nesta Unidade.
Sobre a metodologia do projeto, Rocha e Sales (2014) explicam: O Grupo de
estudos consiste em realização de reuniões diárias nas dependências da Biblioteca,
com a formação de duas turmas de 10 internos em cada turno (manha e tarde). Com
duração 02:00hs pela manha e a tarde. As turmas terão um monitor para orientação
do grupo, triado pelo setor de Psicologia conforme habilidades para monitoria e perfil
comportamental e será remunerado como forma de incentivo a valorização do
trabalho. Disponibilizar apostilas para cada interno com conteúdos relevantes e
pertinentes aos temas do ENCCEJA E ENEM. Cada interno receberá além da
apostila, um caderno, lápis e borracha para desenvolver suas atividades. A cada
trimestre os mesmos desenvolverão uma atividade avaliativa para aferir o
rendimento.
“Os grupos serão acompanhados pelos Psicólogos responsáveis, que darão
todas as orientações, apoio nas atividades a serem desenvolvidas e suporte
emocional” (ROCHA E SALES, 2014, p.1).
“Nesse contexto, expor sobre a Remição da Pena pela Leitura é uma forma de
demonstrar a importância da educação no contexto prisional e como esta pode
modificar a vida do apenado, trazendo benefícios para todos” (SILVA; PERLIN, 2014,
p.58).
De acordo com o CNJ (2013) foi criada a recomendação de nº44 de 26 de
novembro de 2013 que dispõe sobre atividades educacionais complementares para
fins de remição da pena pelo estudo e estabelece os critérios da remição pela
leitura.
Segundo a Umanizzare (2016) a metodologia do projeto é dividida em três
etapas: seleção dos internos e entrega dos livros; orientação aos internos quanto à
produção de resenhas ou relatórios; entrega do relatório de leitura no prazo de 21 à
30 dias.
Para Umanizzare (2016, p.2) esperam-se os seguintes resultados:
“Ao ler, entender, interpretar um livro, o preso amplia horizontes, pode ir além
das paredes das celas e se transportar para um mundo imaginário” (SILVA; PERLIN,
2014, p. 29).
De acordo com Rocha e Sales (2015) o projeto tem por objetivo, facilitar os
processos de comunicação, aprendizado, expressão, organização e disciplina.
Colaborar com o desenvolvimento do bom relacionamento em grupo, com o convívio
com a população carcerária e com os servidores da unidade prisional e diminuir ou
mesmo eliminar os níveis de agressividade promovendo o desenvolvimento ou
aumento da autoestima, gerando um sentimento de que são capazes de realizar
tarefas positivas.
Segundo Rocha e Sales, (2015, p.4):
2.2 Participantes
Critérios de Inclusão
Critérios de Exclusão
internos instrutores, mas por outro lado a qualidade do conteúdo cai um pouco tendo
em vista que alguns estão desatualizados, ou muito tempo distante do meio
acadêmico.
Para Julião (2011) é possível se afirmar que os internos que participam dos
projetos educacionais e laborativos apresentam “predisposição à ressocialização”,
assim como características distintivas daqueles que não estudam nem trabalham.
Não necessariamente funciona desta forma, pois muitos internos participam do
projeto apenas para receberem a remição prevista por lei.
3.1.2 Remição pela Leitura – Grupo de leitura com o objetivo de remir dias de
pena e aperfeiçoamento da leitura;
[...] o isolamento dos condenados garante que se possa exercer sobre eles,
com o máximo de intensidade, um poder de intensidade, um poder que não
será abalado por nenhuma outra influencia; solidão á a condição primeira da
submissão total: o isolamento assegura o encontro do detento a sós com o
poder que se exerce sobre ele.
É nesse sentido que a leitura atua como uma ponte entre o isolamento do
cárcere com suas mais diversas nuances e o mundo exterior, possibilitando a
criação de estímulos e propiciando a humanização e o amadurecimento das
relações interpessoais.
“Ao ocupar seu tempo com a leitura, no Sistema Penitenciário, o preso além de
instigar seu imaginário, pode assimilar conhecimentos e cultura, gerando também
menos problemas, como brigas e violência, no convívio penitenciário” (PARANÁ,
2013, P.1).
Só a arte pode fazer todas essas coisas. A arte pode elevar o homem de um
estado de fragmentação a um estado de ser íntegro total. A arte capacita o
homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a
transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e
mais hospitaleira para a humanidade. A arte, ela própria, é uma realidade
social. (FISCHER, 2007, p. 57).
3.1.5 Olho Mágico – grupo teatro. É o quinto projeto citado pela psicóloga.
Para Leite (2016) o teatro é composto por variadas ações que passam pela
construção a partir de vários pensamentos e ações, pois a arte (teatro) são os
próprios seres humanos que fazem no momento que refletimos sobre nós ou sobre
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algo que nos instiga, e passamos a expressar isso através do corpo, da pintura, de
um texto, ou de alguma outra forma.
Leite (2016) sobre sua experiência enquanto professora do projeto diz: “No
presídio quando cheguei, os internos ficaram surpresos, pois a maioria deles não
tinha ouvido falar de aulas de teatro dentro de um presídio” (LEITE, 2016, p.28).
Complementando, Rocha (2009) diz que:
Por várias vezes escutei: “professora aqui que eu vim aprender tudo sobre
crime”, então pensei, estamos realmente em uma escola que forma pessoas
do crime, logo está tudo errado por aqui. Então por onde recomeçar? Quem
procurar pra recomeçar? Quem sou eu dentro de todo esse processo? Não
tenho respostas, mas sim indagações que me movem a cada dia a
desenvolver o que amo e acredito (LEITE, 2016, p.52).
36
isto é, não como meros ‘objetos de assistência’, mas como sujeitos” (Sá, 2005, p.
11).
“Por um lado, se exige que o preso seja reeducado e, por outro, é colocado em
um ambiente que o desrespeita como ser humano, o que a sociedade certamente
fará quando deixar a prisão” (NUNES, 2005, p. 38).
Essa é a maior contradição da aplicação da pena e da proposta de privar o
individuo para que ele aprenda a conviver em sociedade e seja reinserido. Como
fazê-lo voltar à sociedade diferente se não há estrutura para a realização dos
projetos educacionais, se não há educação formal de qualidade, se não há
oportunidades de trabalho? De que forma os projetos alcançarão seus objetivos se a
administração do presidio enxerga as atividades como regalias aos presos, e por
esse fato a existência da banalização das atividades? São perguntas que nos levam
a crer que estamos distantes de alcançar a real efetividade na transformação de
indivíduos que cometem delitos.
“Objetiva-se, por meio da execução, punir e humanizar” (MARCÃO, 2015, p.1).
A proposta da execução penal é essa, punir e humanizar. O que predomina
hoje e desde sempre é a punição, o estado se preocupa mais com o fato de manter
quem cometeu um crime, preso, encarcerado, com condições pouco humanas,
assistência precária, pensando que desta forma conseguirá levar o individuo a
reflexão, sendo que humanizar envolveria melhorar o trato e as politicas aplicadas
no método de gestão. Os projetos sem dúvidas conseguem humanizar, desde que
aplicados de forma honesta e justa, com recursos financeiros e profissionais
comprometidos com a ressocialização.
deu numa cela de isolamento após uma fuga, onde conheceu a religião, se
converteu ao protestantismo, depois começou a participar do projeto Bambu, fez o
ENEM PPL (para Pessoas Privadas de Liberdade), conseguiu uma bolsa para cursar
Gestão de Tecnologia da Informação e hoje vive uma nova história. Seu sonho maior
é estudar história, segundo ele, irá seguir perseguindo este sonho.
“Enquanto recebia apoio dentro da prisão – graças à religião e aos projetos -
do lado de fora, ele contava com a cumplicidade da esposa, para ele, uma luz em
todo o calvário que significou a privação de liberdade” (UMANIZZARE, 2017, p.1).
Esse é um caso de ressocialização, citado como fruto de um dos projetos
realizado dentro do complexo penitenciário em estudo, mas não foi exclusivamente
pelo projeto que este homem conseguiu regressar a sociedade diferente de como
entrou, acredito que o projeto por si só não consegue alcançar o seu objetivo de
ressocializar numa proporção maior, mas um trabalho articulado, como neste caso,
que houve a participação inicial da religião, que vale ressaltar como um programa de
ressocialização muito forte, presente e que presta muita assistência aos
reeducandos, à família, pois a esposa sempre deu suporte, os projetos também
foram decisivos, pois por meio dele o reeducando conseguiu estudar pra prova e ser
aprovado.
O fato do projeto por si só não conseguir ressocializar em proporções que
deveriam, não o torna reprovável, pelo contrario, se torna uma ferramenta
indispensável neste processo. O trabalho ressocializador é muito lento, e com frutos
muito escassos, como o do Edivaldo, talvez se eu pedisse um outro exemplo, a
psicóloga não conseguisse trazer, pois é muitíssimo difícil encontrar casos reais de
ressocialização, e o estado não dispõe na prática de programas de
acompanhamento das pessoas que saem do cárcere.
Para Moura (2011) a ressocialização do preso hoje se mostra ineficaz, visto a
alta porcentagem de reincidência no sistema penitenciário. Para que de fato ocorra
uma melhor ressocialização é preciso que haja uma reestruturação na educação,
somente por ela se conseguirá a diminuição dos crimes. A educação é o caminho do
desenvolvimento das pessoas e diminuição da violência. A população carcerária
precisa ter acesso não somente a educação profissional, mas a reeducação em si,
tratando assim de valores pessoais.
47
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
KUEHNE, M. Lei de execução Penal Anotada. 5. Ed. rev. atual. Curitiba: Juruá,
2005.
ANEXOS
57
APÊNDICES
58
Entrevista semi-estruturada
Perguntas