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UNIVERSIDADE NILTON LINS


CURSO DE PSICOLOGIA
DISCIPLINA TCC II

RODRIGO DA ROCHA MIRANDA

A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NOS PROJETOS DE RESSOCIALIZAÇÃO EM UM


PRESÍDIO DE REGIME FECHADO MASCULINO DA CIDADE DE MANAUS: Um
Estudo de Caso

MANAUS
2017
1

RODRIGO DA ROCHA MIRANDA

A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NOS PROJETOS DE RESSOCIALIZAÇÃO EM UM


PRESIDIO DE REGIME FECHADO MASCULINO DA CIDADE DE MANAUS: Um
Estudo de Caso

,
Monografia apresentada à Universidade Nilton
Lins como requisito parcial para obtenção do grau
de Psicólogo.

Linha de Pesquisa: Psicologia e Processos de


Prevenção e Promoção da Saúde.

Orientadora Temática: Prof. MSc. Maria Vilani Maia Sequeira


Orientadora Metodológica: Profª. MSc. Lílian Christina Veiga Mota

MANAUS
2017
2

FOLHA DE APROVAÇÃO

RODRIGO DA ROCHA MIRANDA

A ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NOS PROJETOS DE RESSOCIALIZAÇÃO EM UM


PRESIDIO DE REGIME FECHADO MASCULINO DA CIDADE DE MANAUS: Um
Estudo de Caso

Monografia apresentada à Universidade Nilton


Lins como requisito parcial para obtenção do grau
de Psicólogo.

Linha de Pesquisa: Psicologia e Processos de


Prevenção e Promoção da Saúde.

Aprovada em: ___de___________de_____.

BANCA EXAMINADORA:

_____________________________________________
Profª. MSc. Maria Vilani Maia Sequeira
Orientadora Temática

_____________________________________________
Profª. MSc. Lílian Christina Veiga Mota
Orientadora Metodológica

_____________________________________________
Prof. Esp. Ramon Garcia da Silva
Membro Convidado
3 I

DEDICATÓRIA

A Deus que nos criou e foi criativo nesta tarefa. Seu fôlego de vida a mim me
foi sustento e me deu coragem para questionar realidades e propor sempre um novo
mundo de possibilidades.
4 II

AGRADECIMENTOS

Sou imensamente grato primeiramente ao meu bondoso e grandioso Deus pela


sua infinita misericórdia na minha vida, à minha noiva/esposa Samanta Leite, pela
paciência, ajuda, incentivo, amor e carinho ao longo da construção desta pesquisa,
te amo meu amor. Infinitamente grato à meus familiares por todo o apoio indireto.
Grato também à minha amiga Francilane Sampaio, pelo apoio, companheirismo e
incentivo nas horas mais difíceis, onde muitas vezes pensávamos em desistir,
obrigado minha amiga. Não poderia deixar de agradecer a minhas orientadoras,
professora Vilani Maia, orientadora temática, sua ajuda sem dúvida foi
imprescindível, sem suas orientações esta pesquisa não teria acontecido, e também
a professora Lílian Christina, orientadora metodológica, suas correções, orientações
e incentivo foram decisivos na construção deste trabalho, mais uma vez, obrigado.
Meus agradecimentos também a todos os meus colegas de turma, que de alguma
forma contribuíram para a realização desta pesquisa.
5III

EPÍGRAFE

“Com a força que Cristo me dá, posso


enfrentar qualquer situação”.

(Filipenses 4:13, SBB)


6IV

RESUMO

O estudo atende a solicitação do Trabalho de Conclusão do Curso – TCC, para obtenção do grau de
psicólogo. A pesquisa intitulada: a atuação da psicologia nos projetos de ressocialização em um
presidio de regime fechado masculino da cidade de Manaus: um estudo de caso, tem como objetivo
principal buscar compreender o desempenho da psicologia diante dos projetos realizados em um
complexo penitenciário de regime fechado masculino, visando a ressocialização do apenado, e
especificamente, conhecer e analisar os projetos de ressocialização e sua eficácia, descrevendo as
estratégias e os instrumentos interventivos de uso e aplicação do psicólogo no contexto prisional, e
também verificando o nível de eficácia dos projetos realizados que visam a ressocialização do
apenado. A psicologia antes de atuar no contexto penitenciário, já tinha presença nos ditos
manicômios judiciais, hoje denominados hospitais de custódia. O psicólogo atua realizando
avaliações psicológicas, triagens iniciais, e um trabalho psicossocial articulado com outros
profissionais da unidade prisional. Para este estudo adota-se a pesquisa do tipo estudo de caso,
numa abordagem qualitativa por meio de uma entrevista semi-estruturada com uma psicóloga que
atua na unidade prisional. Adota para tratamento e análise dos dados a técnica de Análise de
Conteúdo de Laurence Bardin (2011). Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa
da Universidade Nilton Lins, para atender aos princípios éticos da pesquisa com seres humanos e ao
código de ética do profissional psicólogo.

Palavras-chave: Ressocialização; Sistema Prisional; Psicologia na Prisão.


7V

ABSTRACT

The study responds to the request of the Work of Completion of the Course - TCC, to obtain the
degree of psychologist. The research entitled: psychology in the projects of resocialization in a male
prison regime in the city of Manaus: a case study, has as main objective to seek to understand the
performance of psychology in the face of the projects carried out in a closed regime penitentiary
complex in order to re-socialize the offender, and specifically, to know and analyze the resocialization
projects and their effectiveness, describing the intervention strategies and instruments of the
psychologist's use and application in the prison context, as well as verifying the level of effectiveness
of the projects carried out. aiming at the resocialization of the victim. The psychology before acting in
the penitentiary context, already had presence in said judicial asylums, today denominated hospitals of
custody. The psychologist works by performing psychological assessments, initial screenings, and
psychosocial work articulated with other professionals in the prison unit. For this study, the case-study
research is adopted, using a qualitative approach through a semi-structured interview with a
psychologist who works in the prison unit. It adopts for the treatment and data analysis the Content
Analysis technique of Laurence Bardin (2011). This research was submitted to the Research Ethics
Committee of Nilton Lins University, in order to meet the ethical principles of human research and the
code of ethics of the professional psychologist.

Keywords: Resocialization; Prison System; Psychology in Prison;


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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA I
AGRADECIMENTOS II
EPÍGRAFE III
RESUMO IV
ABSTRACT V
INTRODUÇÃO 9
OBJETIVOS:
Geral 10
Específicos 10

CAPITULO 1 - EMBASAMENTO TEÓRICO 11


1.1 Teoria de base 11
1.2 Revisão da literatura 13
1.2.1 A prática do psicólogo no sistema prisional 13
1.2.2 A ressocialização 17
1.2.3 Projetos de ressocialização 18

CAPITULO 2 - MATERIAIS E MÉTODOS 24


2.1 Tipo de pesquisa 24
2.2 Participantes 24
2.3 Local da pesquisa 25
2.4 Instrumentos da pesquisa 25
2.5 Tratamento e análise de dados 25
2.6 Aspectos éticos da pesquisa 27

CAPITULO 3 - DISCUSSÃO E RESULTADOS 28


3.1 Projetos de ressocialização e suas Eficácias 24
3.2 Instrumentos e estratégias utilizadas pelo psicólogo nos projetos 24
de ressocialização na unidade prisional
3.3 Ressocialização: eficácia dos projetos 25

CONCLUSÃO 33
REFERÊNCIAS 33
ANEXOS 33
APÊNDICES 37
9

INTRODUÇÃO

O sistema prisional amazonense teve uma enorme visibilidade no inicio de


2017 com a segunda maior chacina já registrada no Brasil, perdendo apenas para a
matança do Carandiru em São Paulo. Com os noticiários em todo o mundo, as
pessoas puderam conhecer mais de perto a realidade falida do sistema prisional
brasileiro, de como ocorre a vivência dos milhares de internos que cumprem pena
privativa de liberdade nas unidades prisionais, as estruturas velhas, gestão
ultrapassada, e metodologia que não alcança o objetivo proposto, que é a
ressocialização.
Diante desse cenário desolador e sem esperança se encontram vários
profissionais realizando um trabalho multidisciplinar na busca daquilo que todos
veem como impossível, que é a ressocialização. Respaldados pela Lei de
Execuções Penais 7.210 de 11 de julho de 1984, no seu artigo 11 legitima direitos
aos presos, de assistência psicológica, social, jurídica, saúde, material, educacional
e religiosa.
O psicólogo se faz presente nesta equipe profissional realizando um trabalho
psicossocial, mas ainda pouco se conhece acerca das especificidades da atuação
do psicólogo no âmbito geral do sistema prisional, e mais raramente junto aos
projetos de ressocialização, como atua o psicólogo diante dos projetos? O que ele
faz exatamente? Que tipo de instrumentos ele utiliza? Há efetividade no seu
trabalho? São perguntas que propomos responder ao longo desta pesquisa.
Especificamente objetivou-se conhecer de que forma ocorre a atuação do
psicólogo nos projetos que visam a ressocialização nesta unidade prisional, quais os
projetos realizados e instrumentos usados pelo profissional da psicologia. Buscou-se
também entender a efetividade desses projetos na vida dos internos que cumprem
pena em regime fechado.
No primeiro capitulo está o embasamento teórico da pesquisa apresentando
um histórico do inicio da atuação do psicólogo no sistema prisional e de que forma
se dava o trabalho deste profissional que surge a partir da criação da Lei de
Execuções Penais em 1984, com a atuação no exame criminológico e a comissão
técnica de classificação (CTC) que era composta por outros profissionais além do
psicólogo numa visão puramente avaliativa e limitada.
10

O segundo capitulo expõe os aspectos metodológicos da pesquisa. Para se


alcançar os objetivos propostos, foi realizada uma pesquisa na modalidade estudo
de caso com enfoque qualitativo, com aplicação de um questionário de sete
perguntas.
Em seguida, no terceiro capitulo é feito uma análise e discussão dos resultados
alcançados na pesquisa com a aplicação do questionário e de uma revisão literária
atual, de acordo com os objetivos propostos neste trabalho.
O interesse por essa temática se dá a partir da minha experiência como
estagiário de psicologia no sistema prisional por dois anos, onde pude conhecer de
perto como a psicologia se entrelaça com os projetos que visam a ressocialização, e
de que forma ela contribui. Só saberá como atua o psicólogo nos projetos quem
conhecer o sistema na prática, pois em uma pesquisa realizada por mim na busca
por produções literárias no amazonas, não encontrei nenhuma produção voltada
para o papel do psicólogo nos projetos especificamente, por isso da importância de
se realizar esta pesquisa.
A discussão do fazer do psicólogo nos projetos de ressocialização só será
possível a partir do momento que houver produções literárias, e também de manuais
produzidos pelas entidades de classe da psicologia. Mas este trabalho buscou
mostrar como atua este profissional hoje em uma unidade prisional do amazonas, se
sua atuação é efetiva e se os projetos alcançam seus objetivos.
O sistema prisional apresenta inúmeros problemas e quando se fala em
ressocialização, nos soa como utopia, e a grande maioria dos teóricos com
pesquisas na área não acreditam que há ressocialização no Brasil, mas eu acredito
que há ressocialização sim, só que infelizmente de forma quase insignificante em
termos gerais.
11

OBJETIVOS
Geral
Buscar compreender o desempenho da psicologia diante dos projetos
realizados em um complexo penitenciário em regime fechado masculino, visando a
ressocialização do apenado.
Específicos
 Conhecer e analisar os projetos de ressocialização dentro do presídio e sua
eficácia;
 Descrever as estratégias e os instrumentos de intervenção e sua aplicação
pelo psicólogo no contexto prisional;
 Verificar o nível de eficácia dos projetos realizados à fins de ressocialização;
12

CAPÍTULO 1 – EMBASAMENTO TEÓRICO

1.1 Teoria de Base

Inicialmente, Karam (2011) diz que a relação entre a psicologia e o sistema


penal é marcada por uma aliança trágica reforçada pelos danos, dores e enganos
provocados pelas atuais leis de punição, privação da liberdade, estigmatização e
exclusão como suposta forma de controle dos comportamentos ruins ou indesejáveis
etiquetados como “crimes”. Ela ainda alerta que por meio do compromisso ético do
profissional psicólogo, por um fim nesta aliança danosa.
Ainda segundo Karam (2011, p. 5):

A prisão exclui, estigmatiza e sempre produz muita dor. É preciso tentar


compreender o significado da privação da liberdade. É preciso conduzir
nosso olhar, nossa imaginação, nossos sentimentos, para dentro dos muros
das prisões, esforçando-nos por imaginar a infinita dor das pessoas que
sofrem pena, esforçando-nos para deixar de lado a indiferença; os
preconceitos; as abstratas ideiam que privilegiam a “ordem”, a “segurança”,
a “defesa da sociedade”, ideias que, esquecendo-se da igualdade originária
entre todos os indivíduos, dividem-nos entre supostos “cidadãos de bem”e
apontados “criminosos”.

Para Lago et al (2009) a história da atuação de psicólogos brasileiros na área


da Psicologia Jurídica tem seu início no reconhecimento da profissão, na década de
1960. Tal inserção deu-se de forma gradual e lenta, muitas vezes de maneira
informal, por meio de trabalhos voluntários.
De acordo com o Jornal do CRP-RJ (2005), o trabalho dos psicólogos no
sistema penitenciário só foi delimitado de fato com criação da Lei de Execuções
Penais (LEP) em 1984 e que instituiu o exame criminológico e a comissão técnica de
classificação (TCT), que eram dispositivos utilizados para fazer o acompanhamento
individualizado da pena. Essa comissão composta por psicólogo, assistente social,
psiquiatra, dois chefes de serviço e presidida pelo diretor da unidade prisional.
Ainda segundo o jornal do CRP-RJ (2005), antes mesmo da promulgação
dessa lei os psicólogos já desenvolviam suas práticas principalmente nos
manicômios judiciários, hoje chamados de Hospital de Custódia e Tratamento
Psiquiátrico.
Silva (2010) salienta que o trabalho do psicólogo deve estar voltado para a
criação de estratégias de sobrevivência numa instituição total, tendo como objetivo a
13

sua desmontagem. É, então, esse o lugar do psicólogo, o de criar estratégias de


sobrevivência na instituição total. Porque, na verdade, não é o psicólogo que vai
criar e inventar esse espaço de sobrevivência. As pessoas presas estão
sobrevivendo ao lugar de horror, são elas que criam formas de viver nesse espaço.
Falando sobre a atuação do psicólogo no contexto prisional, Karam (2011, p. 9)
diz:
Tentar amenizar os sofrimentos e os efeitos deteriorantes do
encarceramento e facilitar um retorno menos traumático ao convívio
extramuros são os únicos parâmetros de atuação do psicólogo no sistema
prisional compatíveis com os princípios fundamentais que regem seu
Código de Ética, bem como os princípios de ética médica das Nações
Unidas.

Rocher (1981, apud Hofmeister, 2002) diz que a socialização é o processo pelo
qual ao longo da vida a pessoa aprende e interioriza os elementos socioculturais do
seu meio, integrando-os na estrutura de sua personalidade sob a influência de
experiências de agentes sociais significativos e adaptando-se assim ao ambiente
social em que deve viver.
Bitencourt (2001, p. 139, apud Santos e Rodrigues, 2010, p. 27) dizem que “[...]
o objetivo da ressocialização é esperar do delinquente o respeito e a aceitação de
tais normas com a finalidade de evitar a prática de novos delitos”.
Segundo Foucault (2007, p. 221, apud Santos e Rodrigues, 2010, p. 39)
comenta que a pena privativa de liberdade não ressocializa o preso, pelo contrário é
visível o aumento da taxa de reincidência (“criminosos permanece estável”), eis que
“[...] depois de sair da prisão, se têm mais chance que antes de voltar para ela, os
condenados são, em proporção considerável, antigos detentos [...].”.
Falando sobre a ressocialização no Brasil, Bitencourt (2001, p. 21, apud Santos
e Rodrigues, 2010) diz:

Um dos grandes obstáculos à ideia ressocializadora é a dificuldade de


colocá-la efetivamente em prática. Parte-se da suposição de que, por meio
do tratamento penitenciário – entendido como conjunto de atividades
dirigidas à reeducação e reinserção social dos apenados -, o terno se
converterá em uma pessoa respeitadora da lei penal. E, mais, por causa do
tratamento, surgirão nele atitudes de respeito a si próprio e de
responsabilidade individual e social em relação à sua família, ao próximo e à
sociedade. Na verdade, a afirmação referida não passa de uma carta de
intenções, pois não se pode pretender, em hipótese alguma, reeducar ou
ressocializar uma pessoa para a liberdade em condições de não liberdade,
constituindo isso verdadeiro paradoxo.
14

Para Santos e Rodrigues (2010) o sistema progressivo é um importante


instrumento a ressocialização do apenado, pois possibilita gradativamente a sua
inserção a sociedade. Inclusive, estimula o preso a manter um comportamento
adequado durante o cumprimento da pena.
De acordo com Santos e Rodrigues (2010) a progressão permite ao preso,
desde que preencha os requisitos, progredir do regime inicialmente fechado (mais
rigoroso), para o semiaberto e depois para o aberto. Vale lembrar que não pode
progredir do regime fechado diretamente para o aberto, pulando o semiaberto.
Devem-se seguir todas as etapas.
Falando sobre ressocialização, Karam (2011) diz que os fins declarados da
ressocialização ou reabilitação social na qual propõe o sistema penal que é do
individuo reintegrar a sociedade livre, é absolutamente incompatível, pois é ilógica a
ideia de reintegrar alguém a uma sociedade, afastando-a dela.
Karam (2011) ainda diz que toda atividade ressocializadora deve-se pautar no
respeito às opções pessoais do condenado, a sua integridade psíquica, a sua
intimidade e a sua dignidade em poder se transformar de forma natural sem ser
forçada, mas fornecendo apoio facilitador do retorno menos traumático possível ao
convívio social.
Segundo Pio (2006, p. 2) diz que:

A prisão, sem dúvida, adoece e traz o estigma, mesmo cidadão estando em


liberdade, após cumprir a sua pena. Estes sujeitos são vistos pela
sociedade como inadequados, desvalidos, delinquentes e marginais. As
punições são coletivadas, pois se há um desvio de conduta perante as leis,
todas são punidas. Os cidadãos presos são estigmatizados, tratados como
uma ‘coisas’, desvalorizando a banalizando o outro, sem que se dê conta de
que está menosprezando primeiramente, a si mesmo.

1.1 Revisão da Literatura

1.1.1 A prática do psicólogo no sistema prisional

Schaefer (2010) comenta que a função do psicólogo na prisão é participar de


Comissões Técnicas de Classificação (CTCs) e realizar exames criminológicos (EC)
é determinada pela Lei de Execução Penal (LEP), sem que tenha havido qualquer
consulta à categoria. As CTCs, compostas por profissionais técnicos e agentes
penitenciários, funcionam como mini tribunais em que o preso é ouvido e julgado por
15

faltas disciplinares, entre outras coisas. E o EC visa avaliar se o apenado tem ou


não condição de progredir de regime ou ganhar a liberdade. Tanto uma função
quanto outra são missões impossíveis para o psicólogo.
Segundo fórum realizado pelo CRP-SP (2016, p. 6) diz que:

Essa limitação da atuação do profissional psicólogo possui relação com o


histórico da psicologia nas prisões que foi atrelada ao modelo médico. Ao
positivismo cientifico, assim como nos referimos anteriormente. O
conhecimento psicológico a respeito dos reclusos produziu elementos para
melhor controla-los e, assim, contribuir para ratificação da disciplina social.
Cabe ressaltar que o conteúdo das perícias psicológicas, por vezes, se
referia aos aspectos negativos da personalidade do examinando,
geralmente, não se mencionavam capacidades e potencialidades, ao
contrário, constatava-se a patologização do indivíduo.

Ainda de acordo com Schaefer (2010) desnaturalizar, ouvir, incluir, respeitar as


diferenças, promover a liberdade são missões do psicólogo. Classificar, disciplinar,
julgar, punir, são missões impossíveis para o psicólogo.
Para PIO (2006, p. 1):

A psicologia defronta-se com as diferentes formas de sofrimento que fere a


estrutura individual e/ou coletiva e a própria dinâmica psíquica do sujeito e
dos membros familiares. Na prisão, mecanismos como negação da
realidade, cisão e onipotência ocupam o imaginário. São experiências
emocionais estimuladas pelas fantasias inconscientes e que sofrem
influencias da sociedade na qual o sujeito está inserido, numa clara
interação com a realidade externa.

Falando sobre esta atuação avaliativa, Pacheco (2010) salienta que


primeiramente o Psicólogo deve sair desse lugar avaliativo, e começar a se colocar
num lugar mais de acolhimento, de escuta de uma diversidade humana, não de uma
doença, mas uma diversidade humana espelhada pela alteridade das relações e
laços sociais estabelecidos.
Segundo CRP-SP (2016, p. 8) sobre a atuação do psicólogo diz:

O psicólogo deve atuar prestando assistência psicológica, sendo garantida,


inclusive, a confidencialidade das informações, nos termos do art. 9 do
Código de Ética Profissional do Psicólogo. Logicamente, como define a Lei
de Execução, o profissional inserido no sistema prisional pode prestar
informações dentro dos limites da ética profissional estabelecidas do
referido Código de Ética.
16

Segundo Rauter (2007) se o psicólogo conseguir se abster unicamente da


tarefa de fazer laudos, um enorme campo de atuação de tamanha importância se
configura a sua frente no sentido da construção de estratégias de resistência frente
ao dispositivo da criminalização. O sistema penal vem se tornando destino de
grande parte da juventude, principalmente os mais pobres, em nosso país.
Werle (2016) diz que sem as solicitações de laudos e pareceres psicológicos,
abre-se um arsenal de práticas a seres exploradas pelo psicólogo, podendo,
portando, criar novas formas de intervenção buscando atividades que compreendam
diversos contextos, principalmente a população menos privilegiada
economicamente. Também poderia se pensar em formas de prevenção nas
comunidades mais carentes, tendo em vista que é essa a grande demanda, para
que esses jovens pudessem a priori conhecer outras maneiras de viver em
sociedade.
De acordo com o Jornal do CRP-SP (2016) um dos instrumentos empregados
para a avaliação dos presos que ingressam no sistema penitenciário é o exame
criminológico inicial, mais conhecido como PIT (Plano Individualizado de Tratamento)
ou conhecido como triagem. A função dessa avaliação psicológica, psiquiátrica e
social inicial seria conhecer e identificar suas necessidades, aptidões, interesses e
os recursos disponíveis a fim de elaborar um projeto para o preso enquanto ele
estiver no sistema penitenciário. Procura-se saber durante o exame criminológico
inicial se o preso tem vontade de estudar, de aprender alguma profissão, se tem
algum problema de saúde etc.
Para Barros (2009) o objetivo do profissional da psicologia é ajudar os internos
que lá cumprem pena, a compreender suas histórias difíceis muitas vezes, e a
resignificá-las na tentativa de construírem novas possibilidades de vida fora do crime
e de poder transformar suas condições materiais de existência por meio do trabalho
e do estudo. Ou seja, busca-se conhecer as trajetórias profissionais desses homens.
Ainda citando Barros (2009), ele pontua que o fato de refletir e trabalhar sobre
as condições concretas e objetivas de vida que determinaram sua maneira de ser e
de viver, resignificar o passado, compreender, pode ser uma possibilidade de
mudanças, pode abrir uma porta para a transformação, de si e das condições
materiais de existência.
De acordo com WERLE (2016, p. 5) diz que:
17

É nesse sentido que pode começar a ser estabelecido um contato de


respeito e reconhecimento, que essa pessoa pode perceber que existem
outras formas de se relacionar, outras maneiras de viver em sociedade sem
estar prejudicando o outro e sem precisar, consequentemente, estar
passando por situações desumanas dentro de um presídio. É começando
dessa forma, entendendo quais são as vontades, as habilidades daquele
indivíduo que pode haver uma mudança.

Segundo Pio (2006), o psicólogo deve atuar como agente provocador de


mudanças, intervindo com foco no problema e na saúde mental. Para isso deve
fazer um link com a sociologia, a antropologia e com a criminalidade crítica, tendo
em vista o comportamento criminoso partindo de uma análise da sociedade e o que
ela tem a ver com o individuo em questão. Buscando sempre a compreensão da
criminalidade por meio do estudo da interação entre indivíduo criminoso-sociedade.
Pio (2006, p. 4) continua dizendo:

São muitas as medidas a serem tomadas por todas as esferas da


sociedade. Apesar de o crime ser um fenômeno social, é apenas um recorte
de uma realidade vivenciada por um cidadão. Logo um ato em si não é
revelador da verdade sobre ele. É necessário um trabalho coerente e ético,
que vise o todo do cidadão e o psicólogo deverá ser o profissional que atue
diretamente na doença mental.

Para o CFP (2009) a discussão do papel do psicólogo direcionou-se para a


compreensão das contradições existentes na realidade do contexto prisional. Foi tido
como tarefa do profissional psicólogo, o compromisso de melhorar as condições de
vida do presidio, bem como transformar a cultura institucional e garantir os direitos
das pessoas presas.

Para CRP-SP (2016, p. 16) fala que:

Considerando a realidade da maioria dos estabelecimentos prisionais


brasileiros, devemos garantir que a prestação dos serviços psicológicos
ocorra atendendo ao previsto no Código de Ética. Cabe-nos, pois,
aprofundar sobre quais os parâmetros e os procedimentos necessários para
a observância dos pressupostos éticos e técnicos na atuação no sistema
prisional, em observância aos tratados internacionais ratificados pelo Brasil.
18

1.1.2 A ressocialização

De acordo com Neto, Mesquita, Teixeira e Rosa (2008) eles usam os sinônimos
recuperação, ressocialização, readaptação, reinserção, reeducação social,
reabilitação que dizem respeito ao conjunto de atributos que permitem ao indivíduo
tornar-se útil a si mesmo, à sua família e a sociedade.
“Art. 1º da LEP (Lei de Execução Penal) Execução penal tem por objetivo
efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições
para a harmônica integração social do condenado e do internado” (BRASIL, 2008, p.
7).
Segundo Neto et al. (2008) diz que segundo o art. 1º da LEP, percebe-se a
dupla finalidade da execução penal, dar sentido e efetivação do que foi decidido
criminalmente e dar ao apenado condições efetivas para que ele consiga voltar ao
convívio social e não mais cair nas malhas do crime.
Para Neto et al. (2008) as ações que buscam trazer a ideia de ressocialização
de apenados procuram reduzir os níveis de reincidência ajudando na consequente
recuperação do detento através de medidas que auxiliem na sua educação, em sua
capacitação profissional e na busca da conscientização psicológica e social.
Mirabete (2002, p.24, apud Neto et al; 2008) diz que:

A ressocialização não pode ser conseguida numa instituição como a prisão.


Os centros de execução penal, as penitenciárias, tendem a converter-se
num microcosmo no qual se reproduzem e se agravam as grandes
contradições que existem no sistema social exterior (...). A pena privativa de
liberdade não ressocializa, ao contrário, estigmatiza o recluso, impedindo
sua plena reincorporação ao meio social. A prisão não cumpre a sua função
ressocializadora. Serve como instrumento para a manutenção da estrutura
social de dominação.

De acordo com o criminólogo Conde (2005) a ressocialização de um membro


da sociedade só pode ser alcançada por meio de dois caminhos distintos: um pelos
postulados psicanalíticos por meio do conceito “bode expiatório” e “projeção de
sombras” que é a descarga de impulsos da coletividade sobre o apenado, bode
expiatório. E segundo, somente pela mudança nas relações sociais de produção
capitalista.
Falando sobre a ressocialização, Baratta (2007) diz que não se pode conseguir
a reintegração social de um sentenciado por meio da aplicação da pena, porém
19

deve-se buscá-la apesar disso, tornando menos precárias as condições de vida no


cárcere, condições essas que dificultam o alcance dessa reinserção social.
Para Souza (2009) a ressocialização se torna possível quando o individuo a
ressocializar e o encarregado de ressocializá-lo aceita o mesmo fundamento moral.
Sem essa coerência a ressocialização se torna submissão, domínio de um sobre o
outro e uma lesão à livre autonomia individual.
Segundo Franco (2008, apud Nascimento, 2013) diz que o fundamental para a
ressocialização da pessoa que infringiu o contrato social é a convivência em
sociedade. Juntamente deve ser inserida medidas educativas, como apoio
psicológico, cursos de qualificação e oportunidade de trabalho.
“A assistência, que deve ser prestada, no mais amplo sentido, visa a reinserção
do condenado ao convívio social, uma das finalidades da pena” (KUEHNE, 2005,
p.185).
“[...] por mais que a prisão seja incapaz de ressocializar, um grande número de
detentos deixa o sistema penitenciário e abandona a marginalidade porque teve a
oportunidade de estudar” (SALLA, 1999 p. 34, apud NASCIMENTO, 2013, p. 45).
Falando sobre o processo de ressocialização, Santos (2006, p. 70) diz que:

O processo de ressocialização deve ser percebido, essencialmente, através


de dois estágios, os quais podem ser relacionados da seguinte forma: o
processo de reeducação e o processo de reintegração social, a partir dos
quais se estabelece a ressocialização.

Para Santos (2006) os pilares da ressocialização são educação, qualificação e


trabalho. Ele diz que é preciso aumentar a escolaridade dos reeducandos para que
eles alcancem uma visão de mundo diferente, além do conhecimento escolar.
Nascimento (2013) complementa de que é preciso conceder oportunidades
para que os internos da unidade alcancem a qualificação profissional para que
possam ser inseridos no mercado de trabalho ao final de sua pena.

1.2.3 Projetos de Ressocialização

1.2.3.1 Projeto “Olho Mágico”


20

Segundo Rocha, Sales e Araújo (2015) o projeto criado em 04/02/2015 nasce


das inquietudes em buscar, diante das condições absolutamente desfavoráveis do
cárcere, meios alternativos de caráter pedagógico e terapêutico para facilitar a
reflexão crítica de temas de vulnerabilidade social que emergem na vida em
sociedade ou grupos.
De acordo com Rocha, Sales e Araújo (2015) a oficina compreende atividades
práticas e lúdicas, onde os reeducandos irão realizar exercícios do faz de conta,
imaginar ser o outro, interpretar, criar situações imaginárias e atitudes dramáticas
positivas, gerando processos de auto identificação e ressignificação que irão
incentivar condições próprias que forneçam uma prática transformadora das
relações dentro e fora do ambiente do cárcere.
Sobre os objetivos do projeto, Rocha, Sales e Araújo (2015) explicam:

Estimular a criatividade no desenvolvimento das atividades na produção


Teatral e arte urbana; Oferecer um ambiente lúdico para o exercício da
reflexão crítica sobre temas como: violência, drogas, preconceito,
sexualidade, diferenças e etc.; Trabalhar técnicas de expressão corporal,
vocal, escrita, postura cênica e de respiração; Desenvolver as
potencialidades por meio da expressão dos sentimentos; Desenvolver
oficinas de pesquisa de histórias e personagens; Promover estudos de
textos para produção de peças teatrais; Oportunizar ao reeducando
experimentar uma diversidade de papéis (p.1).

De acordo com Rocha, Sales e Araújo (2015) o projeto funciona da seguinte


forma: são encontros na brinquedoteca com turma de 10 reeducandos no período da
manhã e 10 a tarde com duração de 03 horas. As aulas são ministradas pela
acadêmica do curso de teatro, Samanta Silva Leite. São atividades de pesquisas,
discussões, jogos teatrais, produção de peças teatrais, postura cênica, consciência
visual, auditiva e corporal, dentre outras. O grupo é acompanhado pela
coordenadora de projetos e psicólogos da unidade.
Leite (2016, p.28) fala sobre a experiência enquanto professora do projeto:

O ambiente nos proporciona uma riqueza de informações que nos instiga a


querer saber, querer investigar uma realidade tão próxima e ao mesmo
tempo tão distante, pois a mídia não mostra como realmente funciona o
sistema prisional, não se tem acesso às informações, e quando se tem é
mais voltado para o lado “ruim”, que no caso são tentativas de fugas e que
todos são marginais muito maus, e assim a sociedade cria um estereótipo e
passa a acreditar que a mudança é impossível.

1.2.3.2 Projeto “Bambu”


21

Segundo Rocha e Sales (2014) o projeto teve inicio no dia 17/09/2014 e visa
oferecer aos internos um espaço didaticamente adequado e motivador para a
criação e manutenção de um grupo de estudo preparatório para as provas do
ENCCEJA (Exame Nacional de Certificação de Competências de Jovens e Adultos)
e ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), com o objetivo de utilizar a educação
como um instrumento de reabilitação e reinserção social.
Rocha e Sales (2014) destacam os objetivos específicos do projeto como:
Estimular na Unidade Prisional o hábito do estudo e da leitura; Favorecer a mudança
de comportamentos do interno por meio do estudo para que o mesmo desenvolva
uma nova perspectiva de vida; Implantar e dar continuidade no projeto como parte
da dinâmica prisional nesta Unidade.
Sobre a metodologia do projeto, Rocha e Sales (2014) explicam: O Grupo de
estudos consiste em realização de reuniões diárias nas dependências da Biblioteca,
com a formação de duas turmas de 10 internos em cada turno (manha e tarde). Com
duração 02:00hs pela manha e a tarde. As turmas terão um monitor para orientação
do grupo, triado pelo setor de Psicologia conforme habilidades para monitoria e perfil
comportamental e será remunerado como forma de incentivo a valorização do
trabalho. Disponibilizar apostilas para cada interno com conteúdos relevantes e
pertinentes aos temas do ENCCEJA E ENEM. Cada interno receberá além da
apostila, um caderno, lápis e borracha para desenvolver suas atividades. A cada
trimestre os mesmos desenvolverão uma atividade avaliativa para aferir o
rendimento.
“Os grupos serão acompanhados pelos Psicólogos responsáveis, que darão
todas as orientações, apoio nas atividades a serem desenvolvidas e suporte
emocional” (ROCHA E SALES, 2014, p.1).

1.2.3.3 Projeto “Remição pela Leitura”

Falando sobre a educação, Silva e Perlin (2014, p. 200) dizem:

A educação está diretamente relacionada com a preparação para a vida


pessoal, profissional e para o convívio social. Esta envolve os processos de
assimilação de conhecimento que possibilita ao indivíduo cumprir seus
deveres e buscar seus direitos, podendo, assim, ter dignidade de pessoa
humana, além de promover a democracia e cidadania.
22

“Nesse contexto, expor sobre a Remição da Pena pela Leitura é uma forma de
demonstrar a importância da educação no contexto prisional e como esta pode
modificar a vida do apenado, trazendo benefícios para todos” (SILVA; PERLIN, 2014,
p.58).
De acordo com o CNJ (2013) foi criada a recomendação de nº44 de 26 de
novembro de 2013 que dispõe sobre atividades educacionais complementares para
fins de remição da pena pelo estudo e estabelece os critérios da remição pela
leitura.
Segundo a Umanizzare (2016) a metodologia do projeto é dividida em três
etapas: seleção dos internos e entrega dos livros; orientação aos internos quanto à
produção de resenhas ou relatórios; entrega do relatório de leitura no prazo de 21 à
30 dias.
Para Umanizzare (2016, p.2) esperam-se os seguintes resultados:

Implantar e dar continuidade ao projeto como parte da dinâmica prisional;


Ampliar o estímulo entre os internos (as) das Unidades Prisionais, do hábito
da leitura; Favorecer a mudança de comportamentos dos (as) internos (as),
à medida que ocupará seu tempo com uma atividade educacional,
assumindo responsabilidades com prazos e com a qualidade de sua
produção; Desenvolver habilidades intelectuais, construindo uma nova
perspectiva de vida; Oferecer, com a remição de pena, um reforço positivo
para uma quantidade maior de internos participantes.

A Umanizzare (2016) volta a falar sobre a metodologia do projeto que constitui


uma comissão composta por um psicólogo, advogado e assistente social e um
convidado especial. É disponibilizada uma obra literária ao reeducando que depois
do período de 21 a 30 dias, irá responder um questionário pela parte da manhã e
uma explanação oral pela tarde, exercitando a organização das ideias, expressão
verbal e corporal.
Falando sobre benefícios desse tipo de projeto, Percilia (2013, p.1 apud Silva e
Perlin, 2014, p. 203) diz que:

Para o apenado, o Projeto “Remição Pela Leitura” proporciona a redução de


sua pena, mas ao mesmo tempo, permite-lhe assimilar cultura, educação e
conhecimento, que são transmitidos pelos conteúdos dos livros, podendo
também melhorá-lo como ser humano e como cidadão. “A leitura é algo
crucial para a aprendizagem do ser humano, pois é através dela que
podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o
raciocínio e a interpretação.
23

“Ao ler, entender, interpretar um livro, o preso amplia horizontes, pode ir além
das paredes das celas e se transportar para um mundo imaginário” (SILVA; PERLIN,
2014, p. 29).

1.2.3.4 Projeto “Musicoterapia – Sons da Liberdade”

Segundo Rocha e Sales (2015) o projeto surgiu no dia 10 de agosto de 2015


com a iniciativa de seis reeducandos da unidade em montar uma banda gospel, para
trabalhar a musica quer ela cantada, ou tacada, individual ou em grupo. Assim
auxiliando a expressão dos conteúdos inconscientes de forma agradável e no
desenvolvimento de habilidades sociais e estimulando a prática musical entre os
internos.
Falando sobre o projeto, Rocha e Sales (2015, p.3) dizem que:

Neste projeto a música será utilizada de forma terapêutica, para facilitar e


promover a saúde física e psíquica dos reeducandos, contribuindo para a
reestruturação de comportamentos e atitudes positivas, cumprindo assim
com nosso objetivo maior, dos profissionais que atuam no Sistema
Penitenciário, que é de desenvolver competências emocionais e
comportamentais para a ressocialização e reinserção social.

De acordo com Rocha e Sales (2015) o projeto tem por objetivo, facilitar os
processos de comunicação, aprendizado, expressão, organização e disciplina.
Colaborar com o desenvolvimento do bom relacionamento em grupo, com o convívio
com a população carcerária e com os servidores da unidade prisional e diminuir ou
mesmo eliminar os níveis de agressividade promovendo o desenvolvimento ou
aumento da autoestima, gerando um sentimento de que são capazes de realizar
tarefas positivas.
Segundo Rocha e Sales, (2015, p.4):

Desenvolver um sentimento de pertença a um grupo que constrói, que vai


mostrar um produto musical final. Isso proporciona aumento da autoestima a
medida que terão o reconhecimento da sociedade, dos profissionais, das
Instituições e da própria população carcerária. E vai fazer com que esse
grupo de indivíduos, que precisam ser reinseridos na sociedade, se sintam
mais ‘empoderados’ e capazes para isso. Realizar apresentações musicais
durante eventos no COMPAJ/RF e programações específicas de
apresentações musicais.
24

CAPÍTULO 2 – MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Tipo de Pesquisa

Esta pesquisa é do tipo estudo de caso a respeito do tema a atuação da


psicologia nos projetos de ressocialização em um presídio de regime fechado
masculino na cidade de Manaus, com uma abordagem qualitativa.
De acordo com Gil (2009) um estudo de caso é um tipo de pesquisa que pode
ser caracterizado como um programa, uma instituição, um sistema educativo, uma
pessoa, ou uma unidade social. E tem como finalidade conhecer profundamente o
como e o porquê de uma determinada situação, procurando conhecer o essencial e
característico e não intervir sobre o objeto.
Para Fonseca (2002, apud Gerhardt e Silveira, 2009) o estudo de caso busca
apresentar uma perspectiva global, completa e coerente do objeto a ser investigado,
a partir da visão dos participantes.
Segundo Gerhardt e Silveira (2009) a pesquisa qualitativa não se preocupa
com dados numéricos, mas com o aprofundamento de um grupo social ou
organização. Busca-se explicar o porquê das coisas com o objetivo de produzir
informações aprofundadas e ilustrativas, seja pequeno ou grande, o importante é
que ela seja capaz de produzir novas informações.

2.2 Participantes

A participante dessa pesquisa foi uma profissional psicóloga de 32 anos de


idade, que atua há dois anos como psicóloga na unidade prisional onde se pretende
investigar.

 Critérios de Inclusão

Participará desta pesquisa a profissional de 32 anos de idade, que trabalha


como psicóloga no manejo com internos apenados em uma unidade prisional de
Manaus, desde que assine o Termo Voluntário de Pesquisa.
Após aceitação e assinatura do TCLE (Termo de Consentimento Livre
Esclarecido), sendo condição necessária para a realização da pesquisa.
25

 Critérios de Exclusão

 Não poderá participar da pesquisa o(a) psicólogo(a) que não possua


experiência vivencial no âmbito da psicologia no sistema prisional, e será excluída
também aquela que se recusar a assinar o TCLE, por entender que não deseja
cooperar com o estudo, sendo um critério ético, ou demais casos que inviabilizem ou
invalidem o estudo proposto pela pesquisadora.

2.3 Local da Pesquisa

O local da pesquisa será na residência da participante, localizada na zona


norte da cidade de Manaus-Am. Ambiente propício para que a entrevista seja efetiva
e o questionário alcance os resultados propostos.

2.4 Instrumentos de Pesquisa

O instrumento utilizado será uma entrevista semi-estruturada, composta por


sete questões (em apêndice) abertas desenvolvidas pelo pesquisador afim de
conseguir atingir os objetivos.
Para Manzini (2004) a entrevista semi-estruturada tem seu foco em um assunto
sobre o qual confeccionamos um roteiro com perguntas principais, complementadas
por outras questões inerentes às circunstâncias momentâneas à entrevista.
Segundo ele, esse tipo de entrevista pode fazer emergir informações de forma mais
livre e as respostas não estão condicionadas a uma padronização de alternativas.

2.5 Tratamento e Análise dos Dados

Para tratamento e analise dos dados da pesquisa, será usada a técnica de


Análise de Conteúdo.
Bardin (2011, p. 38) refere que a análise de conteúdo consiste em:

Um conjunto de técnicas de análise das comunicações, que utiliza


procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens... A intenção da análise de conteúdo é a inferência de
26

conhecimentos relativos às condições de produção (ou eventualmente, de


recepção), inferência esta que recorre a indicadores (quantitativos ou não).

Mozzato e Grzybovski (2011) dizem que a análise de conteúdo é um conjunto


de técnicas de análise de comunicações, que tem como objetivo ultrapassar as
incertezas e enriquecer a leitura dos dados coletados.
“O objetivo da análise de conteúdo é compreender criticamente o sentido das
comunicações, seu conteúdo manifesto ou latente, as significações explícitas ou
ocultas” (CHIZZOTTI, 2006, p.186).
“Um método muito utilizado na análise de dados qualitativos é o de análise de
conteúdo, compreendida como um conjunto de técnicas de pesquisa cujo objetivo é
a busca do sentido ou dos sentidos de um documento” (CAMPOS, 2004, p. 611).
“Desta forma Bardin configura a análise de conteúdo como um conjunto de
técnicas de análise das comunicações, que utiliza procedimentos sistemáticos e
objetivos de descrição do conteúdo das mensagens” (CAMPOS, 2004, p. 612).
Bardin (2011) indica que a utilização da análise de conteúdo prevê três fases
fundamentais: pré-análise, exploração do material e tratamento dos resultados - a
inferência e a interpretação.
A primeira fase, a pré-análise, pode ser identificada como uma fase de
organização. Segundo Bardin (2011), envolve a leitura “flutuante”, ou seja, um
primeiro contato com os documentos que serão submetidos à análise, a escolha
deles, a formulação das hipóteses e objetivos, a elaboração dos indicadores que
orientarão a interpretação e a preparação formal do material.
“Na segunda fase, ou fase de exploração do material, são escolhidas as
unidades de codificação, classificação e categorização, que permite reunir maior
número de informações” (BARDIN, 2011, p. 130, apud CAMARA, 2011, p. 185).
Câmara (2011) diz que a terceira fase do processo de análise do conteúdo é
denominada tratamento dos resultados – a inferência e interpretação. Calcado nos
resultados brutos, o pesquisador procurara torná-los significativos e válidos. Esta
interpretação deverá ir além do conteúdo manifesto dos documentos, pois, interessa
ao pesquisador o conteúdo latente, o sentido que se encontra por trás do
imediatamente apreendido.

A inferência na análise de conteúdo se orienta por diversos polos de


atenção, que são os polos de atração da comunicação. É um instrumento de
indução (roteiro de entrevistas) para se investigarem as causas (variáveis
27

inferidas) a partir dos efeitos (variáveis de inferência ou indicadores,


referências) (BARDIN, 2011, p. 137).

2.6 Aspectos Éticos da Pesquisa

A pesquisa obedecerá aos critérios de respeito pela dignidade humana e pela


especial proteção devida aos participantes da pesquisa científica, envolvendo seres
humanos, considerando o desenvolvimento e o engajamento ético, que é inerente ao
desenvolvimento científico e tecnológico, de acordo com a resolução 466 do
Conselho Nacional de Saúde, publicada em 12 de Dezembro de 2012.
A presente Resolução incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades,
referenciais da bioética, tais como, autonomia, não maleficência, beneficência,
justiça e equidade, dentre outros, e visa assegurar os direitos e deveres que dizem
respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade científica e ao Estado.
Este projeto de pesquisa envolve seres humanos e compromete-se a atender a
esta resolução (466) em sua íntegra.
Assim, a pesquisa também se fundamenta nos princípios do Código de Ética
do Psicólogo em seu artigo 16º. E na resolução Nº 010/2005 – artigo 161,
obedecendo aos seguintes princípios:
a) Solicitação de autorização prévia da administração da (o).
b) Aos participantes da pesquisa, solicitando a concordância em participar
do estudo através da assinatura antecipada do TCLE;
c) O Projeto será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da
Universidade Nilton Lins para apreciação e aprovação, e somente iniciará o estudo
após o parecer favorável para iniciar a coleta de informações (dados).
28

CAPÍTULO 3 – DISCUSSÃO E RESULTADOS

Neste capitulo serão apresentados e discutidos os resultados obtidos por meio


da aplicação da entrevista com a psicóloga, de acordo com a proposta metodologia
de análise, os dados coletados foram distribuídos em categorias, obedecendo o
critério semântico, perpassando pela discussão. Para Bardin (2011) O método de
análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das comunicações
visando a obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens, indicadores que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas
mensagens.
A metodologia de análise adotada permitiu organizar as falas da participante
em núcleos temáticos ou semântico, distribuídos nas categorias: Projetos de
ressocialização e suas eficácias; Instrumentos e estratégias utilizadas pelo psicólogo
nos projetos de ressocialização na unidade prisional; Ressocialização: eficácia dos
projetos; possibilitou abrangência de conhecimento pelas experiências pessoais e
pressupostos teóricos.
A leitura, interpretação e reinterpretação das mensagens presentes no discurso
da participante foi organizado num núcleo comum, distribuído nesta categoria e
discutida dentro do referencial teórico da psicologia jurídica, do sistema prisional. A
respeito da atuação do psicólogo neste tipo de instituição governamental, CFP
(2009, p.17) diz que “realizam suas ações individualmente, às vezes em duplas com
assistentes sociais, e discutem casos, fazem avaliações, pareceres e laudos
psicológicos em equipes multidisciplinares”.
Essa análise, conduzindo as descrições sistemáticas, qualitativas, permitiu ao
pesquisador compreender as possibilidades de atuação do psicólogo numa
instituição prisional, contribuindo na compreensão do fazer do psicólogo na
aplicabilidade de técnicas e abordagem, na aplicabilidade dos inúmeros projetos
executados no sistema prisional. Para Jesus (2001) a psicologia é totalmente capaz
de realizar um excelente trabalho dentro do sistema prisional, dos projetos, seu
saber se torna visivelmente necessário para atender as diversas demandas
existentes ao longo das atividades dos projetos e do sistema como um todo, bem
como fornecer um apoio psicológico necessário paras as condições que o ambiente
exige.
29

3.1 Projetos de Ressocialização e suas Eficácias

Nesta categoria foram organizadas as comunicações da psicóloga em relação


aos projetos existentes e aplicados e a eficácia de cada um, bem como, apresenta a
maneira pela qual a instituição realiza a mensuração da eficácia desses projetos.
Dentre os projetos citados pela psicóloga temos: O Projeto Bambu, Remição
pela leitura; Harmonizar; Mãos livres e Olho mágico. Sobre a utilização de projetos
no âmbito da instituição prisional, Oliveira et al (2013) diz que a educação
profissionalizante nos estabelecimentos prisionais pode ser efetivada como um
poderoso instrumento de ocupação do tempo ocioso dos internos e uma forma de
ressocialização ainda no cárcere.

3.1.1 Bambu - grupo de estudos preparatório para o ENCCEJA (Exame


Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos) e ENEM (Exame
Nacional do Ensino Médio);

“Os reeducandos participantes realizam reuniões de estudo diariamente na


biblioteca da unidade, recebem apostilas de apoio com conteúdo atualizado e
assistem aulas especiais” (UMANIZZARE, 2016, p. 1).
De acordo com DEPEN (2015) a última pesquisa realizada em 2014 pelo
Departamento Penitenciário Nacional, o INFOPEN relatou que existem 622.02 mil
pessoas privadas de liberdade no Brasil, onde 75,08% possuem até o fundamental
completo e 24,02% possuem do ensino médio incompleto, até o superior completo.
Seguramente hoje em 2017 este número está bem maior.
Ainda segundo DEPEN (2015) uma das estratégias politicas de reduzir a
criminalidade, ainda que se torne um grande desafio, seria de manter os jovens na
escola até pelo menos a conclusão do ensino fundamental.
O projeto Bambu se torna relevante dentro da unidade prisional tendo em vista
o alto índice de internos que não possuem educação básica, conclusão do ensino
fundamental, o projeto prepara os internos com disciplinas exigidas nas provas do
ENCCEJA, que é para a certificação do ensino fundamental, e o ENEM que serve
tanto para certificação do ensino médio quanto para o ingresso ao ensino superior.
Alguns internos se tornam os próprios professores das disciplinas, o que é bom
e ruim ao mesmo tempo, bom pelo fato de oportunizar o desenvolvimento dos
30

internos instrutores, mas por outro lado a qualidade do conteúdo cai um pouco tendo
em vista que alguns estão desatualizados, ou muito tempo distante do meio
acadêmico.
Para Julião (2011) é possível se afirmar que os internos que participam dos
projetos educacionais e laborativos apresentam “predisposição à ressocialização”,
assim como características distintivas daqueles que não estudam nem trabalham.
Não necessariamente funciona desta forma, pois muitos internos participam do
projeto apenas para receberem a remição prevista por lei.

3.1.2 Remição pela Leitura – Grupo de leitura com o objetivo de remir dias de
pena e aperfeiçoamento da leitura;

Segundo Bitencourt (2013), remir significa resgatar, descontar. No campo do


Direito Penal, remir consiste em descontar parte do tempo da pena a cumprir. A
palavra remição (descontar, resgatar) não se confunde com remissão, que tem
significado de perdão.
De acordo com Umanizzare (2016, p.1):

O projeto Remição pela Leitura distribui livros, previamente selecionados


pela equipe técnica, com avaliação escrita e oral, atendendo a metodologia
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), estabelecida na Recomendação nº
44/2014, viabilizando a remição de quatro dias da pena, a cada livro e
resenha/relatório de leitura de obras devidamente lidas e avaliadas. O
trabalho realizado pela Umanizzare Gestão Prisional também é previsto na
Lei n.7210/84 de Execução Penal (LEP).

A princípio a motivação dos internos é somente pela remição da pena, alguns


seguem motivados por isso, mas há internos que aproveitam a oportunidade como
um incentivo ao hábito da leitura. O reeducando que conseguir participar de todas as
edições do ano, terá alcançado a marca de 12 livros lidos, o que geralmente quem
está em liberdade não alcança, e isso representa uma grande evolução em seu
desenvolvimento intelectual e cultural, pois os livros são de assuntos diversos.
De acordo com Batista (2017) a leitura exerce grande importância para a
aprendizagem do ser humano, e além de favorecer o aprendizado de conteúdos
específicos, melhora a escrita e permite uma organização na linha de pensamento.
E isso sem dúvida é fundamental para o reeducando que busca a reinserção social.
31

Para Lopes (2011) é super importante a implementação de ações e atividades


que possam tirar o reeducando da ociosidade e a leitura serve como uma das ações
que possibilitam o hábito da leitura tanto enquanto estão privados de liberdade,
como para a liberdade.
Trazendo Foucault (2008, p.212) diz que:

[...] o isolamento dos condenados garante que se possa exercer sobre eles,
com o máximo de intensidade, um poder de intensidade, um poder que não
será abalado por nenhuma outra influencia; solidão á a condição primeira da
submissão total: o isolamento assegura o encontro do detento a sós com o
poder que se exerce sobre ele.

É nesse sentido que a leitura atua como uma ponte entre o isolamento do
cárcere com suas mais diversas nuances e o mundo exterior, possibilitando a
criação de estímulos e propiciando a humanização e o amadurecimento das
relações interpessoais.
“Ao ocupar seu tempo com a leitura, no Sistema Penitenciário, o preso além de
instigar seu imaginário, pode assimilar conhecimentos e cultura, gerando também
menos problemas, como brigas e violência, no convívio penitenciário” (PARANÁ,
2013, P.1).

A Remição da Pena por Estudo através da Leitura constitui-se na


disseminação da leitura nos espaços prisionais podendo proporcionar o
resgate da autoestima, trocando momentos ociosos por leitura/estudo.
Pretende-se ampliar a capacidade leitora, oportunizando ao que lê a
mudança de opinião, construção de pensamentos que vislumbrem melhor
convivência na sociedade, bem como formar leitores melhor preparados
para concluir a escolarização básica, e ingressar no ensino superior e
inserção no mercado de trabalho (PARANÁ, 2013, p.01).

Ainda segundo Paraná (2013) as produções/elaborações de textos são


atividades de estudo que exigem dos indivíduos uma participação mais efetiva
enquanto sujeitos ativos desse processo, levando-os à produção e à ressignificação
de sentidos e à construção do conhecimento.

3.1.3 Harmonizar – musicoterapia.


32

De acordo com a psicóloga, o projeto consiste em aulas de canto e


instrumentos musicais. Os internos que possuem conhecimento musical ensinam os
demais, ensaiam, realizam apresentações e concursos de música dentro da
penitenciária.
“A música é definida como a arte de combinar os sons e o silêncio, ou seja,
uma linguagem universal” (LEONARDO, 2015, p.11).
É por meio da música que muitos reeducandos conseguem ter uma conexão
com seu interior e realizam suas reflexões acerca da vida, do cotidiano naquele
ambiente carcerário insalubre.
Para Rocha e Sales (2015) o projeto é usado de forma terapêutica a fim de
promover saúde física e psíquica nos reeducandos, e reestruturar comportamentos e
atitudes positivas, fazendo alcançar o objetivo maior que é desenvolver
comportamentos e competências necessárias para a reinserção social do apenado.
Para alcançar este fim proposto, é preciso um investimento nos fatores
ambientais como uma sala adequada e equipada com instrumentos e materiais
pedagógicos para o uso nas aulas, e de incentivo motivacional para fazer com que
os internos participem, mas geralmente há algumas barreiras ou dificuldades a
serem vencidas, como o investimento por parte da administração da unidade, que
não ocorre, o que se vê são os próprios internos com os seus recursos, muitas das
vezes, emprestando instrumentos da igreja da unidade. Isso compromete a
efetividade do projeto.
Segundo Ruud (1991, p.189 apud Leonardo, 2015, p.11), é a música quem faz
a prática da interação social, relacionamento e estruturação de energia, além de
estabelecer ao indivíduo a capacidade de autoconhecimento e o restabelecimento
das relações humanas, causando a influência na personalidade integral e emocional,
diminuindo a abstração das situações tradicionais da linguagem.
“Na prática da ressocialização, leva-se em consideração a estrutura e os
processos psicodinâmicos, pois, além dos exercícios musicais, é desenvolvida sua
autoestima que, muitas vezes, é pouco estimulada” (LEONARDO, 2015, p.11).
O projeto de música dentro da penitenciária ocupa sem sombra de dúvidas um
refúgio para aqueles que estejam vivenciando algum tipo de conflitiva na vida
privada de liberdade, e também como um exercício a criatividade, a cultura, e acima
de tudo a reflexão, que é o que se propõe quando o estado aplica uma pena, apesar
de que o próprio estado se preocupa pouco com a real finalidade da prisão. Como
33

explica o autor acima, o desenvolvimento da autoestima é outro fator digno de


destaque quando se fala em música, tendo em vista que os reeducandos vivenciam
a própria dinâmica da vida carcerária como ameaçadora da autoestima.

3.1.4 Mãos Livres – Grupo de artesanato, é outro projeto que segundo a


psicóloga, funciona nesta unidade prisional.

Segundo Umanizzare (2017) o projeto prevê a confecção de artesanatos pela


própria população carcerária como uma forma de trabalho terapêutico e social, bem
como o ensino de técnicas modernas de arte com foco na sustentabilidade e design,
para que assim as peças produzidas, possam ser comercializadas.
“Além das técnicas de confecção, a proposta é ensinar aos (às) reeducandos
(as) sobre empreendedorismo, para que se familiarizem com plano de negócios,
proposta de valores, marketing, análise de mercado” (UMANIZZARE, 2017, p.1).
A produção feita pelos internos é comercializada para os funcionários da
penitenciária e também para o público externo, algumas vezes exposto em feiras
pela secretaria de administração penitenciaria. O dinheiro é entregue aos familiares
dos reeducandos.
“O artesanato é uma das primeiras artes existente desde a humanidade, uma
forma encontrada pelo homem para expressar sua história e cultura, e, hoje ocupa
um importantíssimo espaço na sociedade” (DOURADO, 2011, p.13).
“E a mão do homem – tanto na era pré-história como hoje – continua sendo
um importantíssimo instrumento de trabalho, uma de suas principais ferramentas
para transformar o mundo”. (SENAC, 2002, p. 12).
Pode-se dizer então que, o artesanato é a forma pela qual a humanidade se
fez. Observa-se, com a atividade artesanal dentro do presídio que o reeducando
ocupa a mente fugindo da ociosidade, além de promover o resgate da auto-estima,
de tal modo, oportunizando-os a ver o mundo de forma diferente, transformando-os
para que quando voltem à sociedade não venham a dar continuidade à vida
delituosa.
Como defende Read (2001, p.03), “a arte deve constituir a base da educação”.
Partindo deste principio, acreditamos que a arte nos faz acreditar na ressocialização,
especificamente o artesanato surge como uma oportunidade do interno, muita das
vezes esquecido, de expressar sua criatividade e suas aptidões artísticas para
34

produzir materiais que expressam e testificam de que é possível uma transformação


por meio do artesanato.
Segundo Fischer (2007):

Só a arte pode fazer todas essas coisas. A arte pode elevar o homem de um
estado de fragmentação a um estado de ser íntegro total. A arte capacita o
homem para compreender a realidade e o ajuda não só a suportá-la como a
transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e
mais hospitaleira para a humanidade. A arte, ela própria, é uma realidade
social. (FISCHER, 2007, p. 57).

3.1.5 Olho Mágico – grupo teatro. É o quinto projeto citado pela psicóloga.

Sobre o projeto, Umanizzare (2017, p.1) diz:

Estimula a criatividade no desenvolvimento das atividades na produção


Teatral; Oferece um ambiente lúdico para o exercício da reflexão crítica
sobre temas como: violência, drogas, preconceito, sexualidade, diferenças e
etc; Trabalha técnicas de expressão corporal, vocal, escrita, postura cênica
e de respiração; Oportuniza ao reeducando experimentar uma diversidade
de papéis.

De acordo com Castro (2004) a arte-educação ainda é uma atividade pouco


convencional à realidade do cárcere, mas é por meio dela que se pretende fazer um
resgate dos valores éticos e morais do preso. Contudo é preciso interpretar a arte-
educação no seu significado humanizador dentro do sistema prisional, enxergando
como um processo ressocializador ao passo que permite a exteriorização de
sentimentos, habilidades e potencialidades adormecidas.
O pesquisador teatral Boal (2009) entende que a encenação é força
transformadora:

Teatro é a capacidade dos seres humanos (ausente nos animais) de se


observarem a si mesmos em ação. Os humanos são capazes de se ver no
ato de ver, capazes de pensar suas emoções e de se emocionar com seus
pensamentos. Podem se ver aqui e se imaginar adiante, podem se ver
como são agora e se imaginar como serão amanhã. (BOAL, 2009, p. 15)

Para Leite (2016) o teatro é composto por variadas ações que passam pela
construção a partir de vários pensamentos e ações, pois a arte (teatro) são os
próprios seres humanos que fazem no momento que refletimos sobre nós ou sobre
35

algo que nos instiga, e passamos a expressar isso através do corpo, da pintura, de
um texto, ou de alguma outra forma.
Leite (2016) sobre sua experiência enquanto professora do projeto diz: “No
presídio quando cheguei, os internos ficaram surpresos, pois a maioria deles não
tinha ouvido falar de aulas de teatro dentro de um presídio” (LEITE, 2016, p.28).
Complementando, Rocha (2009) diz que:

O Teatro na Prisão mostra e expõe o corpo e a alma do preso, suas


transparências, dificuldades, opacidades e violências. Antes de tudo, o
teatro é libertário e socializador, porque mostra e expõe. Como processo
criativo, a disciplina do teatro pode ser uma experiência de liberdade que se
opõe àquela da vida na prisão, que é de constrangimento e anulação do
próprio preso. A experiência criativa pode ser libertária para a constituição
do sujeito, pela inclusão e afirmação da identidade; ao contrário da
experiência da carceragem, que é de abjeção completa do homem. A
disciplina do teatro constrói sujeitos de decisão, ao contrário da prisão, que
torna o homem um objeto de submissão. (ROCHA, 2009, p.3)

A prisão por si é um lugar opressor onde os mais fortes dominam e calam os


mais fracos, domínio esse na hierarquia do crime, tráfico de drogas, o que impede a
manifestação daquele que quer se expressar de forma diferente, pois a prisão
tornou-se a sua morada, onde teoricamente ele poderia se expressar enquanto
pessoa, respeitando as regras da boa convivência. Foucault (2008) analisa este
espaço como sendo aquele que tem o papel de manter as relações de poder e
dominação na sociedade. A partir desta perspectiva, no processo criativo, as aulas
de teatro do projeto Olho Mágico, surgem como um espaço onde se trabalha a
questão de preconceitos, machismos, e se permite a real expressão do individuo,
onde ele pode por em cena seus desejos, sonhos, e seus conflitos, tornando uma
experiência libertadora.
Refletindo sobre sua experiência nas aulas de teatro dentro do sistema
prisional, Leite (2016) conta:

Por várias vezes escutei: “professora aqui que eu vim aprender tudo sobre
crime”, então pensei, estamos realmente em uma escola que forma pessoas
do crime, logo está tudo errado por aqui. Então por onde recomeçar? Quem
procurar pra recomeçar? Quem sou eu dentro de todo esse processo? Não
tenho respostas, mas sim indagações que me movem a cada dia a
desenvolver o que amo e acredito (LEITE, 2016, p.52).
36

O projeto sem dúvidas possui sua efetividade no processo de ressocialização,


mas como todos os outros projetos, é carente de investimentos em materiais,
ambiente adequado para as aulas, atrelado aos internos, que muitas das vezes
participam unicamente para receberem remição de pena, e não se entregam por
completo ao processo.

3.1.6 Núcleo de Aprendizado Profissional – cursos profissionalizantes.

Sobre o núcleo, Umanizzare (2017, p.1) fala:

Núcleo de Aprendizado Profissional cria um espaço adequado para a


realização de cursos profissionalizantes, treinamentos, capacitações,
palestras e etc, para os reeducandos (as), acolhedor, estruturado e
organizado, para favorecer o processo de motivação, permanência e
aprendizagem, sempre com foco na ressocialização e inserção/ reinserção
dos reeducandos no mercado de trabalho.

“Quando falamos sobre educação profissionalizante tratamos de cursos que,


além de formar profissionais com conhecimento técnico, devem estar preocupados
também com a formação do cidadão” (FORMICE, 2013, p.1).
Os cursos entram no direito à educação, que todo brasileiro deve ter, mais do
que isso como uma alternativa de qualificar o reeducando para que tenha melhores
condições de capacitação profissional para ingressar no mercado de trabalho, ou de
abrir o seu próprio negócio ao cumprir sua pena. Obviamente que isso é importante
para o processo de ressocialização, porém não se tem alcançado o seu objetivo
primordial pelo fato de que o interno não conta com suporte do governo para o seu
ingresso no mercado.
“A Educação Profissionalizante além de cumprir o papel modificador
característico da educação, propicia ao indivíduo ferramentas concretas que
auxiliam na luta pelos direitos civis, sociais e políticos” (ELLING; OLIVEIRA, 2015,
p.28).
Para Elling e Oliveira (2015) a educação na prisão é vista pela sociedade como
desnecessária, perda de tempo, ou ainda como uma forma de premiar atos
criminosos. O direito à educação é visto unicamente como um beneficio e muitas
das vezes como moeda de troca pelo fato de gerar remição de pena aos internos.
37

Para Formice (2013), a educação pode realizar grandes transformações na


sociedade, pois é responsável pela formação dos indivíduos que nela irão atuar e
proporciona inclusão social daqueles que estão marginalizados, que sofrem
desigualdades impostas por uma sociedade capitalista.

Índices de eficácia dos projetos

A psicóloga respondeu ainda que há índice de resultados, e de que a secretaria


de administração penitenciária juntamente com a Umanizzare, empresa terceirizada
que administra o complexo penitenciário, realizam avaliações periódicas a fim de
levantar indicadores que mostrem os resultados obtidos com os projetos.
“Em 2016 foram 17.688 dias remidos, 3.560 beneficiados pelos projetos, 816
internos participantes em cursos profissionalizantes, 23.023 beneficiados por
eventos” (SEAP, 2017, p.110).

3.2 Instrumentos e estratégias utilizadas pelo psicólogo nos projetos de


ressocialização na unidade prisional

Esta categoria apresenta e discute os instrumentos e estratégias utilizados pelo


psicólogo no sistema prisional. Para a psicóloga, seu trabalho consiste em elaborar,
planejar, executar, coordenar, supervisionar, acompanhar e avaliar planos,
programas e projetos na área de atuação profissional. Elaboração, execução e
acompanhamento de projetos. Então, neste espaço, o psicólogo é visto como um
avaliador da execução dos projetos.
Analisar, processar e atualizar dados. Levantar, sistematizar e interpretar
dados, informações e indicadores. Também são realizadas entrevistas iniciais com
os internos, além de anamneses para uma melhor compreensão do reeducando.
Segundo a psicóloga, outra estratégia de trabalho do psicólogo nos projetos e
na atuação de forma geral dentro da unidade, são as atividades de atenção
individualizadas à pessoa privada de liberdade, CFP (2009, p.19) destaca
“atendimento psicológico, psicoterapêutico, diálogo, acolhimento, acompanhamento,
orientação, psicoterapia breve, psicoterapia de apoio, atendimento ambulatorial
entre outros”.
38

Essas atividades individuais previstas pelo CFP são possíveis ao psicólogo, e


já não mais ocupam um caráter avaliativo, de diagnóstico, como até pouco tempo
atrás, mas sim de acompanhamento, apoio, diálogo tanto nos projetos como em
todas as outras atividades da penitenciária, sua compreensão da subjetividade
humana pode ser muito bem aproveitada em todas as áreas do complexo
penitenciário.
Segundo CFP (2009) os atendimentos individuais podem ser solicitados pelo
reeducando como também pelos funcionários da unidade prisional ou pelos
familiares do interno. O objetivo dos atendimentos é de compreender as pessoas
privadas de liberdade, avaliando sua saúde mental, dando acolhimento, escutando
suas demandas, promovendo saúde e defendendo os direitos humanos.
De acordo com Fernandes (2000) o atendimento individual é composto por
vários tipos de entrevistas, ele cita duas que são entrevista de emergência ou
adaptação e entrevista de acompanhamento. A de adaptação consiste quando o
interno se encontra em situação de crise onde busca orientação do psicólogo para
evitar comportamentos que lhe prejudique dentro da unidade. A de
acompanhamento são atendimentos mais breves com encaminhamentos por parte
do juiz, professores, administradores da unidade ou pelo próprio preso.
Outra atividade exercida pelo psicólogo nos projetos, segundo a profissional
entrevistada, são as atividades em grupos. Ela cita três modalidades de grupos:
grupos operativos, psicoterápicos e grupos focais.
De acordo com Zimerman e Osório (1997), os grupos podem ser classificados
em grupos operativos e os psicoterápicos. Operativos cobrem o campo institucional,
organizacional, comunitário, com foco psico-educativo, enquanto que os
psicoterápicos são classificados a partir da abordagem teórica e têm perspectiva
terapêutica. Neste último caso, temos as perspectivas psicodramática, psicanalítica,
cognitivo-comportamental e teoria sistêmica.
Numa definição de grupo operativo, Bastos (2010) diz que:

A técnica de grupo operativo consiste em um trabalho com grupos, cujo


objetivo é promover um processo de aprendizagem para os sujeitos
envolvidos. Aprender em grupo significa uma leitura crítica da realidade,
uma atitude investigadora, uma abertura para as dúvidas e para as novas
inquietações (BASTOS, 2010, p.161).
39

“São os grupos realizados com objetivo de esclarecer temas, situações, tarefas


e vicissitudes em sua realização, proporcionando assim algum aprendizado que
favoreça o progresso daquelas pessoas, individualmente ou como equipe”
(FERNANDES, 2003, p.87).
Quanto aos grupos psicoterápicos, Fernandes (2003) diz que são formas de
psicoterapia grupal que visam o alivio ou a eliminação de sintomas, e também o
desenvolvimento de comportamentos mais saudáveis, etc. Existe também a procura
do autoconhecimento e do desenvolvimento pessoal.
Sobre os grupos focais, Gaskell (2002) considera que os grupos focais
propiciam um debate aberto e acessível em torno de um tema de interesse comum
aos participantes. Isso dentro da unidade prisional ocorre quando o profissional da
psicologia escolhe uma temática para se trabalhar em grupo, com os internos.
Para Chaves (2010), falando sobre os trabalhos realizados em grupo, destaca
como oportunidades de oferecer aos reeducandos um tipo de intervenção, pelo
grande número de internos e poucos profissionais, podendo o preso se relacionar e
trocar experiências. O trabalho em grupo pode surtir o efeito de reflexão e possíveis
mudanças nas formas do interno se relacionar com a sociedade de forma geral. A
dinâmica do trabalho em grupo dentro das prisões é a mesma realizada fora delas
se baseando na maioria das vezes nas características dos indivíduos que compõe o
grupo.
De acordo com o CFP (2009), os grupos dentro das instituições prisionais
podem servir a várias finalidades, dependendo das demandas apresentadas pelas
pessoas que estão cumprindo pena privativa de liberdade, podendo também ser
usadas técnicas de diferentes tipos como oficinas terapêuticas, grupos de reflexão e
conscientização, grupo operativo, psicoterapia de grupo entre outros.
Todos os projetos de ressocialização da unidade prisional estudada são em
grupo. E o trabalho em grupo objetiva sempre possibilitar a interação entre os
sujeitos em cumprimento de pena privativa de liberdade e reflexões “sobre aspectos
referentes à dignidade, ética, autoestima, respeito por si e pelo outro, cidadania,
participação política, favorecendo a vida em sociedade” (NASCIMENTO, 2000,
p.105).
De acordo com Chaves (2010), o trabalho com grupos nas prisões muitas das
vezes é visto como arriscado e nem sempre possível de ser realizado diante das
regras de segurança de algumas unidades.
40

Sobre a colocação supracitada, nas unidades do Amazonas o trabalho em


grupo é permitido desde que haja a presença do agente de segurança, o que
geralmente não trás a real segurança. Claro que as atividades apresentam sim um
nível de risco e que podem ter interrupções se a unidade apresentar algum tipo de
tensão que ameace a integridade dos profissionais e também dos internos.
Desde o inicio da atuação da psicologia no contexto penitenciário era restrita
antes da instituição da LEP (Lei de Execuções Penais) o psicólogo já atuava como
um avaliador, e após a LEP a atuação profissional era pautada no exame
criminológico e a CTC (Comissão Técnica de Classificação). Hoje sua atuação é
mais ampliada, apesar de pouco conhecida, e uma delas se dá na implementação,
organização e acompanhamento dos projetos educacionais e laborais a fim de
alcançar um trabalho restaurativo dos indivíduos em privação de liberdade.
De acordo com a psicóloga, quando o profissional da psicologia acompanha as
atividades dos projetos, as demandas de atendimento psicológico vão surgindo e ele
pode intervir imediatamente caso seja possível, ou se dirigir juntamente com o
interno para a sala de atendimento da psicologia, localizada no corpo técnico
(espaço onde todos os profissionais atendem os reeducandos). Há também aquelas
demandas observadas apenas pelo psicólogo e que ele pode, em outro momento,
chamar o interno para um atendimento.
Ainda segundo a psicóloga, o profissional da psicologia é livre para usar sua
linha de abordagem, mas destaca que é preferível sempre uma intervenção breve e
focal, tendo em vista as dificuldades operacionais e técnicas para um atendimento
mais duradouro e profundo dentro da unidade prisional.
De acordo com a psicóloga, o profissional da psicologia no contexto prisional
desta unidade em estudo, pode atuar em três áreas da psicologia, que são: clinica,
em caráter de intervenção para mudança de comportamento e remissão ou
diminuição de sintomas, social numa ação conjunta com o serviço social nos
projetos e campanhas aos familiares dos internos, e jurídica, pois não deixa de ser
um trabalho articulado com o direito.
CFP (2010) em sua resolução 009/2010 sobre a regulamentação da atuação
do psicólogo no sistema prisional, expõe:

CONSIDERANDO que os psicólogos atuarão segundo os princípios éticos


da profissão, notadamente aqueles que se fundamentam no respeito e na
41

promoção da liberdade, da dignidade, da igualdade e da integridade do ser


humano, conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos. (p.1).

Não há nenhum material teórico disponível pelo Conselho Federal de


Psicologia sobre as atividades especificamente que o psicólogo deve realizar no
sistema prisional e muito menos nos projetos de ressocialização. Porém, o que se
propõe pelo CFP é que toda atividade a ser planejada e executada deva partir dos
princípios do código de ética do psicólogo, e também da legislação vigente.
Segundo CFP (2010) no artigo primeiro, inciso ‘D’, a resolução 009/2010 expõe
que o psicólogo atuante no sistema prisional deve construir estratégias que visem o
fortalecimento dos laços sociais e uma maior participação dos sujeitos nos projetos
que tenham como objetivos o resgate da cidadania e a inserção social do individuo
novamente na sociedade.
Quando se fala em fortalecer laços sociais, refere-se tanto aos colegas de cela,
do pavilhão ou da unidade, pois ali são vários indivíduos amontoados pelo fato do
sistema prisional não conseguir atender a demanda em comparação a sua
capacidade física, quanto aos que estão fora, como familiares, cônjuge e amigos. Os
internos possuem seus conflitos, atritos com os outros internos da unidade e muita
das vezes inseridos no sistema “olho por olho, dente por dente” temem algum tipo
de punição e não possuem habilidade emocional para intervir sozinhos naquela crise
circunstancial, e o psicólogo surge como alternativa de escuta, atenção e
acolhimento, apresentando a este interno, possibilidades para que ele consiga
resolver seus conflitos em nome da boa convivência.
Como fatores de dificuldades em realizar as atividades propostas pelo CFP,
destacam-se o tempo e a falta de mais profissionais para atender a demanda de em
média mil internos, o que geralmente compõem as unidades prisionais do
Amazonas. Geralmente, a unidade prisional conta com dois psicólogos que precisam
atender os internos que participam dos projetos, e também os que não participam,
lembrando que as demandas são surgidas nos próprios projetos se o psicólogo
realizar as visitas periódicas.
Aqui entra um ponto digno de destaque, as demandas precisam ser criadas
pelo psicólogo. Se fora dos muros da cadeia ainda pairam as ideias equivocadas do
profissional da psicologia como o especialista da loucura, aquele que age nos casos
em que alguém está louco, imagina dentro da penitenciária onde a grande maioria
42

possui um baixo nível acadêmico e cultural. E algumas vezes o interno evita o


atendimento porque não quer ser visto como fraco, abalado, pelos demais colegas,
pois eles alimentam a crença de que no crime não existe ninguém fraco e abalado,
portanto não se deve buscar o psicólogo. Isso coopera para uma pouca procura por
atendimento psicológico, e nesse caso cabe ao profissional criar estratégias para se
trabalhar em meio às limitações.
De acordo com Guedes (2006), quando os internos percebem que o espaço
apresentado pelo psicólogo em suas intervenções oferece a eles um momento de
reflexão sobre sua atuação como indivíduo social que na maioria das vezes fica
escondido enquanto encarcerados e de sua privacidade que também é quase
impossível de acontecer no âmbito do cárcere, eles valorizam o trabalho do
psicólogo.
A postura do profissional da psicologia deve ser sempre de alguém bem
resolvido, livre de todo preconceito e discriminação, disposto a escutar e acolher
este indivíduo que geralmente perdeu, junto com sua liberdade, a capacidade de
tomar suas decisões, sua dignidade, o respeito por si próprio, a esperança de dias
melhores. Essas angústias são vivenciadas fortemente principalmente nos primeiros
dias do interno na unidade prisional, mas que devem ser trabalhados no
atendimento por meio de uma excelente aliança terapêutica.
“Foi apontado como tarefa do (a) profissional psicólogo (a), o compromisso de
melhorar as condições de vida do presídio, bem como transformar a cultura
institucional e garantir os direitos das pessoas presas” (CONSELHO FEDERAL DE
PSICOLOGIA, 2009, p. 24).
De acordo com Jesus (2001) a Psicologia é totalmente capaz de realizar um
ótimo trabalho dentro do sistema prisional, seu saber é de suma importância e
visivelmente necessário para atender as diversas demandas existentes dentro do
sistema prisional.
Foi perguntado à psicóloga sobre como avalia o seu trabalho nos projetos e em
quais pontos precisa melhorar. Como resposta, disse que sua avaliação é boa e que
tem feito a sua parte, mas disse necessitar de mais recursos e apoio da
administração da unidade, do governo e das empresas privadas para incluir o
reeducando ressocializado no mercado de trabalho para pôr em prática o que
aprendeu nos projetos.
43

3.3 Ressocialização: eficácia dos projetos

Esta categoria foi construída para responder ao questionário aplicado com a


psicóloga, se em sua opinião os projetos alcançam seu objetivo de ressocialização.
Ela respondeu que acredita que sim, o que falta é mais apoio e incentivo financeiro.
Quando perguntado sobre em que os projetos precisam avançar para atingir
seus objetivos, ela disse que falta apoio para a inclusão do egresso no mercado de
trabalho. O estado precisa buscar parcerias com empresas para a inserção do
egresso no mercado de trabalho. Como uma espécie de central de empregabilidade
para egressos.
Em contraste a visão de parceria do estado com as empresas privadas, que
segundo a psicóloga, seria uma oportunidade de reinserir os egressos no mercado
de trabalho, Julião (2011) diz que mesmo proporcionando qualificação profissional
aos internos, não se conseguirá reinseri-los no mercado de trabalho devido a dois
problemas: primeiro pela altíssima taxa de desemprego no país e segundo pelo
estigma de ex-presidiário que o acompanhará para o resto de suas vidas.
De acordo Julião (2011) em uma pesquisa realizada no Rio de Janeiro sobre a
relação do estudo, da educação com o trabalho realizado na cadeia em comparação
com a reincidência, chegou a uns resultados interessantes, “evidenciou-se que
ambos são significativos; porém, enquanto o estudo no cárcere diminui a
probabilidade de reincidência em 39%, o trabalho na prisão diminui essas chances
em 48%” (JULIÃO, 2011, p.151).
Na realidade amazonense, existem poucas oportunidades de trabalho dentro
do sistema prisional, são mais atividades educativas, o que sem dúvida ocupam um
espaço importante na vida do interno, mas que poderia ser mais efetiva e exitosa se
fosse atrelada a atividade laboral, pois ambas proporcionam bem estar físico e
mental e dignificam o ser humano.
Para Ribeiro e Marta (2015), a prisão, atualmente, serve apenas como fator de
segregação social e ao invés de proporcionar meios para que o condenado retorne a
uma vida digna, dificulta sua inserção na sociedade. O número de agentes
penitenciários é insuficiente, as instalações são insalubres e ultrapassadas, há
restrições ao banho de sol, alimentação de má qualidade, quantidade insuficiente de
material de higiene e colchões, assistência de saúde e jurídica deficiente e ausência
44

de Hospital de Custódia (para doentes mentais), violando assim Direitos Humanos


básicos.
Sobre a ressocialização, Santos (2005) comenta:

A reeducação objetivada pelo Estado, na prática, não acontece, pois o que


tem sido a principal preocupação do sistema penitenciário ao receber um
indivíduo condenado não é a sua reeducação, e, sim, a privação de sua
liberdade que permite fazer funcionar o sistema legal. Em suma, o
encarceramento penal, desde o início do século XIX, recobriu ao mesmo
tempo a privação de liberdade e a transformação técnica dos indivíduos.
(p.125).

Praticamente em todas as obras literárias pesquisadas sobre o tema


ressocialização, diz que se torna impossível o objetivo real da aplicação da pena que
é de reinserir o individuo que errou e cumpriu pena, na sociedade e que ele não
reincida.
Ressocialização se faz por meio de um conjunto de fatores, onde os projetos
se constituem uma parte muito importante de todo esse macro processo, mas
existem os outros pontos, e infelizmente eles cooperam para que não haja
ressocialização. De fato as estruturas prisionais não são educativas, são antigas,
velhas, a comida é de baixíssima qualidade e o trato por parte de alguns
profissionais ainda não é humano.
Me parece que o pensamento de que todos os presos não merecem um trato
humano, paira sobre a administração da unidade, do governo e inclusive da
sociedade. Sobre isso, Julião (2011, p.145) diz que “... a existência de outros
programas e meios de controle social de que o Estado e a sociedade devem dispor
com objetivo ressocializador, como a família, a escola, a igreja, etc.”. A eficácia dos
projetos quanto ao seu objetivo ressocializador, sem dúvida, só será possível com a
união dos três poderes, do setor privado e da sociedade.
Não se pode esquecer que esse indivíduo irá voltar ao seio sociedade e que
provavelmente, segundo as estatísticas, ele reincidirá ao crime, dessa forma penso
que é positivo aplicar bom trato, investir em educação, qualificação profissional para
que este indivíduo volte à sociedade, reeducado.
“Pela reintegração social, a sociedade (re)inclui aqueles que ela excluiu,
através de estratégias nas quais esses excluídos tenham uma participação ativa,
45

isto é, não como meros ‘objetos de assistência’, mas como sujeitos” (Sá, 2005, p.
11).
“Por um lado, se exige que o preso seja reeducado e, por outro, é colocado em
um ambiente que o desrespeita como ser humano, o que a sociedade certamente
fará quando deixar a prisão” (NUNES, 2005, p. 38).
Essa é a maior contradição da aplicação da pena e da proposta de privar o
individuo para que ele aprenda a conviver em sociedade e seja reinserido. Como
fazê-lo voltar à sociedade diferente se não há estrutura para a realização dos
projetos educacionais, se não há educação formal de qualidade, se não há
oportunidades de trabalho? De que forma os projetos alcançarão seus objetivos se a
administração do presidio enxerga as atividades como regalias aos presos, e por
esse fato a existência da banalização das atividades? São perguntas que nos levam
a crer que estamos distantes de alcançar a real efetividade na transformação de
indivíduos que cometem delitos.
“Objetiva-se, por meio da execução, punir e humanizar” (MARCÃO, 2015, p.1).
A proposta da execução penal é essa, punir e humanizar. O que predomina
hoje e desde sempre é a punição, o estado se preocupa mais com o fato de manter
quem cometeu um crime, preso, encarcerado, com condições pouco humanas,
assistência precária, pensando que desta forma conseguirá levar o individuo a
reflexão, sendo que humanizar envolveria melhorar o trato e as politicas aplicadas
no método de gestão. Os projetos sem dúvidas conseguem humanizar, desde que
aplicados de forma honesta e justa, com recursos financeiros e profissionais
comprometidos com a ressocialização.

3.3.1 “Das celas da prisão para as salas da faculdade”

Esta categoria busca responder ao questionamento se o trabalho nos projetos


já alcançou algum caso de ressocialização, ela citou e disponibilizou um documento
com a história de um interno, hoje egresso do sistema.
Segundo informações da Umanizzare (2017), conta um caso de
ressocialização por meio dos projetos, a história de Edivaldo Caetano, 35 anos,
casado, paraense, foi preso por latrocínio (art.157 parágrafo 3 do código penal,
conhecido como roubo seguido de morte), passou nove anos e três meses preso, e
neste ano de 2017 recebeu liberdade. O inicio de seu processo ressocializador se
46

deu numa cela de isolamento após uma fuga, onde conheceu a religião, se
converteu ao protestantismo, depois começou a participar do projeto Bambu, fez o
ENEM PPL (para Pessoas Privadas de Liberdade), conseguiu uma bolsa para cursar
Gestão de Tecnologia da Informação e hoje vive uma nova história. Seu sonho maior
é estudar história, segundo ele, irá seguir perseguindo este sonho.
“Enquanto recebia apoio dentro da prisão – graças à religião e aos projetos -
do lado de fora, ele contava com a cumplicidade da esposa, para ele, uma luz em
todo o calvário que significou a privação de liberdade” (UMANIZZARE, 2017, p.1).
Esse é um caso de ressocialização, citado como fruto de um dos projetos
realizado dentro do complexo penitenciário em estudo, mas não foi exclusivamente
pelo projeto que este homem conseguiu regressar a sociedade diferente de como
entrou, acredito que o projeto por si só não consegue alcançar o seu objetivo de
ressocializar numa proporção maior, mas um trabalho articulado, como neste caso,
que houve a participação inicial da religião, que vale ressaltar como um programa de
ressocialização muito forte, presente e que presta muita assistência aos
reeducandos, à família, pois a esposa sempre deu suporte, os projetos também
foram decisivos, pois por meio dele o reeducando conseguiu estudar pra prova e ser
aprovado.
O fato do projeto por si só não conseguir ressocializar em proporções que
deveriam, não o torna reprovável, pelo contrario, se torna uma ferramenta
indispensável neste processo. O trabalho ressocializador é muito lento, e com frutos
muito escassos, como o do Edivaldo, talvez se eu pedisse um outro exemplo, a
psicóloga não conseguisse trazer, pois é muitíssimo difícil encontrar casos reais de
ressocialização, e o estado não dispõe na prática de programas de
acompanhamento das pessoas que saem do cárcere.
Para Moura (2011) a ressocialização do preso hoje se mostra ineficaz, visto a
alta porcentagem de reincidência no sistema penitenciário. Para que de fato ocorra
uma melhor ressocialização é preciso que haja uma reestruturação na educação,
somente por ela se conseguirá a diminuição dos crimes. A educação é o caminho do
desenvolvimento das pessoas e diminuição da violência. A população carcerária
precisa ter acesso não somente a educação profissional, mas a reeducação em si,
tratando assim de valores pessoais.
47

“Os detentos são vítimas de uma sociedade hierarquizada construída sobre a


desigualdade social, onde as diferenças são úteis justamente para estabelecer
hierarquias e distâncias” (COSTA, 2000, p.103).

CONCLUSÃO

O desenvolvimento do presente estudo possibilitou conhecer a atuação da


psicologia nos projetos de ressocialização em um complexo penitenciário da cidade
de Manaus. Dado a aplicação do questionário com a psicóloga atuante no sistema
prisional do Amazonas, e após a discussão dos resultados, podemos concluir que o
psicólogo ocupa um papel de supervisão das atividades, pois ele planeja, organiza,
realiza e avalia o andamento dos projetos, e ao mesmo tempo ele observa e capta
demandas para atendimentos psicológicos, que é a sua principal atividade prevista
em lei, que é de assistência psicológica, diálogo, apoio, etc.
A escassez de materiais sobre a atuação do psicólogo, especificamente nos
projetos de ressocialização foi uma das dificuldades desta pesquisa, mas ao mesmo
tempo uma oportunidade de se produzir a primeira pesquisa sobre essa temática no
Amazonas. Que sirva de motivação para que possamos continuara a produzir
literaturas sobre a psicologia e o sistema prisional no Amazonas e no Brasil.
A discussão dos resultados apresentou a visão de vários autores falando sobre
ressocialização, e a grande maioria se mostrou unânime em afirmar que hoje é
impossível haver ressocialização com o modelo de sistema prisional que dispomos
atualmente, para eles este modelo está falido, a proposta seria de punir e
humanizar, mas não se alcança nem o objetivo de punir, muito menos humanizar.
48

A crise no sistema prisional é antiga, inicio do ano de 2017 muitas coisas


vieram à tona e gerou grande repercussão e interesse pela dinâmica do âmbito
prisional. A mídia nacional e internacional mostrou o panorama real que se arrasta
por décadas, um sistema falido, com estrutura arcaica, modelo de gerenciamento
ultrapassado, trato desumano, superlotação, alimentação de péssima qualidade,
necessidades básicas não cumpridas, e o pior, profissionais com pouca ou nenhuma
perspectiva positiva de futuro.
Como pode haver ressocialização desta forma? Como pode ser efetivo o
trabalho do psicólogo dentro de uma penitenciária onde o objetivo é somente de
encarcerar? Onde os projetos são vistos, pela ótica da grande maioria, como
regalias aos presos. Mas mesmo em meio a esse quadro de total desolação, se
encontra o psicólogo lutando por dias melhores, fazendo a sua parte e buscando
alcançar o mínimo possível de melhoras na vivência dos indivíduos encarcerados
que buscam por meio dos projetos alcançarem a transformação de suas vidas.
Concordo com a psicóloga de que há ressocialização no Amazonas, mas ao
mesmo tempo reitero de que estatisticamente é praticamente zero, sequer existe um
programa que alcance essas pessoas que cumprem penas e seguem sua vida extra
muro. O profissional da psicologia, segundo o relato da psicóloga e a partir de minha
experiência obtida como estagiário do sistema prisional, tem suas atividades um
pouco limitada, mas que cabe a ele enquanto profissional, conquistar este espaço,
apresentando propostas para um fazer psicológico mais apurado e efetivo diante dos
projetos, precisa-se discutir sobre esse tema, ampliar o debate para fora das
muralhas da cadeia, com sociedade civil, com órgãos de classes, com as ONGs, e
acima de tudo com o governo, a quem compete a responsabilidade maior de manter
um sistema prisional transformador.
Mas não podemos responsabilizar somente o governo, pois olhando para o
processo de ressocialização, devemos envolver diversas instituições como agentes
de mudança. A família é primordial, cuidar das relações familiares dos internos,
buscando manter o vinculo indivíduo-família, implementando programas que façam
essa ponte de ligação não somente em horários específicos de visita, mas em outras
ocasiões. E muitas outras instituições como escolas, universidades, empresas
privadas, ONGs, dentre outras.
O psicólogo deve se fazer presente em todas as tentativas de regeneração
desse individuo marginalizado, buscando a elevação da autoestima, o resgate de
49

seus anseios, aspirações, e claro produzindo uma reflexão no processo de vivência


dele enquanto recluso da sociedade, sempre buscando compreender o fundo por
trás da figura do crime cometido por ele.
Concluo afirmando que o trabalho do psicólogo hoje, nos projetos de
ressocialização, alcançam seus objetivos de ressocializar e potencializam a
elevação dos direitos humanos àqueles que cumprem pena. O psicólogo é
indispensável e tão importante para o resgate do olhar humanizador sobre o
individuo. Mas também apresento uma crítica, pois falta mais acompanhamento e
participação do Conselho Regional de Psicologia Amazonas (CRP) na produção de
material que sirva de amparo ao psicólogo, e também de fiscalizar como o estado ou
gestão terceirizada do presídio exige a atuação do psicólogo no sistema prisional.

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56

ANEXOS
57

APÊNDICES
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Entrevista semi-estruturada

Perguntas

1. Poderia citar os projetos realizados e suas eficácias (se existe índice de


eficácia)?

2. Como é mensurada a eficácia desses projetos?

3. Aponte os instrumentos e as estratégias utilizadas pelo psicólogo no sistema


prisional.

4. Na sua concepção os projetos assumem os resultados desejados, a


finalidade de ressocialização?

5. Em que estes projetos precisam avançar para atingir seus objetivos?

6. Poderia citar um caso de resultado efetivo, positivo, que houve a


ressocialização como fruto da eficácia do projeto?

7. Como avalia seu trabalho nos projetos? Em que precisa melhorar?

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